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O MISTERIOSO 1%

Augusto de Franco

Escola-de-Redes: 09/03/2009

Edição com os comentários de Clara Pelaez Alvarez, Augusto de


Franco, Carlos Boyle, Gilberto Fugimoto e Jaqueline de Camargo
(10/03/09 a 08/03/10)

Ando contando aqui [na Escola-de-Redes] muitas histórias


misteriosas. Em artigo anterior falei do “Mistério de Roseto”
(comentando a introdução do Outliers de Malcolm Gladwell). Agora
vou contar a história do misterioso 1%. Desconfio que o mistério é o
mesmo: o capital social ou as redes sociais. Mas vamos lá.

Estou lendo o Microtrends de Mark Penn com Kinney Zalesne (2007),


publicado no Brasil pela Best Seller (Rio de Janeiro: 2008) com
tradução literal do título: “Microtendências: as pequenas forças por
trás das grandes mudanças de amanhã” (2007).

Trata-se, na verdade, de um livro sanduíche: uma introdução e uma


conclusão recheadas com a descrição de 75 microtendências. Não há

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muito critério para a escolha, a não ser a "antena" de Penn. Poderiam
ser 150 microtendências e aí o livro, que já tem 582 páginas em
Garamond corpo 12, teria, quem sabe, bem mais de mil.

Mas o texto não deixa de ser interessante, sobretudo porque escrito


por alguém tão ligado à pesquisa de opinião política (e, me parece,
ao marketing político: inevitavelmente, he he). O homem – nada
posso dizer sobre a Zaslene, uma advogada que figura de modo meio
subordinado como co-autora – tem verdadeira paixão por estatísticas.
E as estatísticas, como se sabe, revelam o que se quer ver – desde
que torturemos os dados adequadamente (a boutade é velha, mas
não resisto).

Mas ele (ou ele e ela) defende uma tese inteligente. As estatísticas
revelam uma coisa e o seu oposto. Por exemplo: “embora as pessoas
estejam ingerindo mais alimentos saudáveis do que nunca, as vendas
do Big Mac nunca foram tão altas. Enquanto a Fox News é a primeira
em audiência nos Estados Unidos, o movimento antiguerra domina os
principais noticiários norte-americanos. Embora a população norte-
americana esteja envelhecendo, boa parte da publicidade e do
entretenimento foi desenvolvida para jovens. Embora o número de
namoros seja o mais alto de todos os tempos, as pessoas nunca
estiveram tão interessadas em manter relacionamentos mais
duradouros e profundos...” E por aí vai.

“Para cada tendência, há uma contratendência. Para cada passo em


direção à modernidade, há um impulso de permanecer atrelado aos
valores do passado. Para cada acesso à Internet, temos pessoas
buscando atividades manuais e sossego. Para cada ímpeto pelo
acesso rápido à informação, existem pessoas que querem mais
tempo, mais detalhe e mais atenção. Para cada aumento no número
de lares sem filhos, há um aumento no número de casas com animais
de estimação”. Pois é.

Penn supõe então que “a própria idéia de que existem algumas


grandes tendências que determinam como os Estados Unidos e o
mundo funcionam está indo por água abaixo. Não existe mais um
punhado de megaforças varrendo nossos destinos. Em vez disso, os
Estados Unidos e o mundo estão sendo separados por um intricado
labirinto de opções que se acumulam em “microtendências” –

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pequenas forças imperceptíveis... que estão moldando nossa
sociedade de forma irreversível”. Essa é a tese.

Coloquei em itálico a expressão “os Estados Unidos e o mundo”


porque é uma espécie de bordão, repetido ad nauseam no alentado
volume. Dá a impressão de que, para Penn, são entidades de
natureza (ou status) diferente, ligadas por razões contingentes.

“Este livro trata da transformação dos Estados Unidos em nichos. Fala


de como não existe mais um único país, ou três ou oito. Na verdade,
existem centenas de pequenos Estados Unidos, centenas de novos
nichos, formados por pessoas que se unem por interesses em
comum. Os nichos não se limitam apenas aos Estados Unidos...” OK!
Captamos a mensagem, caro mestre: os Estados Unidos primeiro.

Mas vamos deixar de lado, por ora, o americocentrismo (ou


eucentrismo – ‘eu’, aqui, de Estados Unidos – com ou sem trocadilho)
desse cara para ver exatamente o que ele diz de interessante.

Penn tem uma hipótese (fraca) para explicar o fenômeno. Segundo


ele “a maior liberdade de escolha representou um crescimento da
individualidade. Com o aumento da individualidade, veio o aumento
do poder de escolha. Quanto mais escolhas, mais as pessoas se
dividem em nichos cada vez menores na sociedade”. São as tais
microtendências. “Uma microtendência é um grupo de identidade
intenso, que está crescendo, que tem desejos e anseios não-
atendidos pelas atuais empresas, ou profissionais de marketing, ou
legisladores e outros que influenciam o comportamento da
sociedade”.

Exemplos? Ele os dá aos montes. Estudantes que aprendem em casa


(homeschooling). Estudantes que largaram a faculdade (como Bill
Gates, Ellen DeGeneres, Karl Rove, Yoko Ono ou Edgar Allan Poe).
Mari Poppins modernas (babás com diploma universitário). Geeks
sociais. Novos "ludistas". Abtêmios franceses. Picassos chineses. A
lista não termina.

Penn assinala que “algumas tendências são grandiosas e óbvias – e


afetam a maioria das pessoas. No entanto, cada vez mais o que está
moldando o mundo é uma série de anseios e forças ocultas e

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poderosas que estão em ação logo abaixo da superfície. Nessas
forças, estão as sementes das mudanças inesperadas”.

Mas há uma quantidade mínima para que uma microtendência se


conforme como tal e acarrete essas mudanças. “Os movimentos
começam com pequenos grupos de pessoas dedicadas, intensamente
interessadas. É por isso que o modelo de organização da al-Qaeda e
o foco no número de convertidos para os movimentos terroristas
tornam-se críticos. Os movimentos vitoriosos não são
necessariamente os da maioria, mas eles têm força e intensidade
próprias. Dez pessoas com bazucas podem vencer mil com cartazes
em um piquete, mas não vencem 10 mil pessoas em um piquete.
Esta é a mágica do limiar de 1% e o potencial de as microtendências
serem o centro desse movimento para mudar o mundo”.

O 1% de Mark Penn

Penn “descobriu” – ele não explica como – o 1%. Existem, portanto,


“pequenas forças imperceptíveis [imperceptíveis, mas não tanto,
aduzo agora, já que ele colecionou 75 exemplos] que podem envolver
até 1% da população e que estão moldando nossa sociedade de
forma irreversível”.

De onde saiu o número mágico? Penn não diz, mas reafirma que
“quando determinada tendência atinge 1%, ela está pronta para criar
um filme de sucesso, um best seller ou um novo movimento político.
O poder da escolha individual está influenciando cada vez mais a
política, a religião, o entretenimento e até mesmo a guerra. Nas
atuais sociedades de massa, basta que apenas 1% dos indivíduos
façam uma escolha – contrária à da maioria – para criar um
movimento que pode mudar o mundo”.

Bacana. Mas o pressuposto parece estar errado. É exatamente o


contrário. O tal 1% só tem esse poder todo porquanto não-estamos
em uma sociedade de massa (onde o que conta é a quantidade) e
sim em uma sociedade em rede (onde o que conta é capacidade de
amplificação de pequenos estímulos por meio de complexos
processos de disseminação e amplificação baseados em reverberação,
looping, laços de retroalimentação de reforço, clustering, swarming e
crunching ou small world efect). Mark Penn não consegue explicar o
seu achado precisamente por isso: porque, a despeito de ter

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percebido várias microtendências, tantas como para encher um livro
de quase 600 páginas, nada percebeu da nova morfologia e da nova
dinâmica da sociedade emergente. Meio típico de gente que trabalha
com pesquisa de opinião e marketing.

Contudo, ele tem razão no que afirma. Seu insight está basicamente
correto, a meu ver. E não posso reprová-lo, pois já havia feito algo
parecido (há 8 anos) a partir da evidência de que a refiação em uma
rede P2P é 1%. E, como Mark Penn, também não sei ainda justificar
adequadamente tal “descoberta”. Mas posso pelo menos explicar de
onde saiu o (meu) número mágico (1%).

O meu 1%

Foi por acaso. Lendo em 2001 um artigo de Theodore Hong (2001),


intitulado “Desempenho”, publicado na coletânea organizada por
Andy Oram, Peer-to-Peer (da O’Reilly & Associates). Hong, à época
um estudante esperto, desenvolvedor da Freenet, escreveu que
“mesmo que grupos locais sejam altamente agrupados, desde que
uma pequena fração (1 por cento ou menos) dos indivíduos tenham
conexões de longo alcance fora do grupo, as extensões de caminho
serão baixas”. Parece que essa hipótese não conseguiu ser verificada
pelo experimento que Duncan Watts et allia (2002) fizeram em
seguida sobre as Small World Networks (vejam excertos da minha
tradução do trabalho publicado na Science 23/05/03: "Um estudo
experimental de busca em redes sociais globais").

De qualquer modo, me pareceu verossímil (não vou explicar aqui por


que: tomaria muito tempo e exigiria um comentário mais extenso do
artigo de Hong, em particular uma análise um pouco abstrusa do seu
gráfico de evolução de extensão de caminho e agrupamento sob
refiação relativa aos valores iniciais). E também porque Hong não
tem culpa pelo que inferi. Ele não disse nada do que vou dizer em
seguida, que nasceu de uma co-incidência. Explico.

Ocorre que eu estava terminando, naquele ano (2001), o meu livro


“Capital Social: leituras de Tocqueville, Jacobs, Putnam, Fukuyama,
Maturana, Castells e Levy”, no qual dedico uma seção (do terceiro
capítulo) à “dinâmica sociológica de Jacobs” – na verdade uma leitura
do seu clássico “Morte e vida das cidades americanas”, onde ela

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investiga a formação do “ser social” (que chama de “Entidade real”,
com ‘E’ maiúsculo mesmo).

Como alguns sabem, sustento que Jane Jacobs “descobriu” o capital


social no sentido de que foi a primeira pessoa que empregou a
expressão com o sentido que hoje atribuímos ao conceito. Ela
escreveu que “para a autogestão de um lugar funcionar, acima de
qualquer flutuação da população deve haver a permanência das
pessoas que forjaram a rede de relações do bairro. Essas redes são o
capital social urbano insubstituível”. Tal “capital” seria o fator
responsável por tornar “viva” uma localidade (constituindo-a como
uma “Entidade real”).

No mesmo texto, Jacobs afirmou que “é necessário um número


surpreendentemente baixo de pessoas que estabeleçam ligações, em
comparação com a população total, para consolidar o distrito como
uma Entidade real. Bastam cerca de cem pessoas numa população
mil vezes maior”. Ou seja, 0,1%.

Estabeleci uma relação entre o chute de Jane Jacobs (1961) – que


passou tão perto da trave (a meu juízo, ela errou por um zero, mas
isso era pouco na época, considerando-se o instrumental de que não-
dispunha) quanto o asteróide 2009 DD45 (que errou a terra por 72
mil km, o que também é pouco em termos de distâncias
astronômicas) - e o chamado fenômeno Small World.

Em 2003 – no livro “A revolução do local” – criei uma paráfrase do


conhecido “Small is Beautiful” de Schumacher (1973): “Small is
Powerfull”. Só mais tarde (em 2007) forjei o termo ‘crunch’ para
descrever essa fenomenologia das redes distribuídas altamente
conectadas. O “amassamento” do mundo – com a drástica redução
da extensão característica de caminho (ou diminuição dos graus de
separação) – é função do grau de distribuição e da conectividade (ou
densidade) da rede. Mas ele pode ser provocado (imaginei) se 1% da
população alcançasse tecer uma rede com grau máximo de
distribuição e conectividade (todos-ligados-com-todos). Ou seja,
um cluster com tais características poderia reduzir os graus de
separação da “região” da rede em que está inserido tornando aquele
“ecossistema” menor (em termos sociais, é claro, não geográfico-
populacionais) e mais poderoso. Esse seria o poder do 1% – um
poder social, não político: um poder de constelar um campo de

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empowerment – e por isso uma rede com tais características de
mundo pequeno seria poderosa. Em suma é a mesma hipótese de
Jacobs multiplicada por 10.

Claro que isso tudo soa muiiito especulativo. E não está propriamente
apoiado em pesquisas científicas. Mas... existem fortes argumentos
baseados em algumas evidências empíricas que corroboram a
hipótese. Evidências de que, dentro de certos limites (para
localidades com menos de 50 mil habitantes) e sob determinadas
condições (dadas pela presença de hubs, inovadores e netweavers),
1% das pessoas conectadas em uma rede P2P reduzem
drasticamente a extensão característica de caminho da sociedade
local (ou seja, diminuem os graus de separação da rede social,
ensejando que um nodo da rede possa chegar a outro nodo qualquer
com apenas um grau de intermediação; em outras palavras, dentro
dos limites considerados, 1% das pessoas de uma localidade,
conectadas em rede, têm acesso praticamente imediato aos restantes
99%). Assim, por exemplo, 200 pessoas em uma localidade de 20 mil
habitantes, conhecem, com até 1 grau de separação, as outras
19.800 pessoas. Apenas 20 pessoas (para aplicar os 0,1% da nossa
saudosa Jane Jacobs) não seriam suficientes.

Tais evidências, como parece óbvio, não são suficientes para


assegurar que o fenômeno cogitado venha necessariamente a
acontecer. Mas achei válido incorporar a “descoberta” nas
metodologias de desenvolvimento local (como o DLIS) que estava
desenvolvendo. No mínimo tratava-se de uma recomendação válida
para evitar o conhecido isolamento das coordenações de projeto do
restante da população, fenômeno muito comum nos processos de
indução do desenvolvimento local. E contribuía também para eleger a
rede de desenvolvimento comunitário como o sujeito do processo de
desenvolvimento ao invés de atribuir esse papel a uma instituição ou
a uma frente de instituições hierárquicas.

Tive oportunidade de testar essa orientação em muitas experiências


que realizei nos anos seguintes. De sorte que, de apenas vagamente
verossimilhante, a hipótese passou a ser cada vez mais corroborada
por outras evidências. Essa foi a origem da minha crença no 1%.

Posso dizer que, a despeito de Mark Penn não cogitar nada disso, seu
recente insight veio reforçar minhas convicções. Aliás o chute de

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Penn salvou o seu livro (ao contrário do que ele, talvez, pense, não é
o conteúdo – o tipo de microtendência – que determina a capacidade
de mudança e sim a fenomenologia associada a um tipo de
topologia). E estou mais assombrado do que nunca com o poder do
misterioso 1%. Por certo não deve haver um número mágico,
exatamente 1%. Por que não 1,2% ou 2,3%?. Porque tudo isso, no
fundo, é uma maneira de falar do poder do pequeno em termos
sociais, do poder do capital social ou do poder das redes distribuídas
e altamente conectadas.

Comentários recebidos na Escola-de-Redes

Comentário de Clara Pelaez Alvarez em 10 março 2009 às 8:04


Augusto, você acha que o 1% pode ser uma regra fundamental? É aplicável
a qualquer rede social de qualquer tamanho e em qualquer contexto?

Comentário de Augusto de Franco em 10 março 2009 às 8:21


Não sei, Clara. Como tentei explicar acima, acumulei evidências de que o
1% vale para redes sociais de até 50 mil habitantes (e essa é apenas uma
estimativa, válida, ainda sim, para redes socio-territoriais, ou seja,
formadas por proximidade geográfica e a partir de uma história de
interações recorrentes - vizinhanças com "alta temperatura", ou seja,
choques causados por grande amplitude da, vamos dizer assim, "vibração
de suas moléculas"; em outras palavras, espancando esse excesso de
metáforas físicas, não vale para um assentamento recente ou um bairro
novo planejado ou um conjunto habitacional). Ademais, parece ser
necessário que, dentro desses limites, estejam no 1% altamente conectado,
os hubs, os inovadores e os netweavers daquilo que chamei de "rede-mãe".
Jane Jacobs tinha um ponto de vista semelhante quando falava de
"lideranças", embora estimasse essa "rede crítica" em 0,1%.

Comentário de Carlos Boyle em 10 março 2009 às 8:53


Dos cosas, la ingeniería inversa del 1% que Ud. propone sería una muestra
estadística, para medir una población es suficiente una muestra de solo un
1%, eso si tomada aleatoriamente y con determinadas características, debe
ser verdaderamente representativa de la población total, homogéneamente
distribuida, aleatoriamente escogida, etc. Pero funciona.
Lo segundo que quiero decir es la parte política que tratas. El liberalismo
sostiene que a medida que los seres humanos se "hacen mas libres", tienen
mas independencia de elección, ergo se masifican menos. Pensando esto ad

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infinitum, la socidad "totalmente liberalizada" será una sociedad
necesariamente individualista.
Yo creo en esta hipótesis, peeeeero.... Con la salvedad de que esto no se
cumple para "toda la población". Yo tembién tengo mis guarimos
porcentuales empíricos y ese valor ronda, en la Argentina 2007, alrededor
del 60%. La sociedad contractual no llega a superar ese guarismo, a partir
del 70% indefectiblemente acutuamos como las langostas de su video, en
masa.
Es más Watts en su Six degrees habla de una curva con forma sigmoidea en
donde la evolución de una innovación arranca en una pocos casos,
evoluciona así por un tiempo y de repente estalla abarcando casi toda la
población.
Por eso para que la innovación se propague desde ese 1% es necesario una
etapa comunicativa racionalista, donde el grupo propositor disemina el
mensaje, luego un tipping point que es un efecto de masa, luego una nueva
etapa de deliberación hasta tocar la totalidad de la población.

Comentário de Clara Pelaez Alvarez em 10 março 2009 às 14:25


Augusto e Boyle,
Faz muito sentido essa idéia de que um pequeno número (percentual) de
pessoas com grau máximo de distribuição e conectividade possam provocar
um "crunch". Por outro lado, concordo com o Boyle, estamos falando de um
processo.
Essa idéia é a dos "pequenos estímulos podem (ou não) provocar grandes
mudanças". Minha dúvida é se esses (pequenos) estímulos devem ser
"aplicados" a um pequeno grupo (1%) ou se devem englobar a totalidade
do grupo em questão. No primeiro caso, cria-se um centro atrator e espera-
se que ele cresça o suficiente para provocar um novo esquema de
processamento de informações (ou de conectividade). No segundo caso
espera-se a emergência espontânea de conectividade distribuída em alguns
grupos da rede (emergência do 1%?).
Acho que a imprevisibilidade em ambos os casos é muito alta. Imagino que
não se pode deixar de levar em consideração o contexto, as características
do grupo e outras variáveis. A ocorrência aleatória de pequeníssimos
(aparentemente insignificantes) eventos pode mudar todo o rumo da
história de um grupo. Napoleão na batalha de Waterloo, parece que estava
sofrendo de um forte ataque de hemorróidas que o impedia de montar.
Além disso, quando a batalha estourou ele estava dopado com láudano já
há 2 dias. Logo ele não tinha a visão do campo de batalha e tomou suas
decisões (desastrosas) baseando-se no relato dos seus comandantes. As

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hemorróidas do imperador provocaram a queda do império (he he he só pra
relaxar).

Comentário de Augusto de Franco em 10 março 2009 às 17:33


Deixando de lado, por ora, as extremidades intestinais, he he, vamos
focalizar as questões intestinas. Penso que não é bem assim que a coisa
acontece, Clara. Não é possível aumentar ex machina o grau de distribuição
e de conectividade de um grande contingente. Isso só pode ocorrer 'por
dentro' (intestinamente, portanto). Não é um centro que faz isso em uma
rede distribuída. É uma rede distribuída que pode fazer isso em uma rede
centralizada (ou multicentralizada). Como assinalei no artigo, isso envolve,
reverberação, looping, laços de retroalimentação de reforço, clustering,
swarming e crunching ou small world efect. Em geral os estímulos com
potencial inovador como para mudar o comportamento dos agentes do
sistema partem da periferia dos sistemas estáveis afastados do estado de
equilíbrio. E tudo isso, felizmente, ocorre sob a marca da imprevisibilidade.
Digo felizmente, porque, do contrário, estaríamos às portas da autocracia
absoluta, do reich milenar do poder vertical. Se alguém tivesse essa ciência,
acabaria com o tipo de agenciamento que chamamos de mercado. E
acabaria com o modo de regulação que chamamos de democracia (ou
pluriarquia).

Comentário de Clara Pelaez Alvarez em 10 março 2009 às 19:36


Então é isso, todos concordamos que sistemas abertos têm alto grau de
imprevisibilidade. O "dentro" e o "fora" do sistema, também é algo para
pensar. De onde pode vir o estímulo que vai provocar a mudança? De
qualquer lugar! Da periferia, de fora, de dentro! Quem serão os
vanguardistas? Pode ser qq um, depende do contexto, acho! Sistemas
complexos adaptativos estão sempre se adaptando às mudanças do meio
em que vivem.
Acho que temos aqui um "wicked problem", alta complexidade se abrindo
em n possibilidades, cada uma criando novas perguntas.
Também desconfio que estamos falando sobre as mesmas idéias mas com
terminologias diferentes.

Comentário de Gilberto Fugimoto em 11 março 2009 às 19:03


Engraçado que no vídeo que postei aqui sobre oficina de Redes comento
justamente que num Congresso / Encontro do porte da Expo Brasil DL -
4.500 pessoas inscritas - não conseguimos conhecer nem 1% dos presentes
(cito erradamente 0,1%).

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Sempre o dilema de um grande encontro onde muitos se reúnem para ouvir
uns poucos enquanto que a riqueza da experiência do vizinho não é
compartilhada.
Caros, leio com avidez e grande interesse os textos e provocações postadas
aqui. Normalmente qdo são muito longo, eu os imprimo e fico lendo no
metrô na volta para casa. Uma forma de abstrair a lata de sardinha que
ficamos impostos no rush de retorno. rsrs...

Comentário de Augusto de Franco em 29 outubro 2009 às 7:55


E não é o que o misterioso 1% nos persegue?
Estou concluindo agora a leitura do Free do Chris Anderson. Lá no excelente
tópico "O não problema da carona" do capítulo 11 - Voltando às raízes da
economia, ele escreveu:
"Mas no ambiente on-line... a maioria das comunidades de voluntários
prospera quando apenas 1% dos participantes contribui. Longe de
ser um problema, um grande número de consumidores passivos constitui
uma recompensa para os poucos que contribuem - eles são chamados de
público. Nas palavras de Lee [Timothy Lee, cientista da computação e
acadêmico do Cato Institute]: "Esse grande público atua como um poderoso
motivador para a contribuição continuada ao site. As pessoas gostam de
contribuir para uma enciclopédia com um grande público leitor: com efeito,
o enorme número de 'caronas' - também conhecidos como usuários - é uma
das maiores seduções para ser um editor do Wikipedia"."

Comentário de Carlos Boyle em 29 outubro 2009 às 8:42


Lo que pasa, creo, es que por ese 1% "entra" todo lo que el 99% va a
consumir. Es como el tronco del arbol que se va a alimentar. No es ni
grande ni chico, es invariante con respecto a la escala, es scale free (power
law). El tronco con respacto a la totalidad del arbol no creo que sea mucho
mas que el 1%, de donde se alimenta todo el follaje. Si ese tronco es
pequeño, el 1% será solo suficiente para proveer flujos a un follaje
pequeño, si el tronco es grande el follaje será mucho mayor.
Este sistema jerárquico en una red social tiene la particularidad de variar de
tronco. El 1% que hoy alimenta el tronco, mañana podrá (y debería) ser
otro distinto.
Por lo que el 1% es solo una puerta de entrada circustancial que le es
funcional al todo en ese momento y bajo esas condiciones de preferential
atachment.
Quería publicar este video pero no hubo forma de hacerlo, está en inglés
pere es muy esclarecedor en el proceso de formación de redes de este tipo
de adhesión preferencial. Networks, Power Laws and Phase Transitions

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Comentário de Jaqueline de Camargo em 8 março 2010 às
13:06
Augusto,
Bom vc ter compartilhado essa leitura do Microtrends e trazer novamente a
discussão sobre o 1% e o histórico de reflexões já feitas nessa Rede sobre
esse ponto! Aliás ir sempre que possível resgatando os históricos é tb. uma
maneira da gente ir atualizando essas discussões, gostei de ler os
comentários anteriores. O Ning não ajuda muito, mas algumas pessoas têm
uma memória de elefante , como vc, rs.. e podem ajudar.
No caso dos 1%, gosto pelo menos do seu aspecto simbólico, "small is
powerful" [como vc afirmou em outro contexto]. E tb. fiquei com muita
vontade de ler a Jacobs [e seus 0,1%]. Nem sei se entendi a matemática da
coisa, mas acho desafiador e provável que um input cultural forte de um
grupo altamente conectado [ou o contrário, um grupo altamente conectado
em rede distribuída de modo a poder realmente receber inputs de seus
membros, formando então uma conexão social forte] é capaz de conectar
com os 99% restantes; e provocar mudanças nesse grupo, e em suas
conexões.
A partir desse pensamento, surge uma pergunta sobre como o percentual
das inscrições que temos para a CIRS representam o total das pessoas
inscritas até aquela data corte de novembro/2009. Ou seja, em como os
membros da "E=R histórica", composta por seus pioneiros e as conexões
até a data corte, estão representados na CIRS [um dos marcos da Rede]
nessa proporção dos 1%.
E, se ficarmos no aspecto simbólico da coisa, a exatidão do percentual não
seria tão relevante porque parece obvio reconhecer que um grupo
relativamente muito pequeno na E=R, mas com presença intensa em
momentos específicos, veio trazendo e desenvolvendo as questões geradas
no ambiente histórico da Rede, incluindo os encontros presenciais
anteriores, para este marco atual que é a CIRS.
Resumo da ópera: sem discutir o interesse da análise matemática sobre o
hipotético 1% de participação e capital social, o "mistério dos 1%" é
também muito simbólico, reforçando um sentimento social de que um
pequeno grupo de pessoas, se conectadas de determinada maneira,
formando redes com alto poder de circulação de capital social, gera
mudanças que podem atingir - de maneiras matematicamente "misteriosas"
- muitas pessoas e ambientes. E de certa maneira isso é um mito ativo [uso
mito no sentido não de mentira, mas de imaginação compartilhada] entre
educadores, voluntários, inovadores... deu pra entender?

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