DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA Nomes: Rodrigo Osório, Tobias Gomes Disciplina: Estudos de Sociologia Urbana Prof: Eva Samios
Resenha do capítulo “Povoamento e Mobilidades” do livro “Sociologia Urbana” de
Yves Grafmeyer O autor começa o capítulo lembrando que tanto causas estruturais quanto a vontade dos cidadãos vão estar presentes quando se trata de pensar o alojamento e as mobilidades na cidade. 1) Os mecanismos de triagem urbana A partir da citação de Park, que considera a metrópole um filtro que não se sabe bem como atua, Grafmeyer pretende tratar a questão da distribuição dos alojamentos. Ele discorda de que a distribuição possa ser explicada somente pelas regras de trocas mercantis, apesar de o alojamento ser um bem econômico. 1.1) O alojamento: uma “estranha mercadoria” Recorrendo ao trabalho de Topalov, o autor argumenta de como o alojamento é uma mercadoria diferenciada de todas as outras. Isto ocorre por estar ligada ao suporte físico (o solo), que também agrega valor.Esse valor está ligado à localização no espaço socialmente ordenado da cidade, o que caracteriza o solo como produto social, em certo sentido, e suscetível à valorização e desvalorização. Outro detalhe na questão do alojamento é que a negociação no livre mercado torna inacessível a boa parte da população o acesso a esse bem, sendo necessário uma política estatal que dê conta disso. Os imóveis têm, geralmente, duração superior à vida humana, o que faz com que tenha em si várias relações associadas, e custos simbólicos na mudança.O valor não corresponde à idade do imóvel, podendo sofrer valorizações e desvalorizações. 1.2) Mercado, pseudo-mercado, fora do mercado Há uma pluralidade de lógicas na triagem dos alojamentos. A primeira delas é o mercado em si, como oferta e procura, sendo necessário distinguir entre o de compra e venda dos bens e o de locação. O mercado dos alojamentos está sujeito à existência de redes de informação, que podem levar a uma seleção diversa à presente na oferta e na procura. A herança e o setor locativo social, que seleciona baseando-se em outros critérios, também aparecem como parte desse processo. 1.3) Os intermediários profissionais da triagem urbana Para Grafmeyer, as diferentes lógicas podem ser combinadas, o que vai tentar demonstrar por meio das categorias profissionais de administradores de imóveis e de gestores da habitação social, que atuam como intermediários no acesso ao alojamento. Na compreensão da atividade dos administradores de imóveis o autor recorre ao caso de Lyon, que constitui um trabalho anterior dele. Nesse podemos constatar que esses agentes têm prerrogativas maiores do que a simples intermediação entre oferta e procura, regulando os fluxos de povoamento segundo seus critérios de referência e levando em conta as leis mercadológicas, as redes locais e as estratégias entre gerentes e mandantes. Os gestores da habitação social têm pouca liberdade de escolha, cabendo a eles a aplicação de critérios já construídos, afirmação que é feita com ressalvas pelo autor. O caso trabalhado por Chamboredon servirá de ilustração da relação dessa categoria com a triagem de alojamentos. O contexto de poucas construções, imobilidade dos menos favorecidos e de aumento das tensões étnicas tornou necessário uma redefinição dos meios e da missão dos organismos responsáveis pela habitação social. Os constrangimentos do mercado também se fazem presentes por meio do valor do patrimônio. Nisso, cabe ao gestor, gerir o equilíbrio social nos empreendimentos de acordo com sua composição social, o que torna necessário uma avaliação do bairro e do candidato a morador, que chega às vezes à consulta aos habitantes sobre a vizinhança desejável. Nos dois casos (administradores de imóveis e gestores da habitação social) a lógica principal combina-se com outras, e também, nos dois casos, sua decisões são tomadas baseando-se em sua própria interpretação do mundo social, no que constitui em juízos sobre a configuração socioespacial. 2) História de imóveis, História de habitantes Para uma compreensão da triagem urbana devemos pensar os alojamentos em conjunto com os agentes econômicos que dispõem deles, que são múltiplos. Há uma interferência nas mobilidades de um parque imobiliário da configuração exterior, que também sofre influência do parque. A história do imóvel e dos habitantes também interfere. Elementos físicos, sócio-demográficos dos ocupantes, estatuto jurídico dos ocupantes e a composição social do imóvel, da vizinhança e do bairro orientam o alojamento. Grafmeyer, tendo consciência da multiplicidade de caminhos, tenta sintetizar as seqüências residenciais do agregado em dois tipos de trajetórias, modais, que identificaria uma freqüência estatística, e tipo, que trabalha com caso exemplar, para que tenhamos idéia da complexidade se tomar essa questão de um ponto de vista longitudinal, pois tem que levar em conta a duração de cada período na trajetória e ordem deles. No impasse de lidarmos com esse fenômeno complexo, podemos optar um modelo sintético, que diminui a atenção ao particular, ou um modelo que se atém sobre um pequeno espaço que esmiúce as informações. 2.1) Um exemplo de abordagem localizada O exemplo de abordagem localizada é o de Coste, cruzamento de diversas fontes, a história do local e um inquérito sociológico permitiu reconstruir a relação entre cidadãos e meio residencial. O ponto de partida é a unidade residencial. 2.2) Um exemplo de modelo sintético O exemplo vem de uma obra coletiva sobre a evolução dos parques imobiliários e do povoamento dos aglomerados franceses na contemporaneidade, detectando laços entre valorização ou desvalorização e lógicas de produção, circulação e gestão do mobiliário e fluxos dos grupos sociais. O esquema elaborado dá conta das tendências mais gerais, o que torna necessário que se leve em conta a interdependência da questão da intenção e das tendências. 3) Mobilidade e trajetórias de vida 3.1) A trajetória enquanto sentido da mobilidade A noção de trajetória, que é trazida para uma compreensão dessa questão, parte do pressuposto de que as posições ocupadas no percurso histórico não se devem ao acaso, mas sim que possuem uma ordem inteligível. Os casos que fugiram à tendência não poderão se interpretados da mesma forma, mas sim em suas características particulares. Pensar em trajetórias não significa que ela se enquadre em um projeto bem sucedido, formado a partir das ações dos agentes, mas sim de que as mobilidades têm um sentido em uma relação entre estrutura e atores. 3.2) Mobilidades residenciais, profissionais, sociais Para a compreensão da mobilidade residencial, devemos articulá-la a outras mobilidades que interferem nela, que tem determinações diversas das que atuam sobre o parque mobiliário e o povoamento. A relação entre emprego e local de domicílio é a primeira posta em destaque, que pode ser compreendida tanto pensando o aglomerado e as transformações na produção quanto o local de residência e o local de trabalho, que varia entre grupos sociais. A vida profissional influi sobre a localização da residência, havendo, porém várias formas de ajustamento, que levam em conta a vida familiar, ligações territoriais e escolhas residenciais. A mobilidade social é diferente da profissional, sendo a profissão um de seus elementos. Ela é relacional com seu meio de origem. A noções de ascensão social ou declínio são ligadas a um espaço metafórico, que está presente na análise sociológica, porém, a localização do domicílio e seu tipo têm laços com o fenômeno da mobilidade social. 3.3) Mobilidades ou mobilidade? A perspectiva macro-sociológica leva em conta as regularidades em uma sociedade ou grupo importante, definindo, por meio da estatística, as diferentes formas de mobilidade. Ao nos atermos em unidades mais reduzidas acentuam-se as diferentes formas de mobilidade dentro delas. Essa relativização das demarcações, presente na perspectiva biográfica, é elogiada por Grafmeyer, que não vê incompatibilidade dela com escalas mais amplas. O trabalho de Cribier é exemplo disso. É interessante que tenhamos uma análise compreensiva que não restringe a combinação de variáveis estatísticas, mas que dê conta das múltiplas alternativas, nesse caso entre estabilidade e mobilidade residencial, presença no aglomerado e a migração para longe, que se fazem presentes nos fenômenos socioculturais complexos. 3.4) Ciclo de Vida e relações entre as gerações As mobilidades e imobilidades só têm seu sentido compreendido em conjunto com uma trajetória de vida, que permite envolver as diferentes dimensões da existência. Como exemplo, o autor nos remete a períodos importantes na vida que a estruturam, como a passagem à vida adulta, com todas suas especificidades referentes à origem, período histórico, sexo e lógicas transversais, e como pode se dar à mobilidade, com possibilidade de reabitação, que causam várias mudanças na maneira de viver. A pesquisa biográfica pode superar a limitação das trajetórias pessoais porque as mudanças no ciclo de vida reconfiguram a relação com grupo, no caso exemplificado, as relações com a família. Trás também o fato de relações familiares podem estar presentes no comportamento em relação ao alojamento, não se restringindo somente a questão econômica.Possibilita uma relativização do estatuto jurídico da ocupação e permite perceber a troca de sentidos que ocorre mutuamente entre vida familiar e projeto residencial.