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1
Arnaldo Lopes Colombo
Publicação: Nov-2001
Revisão: Abr-2007
1 - O que é a paracoccidioidomicose?
A paracoccidioidmicose é uma doença granulomatosa sistêmica, de caráter crônico ou
subagudo, causada pelo fungo dimórfico Paracocccidioides brasiliensis, que acomete
indivíduos imunocompetentes expostos à “reservárea” do fungo em áreas endêmicas.
2 - Quais são os dados epidemiológicos existentes sobre a paracoccidioidomicose
(PCM)?
De acordo com dados de inquéritos epidemiológicos realizados com paracoccidioidina, no
Brasil, Venezuela, Colômbia e Argentina, acredita-se que 40% a 75% dos habitantes de zonas
endêmicas tenham sido expostos ao agente desta micose. Felizmente, apenas uma proporção
muito pequena de indivíduos expostos ao P. brasiliensis desenvolve alguma manifestação
clínica da micose.
Uma vez que a PCM não é doença de notificação compulsória, não temos dados precisos
sobre sua incidência no Brasil. Entretanto, baseado na experiência de serviços de referência no
atendimento de pacientes com PCM, acredita-se que sua incidência em zonas endêmicas varie
de 3 a 4 novos casos/milhão até 1a 3 novos casos por 100 mil habitantes ao ano.
»» Figuras 1, 2 e 3
1
Professor Titular - Disciplina de Infectologia da UNIFESP.
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Figura 2. Aspecto macroscópico de cultura de P brasiliensis em sua forma leveduriforme, forma
parasitária do fungo no hospedeiro infectado.
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4 - Qual a distribuição geográfica do P brasiliensis?
Este agente tem sua distribuição restrita à América Latina, desde o sul do México até
Argentina, excetuando-se Chile, Guianas, Suriname e algumas ilhas do Caribe. No Brasil,
tendo em vista as grandes casuísticas desta micose já publicadas na literatura, sua presença
parece ser maior nas áreas rurais dos estados das regiões sul, sudeste e centro-oeste. No
nordeste, a casuística de paracoccidioidomicose é menor, sendo reconhecidos casos
autóctones no sul da Bahia e Maranhão. Recentemente, casos autóctones desta micose foram
descritos na Amazônia, havendo maior casuística em Rondônia.
5 - Qual o nicho ecológico do P brasiliensis?
O nicho ecológico do fungo não foi ainda completamente elucidado. Apesar de tecnicamente
difícil, o P brasiliensis pode ser isolado a partir de amostras de solos de regiões endêmicas da
doença. Cresce em restos vegetais e coleções de água. Recentemente, o P brasiliensis foi
isolado de vísceras de tatus (Dasypus novemcinctus) no estado do Pará e em regiões
endêmicas para a doença, como Botucatu e Ribeirão Preto. Ainda não se conhece o
verdadeiro papel do tatu no ciclo de vida do P. brasiliensis, mas é possível que sua passagem
por este hospedeiro tenha auxiliado o fungo na sua adaptação ao hospedeiro humano.
6 - Qual a população de risco para paracoccidioidomicose (PCM)?
A maioria dos pacientes com PCM é proveniente de zona rural, sendo que parcela significativa
apresenta histórico profissional com lides agropecuários. A faixa etária predominante situa-se
entre 30 e 60 anos, sendo que apenas 3% a 10% dos pacientes são representados por
crianças ou adultos jovens. A PCM acomete principalmente indivíduos do sexo masculino. A
proporção geral de homens e mulheres doentes é de 13:1, respectivamente, sendo que em
alguns países da América latina pode ser de até 70 a 100:1. Quando a doença envolve
crianças, a proporção entre os sexos é a mesma. Estes dados indicam a participação de
fatores hormonais na progressão da doença. É sabido que a transformação de elementos da
fase miceliana do fungo para leveduras é inibida por concentrações fisiológicas de estrógeno.
Apesar de ser uma doença que se beneficia da imunodepressão celular, há poucos relatos de
PCM entre pacientes portadores de AIDS, câncer ou mesmo pacientes submetidos a
transplante de órgãos.
7 - Como se dá a infecção pelo P brasiliensis no homem?
A via de entrada é a inalatória. Propágulos da fase micelial do fungo atingem porções distais
dos pulmões, onde se transformam em leveduras e são fagocitados por macrófagos alveolares.
Na maioria dos indivíduos, a infecção é controlada ainda nesta fase, mas pode haver
multiplicação do fungo levando a alveolite, extensão da infecção até linfonodos regionais e
disseminação linfo-hematogênica do processo.
Informações contidas em livros textos de que a porta de entrada pode ocorrer por lesão
traumática na boca, por hábito de mascar capim, não têm base científica.
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8 - Quais dados confirmam a via inalatória como a principal entrada do P brasiliensis no
hospedeiro humano?
Em relação à aquisição do fungo por via respiratória, os seguintes fatos sustentam sua
veracidade:
Se o sistema imunológico do hospedeiro não for capaz de conter a infecção, a doença poderá
progredir para uma de suas formas clínicas: aguda ou subaguda (tipo juvenil) e forma crônica
(tipo adulto). Se levarmos em consideração os aspectos clínicos, achados histopatológicos e
diferentes padrões de resposta imune celular e humoral, podemos considerar que a
paracoccidioidomicose se manifesta sob uma forma bipolar. Em um extremo, observam-se
lesões disseminadas, respostas deficientes da imunidade celular e resposta humoral
exacerbada, traduzindo-se por altos títulos de anticorpos específicos ou policlonais, elevadas
concentrações de IgE, granulomas mal formados e presença de grande quantidade de formas
fúngicas em preparações histopatológicas. No outro pólo, temos hospedeiros em melhor estado
geral, ocorrência de testes cutâneos positivos, baixos títulos de anticorpos e presença de
granulomas bem formados com escassez de parasitas.
10 - Quais são as formas clínicas da paracoccidioidomicose (PCM)?
Diversas classificações das formas clínicas da PCM foram publicadas desde o descobrimento
da doença. A classificação de formas clínicas e gravidade da doença apresentada na tabela 1
é aquela adotada pelo Consenso Brasileiro em Paracoccidioidomicose, tendo sido adaptada da
classificação apresentada no “International Colloquium on Paracoccidioidomycosis” realizado
em fevereiro de 1986 em Medellín, Colômbia, que correlaciona dados clínicos com a história
natural da moléstia.
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»» Tabela 1
Tabela 1. Classificação das formas clínicas da paracoccidioido,icose
1 – Paracoccidioidomicose infecção
2 – Paracoccidioidomicose doença
2.1 – Forma aguda/subaguda
2.1.1 – Unifocal
2.1.2 – Multifocal
2.2 – Forma crônica
2.2.1 – Unifocal
2.2.2 – Multifocal
2.3 – Forma residual ou sequelar
A forma aguda caracteriza-se por apresentar evolução mais rápida que a forma crônica, sendo
que em 4 a 12 semanas há envolvimento importante do estado geral do paciente, febre alta e
comprometimento disseminado de órgãos do sistema linforeticular, com presença de
adenomegalia e hepatoesplenomegalia, sendo também freqüente a ocorrência de
manifestações digestivas, osteoarticulares e cutâneas. Muitas vezes, a hipertrofia de linfonodos
mesentéricos leva a quadros de obstrução intestinal ou mesmo compressão do colédoco com
prejuízo do fluxo biliar. Também pode contribuir para quadros de má absorção intestinal,
piorando o estado nutricional e diminuindo absorção de drogas administradas por via oral. A
figura 4 mostra três casos de pacientes com a forma juvenil da PCM.
Indivíduos com esta forma de apresentação têm geralmente febre alta persistente e perda de
peso acentuada. Lesões mucosas estão raramente presentes. O achado de lesões pulmonares
é bastante raro na forma aguda, podendo estar presente adenomegalias peri-hilares.
»» Figura 4
Figura 4A
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Figura 4B
Figura 4C
Figura 4. Ilustração de forma aguda (tipo juvenil) da doença, sendo a figura 4A ilustrativa de
paciente com adenomegalia exuberante, cervical e supraclavicular; a figura 4B ilustrando
criança com adenomegalia em mediastino, sem qualquer lesão em parêncquima pulmonar; a
figura 4C mostrando paciente com hepatoesplenomegalia.
12 - Quais são as características da forma crônica (tipo adulto) da
paracoccidioidomicose (PCM)?
Esta forma responde por mais de 90% dos pacientes, sendo que a doença progride
lentamente, de forma silenciosa, podendo levar anos até que seja diagnosticada. As
manifestações pulmonares estão presentes em 90% dos pacientes. Pode ser unifocal (lesão
restrita a somente um órgão) ou multifocal (envolvimento de múltiplos órgãos). Geralmente, a
doença envolve mais de um órgão simultaneamente (apresentação multifocal), sendo pulmões,
mucosas de orofaringe e trato respiratório alto os sítios mais freqüentes de acometimento.
Havendo disseminação do fungo por vias linfática e hematogênica, inúmeros outros órgãos
podem ser acometidos, incluindo adrenais, alças intestinais, sistema ósteo-articular e sistema
nervoso central. Mais raramente podemos ver envolvimento de sistema gênito-urinário,
endotélio de grandes vasos, tireóide e globo ocular.
Importante observar que sintomas gerais, como febre e emagrecimento, são mais acentuados
na forma aguda que na crônica. Na forma crônica, o emagrecimento é maior nas formas mais
graves e disseminadas, particularmente quando há lesões de mucosa de trato digestivo alto,
com odinofagia e conseqüente diminuição de ingestão de alimentos.
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13 - Como são as manifestações pulmonares na paracoccidioidomicose (PCM)?
O envolvimento pulmonar é a regra na forma crônica da PCM, mas é muito raramente visto nos
pacientes com forma aguda. Os sinais e sintomas de PCM pulmonar são inespecíficos, sendo
que os pacientes apresentam queixa de meses de evolução com tosse, expectoração e
dispnéia de lenta progressão, queixa que geralmente é o principal motivo da consulta médica
nos casos de envolvimento exclusivamente pulmonar. Importante lembrar que a grande maioria
dos pacientes com PCM crônica é tabagista, fato que leva os indivíduos a pensar que seus
sintomas podem estar relacionados apenas ao hábito de fumar.
A semiologia pulmonar é muitas vezes pobre, contrastando com os achados radiológicos desta
micose. Quando alterado, o exame clínico revela tórax hiperinsuflado e estertores
subcreptantes difusamente distribuídos, eventualmente com roncos e sibilos. Derrame
pulmonar é muito raro.
Na vigência de quadro pulmonar compatível com PCM, os dados clínicos que mais
freqüentemente levam à suspeita da micose são os sítios de acometimento extra-pulmonares,
particularmente as lesões de mucosas, que levam a odinofagia e rouquidão, adenomegalias e
lesões de pele.
14 - As manifestações pulmonares na paracoccidioidomicose (PCM) evoluem com
seqüelas?
Sim, seqüelas em paracoccidioidomicose pulmonar são muito comuns em decorrência da
própria história natural da micose, assim como pelo hábito de tabagismo, muito freqüente entre
os pacientes. O processo infeccioso pulmonar resolve-se com fibrose importante e a grande
maioria dos pacientes exibe padrão pulmonar tipo obstrutivo, ao qual se segue padrão misto
(obstrutivo e restritivo). Hipoxemia e alterações no gradiente alvéolo-arterial estão presentes na
maioria dos pacientes com fase mais avançada da doença.
Em estudo recentemente publicado pelo grupo de Restrepo (Tobón e cols, 2003), 50% dos
pacientes com PCM tratados com itraconazol evoluíram com fibrose pulmonar persistente, ao
final do tratamento. Os autores demonstraram haver relação direta entre a extensão da lesão
pulmonar no momento do diagnóstico e o risco de seqüela. Pacientes com DPOC avançado
podem evoluir com cor-pulmonale e, conseqüentemente, apresentar sinais e sintomas de
insuficiência cardíaca.
15 - Quais são as alterações na radiografia de tórax na paracoccidioidomicose (PCM)?
Embora não exista um padrão radiográfico específico da doença, alguns sinais sugestivos
podem fazer suspeitar de PCM. Assim, as lesões são habitualmente bilaterais e simétricas,
acometendo mais freqüentemente os campos médios pulmonares. As bases são geralmente
poupadas, embora possam estar hiperinsufladas.
Diferentes padrões de lesão pulmonar são descritos na PCM, podendo haver concomitância
entre eles no mesmo paciente. Os mais freqüentes são:
O acometimento pleural, sob a forma de derrame ou placas pleurais, é muito raro. Deve-se
estar atento para a presença de lesões líticas em clavículas, escápulas ou costelas, em função
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do freqüente acometimento ósseo nessa micose sistêmica. A figura 5 ilustra diferentes
apresentações radiográficas da PCM.
»» Figura 5
Figura 5A
Figura 5B
Figura 5C
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Figura 5D
Lesões cutâneas podem estar presentes em 12% a 32% dos pacientes, apresentando-se como
lesões únicas ou múltiplas, com freqüente localização facial, perioral ou perinasal. O aspecto
morfológico das lesões inclui pápulas, nódulos, ulcerações e lesões de aspecto verrucoso ou
úlcero-vegetante.
»» Figura 6
Figura 6A
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Figura 6B
Figura 6C
Figura 6. Lesões de mucosa oral (figuras 6A e 6C) e em epiglote (figura 6B) de pacientes
portadores de forma crônica de paracoccidioidomicose. A Figura 6A ilustra a forma de
estomatite moriforme, característica desta doença, onde há leões ulceradas com fundo
granuloso e pontos hemorrágicos. Comprometimento de faringe e epiglote (figura 6B) são
freqüentes, causando intensa odinofagia no paciente.
»» Figura 7
Figura 7A
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Figura 7B
A investigação tomográfica dos pacientes ilustra lesões hipodensas únicas (≈30%) ou múltiplas
(≈70%), com realce de contraste e edema cerebral peri-lesional. A presença de meningite
crônica é evento raro, sendo que o exame citobioquímico do líquido céfalo-raquidiano está na
maioria das vezes pouco alterado, com celularidade inferior a 5 células, glicose normal e
discreto aumento de proteínas.
»» Figura 8
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18 - Como são as manifestações de acometimento adrenal na paracoccidioidomicose
(PCM)?
Insuficiência adrenal pode ocorrer em até 3% dos pacientes, sendo a suspeita relacionada ao
escurecimento de pele, episódios de tontura, adinamia, emagrecimento, dores abdominais e
hipotensão. Lembrar que cerca de 14% dos pacientes com formas disseminadas podem
apresentar reserva adrenal diminuída, com níveis de cortisol basal normais, com possibilidade
de crise adrenal em caso de estresse clínico ou cirúrgico. Estes pacientes são identificados
apenas com o auxílio de testes bioquímicos para avaliação de reserva da função adrenal.
19 - São comuns co-morbidades em pacientes com paracoccidioidomicose (PCM)?
Sim. Pacientes com PCM, freqüentemente, apresentam co-morbidades de natureza infecciosa
e/ou não infecciosa. Dos processos infecciosos, destacam-se a tuberculose, cuja associação é
reportada em 5% a 10% dos casos, as enteroparasitoses, exacerbação infecciosa de doença
pulmonar obstrutiva crônica e a AIDS. Das doenças não infecciosas, foram reportados casos
de doença de Hodgkin e carcinomas associados. Neste contexto, indivíduos que apesar do uso
regular da medicação antifúngica apresentam resposta clínica insatisfatória devem ser
investigados para a presença de uma co-morbidade ou seqüela.
20 - Como pode ser feita a investigação de co-morbidades em pacientes com
paracoccidioidomicose (PCM)?
Condutas práticas para a pesquisa de co-morbidades:
Pesquisa direta e cultura para isolamento de P. brasiliensis podem ser obtidas em material
biológico colhido de raspado de lesões de pele ou mucosa, assim como escarro e aspirado de
linfonodos. O rendimento da cultura com material biológico originalmente contaminado por
bactérias é ruim. Meios contendo extrato de levedura com antibióticos parecem mais
apropriados para isolamento deste agente. A pesquisa direta em material clareado com
potassa (eventualmente com tinta Parker®) é método de grande utilidade, particularmente
quando analisado por profissionais de grande experiência.
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Exame anatomopatológico de lesões de tegumento e outros órgãos acometidos apresentam
excelente rendimento, particularmente quando corados pela prata metanamina (Gomori-
Grocott).
»» Figura 9
Figura 9. Imagem microscópica obtida de pesquisa direta de fungo em secreção clareada com
KOH e corada com tinta Parker®, na qual se observa célula “mãe” circundada por múltiplos
brotamentos (“roda de leme”).
»» Figura 10
Figura 10. Diversos elementos fúngicos corados por prata metanamina, incluindo formações
em “roda de leme”, visualizados em corte histológico de lesão pulmonar.
Inquéritos cutâneos com paracoccidioidina têm valor apenas para estudos epidemiológicos,
não devendo ser utilizado como critério de definição de doença.
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24 - Qual a melhor técnica sorológica na paracoccidioidomicose (PCM)?
Atualmente, as técnicas sorológicas mais utilizadas no diagnóstico de PCM são:
Na forma crônica do adulto, na qual predominam sinais e sintomas de doença crônica pulmonar
e/ou lesões crônicas de pele e mucosas, o diagnóstico diferencial inclui tuberculose,
leishmaniose, histoplasmose, fibroses pulmonares de diferentes origens, esporotricose,
neoplasias de pele ou mucosa, cromoblastomicose, lobomicose (Doença de Jorge Lobo),
treponematoses, hanseníase e sarcoidose.
26 - Quais são as principais opções de tratamento da paracoccidioidomicose (PCM)?
As opções de tratamento da PMC são:
• sulfas
• azólicos
• anfotericina B
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27 - Quais as posologias das sulfas usadas no tratamento da paracoccidioidomicose
(PCM)?
As poslogias das sulfas disponíveis para o tratamento da PCM estão descritas na tabela 2.
»» Tabela 2
Tabela 2. Sulfas para o tratamento da PCM
Medicamentos Posologia
Sulfadiazina Ataque: 4 g/dia
Manutenção: 2 g/dia
Sulfametoxazol- Ataque: 800 mg/dia de SMT e 160 mg/dia de TMT, 2 a 4
trimetoprim tomadas diárias, por via oral ou venosa
(cotrimoxazol) Manutenção: 400 mg/dia de SMT e 160 mg/dia de TMT, 2x/dia
Sulfadiazina- 820 mg/dia de sulfa e 180 mg/dia de TMT, 2 tomadas diárias,
trimetoprim por via oral
(cotrimazina)
No caso do itraconazol, a resposta clínica parece ser mais rápida e o tempo para a negativação
sorológica é mais curto. Sendo assim, pacientes tratados com itraconazol recebem doses de
200 mg ao dia por 2 a 3 meses, passando então para fase de manutenção com 100 mg/dia por
períodos de 6 a 18 meses, na dependência da gravidade do caso e evolução clínica.
A experiência com ketoconazol é também satisfatória, mas sua toxicidade é bastante maior que
o itraconazol. Sendo assim, tendo em vista o longo período que os pacientes deverão ser
expostos a antifúngicos na terapêutica de paracoccidioidomicose, nossa opinião é de que o uso
deste medicamento seja limitado nesta indicação clínica. Ao nosso ver, o itraconazol é a melhor
opção terapêutica nesta micose, considerando sua eficácia e segurança. Importante lembrar
que o itraconazol não pode ser utilizado conjuntamente a: astemizol, antiácidos e bloqueadores
de receptor H2, astemizole, barbitúricos, carbamazepina, cisaprida, ciclosporina, didanosina,
digoxina, fentanil, fenitoína, rifampicina, e terfenadina.
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»» Tabela 3
Tabela 3. Azólicos para o tratamento da PCM
Medicamentos Posologia
Ketoconazol Ataque: 400 mg/dia
Manutenção: 200 mg/dia
Itraconazol Ataque: 200 mg/dia
Manutenção: 100 mg/dia
»» Tabela 4
Tabela 4. Esquemas de tratamento ambulatorial da PCM segundo o I consenso
brasileiro sobre a enfermidade
Droga Dose Duração do
tratamento
Itraconazol* 200 mg por dia, logo após uma das refeições 6-9 meses nas formas
principais (almoço ou jantar), em uma única leves e
tomada. Crianças com <30 kg e >5 anos, 8 12-18 meses nas
mg/kg/dia, ajustar a dose não abrindo a formas moderadas
cápsula.
Sulfametoxazol- Adultos – TMP 160 mg; SMX 800-1.200 mg 12 meses nas formas
trimetoprim Crianças – TMP, 6 mg/kg; SMX, 30 mg/kg, vo leves e de 18 a 24
12/12 h meses, nas formas
moderadas
* Primeira escolha, com base na facilidade de administração, melhor aderência e tolerabilidade.
Crianças que não deglutem cápsulas de itraconazol podem ser tratadas com a solução oral de
SXT.
Obs. Casos graves devem ser encaminhados a centros de maior resolutividade.
30 - Quando está indicado o tratamento endovenoso com anfotericina B na
paracoccidioidomicose (PCM)? Como ele é feito?
Tendo em vista a eficácia de derivados de sulfa e azólicos no tratamento da PCM, a
anfotericina B tem sido muito pouco utilizada no tratamento desta moléstia. Outro aspecto a ser
considerado é que tais pacientes podem ser tratados em regime ambulatorial, na maioria dos
casos. Neste contexto, não há sentido em se utilizar droga de administração exclusivamente
parenteral e que apresenta níveis de toxicidade tão elevados como a anfotericina B. A maioria
dos autores reserva a anfotericina B para o tratamento de formas graves de PCM, em que haja
risco de vida iminente.
Nos casos em que a anfotericina B é indicada, ela deve ser utilizada em dose de 0,5 a 0,7
mg/kg ao dia, infundida por 2 horas, por um período suficiente para que ocorra a estabilidade
no quadro clínico do paciente. Após melhora clínica inicial, o paciente deve completar o
tratamento com drogas de menor toxicidade e de administração oral. São opções para a
terapêutica seqüencial os derivados de sulfa (sulfadiazina, sufametoxazol + trimetoprima),
ketoconazol e itraconazol, nas doses já descritas.
31 - Como tratar a paracoccidioidomicose (PCM) na gravidez?
Itraconazol e fluconazol são drogas NÃO liberadas para utilização durante a gestação. Como
opções terapêuticas de PMC na gestação temos anfotericina B e sulfametoxazol+trimetoprim,
sendo esta última combinação segura apenas após as 4 primeiras semanas da gestação,
devendo ser suspenso pelo menos uma semana antes do parto para evitar a ocorrência de
kernicterus.
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32 - Como tratar a paracoccidioidomicose (PCM) em pacientes com insuficiência renal?
Os azólicos constituem boa opção, não havendo necessidade de redução de dose em
pacientes com insuficiencia renal. A anfotericina B deve ser evitada em pacientes com
tratamento conservador de insuficiência renal não dialítica, tendo em vista sua nefrotoxicidade.
33 - Como tratar a paracoccidioidomicose (PCM) em pacientes com doença hepática?
Anfotericina B, triazólicos e sulfametoxazol-trimetoprima são todos medicamntos com potencial
hepatotóxico. Neste sentido, pacientes portadores de doença hepática usando qualquer uma
destas drogas devem ser monitorados de perto com provas de função hepática.
34 - Quais as particularidades do tratamento da paracoccidioidomicose (PCM) em
crianças?
São poucos os trabalhos que relatam o tratamento específico para crianças e, geralmente,
estes são apenas relatos de casos. O medicamento mais usado em crianças é o cotrimoxazol,
pela eficácia conhecida, boa tolerabilidade, pela facilidade de administração (a apresentação
na forma de xarope facilita o acerto das doses), tolerabilidade da solução oral pelas crianças e
pelo fato de ser disponível na rede pública de saúde. A dose recomendada é de 8 a 10
mg/kg/dia do trimetroprim, em duas tomadas diárias, sendo que dose semelhante pode ser
administrada por via endovenosa, sendo a dosagem dividida em 2 a 4 vezes.
35 - Quais são os critérios para o término da terapia antifúngica na
paracoccidioidomicose (PCM)?
Após ciclo de terapêutica antifúngica bem sucedida, ainda pode restar no organismo infectado
santuários contendo fungos em estado de latência, contidos no tecido por reação inflamatória
crônica granulomatosa bem formada. Estes santuários, muitos deles localizados em tecido
linfóide, podem ser fonte de recorrência tardia de atividade clínica da doença. Entretanto, caso
o tratamento seja realizado por tempo adequado, os riscos de recorrência diminuem
significativamente.
Melhora clínica
Negativação microbiológica
Na prática clínica, cultura e pesquisa direta do fungo nos fluidos biológicos relacionados aos
sítios de acometimento são solicitadas apenas na presença de dúvida sobre possível
reativação da doença.
Este critério nos dá segurança de que houve diminuição significativa na população de fungos
nos tecidos do hospedeiro.
Este exame apresenta-se negativo nas formas mais graves e disseminadas. Sua positivação
ilustra a melhora da capacidade do hospedeiro em organizar a resposta de imunidade celular
contra o fungo.
Permite identificar que o processo pulmonar resolveu totalmente ou deu origem a áreas de
fibrose e seqüela.
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Concluídos todos estes critérios é possível suspender a medicação antifúngica e observar o
paciente por período de 1 a 2 anos, fazendo controle semestral de radiografia de tórax e
sorologia com titulação de anticorpos específicos. Após este período, o paciente pode ser
conscientizado dos sinais e sintomas de recidiva de sua doença, liberado do atendimento
médico e orientado para retorno em caso de suspeita de recidiva. Após anos de ambulatório
observamos que, em caso de recidiva, os pacientes assim orientados procuram serviço médico
muito cedo, em período de tempo bem menor do que aquele registrado no primeiro diagnóstico.
Este aspecto nos dá tranqüilidade de que havendo recidiva, o diagnóstico será precoce.
36 - Leitura recomendada
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