P ERGUNTA :

“QUE AUTORIDADE DEUS DEU A

CADA CONG REGAÇÃO LOCAL?”
Hugo McCord

  R ESPOSTA :
Dois cristãos que observam a ceia do Senhor A autoridade dos Doze começou em Jerusalém
juntos constituem uma igreja do Novo Testa- no dia de Pentecostes, no ano 30. Ela deveria se
mento. Às vezes apenas um marido e uma mulher estender não somente até a morte deles, mas “até
(assim como Áqüila e Priscila) são “a igreja que à consumação do século” (Mateus 28:20).
se reúne na casa deles” (Romanos 16:5; 1 Corín- No que se refere a qualquer doutrina, cada
tios 16:19; Colossenses 4:15; veja Filemom 2). Eles cristão sabe distinguir entre “o espírito da verda-
se regozijam na segurança divina de que “onde de e o espírito do erro”. Para isso, basta ele per-
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, guntar: “Isto foi ensinado pelos apóstolos?”
ali estou no meio deles” (Mateus 18:20). “Aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele
Uma congregação da igreja do Senhor come- que não é da parte de Deus não nos ouve” (1 João
çou na cidade norte-americana de Nicholasville, 4:6).
no Kentuchy, quando uma mulher cristã, cujo Paulo disse: “E, a todos quantos andarem de
marido não era cristão, convidou outra mulher conformidade com esta regra (gr.: kanon, o ‘câno-
cristã da cidade para prestarem culto juntas no ne’ do apostolado), paz e misericórdia sejam sobre
dia do Senhor. As duas começa- eles e sobre o Israel de Deus”
ram a cantar, orar, ler as Escri- (Gálatas 6:16). Uma congregação,
turas, tomar a ceia do Senhor e “Obedecei aos vossos com ou sem presbíteros, é orien-
apresentar suas ofertas semanal- guias e sede submissos para tada a estar alerta, para que ne-
mente. A devoção dessas duas com eles; pois velam por nhuma doutrina não-apostólica
mulheres foi o começo de uma, vossa alma, como quem deve seja levada para dentro da igreja.
atualmente, grande congregação prestar contas, para que fa- Pedro advertiu: “Assim como,
dedicada a missões. çam isto com alegria e não no meio do povo, surgiram falsos
Nenhuma igreja do Novo gemendo; porque isto não profetas, assim também haverá
Testamento tem um “regula- aproveita a vós outros” (He- entre vós falsos mestres” (2 Pe-
mento interno” sobre o que ela breus 13:17). dro 2:1). Por essa razão Paulo
ensina, pois seu ensino se res- escreveu: “Rogo-vos, irmãos, que
tringe à “doutrina dos apósto- noteis bem aqueles que provo-
los” (Atos 2:42). A doutrina dos apóstolos tem cam divisões e escândalos, em desacordo com a
origem no “céu” e os doze apóstolos foram doutrina que aprendestes; afastai-vos deles”
simplesmente os instrumentos para a transmis- (Romanos 16:17).
são verbal. Jesus lhes disse: “Em verdade vos Cada congregação tem autoridade apostólica
digo que tudo o que ligardes na terra terá sido para cuidar de seus próprios interesses, ser
ligado [gr.: estai dedemena] nos céus, e tudo o que autônoma, governar a si mesma. Os apóstolos
desligardes na terra terá sido desligado [gr.: reconheceram o princípio de independência na
estai lelumena] nos céus” (Mateus 18:18). igreja em Jerusalém mesmo antes dela ter presbí-
A transmissão do ensino era tão importante teros. Surgiu ali uma emergência, que exigia uma
que os apóstolos foram chamados de “embaixa- comissão de benevolência. Mesmo havendo doze
dores em nome de Cristo” (2 Coríntios 5:20). evangelistas presentes (os doze apóstolos), esses
Eles foram até descritos como estando sentados evangelistas não se julgaram responsáveis pela
“no trono da sua glória” (Mateus 19:28). igreja. Eles respeitaram a autonomia local.

1
 A ordem inspirada dos apóstolos para “a
comunidade dos discípulos” foi que “escolhes-
sem” (gr.: episkeptomai, que significa “selecionar”)
os homens para essa comissão. A seguir, os doze
evangelistas nomeariam (gr.: hathistemi, que
significa “encarregar”) os escolhidos “deste
serviço” (Atos 6:2, 3).
Os “membros leigos” (como são erroneamen-
te chamados hoje) fizeram a seleção. Como se deu
esse processo não está registrado. Por votação ou
outro modo, eles estavam praticando o princípio
da igreja do Novo Testamento segundo o qual
cada congregação tem um governo autônomo.
Nas congregações em Listra, Icônio e Antio-
quia, dois evangelistas — Paulo e Barnabé —
“encomendaram” ou “constituíram” presbíteros
em cada igreja (Atos 14:23). Os presbíteros não
foram escolhidos por Paulo e Barnabé, e sim ape-
nas “encomendados” por eles. Esse fato é eviden-
ciado pelo termo que Lucas utiliza, cheirotoneo
(de cheir, “mão” e teino, “estender”), que sugere
levantar as mãos para indicar aprovação do nome
de alguém. A escolha, então, foi feita através da
“eleição” da igreja.
A mensagem inspirada de Lucas mostra que
Paulo e Barnabé respeitaram o poder de decisão
local fazendo os irmãos escolherem. Depois disso,
os dois evangelistas visitantes nomearam os
escolhidos como presbíteros.
Da mesma forma, Tito, um evangelista que
visitava as igrejas na ilha de Creta, não recebeu
uma ordem de Paulo para ele mesmo “escolher”
(gr.: episkeptomai) homens para a liderança. Em
vez disso, ele deveria “constituí-los” ou “ordená-
los” (gr.: kathistemi) (Tito 1:5).
Paulo usou a mesma palavra grega que os
apóstolos em Jerusalém haviam usado quando
constituíam homens para uma comissão de
benevolência (Atos 6:2, 3). Se esse padrão foi
seguido, os membros locais nas igrejas de Creta
escolheram os futuros presbíteros e daí Tito os
ordenou para o trabalho. Fazia mais sentido os
membros da igreja local fazerem a escolha dentre
as pessoas que eles conheciam do que um visi-
tante como Tito fazê-lo.
Os exemplos acima mostram o erro de se
ensinar que uma congregação sem presbíteros
precisa se submeter irrestritamente à “supervisão
de um evangelista”. Biblicamente, um evangelista
não tem autoridade para exercer um governo
dominador sobre uma congregação.
Porque Paulo disse que a pregação feita por
Tito na ilha de Creta foi “com toda a autoridade”,
2
alguns presumem que Tito foi encarregado de
todas as igrejas da ilha. A única maneira de um
evangelista ter “toda a autoridade” 1 , ou seja, a úni-
ca maneira dele ser um professor infalível, na épo-
ca do apóstolo, era recebendo a imposição de mãos
de um dos apóstolos sobre si (veja Atos 8:18).
Como sabemos que Paulo impôs as mãos
sobre o evangelista Timóteo (2 Timóteo 1:6), é
implausível pensar que Paulo tenha deixado Tito
entre as igrejas cretenses sem lhe fazer a mesma
imposição de mãos. Seria impossível para Tito
ter “toda a autoridade” sem receber a imposição
miraculosa de Paulo.
Depois de se nomearem presbíteros, a autori-
dade originalmente conferida à igreja local ainda
permanece nela. Do mesmo modo, a autoridade
para a igreja escolher seus próprios presbíteros
se estende à autoridade para destituir presbíteros
infiéis.
Paulo advertiu os presbíteros efésios: “…den-
tre vós mesmos, se levantarão homens falando
coisas pervertidas para arrastar os discípulos
atrás deles” (Atos 20:29, 30). Quando fosse
apresentada uma “acusação contra um presbí-
tero… apoiada por duas ou três testemunhas”,
esse presbítero deveria “ser repreendido em
público” (1 Timóteo 5:19, 20; NVI).
Não faria sentido dizer que um presbítero
infiel não pode ser destituído. Com certeza, a
autoridade da igreja que coloca um homem na
liderança pode tirá-lo de lá.
O governo autônomo conferido a cada con-
gregação local, tenha ela ou não presbíteros,
permite que os membros estejam “reunidos” para
“expulsar… o malfeitor” da comunhão deles
(1 Coríntios 5:4, 13). Os cristãos devem “se apartar
de todo irmão que ande desordenadamente”
(2 Tessalonicenses 3:6).
Da mesma forma, as questões diárias de uma
congregação, desde que estejam em harmonia
com a doutrina dos apóstolos, são decididas
unicamente pela igreja local. A doutrina dos
apóstolos especifica uma assembléia (Hebreus
10:25), mas não especifica se a assembléia deve
ser na sala de estar de alguém, num auditório
alugado, ou num prédio. Os membros locais
decidem o lugar.
A doutrina dos apóstolos especifica que os
cristãos devem “instruir-se… mutuamente”, e
louvar “a Deus” com “cânticos espirituais”
11
N. T.: Hoje, essa autoridade reside na Palavra
inspirada e preservada, a Bíblia.
(Colossenses 3:16). Qual hinário usar e quem irá
dirigir o louvor são decisões meramente locais.
O ensino dos apóstolos especifica leitura das
Escrituras (Colossenses 4:16; 1 Tessalonicenses
5:27) e edificação mútua (1 Tessalonicenses 5:11).
É, portanto, essencial incluir essas atividades em
nossas assembléias cristãs, mas quantos minutos
elas tomarão da reunião é uma decisão para cada
igreja local.
Também está especificado no ensino dos
apóstolos a oferta de cada cristão “no primeiro
dia da semana… conforme a sua prosperidade”
(1 Coríntios 16:1, 2). Além disso, encontramos
um exemplo aprovado de uma coleta especial
(Atos 11:27–30). Essas coletas, no tempo dos
apóstolos, não se destinavam a promover diver-
são, mas unicamente a dois propósitos: alívio
benevolente (Atos 24:17; Romanos 15:25; 2 Corín-
tios 8:1–5; Gálatas 2:10) e pregação do evangelho
(1 Coríntios 9:14; Filipenses 4:14–16).
Observar a ceia do Senhor é um dos ensinos
dos apóstolos, mas sua freqüência não é especifi-
cada. Todavia, como há um exemplo aprovado
(com um apóstolo presente) de uma congregação
se reunindo no “primeiro dia da semana” para
“partir o pão” (Atos 20:7), os cristãos fiéis fazem
o mesmo hoje.
De segunda a sábado, os cristãos podem
ser encontrados “fazendo [uns aos outros] ad-
moestações e tanto mais quanto vedes que o Dia
se aproxima” (Hebreus 10:25). Cristãos fiéis anseiam
por reuniões alegres em que podem cultuar seu
Criador e Salvador e o Espírito Santo em adoração
e visando a mútua edificação (João 4:24; 1 Tes-
salonicenses 5:11). Um cristão pode adaptar
Salmos 122:1 e dizer: “Alegrei-me quando me
disseram: ‘Vamos adorar a Deus’!” Ele tem uma
profunda apreciação pelo que o Pai fez por ele e
sente uma necessidade de expressar isto:
Como suspira a corça pelas correntes das águas,
assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma.
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo;
quando irei e me verei perante a face de
Deus?
As minhas lágrimas têm sido o meu alimento
dia e noite,
enquanto me dizem continuamente: O teu
Deus, onde está?
Lembro-me destas coisas — e dentro de mim
se me derrama a alma —,
de como passava eu com a multidão de povo
e os guiava em procissão à Casa de Deus,
entre gritos de alegria e louvor, multidão em
festa (Salmos 42:1–4).

B ATISMO : U MA L INHA D IVISÓRIA

Antes do Batismo Após o Batismo
Mt 28:18–20; Mc 16:15–18; Lc
Culpa pelos pecados Remissão dos pecados
24:46–49
Não-salvos Mc 16:16; 1 Pe 3:21 Salvos

Pecados não lavados Atos 22:16 Pecados lavados

Sem o dom do Espírito Santo
Filhos do diabo
Não em Cristo
Não no reino de Deus
Não no “um só corpo”, a igreja
Aqueles que não têm todas as
bênçãos espirituais
Aqueles que não têm a vida
abundante
Aqueles que não têm uma
herança reservada no céu
Jo 14:17; At 2:38; 5:32; Dom do Espírito Santo, um
Gl 4:6; Ef 1:13, 14 penhor da nossa herança
Jo 8:44; 2 Co 6:16 Filhos de Deus
Rm 6:3; Gl 3:27 Em Cristo
Jo 3:5; Cl 1:13 No reino de Deus
1 Co 12:13; Ef 1:22, 23 No “um só corpo”, a igreja
Ef 1:3 Aqueles que têm todas as
bênçãos espirituais
Aqueles que têm a vida
Jo 10:10 abundante
Aqueles que têm uma
1 Pe 1:4 herança reservada no céu

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