Вы находитесь на странице: 1из 3

J1

%HermesFileInfo:J-1:20100425:

DOMINGO, 25 DE ABRIL DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Alguém viu?

aliás,
Turistas e curiosos buscam
ETs no céu de Corguinho, no
Mato Grosso do Sul. Pág. J8

A SEMANA REVISTA
estadão.com.br

GIUSEPPE GIGLIA/EFE

Gostaria de
dizer que...
Uma nova opinião pública vem se constituindo no Brasil,
assegura o sociólogo italiano Massimo Di Felice: ela é
multifacetada, processa ideias de toda ordem e não quer
ser ouvida por enquetes eleitorais apenas a cada quatro
anos. Já para a socióloga Célia Retz G. dos Santos,
é tempo de os políticos pararem de encomendar pesquisa
só com o intuito de aferir chances nas urnas.
Págs. J4 e J5

7 8 9 10 11 12
J4 aliás
%HermesFileInfo:J-4:20100425:

DOMINGO, 25 DE ABRIL DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Gangorra Pesquisa do Ibope mostra vantagem de 7 pontos


porcentuais para José Serra (PSDB) sobre Dilma
eleitoral Rousseff (PT) na corrida presidencial. Ele tem
36% das intenções de voto, ela, 29%. Na média
móvel tirada dos números de quatro institutos,
QUINTA, 22 DE ABRIL desde novembro, a diferença é de 5,8 pontos.

Cidadãos 365 dias por ano


Para sociólogo, a internet e as redes sociais online vêm criando uma nova opinião pública,
que não engole mentira, não tolera promessas, não aceita líderes analógicos. Faz acontecer

EDINALDO R. DE ARRUDA/DIV.
compreender o porquê disso. Com seu di- redes de cidadãos que se reúnem por terem
CHRISTIAN CARVALHO CRUZ namismo econômico, a sociedade a contra- determinadas afinidades e passam a traba-
to social necessita de transformações cons- lhar online para transformar a sociedade
tantes de valores. Isso muda completamen- pela proposição, discussão e implementa-

A
política como conhe- te o comportamento das pessoas, elas pas- ção de ideias. Primeiro no seu território,
cemos hoje pode ser, sam a valorizar as mudanças, o progresso, sua rua, seu bairro, sua cidade, depois no
muito em breve, um contra a estagnação pré-definida por seu país e mundo. Chamamos isso de net-ativis-
retrato embolorado nascimento, como ocorria no modelo feu- mo. Não se trata de uma questão ideológi-
na parede. E o políti- Entrevista dal. ca, de fazer a revolução com a ajuda da in-
co profissional, um Massimo ternet. Não é isso.
desempregado irre- ● Esse conceito de opinião pública se man-
mediável, com sauda- Di Felice tém até hoje? ● E que tipo de opinião pública está sendo
de dos “bons tem- Ao longo da história ele foi contestado por gestada nessa era de net-ativismo?
pos” pré-internet. PROFESSOR E uma porção de teorias, principalmente de- Uma opinião pública que não quer ser só
Não, essa não é a última do admirável mun- COORDENADOR DO pois do surgimento da mídia de massa e do opinativa. Não quer só opinar com base nu-
do novo. É a opinião de alguém que o acom- CENTRO DE PESQUISA uso que o nazismo, o fascismo e regimes au- ma pauta estabelecida pela mídia e pelos
panha com olhos de cientista: o sociólogo SOBRE OPINIÃO PÚBLICA toritários em geral fizeram dela. Isso levou políticos. A rede está criando, de fato, uma
italiano Massimo di Felice. Doutor em EM CONTEXTOS DIGITAIS muitos autores a pensar que a opinião pú- nova realidade em que as pessoas se afas-
Ciências da Comunicação, especialista em DA ECA-USP blica era só um doutrinamento da popula- tam cada vez mais da política partidária, do
mídias digitais, ele leciona Teoria da Opi- ção. Ela teria tão somente a opinião que o debate político profissional, porque acham
nião Pública na Escola de Comunicação de status quo quisesse que ela tivesse e mani- que isso não resolve nada. Meus alunos
Artes da USP. Acredita que a humanidade pulava para conseguir. Para esses autores, têm total desinteresse pelas questões políti-
vivencie neste momento algo tão grandio- opinião pública é alienação. Por aí cami- cas tradicionais, mas de maneira alguma po-
so quanto o surgimento da prensa de Gu- nhou Adorno (Theodor Adorno, filósofo ale- dem ser chamados de alienados, porque es-
tenberg no século XV: é o tempo em que a mão), chegando a Bourdieu (Pierre Bour- tão em redes sociais, integram grupos que
web vai levar ao desaparecimento do tipo dieu, sociólogo francês), para quem a opinião trabalham com reciclagem de lixo, inclusão
de política e de político que existem hoje. pública simplesmente não existe. Ele dizia digital, acesso à informação. Estão tentan-
Para afirmar isso ele não leva em conta isso, na verdade, como provocação. Na do modificar o seu território 365 dias por
apenas a tecnologia em si, gelada em seus França da época, anos 60/70, ele queria ano. Eles são cidadãos o ano inteiro, não só
inesgotáveis twitters, orkuts e facebooks. questionar o uso demagógico que se fazia a cada quatro anos. Para esse pessoal o vo-
Seu objeto de análise é a nova realidade das pesquisas de opinião. Todas as ações to é a última coisa na qual eles estão pen-
que está nascendo daí, vertiginosa e quase dos entes públicos e privados eram justifi- sando. A lógica da web não é piramidal, não
silenciosamente. “A internet e as redes so- cadas por pesquisas de opinião. E Bourdieu prevê um líder. A palavra-chave é colabora-
ciais online estão criando uma nova demo- vem dizer que essas pesquisas não davam ção. Assim, se há alguém que eles enxer-
cracia e uma nova opinião pública.” O que necessariamente a opinião das pessoas, da- gam como representante, é necessariamen-
é particularmente interessante em tempo- vam a opinião que as pessoas tinham forma- te alguém que esteja nessas redes sociais
radas como esta, de caça à tal opinião públi- do a partir do doutrinamento. Portanto, a desde sempre, discutindo, propondo, aju-
ca empreendida pelos institutos de pesqui- opinião pública não existia. dando a levantar verbas para projetos. O
sa que tentam medir os humores e os pen- que eu estou tentando dizer é que a políti-
dores eleitorais dos brasileiros. ● E nos dias de hoje, ela existe? ca analógica é obsoleta, porque unidirecio-
Mas alto lá com os antigos conceitos, Existe, mas de um jeito totalmente diferen- nal. Podemos chamar isso de fascismo se
previne Di Felice. “Essa opinião pública te. Na minha avaliação, a opinião pública adotarmos a etimologia grega da palavra
que está surgindo não quer ser chamada a muda de caráter de acordo com a tecnolo- “fascio”, que significa seta, algo que apon-
opinar apenas de quatro em quatro anos. gia informativa de uma época. No tempo ta, direciona. Estamos no caminho contrá-
Ela participa, colabora, difunde ideias para da oralidade, tínhamos os filósofos, os so- rio. Pode levar 10, 20 anos, mas estamos in-
mudar seu território cotidianamente. É ci- fistas. Com Gutenberg e a sua máquina de do claramente na direção de uma democra-
dadã 365 dias por ano. Está fazendo aconte- reproduzir grande quantidade de páginas, cia totalmente colaborativa.
cer o que os políticos só prometem.” O efei- surge a opinião pública dos tempos moder-
to imediato disso – para as eleições presi- nos, mais ampla, instigada a debater pelo ● Essa nova ordem já deve influenciar as elei-
denciais de outubro – será mínimo, ele re- acesso mais fácil ao conhecimento. Depois, ções deste ano?
conhece, dada a predominância, ainda, da a mídia de massa – jornais, rádios e TV – dá Provavelmente não. Mas estou certo de
opinião pública televisiva no País. Mas no origem às democracias nacionais, à esfera que, nesta campanha presidencial, teremos
futuro será algo decisivo. pública do tamanho de uma nação. Afinal, surpresas vindas do mundo digital. A web
Na entrevista a seguir, Di Felice em- a mídia de massa consegue atingir toda a será um lugar de desmascaramento. Esse
preende um passeio pela história e o desen- população ao mesmo tempo. Aí chegamos movimento é maior do que imaginamos no
volvimento da opinião pública e, otimista, aos tempos atuais, à internet. E a coisa vira Brasil. Um sinal claro disso é que já há no
explica aonde, agora cada vez menos analó- de cabeça para baixo. A internet cria uma País mais gente usando a internet para aces-
gica, ela pode nos levar. arquitetura informativa absolutamente dis- sar redes sociais do que para ver pornogra-
tinta das anteriores e, mais do que isso, fia. Temos um curso de pós-graduação mui-
● O que é opinião pública? cria um novo tipo de democracia e um no- to procurado por pessoas que vão trabalhar
É um conceito que nasceu com a substitui- vo tipo de opinião pública. com marketing político. Os alunos pergun-
ção da sociedade feudal pela sociedade a tar a mesma coisa: “Como eu uso o Twitter
contrato social. Nasceu com a destruição ● Pode explicar melhor? para ajudar meu candidato a vencer a elei-
do modelo baseado no rei que era rei por Com a internet, passamos da democracia ção?” Eu digo: “Você não pode. Se entrar
ter sido colocado no trono por Deus (e, por opinativa para a democracia colaborativa, com essa intenção a mesa vira sobre você”.
isso, emanava leis inquestionáveis) e com na qual todo cidadão é chamado não a mu-
o surgimento dos primeiros mercadores dar o mundo, a fazer revolução, nada disso. ● Por quê?
que deram origem à burguesia. Foi uma pas- Ele é chamado a ter um impacto na sua rea- Imagina só isso: o político utilizando a web
sagem econômica, social, cultural e políti- lidade próxima. Se olharmos para o teatro como utiliza a TV – para mentir, basicamen-
ca. A sociedade que nasce daí não é mais as- grego, os livros, os jornais, o rádio e a TV te. Essa é muito boa (risos). Na rede, uma
sentada em valores divinos, “justos”, e sim notamos que o modo de transmitir as infor- mentira dura dois minutos. E, uma vez des-
em códigos racionais, que tem mais a ver mações se manteve constante. O ator de coberta, centenas de pessoas vão ter o pra-
com a necessidade de organizar as coisas teatro fala, o público ouve em silêncio; no zer de denunciá-la. Isso aconteceu com o
ao gosto da nova classe que ascende ao po- final aplaude ou vaia, ou seja, opina. Na TV Lula. Um dia ele resolveu que queria ser Ba-
der e vai fazer leis para defender seus inte- é a mesma coisa. Quando assistimos a um rack Obama e fez um blog. Só que não per-
resses. Serão, portanto, leis “injustas”. debate eleitoral os candidatos falam e nós mitiu comentários. Poos alguém duplicou
Mas, como elas podem ser questionadas, acompanhamos tudo passivamente e de- o blog dele num espaço aberto para comen-
afinal não vieram do poder divino do rei, pois vamos votar – opinar – sobre propos- tários. Uma lição de que não dá para se
haverá a necessidade de lutar para mudar tas e programas de cuja elaboração não par- aproveitar da internet dessa maneira. Uma
tais leis. Nessa imperfeição está uma das ca- ticipamos. É a democracia baseada na opi- vez dentro da rede ele terá de se submeter
racterísticas da sociedade a contrato so- nião. O cidadão é cidadão na medida em às regras dela, que não têm nada a ver com
cial, que cria pela primeira vez a separação que ele opina de quatro em quatro anos. A as regras da TV. O problema é que os políti-
clara entre sociedade civil e Estado. internet inaugura um tipo de democracia cos, seus estrategistas e marqueteiros que-
qualitativamente diferente. rem transferir o passado para o novo. Eles
● Então a opinião pública é filha da democra- não têm a menor noção dessa nova demo-
cia moderna? ● Como ela funciona? cracia, dessa nova opinião pública que está
Ela é o alicerce da democracia moderna. Primeiro, a comunicação em rede é uma nascendo. Querem entrar num contexto
Não é apenas a expressão dela, um instru- tecnologia que pela primeira vez disponibi- no qual o político é visto com maus olhos.
mento a mais. Não há democracia sem con- liza não só o acesso a todas as informações A imagem dele é negativa, porque tradicio-
flito, sem opinião. E o que resulta dessa pas- como também possibilita que cada indiví- nalmente ele representa o contrário do que
sagem do feudalismo para o mercantilismo duo crie conteúdo e poste esse conteúdo se faz ali. Ele tem uma proposta pronta e,
burguês é uma sociedade dada ao conflito, com o mesmo poder comunicativo dos ou- através da sedução, busca obter consenso
a tal sociedade civil – um conjunto de indi- tros meios. Tecnologicamente, um blog da maioria da opinião pública para se ele-
víduos, grupos, etc., que se reúnem contra tem o mesmo poder comunicativo que a ger. A comunicação parte dele e volta para
o Estado. Então, é nessa imperfeição que CNN. Isso está educando o cidadão não ele. A internet permite outro modelo: que
se desenvolve o conceito de opinião públi- apenas a opinar, mas a criar debate e a dis- ele apresente sua proposta, que vai ser con-
ca, não só como lugar de divulgação, mas cutir ideias que se espalham velozmente pe- tinuamente debatida, modificada e aprimo-
de elaboração contínua de ideias. É fácil lo mundo. São as chamadas redes sociais, rada – e daí vai nascer o consenso.

A disputa pela @joseserra @dilmabr


opinião pública, 209.831 seguidores 36.110 seguidores
em 140 caracteres
“Meu pai era italiano e minha avó materna, argentina, “Voltamos a fazer política industrial: tudo o que pode
@FabioPellegrini. Aprendi espanhol e italiano em ser produzido no Brasil deve ser produzido no Brasil.
casa e inglês na escola e no exílio” Isto fez e faz toda a diferença”
Quarta, 21 de abril, 13h45 Terça, 20 de abril, 8h33
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 25 DE ABRIL DE 2010 aliás J5

Qual é o seu recado?


Nossos fotógrafos percorreram seis cidades brasileiras, convidando pessoas
a darem sua opinião. Sobre? O que quisessem, naquele momento. Respostas
ilustram capa e páginas centrais deste caderno. Fotos de André Dusek
e Wilson Pedrosa, em Brasília; Alberto César Araújo, em Manaus; Neco Varella,
em Porto Alegre; Marcos de Paula e Fábio Motta, no Rio de Janeiro; Léo Azevedo,
em Salvador; Valéria Sanchez, em São Paulo. Para visualizar a galeria completa,
acesse: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/

Pesquisa, só,
não muda voto
Prévias influenciam o eleitor, mas são vinculadas à opinião dos
● Quer dizer que no futuro os candidatos a
amigos, da família, renda, educação, desempenho dos candidatos
representantes do povo podem surgir das
redes sociais da internet?
E é provável que eles sejam completos des-
conhecidos para quem estiver fora dessas muitas,como apropagandana TVeno rádio.
redes. A função do político tradicional ten- CÉLIA RETZ GODOY DOS SANTOS A divulgação das prévias eleitorais é, sim,
de a desaparecer. Não vai ter mais aquela uma das fontes de influência no eleitorado,
coisa de ele prometer fazer, porque a nova mas não pode ser desvinculadas da mídia

A
opinião pública formada por essas pessoas o ouvir falar em pes- objetiva, da mídia partidária, do desempe-
conectadas em redes sociais já está fazen- quisapolítica,amaio- nho dos candidatos nos debates, do prestí-
do sem ele. ria das pessoas pensa gio social de famílias, amigos e colegas, dos
naquela voltada uni- líderes de opinião, além de outros fatores
● Mas qual o peso real dessa nova opinião camente a levantar a como educação e renda.
pública em termos eleitorais no Brasil? intenção de voto em Váriosestudosrealizadossobreasinfluên-
Por enquanto, pequeno. A opinião pública corridas eleitorais. cias das prévias na decisão de voto ou na
cobiçada pelos políticos é a televisiva. Realmente,nãoháco- formação das opiniões do eleitor indicam
Aquela suscetível à propaganda e ao marke- mo negar sua eficiên- que as pesquisas, longe de gozarem de reco-
ting político. O cenário está mudando rapi- cia em quantificar a nhecimentouniversal,são objeto dedescon-
damente, mas quem vence eleição ainda intenção de voto nas proximidades dos plei- fiança e indiferença de consideráveis parce-
são os marqueteiros. A TV tem regras preci- tos e no delineamento do perfil do eleitor, lasdoeleitorado. Aocontrário doqueseima-
sas que são dominadas com perfeição por mas ela não se restringe ao âmbito eleitoral. gina, é uma falácia dizer que o eleitor “ingê-
eles. Quanto mais o político se submete ao A pesquisa política fornece subsídios para o nuo”,menosescolarizado, sejao maisatingi-
marqueteiro, maior a sua chance de vitória. direcionamento de campanhas eleitorais, do. Este, que se traduz na maioria dos eleito-
Então, dizer que a Dilma não tem experiên- trazendo informações relevantes aos candi- res, não acredita nem confia nas pesquisas,
cia em cargos executivos, por exemplo, pe- datos e, o que talvez seja seu maior mérito, argumentando que nunca foi entrevistado.
sa pouco para essa opinião pública televisi- tambémproporcionaapossibilidade deade- Além disso, não possui conhecimento sobre
va. Já ela fazer plástica ou, do lado de lá, fo- quaçãodos gestorese programas degoverno os procedimentos amostrais nem embasa-
tografar o Serra em pose de Obama, com a às demandas sociais, além de ser capaz de mentoteóricoparacompreenderosprocedi-
mão segurando o rosto, pedir para ele sor- avaliar serviços e políticas públicas. mentos estatísticos. Já os eleitores com
rir mais em público, isso sim tem impacto Nos últimos anos, há uma visível amplia- maior nível de escolaridade não tendem a
na opinião pública televisiva. O fato é que ção do uso da pesquisa para se levantar a votar no que está vencendo, mas, muitas ve-
nem Serra nem Dilma são capazes de con- opinião dos cidadãos, seus perfis, demandas zes, utilizam o resultado das pesquisas para
quistá-la sozinhos. Ambos dependem dos easpirações,possibilitandonãosóaelabora- o voto tático ou útil, no qual optam pelo can-
seus marqueteiros. ção de campanhas, mas de planos de gover- didato mais próximo a seu favorito, com
no mais ajustados aos anseios da população chance de vencer o líder nas pesquisas.
● Pesquisa eleitoral que ouve 3 mil pessoas (pelo menos em tese). No entanto, é difícil Portanto, a crença de que as pessoas ten-
capta o que pensa a opinião pública? sustentar que uma pesquisa política, quase dem a votar no candidato que está vencendo
No contexto atual de política do espetácu- semprevinculadaaofuncionamentoouàma- não se configura realidade. Se as pessoas vo-
lo, política que associa aos conteúdos as nutenção do poder, não seja politicamente tassem sempre nos que lideram as pesqui-
imagens televisivas, deve-se reduzir a im- comprometida e, muitas vezes, desvirtuada, sas, uma vez destacado o favorito, jamais
portância normalmente atribuída às pesqui- tanto em relação à investigação quanto à uti- uma eleição mudaria. Lula, por exemplo, se-
sas de intenção de voto. Uma vez que a polí- lização dos resultadospara fins particulares. ria eleito presidente em 1998, pois nas pri-
tica deixa de ser doutrina ideológica para A influência das pesquisas pré-eleitorais meiras pesquisas eleitorais tinha o mais alto
se assumir como arte dramatúrgica, a dis- tem sido polêmica. Informam ou desinfor- porcentual de intenções de voto.
puta eleitoral se torna algo muito próximo mam?Devemser divulgadasounão?São ma- As sondagens eleitorais são retratos do
de um reality show. E aí o que vale é o ex- nipuláveis? Seus resultados prejudicam o momento.Seusresultadosnãoinformamso-
cesso e a surpresa, a presença midiática, o processo eleitoral ou ampliam a democrati- bre o que vai ocorrer, não predizem o futuro,
ataque ao adversário, a construção de uma zação de informações? As respostas envol- apenas indicam uma tendência. Além da uti-
imagem que se pretende vencedora. vem considerações éticas, jurídicas e meto- lidadedelevantamento dedadose mensura-
dológicas.Estasúltimas sereferemaoscrité- çãodeatitudesparaplanejamento decampa-
● As enquetes mostram que 60% dos eleito- rios de delimitação do universo pesquisado, nha e estratégias políticas, as pesquisas elei-
res não sabem dizer espontaneamente o no- ao plano da amostragem, ao tempo de “vali- torais têm dado uma valiosa contribuição
me de um pré-candidato à Presidência da dade” da pesquisa, à margem de erro estima- por consolidarem, de alguma forma, as aspi-
República. O que isso significa? da e, até mesmo, ao modo de formulação das rações, as crenças, as motivações de um po-
Significa o afastamento da política do pú- perguntas, que pode induzir respostas. vo, auxiliando nos processos de democrati-
blico. Não do público da política. A políti- Quando se fala em influência, há que se zaçãoemvários países. Infelizmente,no Bra-
ca partidária, feita por lobbies preocupa- considerar os impactos indiretos da pesqui- sil, não muito diferentemente do resto do
dos apenas em se manter no poder, não in- saeleitoral,quesedãonosbastidoresdaesfe- mundo, é comum que elas sejam principal-
teressa, cansou. E não é por motivos ideo- ra política. Os resultados de uma pesquisa mentevoltadas para asdefiniçõesde estraté-
lógicos, já que no fundo as diferenças en- exercem grande efeito no desenrolar de uma gias eleitorais e, lamentavelmente, é difícil
tre políticos e partidos são muito peque- campanha e sua adequação, na arrecadação encontrar um candidato eleito que continue
nas. É porque a humanidade se deu conta dosfundos, noapoiodosmilitantes,nasdeci- encomendando pesquisas para averiguar as
de que a classe política é um grande cân- sões dos líderes partidários, no espaço da necessidades da população ou avaliar os ser-
cer, no mundo inteiro. A política tradicio- mídia e no dimensionamento das verbas, fa- viços do seu governo. Uma pena.
nal é feita pelas pessoas menos qualifica- tores que vão incidir fortemente nas chan-
das – reservadas as devidas exceções, ob- ces de vitória do candidato. ✽
viamente. Só que do outro lado, na rede, Já com relação à influência direta da pes- CÉLIA RETZ GODOY DOS SANTOS É PROFESSORA
há cidadãos ativos, conscientes, exercendo quisa sobre o eleitorado, é muito difícil de DA FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E
sua cidadania diariamente, que não en- mensurar, pois as variáveis que interferem COMUNICAÇÃO DA UNESP E COORDENADORA DE
tram nesse jogo antigo. Isso explica as altís- na opinião pública em época eleitoral são GRUPO DE PESQUISAS SOBRE OPINIÃO PÚBLICA
simas taxas de abstenção nas eleições na
Europa, que beiram 50%. A população está
cansada e, por meio da internet e das redes
sociais, quer reformular isso. Me parece
que temos agora a alienação dos políticos
em relação a essa nova opinião pública, à
política real, nas quais a sociedade cada
vez mais organizada na web está construin-
do uma realidade melhor, independente-
mente das disputas eleitorais.

● A opinião pública brasileira topa uma presi-


denta mulher?
Não. A sociedade brasileira é profundamen-
te machista. Aceita no máximo uma mu-
lher no comando do governo municipal.
Mas para chefiar a nação acha que é de-
mais. Já na nova opinião pública que está
se fortalecendo na internet as regras são ou-
tras. A imagem, o gênero, são coisas que
não têm a menor importância. O que faz a
diferença é a participação ativa, as ideias
postas em discussão, a disposição para o de-
bate contínuo. E o melhor desse modelo é
que pela primeira vez está se dando voz, de
fato, aos excluídos, à massa das periferias.
Estamos diante de algo tão grande quanto
a prensa de Gutenberg.

@silva_marina @CiroFGomes
27.531 seguidores 15.708 seguidores
“Valeu o esforço de ir até Roraima para celebrar as “Muito obrigado pela força! Mais de três mil
conquistas e me comprometer com os novos desafios manifestações de apoio postadas no cirogomes.com.
da Reserva Raposa Serra do Sol” Sigo lutando!”
Terça, 20 de abril, 5h05 Segunda, 19 de abril, 15h55

Вам также может понравиться