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Nacional
estadão.com.br
Anos de chumbo. Ministros manifestaram reprovação aos atos de tortura e disseram que a sociedade tem o direito de saber o que
aconteceu nos porões da ditadura, mas afirmaram que foi a anistia que garantiu transição mais rápida e pacífica para o regime democrático
Eros Grau Cármen Gilmar Ellen Marco Celso de Cezar Ricardo Ayres
CONTRA RELATOR Lúcia Mendes Gracie Aurélio Mello Peluso A FAVOR Lewandowski Britto
A REVISÃO DA REVISÃO
Anistia vem Buscou-se ali A anistia foi Anistia é Anistia é ato Reconhecer a A lei nasceu de Os agentes O torturador não
para pessoas uma pacificação aprovada para esquecimento, abrangente de anistia não um acordo de do Estado é um ideólogo,
indeterminadas, no sentido de esquecer o superação do amor, sempre significa quem tinha não estão não comete crime
e não a transpor uma passado e viver o passado com calcado no esquecimento da legitimidade automaticamente de opinião, não
determinadas etapa para atingir presente com vistas a convívio pacífico verdade para celebrar abrangidos pela comete crime
pessoas a paz social vistas ao futuro reconciliação dos cidadãos histórica este pacto anistia político, portanto
Obs.: Os ministros Joaquim Barbosa e José Antonio Dias Toffoli não participaram da votação
INFOGRÁFICO/AE
ANDRE DUSEK/AE
Mariângela Gallucci / BRASÍLIA observou que a Lei de Anistia re-
sultou de amplo debate, que en- PARA ENTENDER
A anistia é ampla, geral e irres- volveu políticos, intelectuais e
trita. O Supremo Tribunal Fe- entidades de classe, dentre as
deral (STF) concluiu ontem quais, a própria OAB. 1. qual a Ordem dos Advogados
que a Lei de Anistia é válida e, Na sessão de ontem, os minis- O que é a Lei de Anistia? do Brasil (OAB) questionou
portanto, é impossível proces- trosCármen Lúcia,Gilmar Men- Promulgada em 1979, a lei anis- essa interpretação da lei.
sar penalmente e punir os des, Ellen Gracie, Marco Auré- tiou os cidadãos punidos por
agentes de Estado que atua- lio, Celso de Mello e Cezar Pelu- ações contra a ditadura – co- 3.
ram na ditadura e praticaram so seguiram o voto de Grau. mo funcionários públicos afas- O que pediu a OAB?
crimes contra os opositores Ayres Britto e Ricardo Lewando- tados de seus cargos, pessoas Na ação, a OAB pediu que o
do governo como tortura, as- wski concluíram que a Lei de com direitos políticos cassa- STF definisse que a anistia só
sassinatos e desaparecimen- Anistia não poderia perdoar cri- dos, ativistas presos ou no exí- atingiu perseguidos políticos.
tos forçados. mes hediondos e equiparados. lio. De acordo com a interpre- Não se estendeu aos policiais e
Depois de dois dias de julga- “O torturador experimenta o tação firmada na época, a lei militares que, a serviço do Esta-
mento, a maioria dos ministros mais intenso dos prazeres dian- também beneficiou os agentes do, cometeram crimes comuns
do STF rejeitou ação proposta tedo mais intenso dos sofrimen- de Estado acusados de viola- como homicídio e tortura.
pela Ordem dos Advogados do tos alheios”, argumentou Ayres rem direitos humanos.
Brasil (OAB) que questionava a Britto. “O torturador é uma cas- 4.
concessão de anistia a agentes cavel que morde o som dos pró- 2. O que acontece agora?
daditaduraepropunhaumarevi- prioschocalhos.”Paraele,os tor- O que o STF julgou? Continua vigorando a interpre-
são. No debate, venceu, por 7 vo- turadores são “tarados”, “mons- O STF julgou uma ação na tação definida em 1979.
tosa2, atese defendida pelorela- tros” e “desnaturados”. Debate. Peluso (dir.) acompanhou o voto do relator Eros Grau
tor da ação, Eros Grau, ele pró-
prio uma vítima da ditadura. Transição. Os ministros que construir soluções”, afirmou o anistia,inclusivedosquepratica- discussão é estritamente acadê- le, sua história, o Brasil fez a op-
Grau disse não caber ao STF votaram pela validade da Lei de ministro Gilmar Mendes. ram crimes “nos porões da dita- mica, para ficar nos anais da cor- ção pelo caminho da concórdia.”
alterar textos normativos que Anistiafizeramquestãoderepro- CármenLúciadissequeerane- dura”,foiopreçopagoparaacele- te”, argumentou.
concedem anistias. O ministro var os atos de tortura e ressaltar cessáriolevar emcontaocontex- rar a democratização. “Não se Namesmalinha,Pelusoressal- Bonde. A OAB reagiu à decisão
que a sociedade tem o direito de todoperíodoemquefoinegocia- faz transição pacífica entre um touquemesmo queoSTFjulgas- do Supremo. Para o presidente
saber o que aconteceu. Mas afir- da a anistia. “Não vejo como jul- regime autoritário e a democra- se procedente a ação da OAB não da Ordem, Ophir Cavalcante, a
● A caminho do Planalto maram que a anistia garantiu gar o passado com os olhos ape- cia sem concessões recíprocas”, haveria efeito porque os crimes corte “perdeu o bonde da histó-
O anteprojeto de lei que cria a umatransiçãomaisrápidaepací- nas de hoje”, afirmou. O decano disse. “Não é possível viver re- jáestariamprescritos.Dissetam- ria”. “Lamentavelmente, o STF
Comissão da Verdade deve ser fica para o regime democrático. do STF, Celso de Mello, obser- troativamente a História.” bém que só uma sociedade com entendeu que a Lei de Anistia
entregue ao presidente Lula na “O Brasil é devedor desses vou que a anistia brasileira foi bi- Marco Aurélio Mello era con- elevados sentimentos de solida- anistiou os torturadores, o que,
quarta-feira. O texto foi elabora- companheiros, não de armas, lateral. “A improcedência da tra o STF julgar a ação da OAB. riedade é capaz de perdoar. “Se é aonosso ver,é umretrocesso em
do por representantes de quatro masdapolítica.Aquelesquereal- ação não impõe qualquer óbice à Para ele, independentemente verdade que cada povo resolve relaçãoaos preceitosfundamen-
ministérios e da sociedade civil. mente acreditaramna viado diá- busca da memória.” do resultado, o julgamento não seus problemas históricos de taisdaConstituiçãoeàsConven-
logo e na política como forma de Ellen Gracie afirmou que a traria efeitos práticos. “Nossa acordocomsuacultura,suaíndo- ções Internacionais.”
✽ Interamericana de Direitos Humanos, acusado Definiu-se na época a chamada categoria dos cri- 1973, derrubou o presidente Salvador Allende e
Cenário: Roldão Arruda de detenção arbitrária, tortura e desaparecimen- mes contra a humanidade – entre os quais figu- impôs uma ditadura ao país. Ele deixou o poder
to forçado de integrantes da Guerrilha do Ara- ramaçõescometidaspeloEstadocontraseuspró- em 1990 sob a proteção de leis nacionais que im-
guaia, movimento armado sufocado pelo regime prios cidadãos por motivos políticos, tais como pediam sua responsabilização por crimes ocorri-
Caso ainda pode militar nos anos 70. A próxima audiência do caso tortura, assassinato, ocultação de cadáveres. dos em seu governo. Em outubro de 1998, porém,
está agendada para o dia 20. Hoje, quando o cidadão não obtém justiça em durante uma visita à Inglaterra, foi detido pela
chegar às cortes O debate ampliado é possível porque o Brasil seu país, nos casos de crimes contra a humanida- Scotland Yard, a pedido do juiz espanhol Baltasar
faz parte de instituições internacionais, como a de, pode recorrer às cortes internacionais. Como Garzón,queoresponsabilizava,baseadoemacor-
internacionais OrganizaçãodasNaçõesUnidas(ONU),eendos- fizeram os familiares dos guerrilheiros. dos internacionais, por tortura e desaparecimen-
sa declarações segundo as quais o julgamento de Acionadas, essas cortes tendem a considerar to de cidadãos espanhóis durante a ditadura.
E
mbora proferida pela mais alta corte de certos crimes transcende a fronteira da legisla- os crimes imprescritíveis. Também não aceitam Pinochet foi solto logo depois. Sua prisão evi-
JustiçadoPaís, a decisãotomada ontem ção nacional. São declarações que limitam, por- a chamada autoanistia, na qual o regime autoritá- denciou, no entanto, o aumento da pressão inter-
sobre o alcance da Lei de Anistia não tanto, o poder soberano do Estado. rio perdoa atos de seus próprios agentes. nacional nas violações de direitos humanos e in-
representa o ponto final do debate. Ele Esses conceitos ganharam corpo no fim da Se- Um caso bem conhecido que trouxe à tona essa fluenciou o debate dos chileno sobre os crimes.
pode ser retomado em cortes internacionais. Na gunda Guerra Mundial, a partir das ações do Tri- compreensão mais ampla sobre violações de di- Os ministros do STF não ignoram a questão.
verdade isso já ocorre. Neste momento o Brasil é bunal de Nuremberg, onde foram julgados os cri- reitos humanos envolveu o general chileno Au- Alguns deixaram isso claro na hora de declarar as
réu em uma ação de responsabilidade na Corte mes cometidos pelos agentes do regime nazista. gusto Pinochet, líder do golpe militar que, em razões do seu voto.