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Indiciou os acusados pe- Desarquivou mais de Reuniu provas de frau-
Poder. A corregedora da Polícia Civil, Maria Inês Trefiglio Valente, deixa a Secretaria da Segurança; primeira mulher a dirigir o órgão, em um ano ela acusou 267 policiais de corrupção
M
cial mais temida vamento ou se voltavam contra os de- A policial nasceu há 63 anos em Cam- da”entre três irmãs afazer essa escolha. na diretora o rigor de suas decisões,
de São Paulo. To- nunciantes. Casos rumorosos, como os pinas. Maria Inês Trefiglio Valente é fi- A aceitação não foi fácil. Na verdade, em que julgam excessivo. Foi esse mes-
da semana sua achaques aos traficantes colombianos lha de um fazendeiro de origem portu- quatro anos, a nova profissão implodi- mo rigor que a fez mandar abrir in-
equipe manda um JuanCarlosAbadíaeRamónManoelYe- guesa e de uma dona de casa de ascen- ria o casamento. O marido engenheiro quérito no qual ela mesma é alvo co-
corrupto para aca- pesPenagos,ElNegro, ficaramparalisa- dência italiana. O pai resolveu interná- se tornou mais uma página virada na mo integrante da banca do último
deia. A mulher tem uma voz calma e dos durante anos. Dezenas de proces- lano ColégioNossaSenhoradoPatrocí- vida de Maria Inês. concurso para investigador de polí-
um sorriso que lhe aperta os olhos. sos administrativos eram engavetados nio, em Itu, mantido pelas irmãs de São Quando o relacionamento acabou, cia. Tomou a decisão de receber uma
Mas anda armada. As mãos pontuam à espera de solução. José de Chambéry. Fez o antigo curso ela era delegada em Osasco, na Grande denúnciasobre suposta irregularida-
as frases dessa delegada que diz virar normalecomeçouadaraulasparacrian- São Paulo. Não fazia muito que havia de na aprovação de candidatos. O ca-
as páginas de sua vida, como quem a Prisões. Maria Inês começou a mudar ças em Campinas. Casou-se no fim dos apertado o gatilho pela primeira e últi- so ainda está em andamento.
divide em capítulos. No atual, vive o isso.Desaída,trocou25delegados–que- anos 1960 e, a pedido do marido, virou a ma vez na vida. Durante um assalto, a
papel de diretora da Corregedoria da ria gente com perfil para a função. Em primeirapáginadesuavida,abandonan- delegada e dois colegas passaram em Relâmpago. “É preciso dar uma re-
Polícia Civil, a primeira mulher a co- menos de três meses, a nova direção in- do o magistério. Tornou-se dona de ca- frenteaumbanco.Oladrãosaiudaagên- posta rápida às queixas”, diz Maria
mandar o departamento em toda a diciou mais de 20 policiais pelos acha- sa e teve três filhos. cia disparando e os policiais reagiram. Inês. Para tanto, montou as opera-
sua história. quesaoscolombianos.Aotodo,267poli- Ao 35 anos, em 1982, voltou a estudar. Todosatiraram. AtéMaria Inês. Oassal- ções relâmpago, para prender poli-
Quando chegou à Corregedoria, ciais foram acusados de crimes no pri- Prestou vestibular e entrou em Direito, tante morreu. “Alguém acertou o la- ciais em flagrante. Foi assim que sur-
nomeadapelosecretário daSeguran- meiro ano de gestão da delegada. O nú- na Pontifícia Universidade Católica de drão. Não me pergunte quem.” preendeua“blitz dapropina”. Ela era
ça, Antônio Ferreira Pinto, encon- mero de inquéritos abertos aumentou São Paulo (PUC-SP). Chegou à faculda- Trabalhou na Delegacia de Defesa da feita por investigadores de Osasco
trouumórgãoemfrangalhos.Denún- 35% – de 1.761, de março de 2008 a abril de pensando que “nenhum comunista Mulher (DDM), das quais seria coorde- quefingiamfiscalizar carrosnaRodo-
cias diziam que a corrupção se havia de 2009, para 2.378 depois que Maria ia mudar sua cabeça”. A universidade nadora na capital de 1995 a 2002. “Nos- via Castelo Branco com o objetivo de
infiltrado no próprio departamento Inês assumiu a Corregedoria. eraconhecida naépoca pelasideiaspro- somaior desafio era vencer o machismo achacar motoristas incautos.
–policiaiscorregedorestomariamdi- Ocorreram ainda 49 prisões em fla- gressistas de seus professores. No fim das mulheres policiais no atendimento Maria Inês costuma andar a pé. Es-
nheiro de colegas corruptos de dele- grante, com 70 presos. E, pela primeira do primeiro ano, Maria Inês descobriu às vítimas de violência doméstica.” tá sempre sozinha, sem seguranças,
gaciasparainformá-lossobreinvesti- vez, a PF teve confiança para trabalhar que não sabia mais o que fazer da vida. mas com a pistola calibre 40. Há pou-
gações em andamento. O preço des- em conjunto com o órgão. Na Operação ‘Jararaca’. Ao mesmo tempo, dava au- co tempo, espalharam para jornalis-
se serviço? Cinco mil reais. Até fun- Usurpação, corregedores e federais Delegada aos 41. Decidiu, então, ini- las de Direito Penal na PUC-SP. “Eu era tas e promotores um boato sobre um
cionários fantasmas haveria ali. prenderam três delegados e um escri- ciar um novo capítulo. Influenciada pe- uma jararaca.” Até uma de suas filhas, atentado contra sua família. “Não
ACorregedoria erafrequentemen- vão acusados de formar um esquema de lo professor de Direito Penal Francisco que foi sua aluna, entrou com recurso me sinto ameaçada. Para que haja
tesurpreendidaporoperaçõesdaPo- venda de segurança privada. Maria Inês de Camargo Lima, delegado que foi cor- contra a nota recebida em uma prova. ameaça, é preciso sentir medo, e isso
lícia Federal e do Ministério Público costuma dizer que o controle exercido regedor da Polícia Civil, resolveu deixar Perdeu. Em 2006, deixou a faculdade, eu não tenho.” Maria Inês parece
– era a última a saber de corrupção na pelaCorregedorianãovaieliminaracor- de ser dona de casa. Tinha 41 anos e en- onde era professora desde 1989. Encer- aguentar firme. Até quando a Corre-
polícia. Em vez de inquéritos, costu- rupção, mas pode mantê-la em “nível trou para a polícia. Não havia ninguém rououtro capítuloe nunca mais voltouà gedoria se tornar mais uma página
mava abrir apurações preliminares tolerável”. “Nosso trabalho valoriza os na família que lhe servisse de exemplo. PUC-SP. Hoje integra o conselho fiscal virada em sua vida.