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1] (autobiografia) [
Nasci em Goiás, numa família de classe média (naquela época). Meu pai era
agricultor, tinha um bom pedaço de terra, gados e muitos trabalhadores. Minha mãe
dedicava-se, integralmente, a educação dos filhos e as atividades da casa.
Eu sou a mais nova dentre seis (06) irmãos. Pouco convivi com meu pai.
Quando eu tinha três (03) anos de idade meus pais se separaram. Meu pai não deu
nenhum bem material à minha mãe, até porque a decisão de se separar foi dela,
condição esta, reprovada pelos seus pais, que desde muito cedo a fazia entender que a
única porta aberta para uma vida que fosse, ao mesmo tempo, fácil e respeitável era
aquela do casamento.
Mas, por não suportar os ciúmes, maus tratos e a forma como era tratada
como se fosse propriedade dele, não se importou de fazer parte das mulheres sozinhas,
separadas, e sem ajuda financeira do marido.. Meu pai ficou também com os filhos com
exceção de mim que era muito pequena. Tempos depois, meus irmãos vieram visitar
minha mãe, mas com data marcada para voltar. Quando na data do retorno uma das
minhas irmãs teve que ficar por estar muito doente. Meu pai não gostou, então, ele se
mudou para outra localidade e nunca mais deixou que nenhum dos filhos visitassem
mais a minha mãe. A família se resumiu em apenas três, minha mãe, eu com quatro anos
e minha irmã com oito. Mudamos então para o Pará, onde estava minha avó e uma tia
irmã. Minha mãe estava com um desafio: sozinha, semi-analfabeta e duas filhas para
educar e torná-las “gente”, palavras dela que foi uma mulher guerreira, trabalhadora e
que nunca mais se casou para se dedicar apenas nós, eu e minha irmã.
[
[1] Autobiografia exigida como avaliação da disciplina Formação de professores sob as
perspectivas critica e discursiva, ministrada pela profº Drª Tânia Regina da S. Romero.
Curso de Mestrado em Lingüística aplicada da Universidade Taubaté –SP - (Texto
produzido em 05/2007)
Mamãe com o apoio de minha tia montou um pequeno restaurante e isso
consumia o seu dia inteiro, mas não descuidava de ver escola para cada uma de nós.
Nunca pude desfrutar da leitura de uma história ao dormir como é costume de muitas
crianças. Mas eu era muito curiosa, e adorava folhear os livros de minha irmã e criar
histórias a partir das imagens, (isso escondido), pois ela não gostava que mexesse em
seus livros para não amassar, nem rabiscar pois servia para vender a outros alunos no
ano seguinte, esse dinheiro já ajudava para comprar outros livros da série seguinte.
Com sete (07) anos de idade fui para escola, foi quando minha relação com o
aprendizado da leitura começou. Eu estudava em uma sala de aula multiseriada. A
primeira pessoa que escutei lendo foi minha professora, “Maria Alves” de quem eu tenho
boas lembranças, todos os dias ao final ou início de cada aula, ela lia uma história para
nós, e no dia da prova oral ou escrita teríamos que narrar uma das histórias contadas.
Eu estudei com essa professora até a 4ª série, e a prática da leitura adotada era a mesma
em todos os anos.
Eu gostava muito dessa saudosa mestra, era calma, educada, muito meiga,
ao mesmo tempo não dispensava castigos (de joelhos, palmatória) para quem infringisse
as regras de boas maneiras na sala de aula. Isso era recomendação de nossos pais,
como dizia minha mãe: "a escola é extensão da nossa casa", por isso nossos
professores substituíam nossos pais no momento em que estávamos na escola.
Com onze anos para fazer a quinta série tive que ir para uma outra cidade
mais desenvolvida próxima da cidade que eu morava. Era gosto de minha mãe eu fazer
bons estudos, segundo ela para ser “gente” quando crescesse. E, assim, Fui morar com
uma amiga de minha mãe nesta outra cidade. Foi uma separação dolorosa. Nos
primeiros dias eu chorava dia e noite. Nas férias ou feriado quando eu ia para casa era
um dilema, eu não queria voltar, e minha mãe com muita paciência tentava me convencer
a voltar, em hipótese alguma deixaria eu interromper meus estudos, mostrava-me o
quanto era importante estudar, e que pobre só podia ser alguém se tivesse estudo.
Além de todo esse incentivo, outro fator que me ajudava a voltar, era quando
eu lembrava das quartas e sextas-feiras, dias em que os contadores de histórias
estavam na escola. Para mim era a coisa mais fascinante já vista. Eram dois dias de
muito prazer, isso reforçou o gosto que eu já tinha pela leitura. Porém desta vez era um
pouco diferente, este momento era melhor que os anteriores, pois as histórias contadas
não era para serem decoradas . Não havia provas sobre as histórias contadas. Os
contadores liam para despertar em nós um interesse maior para explorar o mundo
mágico da leitura e prazer pelos livros, uma vez que, ler e contar histórias é uma forma
de desenvolver o gosto pela fantasia, incentivando na criança aspectos que dizem
respeito ao seu potencial criativo (Silveira (1996, p. 11). Neste dia ninguém faltava,
estávamos todos lá. No final os contadores davam várias indicações de livros de
histórias que tinha na sala de leitura. Isso me fez apaixonar ainda mais pelo universo da
leitura e da escrita. Tanto que, eu nunca saia sem levar um ou dois livros para casa, e
quando chegava do colégio, almoçava, lavava as louças e ia para o fundo do quintal ler
os livros que tinha trazido. Era rápido, eu lia um dois livros, não lia mais, pois tinha que
passar roupa e arrumar a casa, tarefa de todos os dias que era dividido com mais duas
meninas que moravam na mesma casa.
Naquele tempo era muito difícil encontrar alguém para ceder sua casa para
pessoas estranhas morarem e quando encontrávamos, nossos pais nos sustentávamos
de roupa, comida, despesas de casa etc. mesmo assim trabalhávamos na casa se
quiséssemos um lugar para morar para termos a oportunidade de estudar. Lembro-me
que a dona da casa ao nos ver fazer as tarefas da casa, dizia: “Serviço de criança é
pouco, mas quem perde é louco”, e assim fazíamos de um tudo na casa.
Dois anos depois, minha irmã que havia se separado do marido ficando com três filhas,
resolveu mudar para a cidade de Marabá (Pará) e minha mãe acompanhou-a, foi bom
para mim que poderia ficar junto de minha família, pois era um centro maior e oferecia
primeiro grau e segundo nas áreas administração e magistério.
Transferi meus estudos para uma escola pública em Marabá. Estava super
feliz, pois podia está com minha família e continuar meus estudos em um centro maior.
Porém no decorrer desse estudo uma coisa me deixara triste. Eu percebia que quanto
mais se elevava a série mais diminuía as aulas de leitura, e quando líamos, muitas vezes,
era uma leitura fragmentada, cada um lia um parágrafo do texto. Eu sentia que isso nos
impedia de um bom entendimento do texto, pois ficávamos na expectativa de chegar a
vez que era escolhido pela professora. Então, a atenção era transferida para saber onde
o colega havia parado, pois poderia ser o próximo a dar continuidade na leitura do texto,
ou levávamos uma bronca. Ao final, se nos perguntássemos algo sobre a leitura não
saberíamos dizer nada, uma vez que, o que se considerava mais relevante nesse texto
era a parte morfológica a qual tínhamos que aprender a identificar e listar os
substantivos, numerais, ou seja, aprender a classificar morfologicamente as palavras
relacioando-as as dez classes, para no dia da prova reconhecê-las no texto dado.
Fica evidente que o trabalho com o texto se resumia como um pretexto para
trabalhar a gramática. A preocupação está apenas em fazer o aluno compreender os
aspectos internos da língua do que desenvolver as práticas discursivas presentes na
sociedade.
Posso afirmar que essa é uma prática que não estimula a reflexão, tornando passiva a
atividade com o texto por não provocar o aluno com atividades instigantes. Como diz
Bakhtin (2000, 290).
Lembro-me que quando terminei o primeiro grau, fiquei um ano parada, pois
na época não podia fazer prova de seleção para ingressar no segundo grau com menos
de 18 anos de idade. Neste ano que fiquei sem estudar, refleti muito. E quase me
convenço que o meu segundo grau seria Administração. Podia trabalhar em Banco, é
muito bonito, pensava eu. Contudo, não era gosto de minha mãe.
No ano seguinte, fui fazer minha inscrição para a prova de seleção, logo
pensei no sonho de minha mãe. Não tive dúvida, preenchi a ficha e marquei um X no
campo “Magistério” . Lá estava eu concorrendo a uma vaga de professora. Passei! foi
uma festa.
A minha primeira aula foi de Português. No momento em que a professora
encheu o quadro de período simples para fazermos análise morfossintática. Eu pensei,
de novo? Mas logo a professora disse que estudar a gramática propiciava ao aluno
condições de usar a língua adequadamente, aprendia a falar, e escrever bem. Fiquei
contente, afinal quem não quer saber se expressar e escrever bem? Todavia, eu aprendia
a identificar todos os conectores nas orações coordenadas e subordinadas, mas não
sabia fazer uma frase empregando um deles. Chegamos ao final do ano e continuávamos
fazendo aquela matemática de análise de cada um dos termos da oração que não podia
sobrar nenhum, senão tinha algo errado. Novamente tal prática começava a me dixar
triste, pois o que eu esperava era que essas aulas de gramática como a professora falou,
nos desse condições de fato de usar a língua materna em todas as situações de
interação comunicativa com segurança lingüística para não nos sentirmos
discriminados por uma variante lingüística. Entretanto, com esse tipo de aula, esse ideal
estaria longe de concretizar, pois como poderíamos aprender a escrever se nós não
escrevíamos?
Bem, ser professor, tornou para mim um desafio. Eu não podia reproduzir
aqueles modelos que me inquietava. Passei a me questionar: "como posso ensinar de
uma forma mais significativa?" Pois naqueles moldes eu não via progresso. O que eu via
era o meu aluno entrar e sair praticamente com as mesmas deficiências de leitura e
escrita. Não era isto que eu queria. Eu precisava me tornar uma educadora crítica e
reflexiva, e ser crítica no contexto da Lingüística Aplicada não se trata de se limitar a
escolher o que é útil e descartar aquilo que não interessa aos fins práticos. Trata-se,
antes de mais nada, de questionar a própria validade da teorização feita in vitro e da sua
aplicação automática no mundo da prática. Resumindo o pensamento de Paulo Freire,
Henry Giroux (1996:570) diz o seguinte:
Na cidade que morava, Educação Física era a única opção para quem
quisesse ter um curso superior. Fiz o vestibular e passei, ingressei no Curso de
Graduação em Educação Física da Universidade do Estado do Pará – UEPA. (sistema
modular). Mesmo cursando Educação Física, as atividades por mim desenvolvidas
sempre estiveram voltadas para a área da Linguagem, com a qual sempre mantive
grande identificação, pois já considerava a Língua instrumento capaz de veicular o
pensamento, possibilitar a conscientização e permitir ao homem a liberação de todo o
seu potencial de criação.
Hoje me sinto mais segura para trabalhar a leitura de uma forma crítica
considerando as variações de significados das palavras, a polissemia e a
plurassignificação literária; assim como também os implícitos e subentendidos a que
devemos estar atentos para objetivar que o aluno aprenda a ler além da escrita e dos
significados mais superficiais. É claro que ainda tenho muito a aprender. Mas hoje
consigo ver com maior aptidão a importância do texto como unidade de
ensino/aprendizagem e procuro levar para minha prática não só os textos didáticos, mas
também materiais ditos “não-escolares”: revistas, gibis, folhetos de venda, propagandas
etc., uma vez que, esses textos circulam socialmente e fazem parte da vida dos alunos.
Compreendi que trabalhar os gêneros ditos não-escolares é um dos caminhos para
conhecermos um pouco mais sobre os jovens e suas experiências no mundo de hoje, e
tornar as aulas de leitura mais interessantes”.
Posso dizer que este mestrado, para mim, foi enriquecedor. O contato com a
Lingüística Aplicada, levou-me a valorizar mais o trabalho com o texto e com as diversas
variedades lingüísticas, tornando o estudo gramatical uma prática textual-discursiva
para facilitar a compreensão e a utilização adequada da língua.