N°39

Guarde “Guarde o precioso de

pósito,
a Fé!
pela virtude do Espírito
Santo” [II Tim I, 14]

Boletim da Fraternidade Sacerdotal São Pio X - Brasil

Formação, Informações, e Notícias da Tradição Católica
nome e de todos nós uma comovente
Apostolado carta de agradecimento que foi
em tempo de crise publicada no site oficial da
Fraternidade na França (site ‘la porte
Prezados amigos leitores. Vários se latine’). Mas se podemos assim ter
lembrarão, com esta revista, dos as bases seguras para começar e
antigos números do Guarde a Fé. avançar nestas obras, não
Pois a Providência me leva a fazê-la poderemos contar só com os outros!
agora de novo. Curiosamente, pelo O que vai se desenvolver agora em
segundo ano consecutivo, o nosso São Paulo é a vida de um priorado
responsável técnico da revista entra com todas as suas necessidades
no seminário. Um fim bonito com anexas, obras de reformas
certeza! importantes na rua Klabin, e a
Esse ano de 2008 é bem feliz. Ô, sem necessidade de pagar um aluguel
dúvida, não faltariam os motivos para mensal para a casa que ocuparemos
se lamentar ou até para chorar, mas durante todo o tempo das obras.
Nosso Senhor também é o Deus das Como podem entender facilmente, as
consolações verdadeiras. A primeira exigências econômicas se fazem
delas é ver a abertura do ‘Priorado importantes. Confiemos então nos
Padre Anchieta’ em São Paulo, com múltiplos e constantes esforços de
a presença de dois padres fixos: o cada um para a boa realização
padre Joel Danjou e o padre desses projetos.
Alejandro Rivero. Já posso Outro motivo de alegria para todos
testemunhar o bem que sinto em estar nós são as vocações. Graças a Deus,
“livre” das constantes viagens entre seis moços ouviram este ano o
Santa Maria (RS) e São Paulo via chamamento de Cristo Rei. Um deles
Porto Alegre, ida e volta. Mas, muito vai para o seminário com a vontade
além disso, poderemos, sobretudo, de ser irmão da Fraternidade, uma
começar um apostolado mais estável vocação religiosa! É realmente uma
e contínuo.
consolação ver Deus solicitar todo
Desde logo teremos também as obras tipo de vocações. A Igreja desde
no priorado, provavelmente a partir logo precisa de sacerdotes, de
de abril. Como tal vez saibam, pregadores da Verdade, de homens
mediante os nossos anúncios ou pela escolhidos para preparar os católicos
internet, a generosidade dos fiéis da a receber frutuosamente os bens
França e da Suíça foi solicitada pelo espirituais, de homens cujos poderes
Superior Geral da Fraternidade os tornam capazes de constituir os
Sacerdotal São Pio X. E realmente sacramentos da salvação. Mas a
eles foram bem generosos. O padre Igreja precisa também, e muito, de
Christian Bouchacourt, enquanto vocações religiosas, de almas
Superior do Distrito, enviou em seu inteiramente consagradas e
Bimestral- Editor responsável:Pe.J.Danjou - Priorado doPadreAnchieta- RuaMaurícioFr.Klabin, 223- CEP 04120-020-VilaMariana-SP
Janeiro - Fevereiro de 2008 R$ 2,00
oferecidas a Deus pelos três votos
de pobreza, de castidade e de
obediência. Convém sobremaneira
que Deus seja louvado pela
consagração total de muitas almas
religiosas. Deus deve ser honrado e
louvado! E Deus chama essas almas,
verdadeiramente privilegiadas de seu
Amor infinito. Pelas suas orações e
consagração a Deus, essas almas
obtêm chuvas de misericórdias
celestes para todos nós. E, graças a
Deus, a Tradição católica no Brasil
conta já com obras religiosas e
vocações femininas, e estão
aumentando também. Que todos
rezem para as vocações e para a
perseverança das vocações.
Que os santos dias da Paixão nos
preparem, na oração e no espírito
de penitência e de mortificação, à
gloriosa festa de Páscoa.
Padre Joel Danjou, prior.
Índice
- Editorial...............................p.1
- Santo Eusébio......................p.2
- A nova missa.......................p.6
- A revolução sacramental......p. 11
- O futuro priorado de SP........p.13
- O silêncio de Vaticano II......p.14
2 Guarde a Fé!
SANTO EUSÉBIO
Bispo de Samosata e mártir
380: Papa: São Dâmaso - Imperador romano: Teodósio I
Persecutio non ad negationem credentium, sed ad
probationem pertinet et coronam.
A perseguição não é para a negação dos que crêem,
mas ela é para a prova e para a coroa.
S. Jerônimo, livro V sobre Isaías
Santo Eusébio, um dos mais santos prelados e dos
principais defensores da verdade ortodoxa sob o tempo
dos príncipes arianos, nasceu em Samosata, cidade da
Síria, junto ao rio Eufrates, do lado da Armênia; ele foi
feito bispo no tempo do imperador Constâncio (361).
Ele assistiu no mesmo ano a um concílio tido na cidade
de Antioquia por ordem do imperador, protetor declarado
dos arianos. Este concílio estava principalmente composto
de prelados heréticos. Os prelados católicos, entre os
quais estava Eusébio de Samosata, pediram, antes de
todas as coisas, que se desse à igreja de Antioquia, viúva
de seu chefe depois da morte de são Eustátio e do exílio
de Anieno, um pastor que pudesse ordenar a fé. A escolha
recai sobre Melécio, até então bispo de Sebaste, que
estivera anteriormente desterrado em Beréia na Síria. Os
arianos acreditavam que ele lhes seria favorável; mas os
católicos, com santo Eusébio à cabeça, concorreram com
ardor à sua eleição, porque eles conheciam a sua sincera
adesão à fé ortodoxa.
Os próprios arianos tinham uma alta idéia da virtude
de santo Eusébio; e ainda que o vissem como um inimigo
irreconciliável da sua seita, eles atestavam publicamente
a sua honradez; e isso foi o que os determinou a colocar
em suas mãos a ata de eleição de são Melécio.
Alguns dias depois, quando Melécio no seu
primeiro discurso feito ao povo diante do imperador se
declara abertamente pela verdade católica, os arianos,
que não o esperavam de sua parte, se puseram muito
irritados e se decidiram desde então a matá-lo. Eusébio,
no entanto, vendo o que ocorria, se retira à sua igreja em
Samosata, e leva consigo a ata que lhe haviam confiado.
Os arianos temendo, com razão, este testemunho
autêntico da sua má fé, persuadiram o imperador a exigi-
lo de volta. santo Eusébio se recusasse a entregá-la, tinha
dado ordem ao portador de lhe cortar a mão direita.
Eusébio, tendo lido a carta sem temor, apresenta suas
duas mãos ao mensageiro, dizendo que poderia cortá-
las, mas que não devolveria jamais esta ata, pois era uma
prova manifesta da impiedade dos arianos. Tal firmeza
desconcerta o oficial e o imperador; ambos admiram a
coragem heróica do santo bispo, e não podem deixar de
louvar uma firmeza que, por outro lado, fazia fracassar
os seus projetos.
Eusébio não temeu de se encontrar entre os
concílios e as reuniões dos arianos, com o propósito de
defender o partido da verdade; mas após ter sabido que
algumas pessoas se escandalizavam de tal conduta, ele
rompe todo contato com os hereges, e não quer mais
assistir as suas deliberações, após o concílio que se teve
em Antioquia por ordem de São Melécio, depois do
retorno do seu segundo exílio, em 363, sob o reinado do
imperador Joviano. Nesse concílio, santo Eusébio assina,
com muitos outros bispos, o símbolo de Nicéia, à
continuação de uma carta sinodal dirigida de parte dos
bispos ao imperador Joviano.
A sede episcopal da cidade de Cesaréia na
Capadócia veio a estar vacante por volta do ano 370,
São Gregório, bispo de Nazianzo, temendo que os arianos
tomassem a ocasião para espalhar o seu veneno, fez rogar
ao nosso santo para que viesse ajudá-lo a dar a esta igreja
vacante um pastor capaz de bem governá-la. Eusébio,
que em tudo o que procurava a glória de Deus e o serviço
da Igreja não limitava o seu zelo à sua diocese, nem à sua
província, vem de Samosata a Cesaréia. A sua presença
causou uma grande alegria entre os prelados ali reunidos,
que tanto o amavam, e aos fiéis desta cidade. De acordo
com São Gregório de Nazianzo e vários outros bispos,
ele escolhe são Basílio por bispo de Cesaréia. Esta eleição
foi considerada como um presente do céu feito tanto para
toda a Igreja, tanto como àquela de Cesaréia em
particular.
São Basílio, após a sua eleição, se liga com santo
Eusébio de uma amizade ainda mais estreita que antes, e
tem o cuidado de mantê-la por uma troca de cartas. Ele
irá visitá-lo em Samosata, e não foram senão a sua má
saúde e as suas grandes ocupações que o impediram de
reiterar com freqüência esta longa viagem. Santo Eusébio,
de sua parte, veio ainda outra vez a Cesaréia, e se ocupou
de dirigir-se a diversos lugares de encontro que lhe
marcava são Basílio, que parecia encontrar toda a sua
 N°39 - Janeiro - Fevereiro de 2008
consolação com a sua vista, ao ouvi-lo e ao seguir os
seus conselhos.
As virtudes de Santo Eusébio lançavam uma tão
grande resplendor, o seu zelo era tão puro e tão ativo,
que os antigos lhe teceram os mais belos elogios. São
julho de 2005
Gregório de Nazianzo diz, falando dele em uma das suas
cartas, que era uma coluna da verdade, a luz do mundo,
o instrumento que Deus se serviu para comunicar os seus
favores ao seu povo, o sustento e a glória dos ortodoxos.
A guerra que os arianos faziam à Igreja, assistidos
com todo o poder do imperador Valente, que se havia
devotado à sua seita, obrigava santo Eusébio a vigiar
incessantemente, e a manter-se como uma sentinela
primorosa no campo do Senhor, para impedir as surpresas
e os progressos dos inimigos. Ele lhes era motivo de medo
pelo seu zelo e pela sua coragem intrépida; mas esse zelo
e essa coragem eram conduzidos por uma sabedoria
admirável que era ordinariamente seguida do êxito de tudo
aquilo que ele empreendia, tanto nas agitações e nas
tempestades da igreja, como na calma e na tranqüilidade
pública.
Ele não se contentava de manter o seu rebanho ao
resguardo de todo insulto e de manter a pureza da fé
entre os povos da sua cidade e da sua diocese contra
todos os esforços dos hereges que buscavam corrompê-
la. Posto que ele sabia que a maior parte das igrejas
estavam destituídas de pastores por causa da
perseguição, ele percorria a Síria, a Fenícia e a Palestina
disfarçado de soldado. Nesse estado, ele ia levar aos
católicos os socorros que tinham necessidade e fortalecê-
los contra as solicitações dos hereges. Ele ordenava
sacerdotes, diáconos e outros clérigos na medida em que
as igrejas necessitavam; e quando ele encontrava bispos
católicos, ele se unia a esses prelados para ordenar a
outros bispos. Ele pôde se esconder tão bem dos arianos,
que eles não conseguiram descobrir até o final a mão que
lhes dava duros golpes, e que cada dia fazia novos danos
à sua seita. Eles influenciaram o imperador a vingá-los, e
obtiveram que Eusébio fosse afastado da sua sede e do
seu país, e que ele fosse enviado em exílio para a Trácia.
O oficial mensageiro da ordem do rei chega à noite
a Samosata; em seguida ele comunica ao bispo da tarefa
que lhe tinha sido confiada: “Guardai-vos”, lhe diz santo
Eusébio, “de não divulgar o assunto que vos traz aqui;
sois o mais interessado nisso. Se o povo vier a saber o
que está acontecendo, ele certamente tomará as armas
contra vós. Não quero que lhe custe a vida por causa de
3
mim”. O santo assiste, como de costume, ao ofício da
noite; depois, quando todos se retiram, ele sai com um
servo fiel, se embarca sobre o Eufrates, que banha as
muralhas da cidade, e é conduzido a Zeugma, que estava
longe de Samosata.
No dia seguinte pela manhã, a notícia da sua partida
causa grande rumor entre o povo. O Eufrates rapidamente
se cobre de barcos, tão viva era a solicitude que os fiéis
tinham de encontrar o seu pastor. Tendo o encontrado
em Zeugma, eles o conjuraram a não abandonar o seu
rebanho ao furor dos lobos; mas ele os exortava a pôr a
sua confiança em Deus, após lhes ter mostrado que devia
obedecer às ordens do imperador. Oferecem-lhe dinheiro,
servos e todas as coisas que poderiam ser necessárias,
mas ele não aceita quase nada. Ele recomenda então o
seu querido rebanho ao Senhor, e se põe em caminho
para a Trácia.
Eusébio passa pela Capadócia, acompanhado do
sacerdote Antíoco, seu sobrinho. São Gregório de
Nazianzo, não podendo vê-lo na sua passagem por causa
de uma grave doença que o retinha no leito, supre esta
falta com uma carta ao seu santo confessor, na qual ele
atribuiu aos seus pecados o fato de ter sido privado desta
consolação. São Gregório lhe testemunha que vê-lo
combater tão generosamente pela fé do evangelho e
adquirir tanto crédito pela grandeza da sua coragem e
pela sua paciência nas tribulações, o considerava como
um ilustre mártir de Jesus Cristo, e que nesta qualidade
se recomendaria às suas orações, cheio de confiança na
sua intercessão.
Assim que santo Eusébio chegou a Trácia, ele
escreveu a são Gregório para comunicar notícias. Escreve
também a são Basílio e encarrega um oficial para que vá
a Capadócia, informá-lo do lugar e do estado em que se
encontrava. São Basílio teve uma alegria notável ao
receber a carta; e sabendo que um discípulo de santo
Eusébio chamado Eupraxo ia encontrá-lo, entrega-lhe
uma carta cheia de louvores e de felicitações pela coroa
que a glória do exílio lhe preparava. São Basílio recebe
ainda outras cartas de Santo Eusébio durante este exílio
e lhe escreve também várias outras.
Os arianos, que tinham comprometido Valente a
expulsar Santo Eusébio, não deixaram escapar a ocasião
de pôr sobre a sua sede de Samosata um homem da sua
seita. A escolha caiu sobre um homem chamado Eunômio,
que não deve ser confundido com o famoso heresiarca
desse nome, contra o qual São Basílio e o seu irmão são
Gregório de Nissa escreveram. Era um homem
extremamente manso e muito moderado, sem as
4 Guarde a Fé!
condições de manter essa usurpação, o que levou São
Basílio a dizer que Deus tinha moderado a perseguição
da igreja de Samosata, permitindo que não se opusessem
senão inimigos frágeis e fáceis de vencer. Por isso, não se
encontrava nada de mais florescente que esta igreja, na
qual se viam a fé católica e a piedade cristã. Este era o
fruto dos longos trabalhos de Santo Eusébio, seu bispo:
e esta igreja, na tempestade que a separava apesar de
tudo de um tão excelente pastor, adquiriu uma glória toda
particular pela união de todos os seus membros em um
só corpo, que fazia julgar que não tinha senão um só
coração, e que estava animada e regida por um só espírito;
porque, ainda que os arianos tivessem posto um bispo
no lugar do nosso santo, ninguém, de qualquer condição
que fosse, queria se encontrar com ele para ter cerimônias
eclesiásticas. Vendo que todos fugiam dele e que se
evitava até mesmo de encontrá-lo em qualquer parte, ele
abandonou seu lugar e deixou a cidade.
Os fiéis de Samosata, que estavam tão bem
fortalecidos contra os ataques dos inimigos de fora, se
encontraram em perigo de perder a paz e a união que
viviam sob a conduta de sacerdotes que os governavam
em nome e pelas luzes de Santo Eusébio. O espírito de
discórdia semeou entre eles desconfianças e motivos de
divisão, que causaram algumas perturbações nesta igreja,
sobretudo entre o clero. Santo Eusébio recebeu esta
notícia com dor. Ele escreveu logo ao seu povo: e talvez
isso foi o que o faz devolver a Samosata o seu sobrinho
Antíoco, para remediar rapidamente o mal, preferindo
antes se privar do seu socorro e da sua consolação, do
que deixar de assistir com todo seu poder uma igreja que
ele não podia esquecer, nem negligenciar pelo seu
afastamento. São Basílio, por sua parte, tendo recebido
notícias dessa desagradável divisão desde o seu início
pelas informações que lhe entregara Theodoro, diácono
de Samosata, concebe um extremo descontentamento,
pois a consideração de santo Eusébio lhe fazia amar esta
igreja como sua própria. Temendo que essa faísca pudesse
causar um perigoso incêndio, logo ele escreveu a alguns
do clero para conjurá-los a que a apagassem
imediatamente, e para levar os insatisfeitos a que se
perdoassem uns aos outros, sem entrar em explicações e
sem dar-se o trabalho de se justificar. Esta carta que ele
lhes enviou com uma de santo Eusébio sobre o mesmo
tema, era muito forte e insistente para exortá-los a não
empanar a glória da sua igreja e para que se reunissem
contra o inimigo comum da fé, que se ocupava sempre
de fazê-los perder por meio de novos esforços.
Os arianos, vendo que Eunômio tinha abandonado
a sede de Samosata, enviaram ao seu lugar um homem
chamado Lúcio, violento e ousado, que se tornou ainda
mais odioso que o seu predecessor. Ele mandou ao
desterro os principais do clero, entre outros Evolco,
diácono de santo Eusébio, que foi exilado a um deserto
do Oásis, do outro lado do Egito, e o sacerdote Antíoco,
seu sobrinho, que foi relegado aos confins da Armênia.
São Basílio, tão afastado que se encontrava, não
podia abandonar esta igreja afligida, e ele continuou com
os seus cuidados e com os seus afetos por ela até a morte.
Ele não se contenta com devolver os bons ofícios de santo
Eusébio, mas se ocupa ainda em servi-lo por toda a terra,
principalmente pelos bons testemunhos dados da pureza
de sua fé. Tendo sido acusado Santo Eusébio de
arianismo, assim como São Melécio, em uma conferência
que Dorotéia deu em Roma com Pedro de Alexandria
em presença do papa Dâmaso, São Basílio reprova
duramente a Pedro de Alexandria, assegurando que não
havia nada de mais forte em favor da verdade que estes
dois santos não tivessem dito altamente e com uma inteira
liberdade; ao que ele acrescentava que, mesmo se ele
não tivesse dado outra prova de sua fé, o que eles tinham
sofrido da parte dos arianos era em si uma prova pública
e bastante reluzente da sua ortodoxia.
As devastações que os Godos acabavam de fazer
na Trácia não fizeram senão aumentar os sofrimentos que
santo Eusébio padecia neste lugar de exílio. Ele correu
muitos perigos; mas Deus o livrou de todos aos que ele
se encontrava exposto, por meio de efeitos palpáveis da
sua proteção particular. É o que ele mesmo fez saber a
São Basílio, por meio do diácono Libânio. E esse santo,
após ter dado graças a Deus, escreve a santo Eusébio
por meio do sacerdote Paulo, para lhe pedir que lhe dera
um conhecimento exato do tudo o que lhe tinha
acontecido.
Durante estes acontecimentos, tendo Graciano se
tornado o senhor do império após a morte de Valente,
ele chama de volta todos aqueles que o príncipe tinha
exilado pela fé. Santo Eusébio, tão logo restabelecido na
sua sede, recomeça as suas viagens para dar bons pastores
aos fiéis abandonados. O seu exílio parece ter dado ao
seu zelo um novo grau de força e de atividade. Pelos
seus cuidados, as cidades da Beréia, de Hierápolis, de
Calcida e de Cyr tiveram bispos católicos. Ele assiste no
concílio de Antioquia, em 379, no qual seu nome é o
primeiro marcado depois de são Melécio. No mesmo
 N°39 - Janeiro - Fevereiro de 2008 5

ano, ao acompanhar Maris, que tinha tomado possessão
da sede de Dolica, pequena cidade de Comagena, então
infectada de arianismo, uma mulher herege, tendo-o visto
passar na rua, quebra lhe a cabeça com uma telha que
ela lança de cima do teto da sua casa. Ele morre alguns
dias depois em razão dos ferimentos que recebe. Vendo-
se próximo a expirar, e prevendo que não se poderia
deixar impune o atentado do qual tinha sido vítima, ele
faz prometer por juramento àqueles que o assistiam na
morte de não perseguir em justiça a mulher que o tinha
ferido, para imitar, em tanto quanto fosse possível, ao
seu Senhor, que rezou sobre a Cruz por aqueles que o
tinham crucificado, dizendo: “Pai, perdoai-os, pois não
sabem o que fazem”; e santo Estevão, servo de Jesus
Cristo como ele, que, oprimido pelas pedras que lhe
atiravam, exclamou, com os olhos levantados ao céu:
“Senhor, não lhes imputeis este pecado”. Os oficiais de
justiça queriam nada menos que perseguir aqueles que
tinham tomado parte na sua morte; mas os católicos
obtiveram que eles não fossem punidos. “Tal foi”, diz
Teodoreto, “o fim da vida santa, de tantos combates e de
tão gloriosos trabalhos do grande Eusébio. Após ter
escapado do furor dos bárbaros na Trácia, ele não pode
escapar da crueldade dos hereges: mas a sua crueldade
não serviu senão para adquirir a coroa do martírio”.
A sua morte se data por volta do ano 380. Santo
Eusébio é honrado pelos gregos no dia 22 de junho, e no
dia 21 do mesmo mês pelos latinos.
Fonte: Les Bolandistes - Vida dos santos, Tomo VII - 1876

***

Consagração de um bispo nos primeiros tempos da Igreja

Segundo uma miniatura do século IX
6 Guarde a Fé !
A NOVA MISSA
Pelo cônego René Marie BERTHOD
AIgreja de Cristo foi instituída para uma dupla missão:
uma missão de fé e uma missão de evangelização dos
homens redimidos pelo sangue do Salvador. A Igreja deve
entregar aos homens a fé e a graça: a fé através de seu
ensinamento, a graça através dos sacramentos que lhe
confiou Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sua missão de fé consiste em transmitir aos homens a
Revelação, feita ao mundo por Deus, das realidades
espirituais e sobrenaturais, assim como sua conservação,
através do tempo e dos séculos, sem alterações. A Igreja
Católica é, antes de tudo, a fé que não muda; é como -
disse São Paulo - “A coluna de verdade”, a qual é sempre
fiel a si mesma e inflexível testemunha de Deus - atravessa
o tempo dentro de um mundo em perpétuas mudanças e
contradições.
Através dos séculos, a Igreja Católica ensina e defende
sua fé em nome de um só critério: “O que sempre acreditou
e ensinou”. Todas as heresias, contra as quais a Igreja
constantemente enfrentou, foram sempre julgadas e
reprovadas em nome da não conformidade com este
princípio. O primeiro princípio reflexo da hierarquia na
Igreja, e especialmente da romana, foi manter sem
mudanças a verdade recebida dos Apóstolos e do Senhor.
A doutrina do Santo Sacrifício da Missa pertence a este
tesouro de verdade da Igreja. E, se hoje em dia, nesta
matéria em particular, aparece uma espécie de ruptura
com o passado da Igreja, tal novidade deveria alertar
qualquer consciência católica, como nos tempos de
grandes heresias nos séculos passados, e provocar
universalmente uma confrontação com a fé da Igreja que
não muda.
O que é a Missa?
Desde logo, bem sabemos que a Missa antiga não nós foi
dada toda pronta. Ela conservou o essencial das
celebrações feitas pelos Apóstolos por ordem de Cristo;
e se foram aderindo novas orações, louvores e precisões,
para explicar melhor o mistério eucarístico e preservá-lo
das negações heréticas.
Assim, a Missa foi elaborada progressivamente, em torno
a um núcleo primitivo que nos legaram os Apóstolos,
testemunhas da instituição de Cristo. Como uma moldura
que sustenta uma pedra preciosa ou o tesouro confiado à
Igreja, a santa Missa foi pensada, ajustada, ornada como
uma música. O melhor foi escolhido, como na construção
de uma catedral. Explicitou com arte o que tinha de
implícito em seu mistério. Podemos dizer que, como a
semente de mostarda, lançou ramos, porém já estava tudo
contido na semente.
Esta progressiva elaboração ou explicação foi concluída,
quanto ao essencial, na época do Papa São Gregório, no
século VI. Só se acrescentou posteriormente alguns
complementos secundários. Este trabalho dos primeiros
séculos do cristianismo realizou assim uma obra de fé
para pôr ao alcance da inteligência humana, a instituição
de Cristo, na sua verdade reconhecida.
A Missa é, portanto, a explicitação do mistério eucarístico
e sua celebração.
A doutrina católica definida
Diante das negações de Lutero, o Concílio de Trento
reafirmou a doutrina intangível da Igreja Católica e a
definiu, quanto ao Santo Sacrifício da missa,
essencialmente nos três pontos de doutrina seguintes:
1. A presença de Cristo é real na Eucaristia.
2. A Missa é um verdadeiro sacrifício, é
substancialmente o sacrifício da cruz, renovado,
verdadeiro sacrifício propiciatório ou expiatório
em remissão dos pecados, e não unicamente
sacrifício de louvor ou de ação de graças.
3. O papel do sacerdote, no oferecimento do Santo
Sacrifício da Missa, é essencial e exclusivo: o
sacerdote, e só ele, recebeu, por meio do
sacramento da Ordem, o poder de consagrar o
Corpo e o Sangue de Cristo.
A Missa tradicional milenar, latina e romana, expressa
com suma claridade toda a densidade desta doutrina, sem
suprimir nada do mistério.
O que ocorre com a Missa nova?
Sabemos que a nova Missa foi imposta ao mundo católico
por necessidades ecumênicas porque era o maior
obstáculo à unidade com os reformados do século XVI.
 N°39 - Janeiro - Fevereiro de 2008
Em efeito, a Santa Missa tradicional afirma com precisão,
sem evasivas, a fé católica que negam os protestantes,
nos três pontos essenciais da doutrina da Missa, quais
são:
• A realidade da presença real.
• A realidade do sacrifício.
• A realidade do poder sacerdotal.
A nova Missa vai simplesmente abafar esta fé católica.
Assim, o novo rito introduzido, que se tornou indiferente
ao dogma, poderá acomodar-se com uma fé puramente
protestante, ou inclusive servir de ponto de encontro ao
mundo da unidade ecumênica para uma celebração única,
na qual os dogmas discutidos foram velados com
prudência, e só foram conservados os gestos, as
expressões e as atitudes que podem ser interpretadas
segundo a fé de cada um.
Pode-se negar a evidencia dos fatos?
As mudanças trazidas pela Missa nova correspondem
precisamente aos pontos de doutrina contestados por
Lutero.
A Missa nova e a Presença real
Na Missa nova, a presença real não tem mais o papel
central que a antiga liturgia eucarística evidenciava.
Foi eliminada qualquer referência, até mesma indireta, à
presença real.
Damo-nos conta com assombro que os gestos e sinais
com os quais se expressava de maneira espontânea a fé
na presença real foram abolidos ou gravemente alterados.
Mesmo as genuflexões - gestos expressivos da fé católica
- foram suprimidas como tais. Apesar de que, por
exceção, foi conservada a genuflexão depois da elevação.
Por desgraça, devemos observar que se perdeu o seu
significado exato de adoração à presença real.
Na Missa tradicional, depois das palavras da
consagração, o sacerdote faz imediatamente uma primeira
genuflexão, que significa - sem equívoco possível - que
Cristo se acha no altar, realmente presente, e isso é a
causa das próprias palavras da consagração pronunciadas
pelo sacerdote. Após a elevação, o sacerdote faz uma
segunda genuflexão: tem o mesmo sentido que a primeira
e justapõe uma insistência.
Na Missa nova se suprimiu a primeira genuflexão. Mas,
no entanto, se conservou a segunda. Essa é a armadilha
para gente mal informada das astúcias do modernismo:
com efeito, esta segunda genuflexão, isolada da primeira,
pode agora receber uma interpretação protestante.
7
Apesar de que a fé protestante não se acomoda com a
presença real física de Cristo na Eucaristia, reconhece,
porém, certa presença espiritual do Senhor devida à fé
dos crentes. Daí, pois, na nova Missa, o celebrante não
adora em seguida a Hóstia que acaba de consagrar, mas
em primeiro lugar eleva-a e a apresenta à assembléia dos
fiéis, a qual engaja sua fé em Cristo, e esta fé o faz presente
de maneira espiritual. Logo, se ajoelha e se adora, o que
pode ser feito num sentido inteiramente protestante de
uma presença exclusivamente espiritual.
O rito exterior pode assim acomodar-se com uma fé
exclusivamente subjetiva, e inclusive com a negação do
dogma da Presença real. A genuflexão mantida depois
da elevação da Hóstia e do cálice pode agora ser
interpretada do modo protestante. Tem agora uma
significação que pode adaptar-se à fé de cada um e, por
isso, é equívoca. Tal rito não segue sendo a expressão
clara da fé católica.
Outras alterações do rito tradicional – mesmo quando
são menos graves que as que tocam o coração da Missa
- levam todas, porém, a uma diminuição do respeito
devido à Sagrada Presença. Nesta ordem, devem ser
mencionadas as seguintes supressões, que, isoladas,
poderiam parecer menores, contudo, consideradas no seu
conjunto, indicam-nos o espírito que prevaleceu nas
reformas. Suprimiram-se:
• A purificação dos dedos do sacerdote sobre o
cálice e no cálice.
• A obrigação para o sacerdote de manter juntos
os dedos que tocaram a hóstia depois da
Consagração, para evitar qualquer contato
profano.
• A pália que protege o cálice.
• O dourado obrigatório do interior dos vasos
sagrados.
• A consagração do altar, se for fixo.
• A pedra sagrada e as relíquias postas no altar, se
for móvel.
• As toalhas para o altar, cuja quantidade foi
reduzida de três para uma.
8 Guarde a Fé !
• As prescrições para o caso de uma Hóstia
consagrada que cai ao solo.
A estas supressões, que representam uma diminuição do
respeito que se deve à presença real, é importante
acrescentar as atitudes que se inclinam no mesmo sentido
e que foram quase impostas aos fieis:
• A comunhão de pé e quase sempre na mão.
• A ação de graças que - muito curta – se convida
a fazer sentado.
• A posição de pé depois da consagração.
Todas essas alterações, agravadas pelo afastamento do
sacrário, muitas vezes relegado para um canto do
presbitério, convergem na mesma orientação que consiste
em manter em silêncio o dogma da presença real. Estas
observações se aplicam ao novo Ordo Missae, seja qual
for o cânon que se escolha, inclusive se a nova Missa se
disser com o ‘cânon romano’.
A Missa nova e o Sacrifício Eucarístico
Além do dogma da presença real, o Concílio de Trento
definiu a realidade do sacrifício da Missa, que é a
renovação do sacrifício do calvário e que nos aplica os
seus frutos de salvação para a remissão dos pecados e
nossa reconciliação com Deus.
Assim, a Missa é um sacrifício. Também é uma comunhão,
porém uma comunhão ao sacrifício previamente
celebrado: um convite, no qual se come a vítima imolada
do sacrifício. Então, a Missa é, em primeiro lugar, um
sacrifício e, em segundo lugar, uma comunhão ou comida.
Pois bem, toda a estrutura da nova Missa acentua o
aspecto da celebração como comida, em prejuízo do
aspecto sacrifical. Isso vai, portanto, mais gravemente
no sentido da heresia protestante.
A substituição do altar do sacrifício pela mesa voltada
para os fiéis testemunha, por si só, toda uma nova
orientação. Pois, se a Missa é uma simples comida, é
conforme os costumes reunir-se ao redor de uma mesa,
e não interessa para nada um altar erigido frente à cruz
do Calvário.
Assim também, a “Liturgia da Palavra” (que nos convidam
também a chamar de “mesa da palavra”) foi desenvolvida
ao ponto de ocupar a maior parte do espaço-tempo da
nova celebração e diminui, portanto, na mesma
proporção, a atenção devida ao mistério eucarístico e ao
seu sacrifício.
Essencialmente, cabe destacar a supressão do Ofertório
da vítima do sacrifício e sua substituição pela oferenda
dos dons. Esta substituição torna-se propriamente
grotesca e até parece caricatura, pois significa a oferenda
de um pouco de pão e de algumas gotas de vinho, fruto
da terra e do trabalho dos homens, que nos atrevemos a
apresentar a Deus soberano. Até mesmo os pagãos
faziam muito melhor, já que não ofereciam para a
divindade migalhas de pão, senão algo mais substancial:
um touro ou outro animal, cuja imolação era para eles um
verdadeiro sacrifício. Lutero se sublevou de modo patente
contra a presença do Ofertório do sacrifício na Missa
católica. Não tinha se equivocado em sua perspectiva
negadora: só a presença da oferenda da vítima já é a
incontestável afirmação de que se trata realmente de um
sacrifício, e de um sacrifício expiatório para a remissão
dos pecados. O Ofertório da Missa católica era, então,
um obstáculo para o ecumenismo. Não duvidaram em
caricaturá-lo e aí também agir violentamente contra a fé
católica. O antigo Ofertório precisava a oblação do próprio
sacrifício de Cristo:
“Recebei, Pai santo... esta hóstia imaculada”...(hanc
immaculátam hóstiam)
“Nós Vos oferecemos, Senhor, o cálice da
salvação”...(cálicem salutáris).
Não era nem o pão nem o vinho que se oferecia a Deus,
mas já a hóstia imaculada, o cálice da salvação, na
perspectiva da consagração que se fará a seguir. Alguns
liturgistas, preocupados demais com a letra do rito,
pretendiam que se tratava de uma antecipação. Estavam
muito equivocados. A intenção da Igreja, expressa através
do sacerdote, é efetivamente a de oferecer a própria vítima
do sacrifício (e de maneira nenhuma o pão e o vinho).
No sacrifício da missa, tudo se realiza no momento exato
da consagração, quando o sacerdote atua “in persona
Christi” e quando o pão e o vinho são transubstanciados
no corpo e no sangue de Cristo. Mas, posto que todas
as riquezas espirituais do mistério eucarístico não se
podem expressar ao mesmo tempo, a liturgia da Missa
as expõe a partir do Ofertório. Logo, não se trata de
antecipação, mas de perspectiva.
Na nova Missa, suprimiu-se então o Ofertório da vítima
do sacrifício, mas suprimiram-se igualmente os sinais da
 N°39 - Janeiro - Fevereiro de 2008
cruz sobre as oblatas, os quais eram uma constante
referência à cruz do Calvário.
Assim, de maneira convergente, a primeira realidade da
Missa, a renovação do sacrifício do Calvário, está
diminuída nas suas expressões concretas. E isso está
inclusive no centro da celebração. Com efeito, as palavras
da Consagração no rito inovador são pronunciadas pelo
sacerdote em um tom narrativo, como se fosse o relato
de um acontecimento passado, e não mais em tom
intimativo, como uma consagração feita no momento
presente e proferida em nome da pessoa em cujo nome
o sacerdote atua. E isso é muito grave. (Nota: Nosso
Senhor Jesus Cristo confere ao sacerdote o poder de
consagrar “na Pessoa de Cristo”. O sacerdote atua in
persona Christi, o sacerdote consagra na Pessoa de
Cristo).
Qual poderá ser, dentro desta nova perspectiva, a intenção
do celebrante? Intenção que, como recorda o Concílio
de Trento, é uma das condições para a validez da
celebração. Essa intenção já não é mais significada no
cerimonial do rito. O sacerdote que celebra pode, sem
dúvida alguma, supri-la por sua própria vontade e a Missa
poderá ser válida. Porém, o que acontecerá com os
sacerdotes inovadores, preocupados antes de tudo pela
ruptura com a antiga Tradição? Neste caso a dúvida se
torna legítima. E já em nada se poderá distinguir, segundo
as aparências e na sua estrutura geral, a nova Missa da
ceia protestante.
Dizem-nos que se conservou o Cânon romano. Nas
primeiras prescrições do novo rito se lê a possibilidade
que se dá ao celebrante de escolher este Cânon ao lado
de três outras Orações eucarísticas.
O que significa essa escolha?
O Cânon romano que se conserva já não é o antigo cânon.
De fato, foi mutilado de várias maneiras: foi mutilado no
próprio ato da consagração, como acabamos de ver; foi
mutilado pela supressão dos sinais de cruz repetidos; foi
mutilado ao suprimir as genuflexões, expressão da fé na
Presença real; e já não está mais pré-significado pelo
Ofertório do sacrifício.
Nas versões oficiais em língua vernácula, que são
praticamente as únicas usadas em geral, o Cânon foi
traduzido de maneira tendenciosa, fazendo desaparecer
ainda mais o rigor da expressão da fé católica.
9
Ademais, perdeu seu caráter próprio de “Cânon”, quer
dizer, de oração fixa, imutável, como a rocha mesma da
fé. Agora é inter-mutável: pode ser substituído, segundo
a preocupação ou crença de cada um, por outra oração
eucarística. Essa é, manifestamente, a suprema astúcia
do ecumenismo inovador.
Oficialmente, o celebrante pode escolher entre três novas
“Orações” (“Preces”) de substituição. Mas, de fato, fica
aberta a porta para qualquer inovação e hoje se tornou
impossível fazer a recensão de todas as orações
eucarísticas introduzidas e praticadas nas diversas
dioceses.
Não nós ocuparemos aqui dessas liturgias “selvagens”,
não oficiais, mas, contudo, originadas no mesmo vento
das reformas ou da revolução em todas as direções.
Agora, apenas apresentaremos uma breve análise das três
novas Orações eucarísticas, introduzidas com a nova
missa.
A 2ª Oração eucarística, apresentada como sendo o
“Cânon de São Hipólito”, mais antiga que o cânon
romano, é na realidade o cânon do anti-Papa Hipólito,
composto no momento da sua rebeldia, e antes de morrer
mártir, martírio que lhe valeu regressar à unidade da Igreja.
Este cânon provavelmente jamais se usou na Igreja
pontifical de Roma e só nos chegou através de algumas
reminiscências verbais reportadas pela recensão de
Hipólito. De nenhuma forma foi mantido pela Tradição
da Igreja. Neste cânon, extremamente breve, que contém
- além do relato da Santa Ceia - unicamente algumas
orações de santificação das oferendas, de ação de graças
e de salvação eterna, não se faz nenhuma menção do
sacrifício.
Na 3ª Oração eucarística, se menciona o sacrifício, porém
só no sentido explícito de sacrifício de ação de graças e
de louvor. Não se menciona em nada o sacrifício
expiatório renovado na realidade presente sacramental,
que obtém para nós a remissão dos pecados.
A 4ª Oração eucarística narra os benefícios da redenção
operada por Cristo. Mas aqui, de novo, o sacrifício
propiciatório – atualmente renovado – não é mais
explicitado.
Portanto, nos três novos textos propostos, a doutrina
católica do santo sacrifício da Missa, doutrina definida
10 Guarde a Fé!
no Concílio de Trento, foi de fato deixada na sombra, e,
ao não ser afirmada no ato da celebração da Missa, Já a presença de seis teólogos protestantes, bem
encontra-se de fato abandonada e acaba sendo negada habilitados para participar da elaboração dos novos
por preterição ou omissão. textos, foi uma presença significativa.

A nova Missa e o papel do sacerdote Então, esta missa ecumênica já não é mais a expressão
da fé católica. Na sua súplica ao Papa Paulo VI, os
A função exclusiva do sacerdote como instrumento de cardeais Ottaviani e Bacci não temeram fazer a seguinte
Cristo na oferta do sacrifício é um terceiro ponto de observação, da qual ninguém, até a data de hoje, pôde
doutrina católica definida pelo Concílio de Trento. Uma contestar o rigor: “O novo rito da Missa representa, seja
vez alterada a realidade do sacrifício, também a identidade no seu todo como nos seus detalhes, um impressionante
de quem oferece esse sacrifício sofrerá as conseqüências afastamento da teologia Católica da Santa Missa, tal qual
dessa alteração. E assim, logicamente, esse papel do essa foi formulada na sessão XXII do Concílio Tridentino”.
sacerdote na oferenda do sacrifício desaparece nas novas
celebrações. O sacerdote aparece como o presidente da
assembléia. (1) Max Thurian (da Comunidade de Taizé, um dos
seis pastores que participaram na redação do novo rito -
Os leigos invadem o santuário e se atribuem as funções La Croix, 30.5.1969): “Um dos frutos do Novus Ordo
clericais, as leituras, a distribuição da comunhão e, às será que talvez as comunidades não Católicas poderão
vezes, a pregação. Não nos deixemos surpreender se celebrar a santa ceia com as mesmas orações da Igreja
ainda foram mantidas certas denominações antigas; agora Católica. Teologicamente é possível.”
estão facilmente abertas a outro significado. Como já (2) Siegevalt (professor na Faculdade protestante de
temos observado, manteve-se a palavra “Ofertório”, Strasburgo - Le Monde, 22.11.1969): “Agora, na missa
porém não tem mais o sentido de oblação da vítima do renovada, não há nada que possa perturbar o cristão
sacrifício. Do mesmo modo, a palavra “sacrifício” está evangélico”
ocasionalmente conservada, mas não é mais http://www.capela.org.br/Missa/paroco2.htm
necessariamente no sentido do sacrifício re-atualizado do São Norberto
Salvador. Pode significar unicamente a ação de graças (1080 - 1134)
ou o louvor, segundo a fé do crente. Fundador da Ordem
Premonstratense.
Santa Bernadete
Conclusão Sua mão direita
segura o osténsario,
usado para a
Na conclusão desta breve análise dos novos ritos só Adoração do
podemos constatar, à luz dos fatos, que a nova Missa foi Santíssimo
em sua totalidade concebida e elaborada no sentido Sacramento.
ecumênico, que pode adaptar-se às diferentes crenças Enquanto na mão
das diversas igrejas. esquerda carrega o
báculo de arcebispo,
É o que os protestantes de Taizé (1) reconheceram de com que pisa na
imediato, declarando teologicamente possível que as cabeça do herege
Tanquelino, que
comunidades protestantes possam agora celebrar a Santa negava a Presença
Ceia com as mesmas orações que as da Igreja Católica. real de Cristo na
Na igreja protestante de Alsácia (2) (Nota: região da Eucaristia, e cuja
França vizinha da Alemanha), pronunciaram-se com a doutrina foi vencida
mesma opinião: “Agora não há nada na Missa renovada por São Norberto.
que possa realmente incomodar o cristão evangélico”. E Por isso São
em uma famosa revista protestante, podia-se ler: “Nas Norberto recebeu o
novas orações eucarísticas católicas foi abandonada a título de Apóstolo da
Santuário do Senhor Bom Jesus
Eucaristia.
falsa perspectiva de um sacrifício oferecido a Deus”. Pirapora - SP
 N°39 - Janeiro - Fevereiro de 2008
A REVOLUÇÃO
SACRAMENTAL
EM MARCHA
Em 20 de Julho de 2001, o Conselho Pontifício para
a Unidade dos Cristãos promulgava uma Nota de
orientações para a admissão à Eucaristia entre a
Igreja Caldeia e a Igreja Assíria do Oriente. Ora
bem, este texto, que não foi publicado em
L’Osservatore Romano até 26 de Outubro do mesmo
ano, não deixa de suscitar dois tipos de problemas
à consciência católica.
Padre François Knittel
Primeiro, apresenta um problema eclesiológico, já que
permite a intercomunhão entre a Igreja Caldeia [católica]
e a Igreja Assíria [cismática]. Depois, surge
manifestamente um problema sacramental, porque a Nota
admite a validez de uma anáfora1 sem as palavras da
consagração. Tratemos de examinar esta situação inédita
com uma visão católica.
O ESCÂNDALO DA INTERCOMUNHÃO
A Nota de 20 de Julho de 2001, na sua primeira parte,
descreve a situação dos fiéis destas duas Igrejas, pouco
numerosos e muito dispersos. Por isso, muitos fiéis
católicos caldeus não podem facilmente acercar-se de
um sacerdote do seu rito, e afastam-se dos sacramentos.
Depois, o documento invoca o movimento ecumênico,
que viu ultimamente uma aproximação entre a Igreja
Caldeia [católica] e a Igreja Assíria [cismática], mediante
várias declarações comuns (em 1994, 1996 e 1997).
Destes dois motivos, o pastoral e o ecumênico, saca-se
a justificação para que os fiéis católicos sejam autorizados
a receber a comunhão dos sacerdotes cismáticos.
Decerto, tal inovadora prática vale-se das disposições
do Código de Direito Canônico, de 1983, que estipula:
Em caso de necessidade, ou quando o aconselhe uma
verdadeira necessidade espiritual, e contanto que se
evite o perigo do erro ou do indiferentismo, é
permitido aos fiéis a quem resulte física ou moralmente
impossível acudir a um ministro católico, receber os
sacramentos da penitência, Eucaristia e unção dos
enfermos daqueles ministros não católicos, em cuja
11
Igreja são válidos estes sacramentos.2
Ora bem, estamos em presença de uma das revoluções
mais importantes do Código de Direito Canônico,
promulgado por João Paulo II em 1983. Com efeito, a
tradição da Igreja jamais permitiu a participação na
Eucaristia e receber a comunhão da mão de cismáticos.
O Código de Direito Canônico de 1917 ensinava que
não é lícito aos fiéis assistir ativamente, ou tomar
parte, de qualquer modo que seja, nas funções
sagradas dos acatólicos.3 Esta era a tradição jurídica
do ensinamento teológico, entre outros, de São Tomás
d’Aquino: «A segunda [significação do sacramento
da Eucaristia], a respeito do presente, é a unidade
eclesiástica, da qual, por ele, participam os homens.»4
Esta doutrina constante foi selada com o sangue dos
mártires: veja-se o exemplo de Santo Hermenegildo,
festejado em 13 de Abril, que foi martirizado por ter-se
negado a receber a sua Páscoa [Comunhão Pascal – NT]
das mãos de um bispo ariano enviado por seu pai.5
Nada mais lógico do que esta disciplina da Igreja,
fundamentada na sua doutrina, pois existe uma
contradição entre a recepção da comunhão da mão de
um cismático, separado da unidade da Igreja pelo seu
cisma, e a Comunhão do Corpo de Cristo que nos
comunica a caridade, fermento da unidade entre a Cabeça
e os membros do Corpo Místico. Daí, o escândalo
eclesiológico causado pela Nota em questão.
CONSAGRAÇÃO SEM PALAVRAS CONSA-
CRATÓRIAS
Mas as coisas vão bastante mais longe, pois, segundo
a Nota, existe «o problema da validez da Eucaristia
celebrada com a anáfora de Addaï e Mari, uma das
três anáforas tradicionalmente em uso ma Igreja
Assíria do Oriente.» Ora bem, «a anáfora de Addï e
Mari é singular, pelo fato de ser utilizada desde tempos
imemoriais sem as palavras da instituição».
Sendo as palavras da instituição eucarística algo
essencial para a Igreja Católica, fomentou-se um profundo
e largo estudo pluridisciplinar, que concluiu, apesar de
tudo, pela validade da Anáfora de Addaï e Mari.
Avançaram-se três argumentos, que vamos examinar
sucessivamente.
A antiguidade da anáfora
«Em primeiro lugar, a anáfora de Addaï e Mari é
uma das anáforas mais antigas e remonta ao início da
Igreja. Foi composta e utilizada com a clara intenção de
celebrar a Eucaristia em plena continuidade com a Última
Ceia e segundo a intenção da Igreja. A sua validez nunca
12 Guarde a Fé!
foi posta em causa de juízo oficialmente, nem no Oriente,
nem no Ocidente cristão.»
O argumento aqui apresentado é múltiplo: a antiguidade
do rito, a reta intenção na sua celebração, e o fato de a
sua validade nunca ter sido posta em causa de juízo.
Cabe aqui notar que nem todas as coisas antigas gozam
de origem apostólica e, ainda menos, que estão isentas
de toda a corrupção. Ora bem, neste caso, a mutilação é
patente: faltam as palavras da consagração. São muitas
as hipóteses explicativas (erro do copista, omissão das
palavras consacratórias em virtude da lei do arcano, teoria
oriental sobre a epiclesis, variante de uma Missa dos pré
santificados) e ocuparão muito tempo aos eruditos, mas
o fato é certo: falta o essencial.
O certo é que, quando os caldeus e os malabares, que
utilizam esta mesma anáfora, reintegraram a Igreja Católica,
exigiu-se-lhes juntar explicitamente ao seu Missal as
palavras da instituição.6 Não é esta uma retificação oficial?
Quanto à menção à vontade de celebrar a Eucaristia
segundo a intenção da Igreja, é colocar a primazia da
intenção subjetiva sobre a ordem objetiva dos fatos. Se
seguimos este caminho, também será válido batizar sem
pronunciar as palavras sacramentais, ou perdoar os
pecados sem dar a absolvição sacramental.
Os redatores da Nota terminam contradizendo a sua
própria argumentação, quando, no final da mesma,
acrescentam: «Quando os fiéis caldeus participam na
liturgia assíria da Sagrada Eucaristia, o ministro
assírio é vivamente convidado a introduzir as palavras
da instituição na anáfora de Addaï e Mari.» Se Jesus
Cristo está presente na anáfora de Addaï e Mari sem as
palavras da consagração, para quê convidar vivamente à
sua introdução? Ou esta junção é necessária para a
validade do rito e, então, não se pode permitir a comunhão
num rito habitualmente privado do essencial.
A Plenitude da Fé Eucarística da Igreja Assíria do
Oriente
«Em segundo lugar, a Igreja Católica reconhece
a Igreja Assíria do Oriente como autêntica Igreja particular
fundada sobre a fé ortodoxa e a sucessão apostólica. A
Igreja Assíria do Oriente conservou também a plenitude
da fé eucarística na presença de Nosso Senhor sob as
espécies do pão e do vinho, assim como no caráter
sacrificial da Eucaristia. Por isso, na Igreja Assíria do
Oriente, ainda que esta não esteja em plena comunhão
com a Igreja Católica, encontram-se verdadeiros
sacramentos – principalmente em virtude da sucessão
apostólica: o sacerdócio e a Eucaristia.»
Quantos termos ecumenicamente corretos, mas
doutrinalmente errôneos em tão poucas linhas: «Igreja
particular... fé ortodoxa... sucessão apostólica... plena
comunhão da Igreja»!... Mas, princípios doutrinais
errôneos, não podem conduzir a decisões práticas retas.
Permita-se-nos uma pergunta um tanto ingênua: como
podem os cismáticos ter «a plenitude da fé eucarística»,
quando não têm a fé católica acerca do pecado original,
da transubstanciação e do primado de jurisdição do Papa,
e lhes faltam dois dos sete sacramentos divinamente
instituídos (penitência e extrema-unção)? A fé é íntegra,
ou não existe: tudo o demais vem do maligno (Mat. 5,
37).
Enfim, supondo que existisse uma plenitude da fé
eucarística entre os assírios [cismáticos], como poderia
esta suprir a ausência das palavras da instituição, julgadas
sempre7 como necessárias para a validade do rito?
A Presença Disseminada das Palavras da
Instituição
«Finalmente, as palavras da instituição da
Eucaristia estão presentes na anáfora de Addaï e Mari,
não na forma de uma narração coerente e ad litteram,
mas de modo eucológico e disseminado, quer dizer, foram
integradas nas orações de ação de graças, de louvor e
de intercessão que seguem.»
Em 1439, o Concílio de Florença recordava aos
armênios a forma da Eucaristia nestes termos: «A forma
deste sacramento são as palavras com que o Salvador
consagrou este sacramento, pois o sacerdote consagra
este sacramento falando pela pessoa de Cristo. Porque,
em virtude das mesmas palavras, se convertem a
substância do pão no Corpo e a substância do vinho
no Sangue de Cristo...»8
Em 1551, o Concílio de Trento, na sua 13ª sessão,
confirmava este ensinamento: «... imediatamente depois
da consagração está o verdadeiro Corpo de Nosso
Senhor e o seu verdadeiro Sangue, juntamente com
sua Alma e divindade, sob a aparência do pão e do
vinho; certamente o Corpo, sob a aparência do pão,
e o Sangue, sob a aparência do vinho, em virtude das
palavras...»9 Ora bem, a leitura atenta do texto da
anáfora de Addaï e Mari, leva-nos a afirmar que as
palavras da instituição, tais como foram mencionadas por
esses dois concílios, não se encontram em nenhum lado.
E se aqui se trata de agradar aos Orientais, suprindo as
palavras literais da consagração por esta invocação ao
Espírito Santo que chamam epiclesis, o Magistério já deu
a sua sentença negativa a esse respeito, pela boca de
São Pio X: «mas nem sequer... fica intacta a doutrina
 N°39 - Janeiro - Fevereiro de 2008 13

católica sobre o Santíssimo Sacramento da Eucaristia,

ao ensinar-se audaciosamente poder-se aceitar a
sentença que defende que, entre os gregos, as palavras
da consagração não surtem efeito senão depois de
pronunciada a oração que chamam epiclesis, quando,
pelo contrário, é coisa averiguada que à Igreja não
lhe compete direito algum de inovar nada acerca da
substância mesma dos sacramentos...»10
NÃO SABEM O QUE FAZEM
Acabamos de pôr em evidência brevemente os dois
gravíssimos problemas de um documento recentemente
saído do Vaticano: um que respeita à relação íntima entre
a unidade da Igreja e a comunhão eucarística, o outro
concernente às condições essenciais de validez do
sacramento da Eucaristia.
Como pode ter sido aprovado semelhante documento,
não somente pelo Conselho para a Promoção da Unidade
dos Cristãos, mas também pela Congregação para a
Doutrina da Fé, pela Congregação para as Igrejas
Orientais, e até pelo próprio Papa [João Paulo II]?
Verdadeiramente, é o mistério da iniqüidade que está
operando e afeta o mais sagrado da nossa vida cristã:
Jesus Cristo, sacramentalmente presente, e a Igreja, Sua
Esposa e nossa Mãe.
Notas:
1. Anáfora, palavra grega que designa, nas liturgias
orientais, o que é o Cânone da Missa no rito latino.
2. Canon 844, § 2.
3. Canon 1258, § 1.
4. Suma Teológica, III, 73, 4, corpus.
5. Ver Martirológio Romano, 13 de Abril.
6. Estas palavras aparecem explicitamente no Missal
editado para os caldeus em Paris, em 1982, por Mons.
Francis Youssef Alichoran.
7. Bento XII aos armênios, em 1341:
«... Os armênios não dizem que, depois de pronunciadas
as palavras da consagração do pão e do vinho, se haja
efetuado a transubstanciação do pão e do vinho no
verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo...» Memorial Jam
dudum. Dz. 544, DS 1019).
8. Decreto para os armênios. Dz. 698, DS 1321.
9. Decreto sobre a Sagrada Eucaristia. Cap. 3. Dz. 876,
DS 1640.
10. Breve Ex quo nono, de 26 de Dezembro de 1910
(Dz. 2147 a. DS 3556). Ver também o Breve Adorabile
Eucharistiae, de Pio VII, de 8 de Maio de 1822 (DS
2718).

O futuro
A
priorado
natureza,
que
Se Deus Deus
da
quiser Fraternidade
criou,

e com Sacerdotal
atmbém
facilta
sua ajuda! o São Pio X
em São
equilíbrio
das
Paulo
crianças

Padre José de Anchieta, orai por nós!

Para ajudar as obras do priorado “Padre Anchieta”
Banco: UNIBANCO - Código SWIFT: UBBRBRSP
Agência: 0098 - Conta: 228977-9
Nome: Associação Religiosa e Cultural São Pio X
CNPJ: 09.385.198/0001-43
Fone: 11 / 3462 6223
Contato: fsspx_brasil@yahoo.com.br
“Os leigos têm direito de receber do clero, conforme
a disciplina eclesiástica, os bens espirituais e
especialmente os auxílios necessários para a
salvação.” Cânone 682 do Código de Direito
Canônico de 1917.
14 Guarde a Fé!
Intervenção de
D. Rusnack no Concílio
Vaticano II
Intervenção de Dom Michäel Rusnack,
Bispo titular de Zernique, auxiliar de
Toronto dos Ucranianos, na 137ª
Congregação Geral do Concílio Vaticano
II, em 28 de Setembro de 1965.
(Texto em latim nas Acta Synodalia, IV, II,
p. 639 a 642)
Já há quatro sessões que este Concílio Ecumênico
procura os meios de mostrar e pôr em evidência, aos
homens do nosso tempo, o sentido e o verdadeiro fim da
vida. Os nossos esforços atingem o ponto culminante no
esquema XIII.
Este esquema tem um título que nos impõe uma
grande responsabilidade perante Deus, perante os
homens e perante a história: Ecclesia in mundo hujus
temporis (A Igreja no Mundo de Hoje).
Qual é, então, o mundo de hoje, e qual é a posição da
Igreja no ambiente daquele?
Se olharmos para um mapa-mundo surge, à
primeira vista, metade do globo terrestre sob regime
comunista; ademais, nas nações situadas fora dessa zona,
são numerosas as imbuídas dos ideais do materialismo
dialético e histórico. O comunismo é, portanto, um
fenômeno tão vasto, que seria necessário falar dele, ainda
que não perseguisse a religião.
Mas, a bem dizer, a Igreja, no seu encargo de expor
a lei divina, encontra diariamente no comunismo os
maiores obstáculos. Em todas as nações em que os
comunistas detêm os poderes públicos, perseguem
abertamente não somente a Igreja Católica, mas também
toda a religião, entre o silêncio das organizações
internacionais que deveriam defender os direitos
fundamentais da pessoa humana, e também entre o
silêncio – que dor! – dos próprios cristãos que podem
falar e deveriam fazê-lo.
Então, como encara o esquema Ecclesia in mundo
hujus temporis a questão do comunismo? De que
maneira resolve as graves questões por ele levantadas?
Em poucas, muitas poucas linhas deste esquema, capítulo
Missa de Réquiem pelo Papa
I, nº 19 (...).
O problema do ateísmo no sistema marxista não é
um simples corolário da sua doutrina geral, mas penetra-
a completamente. Exige, assim, uma exposição mais
profunda e mesmo uma refutação. Por isso, a parte De
Atheismo deve ser muito mais longa e mais profunda.
Penso, também, que a redução de toda a problemática
do comunismo ao único problema do ateísmo, está
destinada a produzir uma desmobilização geral no mundo
inteiro. Quem nãoPevê que é anormal que a Igreja do século
Jahir
XX diga quase nada da «heresia do século XX»! Parece
impossível que a Igreja à qual pertence uma tão grande
“Família Beatae Mariae Virginis”
multidão de espíritos que se mostram confusos e hesitantes
perante a visão escatológica marxista se omita em propor
a luz da verdade.
Além disso seria cruel que o Concílio recuse
apresentar um auxílio aos seus irmãos oprimidos.
Esta assembléia não pode passar em silêncio a questão
do comunismo, senão será gravemente censurada perante
o tribunal da História. O Concílio pode e deve falar do
comunismo! A verdade exige-o, a caridade exige-o!
Primeiro, a verdade. Porque a visão comunista
do mundo e do homem não somente nega a existência de
Deus, mas propaga também no mundo inteiro, e por todos
os meios, outros erros opostos diretamente à verdade
revelada ou aos princípios da reta razão. A negação de
Deus e do espírito em geral, a negação dos primeiros
princípios da razão, as teorias da matéria, da natureza e
do fim do homem, da sociedade, da luta de classes, do
determinismo em História, do sistema salarial, são alguns
exemplos desta falaciosa doutrina. Com freqüência, basta
simplesmente o conhecimento e a exposição clara destas
teorias, para que o espírito humano seja desviado.
Todavia, será também necessária uma clara explicação
da doutrina da Igreja relativa a esses erros, bem como a
sua refutação serena e objetiva, sempre possível, mesmo
sem recurso a anátemas.
Mas a verdade e a clareza exigem, sobretudo, que o
mundo conheça a prática do comunismo. Esta prática,
quer o comunismo de hoje mantê-la em segredo. Que o
mundo inteiro saiba, então, que neste sistema a mentira é
lícita e meritória, se for útil a esta facção política. Que
todos os homens saibam que este sistema está fundado
sobre a opressão, não somente ideológica, mas também
prática, por todo um aparelho legislativo, judiciário,
administrativo, mediante oficiais de segurança pública ou
agentes secretos. Que o mundo conheça o sistema de
educação e do que se chama “propaganda”, aos quais
todos os cidadãos do Estado comunista são submetidos
desde a mais tenra infância até à velhice.
Também a caridade para com os nossos irmãos
que se encontra nas nações regidas pelos comunistas
 N°39 - Janeiro - Fevereiro de 2008
exige, acima de tudo, que nós conheçamos a verdade
sobre a situação da religião nessas mesmas nações, e
que a apresentemos à opinião pública do mundo inteiro,
sem exageros, mas sem reticências, sem ódio, mas
também sem temor.
Fala-vos alguém que pode apresentar, a partir da
sua própria experiência, exemplos dessa verdadeira
perseguição, porque ele mesmo e todos os membros
das congregações religiosas da Checoslováquia foram,
numa só noite (13 de Abril de 1950), enviados para
“campos de concentração”; dali, a divina Providência
permitiu-me partir para o Canadá.
- Todas as congregações religiosas da Checoslováquia
foram, então, de fato destruídas numa só noite, e ainda
hoje não são permitidas. Quem sabe disto no Ocidente?
- Do mesmo modo, os seminários foram reduzidos de
quinze a dois, com um numerus clausus de alunos.
- Somente quatro dioceses têm um bispo como pastor;
pelos menos oito bispos estão ainda impedidos de
exercer os deveres do seu cargo; quatro bispos
morreram na prisão ou em residência vigiada. Muitos
padres passam a sua vida exercendo um trabalho manual
forçado.
- Toda a diocese de Presov, na Eslováquia, de rito
bizantino-eslavo, que contava mais de 300.000 almas,
foi declarada inexistente durante o ano de 1950, por um
mero ato administrativo do governo, e é ainda
considerada assim (1). Proibiu-se aos seus fiéis a adesão
à Igreja católica, ou de receber sacramentos dos padres
da nossa Igreja. A maior parte dos padres desta diocese
escolheu exercer um duro trabalho manual.
Estes poucos exemplos, que revelam a verdadeira
natureza do sistema comunista, podem apresentar uma
pequena idéia da opressão e da perseguição a que foram
submetidos milhões de fiéis.
Dar a conhecer esta situação real, e não fictícia, a
todos os homens, é um verdadeiro ato de caridade.
Porque a opinião de todo o mundo católico, que esta
Assembléia representa, não menos que a de outros
homens livres, é, talvez, a única força moral que pode
induzir os dirigentes comunistas a absterem-se desta
indigna repressão, e a reconhecer aos cidadãos católicos
e a outros crentes os direitos fundamentais da pessoa
humana, de fato – e não somente nas palavras das
Constituições.
Por conseqüência, sobretudo em nome dos meus
irmãos que vivem na opressão, peço-vos instantemente,
Veneráveis Padres Conciliares, que este Sagrado
Sínodo, além de um parágrafo mais longo e mais pro-
fundo sobre o ateísmo, publique uma declaração espe-
cial tratando do comunismo teórico e prático nas suas
relações com a religião, ou então uma mensagem (2) con-
forme o modelo da que foi dirigida a todos os homens no
decurso da primeira sessão. Nesse documento solene de-
vem ser denunciados...» (3)
Nesse momento, o orador foi interrompido pelo modera-
dor que lhe diz: «Queira finalizar, porque o seu tempo está
esgotado.» (4)
O Orador: Conclusão: afirmo-vos uma vez mais, Venerá-
veis Padres, que é deste modo que devemos oferecer o
serviço da caridade aos nossos irmãos na fé, e também
aos comunistas, se é verdade que a clareza aproveita a
todo o diálogo.
Não temais que os nossos irmãos sofrendo perseguições
recebam prejuízo com uma tal declaração. Porque a ex-
periência ensina que os comunistas abandonam unicamente
as práticas prejudiciais do seu sistema quando, no mundo
inteiro, provocam os maiores protestos nascidos do es-
cândalo ou da paralisia. Da nossa declaração devemos,
assim, obter um efeito bom... Terminei.
(1) Sobre a supressão forçada da diocese católica de
rito oriental de Presov, na Eslováquia oriental, eis al-
guns pormenores:
A eparquia de Presov contava 305.000 fiéis quan-
do foi abolida em 28 de Abril de 1950, para ser incluída
pela força à Igreja ortodoxa, como tinham sido anterior-
mente, para serem ligadas às Igrejas ortodoxas corres-
pondentes, as diferentes Igrejas católicas de rito bizantino-
eslavo, estabelecidas nos países comunistas (na Ucrânia e
Romênia, principalmente). Neste 28 de Abril de 1950,
um pretenso “sínodo”, compreendendo padres e leigos
mas nenhum membro da hierarquia católica, decidiu a se-
paração da Igreja católica oriental com Roma, e procla-
mou a sua comunhão com a ortodoxia. Por ato governa-
mental, o Estado reconheceu esta decisão e, a partir des-
se momento, os católicos bizantinos, as suas igrejas, os
seus padres, e todos os bens eclesiásticos passaram
para a Igreja ortodoxa.
Em 1948, a Igreja ortodoxa só contava 350.000 fiéis na
Checoslováquia: compreende-se, assim, todo o interesse
material, para os ortodoxos locais, da supressão da
diocese de Presov. Mas os padres e fiéis católicos não se
deixaram intimidar e permaneceram, em sua grande maioria,
fiéis a Roma, o que levou as autoridades checoslovacas a
restabelecer a diocese de Presov em 13 de Junho de 1968,
por ocasião da “Primavera de Praga”.
16 Guarde a Fé!
Entre os padres a resistência foi forte: Em Novembro de
1954:
- 150 padres estavam na prisão, ou seja 50%;
- cerca de 30 padres exerciam ofícios manuais, ou
seja 10%;
- cerca de 30 padres viviam escondidos, ou seja
10%;
- cerca de 100 padres tinham passado, sob pressão,
à ortodoxia, ou seja 30%. Mas muitos destes se
retrataram seguidamente e passaram para o
Ocidente.
Para os fiéis, a rejeição da passagem para a ortodoxia foi
quase total, como revelam os resultados dos referendos
que foram organizados em cada paróquia da diocese de
Presov a partir de Julho de 1968, para saber a que Igreja
queriam pertencer os fiéis. Em Março de 1969, em 246
paróquias existentes em 1950:
- 200 tinham votado pela Igreja católica;
- 2 tinham votado pela Igreja ortodoxa;
- 40 preparavam o escrutínio ou estavam prestes a
votar.
Após o restabelecimento da diocese de Presov e perante
a oposição freqüentemente amarga dos ortodoxos, o
“Comité de Ação” dos greco-católicos foi levado a
publicar, no decorrer do Verão de 1968, uma
“Declaração” que era uma bela homenagem à fidelidade
da grande maioria do clero e dos fiéis greco-católicos à
fé do seu batismo.
(3) Eis o que orador tinha previsto dizer quando foi
interrompido: «Nesse documento solene devem ser
denunciados com uma clareza e uma dignidade serenas,
sem ódio nem anátema, os erros do marxismo, mas
também a indigna prática do sistema comunista; ao mesmo
tempo, os dirigentes das nações comunistas devem ser
exortados a conceder a todos os cidadãos a verdadeira
liberdade de religião, tão útil à própria sociedade civil. O
famoso sermão de Paulo VI, recentemente pronunciado
nas Catacumbas de Santa Domitília, pode ser, para nós,
um exemplo do modo como tal declaração pode ser
concebida.»
(4) Esta interrupção é exemplar, porque ilustra o cuidado
com que a promessa de silêncio do Concílio sobre o
comunismo foi posta em prática: os moderadores tinham,
visivelmente, ordens precisas para fazer calar os bispos
recalcitrantes...
*******
GUARDE A FÉ !
Fraternidade Sacerdotal São Pio X
Rua Maurício Francisco Klabin, 223 - CEP 04120-020
SÃO PAULO - SP
tel: (11) 3462 6223 / 7443 1376
e-mail: fsspx_brasil@yahoo.com.br
1 Num. R$ 2,00
Assinatura: por correio: R$ 35,00

(2) Eis os termos latinos desta passagem capital, tais
como foram pronunciados por Mons. Rusnack perante
os Padres Conciliares: «Proindre: nomine praesertim
fratrum meorum in oppressione viventium vos obsecro,
Venerabiles Patres Conciliares, ut Sacra haec Synodus...
specialem edat declarationem de communismo theorico
et practico relate ad religionem, vel nuntium...»
PARA AJUDAR O PRIORADO DE SÃO PAULO
Banco: UNIBANCO
Agência: 0098 - Conta: 228977-9
Nome: Associação Religiosa e Cultural São Pio X
CNPJ: 09.385.198/0001-43
Código SWIFT: UBBRBRSP
Contato: fsspx_brasil@yahoo.com.br

OS LUGARES ONDE A FRATERNIDADE SÃO PIO X CELEBRA A SANTA MISSA NO BRASIL

* SANTA MARIA (RS): Nos Dom. e Festas, às 9h00; na sem. às 18h30 - tel: (55)3028 3896.
* SÃO PAULO (SP): Nos Domingo e Festas, às 10h00 - na Rua Prof. Frontino Guimarães, N° 91 -
VILA MARIANA - Metrô Vila Mariana - tel: (11) 3462 6223 / 7443 1376 ou fsspx_brasil@yahoo.com.br
* BELO HORIZONTE (MG): tel: (31) 3275 0286 ou (31) 9981 2078 ou (11) 3462 6223.
* CAMPINAS (SP): Rua Hilza Teixeira Penteado de Lemos, 71 - tel: (19) 3258 4008
* PASSOS (MG): ligar (35) 3521 4574 ou (35) 9197 4181.
* BRASILIA (DF): ligar (62) 3346 1161
* CAMPO GRANDE (MS): ligar (67) 3349 0278