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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

Monica Hitomi Mekaru

Parcerias entre comunidades e empresas


para o desenvolvimento sustentável.

Trabalho de Estágio apresentado ao Curso de

Graduação em Administração da FGV-EAESP

Área de concentração: Sustentabilidade

São Paulo

Dezembro

2006
MEKARU, Monica Hitomi. Parcerias entre comunidades e empresas para o
desenvolvimento sustentável. São Paulo: FGV-EAESP, Dezembro de 2006. 126p.
(Trabalho de Estágio apresentado ao Curso de Graduação em Administração da FGV-
EAESP. Área: sustentabilidade.
Resumo: trata da elaboração e implementação de um Plano Comunitário de
Desenvolvimento Sustentável das comunidades da região do Médio Juruá-AM, em
parceria com o IBENS e a Natura. Este trabalho apresenta os principais tópicos e
abordagens para garantir o sucesso deste empreendimento.
Palavras-chave: Desenvolvimento local – comunidades rurais – sustentabilidade –
responsabilidade social corporativa – integração da cadeia de valor – geração de valor
compartilhado – alianças intersetoriais.
"Cada ser humano recebe a anunciação: e, grávido de alma, leva a mão à
garganta, em susto e angustia. Como se houvesse para cada um, em algum
momento da vida, a anunciação de que há uma missão a cumprir. A missão não é
leve: cada homem é responsável pelo mundo inteiro."
Clarice Lispector
LISTA DE ABREVIATURAS

ADA – Agência de Desenvolvimento da Amazônia


AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas
AFLORAM – Agência de Florestas e Negócios Sustentáveis do Amazonas
ALBRÁS - Alumínio Brasileiro S. A.
ALCAN - Alumínio do Brasil Ltda.
ALUMAR - Consórcio de Alumínio do Maranhão
ALUNORTE - Alumina do Norte do Brasil S. A.
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ASPROC - Associação dos Produtores Rurais de Carauari
BAESA - Consórcio Energética Barra Grande S.A.
CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica
CGEN – Conselho de Gestão sobre Patrimônio Genético
CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico
CNPT - Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Populações Tradicionais
CNS - Conselho Nacional dos Seringueiros
CODAEMJ - Cooperativa de Desenvolvimento Agro-Extrativista e de Energia do Médio Juruá
COGNIS - Cognis Brasil Ltda.
CVRD - Companhia Vale do Rio Doce
DEE - Departamento de Engenharia Elétrica
DGA – Departamento de Gestão Ambiental do Estado de Portugal
DLIS – Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável
DSN - Doutrina de Segurança Nacional
EBITDA – Earnings before interest rates, taxes, depreciation and amortization (Lucros antes de
juros, impostos, depreciação e amortização)
ELETRONORTE - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EUA – Estados Unidos da América
FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
FSC – Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal)
FNS – Fundação Nacional de Saúde
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
GOCA – Guaranteed Organic Certification Agency
GTA – Grupo de Trabalho Amazônico
IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
IBENS – Instituto Brasileiro de Educação em Negócios Sustentáveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
IUCN - The World Conservation Union
MCT - Ministério de Ciência e Tecnologia
MEB - Movimento de Educação de Base
MFC – Manejo Florestal Comunitário
MPF – Ministério Público Federal
NATURA - Natura Cosméticos S.A.
ONG – Organização Não-Governamental
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PCDS – Plano Comunitário de Desenvolvimento Sustentável
PDA - Plano de Desenvolvimento da Amazônia
PFC - Projeto Ferro Carajás
PFNM – Produtos Florestais Não–Madeireiros
PGC - Programa Grande Carajás
PIB – Produto Interno Bruto
PMI – Project Management Institute
PND - Plano Nacional de Desenvolvimento
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
POLAMAZÔNIA - Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
POV - Projeto Óleos Vegetais para a Geração de Energia e Valorização da Biodiversidade em
Comunidades Isoladas
PROCAM – Programa de Ciências Ambientais da USP
PWC – PriceWaterHouseCoopers Inc.
REMJ - Reserva Extrativista do Médio Juruá
RESEX – Reserva Extrativista
SCM – Supply Chain Management (Gestão da Cadeia de Suprimentos)
SDS – Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do estado do Amazonas
SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SETRAB - Secretaria de Trabalho
STR - Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Carauari
SUDAM - Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
UA - Universidade do Amazonas
UNB - Universidade de Brasília
UNCAMP - Universidade de Campinas
UNI-SOL - Fundação de Apoio Institucional Rio Solimões
USP – Universidade de São Paulo
WCED – World Commission on Environment and Development
WWF – World Wildlife Fund
ZOPP – Ziel Orientert Project Planung (Planejamento de Projetos Orientado para Objetivos)
SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS .......................................................................................................................1


SUMÁRIO........................................................................................................................................................4
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................4
1.REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................................................6
DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE...........................................................................................6
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...................................................................................................7
DESENVOLVIMENTO LOCAL E PARTICIPAÇÃO ..............................................................................8
COMUNIDADES TRADICIONAIS E ESPAÇO COMUM.....................................................................11
AS FLORESTAS E OS PFNMS ..................................................................................................................13
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE COMO ESTRATÉGIA EMPRESARIAL..............................14
O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL....................................16
ALIANÇAS ESTRATÉGICAS INTERSETORIAIS.................................................................................18
OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS NA CADEIA DE VALOR...........................................................19
FORMAÇÃO DE PARCERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO IDEAL..........................................20
ACESSO AO PATRIMÔNIO GENÉTICO E CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO. .32
FERRAMENTAS DE GESTÃO..................................................................................................................33

INTRODUÇÃO

A humanidade contemporânea enfrenta problemas cujo prêmio de solucioná-las é a


própria esperança sobre o sentido de ser humano: a degradação do meio ambiente e a
concretização da pobreza são desafios que precisam ser enfrentados com a devida atenção
pela sociedade civil, governos e o setor privado.

Criar uma sociedade baseada no uso sustentável dos recursos naturais exige ampliar
e, sobretudo mobilizar o conhecimento para fazê-lo. Por isso, o presente trabalho busca
contribuir para a construção de modos sustentáveis de ser – em linha com a filosofia do
Instituto Brasileiro de Educação em Negócios Sustentáveis (IBENS) organização a que se
refere a execução da proposta contida neste trabalho. Esta proposta é uma atuação capaz
de enfrentar alguns dos problemas e oportunidades vivido pelas comunidades de
populações tradicionais que habitam e preservam os biomas do Brasil, mais
especificamente as comunidades da região do Médio Juruá-AM decorrentes do
relacionamento com a Natura Cosméticos e do contexto histórico em que se inserem.

O trabalho encontra-se estruturado em três capítulos. O primeiro consiste no


referencial teórico no qual se discute sobre o tipo de desenvolvimento proposto, que é o
desenvolvimento sustentável, local, integrado e como expressão à liberdade, conceitos que
a sociedade precisa compreender com urgência.

O referencial também enfoca dois ângulos distintos do trabalho: a visão das


comunidades, e o sentido de algumas expressões distantes do vocabulário cotidiano, como
o conceito de populações tradicionais e de produtos florestais não madeireiros; e a visão
das empresas, abrangendo o universo dos novos paradigmas de gestão que são a
Responsabilidade Social Corporativa e a questão da Sustentabilidade, bem como o uso
destes na estratégia e inovação empresarial. Estas duas visões são abrangidas para,
posteriormente, explicitar as referências existentes sobre a formação de parcerias entre as
comunidades e as empresas, descrevendo sucintamente as vantagens e problemas
encontrados nessa nova forma de relacionar-se, bem como a necessidade de alianças
intersetoriais para o bom funcionamento de tal envolvimento. Ao final, aborda algumas
referências acerca das ferramentas de gestão a serem utilizadas no Plano, dentre elas as
abordagens participativas, e as metodologias de Planejamento.
1. REFERENCIAL TEÓRICO

O contexto de crescente empobrecimento e fragmentação social das últimas


décadas, onde as organizações estão inseridas, tem levado gestores e estudiosos a
buscarem em outras disciplinas, além da Administração, uma possibilidade de maior
entendimento da realidade, com a compreensão das relações humanas, dos valores e
princípios que determinam e norteiam as ações e decisões das pessoas, e como estes
aspectos interferem com o ambiente e o desempenho das organizações complexas
(CHANLAT, 1999; FEDATO, 2005; CAPRA, 2005). Por tudo isso, o presente trabalho,
buscou referências multidisciplinares, voltadas para além do campo da Administração,
baseando-se em teorias da Economia, das Ciências biológicas e das Ciências sociais.

Desenvolvimento como liberdade

A primeira referência presente neste trabalho diz respeito à ideologia em contexto.


Todas as palavras escritas que formam uma obra, seja ela um artigo acadêmico ou uma
obra literária, estão carregadas de crenças e afirmações. Este trabalho tem a presunção de
tentar explicitar as ideologias que carrega.

O primeiro pressuposto é o sentido da mudança a que se propõe. A obra aqui


escrita se destina à mudança do contexto socioeconômico de uma comunidade
aproveitando-se das oportunidades e desafios que o seu relacionamento com uma empresa
traz. Dessa forma, a mudança diz respeito ao desenvolvimento econômico da região. Mas,
para aceitar a relevância do trabalho foi necessário responder: Desenvolvimento para que,
por quê e para quem? Faz sentido a mudança proposta? Ela seria de fato benéfica para
todos? Estaria pautada na ética social vigente, e principalmente a que aspira a
humanidade?

A autora do presente trabalho acredita que o desenvolvimento proposto é aquele


que economista Amartya Sen (1999) propõe: o desenvolvimento como liberdade.

Em linhas gerais, esta noção procura demonstrar a necessidade de se


reconhecer o papel das diferentes formas de liberdade no combate às

6
absurdas privações, destituições e opressões existentes. O combate a tais
problemas exige que a liberdade individual seja considerada um
comprometimento social. Liberdade, nesta concepção, pode ser vista
como meio de se alcançar o desenvolvimento - liberdades instrumentais -
e como um fim, ou seja, como um objetivo a ser alcançado pelo próprio
processo de desenvolvimento - liberdades substantivas. Liberdades
instrumentais dizem respeito aos direitos e oportunidades que permitem a
expansão das liberdades individuais. Liberdades substantivas estão
ligadas aos direitos humanos de alimentação, moradia, educação,
liberdade de expressão, saúde e participação política (RIBEIRO, 2004,
p.22).

Em comparação com a ortodoxia econômica que diz que o crescimento do Produto


Interno Bruto (PIB) é o fim último a ser alcançado, para a noção de desenvolvimento
como liberdade o crescimento do PIB é apenas um dos meios de se alcançar o
desenvolvimento (SEN, 1999). Por isso, a proposta de elaboração de uma estratégia de
desenvolvimento local foi feita pensando nas necessidades de liberdades das populações
rurais, além da necessidade de renda.

Desenvolvimento sustentável

O sentido de desenvolvimento individual e humano é o desenvolvimento como


liberdade, como dito anteriormente. Mas também é preciso pensar na concepção holística
sobre o desenvolvimento, envolvendo o ambiente e a cultura social de que cada individuo
faz parte. Este pensamento se confrontando com a concepção ortodoxa de que o
desenvolvimento econômico se daria sobre a base de recursos naturais infinitos, sobre o
trabalho humano como um recurso descartável e sobre o consumo baseado no simples ato
de atender a necessidades e fetiches. Esta concepção diz respeito ao desenvolvimento
sustentável, conceito formalizado no Relatório Brundtland (WCED, 1987), mas resposta
da necessidade de todos: o desenvolvimento sustentável é aquele que

“harmoniza o imperativo do crescimento econômico com a promoção da


eqüidade social e preservação do patrimônio natural, garantindo assim
que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas sem
comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras".
(WCED, 1987, p.07).
Pensar em desenvolvimento sustentável implica pensar nas três dimensões que
permeiam o desenvolvimento. Almeida (2006) resume:

A dimensão econômica e social de um processo de desenvolvimento


sustentável é observada por meio da qualificação do crescimento
econômico, com a melhoria da qualidade de vida de toda a população,
com a busca da eqüidade social e com mudança nos estilos de vida. A
implantação de um processo de desenvolvimento econômico e social
sustentável passa pela adoção de atividades econômicas adequadas ao
meio ambiente no qual se inserem. Essas atividades econômicas precisam
se desenvolver tendo por base a utilização de recursos naturais
renováveis. Torna-se necessário identificar potencialidades e traçar um
caminho na direção do desenvolvimento sustentável que seja baseado na
valorização dos produtos renováveis regionais e adaptado às condições
específicas de cada ecossistema (ALMEIDA, 2006, p.27).

O desenvolvimento sustentável vem sendo pensado por diversas organizações


capazes de torná-lo paradigma estruturante para os anos vindouros. Uma das iniciativas,
consideradas neste trabalho, é a Agenda 21, um plano de ação para o desenvolvimento
sustentável, resultado da I Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Eco-92. A Agenda 21 sintetizou as diversas problemáticas
enfrentadas no mundo hoje no que tange a sustentabilidade das ações e estruturas da
humanidade, e os países signatários deste plano de ação incluíram-no nas diversas esferas
organizacionais. No Brasil, diversas instâncias governamentais buscam embutir nos
Planos de planejamento as prioridades da Agenda: as ONGs vêm a utilizando como
ferramenta orientadora de suas ações e, algumas empresas, como diretriz para ações
sociais. As metas da Agenda 21 devem, por isso, ser consideradas na concepção da
proposta deste trabalho.

Desenvolvimento local e participação

O desenvolvimento local, por sua vez, é uma corrente de pensamento que crê no
caráter participativo, e por isso pedagógico, ao tratar de ações públicas na esfera local1. A

1
Algumas experiências de desenvolvimento local que foram fonte de inspiração para o
desenvolvimento do trabalho são as premiadas pelo Programa Gestão Pública e Cidadania da
localidade permite que questões tradicionalmente distantes da maior parte da população
possam se discutidas. Ao restituir a decisão sobre os rumos do desenvolvimento à própria
população, é possível devolver à política o seu caráter de dimensão inalienável de cada
cidadão. No caso da Agenda 21, ela estimula que se criem Agendas 21 locais, com
delimitações territoriais municipais. Isto seria uma forma de incentivar a participação e o
engajamento dos atores locais, os quais dificilmente poderiam ser ouvidos em planos
centralizados.

Uma ferramenta fundamental criada para estimular o desenvolvimento em bases


locais é o planejamento de ações para a redução da pobreza e desenvolvimento
socioeconômico. Uma das formas de planejamento é pensada pelo Desenvolvimento
Local Integrado e Sustentável (DLIS):

“O Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável é um processo


de promoção do desenvolvimento, por meio de parcerias entre
Estado e Sociedade, no qual ocorrem ações multisetoriais integradas
de desenvolvimento, convergentes numa dada localidade, segundo
uma metodologia que prevê, no mínimo: capacitação para a gestão;
diagnóstico e planejamento participativos; articulação da oferta
pública de programas com a demanda social da localidade;
monitoramento e avaliação; fomento ao empreendedorismo e
criação de uma nova institucionalidade participativa”
(COMUNIDADE SOLIDÁRIA, 1999, p.04).

Por meio do DLIS, é possível definir processos e pressupostos para a elaboração de


Planos de Desenvolvimento Local. O presente trabalho se utilizou deste conceito, ao
incluir em todas as suas etapas, da concepção à implementação e monitoramento do Plano
a ser proposto, condições para a participação e o empoderamento da própria população a
ser atingida.

FGV-EAESP em parceria com a Fundação Ford: Reflorestamento Consorciado Adensado


(RECA) no Pontal do Abunã-RO, a APAEB em Valente-BA, o Programa Integrado de Inclusão
Social (PIIS) de Santo André-SP e o Desenvolvimento rural sustentável de Urupema-SC.
Participar significa fazer parte de um grupo, tomar parte das decisões e ter parte do
resultado. Segundo Gomes, “a participação comunitária é um processo mediante o qual as
diversas camadas sociais tem parte no planejamento, na produção, na gestão e no usufruto
dos bens de uma comunidade” (GOMES, 2003, p.05). Participação, como compreendida
por este conceito, pode ser resumida nos seguintes pressupostos:

• melhorar as condições para tomada de decisão e ações coletivas;

• elevar a co-responsabilidade dos atores sociais em relação às atividades de

projetos e empreendimentos;

• facilitar os processos de aprendizado social;

• aperfeiçoar as formas de articulação e representação de interesses,

principalmente dos grupos sociais mais excluídos, nas decisões e conquista


de poder em nossa sociedade (GOMES, 2003).

Esta forma de atuação permite que, participando, o indivíduo aprenda a se


organizar em rede de apoio mútuo e defesa de seus interesses nas demais esferas das
relações sociais. Aumenta, por isso, seu senso de responsabilidade por todos os seres
vivos e por suas próprias condições de vida (GOMES, 2003, p. 11).

Os processos participativos de diagnóstico, implementação e avaliação podem ser


capazes de atribuir maior sentido ao processo e, sobretudo, conferir a ele maior utilidade.
Percorrer um caminho que envolva os principais interessados em um projeto ou programa
na formulação do desenho da avaliação – pode resultar em ganhos tanto no plano da
investigação de resultados, quanto no desenvolvimento da capacidade e autonomia dos
próprios participantes (BARREIRA, 1999 citado por FEDATO, 2005, p. 66).

Para viabilizar o processo participativo na elaboração e implementação do Plano


proposto, considerou-se alguns referenciais teóricos sobre processos e ferramentas
participativos e cooperativos especificadas no tópico Ferramentas de Gestão explicitadas
adiante.
Comunidades tradicionais e Espaço comum

As comunidades foram colocadas no presente trabalho como público central. No


entanto, o termo comunidades não é uma definição técnica, mas um termo usual. Neste
trabalho, será utilizado com vistas a sociedades de pequena escala, tradicionais, indígenas
e extrativistas, habitantes de regiões rurais brasileiras..

Segundo Armelin (2001), uma comunidade pode ser considerada tradicional


quando possui as seguintes características:

• dependência da natureza, dos ciclos naturais dos recursos naturais renováveis

a partir do qual constroem seu modo de vida;

• conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos, transferidos para as

gerações seguintes;

• noção de território onde a comunidade se reproduz econômica e socialmente;

• ocupação deste território por várias gerações;

• importância das atividades de subsistência, mesmo que esta gere algumas

mercadorias e contato com o “mercado”;

• importância da unidade familiar, doméstica ou comunal;

• importância das simbologias tradicionais;

• utilização de tecnologias simples e de baixo impacto sobre o meio ambiente;

• auto-identificação, ou identificação feita por outros, com uma cultura distinta

das outras (ARMELIN, 2001).

A importância dessas populações encontra-se no histórico de que suas


condições de baixa densidade demográfica e o uso de determinadas
técnicas de exploração dos recursos, causaram poucos danos ao meio
ambiente, sendo as áreas habitadas por elas as mais conservadas no
planeta (ESTERCI, 2005, p. 178).
Essas populações deveriam ser atendidas pelos governos, com políticas
compensatórias, como forma de remunerá-las pelo serviço ecológico que prestam, a fim
de garantir a sua cultura e modo de viver. O Estado, no entanto, vem se mostrando
incapaz de fazer isto, decorrente de suas estruturas ainda não adaptadas à democracia
contemporânea.

Por isso, para lutar contra as causas da pobreza e manter suas tradições, as
comunidades rurais precisam se aproveitar do ecossistema em que vivem para gerar
renda: “(...) fazer o ecossistema gerar lucro é, no longo prazo, o modo
mais efetivo e confiável de salvar as comunidades se comparado com
as concepções convencionais baseadas em proteção política e ajuda do
poder público ou de organizações privadas” (TURNER, 1995, p.13
citado por RIBEIRO, 2004, p.27).

As comunidades, portanto, podem se utilizar de métodos e ferramentas do mercado


para se tornarem atores autônomos no mundo, não apenas expectadores beneficiários de
ações externas de governos e ONGs. E uma das formas, é por meio da utilização dos
ativos da biodiversidade que possuem como riqueza.
As florestas e os PFNMs

A biodiversidade é uma das


propriedades fundamentais na natureza,
responsável pelo equilíbrio e estabilidade
dos ecossistemas, e fonte de imenso
potencial de uso cultural e econômico.
Biodiversidade, como o próprio nome
sugere, são as diversas formas de
manifestação da vida, as microbactérias,
plantas, animais, homens e todas as
relações de interdependência e
encadeamento que se estabelece entre
eles (NATURA, 2006a). Os produtos
florestais não-madeireiros (PFNMs),
parte da biodiversidade, incluem uma Figura 1. Ativos da Biodiversidade Brasileira.
ampla variedade de raízes, cascas, ramos,
Fonte: IBENS, 2006.
folhas, frutas, flores, sementes. Alguns
deles são extremamente importantes para a subsistência e para estilos de vida e culturas
tradicionais. Eles representam o elo entre o homem e a floresta, e têm o potencial de
agregar valor a ela, garantindo renda para as comunidades locais. Por isso, os PFNMs são
parte essencial da estratégia deste trabalho para salvar as comunidades florestais
de atividades econômicas mais impactantes como garimpo, extração
madeireira e pecuária.

Hoje, se trabalha muito com os PFNMs mais comercializáveis, com alto valor
comercial, podendo ser bastante cíclicos ou voláteis, enquanto outros podem ter valores
razoavelmente estáveis. Mas os povos tradicionais e indígenas usam muitos outros em
seu cotidiano, ocorrendo um potencial imenso de exploração comercial sobre novos
produtos. É este potencial que o Plano a ser desenvolvido explora.
A demanda por esses produtos encontra-se em mutação, com elevados aumentos
em países em desenvolvimento. Tal tendência desafia a caracterização econômica
tradicional dos PFNMs como produtos inferiores, elásticos e substituíveis, indicando que
muitos deles mantêm mercados estáveis e crescentes, mesmo com o aumento de renda da
população e acesso crescente aos substitutos sintéticos. Alguns destes produtos
alcançaram uma cota mensurável bastante significativa do mercado – 116 produtos
comercializados geram US$ 7,5 a 9 bilhões no comércio global, enquanto ingredientes
medicinais e cosméticos geram adicionais US$ 108 bilhões (SHANLEY, PIERCE e
LAIRD, 2005).

No que diz respeito ao Brasil, a flora brasileira é uma das mais ricas do planeta,
com mais de 20% de todas as espécies de plantas conhecidas. Em solo brasileiro
encontram-se seis ecossistemas, entre eles a Amazônia, maior floresta tropical do mundo,
a qual possui cerca de 100 a 300 espécies de plantas por quarteirão da mata (SANTILLI,
2005). Toda essa diversidade garante o título ao país de maior biodiversidade da Terra. A
riqueza de vida em solo brasileiro, porém, vem sendo seriamente ameaçada. A Mata
Atlântica hoje se encontra reduzida a menos de 7% de seu tamanho original, e do
Cerrado, resta pouco mais da metade. A importância de se pensar em mecanismos para
sua conservação perpassa a conciliação do homem com o meio ambiente. Disto deriva a
importância da sustentabilidade ambiental presente nas diretrizes do Plano.

Inovação e sustentabilidade como estratégia empresarial

As empresas estão inseridas em um contexto social onde a pressão pela busca por
soluções inovadoras, avaliações de riscos e mapeamento de oportunidades é evidente. A
sustentabilidade corporativa, resultado dessas pressões, baseia-se em um novo modelo de
gestão de negócios, no qual atuações na dimensão social e ambiental, aliadas às boas
práticas de governança, interferem positivamente na dimensão econômica, agregando
valor à sociedade, e conseqüentemente, aos acionistas.

Agir sustentavelmente, portanto, é ser beyond compliance, antecipando


necessidades, repensando modelos de atuação. Segundo Stuart Hart (2004), companhias
visionárias têm uma oportunidade de dirigir a redefinição e o redesenho de indústrias por
meio da sustentabilidade (HART, 2004). Inovadores e empreendedores verão no
desenvolvimento sustentável uma das grandes oportunidades de negócios da história do
comércio. Por tudo isso, apostar na sustentabilidade é apostar em investimentos de médio
e longo prazo, mas com resultados mais consistentes e duradouros.

Por outro lado, empresas que falharem em se tornar sustentáveis – que ignorarem
questões ligadas à governança corporativa, aos seus impactos no meio ambiente e na
sociedade – estão semeando desastre. No mundo atual, de imensa e instantânea reação de
mercados, uma ação ou inanição que mine a integridade, ética ou reputação de uma
companhia, pode levá-la a imediatas e desastrosas conseqüências financeiras
(PWC,2002)2.

Hoje, os relatórios financeiros conseguem captar apenas parte do valor de mercado


da empresa, e este distanciamento entre o valor contábil e o valor de mercado, é em parte
atribuído aos valores intangíveis das corporações, ocasionando uma tendência crescente
nos mercados corporativo e financeiro em atribuir importância a fatores intangíveis na
valoração das empresas. Dentre a categoria de intangíveis, aqueles ligados às dimensões
ambiental e social representam parcela crescente dos fatores não-operacionais a afetarem
o valor de mercado da empresa, em especial no setor industrial. Exemplo disso são os
casos de empreendimentos hidroelétricos, nos quais a má ou não gestão do
relacionamento com comunidades do entorno, removidas pelas barragens podem afetar a
sua licença para operar (FBDS, 2005).

Essa facilidade dos consumidores de possuírem uma comunicação cada vez mais
ágil e efetiva traz como conseqüência uma tendência de tomar as decisões de compra
baseadas em conhecimento sobre a reputação de empresas e marcas. Por outro lado, a
escassez de recursos faz com que os atores das cadeias de valores, para serem aptos a

2
O estudo da PriceWaterHouseCoopers, feito por meio da pesquisa com 140
companhias americanas, representando US$ 2,5 tri em vendas anuais, revelou que
75% disseram que adotaram alguma prática sustentável em seus negócios. As
razões mais citadas foram fortalecer a reputação (90%) e vantagem competitiva
(75%) (PWC, 2002).
competir, tenham que não apenas inovar produtos ou serviços, mas também introduzir
uma visão mais sustentável na forma de conduzir os negócios (ALMEIDA, 2006).

A evolução do conceito de negócio sustentável foi dramática, e hoje, existe uma


ênfase na funcionalidade, especialmente aos produtos. A responsabilidade social, a
orientação para o serviço ao cliente, buscando a sua lealdade, demonstraram ser
ferramentas eficazes para a procura de melhor posicionamento tanto nos mercados novos
quanto nos já existentes. Por isso, atualmente, a visão é a de que as decisões a serem
tomadas por gestores devem ser compartilhadas por mais atores do negócio, dos quais
participam os clientes, empregados, comunidades e fornecedores, não apenas acionistas
ou proprietários. É este o sentido do tão propagado termo “relacionamento com
stakeholders”.

O papel da iniciativa privada no desenvolvimento social

O setor privado já ocupa uma posição central na vida das pessoas e detém o poder
de melhorar suas vidas. O Relatório do Desenvolvimento Humano elaborado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em 2005 (PNUD, 2005), aponta
estratégias que reforçam significativamente a capacidade do setor privado em promover o
desenvolvimento, reforçando seu papel fundamental na criação de empregos e na geração
de renda para a população pobre. É neste contexto que se dissemina o conceito de
Responsabilidade Social Corporativa, sendo definido pelo Instituo Ethos como:

Forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da


empresa com todos os públicos com os quis ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais (YOUNG, 2004. Citado
por FEDATO, 2005. p.26).

Segundo Fischer (2004) citado por Fedato (2005), Responsabilidade social é um


conceito sociológico, um tipo de valor que determina os padrões de comportamento
aceitos na cultura de uma sociedade. Estes comportamentos referem-se às relações
estabelecidas entre as pessoas, seja no contato interpessoal, grupal ou no contexto da
sociedade como um todo. Responsabilidade social corporativa corresponde à absorção
destes valores na esfera das organizações. Portanto, refere-se às “formas de
comportamento que, de acordo com a cultura organizacional, são consideradas como
responsáveis no âmbito dos relacionamentos que ocorrem no desempenho dos papéis e
das atividades da organização” (FEDATO, 2005, p.25).

O entendimento sobre o que é uma empresa socialmente responsável passa por


uma atuação baseada em princípios éticos (commitment), além da obrigação de respeitar
as leis (compliance). Isso significa que não basta a empresa não infringir a lei, se suas
estruturas refletirem os mesmos problemas sociais do meio. Ela deve contribuir para o
desenvolvimento social, promovendo de alguma forma uma nova cultura, dando uma
chance à melhoria dos padrões sociais (ALBANO, 2003).

A Natura é uma empresa que se diz pautada por tais crenças:

A decisão de contribuir para a criação de um modelo de desenvolvimento


que combine prosperidade econômica, justiça social e conservação
ambiental continuará a exigir um enorme esforço de aprendizado e
inovação. Nessa perspectiva, é plena nossa convicção de que a
participação empresarial na construção de um mundo melhor estará cada
vez mais associada a evidencia de que somos todos – indivíduos,
empresas, ONGs e governos – co-responsáveis pela qualidade de vida,
presente e futura, na terra. (NATURA, 2004, p. 07).

Esta visão acerca do relacionamento da empresa com seus stakeholders, no


entanto, é apenas uma das diversas formas existentes hoje. As empresas encontram-se em
diferentes estágios de compreensão e utilização do conceito de sustentabilidade,
responsabilidade social corporativa e geração de valor compartilhado em seus negócios.
Muitas delas, inclusive grandes corporações, ainda não incorporaram às suas estratégias
e/ou cultura organizacional tais preceitos.
No que diz respeito ao caráter estratégico de tais conceitos, em seu artigo intitulado
The competitive advantage of corporate philantropy, Michael Porter (2002) propõe que a
empresa focalize suas ações sociais na diminuição dos gargalos de seu contexto
competitivo3, alavancando suas competências e relacionamentos para atender a estas
necessidades (PORTER, 2002).

O trabalho proposto enfoca a certeza de que é possível alinhar a estratégia de


atuação social e a estratégia empresarial, propiciando geração combinada de resultados
que configuram benefício social e vantagem competitiva para a empresa, ou seja, a
geração de valor compartilhado, garantindo assim, maior sustentabilidade às iniciativas de
investimento das empresas em causas sociais.

Alianças estratégicas intersetoriais

Segundo Fedato (2005), a atuação social empresarial através de alianças de


colaboração com organizações da sociedade civil pode se constituir em um dos mais
eficazes mecanismos de asseguramento da sustentabilidade e eficácia das ações,
integrando diversos agentes econômicos no esforço do desenvolvimento social
(FEDATO, 2005, p.28). Essa necessidade de cooperação intersetorial deriva de mudanças
estruturais, geradas por forças políticas, econômicas e sociais. Adicionalmente, a
complexidade crescente dos problemas sociais e econômicos está sobrepujando as
capacidades institucionais individuais, tornando cada vez mais improvável que soluções
sustentáveis sejam encontradas isoladamente. As alianças intersetoriais se apresentam,
portanto, como a “alternativa estratégica capaz de gerar valor aos parceiros e à sociedade
de modo eficaz e sustentável” (FEDATO, 2005, p.45).

Acredita-se que a efetividade e a sustentabilidade de parcerias comunidade-


empresa dependam da capacidade das partes em resolver problemas conjuntamente, além
de negociar acordos sem depender de intermediários. “As alianças devem ser

3
O contexto competitivo é definido pela interação de quatro elementos do ambiente
de negócios: condições de insumos produtivos, condições de demanda, contexto de
estratégia, estrutura e rivalidade, indústrias correlatas e de apoio (PORTER, 2002).
configuradas a partir da historia e missão de cada organização buscando cominar suas
competências especificas na busca de resultados efetivos” (FISCHER 2002, citado por
FEDATO, 2005, p. 45).

No entanto, o relacionamento direto envolve sempre diversas dificuldades:


parcerias complexas, que envolvem diversos atores, ou quando possuem cultura ou ética
de trabalho diferentes, acabam em desconfiança entre as partes e conflitos entre sistema
de organização ou na divisão de tarefas, ao menos no início do processo de parceria. A
assinatura de contratos, por exemplo, é um dos momentos mais críticos que podem
requerer o auxílio de mediadores imparciais (MORSELLO, 2004). Governos e ONGs,
podem desempenhar papel importante de mediação, e na transformação de relações de
subordinação em busca de padrões de comercialização a preços justos (MORSELLO,
2004).

No que concerne ao Estado, a reforma administrativa do Estado brasileiro, que


estimulou a descentralização da implementação de políticas sociais e propiciou aos
estados e municípios maior autonomia de ação e a possibilidade de atuar em parcerias
com organizações não-estatais. As tendências do paradigma a que a Nova Gestão Pública
busca é o fortalecimento institucional de organizações do terceiro setor, e a ampliação das
oportunidades de participação social dos cidadãos e do setor privado (BRESSER
PEREIRA e SPINK, 1998).

Oportunidades de negócios na cadeia de valor

Para se pensar em um negócio que utilize a sustentabilidade como uma estratégia


de negócio, é necessário olhar a cadeia de valor em um sistema produtivo. Segundo
Almeida (2006), o termo é também chamado como cadeia de negócios, cadeia de
distribuição, distribuição física, canais de distribuição, canais de marketing, cadeias de
abastecimento, suply chain management (SCM), cadeias de suprimentos e clusters
(ALMEIDA, 2006). Todos eles significam “um conjunto de organizações encadeadas que
trocam ativos de valor entre si, tangíveis e intangíveis, relacionando-se e interagindo
umas com as outras a fim de atingirem seus objetivos de conquista de mercados, lucro,
perpetuação e crescimento de seus negócios” (ALMEIDA, 2006, p.11).

Existe um potencial estratégico possível de ser desenvolvido por meio do


aprimoramento das relações na cadeia produtiva no que concerne aos fornecedores,
especificamente as comunidades fornecedoras. Se antes eram freqüentes os casos em que
o relacionamento entre fornecedores e clientes era visto mais como adversário do que
cooperativo, hoje, as organizações que ainda atuam desta forma são vistas como
incapazes de compreender que a simples transferência de custos para clientes ou
fornecedores não as torna mais competitivas, uma vez que estes custos, ao final da cadeia,
estarão refletidos e embutidos nos preços pagos pelo usuário final (ALMEIDA, 2005).
Além disso, ao manter uma política de preocupação quanto à integridade de seus
fornecedores, a empresa segue um imperativo da ética empresarial em xeque no século
XXI (GRAJEW, 2000):

O que há, na verdade, é um novo olhar, uma nova maneira de


compreender as questões que envolvem as relações humanas, inclusive –
e especialmente – no universo empresarial (...) estamos tratando de ética,
da relação socialmente responsável da empresa em todas as suas ações,
suas políticas, suas práticas, em tudo o que ela faz, suas atitudes com a
comunidade, empregados, fornecedores, com os fornecedores de seus
fornecedores, com os fornecedores dos fornecedores de seus
fornecedores, com o meio ambiente, governo, poder público,
consumidores, mercado e com seus acionistas (GRAJEW, 2000).

Formação de parcerias para o desenvolvimento ideal

A atuação das empresas por meio da visão de toda a cadeia de valor perpassa por
seu relacionamento com fornecedores que apresentam características sociais singulares,
como é o caso dos fornecedores pertencentes à base da pirâmide, dentre eles as
comunidades rurais fornecedoras de produtos florestais não madeireiros. Nesse sentido, as
parcerias constituem poderoso instrumento para o desenvolvimento sustentável pois, ao
gerar renda, podem permitir a inclusão dos membros das comunidades na economia
monetária e, quando baseadas na comercialização de PFNMs, conseguir compatibilizar
eficiência econômica, equidade social e prudência ecológica.

Neste trabalho, o termo parceria é empregado de forma ampla para descrever a


variedade de acordos, contratos e arranjos formais e informais estabelecidos com a
expectativa de beneficiar dois ou mais parceiros (MAYERS, 2000; MORSELLO, 2004).

As alianças comunidade-empresa para o desenvolvimento sustentável são


um fenômeno novo as quais nasceram da observação de que setores
individuais são incapazes de resolver as complexidades do
desenvolvimento sustentável e baseiam-se na possibilidade de repartir
riscos, além de agregar recursos e habilidades para o benefício mútuo e da
sociedade como um todo. (MORSELLO, 2004, p. 03).

O fenômeno das parcerias, na última década, tornou-se atenção em discussões e


fóruns mundiais de decisão, como na Rio+10, onde as empresas e a formação de parcerias
entre setores ocuparam papel central nas discussões sobre desenvolvimento sustentável
(MORSELLO, 2004).

A bibliografia referente aos resultados das parcerias comunidade-empresa, no


entanto, ainda são escassas, principalmente no setor florestal não madeireiro
(MORSELLO, 2004). Sobre o que foi possível embasar teoricamente a relação da
empresa Natura com comunidades fornecedoras, encontra-se categorizado a seguir entre
as vantagens e desvantagens (problemas) encontrados nas relações de parcerias
comerciais entre empresas e estas populações. Estas informações vieram principalmente
dos estudos feitos pela antropóloga Carla Morsello e seu orientando Ribeiro no projeto
Parcerias Florestais, realizado pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da
USP (PROCAM - USP).

a) Vantagens para as comunidade


• Favorecer a organização comunitária por meio do fortalecimento das

instituições representativas;
• Funcionar como instrumento de fortalecimento de posse ou uso do território,

devido a exploração econômica dos PFNMs;

• Compensar a ação decrescente do poder público;

• Representar trampolins temporários em direção ao maior empoderamento

econômico e político no longo prazo, que permitiria o abandono da parceria e


atuação independente;

• Aumentar a auto-estima e a cidadania;

• Permitir o aumento no poder de barganha com terceiros, como agentes

financiadores ou o governo;

• Reduzir riscos econômicos causados pela alta volatilidade do mercado de

produtos florestais, pois permitem ter preço e venda garantidos, e além disso,
repartir os riscos da atividade comercial com as empresas (MAYERS 2000);

• Permitir às comunidades extrativistas o fim das condições de escravidão por

dívida;

• Reduzir pobreza, pois possibilitam maiores retornos econômicos em

comparação com outras atividades de mercado realizadas, gerando


oportunidades de emprego assalariado que representam uma fonte de renda
mais regular e segura;

• Manter as comunidades em seu ambiente florestal de origem;

• Aumentar a consciência pública em relação à proteção dos direitos dos

povos indígenas e extrativistas;

• Fortalecer culturalmente grupos de populações tradicionais, incentivando o

trabalho coletivo e outros costumes tradicionais, resgatando práticas culturais


ligadas à utilização de recursos naturais que haviam sido abandonadas;

• Receber pagamento de custos iniciais de desenvolvimento das atividades

(MORSELLO, 2004);
Além disso, dependendo da organização da atividade produtiva, algumas vezes a
introdução da parceria pode reduzir as desigualdades locais causadas por outras fontes de
renda ou emprego assalariado. Isso ocorre, em geral, quando as parcerias se baseiam em
atividades: (i) que tem acesso amplo para todos os indivíduos; (ii) sem número limitado
de oportunidades e (iii) baseadas em habilidades tradicionais ou amplamente distribuídas
na sociedade. Em especial, a comercialização de PFNMs tem potencial relativamente
maior de produzir benefícios mais bem distribuídos que outras alternativas econômicas.
Este é o caso especialmente daquelas outras atividades que dependem de habilidades raras
no contexto estudado, ou fornecem número limitado de opções de engajamento (por ex.
ecoturismo) (MORSELLO, 2002, p.25).

b) Vantagens para as empresas

No contexto das empresas, quando posicionadas como compradoras de produtos


comunitários, elas acabam sendo beneficiadas, uma vez que podem adotar como
estratégia do negócio ou de propaganda desta relação não apenas comercial, mas também
socioambiental e cultural. Além disso, as empresas que utilizam produtos florestais se
deparam com o fato de que cerca de um quarto das florestas mundiais são manejadas por
comunidades indígenas ou rurais4 (WHITE e MARTIN, 2002). Isto acabou gerando a
necessidade de empresas estabelecerem acordos com as comunidades para atuarem na
área florestal (MORSELLO, 2004 citando VERMEULEN, 2003). A seguir estão listadas
as vantagens competitivas encontradas nesta relação para o setor privado:

• Baixo custo de oportunidade da terra e do trabalho comunitário, uma vez que

as comunidades, por vezes, podem suprir a demanda por produtos florestais a


baixo custo;

4
Existe uma tendência para que sejam devolvidas às comunidades residentes o
controle das florestas em que residem, como resultado da reivindicação de direitos
à terra e seus recursos.
• Redução dos riscos para as empresas, ao garantir o acesso a recursos

naturais, e ao manter boas relações com as comunidades locais e a sociedade


como um todo (MAYERS, 2000);

• Minimização de problemas com regulamentos, campanhas de oposição e


boicote dos consumidores, além de evitar impacto negativo nas vendas e
valor das ações;

• Produção comunitária é caracterizada por alto grau de confiança e

legitimidade e permite o trabalho de pessoas onde se encontram os recursos


desejados, sendo muitas vezes a única alternativa em nível local;

• Comunidades rurais possuem grande habilidade para proteger os recursos

florestais, devido à maior capacidade de monitoramento e ao próprio


interesse delas em conservar os recursos;

• Impactos positivos para as empresas em termos de lucro, uma vez que

possibilitam ganhos líquidos financeiros e em recursos materiais;

• Recebimento de preços prêmio pelos produtos comercializados a partir da

matéria-prima manejada e/ou vinda de comunidades rurais;

• Reforço na cadeia de abastecimento por meio da utilização sustentável de

recursos naturais;

• Incremento da capacidade organizacional;

• Inovação nos negócios e processos;

• Benefício de linhas de investimento que levam em conta a responsabilidade

social corporativa;

• Incorporação das novas práticas de governança, visto que as parcerias são

reflexo de mudanças nas relações de poder5;

5
As formas tradicionais de poder e de tomada de decisão estão sendo substituídas
por relações múltiplas e mais horizontais. Isto porque as empresas e sociedade civil
estão assumindo papéis que antes eram exclusivos do Estado. A sociedade civil,
• Relacionamento do nome das empresas às causas ambientais e indigenistas

nos diversos ecossistemas brasileiro, em especial a Amazônia, alvo da


atenção internacional;

• Acesso e controle de mercados, como aqueles com ganhos de nichos de

mercado crescentes em produtos verdes e socialmente responsáveis.

c) Vantagens para a conservação florestal

O ambiente é o terceiro componente beneficiado diretamente pelas parcerias. Em


especial, a extração de PFNMs implica:

• Produzir benefícios para a comunidade que encorajam a proteção florestal;

• Aumentar o valor das florestas em pé, por meio da realização de seu valor

econômico;

• Evitar outros usos mais impactantes visto que os PFNMs possuem menores

impactos ecológicos do que a extração de madeira ou outros usos da terra;

• Permitir melhorias ambientais locais decorrentes da adoção desses processos

menos impactantes;

• Reduzir a pressão do mercado que incentiva o menor custo de extração de

produtos florestais, recompensando estratégias desvinculadas de


investimentos sociais ou ambientais;

• Aumentar, por meio do marketing, a consciência pública em relação à

conservação florestal;

• Em alguns casos, empresas financiam a realização de inventários de recursos

naturais, os quais permitem selecionar para a comercialização os produtos


que causarão os menores impactos, ou implantam sistemas de monitoramento
que permitem mitigar problemas (MORSELLO, 2004).

muitas vezes representadas por ONGs, possuem papel regulador, ao estarem


atentas e denunciarem abusos de empresas, e dessa forma tornarem-se atores-
chave para a manutenção/quebra da reputação de empresas.
d) Problemas para as comunidades

Mas é preciso olhar para os desafios que as comunidades enfrentam no que diz
respeito à formação de parcerias e comercialização de PFNMs. Abaixo encontram-se
listadas algumas delas, sendo elas utilizadas como argumentação teórica para os
problemas levantados junto às comunidades do Médio Juruá.

• Compreensão do funcionamento da lógica de mercado

As comunidades atuam num sistema, tem que se relacionar com ele, mas não o
compreendem. A incompreensão da estrutura de mercado leva, por exemplo, ao
pagamento de insumos mais caros e à incapacidade de obter financiamento. Este
problema é central, uma vez que é preciso incorporar às práticas educacionais a
capacitação gerencial acerca da lógica de funcionamento do mercado, bem como os
impactos ocasionados por este modo de produção (RIBEIRO, 2005).

• Dependência de estruturas de monopsônio e/ou de um produto ou atividade comercial

Em relações comerciais nas quais empresas buscam produtos florestais com


mercado inexistente ou pouco relevante, as comunidades produtoras acabam se tornando
dependentes da geração de renda pela venda destes produtos para apenas uma empresa
(RIBEIRO, 2005).

• Vulnerabilidade social

Muitas comunidades são desprovidas dos sistemas de infra-estrutura, não tem


acesso, ou possuem acesso deficiente a serviços públicos, tais como energia, telefone,
água encanada, serviços de saúde, escolas (MORSELLO, 2004).

• Comunicação
As mensagens transmitidas ainda carecem de adequações e traduções capazes de
alcançar a compreensão do ouvinte. Não apenas recursos tecnológicos, mas forma de
linguagem. Isso interfere profundamente nos resultados das capacitações, treinamentos e
intercâmbio de informações entre mercado e microeemprendedores (MORSELLO, 2004).

• Imediatismo

As comunidades pensam em curto prazo, tomando decisões que vão salvar seu dia.
O impacto pode ser visto nas relações com o atravessador. Ele sabe que se pagar um
preço baixo, mas à vista, o produtor aceitará a oferta, visto que sempre estará vulnerável
financeiramente. Isso dificulta o problema dos preços baixos, a comercialização por meio
das cooperativas e associações, que nem sempre podem pagar à vista. Além disso, as
comunidades também não compreendem as complexidades existentes na relação entre
empresas e elas, e a geração de expectativas é sempre grande, gerando relações
paternalistas da empresa com as populações (MORSELLO, 2004; RIBEIRO, 2005).

• Incapacidade de investimentos em infra-estrutura produtiva

A descapitalização dos empreendimentos comunitários, decorrente dos obstáculos


para obtenção de créditos oficiais, inviabiliza o desenvolvimento de produtos com bons
níveis de qualidade e produtividade, resultando na comercialização de produtos com
desvantagem sobre similares.

• Acesso a crédito

As populações habitantes das zonas florestais e rurais possuem dificuldades em


acessar crédito. Além disso, podem se tornar reféns de ações de concessão de crédito mal
planejadas Um exemplo disso ocorreu com uma comunidade a qual adquiriu débito
expressivo ao pedir financiamento para a instalação de infra-estrutura necessária a
produção, pois foi abandonada pela empresa parceira antes do débito ser pago, quando a
atividade implementada demonstrou não ser lucrativa (MORSELLO, 2004).

Outro problema é o capital de giro, pois as empresas costumam fornecer no início


dos acordos. Os lucros reduzidos e outros problemas internos as comunidades fazem com
que as comunidades não consigam gerir o capital de giro nem no longo prazo
(MORSELLO, 2004).

• Diferenciação social

No contexto das comunidades remotas e indígenas da Amazônia, teme-se o fato de


que o desenvolvimento de atividades de mercado usualmente leva à diferenciação social
e, por sua vez, a mudanças culturais e impactos ambientais (MORSELLO, 2002). A
diferenciação também se dá por meio da transferência de maior carga de trabalho para
certos segmentos da sociedade, muitas vezes mulheres, que, excluídas da participação na
atividade comercial, têm de arcar com tarefas extras anteriormente atribuídas aos homens.

• Fortalecimento (empowerment)

Acordos comerciais por si só não são capazes de aumentar o poder de barganha das
comunidades. Comunidades muitas vezes não possuem a habilidade ou organização para
negociarem acordos justos e, sendo assim, muitas empresas mantêm grande parte do
poder da relação em suas mãos (MAYERS, 2000; VERMEULEN, NAWIR, e MAYERS,
2003). Em alguns casos, as parcerias podem até mesmo diminuir o empoderamento das
comunidades, especialmente quando as empresas: (i) impõem restrições ou determinam
regras unilateralmente; (ii) interferem impositivamente nas decisões sobre a distribuição
de benefícios e tarefas; (iii) impõem direitos preferenciais ou exclusividade de compra
dos produtos. Além disso, os preços-prêmio pagos nestes tipos de acordo, podem algumas
vezes causar dependência excessiva, já que tornam difícil ou impossível atrair outros
comprador. Por fim, algumas parcerias são baseadas no relacionamento com estruturas de
organização da comunidade, instituídas com o apoio das empresas. Estas estruturas não
têm representatividade junto à comunidade e, portanto, não geram seu fortalecimento
(empowerment) (VERMEULEN et al., 2003).

• Coesão do Grupo

Parcerias podem gerar conflitos entre famílias e no interior destas, especialmente


quando: (i) excluem certos grupos dos benefícios; (ii) impõem carga extra de trabalho
para certos indivíduos da família (VERMEULEN et al., 2003); (iii) interferem em
sistemas complexos e arranjos sensíveis para o manejo de recursos de uso comum; (iv)
estimulam divisões internas na comunidade ao enfatizarem práticas individuais em
detrimento de práticas coletivas (MORSELLO, 2002).

• Manutenção cultural

Em termos da manutenção cultural, projetos de comercialização podem: (i) ser


utilizados como mecanismos disfarçados de integração de comunidades indígenas à
sociedade dominante; (ii) ser a causa de impactos culturais devido a transformações na
organização social e nas relações tradicionais da comunidade com o seu meio natural e
(iii) causar o abandono de festivais ou práticas tradicionais, importantes à manutenção dos
laços internos da comunidade, devido especialmente a conflitos no tempo com a atividade
de mercado (MORSELLO, 2002).

e) Problemas para a conservação

No caso do uso de recursos naturais, as novas relações com o mercado podem


alterar as formas e normas tradicionais. Há evidências de que projetos de comercialização,
mesmo em relação a parcerias estabelecidas por meio de mercados “verdes” ou
“solidários”, podem:

• Causar aumento na caça;

• Implicar aumento da dependência na agricultura em detrimento da coleta de


PFNMs para uso próprio;
• Implicar aumento da área desmatada para a agricultura, devido à adoção de
novas tecnologias ou à perda de produtividade por transformações na sazonalidade das
práticas tradicionais. Por sua vez, essas conseqüências são temidas, devido ao seu
possível impacto na conservação florestal (MORSELLO, 2002).

f) Problemas para as empresas

• Qualidade da produção

Especialmente no contexto de PFNMs e amazônico, riscos são gerados devido à


produção irregular e incerta que, não garantindo oferta constante, implica a necessidade
de formação de estoques, como também ao comprometimento na qualidade e até mesmo a
legalidade da produção (MORSELLO, 2004).

• Custos de produção

As parcerias podem aumentar os custos de produção devido: (i) à localização


remota das comunidades (MORSELLO, 2004); (ii) aos custos extras provocados pela
necessidade de integração formal ou informal das empresas com as comunidades
(RIBEIRO, 2005) e (iii) aos altos investimentos para desenvolvimento de métodos
produtivos que sejam eficientes e viáveis no interior da floresta .

Embora, às vezes, como no caso dos cosméticos, os aumentos nos custos de


produção sejam irrelevantes em relação ao custo total e aos benefícios conseguidos, esse
fator é mais exceção que regra (MORSELLO, 2004). Outro fator complicador é que
medidas de redução de custo podem conflitar com objetivos sociais imediatos – como
geração de emprego – e, por essa razão, são mais difíceis de serem adotados em
empreendimentos comunitários (MORSELLO, 2004).

• Gestão
Sistemas sociais como comunidades indígenas ou extrativistas, e sistemas
ambientais complexos como florestas dificultam as atividades de gestão das empresas.
Particularmente, dificuldades são causadas pela ausência de habilidades de produção e
comércio nas comunidades (MORSELLO, 2004). Além disso, existe uma tensão inerente
nos mercados verdes, pois os objetivos ecológicos estão em conflito com a realidade de
alcançar crescimento econômico em uma economia de mercado. Empresas que
estabelecem parcerias estão, portanto, procurando alcançar um objetivo - serem
ecologicamente corretas, por um meio - crescimento econômico – que muitos defensores
ambientalistas acredita ser inapropriado (MORSELLO, 2004). Isso implica problemas
constantes que requerem muita inovação e adaptação das empresas.

• Marketing

A maior visibilidade proporcionada pelas parcerias pode fazer com que a empresa
sofra ações ou propaganda negativa, colocando em risco as atividades e reputação da
empresa, visto que a relação com as comunidades envolves aspectos complexos, e
qualquer falha nessa relação pode transformar a empresa numa vilã. (MORSELLO,
2002).

g) Complexidade e custos de transação

Um dos maiores desafios para as empresas consiste em encontrar uma forma ótima
de trabalhar com as comunidades extrativistas. A questão não é apenas como coletar e
distribuir as matérias-primas e os produtos de maneira eficiente, mas também como
negociar, determinar papéis, chegar a acordos, estabelecer mecanismos de distribuição de
custos e benefícios (com os grupos e dentro dos grupos) e revisar continuamente os
acordos. É preciso promover abordagens que possam unir os produtores de pequena
escala para reduzir os custos de transação e, ao mesmo tempo, integrar essas economias
de escala com flexibilidade, para que os acordos sejam adaptáveis às circunstâncias locais
e ofereçam benefícios aos meios de vida locais (MAYERS e VERBEULEN, 2002;
IBENS, 2006c).
Dentro do conceito de flexibilidade, as empresas precisam desenvolver um
cardápio de opções de modelos de parceria, os quais as comunidades se identifiquem e
optem por qual modelo de atuação acreditam ser vantajoso para elas. Segundo Morsello
(2004), os melhores arranjos de parcerias são aqueles que provem diversidade de escolhas
e incrementam as oportunidades tanto no uso da terra, como em meios de vida.
(MORSELLO, 2004).

Por tudo isso, o presente trabalho buscou ressaltar, na descrição do problema, a


questão da necessidade da empresa Natura em estabelecer opções de modelos de parceria
que sejam mais claros às comunidades, bem como os processos inerentes a cada um deles.
Mesmo antes de investir em desenvolvimento local nas comunidades que atua, é preciso
que elas compreendam quais os interesses da empresa sobre isto, pois a confusão acerca
dos vários papéis da empresa na região (como compradora de produtos, financiadora de
projetos sociais, etc.) pode levar a conseqüências negativas, como o desgaste da imagem
da empresa na região.

Acesso ao Patrimônio Genético e Conhecimento Tradicional Associado

Um tema de extrema relevância quando se discute o uso empresarial de ativos da


biodiversidade brasileira tradicionalmente manejados por comunidades locais é o acesso
ao Patrimônio Genético e Conhecimento Tradicional Associado6.

Até a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), aprovada na ECO-92, entrar


em vigor, os recursos genéticos eram considerados como patrimônio da humanidade,
podendo ser acessados livremente. A CDB estabeleceu normas e princípios que devem
reger o uso e a proteção da diversidade biológica em cada um dos países signatários. Seu

6
Patrimônio Genético é definido como "informação de origem genética contida em
amostras do todo ou de parte de espécime vegetal, fúngica, microbiana ou animal, na
forma de moléculas e substâncias provenientes do metabolismo desses seres vivos e de
extratos obtidos a partir deles, vivos ou mortos, encontrados em condições in situ,
inclusive domesticados, ou mantidos em condições ex situ, desde que coletados in situ
no território nacional, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva"; e o
conceito de Conhecimento Tradicional Associado é qualquer “informação ou prática
individual ou coletiva, de comunidade indígena ou de comunidade local, com valor real
ou potencial, associada ao patrimônio genético.” (SANTILLI, 2003, p. 23 -24).
principal objetivo é assegurar a conservação e uso sustentável da biodiversidade e os
princípios fundamentais que estabelece são a soberania dos Estados sobre os seus recursos
genéticos e a necessidade de consentimento prévio e informado por parte do país de
origem, bem como a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de sua
utilização (SANTILLI, 2003).

No Brasil, país membro da CDB desde 1994, os princípios foram sendo


incorporados e regulamentados por meio de leis e medidas provisórias sancionadas.
(SANTILLI, 2003). O Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) - órgão do
Ministério do Meio Ambiente – ficou responsável pelas políticas de gestão do patrimônio
genético e pelas deliberações sobre autorizações de acesso e contratos de utilização do
patrimônio genético e repartição de benefícios, entre outras atribuições.

Existem enormes divergências e debates sobre quais serão os rumos sobre o acesso
ao patrimônio genético e conhecimento tradicional associado no país. Uma das principais
polêmicas refere-se à repartição de benefícios de conhecimentos já publicados. Outro
ponto controverso diz respeito à titularidade múltipla dos conhecimentos tradicionais. Ou
seja, quando várias comunidades ou povos detêm determinado conhecimento. Existem
algumas propostas para contornar este entrave, como a criação de um fundo público,
formado pelas taxas cobradas de cada produto desenvolvido, e os recursos deste fundo
seriam aplicados em projetos de diversas comunidades, a título de compensação Além
disso, existe a problemática da excessiva burocratização para o cumprimento de tal
norma, decorrente das estruturas de gestão administrativa do país ainda não estarem
adaptadas a essa dinâmica (SANTILLI, 2005).

Ferramentas de gestão

Na busca da eficiência e eficácia, métodos de planejamento estratégico,


ferramentas de implementação de estratégia, sistemas de avaliação de resultados e toda a
gama de mecanismos de gestão e controle de recursos, pessoas e resultados são
candidatos a adaptação para finalidades sociais. Por isso, a seguir encontram-se
contextualizadas as ferramentas de gestão utilizadas na elaboração deste trabalho,
divididas em (a) Modelos de Planejamento para o Desenvolvimento Local e (b)
Ferramentas para Avaliação e Monitoramento de Projetos.

a) Modelos de Planejamento para o Desenvolvimento Local

Algumas referências orientaram a elaboração da estratégia da etapa de


Planejamento deste trabalho: (i) a estratégia de Planejamento do DLIS, (ii) a metodologia
ZOPP e (iii) o Planejamento participativo com visualização de resultados. A seguir
encontra-se uma breve explicação acerca de seus preceitos teóricos:

(i) A estratégia de Planejamento do DLIS

O ponto de partida do DLIS é a sensibilização das lideranças locais para a


construção de parcerias entre atores do Estado, do Mercado e da Sociedade (SEBRAE,
2006). O centro da estratégia de promoção do DLIS encontra-se na constituição de um
colegiado capaz de planejar, gerenciar, de forma participativa e compartilhada, o
desenvolvimento local. A partir de um diagnóstico, elabora-se um Plano com todas as
ações necessárias para o desenvolvimento de cada uma das potencialidades ou vocações
identificadas. Esse plano favorecerá a convergência de investimentos, públicos e
privados, constituindo-se num instrumento de orientação para todos os atores, internos ou
externos, que podem interagir no processo de desenvolvimento local (AMARAL, 2006).

A partir do plano de desenvolvimento local, assume-se uma agenda de


prioridades, sendo que as lideranças locais precisam elaborar projetos executivos e
negociar com parceiros, internos ou externos, para levantar os recursos e reunir os meios
necessários à realização de sua agenda local. “Cada ação realizada irá compor a série de
pequenas vitórias que deixarão na comunidade local a convicção de que ela é capaz de
planejar e gerenciar o seu próprio desenvolvimento, a partir de sua própria iniciativa”
(AMARAL, 2006).
Segundo, De Paula (2006):

A estratégia de promoção do DLIS é um aprendizado coletivo, um


método de aprender fazendo, onde a comunidade local vai aos poucos se
capacitando em planejamento estratégico, planejamento executivo,
negociação e gestão de projetos, monitoramento e avaliação de
resultados, etc. Para isso é preciso proporcionar condições para uma
capacitação continuada e se possível, permanente (De PAULA, 2006).

(ii) A Metodologia ZOPP

ZOPP – Ziel Orienterte Projekt Planung, traduzido do alemão para Planejamento


de Projetos Orientado por Objetivos, se caracteriza por ser um método de planejamento
aplicado de maneira gradual, por meio de etapas sucessivas e interligadas e possibilitar a
permanente visualização e documentação das etapas do planejamento, ser fundamentado
no trabalho em equipe, ser de fácil compreensão e utilização. Além disso, se caracteriza
por ser um método lógico e aberto, possibilitando com isso adaptações e ajustes no
decorrer de sua implementação (GOMES, 2003).

Com esta metodologia, é possível planejar projetos consistentes, definir objetivos


claros e realistas com base numa análise de problemas, definir indicadores objetivamente
comprováveis para o acompanhamento e avaliação do projeto, melhorar a comunicação e
a cooperação entre as instituições, grupos e pessoas que participam do projeto, além de
definir as responsabilidades, direitos e deveres dos integrantes do projeto (GOMES,
2003).

(iii) O Planejamento participativo com visualização de resultados

O método de planejamento participativo com visualização de resultados consiste


em um conjunto articulado de instrumentos, voltado para assegurar maior participação,
objetividade e transparência aos processos coletivos de planejamento (AMARAL, 2006).

Em reuniões baseadas exclusivamente em comunicações orais, a participação fica


restrita a um pequeno número de participantes, que devido a características pessoais ou à
posição hierárquica, tende a monopolizar o uso da palavra. Outro problema frequente
nessse tipo de reuniões, refere-se .à dificuldade de se extrair das diversas intervenções
orais (nem todas focadas nos temas em questão) elementos sintéticos, capazes de exprimir
com objetividade e clareza os consensos (e mesmo os dissensos) alcançados durante a
reunião. O método de planejamento participativo busca superar essas dificuldades e
aumentar a qualidade dos processos de planejamento através do uso articulado de três
técnicas: visualização, moderação e dinâmica de grupo (AMARAL, 2006).

b) Ferramentas para avaliação e monitoramento de projetos

Para as etapas de Avaliação e Monitoramento deste trabalho, considerou-se


referenciais sobre (i) a Avaliação de projetos da Alan AtKinson Associates Inc. e também
sobre (ii) Indicadores de desempenho. A seguir encontra-se uma síntese dessa referências.

(i) Avaliação de projetos de Alan AtKinsson Associates Inc.

Esta metodologia foi originalmente desenvolvida para permitir que funcionários do


governo do estado de Washington-EUA implementassem leis de gestão de crescimento
econômico e monitorassem planos diretores de comunidades locais. O esquema de
AtKinson lida com alguns tópicos principais, cada um deles integrando questões sociais,
econômicas, culturais e ambientais: contribuição geral para a sustentabilidade, nível de
institucionalização e grau de abrangência e integração. Adaptadas para este trabalho,
encontram-se as premissas, sintetizadas abaixo. O Plano, para ser bem avaliado precisa ter
as seguintes características:

• Incorpora um entendimento integrado das áreas social, econômica, ecológica e cultural;

• Tem uma perspectiva de longo prazo (mínimo de 20 anos), ou seja, projeto leva em conta as
futuras gerações;

• Mantém ou restaura a saúde dos ecossistemas locais. Ele preserva a integridade ecológica e
não aumenta o consumo de recursos naturais locais;
• Mantém ou fortalece o dinamismo econômico. Ele gera ou apóia atividade econômica
suficiente para prover os bens necessários aos membros da comunidade;

• Promove a eqüidade e valoriza a diversidade. O projeto inclui em si mesmo os variados


componentes econômicos e sociais em jogo;

• Aumenta a resiliência dos sistemas humanos e naturais. Resiliência, neste caso, significa a
capacidade de se adaptar a circunstâncias mutantes ou adversas;

• Promove o uso cíclico de recursos. Ele reduz o consumo de recursos não-renováveis e


aumenta o uso regenerativo de recursos renováveis;

• Promove a redução de lixos e rejeitos. Ele não introduz novos tipos de materiais e resíduos
que possam poluir o ambiente;

• Estimula a participação de toda a comunidade afetada no processo de tomada de decisões.


Ele faz as pessoas se sentirem importantes e propicia uma participação que vai além do
círculo de líderes, sem quebrar as formas existentes de tomar decisões;

• Melhora a qualidade de vida e a sensação individual de bem-estar. A maior parte das


pessoas afetadas diria que a sua vida melhorou com o projeto;

• Encontra-se firmemente escorado na vida cívica da comunidade, tem penetração social e


política e mecanismos que podem concretizá-lo;

• Tem o apoio da comunidade afetada, pessoas cujas vidas sofrerão efeitos diretos do projeto;

• Bem compreendido pela comunidade afetada. A maioria entende o que o projeto tenta fazer
e como vai ser implementado;

• Apoiado por grupos de interesse relevantes. Isso inclui as empresas envolvidas;

• Aplicável, da teoria para a prática;

• Tem mecanismos eficientes de implementação. A administração, a estratégia e as táticas do


projeto são eficientes;

• Recebe atenção apropriada da mídia, a espécie e a quantidade de atenção necessária para


assegurar a implementação bem sucedida do projeto;

• Tem apoio de leis ou padrões éticos. Algum centro legítimo de autoridade assegura a sua
implementação;
• É integrado com esforços, iniciativas e programas similares existentes em outros
lugares. Existe uma consciência clara sobre outros grupos envolvidos em projetos
semelhantes e tentativas de trabalhar em conjunto com esses grupos.

Além disso, o âmbito e os recursos devem estar bem dimensionados em relação à


escala e aos prazos. O projeto precisa estar bem desenhado, com pessoal engajado e
suficiente, e o financiamento ser adequado para atingir as metas propostas (ATKINSON e
LAFOND, 1994).

(ii) Indicadores de desempenho

Indicadores são parâmetros qualificados ou quantificados que servem para detalhar


em que medida os objetivos de um projeto foram alcançados. Eles são ferramenta básica
para a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável, visto que podem dar a
medida de quanto se progride em direção aos objetivos estabelecidos (GOMES, 2005,
p.05). Uma avaliação criteriosa de um projeto que envolve uma comunidade pode ser uma
maneira de motivar as pessoas envolvidas a manter e ampliar as suas contribuições. Além
do mais, o debate em torno na noção de sustentabilidade tem buscado chamar a atenção
para elementos que tornem as práticas voltadas para a “sustentabilidade” mais reais e
menos ficções sociais .

A definição de um esquema de indicadores integrados de sustentabilidade se


fundamenta no fato de que sustentabilidade é mais um processo do que um fim. Em tal
esquema, sustentabilidade é encarada como uma visão de longo prazo, integrada e
sistêmica na qual a definição de normas, valores e critérios são especificadas para cada
caso, tempo e lugar (AtKisson e LaFond, 1994).

Abaixo encontra-se uma síntese de vantagens e limitações no uso de indicadores.


Quadro 1. Síntese de vantagens e limitações da aplicação de indicadores e índices de
desenvolvimento sustentável.
Vantagens Limitações
• Avaliação dos níveis de desenvolvimento • Inexistência de informação-base;
sustentável;
• Dificuldades na definição de expressões
• Capacidade de sintetizar a informação de caráter matemáticas que melhor traduzam os
técnico-científico; parâmetros selecionados;
• Identificação de variáveis-chave do sistema; • Perda de informação nos processos de
agregação de dados;
• Facilidade de transmitir a informação;
• Diferentes critérios na definição dos limites de
• Bom instrumento de apoio à decisão e aos
variação do índice em relação às imposições
processos de gestão ambiental; prestabelecidas;
• Sublinhar a existência de tendências;
• Ausência de critérios robustos para seleção de
• Possibilidade de comparação com padrões e/ou alguns indicadores;
metas pré-definidas.
• Dificuldades na aplicação em determinadas
áreas como o ordenamento do território e
paisagem.

Fonte: Adaptado pela autora de (DGA, 2000).

Estes foram os referenciais teóricos que nortearam a elaboração do presente


trabalho. Como se pode verificar, alguns dos temas abordados são complexos, e é possível
afirmar que não exista bibliografia consolidada sobre alguns destes temas. Porém, é
possível crer que, a partir deste embasamento teórico, a sistematização do problema, bem
como a proposta de solução, se tornem mais próximos do possível e considerem as
práticas já existentes.

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