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Faculdades Ibmec Minas Gerais – IBMEC/MG

Curso: Ciências Econômicas – 5º Período


Disciplina: Competição Imperfeita e Teoria dos Jogos
Prof.: Dr. Cláudio D. Shikida

Reputação, Normas Sociais e Teoria dos Jogos na História:


Um estudo sobre o sistema familiar
e a imigração japonesa no Brasil
(Novembro de 2008)

Navio a vapor japonês (Kasato Maru), atracado nas docas do porto de Santos, em 1908

Integrantes:
Éverton Coelho Gomes
Felipe Gontijo Fonseca
Márcio J. Freire
Renato Moreira Byrro
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Índice

I. INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 6

II. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA .............................................................................. 7

III. NARRATIVA ANALÍTICA.............................................................................................. 11

IV. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 18

V. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 20

VI. ANEXOS .......................................................................................................................... 21

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I. Introdução

A imigração japonesa no Brasil no início do séc. XX foi de grande importância para a formação
da sociedade brasileira, principalmente na constituição da população do Estado de São Paulo, e
para o desenvolvimento da economia cafeeira nesse mesmo Estado, que na época enfrentava
uma grande escassez de mão-de-obra.

Baseada nesse relevante tema, a socióloga Ruth Cardoso (1930-2008) escreveu o livro Estrutura
Familiar e Mobilidade Social - estudo dos japoneses no Estado de São Paulo no qual ela expõe, como o
próprio nome do livro já nos remete, a estrutura familiar dos japoneses e como essa estrutura
propiciou a emigração e o estabelecimento do colonato japonês na região.

O objetivo do nosso trabalho é utilizar a modelagem de Teoria dos Jogos proposta por alguns
autores com Tullock e Klein, que inclui o jogo Dilema dos Prisioneiros e algumas variações do
problema de cooperação ou não-cooperação com mais de dois jogadores, nas formas normal e
extensiva, para explicar o modo como esses imigrantes japoneses emigravam do Japão, muitas
vezes em famílias constituídas de pessoas sem laços consangüíneos, o porquê disso e as razões
que os levava a emigrar em detrimento de ficar em seu país natal. Além disso, explicar as razões
pelas quais os imigrantes não abandonavam cooperação no momento em que chegavam ao
Brasil.

A estratégia cooperativa para o imigrante, no caso do ‘dilema japonês’, resume-se em esforçar-se


para consumir menos e, consequentemente, contribuir para a poupança e a ascensão sócio-
econômica da família no futuro.

Para sustentar essas explicações, a estrutura familiar descrita por Ruth em seu texto é de extrema
importância, pois nos mostra o modo da família típica japonesa: patriarcal e hierárquico. Essa
estrutura e o contexto vivido pelos japoneses no período ao qual estamos nos referindo serão
melhor descritos na próxima seção. Inclui-se também algumas hipóteses sobre a estrutura familiar
que serão explicitadas no decorrer do texto.

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II. Contextualização Histórica

Para se discutir a organização dos imigrantes japoneses no Brasil e o seu posterior sucesso em se
estabelecer, é preciso antes entender como esses japoneses se organizavam enquanto sociedade e
família no Japão.

De acordo com Befu1 (1962, apud CARDOSO; RUTH), a família no Japão pode ser entendida
como unidade de parentesco, que leva em conta os laços sanguíneos, e como unidade
corporativa, no qual o importante é a perpetuação de todos os fatores que definem o grupo
familiar. Essas unidades podem ser independentes na medida em que laços sanguíneos podem se
manter mesmo após a mudança dos fatores definidores da família ou uma outra pessoa que entra
para a família para dar continuidade ao nome e ocupação dela.

A família japonesa ainda possuía um sistema hierárquico e de descendência patrilinear, no qual o


primogênito do sexo masculino é o herdeiro direto. E essa característica permanece mesmo após
a Segunda Guerra, como demonstra estudo de Befu (1963, apud CARDOSO; RUTH). Esse
herdeiro se tornará o chefe de família, exceto em casos em que não haja um primogênito do sexo
masculino ou que ele seja inapto a obter o maior bem para o grupo doméstico. Nas palavras de
Brown2 (1966, apud CARDOSO; RUTH, p. 1132), “O ideal predominante é de que o grupo
doméstico e a linha de descendência devem continuar através de um número infinito de gerações.
O ideal de que o filho mais velho seja o herdeiro e sucessor é secundário com relação a este
primeiro valor mais abrangente. Se o filho mais velho sucedesse o pai e herdasse a propriedade
familiar, isto seria, em alguns casos, prejudicial à prosperidade das pessoas envolvidas. Em tais
situações, se a continuidade e prosperidade do grupo residencial e da família podem ser
garantidas mais adequadamente por outra pessoa que não o filho mais velho, as decisões que
alteram a primogenitura masculina são obtidas com um mínimo de discordância”. Esse substituto
pode ter laços de sangue com a família ou não, caso em que é chamado de mukoyoshi e
obrigatoriamente “toma o sobrenome e seita budista da família adotiva, cultua os seus ancestrais
e se prepara para levar adiante o trabalho familiar” (Befu, 1962, apud CARDOSO; RUTH).

1 BEFU, H. Types of corporate unilineal descendent groups. American Anthropologist, vol. 64:313-27, 1962.
2 BROWN, Keith. Dozoku and the ideology of descent in rural Japan. American Anthropologist, vol. 68:1129-1151,
1966.
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Percebe-se nesta idéia que a família japonesa é definida como uma unidade de trabalho e
consumo. Neste país a continuidade do grupo mesmo em detrimento dos “liames de sangue”
ajuda a explicar porque algumas famílias que imigraram para o Brasil nada mais eram do que uma
reunião de adultos não relacionados que concordaram em estabelecer vínculos legais para poder
emigrar (Saito3, 1960; 1961, apud CARDOSO; RUTH). Estes vínculos também demonstram a
facilidade de utilização dos mecanismos de incorporação de não parentes às famílias.

Na família japonesa o chefe de família é o administrador da unidade econômica familiar e cabe a


ele levar adiante os negócios da família. A continuidade do nome da família está a seu cargo,
assim como outras celebrações.

Na estrutura familiar japonesa existe um agrupamento entre famílias maior chamado dozoku que
podia ser classificado como “uma corporação hierarquicamente organizada de famílias
patrilinearmente relacionadas (de modo fictício ou qualquer outro), na qual o tronco familiar e
suas ramificações estão mutuamente ligados por relações complexas de obrigações recíprocas”,
como pode ser visto em Befu (1963, apud CARDOSO; RUTH, p. 1331) e Brown (1966,
CARDOSO; RUTH, p. 1130); e além dessa relação genealógica há também necessariamente uma
relação econômica (Nakane4, 1967, apud CARDOSO; RUTH).

Neste conjunto, o patriarca é o guardião da propriedade e das virtudes familiais e por isso os bens
e o nome não pertencem a ele, mas ao grupo que representa. Apesar disso, os chefes de cada
família desfrutarão de certa liberdade restrita só pela obediência ao chefe principal, com suas
funções variando de importância conforme o prestígio de sua casa (CARDOSO, 1995).

O sistema hierarquizado, com o pai no topo e os níveis de autoridade definidos para cada pessoa,
são efetivos porque a transgressão implica em perda de honra, que é exatamente o fator que
define a posição na família (CARDOSO, 1995). Há também o chamado on, que é uma dever das
pessoas para com seus superiores; quando considerado na família, o filho tem um on para com
seus pais, o que significa que, conforme apresentado por Benedict5 (1946, CARDOSO; RUTH),
o on se expressa em termos de uma dívida de obediência em que os filhos são devedores e se
esforçam por pagar.

3 SAITO, Hiroshi. A família do imigrante japonês para o Brasil. Editora Sociologia e Política, 22, 1:12-28, 1960.
SAITO, Hiroshi. O japonês no Brasil: estudo da mobilidade e fixação. São Paulo, Editora Sociologia e Política, 1961.
4 NAKANE, Chie. Kinship and economic organization in rural Japan. Londres, Athlone Press, 1967.
5 BENEDICT, Ruth. The chrysanthemum and the sword, Houghton Mifflin Company; Boston, 1946.

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Peculiaridades, como a adoção do mukoyoshi e outras, mostram como os laços de sangue são
distintos dos interesses empresariais na concepção tradicional japonesa de família.

Descrito toda a forma de como a família japonesa se relacionava entre os membros, cabe-nos
voltar à questão do sucesso desta estrutura familiar no Brasil.

Inicialmente, a imigração japonesa foi familiar e estas famílias viviam relativamente isoladas nas
colônias das fazendas. A vida cotidiana era difícil e a convivência pobre nas colônias japonesas
em sua fase inicial. Os imigrantes preocuparam-se apenas com o trabalho, quase sem nenhum
tempo para as atividades ociosas (CARDOSO, 1995).

Segundo Handa6 (1968, apud CARDOSO; RUTH), esta situação melhora quando estas famílias
conseguem sair das fazendas de café para transformarem-se em sitiantes. Neste ponto, já
começam a aparecer traços da cultura japonesa sendo cultivada nos seus lares.

Este panorama mostra que o colono japonês concentrou todo o seu esforço na capitalização
necessária para superar as condições iniciais de trabalho. Nesta época os imigrantes se
despojaram de muitos aspectos de sua vida tradicional no período de colonato que caracterizou
pelo trabalho.

Os objetivos que originaram a emigração foram alcançados devido ao padrão mínimo de


subsistência, e isso acontece porque o chefe da família é quem controla o orçamento e recebe o
total do trabalho de todos administrando-as como algo coletivo.

Entretanto, o colono não se torna arrendatário ou pequeno proprietário exclusivamente por sua
capacidade de poupança. É preciso agregar outro fator atuante nesse processo, o aparecimento da
noção de colônia japonesa. Num momento de arrendar ou comprar um novo sítio, amigos ou
parentes já estabelecidos aparecem como intermediários dando simples conselhos ou fornecendo
empréstimos aos compatriotas, criando um novo vínculo de relações onde o grupo familiar
guarda sua importância, mas amplia-se através de outras formas de sociabilidade (CARDOSO,
1995).

A partir de então, os núcleos de imigrantes formaram cooperativas ou outras associações


menores e este é um dos caminhos pelo qual ganha consistência a idéia de colônia japonesa.

6HANDA, Tomoo. A decadência do senso estético numa fase da vida dos imigrantes japoneses no Brasil. –
“Simpósio” O Japonês em S. Paulo e no Brasil, ed. mimeografada; 1968.
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As relações familiares discutidas anteriormente demonstram o sucesso destas iniciativas com a
colaboração de todos os membros no sentido de alcançar o objetivo principal de independência
econômica dos colonos japoneses.

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III. Narrativa Analítica

Retomando a pergunta (problema) levantada a partir da bibliografia histórica7:

Porquê o sistema de cooperação familiar da imigração japonesa funcionava, apesar dos jogadores
(imigrantes) não contarem com o fator reputação8 para se defenderem de maus jogadores?

Da pergunta central, se desprendem três ‘sub-perguntas’ a serem avaliadas:

a. Porquê os japoneses se associavam a uma família para emigrar?

b. Porquê as famílias aceitavam a entrada de japoneses não consangüíneos em suas


unidades?

c. Porquê os integrantes da família imigrante colaboravam para a ascensão sócio-


econômica da unidade familiar no Brasil?

A contextualização histórica relatada no item anterior nos revela diversas normas sociais
presentes na cultura japonesa que – é bem razoável assumir – contribuíram para o sucesso dos
imigrantes japoneses no Brasil.

Através da modelagem de Teoria dos Jogos, procuraremos identificar a estratégia por trás do
comportamento dos imigrantes japoneses e das famílias, além da influência que os valores sócio-
culturais provenientes da sociedade japonesa influíam neste comportamento.

A seguir, as hipóteses levantadas para o problema a partir da contextualização histórica:

a. Os japoneses podiam escolher seu(s) parceiro(s) de jogo, ou seja, os japoneses tinham


liberdade para escolher em que família ingressar para emigrar e as famílias, por sua
vez, tinham liberdade para aceitar ou não a entrada de um japonês em suas unidades.

7 CARDOSO, Ruth. Estrutura familiar e mobilidade social: estudo dos japoneses no Estado de São Paulo. São Paulo,
Primus Comunicação, 1995.
8 É razoável supor que eram raríssimos os casos de um imigrante japonês que viera ao Brasil, retornara ao Japão e se

oferecesse a ingressar em uma família pra nova emigração. Desta forma não havia como se conhecer previamente
qual o comportamento de um jogador (japonês). Além disso, uma vez realizada a emigração, não havia mais como
voltar atrás na decisão. Percebe-se que o fator geográfico impedia a defesa dos jogadores a partir da reputação dos
demais.
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b. O patriarca sempre colaborava para a ascensão sócio-econômica da família, fiscalizava
a atuação de cada integrante da família e tinha poder de coerção para fazer cumprir
sua vontade.

c. Se um integrante não cooperava, poderia ser punido pelo patriarca, perdendo


prestígio na hierarquia familiar e participação na ocupação ou nos negócios da família.

d. Emigrar em família era melhor para os japoneses, pois se valiam da cooperação de um


grupo coeso, ao invés de depender unicamente do próprio esforço.

O caso da imigração japonesa se assemelha a um jogo de ‘dilema dos prisioneiros’. Para os


imigrantes, o jogo era repetido indefinidamente, pois, uma vez realizada a emigração, havia
restrições financeiras e geográficas impeditivas para voltar atrás na decisão, e a cada instante os
integrantes das famílias se viam no dilema de cooperar ou não para a poupança e a ascensão
sócio-econômica da unidade familiar.

Apresentamos abaixo o caso clássico de Dilema dos Prisioneiros9:

Jogador 1

Coopera Não coopera

Jogador 2 Coopera 1,1 -2 , 2

Não coopera 2 , -2 -1 , -1

Se jogado apenas uma vez, o Equilíbrio de Nash (NE) seria o resultado (não-coopera ; não-
coopera). Se for jogado infinitamente, em estratégia de gatilho, não há consenso sobre o
resultado de equilíbrio, segundo Tullock.

Neste último caso, teria de ser verificada a taxa de desconto intertemporal dos jogadores, para
avaliar se haveria equilíbrio no resultado (coopera ; coopera) ou se um ou ambos os jogadores
perceberiam benefício em desviar da estratégia de cooperação. Esta situação, no entanto, não será
avaliada neste trabalho. O dilema da imigração japonesa é repetido indefinidamente, mas
encararemos o jogo como sendo jogado apenas em um instante do tempo.

9KLEIN, D. B. Reputation – studies in the voluntary elicitation of good conduct. The University of Michigan Press,
1997. [Tullock, Gordon, Chapter: Adam Smith and the Prisioners’ Dilemma, pág. 21]

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No caso da imigração japonesa, consideremos – para fins de simplificação do modelo – uma
família constituída apenas de um patriarca e dois integrantes (Sushi e Sashimi) subordinados na
hierarquia familiar. O jogo a seguir (uma adaptação do dilema clássico dos prisioneiros) revela os
pay-offs destes dois integrantes, partindo da hipótese de que o patriarca sempre coopera:

Sushi
coopera não coopera
coopera 3,3 2,1
Sashimi
não coopera 1,2 1, 1

Obs 1.: a cooperação, aqui, é em gastar menos, colaborando com uma acumulação de poupança e
com a ascensão sócio-econômica do grupo familiar.

Obs 2.: definimos, para este e os próximos jogos, que a cooperação de cada integrante familiar,
inclusive do patriarca, tem o valor de 1 (uma unidade).

Já vimos10 que o patriarca controla todas as finanças da família e assumimos a hipótese de que
tem poder de coerção sobre os integrantes familiares subordinados a ele. Mas porque os
integrantes não preferiam desviar da estratégia de cooperação?

Vejamos: suponhamos o quadrante superior direito, no qual Sashimi coopera e Sushi não
coopera. Neste caso, Sushi perderia prestígio perante o patriarca e não usufruiria dos benefícios
gerados pelo grupo familiar. Ao mesmo tempo, a família não receberia a cooperação de Sushi.

Assim, o pay-off para Sushi é 1 (perde a participação na colaboração de Sashimi e do patriarca e


fica apenas com o resultado do esforço próprio) e para Sashimi é 2 (conta com a sua própria
colaboração e a do patriarca).

No caso da colaboração mútua, ambos os integrantes recebem um pay-off de 3, que reflete a soma
das colaborações do patriarca, de Sashimi e de Sushi. A soma (3) é usufruída por toda a família.

Podemos observar que o resultado (coopera ; coopera) é um NE para o dilema dos japoneses.
Além disso, a cooperação é estratégia dominante para ambos os jogadores. Independentemente
da estratégia adotada por Sushi, Sashimi sempre escolherá a colaboração, e vice-versa.

10 Vide item: ‘Contextualização Histórica’

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A fim de tornar mais realista a modelagem de Teoria dos Jogos para o caso histórico,
construímos um jogo com mais de dois jogadores. Apresentamos abaixo, primeiro, o caso
clássico do dilema dos prisioneiros trazido por Tullock.

Pode-se observar que, no caso clássico, a estratégia dominante é a não cooperação,


independentemente da configuração de estratégias dos demais jogadores.

Jogador 1

Coopera Não coopera


Todos cooperam (4 jogadores) 9 10
3 cooperam e 1 não coopera 7 8
2 cooperam e 2 não cooperam 5 6
1 coopera e 3 não cooperam 3 4
Nenhum coopera (4 jogadores) 1 2

Já no caso do Dilema dos Japoneses para vários jogadores, os pay-offs mudam substancialmente e
observamos que a estratégia dominante para Sushi, Sashimi ou qualquer outro integrante é
sempre a cooperação, independentemente da configuração de estratégias do restante da família.

Sushi, Sashimi, etc.

Coopera Não coopera


Todos cooperam 6 1
3 cooperam e 1 não coopera 5 1
2 cooperam e 2 não cooperam 4 1
1 coopera e 3 não cooperam 3 1
Nenhum coopera 2 1

Caso o jogador não coopere, verá manchada a sua honra perante o patriarca e perderá o usufruto
da cooperação dos demais integrantes da família que vierem a colaborar.

Os pay-offs para a estratégia da cooperação representam sempre a soma do número de integrantes


colaboradores, inclusive a do jogador em questão (Sushi, Sashimi, ou qualquer outro), além do

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acréscimo de uma unidade referente à cooperação do patriarca. Para a não cooperação, o jogador
fica sempre com um pay-off de uma unidade, que equivale ao seu próprio esforço individual.

Até aqui, analisamos o comportamento estratégico dos imigrantes problema histórico partindo
do pressuposto de que a família já se encontra em solo brasileiro. Avaliemos, agora, em um jogo
na forma extensiva, com que situação se deparavam – estando ainda no Japão – os japoneses e as
famílias no momento de decidir, respectivamente, ingressar numa família e aceitar um novo
integrante para emigrar.

Vejamos, primeiramente, o caso de uma família que se constitui – patriarca e Sashimi, por
exemplo – para emigrar e se depara com a opção de aceitar ou não a entrada de Sushi, por
exemplo, em sua unidade familiar:

Vemos, neste caso, que, se a família não aceita o japonês (Sushi, no exemplo), tem um pay-off de 2.
Caso aceite o seu ingresso na unidade familiar e emigre para o Brasil, o pior pay-off alcançado
(caso Sushi não coopere após chegar ao Brasil) é, também, de 2 (supomos que Sashimi cooperará
no Brasil). Ou seja, a família não tem perdas por arriscar a aceitação da entrada de um novo
integrante. Esta configuração de pay-offs se contrapõe e compensa o problema tratado
anteriormente da ausência do mecanismo de defesa por reputação.

Vejamos agora o caso de Sushi, ao se deparar com a opção de ingressar numa família ou não para
emigrar:

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Os pay-offs, neste caso, são os mesmos do primeiro jogo apresentado, de Dilema dos Japoneses
para o caso de uma família com um patriarca e dois integrantes (supondo que Sushi cooperará).

Podemos observar que, para o imigrante individual, é mais atraente ainda aceitar a opção de
ingressar na família. O pay-off alcançado permanecendo no Japão é 1/2 (ou 0,5) 11, enquanto o
pior cenário possível emigrando com a família é um pay-off de 2 (supondo, obviamente, que sushi
irá cooperar uma vez tendo chegado ao Brasil). Mesmo que Sushi não coopere, ainda terá um pay-
off de 1 – referente ao seu esforço individual –, maior do que permanecendo no Japão sozinho.

Os modelos de jogos em forma extensiva corroboram a hipótese de que, para os japoneses, era
mais vantajoso emigrar em família do que individualmente.

Além disso, tanto os jogos na forma normal quanto extensiva demonstram que o poder de
controle e coerção exercido pelo patriarca realmente leva ao resultado de cooperação como
estratégia dominante para todos os integrantes da família.

Não avaliamos, por certo, a hipótese de dissimulação por parte dos imigrantes subordinados ao
patriarca. Vimos na contextualização histórica que o patriarca controlava todas as finanças da
família. No entanto, pode ter havido casos – e, pelo mesmo fato de ter sido dissimulado e
escondido, seria muito difícil encontrarmos dados históricos – em que um ou mais integrantes de
uma família falsearam o resultado de seu trabalho, entregando ao patriarca o controle de uma
quantia menor do que a efetivamente produzida.

11 Consideramos que as condições no Japão eram piores que no Brasil à época, fazendo com que o pay-off de um
integrante no Japão seja menor do que o mesmo indivíduo no Brasil – é óbvio assumir, pois se a situação do japonês
no Brasil fosse pior, não haveria interesse na emigração.
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Caso os imigrantes encontrassem uma maneira de desviar da estratégia de cooperação desta
forma, os modelos construídos neste trabalho perderiam totalmente sua validade, pois ficaria
comprometida a hipótese de controle total por parte do patriarca. Outras hipóteses deveriam ser
construídas para este caso específico, que giraria em torno do embate entre o benefício de desviar
da cooperação contra os valores morais da cultura japonesa, que orientam ao dever de colaborar
na família.

Também ficaram demonstradas as respostas para a pergunta principal e as sub-perguntas surgidas


a partir do problema analisado.

Apesar de não haver o mecanismo da reputação, a configuração de pay-offs com que se deparam
tanto a família quanto um imigrante individual, propiciavam a associação familiar com intuito de
emigração.

Além disso, demonstramos por que era interessante para os imigrantes individuais ingressarem
numa família, e por que era interessante para a família aceitar o ingresso de um integrante não
consangüíneo.

Vimos, também, a resposta para o questionamento a respeito do porquê da colaboração por parte
dos imigrantes para a ascensão sócio-econômica da família: a estratégia dominante, tanto para um
jogo de dois jogadores quanto acima de dois, é sempre a cooperação.

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IV. Conclusão

Percebe-se que os imigrantes vindos do Japão se estabeleceram de forma bastante efetiva na


sociedade brasileira, e a leitura do texto base para o nosso trabalho, de autoria da socióloga Ruth
Cardoso, evidencia esse fato e dá como provável resposta para esse sucesso do estabelecimento, a
estrutura familiar japonesa.

A partir dessa suposição e de algumas hipóteses formuladas por nosso grupo, conjuntamente
com o arcabouço teórico de Teoria dos Jogos, a pergunta principal que formulamos foi
respondida.

Por que o sistema de cooperação familiar da imigração japonesa funcionava, apesar dos jogadores
(imigrantes) não contarem com o fator reputação para se defenderem de maus jogadores?

Para responder essa pergunta, surgiram três perguntas adjacentes:

a. Por que os japoneses se associavam a uma família para emigrar?

- Pudemos observar que no pior cenário possível depois que os japoneses emigravam, seu
payoff ainda era maior do que se ficasse no Japão.

b. Por que as famílias aceitavam a entrada de japoneses não consangüíneos em suas


unidades?

- Se a família aceitasse a entrada de membros não consangüíneos em suas unidades teriam


a possibilidade de ter um maior payoff, do que se não aceitassem. Na pior das hipóteses,
com o membro não consangüíneo não cooperando, eles ficariam com o mesmo payoff do
que se não tivessem aceitado o novo integrante.

c. Por que os integrantes da família imigrante colaboravam para a ascensão sócio-


econômica da unidade familiar no Brasil?

- Vê-se que cooperar é uma estratégia dominante para todos integrantes da família,
inclusive para o novo integrante, que caso não cooperasse, ficaria em situação pior do que
em cooperação. A ascensão social em família acontecia de forma mais rápida.

Nota-se que todo o fundamento para responder essas três perguntas se baseou na forte estrutura
patriarcal japonesa, e esse modo familiar que prospera durante séculos no Japão, foi o que levou a
um bom funcionamento do sistema de cooperação familiar da imigração japonesa no Brasil.
Página 18
Página 19
V. Bibliografia

BEFU, H. Types of corporate unilineal descendent groups. American Anthropologist, vol.


64:313-27, 1962.

BENEDICT, Ruth. The chrysanthemum and the sword, Houghton Mifflin Company; Boston,
1946.

BROWN, Keith. Dozoku and the ideology of descent in rural Japan. American Anthropologist,
vol. 68:1129-1151, 1966.

CARDOSO, Ruth. Estrutura familiar e mobilidade social: estudo dos japoneses no Estado de São
Paulo. São Paulo, Primus Comunicação, 1995.

HANDA, Tomoo. A decadência do senso estético numa fase da vida dos imigrantes japoneses
no Brasil. – “Simpósio” O Japonês em S. Paulo e no Brasil, ed. mimeografada; 1968.

KLEIN, D. B. Reputation – Studies in the voluntary elicitation of good conduct. The University
of Michigan Press, 1997.

NAKANE, Chie. Kinship and economic organization in rural Japan. Londres, Athlone Press,
1967.

SAITO, Hiroshi. A família do imigrante japonês para o Brasil. Editora Sociologia e Política, 22,
1:12-28, 1960.

SAITO, Hiroshi. O japonês no Brasil: estudo da mobilidade e fixação. São Paulo, Editora
Sociologia e Política, 1961.

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VI. Anexos

Entrevista de Ruth Cardoso dada ao jornal Nippo-Brasil

Fonte: (Ruth Cardoso: respeito pelos imigrantes japoneses; Entrevista: Cinthia Yumi;
http://www.nippobrasil.com.br/2.semanal.entrevistas/462.shtml; acesso em 19/11/2008 às 20h)

Nippo-Brasil: Seu livro Estrutura familiar e Mobilidade Social trata sobre a inserção dos
japoneses no Brasil, e, especificamente no Estado de São Paulo. Falando em herança
cultural familiar, o que ficou dos primórdios da imigração para as gerações de hoje?

Ruth Cardoso - O caso da imigração japonesa é muito especial e interessante porque os japoneses
tiveram uma assimilação rápida, apesar das diferenças culturais. Por outro lado, eles conseguiram
preservar a cultura tradicional. Foi um processo que permitiu a junção do tradicional aplicado à
realidade brasileira. Ou seja, houve uma grande integração, mantendo a identidade nipo-brasileira.

NB - A senhora acha que as novas gerações têm orgulho em carregar o “DNA japonês”?

RC - Com certeza. As gerações mais jovens têm desenvoltura e valorizam a cultura japonesa. O
Japão tem uma imagem positiva, de um país sério, que deu certo. Isso faz com que os
descendentes se sintam orgulhosos. O Japão é o exemplo de que, para ser global, não é
necessário perder as características próprias.

NB - Em sua opinião, em cem anos de imigração no Brasil, quais foram os principais


trunfos no relacionamento Brasil-Japão? E os fracassos?

RC - Houve alguns momentos dramáticos como a lei de cotas, nos anos 20, na tentativa de
diminuir o fluxo migratório, a guerra e o pós-guerra. Mas, a partir daí, acredito que a comunidade
nipo-brasileira começou a se desenvolver no Brasil. Hoje temos grandes nomes na sociedade, ou
seja, imigrantes e descendentes totalmente integrados à sociedade.

NB - Há quem diga que o fenômeno dekassegui se consolidou por causa da difícil


situação econômica do Brasil. No caso dos nikkeis, são muitos universitários que deixam
de exercer suas funções para se tornar mão-de-obra não qualificada no Japão. E pior, são
filhos de imigrantes que se sacrificaram para pagar a faculdade dos filhos. A senhora
concorda que a situação desses pais é frustrante?

RC - Acho que se trata de uma decisão individual e voluntária. Essas pessoas decidem ir ao Japão
em busca de um sonho de estabilidade financeira, de permanecer um tempo por lá e voltar ao
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Brasil. E, embora haja essa comunidade de brasileiros permanente por lá, muitos voltam ao Brasil
depois de conquistar seus objetivos.

NB - Mas a situação do dekassegui hoje é mais difícil do que a do imigrante no Brasil do


início do século 20?

RC - Com certeza. Quando o imigrante japonês veio ao Brasil, ele chegou aqui num cenário
econômico mais favorável. O imigrante, ainda que diante de tantas dificuldades, pôde comprar
terras e prosperar economicamente. Além disso, o governo japonês apoiou esses imigrantes por
meio das companhias de imigração. Havia um apoio governamental muito grande naquela
ocasião. Hoje, os dekasseguis vão ao Japão para enfrentar um trabalho duro. Além disso, há a
cobrança do idioma japonês, uma vez que levam no rosto os traços orientais.

NB - A senhora acha que o governo brasileiro poderia pensar em uma política de


migração ou emigração?

RC - O governo brasileiro procura dar respaldo por meio de programas de orientação, apoio nos
casos de criminalidade envolvendo brasileiros, incentivo no aprendizado do idioma japonês. Mas,
de maneira geral, não acho que o governo deva criar políticas de emigração, porque isso não é
interessante para o nosso país. Quando o Japão incentivou a emigração, o país necessitava que os
seus cidadãos fossem buscar meios de sobrevivência em outros países. Esse não é o caso do
Brasil.

NB - Mas o Conselho Nacional de Imigração, que é vinculado ao Ministério do


Trabalho, pela primeira vez, pensa em adotar medidas relativas aos emigrantes
brasileiros. O que a senhora acha disso?

RC - Bem, acho interessante que o governo demonstre esse interesse, mas não acho que deva ser
uma prioridade de governo, um item das diretrizes políticas de nosso país.

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