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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

(Sexta-Feira, 25 de Setembro de 2009, 11h-12h30 –


Aula Teórica)

➢ O ser humano é um animal político e social, tal como


Aristóteles afirmou, mas também racional que
necessita de um conjunto de normas para viver em
sociedade;
➢ O Direito é uma realidade somente dos seres
humanos, dado que noutros casos não se aplicam
normas jurídicas;
➢ As regras éticas, de trato social, religiosas não são
normas jurídicas, apesar de disciplinarem a vida das
pessoas;
➢ A criação do Estado é um facto bastante posterior à
existência do Direito. Assim, nem todas as normas
jurídicas são provenientes desta realidade moderna do
século XV. Existem instituições supranacionais, como a
ONU, que produzem normas jurídicas. Todavia, na
actualidade, a grande maioria das normas são
provenientes do Estado. Instituições como a União
Europeia impõem normas jurídicas aos Estados que
abdicam de parte da sua soberania. Podemos, por
isso, falar de “erosão estadual”;
➢ Compete, principalmente, à Assembleia da República
produzir e proclamar normas gerais e abstractas, sob
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a forma de suporte escrito. Todavia, em tempos mais


remotos, existiam igualmente normas não-escritas
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(consuetudinárias), com igual valor (p.e. costume) que


advêm de práticas regulares de uma sociedade. O
costume é, por isso, também uma fonte de Direito. Em
países europeus, como a Inglaterra ou em diversos
países do continente africano, o costume assume
primordial importância;
➢ Noutros tempos, a Lei não assumia a primazia das
fontes de Direito. Daí que tenhamos que relativizar o
poder da Lei;
➢ Estabelece-se uma conexão entre Direito e Justiça,
dado que as normas jurídicas ambicionam este
objectivo. Atentando no exemplo dos condenados pelo
Tribunal de Nuremberga por crimes contra a
Humanidade (pós-II Guerra Mundial), verificou-se que
os seus actos, apesar de estarem de acordo com o
regimento da época, não estavam de acordo com o
ideal de Justiça. O sistema vigente não foi auto-
legitimado;
➢ A culpa é uma censura pessoal. A actuação ilícita
distingue-se da censura pessoal;
➢ Em determinadas situações excepcionais, alguns
valores se alevantam e se sobrepõem às normas
jurídicas. A violação do princípio da independência
nacional pode suceder, se estiver em causa a
dignidade humana da população do Estado invadido,
impondo-se uma intervenção de carácter urgente.
Assim, acima da Lei, está o Direito;
➢ O Direito deve ser considerado também um conjunto
de valores e não apenas de Leis, esta é a concepção
do Estado de Direito material.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Terça-Feira, 29 de Setembro de 2009, 9h-11h –
Aula Prática)

➢ Mesmo as normas que regulam a actividade do


Presidente da República são gerais, dado que se
destinam às sucessivas pessoas que vão ocupando
esse cargo;
➢ Nem todo o Direito é de origem estadual. Existem
normas provenientes de práticas regulares
(consuetudinárias) e de organizações de âmbito
regional (infra-estadual), supranacional e
intergovernamental (Direito Internacional Público) com
carácter obrigatório;
➢ As normas de carácter social podem adquirir
relevância jurídica;
➢ A não observância das normas jurídicas, adaptando-as
aos tempos presentes, torna-as “letra morta”;
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➢ Por Direito válido, entende-se todo aquele que procura


preservar o valor da justiça – Validade do Direito. É
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relevante para o Direito a eficácia das normas,


colocando-se à disposição meios coercivos que
asseguram o seu cumprimento. Porém, quando uma
norma é violada, foi ferida na sua eficácia, mas
permanece válida.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Sexta-Feira, 02 de Outubro de 2009, 11h-12h30 –
Aula Teórica)

➢ Nas sociedades contemporâneas, nomeadamente a


portuguesa, a principal fonte de Direito é a Lei.
Todavia, a Lei não está acima do Direito. Aliás,
considera-se que uma lei injusta é uma “corrupção do
Direito”;
➢ Consultar posição de Paulus no livro do professor
Oliveira Ascensão;
➢ O Direito vive ancorado ao valor da justiça, valor
incessantemente procurado, mas nunca alcançado na
plenitude;
➢ O Direito vigente no nazismo estava
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desfuncionalizado, instrumentalizado, pois não


defendia uma concepção de justiça, parte fundamental
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do Direito. Não podemos entender “justiça” e “Direito”


como dois conceitos separados ou considerar apenas
que o Direito tem como fim a Justiça;
➢ A discriminação racial promovida pelo Direito no
tempo do Nazismo era incompatível com os valores
defendidos pelo Direito, nomeadamente o da
preservação da dignidade humana e a igualdade entre
pessoas.
➢ O Direito Constitucional, surgido no século XIX,
assume uma posição de superioridade sobre o
legislador constitucional, que não pode violar os
princípios contidos na Constituição;
➢ Se entendermos o Direito enquanto aquele que é
produzido pelas entidades competentes, estamos
perante Positivismo Legalista. Todavia, o Direito não
se deve resumir a este conceito. Em certos casos,
desobedecer a uma autoridade competente e
detentora de poder pode ser lícito e inclusive um
dever em nome do Direito e de um ideal de Justiça;
➢ No período denominado PREC (Processo
Revolucionário em Curso), em Portugal, não vigorava
nenhuma Constituição, mas existia Direito, o que
comprova que o conceito de “Direito” vai mais além
do mero conjunto de normas (prof. Castanheira Neves)
– concepção não-positivista legalista / normativista;
➢ O grande problema do Positivismo Legalista prende-se
com o abuso de poder praticado pelo legislador que
autolegitima as normas;
➢ O Direito não se reduz ao modo como se implanta na
vida social. Fenómenos como a corrupção ou o furto
são factos extremamente popularizados e enraizados
que não podem ser compatíveis com o Direito. Nem
tudo aquilo que observamos na vida social está
conforme com o Direito. Se assim fosse, o Direito seria
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moldado de acordo com a vontade da sociedade. A


formação de consensos generalizados numa sociedade
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pode conduzir à prática de actos contrários ao Direito


e ao ideal de Justiça (ex: eliminação de uma minoria
étnica no Ruanda) – Positivismo Sociológico Falacioso;
➢ A formação de maiorias em sistemas democráticos
pode conduzir ao abuso de poder da facção
predominante, espezinhando a restante minoria –
exercício do poder pelo poder;
➢ O Direito apresenta uma instância crítica da vida em
sociedade a sindicar o conteúdo das normas jurídicas,
promovendo sempre o valor da justiça. Esta
concepção promove uma dinâmica de
aperfeiçoamento constante;
➢ Indiscutivelmente, uma das funções mais importante
do Direito é a organização da vida em sociedade,
através de normas vinculativas. Raras são as normas
jurídicas que espelham imediatamente uma concepção
de justiça. Exemplo: a esmagadora maioria das
normas publicadas no Diário da República Electrónico
pretendem promover a organização social;
➢ Existem normas fundamentais constantes nos
diferentes códigos com a concepção directa de justiça
que não podem ser alteradas, caso contrário geram
uma grave incongroência (artigos 79º, 80º, 81º e 404º
do Código Civil);
➢ Teoria Tridimensional do Direito, pelo filósofo brasileiro
Miguel Reale:
○ Direito é uma realidade tridimensional, constitui
uma triunidade, é simultaneamente facto (a
conduta ou o agir humano), valor a que se refere
esse facto e pelo qual se afere e norma que
pretende ordenar o primeiro em função do
segundo, encontrando-se essas suas três faces
ou dimensões interligadas e co-implicadas,
nenhuma delas tendo sentido separada das
restantes;
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➢ A realização de diálogos construtivos sobre a realidade


humana, com a verdade possível, permite-nos
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alcançar uma concepção de justiça mais uniforme. Se


tais diálogos não forem fomentados, cada um age de
acordo com a sua vontade.
INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)
(Terça-Feira, 06 de Outubro de 2009, 9h-11h – Aula
Prática)
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➢ Por Direito Subjectivo, entende-se “o poder ou


faculdade atribuído pela ordem jurídica a uma pessoa
de exigir ou pretender de outra determinado
comportamento positivo (fazer) ou negativo (não
fazer), ou de por um acto de livre vontade – com ou
sem formalidades –, só de per si ou integrado depois
por um acto da autoridade pública (decisão judicial)
produzir determinados efeitos jurídicos que se impõem
inevitavelmente a outra pessoa (adversário ou
contraparte) ”. (pelo professor Manuel de Andrade);
➢ Direito Subjectivo
○ Direito subjectivo (direito de crédito) ↔ dever
jurídico (“dever ser”);
○ Direito potestativo ↔ estado de sujeição
(“imposição”)

➢ Normas
○ Normas de conduta (permitem / proíbem
comportamentos);
○ Normas meramente qualificativas;
○ Normas sobre normas (de 2.º grau) – relativas à
interpretação, integração de lacunas, revogação
de normas);
○ Normas que produzem efeitos automáticos.

➢ Características distintivas das normas jurídicas


○ Exterioridade;
○ Alteridade;
○ Positividade;
○ Heteronomia.

➢ A coercibilidade não é uma característica comum a


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todas as normas. Atente-se no exemplo das normas


respeitantes à actuação do Presidente da República
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que não impõem consequências à sua violação.

➢ A atribuição de legitimidade a uma norma depende da


defesa do valor da Justiça, da sua aprovação dentro de
princípios democráticos, da sua publicação em Diário
da República;
➢ Por vezes, o Direito, nomeadamente o Penal, valoriza a
intenção de praticar um acto ilícito.

➢ O artigo 81º do Código Civil regula a limitação


voluntária dos direitos de personalidade, tendo como
objectivo a preservação dos princípios gerais do
Direito e dos valores essenciais à conservação da
sociedade.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)


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(Sexta-Feira, 09 de Outubro de 2009, 11h-12h30 –


Aula Teórica)

Caso prático (adaptação do caso do médico de


Indiana, de 1901):
Anos a fio, M foi o médico que tratou diversas doenças de
membros da família de N, que, para o efeito, se deslocava a
cavalo ao rancho relativamente distante de N. Certo dia, N
ficou subitamente doente e solicitou, através de um
mensageiro que mandou à cidade onde vivia M, a ajuda
deste, esperando dele auxílio e assegurando-lhe o
pagamento dos respectivos honorários. No Estado de
Indiana, na área de residência de N, não havia outro médico
disponível, M todavia não socorreu N, o qual acabou por
falecer, em consequência da doença. Os herdeiros de N
interpuseram uma acção de indemnização contra M.

Quid Iuris?

➢ Compete ao juiz apurar a realidade dos factos.


Todavia, levando em consideração a maturidade e a
experiência do mesmo, ele pode basear-se na sua
vivência para consumar determinados factos;
➢ O critério judicial aplicado pelo juiz deve ser
generalizado, tratando analogamente casos
semelhantes: “tratar de modo igual o que é igual e
tratar de modo diferente o que é diferente”;
➢ No presente caso, não podemos dar como definitiva a
existência de um contrato entre as partes (M e N),
porque este negócio jurídico implica um acordo de
vontades, apesar da promessa do pagamento de
honorários;
➢ Diferentes tipos de Justiça (Teoria iniciada por
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Aristóteles e completada por S. Tomás de Aquino –


tradição clássica):
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○ Justiça comutativa (entre pessoas singulares,


dar a cada um o que é seu) – promove a
igualdade entre pessoas. Diz respeito a contratos,
reparação de danos (reposição da justiça), daí
também ser designada justiça correctiva;
○ Justiça legal (deveres das pessoas enquanto
cidadãos) – reclama de nós determinadas
condutas face à sociedade política, hoje Estado.
Por exemplo: pagamento de impostos,
cumprimento do serviço militar enquanto
obrigatório;
○ Justiça distributiva (obrigações da sociedade
política para com os cidadãos) – promove uma
distribuição justa dos bens escassos, não sendo
possível satisfazer as necessidades de todos.

➢ Compete ao julgador, dentro de determinados limites,


investigar os factos ocorridos. Todavia, é necessário
ser selectivo nessa procura, dado que há factos que
são perfeitamente irrelevantes para o Direito;
➢ É necessário estabelecer uma separação entre a
ordem moral / ética e a ordem jurídica. As normas
éticas devem ser voluntariamente acatadas, não
apresentando um carácter obrigatório. Contudo, não
devemos desvalorizar estas ordens, dado que as
normas jurídicas replicam as normas éticas,
estabelecendo-se uma relação de concordância entre
elas – Princípio de não-beligerância entre as ordens
(professor Oliveira Ascensão).
➢ Não devemos confundir a Lei com o Direito, isto
porque, aliás, o Direito surgiu bem antes da Lei, que
tem cerca de 200 anos. O Direito mantem uma relação
íntima com a Justiça, a independência e o poder dos
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tribunais, que actuam de modo imparcial. Assim, o


Direito resulta das diferentes posições das partes
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envolvidas no caso, seleccionando-se os argumentos


mais importantes e melhor fundamentados, sempre
com um critério de justiça. Tal resolução dever-se-á
aplicar, futuramente, a casos análogos, atentando
obviamente às particularidades inerentes a esse caso;
➢ Os critérios com melhor aceitação adquiriram
relevância social no Direito Romano, criando-se um
Corpus Iuris. Nós pertencemos a uma civilização
técnica, distinta de outras sociedades que apresentam
um Direito mais rudimentar, que teve, contudo, a
mesma origem – modo universal de criação do Direito.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 13 de Outubro de 2009 – 9H-11H –
Aula Prática)

➢ Relativamente ao acórdão do Tribunal Constitucional


apresentado na ficha de trabalho n.º2, somos
confrontados com um requerimento que tinha como
fundamento o facto do Direito extravasar a sua esfera
e invadir a ordem moral. Existem várias normativas na
vida social, que impedem o caos, a total
desorganização, para além da ordem jurídica:
○ Ordem moral – visa o aperfeiçoamento do
indivíduo interiormente, com implicações
exteriores;
○ Ordem religiosa – mantém uma ligação próxima
com a ordem moral. Pauta-se por valores
interiores, estabelece normas que pautam as
convicções do indivíduo e as relações entre o
indivíduo e o transcendente, procurando
promover uma adesão espontânea da sociedade;
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○ Ordem do trato social – normas que asseguram


uma boa convivência social. Determinados usos
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sociais adquirem relevância jurídica, como por


exemplo os usos comerciais.

➢ Critérios de distinção entre Moral e Direito:


○ Exterioridade
 Na ordem moral, está em causa o
aperfeiçoamento do indivíduo interiormente,
enquanto na ordem jurídica estão em causa
as práticas realizadas (comportamentos
exteriores). Em determinados casos,
nomeadamente no Direito Penal antigo, as
intenções também eram condenadas pela
ordem jurídica.
○ Alteridade
 O Direito regula as relações entre indivíduos
(é inter-subjectiva), enquanto a Moral regula
a relação entre o individuo e a sua
consciência (intra-subjectiva).
○ Heteronomia
 Na Moral, as normas são impostas pelo
próprio indivíduo, enquanto no Direito as
normas são impostas por uma entidade
exterior.
○ Positividade (eficácia das normas)
 O incumprimento das normas morais pelo
indivíduo gerará sentimentos de culpa e
remorso e, consequentemente, ostracização
e discriminação pela sociedade. No Direito, o
incumprimento das normas jurídicas está
sujeito a um aparelho coercivo (mecanismos
de positividade que incentivam à prática de
determinado comportamento ou sancionam
certo acto contrário ao previsto nos
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diplomas legais).
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➢ Teoria dos Círculos Concêntricos / Critério do Mínimo


Ético – estrutura organizativa das normas que coloca
no centro o Direito, abrangido pelas principais normas
éticas. Assim, entende-se que todas as normas
jurídicas são normas morais;
➢ Teoria dos Círculos Secantes – Direito e Moral são duas
esferas separadas, mas com pontos em comum. Há
factos que podem ser igualmente relevantes para o
Direito e para a Moral (ex: homicídio). Por outro lado,
há também factos morais irrelevantes ao Direito e
vice-versa (ex: as regras de trânsito são irrelevantes
para a Moral, assim como os sentimentos de pena e
compaixão são irrelevantes para o Direito).
➢ Existem relações de atinência, antinomia e
concordância entre normas.
○ Uma relação de discordância prende-se com a
questão do aborto. O Direito possibilita a
interrupção voluntária da gravidez (IVG), algo
condenado pela Moral.
➢ Direito e Moral têm pontos de partida diferentes e
finalidades diferentes. O critério de exterioridade
aponta-nos os pontos de partida das ordens
normativas (interioridade / exterioridade). Enquanto o
Direito visa a manutenção da sobrevivência da
sociedade, a Moral visa o aperfeiçoamento do
indivíduo;
➢ No presente caso sobre o lenocínio (ficha de trabalho
n.º2), estamos perante uma prática moral e
juridicamente reprovável e também abarcada por uma
norma juridica. Portanto, não se trata de uma mera
questão ética / moral. Os pontos de partida de cada
ordem são diferentes. A condenação moral de uma
prática reprovável realizada revela uma má formação
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do indivíduo e terá consequências bastante graves. O


Direito, neste caso, tem como finalidade a protecção
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da dignidade humana, direito fundamental consagrado


na CRP (valores da liberdade e da integridade moral
das pessoas que se prostituem);
➢ Constituem os dois pilares do Direito: a justiça e a
segurança (≠ coercibilidade). A coercibilidade
constitui-se como um instrumento do Direito para
alcançar determinados objectivos;
➢ Segurança (dois sentidos):
○ Certeza jurídica (conhecimento do Direito
vigente);
 Princípio da não retroactividade da Lei
○ Segurança jurídica em sentido estrito (por parte
do Estado).

➢ As normas jurídicas procuram encontrar um equilíbrio


entre justiça e segurança.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 16 de Outubro de 2009 – 11H-12H30 –
Aula Teórica)
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➢ Um dos corolários do Direito é a dignidade da pessoa


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humana, princípio que não é adquirido, pacífico,


atendendo aos diferentes entendimentos sobre este
direito fundamental. Nem sempre somos capazes de
reconhecer o postulado por este princípio, o que não
implica que este valor fundamental não continue a ser
uma “bandeira” pela qual sempre se lutará;
➢ O artigo 70.º do Código Civil (tutela geral de
personalidade) protege genericamente os indivíduos
contra qualquer tipo de ofensa física ou moral –
cláusula geral. Trata-se de uma disposição aberta, de
máximo alcance, que se pode aplicar a uma
diversidade de casos. Compete, neste caso, ao jurista
interpretar a Lei e determinar o que pode ser
entendido como “ofensa”. Na CRP, encontra-se
protegido o princípio da dignidade humana previsto no
Código Civil de 1966. Esta disposição abrange ofensas
ao bom-nome, à privacidade da vida humana, à honra,
ao uso inapropriado do nosso nome, à imagem. Dentro
dos princípios da Lei, todos temos direito à contracção
do casamento, a exercer o poder paternal, à iniciativa
privada (art. 405º - liberdade contratual)
resumidamente à auto-determinação. Todos os
direitos apresentados fazem parte do corolário da
dignidade da pessoa humana;
➢ Existe a possibilidade de celebração de contratos que
não estão previstos no Código Civil ou de celebração
de contratos previstos na Lei noutros termos. A
regulação prevista no Código Civil diz-se supletiva;
➢ O Código Civil protege dois valores fundamentais:
liberdade e igualdade. Todos somos iguais perante a
Lei e tudo o que não nos é imposto, é permitido;
➢ O Estado só pode actuar dentro das competências que
lhe são atribuídas pela Lei, ao contrário do indivíduo a
quem é atribuída liberdade;
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➢ Todos nós somos detentores de direitos de


personalidade (honra, imagem, intimidade da vida
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privada, confidencialidade da correspondência), a


partir do momento em que nascemos, completos e
com vida. Também o princípio da integridade moral da
pessoa humana prevê a impossibilidade, por exemplo,
da gravação e reprodução da voz de alguém, sem
autorização prévia;
➢ A questão do ser humano, em estado embrionário,
exige igualmente a consagração de princípios sobre a
aplicação da biotecnologia, para proteger a sua
dignidade pré-natal. Por outro lado, o ser humano, no
fim da sua vida, não encontra disposição legal que
protega a sua vontade, se não desejar, por exemplo,
sujeitar-se a tratamentos penosos. Estamos perante
debilidades do nosso Código Civil. Não podemos
estabelecer semelhanças entre estas situações e a
eutanásia, processo que legitima o médico a apressar
a morte do ser humano. Atentando no artigo 81º do
C.C., verificamos que se encontra prevista a
possibilidade de limitação voluntária dos direitos de
personalidade que, todavia, não se aplica a casos
contrários à ordem pública, como a eutanásia. Assim,
todos os comportamentos contrários à ordem pública
são punidos por lei, como por exemplo, o auxílio ao
homicídio ou suicídio;
➢ Após a morte de um ser humano, impera o dever de
solidariedade na hipotética doação de órgãos, dado
que o ser humano não é só sujeito de direitos, mas
também de deveres para com o resto da comunidade;
➢ O estatuto da pessoa, ainda antes de ser titular de
relações jurídicas, revela-se fundamental, constitui o
cerne para o Direito Civil;
➢ O princípio da propriedade, previsto no Código Civil, é
inerente à dignidade da pessoa humana, o que não
implica que este direito seja ilimitado ou não haja
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possibilidade de expropriação, em casos excepcionais


(ex: hipoteca);
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➢ Nos negócios unilaterais sem contrapartida (art. 457º


do C.C.), o Direito desconfia da vontade e da
manutenção da vontade do indivíduo;
➢ Nas fontes das obrigações, encontramos fontes
involuntárias, como a responsabilidade civil por dolo
ou mera culpa (art. 483º, n.º1 do C.C.). O efeito de
indemnização não radica na vontade do individuo. A
Lei é um ser eticamente responsável, que actua em
situações censuráveis, sujeitas a uma pena sobre o
sujeito ético. O n.º2 do mesmo artigo prevê
responsabilidade civil sem culpa, mas por realização
de prática com risco (ver artigo 503º do C.C.).

INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)


(Segunda-Feira, 19 de Outubro de 2009, 14h-15h30
– Teórica)

➢ Obrigações – art. 397º do C.C. – exprimem a


cooperação humana; fonte primordial é a autonomia
privada;
➢ Art. 1207º do C.C. – contrato de empreitada;
➢ Princípio da tipicidade – art. 487º do C.C. (a propósito
dos negócios unilaterais);
➢ Entre as fontes das obrigações heterónimas (derivam
do Direito Objectivo), encontramos a responsabilidade
civil, que implica uma indemnização sobre o dano
(físico e/ou moral) provocado a outrem (ilicitude e
culpa);
➢ Tem de existir um nexo causal entre o acto ilícito e o
dano (no qual se inserem os lucros cessantes) causado
(determinado acto ilícito foi a causa do dano,
efectivamente);
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➢ Responsabilidade civil (fazer justiça ao lesado)


○ Direitos gerais ou absolutos – todos os
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direitos de personalidade (ex: integridade física)


e direitos reais (direitos erga omnes)
○ Direitos de crédito ou relativos – relação
apenas entre credor e devedor
○ Deveres gerais – incumbem
indiscriminadamente sobre todos
○ Responsabilidade obrigacional (artigos 798º e
seguintes do C.C.)
○ Responsabilidade delitual (prática de um
delito, acto ilícito culposo extra-obrigacional)
○ Responsabilidade civil extra-obrigacional
pelo risco (artigo 499º e seguintes do C.C.)
 Detenção de coisas perigosas (ex:
automóveis, animais – art. 502 do C.C.);
 Realização de actividade perigosa.

○ Compete ao autor do dano reconstituir o bem


lesado (forma ordinária de indemnização).
Habitualmente, é mais fácil efectuar o
pagamento da indemnização em dinheiro, mas o
primado da indemnização é a primeira situação
apresentada (artigos 562º e 566º do Código Civil)
○ Responsabilidade civil pelos factos lícitos
(pelo sacrifício)
 Alguém que está legitimado para praticar
determinado acto, mas causa dano (por
exemplo: expropriações por utilidade
pública – Direito Público);
 Autotutela (“justiça pelas próprias mãos”,
“justiça dos mais fortes”) – é proibida a
autodefesa com algumas excepções:
• Legítima defesa (artigos 337º e 338º
do C.C.);
• Acção directa (artigo 336º do C.C.);
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• Estado de necessidade (artigo 339º


do C.C.) – situação excepcional
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○ Outras fontes das obrigações


 Enriquecimento sem causa – remoção de
enriquecimentos injustificados; desvio de
utilidades do proprietário para
enriquecimento ilícito à custa de outrem.
• Artigos 473.º e seguintes do Código
Civil;
• Conceito com origem no Direito
Romano.
 Repetição do indevido – reaver aquilo que
foi indevidamente pago ou dado (artigo 476º
do C.C.);
 Gestão de negócios (artigo 464º do C.C.) –
imiscuir-se na vida de negócios de outra
pessoa, até com boa intenção, mas sem
autorização; intromissão na esfera jurídica
alheia, ficando o infractor obrigado a pagar
despesas inerentes;
 Remuneração do gestor (art. 470º do
C.C.) – remuneração de uma actividade
profissional do gestor;
 Assunção deliberatória de dívidas (art.
595º do C.C.);
 Cessão de crédito / Cessão de
imposição patrimonial (art. 577º e
seguintes do C.C.);
 Responsabilidade patrimonial – o
exercício da coacção física deve constituir a
ultima ratio (somente em situações
excepcionais). Actualmente, a aplicação da
pena de prisão preventiva por dívida é um
cenário excepcional, que apenas sucede se
estiver em causa a subsistência de outrem
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(por exemplo: incumprimento do pagamento


do subsídio de alimentos). Habitualmente,
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aplica-se a responsabilidade patrimonial,


com a penhora do património do devedor,
sendo vendidos os bens e cubrindo-se a
dívida. Todavia, o conjunto dos direitos mais
importantes não tem cobertura patrimonial
(direitos de personalidade, por exemplo:
direito à honra). Outro tipo de
compensações podem ser atribuídos,
atendendo ao caso concreto, como o direito
de resposta.
 Indemnização por danos morais
gravosos – artigo 496.º do Código Civil;
 Extinção de uma obrigação pelo seu
cumprimento – artigo 762º do Código Civil;

○ Outras formas de cumprimento da


obrigação
 Doação em cumprimento;
 Remissão;
 Novação (substituição por outra);
 Confusão (reunião na mesma pessoa de
credor e devedor).

➢ Figuras antiquíssimas, sem ligação política ou


ideológica;
➢ Direito Perene – permanece no tempo.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 20 de Outubro de 2009 – 9H-11H –
Aula Prática)
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➢ Nenhuma norma jurídica se pode encontrar destituída


de Justiça;
➢ Uma relação contratual encontra-se sujeita a riscos
imprevisíveis, nomeadamente uma crise económica ou
petrolífera, o que alterará o valor real do acordo
celebrado. Para precaver estas situações,
encontramos no Código Civil o artigo 437º.
➢ Justiça
○ Em sentido formal – promoção da igualdade
segundo diferentes critérios, tratamento
proporcional das situações, alteridade.
 Justiça comutativa (típica do Direito
Privado, entre particulares)
• Regula as relações dos membros da
sociedade entre si, visando
restabelecer ou corrigir os
desequilíbrios que surgem nas relações
interpessoais, razão pela qual também
se designa esta espécie de justiça por
«rectificadora». Opera segundo um
critério de igualdade simples ou
aritmética, que se traduz na
equivalência das prestações, e abrange
tanto as trocas voluntárias ou lícitas
como as involuntárias ou ilícitas.
 Justiça distributiva (típica do Direito
Público, entre particulares e o Estado)
• Diz respeito à repartição de bens
comuns que a sociedade deve fazer por
todos os seus membros, segundo um
critério de igualdade proporcional ou
geométrica, que atende à finalidade da
distribuição e à situação pessoal de
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quem recebe, segundo o mérito


(meritocracia – valorizar quem revelou
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mérito), as necessidades, etc. É esta a


justiça, por excelência, dos
governantes, já que são os
admnistradores do bem comum.
(Exemplos: atribuição de subsídios de
desemprego, invalidez, de abono de
família maior para quem aufere
rendimentos menores).
 Justiça geral ou legal (típica do Direito
Público Fiscal, entre particulares e o Estado)
• Preside às relações entre a sociedade e
os seus membros, no que concerne aos
encargos que lhes são exigidos como
contribuição para o bem comum e que
devem ser repartidos por todos.
Exemplo desses encargos são os
impostos. À semelhança do que sucede
na justiça distributiva, o critério que
deve ser usado é o da igualdade
proporcional, dado que nem todos os
membros da sociedade podem
contribuir da mesma maneira para o
bem comum, devido às desigualdades
socioeconómicas, aos benefícios
usufruídos, etc.
○ Em sentido material – dignidade da pessoa
humana
➢ Restrição de direitos, liberdades e garantias (na
medida do estritamente necessário)
○ Princípio da adequação;
○ Princípio da proibição do excesso;
○ Princípio da proporcionalidade em sentido
restrito.
Página

➢ Distinção entre Democracia Formal e Material


23

○ Democracia Formal – cumprimento dos


princípios da maioria;
○ Democracia Material – preservação da
dignidade da pessoa humana.

➢ Segurança
○ Em sentido de certeza por parte do Estado
 Cumprimento por parte do Estado do
princípio da legalidade.
○ Em sentido de certeza jurídica
 Prescrição de um crime (em Direito
Penal)
• Nunca sucede se estiver em causa a
violação de direitos humanos;
• Procura evitar a justiça tardia e garantir
aos cidadãos que não serão
eternamente perseguidos.
 Menoridade / Maioridade (em Direito
Civil)
• Art. 122º do C.C. – é menor quem ainda
mão tiver completado a idade de 18
anos;
• Trata-se de uma norma que valoriza o
valor da segurança no sentido de
certeza jurídica; pretende-se a
protecção de terceiros envolvidos em
relações jurídicas, em detrimento da
justiça;
• Emancipação via casamento a partir
dos 16 anos.

 Prescrição em Direito Civil (forma de


extinção de direitos de crédito)
Página

• Prazos de prescrição no art. 309º e


seguintes do C.C. (ordinariamente 20
24

anos);
• Regime das obrigações naturais (ver
artigo 402º e 403º do Código Civil)
○ O cumprimento de obrigações no
prazo previsto ou após a
prescrição de livre e espontânea
vontade não pode ser anulada.
 Direito de crédito ≠ Direito real – direito
à prestação de determinado cumprimento
por parte de outrem.
• Contrato de arrendamento entre
senhorio e inquilino;
• Obrigações inter partes, apenas entre
os intervenientes na relação jurídica;
• Transmissão de posição do locador (art.
1057º do C.C.) – alienação do direito de
propriedade a outrem; o novo detentor
do direito de propriedade assume-se
também como locador, não podendo
accionar uma ordem de despejo ao
locatário;
 Posse do direito de propriedade por
usucapião (art. 1287º do C.C.)
○ actuação como proprietário
durante muitos anos;
○ instituto algo injusto que procura
proteger a acção de terceiros;
○ a inércia do legítimo proprietário
pode permitir a outrem adquirir o
direito de propriedade por
usucapião;
○ prazos para aquisição do direito
de propriedade (artigos 1294º a
1300º do CC)
Página

 Inversão do título de posse (art. 1265º do


C.C.);
25

○ Todos os casos apresentados promovem o valor


da segurança em sentido de certeza jurídica em
detrimento da justiça.
➢ Summa divisio Direito Público e Direito Privado
○ Distinção do Direito Romano, considerada a mais
importante do Direito, com aplicação nos
ordenamentos romano-germânicos, mas não nos
ordenamentos de “common law” (anglo-
saxónicos);
○ Critérios de distinção
1) Critério da natureza dos interesses
✔ Direito Público – normas que visam
satisfazer interesses públicos;
✔ Direito Privado – normas que visam
satisfazer interesses privados.
○ Crítica: Na verdade, todas as
normas jurídicas de Direito Privado
são elaboradas tendo em conta
interesses públicos (ex: normas
contratuais de anulabilidade e
nulidade dos negócios jurídicos) e,
pelo contrário, as normas jurídicas
de Direito Público também
prosseguem interesses particulares
(ex: normas de Direito
Administrativo).
○ Perante as críticas a que este critério
foi alvo, alguns autores procuraram
Página

reformulá-lo, baseando a distinção


na natureza do interesse
26

predominantemente tutelado pela


norma. Assim:
 Direito Público – conjunto de
normas que tutelassem
predominantemente os
interesses da colectividade;
 Direito Privado – conjunto de
normas que tutelassem
predominantemente os
interesses particulares.

1) Critério da qualidade dos sujeitos;


✔ Direito Público – normas que visam
regular as relações em que intervenha o
Estado ou qualquer ente público1 em
geral, dotado de imperium2;
✔ Direito Privado – normas que visam
regular as relações entre particulares.
○ Crítica: o Estado e demais entes
públicos podem actuar, e
frequentemente actuam, despidos
de imperium, isto é, nos mesmos
termos que qualquer particular.

1) Critério da posição dos sujeitos na


relação jurídica.
✔ Direito Público – normas que visam
regular as relações em que intervenha o
Estado ou qualquer ente público dotado
de supremacia, isto é, desde que
investido de imperium;
✔ Direito Privado – normas que visam
regular as relações que se estabelecem
entre os cidadãos, ou entre estes e o
Página

Estado ou qualquer ente público, mas


desde que desprovidos do seu imperium.
27

○ Desta forma, os sujeitos da relação


encontram-se em pé de igualdade;

1 Autarquias locais, regiões autónomas, associações públicas, etc.

2 O Estado é dotado de autoridade, que lhe permite intervir nas diversas relações
jurídicas em situação de superioridade e autoridade.
○ Este critério é aquele que se mostra
mais adequado à moderna
codificação e que reúne maior
consenso entre os autores, na
divisão tradicional entre Direito
Público e Privado;
○ É evidente que estes dois ramos de
Direito, o Direito Público e o Direito
Privado, não constituem dois
compartimentos estanques,
separados de forma absoluta. Pelo
contrário, existem muitos pontos de
conexão entre eles.
○ Crítica: como se classificam as
normas que envolvem duas
entidades públicas? Neste caso,
aplica-se o critério da qualidade dos
sujeitos.
○ O Direito Penal pode ser
considerado, segundo o critério da
posição dos sujeitos, Direito Privado,
dada a posição de igualdade qu as
partes envolvidas assumem.
Todavia, generaliza-se a ideia de se
tratar de Direito Público:
 Dados os interesses públicos
em causa;
 A aplicação de sanções por
Página

parte dos tribunais implica a


existência de um poder de
28

autoridade (imperium).

➢ Propriedade Pública do Estado (art. 84º da CRP)


○ Aplicação de normas de Direito Público;
○ Os bens públicos do Estado não podem ser
adquiridos por usucapião, agindo o Estado em
posição de supremacia;
○ Os bens imóveis adquiridos pelo Estado para
assuntos administrativos não são considerados
bens públicos do Estado – domínio privado do
Estado. A aquisição por usucapião destes bens
acresce de metade do apresentado
ordinariamente em Código Civil;

➢ Legislação sobre achados arqueológicos (art.


1318º e seguintes do C.C.)
○ Considerados bens públicos do Estado na
esmagadora maioria dos casos (art. 1324º do
C.C.);
○ Preserva-se o direito de compensação estatal a
quem os encontrar.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 23 de Outubro de 2009 – 11H-12H30 –
Aula Teórica)
Página

➢ Os direitos reais, consagrados pela necessidade do ser


humano possuir bens para se realizar, promovem a
29

exclusividade do uso, fruição e disposição de


determinado bem;
➢ Quem for desapossado de determinado bem, tem o
direito de pedir a restituição desse bem, através do
direito petitório ou acção de reivindicação (art. 1311º
do C.C.)
○ Distinguir conceitos de posse e de propriedade:
 Posse: deter o bem;
 Propriedade: titularidade legítima de
determinado bem.
➢ Compete à ordem jurídica garantir o núcleo de
socialização primária de cada um de nós – família
(protecção do estatuto jurídico mínimo – Direito da
Família consagrado no Código Civil);
➢ Estão protegidas no Código Civil as relações entre
cônjuges, nomeadamente de carácter patrimonial
(exemplo: regime de bens); outras matérias como o
casamento e a filiação estão igualmente previstas no
Código Civil;
➢ As relações jurídicas post mortem, que não estão
associadas a uma pessoa, podem perdurar,
garantindo-se uma estabilidade nas relações sociais.
No âmbito familiar, esta questão aplica-se, garantindo
uma continuidade das relações jurídicas,
especialmente de carácter patrimonial (Livro V do C.C.
– Direito das Sucessões)
○ Sucessão voluntária (através de
testamento)
 Título de vocação sucessória atribuído aos
envolvidos (herdeiros) no testamento;
○ Sucessão determinada pela Lei (compete à
Lei regular o âmbito do testamento)
 Sucessão legítima (na ausência de
testamento) – todos os bens têm de ter
Página

dono, em último caso o Estado


(supletivamente estabelecida na Lei);
30

 Sucessão legitimária (herdeiros forçados –


cônjuge, filhos)
• A liberdade de testar tem de respeitar
os princípios da sucessão legitimária;
• A liberdade de disposição de bens
sobre outros herdeiros que não os
impostos pela Lei é de 1/3.
➢ Nos Livros IV e V do Código Civil, encontramos
estruturas semelhante a todos os ordenamentos
jurídicos, mesmo entre culturas diferentes;
➢ Aquilo que designamos por “direito comum” é uma
série de práticas realizadas durante séculos,
dificilmente afastadas pela Lei. Compete a todo o
jurista tomar conhecimento deste “direito comum”,
que abrange tradições e costumes;
➢ A coercibilidade não é uma característica intrínseca do
Direito. Consiste na susceptibilidade de aplicação da
Lei através de meios coercivos. Nenhum ordenamento
jurídico poderá ter como caracteristica intrínseca a
coercibilidade, porque isso colidiria com a liberdade do
indivíduo acatar a Lei (dever jurídico);
➢ Afinal, o que é o Direito (Quid Ius?)
○ Iremos efectuar uma abordagem jurídico do
Direito, no seu âmago (perspectiva interna);
○ O Direito radica na natureza social do Homem
(ente racional);
○ Pertence ao mundo do espírito e da cultura, é
uma realidade cultural;
○ Implica alteridade e sociedade, mas nem todo o
Direito é constituído por relações jurídicas (ver
artigo 1305º do C.C. que norteia a relação entre
proprietário e a coisa);
○ É uma realidade histórica (reflecte as vicissitudes
da História)
Página

 Direito Organizacional (volúvel, diferentes


sistemas)
31

○ Constituído por Leis, não da Natureza (leis


determinísticas). O Direito é uma ordem de
liberdade, não uma ordem física, daí a existência
de sanções. O ser humano não é um indivíduo
programado, pelo contrário domina as suas
tendências;
○ O desafio da liberdade constitui uma
responsabilidade;
○ Vivemos numa sociedade estável, constituída por
instituições, que permitem a permanência e a
mutação das sociedades. Compete ao Direito a
criação de instituições, a institucionalização da
vida social;
○ Ordem social ≠ Ordem jurídica – tentativa errada
de socialização do Direito. As práticas sociais não
se podem confundir com as normas jurídicas.
Apesar da vinculação social, nem todas as regras
regulares da vida social são Direito –
ambivalência do Direito (que se encontra entre o
“ser” da vida social e o “dever ser” – ordem
deôntica. O Direito não está desligado da prática,
aliás pretende ligar-se à prática. É, assim, uma
instância crítica da ordem social;
○ O Direito não é, necessariamente, uma
concepção empírica, submetida à Sociologia
(nem todas as sentenças são justas, ao contrário
do que se verifica numa realidade americana). A
sentença de um juiz constitui Direito, mas pode
não estar conforme com o Direito;

➢ Direito e as várias ordens normativas


○ Ordem Religiosa (relações do Homem com o
transcendente)
Página

 Tem consequências sociais, que podem


exigir regulação jurídica;
32

 Autonomia entre Direito e Religião.


• Característica dos sistemas ocidentais;
• Assegura a liberdade de consciência do
indivíduo (liberdade de crença);
• Estado islâmicos são teocráticos
(Direito e Religião confundem-se).
○ Ordem Moral (aperfeiçoamento do indivíduo,
dirigindo-o para o bem)
 Ocorre voluntariamente em sociedade;
 É essencialmente uma autoconstrução (sem
imperatividade externa);
 Tem consequências sociais;
 Predominam, obviamente, relações de
coincidência entre ordem moral e ordem
jurídica;
 Há igualmente relações de autonomia.

○ Ordem do Trato Social (costumes sociais,


convencionalismos)
 Tem consequências / represálias sociais;
 Sem relevância jurídica;
 Existem regras constitutivas de
determinados jogos (por exemplo: xadrez,
futebol);
 Ditames de consciência enraizados na
sociedade.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 23 de Outubro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ As ordens normativas apresentadas anteriormente não
Página

estão dotadas de imperatividade (exigência de


aplicação incondicionável);
33

➢ Acepções de Direito
1. Conforme com a justiça;
2. Ordem normativa (acepção errada – as normas
jurídicas são um critério do Direito);
3. Ciência Jurídica (jurisprudência);
4. Posição do sujeito
➢ Enquanto o Direito é universal e se mantem no tempo,
a ordem jurídica é mutável e restritiva;
➢ Não existe Direito fora da realidade dos juristas, que
têm a sua imagem do Direito. Direito como
“consciência da juridicidade” (António Castanheira
Neves);
➢ A acepção de “posição do sujeito” relaciona-se com os
direitos subjectivos;
➢ A realidade do Direito é polissémica, multifacetada,
com um elevado grau de complexidade das suas
acepções. Deste modo, compreende-se a dificuldade
do jurista em encontrar uma noção de Direito. Para os
detentores do poder em regimes totalitários, é
conveniente a acepção de Direito com Poder. Outros
entendem que não faz sentido procurar encontrar uma
noção de Direito – cepticismo. Todavia, esta última
posição é insustentável, dado que o Direito constitui
um dado da experiência, integrado nas diversas
comunidades desde sempre. De qualquer modo,
podemos considerar que os caminhos para encontrar
uma noção de Direito são múltiplos;
➢ Há que considerar o contributo da epistemologia e da
simbólica para ajudar a encontrar uma noção de
Direito, como também o testemunho de filósofos que
se debruçaram sobre a matéria.
○ Etimologia do Direito
 Ligada à palavra ius na origem de juiz,
Página

justiça, jurisprudência;
 A linguagem cristalizou-se de acordo com as
34

nossas necessidades.
 Traduções de Direito em diferentes idiomas
(exemplos):
• Derecho (espanhol);
• Droit (francês);
 Sinónimo de estabilidade, rectidão, firmeza.
○ Simbólica do Direito (observáveis nos
Palácios da Justiça)
 “Deusa da Justiça”: fonte de Justiça;
 “Espada”: a bem ou a mal, o Direito deve
cumprir-se;
 “Balança”: relaciona-se com a alteridade
(conflitualidade humana)
• “Pratos igualados”: símbolo de
igualdade; se alguém desequilibra a
igualdade, tem de ser reposta;
• “Fiel da balança”: rectidão.
 “Olhos vendados”: símbolo de
imparcialidade; todos têm direito à mesma
justiça, não se fazem discriminações
infundadas; “direito cego” (não se olha a
quem);
 “Olho descoberto”: símbolo de inteligência
(atende à realidade).

Página
35
➢ O Direito deve ser encarado como uma realidade de
facto, existente em todas as sociedades ao longo dos
tempos (facto cultural) – posição realista;
➢ Classicamente, a justiça era encarada como uma
virtude/qualidade adquirida com a prática de actos
bons (“dar a cada um aquilo que é seu”). “Direito” e
“justiça” são conceitos interligados e susceptíveis de
uma querela: É a Justiça que tem como objecto o
Direito ou o contrário?;
➢ O Direito Americano e o Direito Ocidental têm uma
Página

origem aristotélica e latina (romana). Já o Direito


Romano se havia inspirado na Teoria Aristotélica;
36

➢ O Direito contenta-se com aquilo que é objectivamente


justo (adopção de uma conduta em conformidade com
o Direito, mesmo sem virtude);
➢ Justiça legal ≠ Justiça Natural
○ Justiça legal – o que é justo por força de uma
determinação da Lei, que, por vezes, é um
critério de justiça;
○ Justiça natural – decorre da natureza das
coisas, outro critério de justiça (ex: honrar um
contrato faz parte da natureza do compromisso;
família fundada num casamento heterossexual;
disposição de bens post mortem);
➢ O Direito é uma sabedoria / racionalidade prática, daí
o valor da prudência (natureza prudencial do Direito) –
Aristóteles;
➢ A teoria dos sábios gregos nunca se traduziu num
Direito próprio, somente os romanos efectuaram essa
tradução;
➢ Noções de Justiça:
○ Iustitia est constans et perpetua voluntas ius
suum cuique tribuendi (Ulpianus) – Justiça é a
vontade constante e perpétua de atribuir a cada
um o seu direito;
○ Justiça é aquilo que é justo (Paulus).
➢ Noções de Direito:
○ O Direito não se resume às convenções humanas,
existe uma Lei intrínseca à natureza humana
(Cícero);
○ Ius est ars boni et aequi (Celsus) – Direito é a arte
do bom e do justo.

➢ Por vezes, a aplicação mecânica do Direito gera


Página

injustiça;
➢ Todos estes pensamentos da Antiguidade Clássica
37

permanecem até aos dias de hoje;

➢ S. Tomás de Aquino fixou as três modalidades de


justiça: comutativa, distributiva e geral (ou legal);
○ Já Aristóteles, em “A Política”, abordava (não
directamente) a questão da necessidade de
distribuir os bens escassos pela comunidade,
através do exemplo da distribuição de flautas
(justiça distributiva)

➢ Direito Natural ≠ Direito Positivo


○ Direito Natural – deriva da natureza das coisas;
○ Direito Positivo – deriva da convenção das
pessoas, que vai variando (p.e. – princípio da
maioria).

➢ Há exigências de Direito Natural que são positivadas;


➢ Há quem defenda, com alguma razão, que o Direito
que não é manifestado, não é Direito;
➢ A Lei é uma certa razão / critério de Direito (Paulus);
as normas concretizam o Direito, são critérios do
Direito, mas a Lei não é o Direito;
➢ Noção de Lei - “ordenação da razão para o bem
comum, promulgada por aquele que tem o cuidado da
comunidade” (S. Tomás de Aquino). O Direito é
entendido como um produto da razão, suportado pela
vontade, mas com uma pretensão de justiça (senão
seria uma corrupção da Lei). Toda a Lei que não seja
essencialmente fundamentada na racionalidade pode
ser afastada pelo juiz. Tal facto pode estar relacionado
com a evolução cronológica, que torna a Lei obsoleta;
➢ Propriedades da Lei Natural:
Página

○ Universal (aplica-se e destina-se a todos);


○ Não é modificável pela vontade humana (mesmo
38

que essa vontade seja manifestada pela maioria


da população);
○ Cognoscibilidade (todos nós podemos conhecê-la)
 Graças à globalização, temos maior contacto
com outros ordenamentos jurídicos. Tal
facto pode ser, também, gerador de
polémicas. Todavia, através do diálogo inter-
cultural, desde que realizado com respeito
mútuo, pode revelar-se frutífero, na medida
em que poderemos promover os Direitos
Humanos noutros países. De recordar que
todos partilhamos uma identidade
fundamental e dos direitos humanos provêm
de uma natureza humana comum.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 27 de Outubro de 2009 – 9H-11H –
Aula Prática)

➢ Ficha de Trabalho n.º 3


✔ Prisão Preventiva: medida de coacção que se
destina a:
• Impedir tentativa de fuga;
• Assegurar a acção efectiva dos tribunais
e polícia, evitando a usurpação de provas
e permitindo a condução a bom termo do
processo;
• Evitar a continuidade de prática criminosa
por parte do suspeito.

✔ Direito Processual – destina-se a reger a


Página

actuação dos tribunais, órgão de soberania,


que se situa acima das partes envolvidas;
39

conjunto de formalidades / trâmites a seguir.


São ramos do Direito Processual:
○ Direito Processual Penal;
 Não é um processo de partes;
 De acordo com o princípio do
inquisitório, o processo penal
assenta numa acção do Ministério
Público, competindo ao tribunal
realizar diligências probatórias,
durante a audiência;
 Intervêm no processo o juíz, o
Ministério Público e um assistente
(vítima);
 Objectivo: descubrir a verdade
material;
 O Ministério Público e os tribunais
são, acima de tudo, defensores da
legalidade, podendo, por isso,
solicitar a absolvição do réu;
 Segundo o artigo 127º do CPC, “Não
haverá, na aplicação da regra
processual da «livre apreciação da
prova» que lançar mão, limitando-a,
do princípio in dubio pro reo
exigido pela constitucional
presunção de inocência do acusado,
se a prova produzida, depois de
avaliada segundo as regras da
experiência e a liberdade de
apreciação da prova, não conduzir
«à subsistência no espírito do
tribunal de uma dúvida positiva e
invencível sobre a existência ou
inexistência do facto». O in dubio pro
reo, com efeito, «parte da dúvida,
Página

supõe a dúvida e destina-se a


permitir uma decisão judicial que
40

veja ameaçada a concretização por


carência de uma firme certeza do
julgador»;
 Duas fases do processo penal:
• 1.ª Fase – Inquérito, da
responsabilidade do Ministério
Público;
• 2.ª Fase – Julgamento, da
responsabilidade do Tribunal.
 Os crimes públicos não implicam a
apresentação de queixa. Já os crimes
de ofensa à integridade física
implicam queixa, com prazo de seis
meses, fixados por Lei, após a
prática do acto criminoso – crime
semi-público;
 No caso de elevada probabilidade de
existência de crime, compete ao
Ministério Público deduzir o
processo;

○ Direito Processual Civil;


 Processo Civil – meio legal de acesso
aos tribunais comuns pelas partes,
donas do processo, num
determinado litígio de ordem
privada, com regras sobre o ônus da
prova (artigo 342º do C.C.);
 São partes integrantes do processo o
autor, o réu, o juiz e os assistentes
processuais;
 O princípio do dispositivo ou da
disponibilidade das partes é um
dos princípios basilares relativo à
prossecução processual que faz
Página

recair sobre as partes o dever de


formularem o pedido e de alegarem
41

os factos que lhe servem de


fundamento e os factos em que
estruturam as excepções – artº 264º,
nº 1, do CPC. Assim, compete ao
autor, que exige o cumprimento de
um direito subjectivo, provar os
factos que fundamentam a sua
acusação e ao réu defender-se dos
factos apresentados pela acusação e
provar os factos que lhe interessam;
 Segundo o princípio do
inquisitório, o tribunal deve realizar
ou ordenar oficiosamente todas as
diligências que se lhe afigurem úteis
para conhecer a verdade
relativamente aos factos alegados ou
de que oficiosamente pode conhecer
(ex: ouvir dada testemunha, realizar
prova pericial).
○ Direito Processual Fiscal;
○ Direito Processual Administrativo;
○ Direito Processual do Trabalho
✔ Enquanto o Direito Penal, por exemplo, é um
direito substantivo, dado que procede ao
estabelecimento de factos considerados crime
e fixa as consequências para a prática de tais
actos, o Direito Processual Penal é um direito
adjectivo, dado que estabelece as
formalidades a cumprir no âmbito de um
processo;
✔ No caso dos inimputáveis, são aplicadas
medidas de segurança, com carácter
preventivo, dado não possuírem o necessário
discernimento para ser possível considerar o
facto ilícito culposo;
Página

✔ De acordo com o critério da posição dos


sujeitos, o Direito Penal é Direito Privado, dado
42

que os intervenientes actuam em pé de


igualdade, desprovidos de imperium. Todavia,
o critério prevalecente é o critério dos
interesses, visto que estão em causa direitos
públicos. Estamos perante um exemplo prático
que suscita crítica ao critério da posição dos
sujeitos na relação jurídica;
✔ Direito Privado
○ Direito Civil (tronco comum do Direito
Privado; integra as normas jurídicas mais
importantes para regular as relações
jurídicas entre particulares e particulares
e o Estado, desde que destituído de
autoridade.)
○ Direito Privado Especial
 Direito Comercial
 Direito do Trabalho
✔ Os artigos 1152º e 1153º do Código Civil são
duas normas gerais sobre o contrato de
trabalho, todavia esta matéria está sujeita a
legislação especial – Código do Trabalho – onde
se encontra a grande maioria das normas;
✔ Os artigos 980º e ss. do C.C. transmitem-nos
uma noção de contrato de sociedade, dão-nos
a conhecer as normas mais importantes em
matéria de Direito Privado. No entanto, esta
matéria encontra-se complementada e
regulamentada num diploma próprio – Código
Comercial, ou mais especificamente, Código
das Sociedades Comerciais;

✔ Ramos do Direito Civil


○ Direito das Obrigações;
○ Direitos Reais (das Coisas);
 Da posse;
Página

 Do elenco de direitos reais (principal


é o de propriedade);
43

 Do elenco de direitos reais menores


(ex: usufrutuário);
 Das formas de aquisição do direito
de propriedade (ex: usucapião).
○ Direitos da Família;
 Integra contrato de casamento,
divórcio, regimes de separação de
bens, adopção e relações de filiação.
○ Direitos das Sucessões

✔ Em várias normas de Direito Constitucional, o


critério prevalecente é o critério dos interesses,
mas principalmente o critério da qualidade dos
sujeitos. O critério da posição dos sujeitos não
se adequa em vários casos;
✔ Critérios de Fiscalização da
Constitucionalidade
○ Inconstitucionalidade:
 Por acção (n.º 1 do artigo 277º da
CRP) – São inconstitucionais as
normas que infrinjam o disposto na
Constituição ou os princípios nela
consignados. Vai ganhando
relevância prática;
 Por omissão (artigo 283º da CRP) –
Resulta da ausência de
regulamentação por parte do
legislador sobre determinada
matéria ou da inacção da autoridade
administrativa competente (ex: Caso
Aquaparque, em que se verificou
ausência de regulamentação sobre
parques de diversão aquáticos).
Página

○ Fiscalização:
44

 Concreta (artigo 280º da CRP) – em


qualquer tribunal, no âmbito de um
processo judicial particular;
 Abstracta (artigo 281º da CRP) –
domínio do Tribunal Constitucional.
• Preventiva (antes da
aprovação da Lei);
• Sucessiva (após a aprovação
da Lei).
 A declaração de
inconstitucionalidade pode ser
realizada, num caso concreto, pelas
várias instâncias, até ao Tribunal
Constitucional.

✔ Usucapião – forma original de aquisição de


direitos reais;
✔ Direito do Trabalho trata:
○ das relações jurídicas individuais do
trabalho (contrato individual de trabalho);
○ das relações jurídicas colectivas do
trabalho (contrato colectivo de trabalho,
direito à greve).
 Convenções colectivas de trabalho:
“tem corpo de contrato (inter partes)
e alma de Lei (gerais e abstractas)”
• Contrato colectivo de trabalho –
entre associações sindicais e
associações patronais ou
empregadores;
• Normalmente, os contratos só
celebram efeitos entre as
partes (eficácia relativa ou inter
partes). Adequando esta noção
Página

ao caso apresentado, os efeitos


seriam sobre os empregadores
45

signatários e os trabalhadores
filiados/sindicalizados;
• Todavia, neste caso, existe uma
eficácia externa, isto é, os
efeitos produzem-se sobre
trabalhadores filiados e não
filiados;
• Por isso, coloca-se em causa a
integração do Direito do
Trabalho no Direito Privado. Há
apologistas da integração do
Direito do Trabalho no Direito
Social.

✔ As sociedades civis previstas no Código Civil


não têm personalidade jurídica;
✔ Sociedades comerciais (com personalidade
jurídica) – distinguem-se em função do tipo de
responsabilidade assumida.
○ Sociedades Anónimas (abreviado por
S.A.) - O capital das S.A. é dividido em
acções e cada sócio limita a sua
responsabilidade ao valor das acções que
subscreveu;
○ Sociedades por quotas (abreviado por
Lda.) - As sociedades por quotas exigem
um mínimo de dois sócios (excepto no
caso das sociedades unipessoais por
quotas). Todos têm que entrar com
dinheiro, ou com bens avaliáveis em
dinheiro. O capital social mínimo é de 5
mil euros, que não tem que ser
integralmente realizado no momento em
que o pacto social é outorgado (podem
ser diferidas 50 por cento das entradas
Página

em dinheiro, desde que o capital mínimo


fique logo realizado). A responsabilidade
46

dos sócios tem uma dupla característica:


é limitada e solidária. É limitada porque
está circunscrita ao valor do capital social.
Quer isto dizer que por eventuais dívidas
da sociedade apenas responde o
património da empresa e não o dos
sócios. É solidária na medida em que, no
caso do capital social não ser
integralmente realizado aquando da
celebração do pacto social, os sócios são
responsáveis entre si pela realização
integral de todas as entradas
convencionadas no contrato social
(mesmo que um dos sócios não cumpra
com a sua parte).
○ Sociedades em nome colectivo - Os
sócios respondem individualmente pela
sua entrada. Pelas obrigações sociais
respondem subsidiariamente em relação
à sociedade e solidariamente com os
outros sócios.
○ Sociedades em comandita - Cada um
dos sócios comanditários responde
apenas pela sua entrada. Os sócios
comanditados respondem pelas dívidas da
sociedade nos mesmos termos da
sociedade em nome colectivo.
 Simples;
 Por acções.
○ As sociedades em nome colectivo e em
comandita implicam maior
responsabilidade dos sócios.

✔ Direito Internacional Público – considerado


Página

Direito Público, refere-se ao conjunto de


normas que regulam as relações entre sujeitos
47

de direito internacional:
○ Estados soberanos (actuam em posição
de igualdade, o que, desde logo, anula o
critério da posição dos sujeitos)
○ Organizações Internacionais;
○ Vaticano;
○ Indivíduo (questão dúbia: o indivíduo
como pessoa de Direito Internacional
Público)

✔ Direito Internacional Privado (a partir do


art. 14º do C.C.)
○ Regulam as relações plurilocalizadas;
○ Conexão entre Estados federados;
○ Elementos de conexão entre diferentes
ordens jurídicas:
 Nacionalidade;
 Residência.
○ Normas de conflito (a partir do art. 25º do
C.C.)
 Ver a partir do artigo 49º;
 Art.º 55 – separação judicial de bens
e divórcio (pode implicar a aplicação
de Direito de outro país);
 Saber qual o Direito a aplicar em
casos concretos.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
Página

(Sexta-Feira, 30 de Outubro de 2009, 11h-12h30 –


Aula Teórica)
48

➢ A maior parte das relações sociais são gratuitas, não


implicam uma equivalência de prestações;
➢ Direito enquanto realidade objectiva – destrinça com a
Moral (relação de autonomia). Ninguém pode ser
recriminado por convicções sociais diferentes ao nível
da Moral e da Religião;
➢ A autonomia dos Homens (vontade humana) na
definição do justo é relativa (ver art. 464º do C.C. -
gestor de negócios);
➢ A Lei é uma razão de ser do Direito, tem de estar
conforme com o Direito. O poder político apenas pode
fazer interpretações daquilo que é justo, competindo-
lhe realizar honestamente a justiça;
➢ A concepção de Lei nos Estados totalitários entende
que a razão de ser está no chefe;
➢ O entendimento do justo natural deve actualizar-se em
função das novas realidades (ex: bioética);
➢ Se é verdade que há realidades que radicam na
natureza humana, também é verdade que o direito
positivo assume um papel fundamental na construção
do Direito;
➢ Não podemos considerar que todas as questões de
Direito são relativas (relativismo), pois nem todas as
concepções de Direito são equivalentes. Esta posição
inviabiliza o diálogo inter-cultural e proporciona o uso
do poder pelo poder;
➢ Devemos assumir as limitações da nossa perspectiva e
promover um diálogo que possibilite um entendimento
entre ambas as partes, em busca de um conceito
harmónico de Direito;
➢ Há matérias sobre as quais, historicamente, não é
possível um consenso, impondo-se uma autoridade;
➢ O Direito Positivo assume uma posição essencial nesta
matéria, traçando uma directriz que transmite certeza
Página

aos princípios.
✔ Art. 80º (reserva da vida privada) – lei geral
49

que apela a determinados valores.


➢ A Lei precisa de garantir a eficácia das normas
jurídicas, em cada período histórico, através de um
aparelho instituído;
➢ A Lei impede o arbítrio dos jogadores (juízes,
advogados), dado que ela implica a vinculação destes
às normas vigentes.
○ Aos tribunais, compete a administração da
justiça, em nome do povo (n.º1, art. 202º da
CRP). Seguidamente, no n.º1 do art. 205º da CRP,
diz-se que as decisões dos tribunais estão
sujeitas à Lei vigente;
○ O juiz pode decidir contra legem, mas intra ius.
Portanto, não se pode confundir Lei e Direito;
○ O art. 8.º do Código Civil limita o poder arbitrário
do juiz. Com isto, procura-se o objectivamente
justo;
○ O juiz não pode decidir de acordo com as
convicções pessoais.
➢ A Lei geral e abstracta permite a adaptação da mesma
a cada caso concreto, proporcionando um tratamento
igual de todas as situações. É uma medida geral que
impede diferentes decisões sobre casos equivalentes;
➢ Os defensores do jusnaturalismo não renegam a
importância da Lei. René Descartes, autor da célebre
frase “Penso, logo existo”, considera impossível
observar a realidade e entender o justo e o injusto. Tal
só é possível apenas recorrendo ao pensamento e às
concepções do sujeito – viragem subjectivista
(redução da realidade ao pensamento). Descartes
exclui os entendimentos individuais, ocorrendo assim
um “corte” entre o “ser” e o “dever ser”. Na mesma
altura, surge Maquiavel com a teoria do iluminado, em
“O Príncipe”, dotado de poder divino, agindo de acordo
com a sua vontade. Para Immanuel Kant, era
Página

impossível ao indíviduo conhecer a realidade e falar de


justiça, com verdade, consentaneamante. John Rawls,
50

autor de uma Teoria da Justiça material, assentando o


Direito numa convenção que permite a sã convivência
(retoma do “Contrato Social”, de Jean-Jacques
Rousseau);
➢ Possível definição de Direito: O Direito é uma
ordenação da vida social (atendendo à alteridade e
exterioridade), segundo a Justiça (pretensão de
Justiça);
➢ Não há uma ordem jurídica perfeita, porém ela está
vocacionada para esse valor. O sistema de recursos
para tribunais superiores assenta num princípio de
aperfeiçoamento de uma decisão, procurando fazer
justiça;
➢ A ordem jurídica tem de ser minimamente compatível
com a ideia de Justiça, daí a consagração, por
exemplo, do princípio da dignidade da pessoa
humana;
➢ O legislador tem toda a legitimidade para consagrar
normas que visem a prossecução da Justiça;
➢ O sociólogo alemão Niklas Luhmann, considerado um
dos mais importantes representantes da ciência,
defende a legitimidade pelo processo, ou seja nega
a ideia de Justiça, considerando legítima uma decisão
pelo cumprimento dos mecanismos processuais
previstos. Trata-se de uma perspectiva criticável, pelo
facto de não entender a noção de Direito como algo
evolutivo, não efémero;
➢ O Direito não está necessariamente relacionado com o
Estado. Nem todo o Direito tem origem estadual. O
Direito Internacional Público, o Direito das
Comunidades Primitivas, o Direito Canónico, o Direito
Infra-estrutural das instituições são exemplos desta
realidade;
➢ É necessário fortalecer as instituições internacionais
Página

(como o Tribunal Penal Internacional) para resolver os


problemas globais;
51

➢ Pode existir Direito sem coacção, ou seja, a


coercibilidade não é uma característica intrínseca do
Direito. A eficácia do Direito não está dependente da
existência de aparelho coercivo, logo a inexistência de
coercibilidade não implica a inexistência de Direito.
Sem existir coacção, o cumprimento de uma norma é
realizado espontaneamente de acordo com o princípio
da justiça (adesão àquilo que é justo);
➢ A norma jurídica orienta os comportamentos dos
indivíduos, mesmo sem existir coacção;
➢ O Direito é uma ordem necessária e representa um
imperativo (imperatividade). A coacção é um
instrumento ao serviço da justiça, secundário, não é
uma característica essencial, mas por vezes
necessária (característica tendencial);
➢ A consciência de justiça por vezes proporciona a
realização de justiça (relembrar luta pela
independência de Timor-Leste, contra o domínio
indonésio);
➢ A coercibilidade implica um sistema de sanções
reguladas por um conjunto de normas secundárias (ex:
códigos processuais)
○ Tipos de sanções
 Compulsórias (levam o infractor a praticar,
ainda que tardiamente, o acto devido);
• Sanções Pecuniárias Compulsórias (art.
829.º-A do Código Civil);
• Direito de Retenção (art. 754.º do C.C.)
– o direito de retenção existe, desde
que o devedor disponha de um crédito
contra o seu credor, quando, estando
obrigado a entregar certa coisa, o seu
crédito resulta de despesas feitas por
causa dela.
Página
52

INTRODUÇÃO AO DIREITO I (continuação)


(Segunda-Feira, 02 de Novembro de 2009, 14h-
15h30 – Teórica)
 Reconstitutivas (visam reconstituir a
situação que existiria se a norma não fosse
violada);
• Apossarmo-nos de algo de outrem
contra a sua vontade. Desde logo, o
juiz manda reconstituir;
• Execução específica das obrigações:
○ Realização do pagamento de uma
quantia (por exemplo);
○ Prestação do devedor que se
traduz num acto jurídico (ex:
contrato-promessa)
 Execução da promessa (art.
830º do C.C.).
○ Pagamento de uma indemnização
por acto lesivo (art. 562º e 566º
do C.C.). De recordar, todavia, que
a reconstituição normal é in
natura (em espécie).

 Compensatórias (quando a reconstituição


não é possível);
• Prestações de facto infungível que não
se podem cumprir (por exemplo). Neste
caso, há lugar a uma compensação;
• Danos não patrimoniais (relacionados
com direitos de personalidade – art.
496º do C.C.).
Página

 Punitivas (sanção que implica sofrimento


53

ou reprovação da conduta de alguém);


• De natureza criminal (aplicação de
uma pena privativa de liberdade,
obrigação ao pagamento de quantias
pecuniárias, etc.)
• Disciplinares (infracção de uma
ordem ou disciplina que existe no meio
de uma organização)
• Civis (condutas ilícitas não criminosas)
○ Incumprimento de um contrato,
por exemplo;
 Estabelecimento de uma
cláusula penal (art. 810º,
811º e 812º do C.C.)
• O juiz pode reduzir
cláusulas
desproporcionadas;
• Podem existir no seio de
associações.

 Preventivas (visam prevenir situações de


desconformidade com a Lei);
• Artigos 780º e 781º do C.C. – numa
dívida de prestação, no incumprimento
de uma, todas as outras vencem
(medida cautelar);
• No campo do Direito Penal – medidas
de segurança sobre inimputáveis, que
não possuem idoneidade suficiente
(p.e. menores).
○ Nos sistemas totalitários, a
aplicação de penas pode ser
sucedida por medidas de
Página

segurança, como ausência de


liberdades.
54

➢ Valores negativos (ou desvalores) do acto


jurídico – um acto jurídico pode ser ineficaz, o que
não é necessariamente uma sanção.
Podemos distinguir três tipos de ineficácia (em sentido
amplo), por ordem decrescente de gravidade:
○ Inexistência jurídica (art. 245º do C.C., p.e.);
○ Invalidade (actos existentes que padecem de um
vício);
✔ Nulidade (não produz em absoluto efeitos
jurídicos);
✔ Anulabilidade (forma menor de invalidade
que inquina o acto, surtindo efeitos precários –
art. 256º do C.C., p.e.)
○ Em caso de anulabilidade, compete ao
errante decidir se quer ou não anular o
acto.
○ Ineficácia em sentido restrito (mera ineficácia,
total ou parcial)

○ Há actos ilícitos que são válidos, assim como há


actos inválidos que são lícitos. Exemplos:
✔ Contrato de compra e venda através de um
documento particular – estamos perante um acto
lícito, mas inválido. Implica uma forma solene,
que constitui uma excepção ao artigo 219º do
C.C. (liberdade de forma);
✔ Casamento de menores de 18 anos, mas maiores
de 16 anos sem consentimento – estamos
perante um acto ilícito, mas válido, visto que
se verifica a falta de consentimento dos pais ou
do tutor, quando não suprida pelo Conservador
do Registo Civil (ver artigo 1648º do C.C., sobre
boa fé em casamento putativo).
Página

➢ A coercibilidade é a susceptibilidade de aplicação


55

coactiva de uma sanção;


➢ Uma ordem jurídica não depende da coercibilidade,
sobrevive com a adesão voluntária dos cidadãos às
normas;
➢ Há normas jurídicas que não são assistidas de
coercibilidade. Por exemplo: normas de Direito
Internacional Público, Direito Canónico, normas de
ordens jurídicas infra-estaduais (das associações);
➢ Nos artigos 402º, 403º e 404º, são apresentadas
obrigações naturais, isto é, deveres sociais que não
podem ser coactivamente impostos e não são
exigíveis judicialmente;

➢ Princípio da proibição da justiça privada ou


autotutela (“justiça pelas próprias mãos”) – art.º 1 do
Código de Processo Civil
○ Como alternativa, existe a possibilidade de
requerer aos tribunais um procedimento judicial
(art.º 2 do CPC – Garantia de Acesso aos
Tribunais) – “a cada direito corresponde uma
acção”
○ Excepções:
 Estado de necessidade (art. 339º do C.C.)
– causar dano a outrem para salvaguardar
um bem maior;
• Hipoteca social da propriedade, por
exemplo (“em caso de necessidade,
tudo é de todos”).

 Legítima defesa (art. 337º e 338º do C.C.)


– impossibilidade de recorrer ao tribunal em
situação de agressão iminente;
• Legítima defesa putativa (excesso
Página

de legítima defesa);
• Fenómeno que irrompe
56

indiscriminadamente.

 Acção Directa (art. 336º do C.C.) – o


agente emprega a força para realizar o seu
direito, dadas as delongas da acção judicial;
• Subordina-se à racionalidade e à
proporção;
• Não há defesa contra agressão como
na legítima defesa.

 Direito de Resistência – direito de resistir


a qualquer ordem que ofenda os direitos,
liberdades e garantias, provenientes de uma
autoridade pública.

➢ A Administração Pública detem mecanismos que visam


uma actividade preventiva de infracções (tutela
preventiva da polícia, do Banco de Portugal,
tribunais, etc.)
○ Os tribunais podem aplicar procedimentos /
providências cautelares (fumus boni iuris) –
decisão provisória de tutela (antecipando a tutela
judicial) que caduca, se improcedente.

➢ Legitimidade da coacção no Direito


○ Representa uma limitação das liberdades do
indivíduo;
○ Coercibilidade como manifestação de
heteronomia;
○ Necessidade de um requisito de autonomia –
coercibilidade – como garante da ordem social;
○ A coacção é exigível, representa uma condição
de podermos viver livremente.

➢ Relação do Direito com o Poder Político e a


Página

Força (observação macroscópica)


○ Direito depende da força, porque em parte, na
57

sua origem, advem da Lei que é imposta por


quem detem autoridade. Depende da força na
sua autoridade (aparelho estatal);
○ Todavia, o Direito não se reduz à força, pois, caso
assim fosse, seria uma sucessão de vontades
arbitrárias dependentes de caprichos de alguém;
○ Vivemos num Estado de Direito, que portanto
assegura como missão realizar esse Direito. Já
um Estado, que tomasse uma posição
complacente, ficaria indefeso;
○ O Estado não exclui a força, exclui a violência,
apesar de determinados países liberalizarem a
pena de morte;
○ O Direito legitima e regula a força, procura conter
a força dentro dos seus limites (potestas
ordinata);
○ A força interessa para o plano da vigência /
eficácia do Direito, não para o plano da validade
do Direito.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 03 de Novembro de 2009, 9h-11h –
Aula Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º3 (continuação)

○ Normas de Direito adjectivo (fora dos


tribunais) – regulam os registos (civil, predial,
comercial, etc.); regras do Código Notarial
○ Normas de Direito substantivo (fora dos
tribunais) – estabelecem direitos e deveres
sobre as relações jurídicas (capacidade jurídica,
poderes conferidos)
Página

Grupo III
58

○ Todos os critérios de distinção de Direito Público


e Direito Privado são passíveis de crítica,
inclusive o critério da posição dos sujeitos que,
quando inadequado, é substituído por outro(s);
○ Existem alguns ramos do Direito que não
encaixam nesta distinção entre Direito Público e
Direito Privado (summa divisio), como o Direito
Internacional Público (relações dos Estados
ocorrem em situação de igualdade, desprovidos
de imperium). Isto justifica a “insuficiência
científica crónica”;
○ Esta distinção é típica dos ordenamentos jurídicos
romano-germânicos.
○ Relevo prático da summa divisio ao nível da:
 Organização judiciária (hierarquia dos
tribunais)
• Direito Administrativo e Fiscal
(Direito Público)
○ Tribunal Judicial de 1.ª instância;
○ Tribunal Central Administrativo
(2.ª instância);
○ Supremo Tribunal Administrativo
(órgão superior – não é de 3.ª
instância)
• Tribunais Comuns (Direito Privado)
○ Tribunal da Comarca (ou de 1.ª
instância);
○ Tribunal da Relação (ou de 2.ª
instância);
○ Supremo Tribunal de Justiça

• Trata-se de uma distinção tendencial


entre Direito Público e Direito Privado,
porque existe matéria penal julgada
Página

em tribunais de competência genérica.


• Os tribunais de 1.ª instância têm
59

competência para julgar matéria de


facto, isto é verificar se os factos
alegados foram provados. Já os
Supremos Tribunais não intervêm em
matéria de facto, apenas interpretam e
aplicam as normas jurídicas. Têm poder
de revisão sobre os acórdãos de 2.ª
instância;
• Noutros ordenamentos jurídicos, como
o francês, vigora o sistema da
cassação que não possibilita a tomada
de outra decisão, permite apenas a
revogação.

 Aplicação no plano de estudos – existem


disciplinas que apenas congregam Direito
Público ou Direito Privado.

Grupo IV

○ Contrato de compra e venda – na contratação


pública, aplicam-se normas públicas, para
assegurar a transparência do processo (dispêndio
de dinheiros públicos) que envolve elevadas
quantias e porque está envolvido de um regime
especial;
○ Estamos perante uma relação de Direito Privado,
em que a entidade colectiva de Direito Público
apresentada – Câmara Municipal de Lisboa –
participa na relação jurídica desprovida de
imperium. É, portanto, uma questão da
competência dos tribunais comuns.

Grupo V
Página

○ N.º1 do Art. 508º do C.C. – Responsabilidade civil


pelo risco, em acidentes de viação (com
60

vantagens associadas à prova da culpa, que não


é exigida – remete para o seguro obrigatório de
responsabilidade civil);
○ Estamos perante uma situação em que o Estado
Português relevou inércia na transposição da
directiva comunitária, posição que lesou
gravemente o queixoso. Assim, compete ao
Estado indemnizar o lesado pelos prejuízos
causados por tal omissão legislativa;
○ De acordo com a alínea g) do art.º 4 do Estatuto
dos Tribunais Administrativos e Fiscais, é da
competência destes o julgamento de questões
em que, nos termos da lei, haja lugar a
responsabilidade civil extraordinária das pessoas
colectivas de direito público (p.e. Estado
Português) incluindo a resultante do exercício da
função jurisdicional e da função legislativa.
○ Efeito directo vertical ≠ Efeito directório
horizontal
(directiva comunitária) (regulamento
comunitário)
↓ ↓
Estado Aplicado directamente aos
indivíduos
↓ (não implica
transposição)

Por conseguinte aos


indivíduos após transposição
 Se não houver transposição e alguém sair
prejudicado com esta situação, entende-se
que é da competência do Estado ressarcir o
indivíduo.
Página

➢ Ficha de Trabalho n.º4 – Tutela Jurídica


61

○ Distinção entre sanção e tutela jurídica (conceitos


entendidos de modo diferente pelos autores dos
manuais adoptados);
○ Relação entre sanção e coercibilidade
 Sanção – consequência do Direito por
violação de uma regra jurídica (noção que
não é unanimamente defendida);
 Coercibilidade – susceptibilidade de
aplicação coactiva (pela força) de uma
sanção. Por exemplo:
• sanção coactiva de liberdade (p.e. –
prisão preventiva);
• acção de despejo pela força (por
incumprimento do pagamento ao
senhorio);
• imposição de pagamento de uma
indemnização que não foi paga
voluntariamente, recorrendo à penhora
ou venda forçada.

○ Existem, no esquema do Direito Processual


Civil, duas espécies fundamentais de acções: a
acção declarativa e a acção executiva (n.º1 do
artigo 4.º do CPC).
 Processo Declarativo
• Acção de simples apreciação - é
pedido ao tribunal que declare a
existência ou inexistência dum direito
ou dum facto jurídico.
• Acção declarativa de condenação -
vai-se mais longe: sem prejuízo de o
tribunal dever ainda emitir aquele juízo
declarativo, dele se pretende também
(e fundamentalmente) que, em sua
consequência, condene o réu na
Página

prestação duma coisa ou dum facto.


• Acção declarativa constitutiva - o
62

juízo do tribunal já não é limitado,


como nas duas subespécies anteriores,
pela situação de direito ou de facto
pré-existente. Pela sentença, o juiz,
perante o exercício judicial dum direito
potestativo, cria novas situações
jurídicas entre as partes, constituindo,
impedindo, modificando ou extinguindo
direitos e deveres que, embora
fundados em situações jurídicas
anteriores, só nascem com a própria
sentença.
 Processo Executivo - tem por finalidade a
reparação efectiva dum direito violado. Não
se trata já de declarar direitos, pré-
existentes ou a constituir. Trata-se, sim, de
providenciar pela reparação material
coactiva do direito do exequente. Com ela,
passa-se da declaração concreta da norma
jurídica para a sua actuação prática,
mediante o desencadear do mecanismo da
garantia.

○ Nos artigos 610º e seguintes do Código Civil, está


prevista a impugnação pauliana (criada pelo
senador romano Paulus), que é uma acção
pessoal (e não uma acção de anulação). Na
impugnação pauliana, o pedido a formular é o de
que seja declarado que determinado acto jurídico
é ineficaz perante o credor de quem o praticou e
não o de declaração de nulidade do negócio.
○ Outra distinção das modalidades de
ineficácia dos actos jurídicos:
Página

Ineficácia em sentido Inexistência


amplo ≠
63

• Invalidade Por exemplo, art.


➢ Nulidade 246º do C.C., em
(abrange casos de coacção
interesses da física, não há
colectividade) manifestação de
Por exemplo, vontade.
violação de
direitos públicos
(p.e. fé pública dos
documentos,
quando não há
observação da
forma legal
exigida.)
➢ Anulabilidade
(pretende-se
proteger
interesses
particulares)
Por exemplo, o
contrato celebrado
por um menor (art.
125º do C.C.)

• Ineficácia em sentido
restrito (p.e. contrato
de compra e venda com
reserva de propriedade,
sujeito a uma condição
suspensiva –
pagamento integral do
preço.)
Página

○ Critérios de requisição da nulidade e da


anulabilidade (art. 286º e seguintes do Código
64

Civil)
 Nulidade – pode ser invocada sem
dependência de prazo, por qualquer
indivíduo, e declarada pelo tribunal (art.
286º do C.C.);
 Anulabilidade – pode ser invocada no
prazo de um ano à cessação do vício que lhe
serve de fundamento e pelas pessoas em
cuja interesse a lei estabelece (n.º1 do art.
287º do C.C.). Este prazo exige que os
interessados sejam diligentes na declaração
de interesse.
O negócio jurídico viciado por anulabilidade
vai produzindo efeitos até à sua declaração.
Os negócios inválidos (nulos ou anuláveis)
têm efeitos retroactivos, ou seja, o lesado
tem direito a reaver o que era seu (n.º1 do
art. 289º do C.C.).

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 06 de Novembro de 2009, 11h-12h30 –
Teórica)
➢ Relação entre Ordem Jurídica e Ordem Moral
○ Diferentes critérios de distinção
 Coercibilidade
• Normas morais – sem aplicação
coactiva;
• Normas jurídicas – com aplicação
coactiva.

Trata-se de um critério insuficiente,


porque há normas jurídicas sem aplicação
coactiva, porque a coercibilidade apenas
Página

está ao serviço do Direito (é meramente


instrumental).
65

 Heteronomia
• Normas morais – são autónomas,
dizem respeito apenas ao sujeito,
criando o seu próprio padrão moral;
• Normas jurídicas – dependem de
exigências externas.
Trata-se de um critério insuficiente,
porque a moral também é heterónoma.
Ninguém é dono do bem ou do mal, apenas
adoptamos um padrão moral, do qual nos
podemos desviar. Todavia, é necessário ter
uma mínima moral objectiva (recta moral)
para garantir uma sã convivência entre os
cidadãos, isto porque não há subjectivismo
morais mas, por outro lado, há consensos
morais.

 Exterioridade
• Normas morais – preocupam-se com
o lado interno;
• Normas jurídicas – preocupam-se
com o lado externo.

Trata-se de um critério insuficiente,


porque ao Direito também interessa a
vontade, as intenções do indivíduo,
nomeadamente em matéria de Direito Penal.
O juízo de censura é, por isso, ético-jurídico.
Por outro lado, para a Moral também não é
indiferente o impacto externo da conduta
(uma tentativa de homícidio é diferente de
um homicídio consumado). Todavia, o Direito
procura projectar, sobretudo, uma ordem
social, e a Moral procura o aperfeiçoamento
Página

do indivíduo. Por isso, podemos considerar


que este é o melhor critério de distinção.
66

 Mínimo Ético – o Direito consubstancia um


mínimo ético – mínimo necessário para
garantir um bem-estar social.
• Trata-se de um critério falacioso,
porque há muitas regras jurídicas que
nada têm a ver com a ética (ex: prazos
processuais, Direito Organizatório). No
entanto, aquilo que é mais constante
no ser humano relaciona-se com a
ética (direito comum) – concepções
moralmente fixadas.

○ O Direito procura criar as condições fundamentais


para cada indivíduo orientar a vida em busca da
sua concretização. Encontra-se orientado para o
designado bem comum;
○ O Direito revela-se igualmente importante para a
resolução de conflitos de interesses (tutela
jurídica);
○ Quando o Estado tutela a “moral pública”, os
“bons costumes” (p.e. – art. 280º do C.C.),
verificamos que estes conceitos não são
irrelevantes para o Direito. Este procura agir,
quando há uma perturbação da boa convivência.
Por exemplo, na questão da legalização do
casamento homossexual, ao Direito interessa
saber o reflexo que tal decisão terá na política
pública de família, não sendo por isso uma
questão meramente semântica;
○ Moral e Direito são duas disciplinas que se
intersseccionam, mas não prosseguem os
Página

mesmos fins. Por exemplo, em relação à defesa


da honra da palavra, ao Direito interessa proteger
67

a ordem social, já à Moral importa proteger o


valor da honra do indivíduo.
○ Princípio da não-beligerância entre Direito e
Moral (o Direito não pode violar a Moral) – As
prescrições morais não vinculam juridicamente,
porém o Direito não deve impor nada que não
seja moralmente devido nem prescrever o
moralmente condenável. Existem também os
chamados “actos toleráveis” que são permitidos
pelo Direito, mas rejeitados pelas normas morais
(ex: consumo de drogas, prostituição);

○ Classificação das normas jurídicas:


 Proibitivas (proíbem condutas);
 Impositivas (impõem condutas);
 Permissivas ou Prescritivas (atribuem
liberdade ao indivíduo).

○ Num Estado Social de Direito, Ética e Direito


assumem elevada relevância.
○ Os valores morais têm repercussão social nas
virtudes cívicas. A dedicação à causa pública só
se pode fazer com valores morais;
○ Muitos conceitos da ordem jurídica remetem para
a Ética:
 “Boa fé” – conceito moralmente
impregnado (artigos 227º e 726º do C.C.,
por exemplo);
 “Abuso do Direito” – artigo 334º (cláusula
geral do abuso do Direito)

○ Norma jurídica (em sentido estrito) – pequena


unidade jurídica que compõe o Direito no seu
todo. As normas jurídicas constituem uma
Página

multiplicidade de critérios de decisão,


particulares e concretos, com a mesma
68

intencionalidade (realizar a justiça). Concretizam


a juridicidade.
○ Norma jurídica (legal ou costumeira) ≠ Lei
 A norma jurídica pode estar íncita no
costume;
 A norma jurídica é constituída por previsão
(ou antecedente) e estatuição (ou
consequente);
• Previsão – situação de facto à qual se
aplica uma consequência;
• Estatuição – consequência que se
aplica.
 O facto previsto pode envolver pessoas,
dizer respeito a acontecimentos concretos,
definir espaço e tempo, ser uma situação
valorativamente apreciada pelo Direito (p.e.
art. 892º do C.C. – definir o que é coisa
alheia, conhecendo o seu dono), empregar
conceitos específicos (ex: conceito de
“arma”, para efeitos criminais, de
“documento”)

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 9 de Novembro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Teoria Geral da Norma Jurídica
○ Previsão – recorte de factos (conceitos)
susceptíveis de valoração jurídica. Estes
conceitos são encarados pelo sistema conceptual
do Direito de modo diferente à linguagem normal;
○ As normas jurídicas respondem a questões de
Página

Direito, que não dispensam uma averiguação


dos factos (questões de facto) – ver artigo 486º
69

do C.C. Se não houver factos que desencadeiem


a consequência jurídica prevista na norma, ela
não passa de um comando hipotético. O facto
convoca a norma à sua aplicação concreta. A
resposta a questões de Direito implica a resposta
a questões de facto, olhando para a norma
jurídica e seus pontos de vista;
○ Existem dados de facto (ex: espaço, tempo) que
influenciam a aplicação das normas jurídicas (por
exemplo: a acção realizar-se de dia ou de noite);
○ Alguns autores entendem que as normas jurídicas
são comandos de conduta, o que não
corresponde totalmente à realidade. Há normas
jurídicas que não são imperativos de conduta.
Esta imperatividade (ordem de autoridade, com
imposição de deveres e estabelecimento de
proibições) distingue-se da imperatividade que
diz respeito ao Direito enquanto exigência
absoluta de observância.
Note-se que existem normas jurídicas
permissivas (art. 405º e 1305º do C.C.) e
normas classificatórias / definitórias (art.
203º do C.C.), que classificam uma realidade (no
caso do art. 203º do C.C., trata-se da noção de
“coisa”). Esta distinção entre normas permissivas
e definitórias assume particular interesse para o
art. 875º do C.C. A norma do art. 203º não tem
consequências jurídicas, trata-se meramente de
uma descrição, de uma categoria de coisas a
utilizar noutras normas.
As proposições normativas incompletas (sem
estatuição) condicionam indirectamente as outras
normas jurídicas, sendo por isso meramente
instrumentais ou funcionais. O art. 790º (extinção
da obrigação por impossibilidade) é uma norma
Página

que apenas produz efeitos jurídicos, não impõe


condutas.
70

As regras sobre regras (de 2.º grau), como


por exemplo as regras de conflito de Direito
Internacional Privado (relações jurídico-privadas
plurilocalizadas), procuram dirimir relações de
conflito entre diferentes ordenamentos jurídicos
que regem uma mesma situação, ou seja,
pretende-se saber qual dos ordenamentos se vai
aplicar e não visam definir a conduta dos sujeitos.
São possíveis critérios a adoptar nestas
situações: a nacionalidade, a residência, o lugar
onde os bens se encontram (no caso de relação
sobre propriedade)
As regras supletivas podem ser afastadas pela
vontade das partes, não constituindo por isso um
comando.
Por tudo isto, a norma jurídica não pode ser
entendida como um comando. Por outro lado, as
normas jurídicas resultam de um conjunto de
factores e da posição de vários legisladores, não
são um produto da vontade voluntária do
legislador.
○ Destinatários da norma jurídica – não sendo
uma norma de conduta, não tem destinatários
concretos. Entende-se que a norma jurídica seria
um imperativo que tinha como destinatários os
entes públicos (Administração Pública, Tribunais).
Esta noção é bastante redutora, pois, por
exemplo, uma norma sobre relações contratuais
dirige-se a todo aquele que celebra contratos.
Aliás, o Direito existe antes da ordem judicial e
compete ao juiz aplicar o Direito.
○ A norma jurídica pode ser escrita ou não escrita e
pode, também, brotar de uma fonte de Direito
diferente (p.e. Lei, costume, princípios
indeclináveis do Direito);
Página

○ É necessário distinguir norma jurídica do texto


que a exprime – enunciado linguístico. O
71

enunciato comunicativo é variável, mas a norma


é a mesma, que implica uma interpretação;
○ Segundo o prof. António Menezes Cordeiro, o
Direito concreto apenas se encontra nas decisões
jurídicas, ou seja, os códigos legais não passam
de meros projectos. Trata-se de um
enviesamento da realidade, pois a decisão
judicial não cria o Direito, apenas reconhece o
Direito. Por outro lado, nem todo o Direito é
judicializado, aliás a maior parte dele é
espontaneamente seguido e não deixa de ser
uma aplicação do Direito;
○ O processo de criação do Direito na ordem social
e histórica é dinâmico e submete o juiz ao seu
cumprimento;
○ Características gerais das normas jurídicas:
 Generalidade (≠ individualidade) – as
normas jurídicas não têm destinatário
singular, têm por outro lado um número
indeterminado de destinatários, isto é, todos
aqueles que são susceptíveis de serem
abrangidos pela norma jurídica. Assim, a
sentença judicial não é uma norma jurídica,
dado que não visa regular uma situação
praticável por um número indeterminado de
sujeitos (sujeitos não individualizáveis). As
normas jurídicas que regulam a actividade
do Presidente da República são plurais,
ainda que num determinado momento
histórico apenas tenham um único
destinatário. Do mesmo modo, os preceitos
negociais de um contrato não constituem
normas jurídicas, dado que são meros actos
de autonomia privada, que moldam uma
disciplina jurídica própria (lex privata).
Página

 Abstracção – as normas jurídicas aplicam-


se a uma categoria mais ou menos ampla de
72

situações passadas ou presentes. Não se


impelem determinados sujeitos de Direito,
identificados, a praticar uma determinada
acção jurídica. Apesar de uma norma
jurídica poder apresentar uma dada
pormenorização da situação, não deixa de
ser abstracta, porque não refere os
indivíduos envolvidos. Não podemos,
contudo, deixar de salientar uma
proximidade entre as características gerais
das normas jurídicas: generalidade e
abstracção.
Quando, por outro lado, se apresenta uma
situação concreta e se individualiza as
pessoas abrangidas, estamos perante um
acto administrativo.
Já quando uma determinada norma
apresenta, camufladamente, um
destinatário concreto, estamos perante uma
Lei fotografia. Tal Lei diminui as garantias
do sujeito.

➢ Regra jurídica e relação jurídica


○ O facto jurídico introduz dinamismo à norma,
permitindo a produção de efeitos:
 Constitutivos (eficácia constitutiva – p.e.
usucapião, que gera novos efeitos);
 Modificativos (p.e. constituição de usufruto
sobre propriedade);
 Transmissivos (transmissão de direitos –
p.e. compra e venda, permuta);
 Extinguíveis (p.e. cumprimento, remissão).

○ Contratos sinalagmáticos ou bilaterais:


Página

emergem de obrigações recíprocas para ambas


as partes, sendo deste exemplo o contrato de
73

compra e venda ou contrato de empreitada;


○ Os factos jurídicos podem ter natureza diversa e,
normalmente, decorrem da vontade do
indivíduo. A declaração de vontade é essencial
num contrato de compra e venda, por exemplo.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 10 de Novembro de 2009 – 9H-11H –
Aula Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º4 (continuação)
○ A coercibilidade pode ser considerada
característica do ordenamento jurídico, mas não
propriamente de uma norma jurídica;
○ A tutela jurídica é a reacção do ordenamento
jurídico à violação das normas. Para o Dr.
Baptista Machado, “tutela jurídica” equivale a
“sanção”, expressão utilizada pelo prof. Oliveira
Ascensão.
 Sanções punitivas – censura dirigida ao
agente violador, privando-o de bens
patrimoniais ou não patrimoniais (ex: pena
de multa e pena de prisão);
 Sanções preventivas – p.e. arresto e
providência cautelar, que implica
constituição de acção principal no prazo de
30 dias (p.e. embargo de obra nova, no que
diz respeito à construção de imóveis);
 Sanções reconstitutivas – reposição do
status quo (status quo ante)
• Reconstituição por mero
equivalente – indemnização;
• Reconstituição natural – execução
específica.

Sanções compensatórias – por danos não


Página


patrimoniais;
Sanções compulsórias – constranger
74


alguém a realizar, de modo voluntário, ainda
que tardiamente, determinado
comportamento;
• Prestação de facto fungível – pode
ser praticada por qualquer indivíduo;
• Prestação de facto infungível – só
pode ser realizada por um indivíduo.

○ Na visão do prof. Oliveira Ascensão, a


anulabilidade e a nulidade não constituem
sanções, dado tratarem-se de situações de uma
mera irrelevância jurídica, por incumprimento dos
pressupostos da Lei (valores negativos ou
desvalores). Já na visão do Dr. Baptista Machado,
todo o facto em que se produzem consequências
jurídicas por violação dos pressupostos da Lei é
sanção;
○ O dever de indemnizar os danos resultantes da
prática de um acto ilícito culposo é uma sanção
que implica reconstituição por mero equivalente;
○ Por autotutela, entende-se a possibilidade
excepcional que o Direito confere para repelir a
violação da norma por si próprio. Já por
heterotutela (ou tutela pública), entende-se a
reposição de um litígio por parte do Estado, a
requerimento de um indivíduo, em condições de
imparcialidade (monopólio do poder coactivo
pelo Estado, através dos meios coercivos –
tribunais, polícia, exército);
 Vantagem e Desvantagem da
Autotutela
Página

• Vantagem – no caso de
impossibilidade de se assegurar, em
75

tempo útil, a protecção de direitos;


• Desvantagem – grave perturbação da
ordem social, gerada por “juízes sem
causa própria”; implica uma nova
desordem, não atendendo aos critérios
de imparcialidade.
○ Causar dano por estado de necessidade implica
responsabilidade civil por factos lícitos;
○ Resolvendo a questão 4 da ficha:
 Partindo do princípio que Adelino tem de
pagar o montante que Vítor despendeu ao
levar o cão ao veterinário, mas não
pretende;
 Em conformidade com o art. 754º do C.C.,
Vítor exerceu o direito de retenção. Ele
está em dívida (do cão) para com Adelino,
mas age licitamente como meio de obrigar
Adelino a pagar as despesas de veterinário;
 Adelino comete um acto ilícito, ao tentar
levar o cão à força, agredindo Vítor. Este,
por seu turno, age em legítima defesa (por
agressão actual), agredindo Adelino.
Todavia, Adelino parte o braço em
consequência deste acto;
 Assim, as despesas hospitalares que Adelino
teve devem ser pagas por ele próprio, dado
tal situação ter sido gerada por acto ilícito.
Quanto à reparação da porta, Vítor tem
razão em pretender que Adelino lhe pague o
arranjo (sanção reconstitutiva);
 Nestas circunstâncias, não se aplica o artigo
428º do C.C., pois tal só sucederia se
houvesse despesas extra-contratuais;
 O direito de retenção pode ser entendido
Página

como sanção compulsória, procurando


compelir alguém a adoptar tardiamente
76

determinado comportamento devido, ou


autotutela, procurando fazer justiça
privada sem recurso à força.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 13 de Novembro de 2009, 11h-12h30 –
Teórica)
➢ Nem todos os meios de tutela jurídica são sanções (ex:
medidas preventivas);
➢ A existência de Direito depende da sua aplicabilidade
efectiva – Direito positivo (ou real), com vocação de
aplicação;
➢ Mecanismos de propulsão da vigência das
normas jurídicas:
○ Coercibilidade (e sanções inerentes);
○ Sanções premiais – modo de implantação na
sociedade por aliciamento / recompensa (ex:
concessão de benefícios fiscais, subsídios);
○ Consciência do indivíduo sobre a
juridicidade, tratando-se de uma realidade
multicultural.

➢ Entendendo que a justiça é um fim do Direito,


consideramos que a Justiça encontra-se fora do âmago
do Direito (entendimento incorrecto);
➢ Constituem três valores fundamentais inerentes a todo
o ser: verdade, bem e belo. Por exemplo, o raciocínio
jurídico é harmonioso (característica do belo).

➢ É através da declaração de vontade que os negócios


jurídicos adquirem relevância (ex: contratos). A
produção de consequências jurídicas não ocorre se
houver uma perturbação na declaração de vontade
Página

(p.e. coacção física ou moral). Associada à declaração


de vontade, está o discernimento necessário do
77

indivíduo, que se não se verificar, pode conduzir à


declaração de invalidade do negócio jurídico. Por
exemplo, um indivíduo pode solicitar a anulação de
um negócio jurídico se cometer um erro no
entendimento celebrado;
➢ Existem actos em que, naturalisticamente, a
manifestação de vontade é fulcral (ex: celebração de
um contrato de compra e venda), já noutros é
irrelevante (ex: aquisição de personalidade jurídica de
um novo ser). Noutros casos, não é a manifestação de
vontade efectuada que gera efeitos jurídicos, mas é o
direito objectivo que implica a realização de efeitos
jurídicos (ex: acto declarativo da perfilhação). Como
vimos, existem actos que não implicam declaração de
vontade, mas geram consequências jurídicas (ex:
achamento de um tesouro subaquático; ocupação de
um terreno sem dono, adquirindo o título de
propriedade – art. 1318º do C.C.);
➢ Há factos jurídicos que:
○ Provocam imposição de deveres;
○ Atribuem qualidades, competências ou
faculdades ao sujeito (ex: maioridade);
○ Atribuição de um direito subjectivo (atribuição de
um bem – art. 1301º do C.C.).
➢ Criação do ónus sobre um direito subjectivo – adopção
de um comportamento para promover uma vantagem
ou evitar uma desvantagem (ver art. 913º e ss., em
especial o art. 916º, do C.C.), dentro do prazo
estipulado na Lei;
➢ O nosso ordenamento jurídico consagra o poder
parental como um poder funcional ou poder-dever;
➢ Distinção entre dever jurídico e sujeição
○ Dever jurídico – restrição de um direito, que
Página

pode ou não ser acatada;


○ Sujeição – exposição à realização de
78

determinadas consequências jurídicas na sua


esfera jurídica, sem adoptar qualquer
comportamento. Isto sucede quando estamos
perante um direito potestativo (ex: servidão de
passagem, para titulares de prédios encravados
sem acesso à via pública – direito real menor).
Nestes casos, há uma mera declaração unilateral
de vontade do titular do direito subjectivo. O
direito de constituição de uma servidão de
passagem é um direito transitório, isto porque,
com a sua constituição, extingue-se (tal como os
direitos de crédito).

➢ A eficácia jurídica não se traduz na realização de uma


relação jurídica. Note-se, por exemplo, que o direito de
propriedade envolve apenas o proprietário e a coisa.
Neste caso, estamos perante uma situação jurídica
não relacional. O mesmo sucede com outros direitos
de personalidade (ex: direito ao bom-nome, direito à
honra);
➢ A Parte Geral, Título II do Código Civil aborda as
relações jurídicas;
➢ Classificações das normas jurídicas (enquanto
regras de conduta não valorativas)
○ Regras proibitivas, preceptivas e
permissivas – as regras proibitivas impedem a
prática de uma determinada conduta (“tu não
deves”), como sucede com as normas penais; as
regras preceptivas impõem condutas (“tu
deves”); as regras permissivas (“tu podes”)
conferem liberdades (ex: de testar, contratual, de
eleger) e direitos subjectivos (bens);
○ Regras universais, regionais e locais – nesta
classificação, está em causa o âmbito de
aplicação e não o órgão que aprova a regra.
Página

Assim, as regras universais aplicam-se a todo o


território e as regras locais têm um âmbito
79

territorial circunscrito (p.e. posturas e


regulamentos municipais). Em relação às regras
locais, não se entende uma aplicação analógica a
outros locais. As regras universais são
susceptíveis de aplicação subsidiária a nível
regional;
○ Regras gerais e regras excepcionais – as
regras gerais constituem direito padrão e as
regras excepcionais são direito particular, oposto
ao regime regra, para casos particulares (ex:
liberdade contratual – art. 405º do C.C. –
contrariada em determinados casos, como por
exemplo, exigência de determinada forma de
documento – p.e. documento autenticado).
O art. 11º do C.C. proíbe a aplicação por analogia
de regras excepcionais (aplicação analógica
materialmente excepcional); já nas regras gerais,
pode haver aplicação analógica (formalmente
excepcional), quando nem todos os casos são
abrangidos e previstos pelo legislador.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 16 de Novembro de 2009 - 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Toda a norma jurídica pode ser considerada abstracta,
dado que não há identificação dos seus destinatários;
➢ Direito adjectivo (instrumental) – estabelece os termos
mediante os quais os sujeitos podem recorrer à tutela
judiciária (ex: Direito Processual Civil);
➢ Os Direitos de Personalidade são direitos de domínio
(absolutos), assim como o direito de personalidade,
Página

máximo direito real (exclusivo);


80

➢ Classificações das normas jurídicas (continuação)


○ Regras de Direito comum e de Direito
especial – as normas de Direito especial não
consagram uma disciplina oposta ao direito
comum. Trata-se de um regime particular;
 Direito Especial ao nível dos ramos do
Direito
• Direito Comercial (especial em
relação ao Direito Civil)
○ Compra para revenda (pode ser
feita por um comerciante ou por
qualquer pessoa?);
○ Este sector específico de
actividade leva a valorações
particulares
 Direito Especial dentro do mesmo ramo
do Direito (Direito Processual Civil)
○ Processo comum;
○ Processo especial (trâmites
particulares)
 Prestação de contas (e
dentro deste processo,
também há normas
especiais)

 Aplicações práticas
• Art. 7º, n.º3 do C.C. – Lei geral não
revoga lei especial
○ Com alteração do Direito Comum,
não tem de ocorrer,
necessariamente, alteração do
Direito Especial. Mas também
Direito Especial não revoga Direito
Página

Comum;
○ A revogação de Lei especial não
81

tem consequências no Direito


Comum.
○ Normas autónomas e normas não-
autónomas (art. 678º do C.C.)
 Norma jurídica incompleta (ausência de
estatuição ou previsão)
 Norma classificatória ou definitória
• Artigo 1022º do C.C. – locação;
• Artigo 203º do C.C. – coisa.
○ Articulação com a autonomia privada
 Normas injuntivas e dispositivas
• Normas injuntivas (ou imperativas) –
comandos a que todos estamos
sujeitos;
○ Artigo 875º do C.C. (forma do
contrato de compra e venda);
○ Não são interesses meramente
individuais – interesses
indisponíveis;
○ A sua aplicação não depende do
interesse do sujeito;
○ Interesses públicos e privados
(não dizem respeito à coisa
pública) – ex: servidões (relações
entre prédios – não existem
servidões pessoais);
○ A violação das normas injuntivas
implica a declaração de nulidade
(ver artigos 294º, 280º e 281º do
C.C.) ou ilicitude (quando o acto é
material e contraria regras
jurídicas).
• Normas dispositivas – encontram-se
à disposição do sujeito
○ Relação mais flexível (não
Página

constrangem a autonomia
privada);
82

○ Só se aplicam na medida em que


o sujeito as não afaste (é possível
o estabelecimento de um regime
divergente);
○ Pretendem ajudar as pessoas (ex:
área dos negócios – ver artigos
874º e ss.)
○ Regras supletivas – não podem
ser afastadas,
indiscriminadamente, pelos
sujeitos (ex: cláusulas contratuais
gerais nos contratos com
empresas poderosas, detentoras
de monopólios de mercado,
cláusulas abusivas nos contratos
de mera adesão);
○ Regras interpretativas (art.
236º, 1 e 2 e art. 237º do C.C.) –
visam interpretar o sentido das
declarações negociais das partes.
São relevantes quando não se
conhece, claramente, as intenções
das partes nos negócios onerosos
e gratuitos. Também existem
normas interpretativas de outras
regras do ordenamento jurídico.
Não visam alterar o sentido da
ordem jurídica. Visam, por outro
lado, classificar o sentido, não
sendo por isso inovadoras.
Pretendem, apenas, integrar-se na
norma interpretada;
○ Regras facultativas (ver art.
1305º do C.C.) – permite a
alienação do usufruto da coisa.
Página
83

➢ Codificação e técnicas legislativas (refere-se a


normas legais)
○ Normas legais (fonte – Lei) ≠ Normas
jurídicas (pode ter outras fontes, como o
costume);
○ Código – diploma fundamental de certa matéria
ou ramo do Direito, apresentando a matéria de
modo científico (envolve um trabalho da Ciência
Jurídica, suficientemente madura, forte,
assegurando-se a perenidade exigível), unitário e
sistemático.
 Concentração da matéria de um regime
jurídico. O movimento de codificação é
recente (século XIX), embora já antes
houvesse leis escritas, baseadas em
critérios empíricos (ex: Ordenações do
Reino);
 Regula um ramo do Direito (sector da vida
social);
 Constitui uma fonte de Direito, após a
aprovação de um decreto-lei (diploma
preambular, no caso do Código Civil, de
1966), com igual valor jurídico;
 Poderá substituir outras fontes de Direito,
nomeadamente de origem costumeira;
 Diferem dos restatements americanos –
ordenamento jurídico baseado na
jurisprudência. Não cria Direito, apenas
mostra o Direito existente;
 Diplomas legais como o Código das Custas
Judiciais ou a Constituição não devem ser
designados por “códigos”.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
Página

(Terça-Feira, 17 de Novembro de 2009 – 9H-11H –


Aula Prática)
84

➢ Ficha de Trabalho n.º4 (continuação)


○ O artigo 781º do C.C. prevê uma sanção
preventiva, em caso de incumprimento de uma
dívida liquidável em prestações. Assim, em caso
de incumprimento de uma prestação, vencem
todas as prestações (vencimento automático).
Com isto, pretende-se evitar que o património do
devedor seja mais afectado;
○ No exercício 5, encontramos três formas de
autotutela:
 Legítima defesa (art. 337º do C.C.) – existe
uma situação de agressão contra o
património de Marta. A acção de Marta teria
de ser imediata e foi realizada sem culpa
(reacção momentânea de Marta);
 Direito de retenção (art. 754º do C.C.) –
direito real de garantia;
 Estado de necessidade (art. 339º do C.C.) –
dano possível superior ao causado. O dano
causado pode suscitar o pagamento de uma
indemnização (responsabilidade civil pelos
factos lícitos).
○ Art. 493º do C.C. – compete ao dono do animal
(lesante) fazer o ônus da prova (ao contrário do
normal).

➢ Ficha de Trabalho n.º5


○ Função jurisdicional – exercida, sobretudo,
pelos tribunais (para além de outras funções,
como a acção executiva, administrativa, de
gestão), aplicando o Direito aos casos concretos
para resolver os litígios (art. 202º da CRP, 1 e 2)
Página

públicos e privados;
○ Magistratura judicial
85

 Tribunais como órgãos de soberania;


 Os juízes julgam em nome do povo, mas não
são eleitos por ele – coloca-se em causa a
legitimidade democrática. Por outro lado,
argumenta-se que:
• É fonte de legitimidade dos tribunais a
aplicação de normas aos casos
concretos, que revela a subordinação
dos tribunais ao Direito;
• Existe um código deontológico da
actividade dos magistrados;
• O Estatuto da Magistratura Judicial
regula a sua actividade.

○ Características da actividade judicial


 Independência (art. 203º, 216º e 217º da
CRP)
• Imparcialidade (neutralidade) –
funciona como uma terceira parte
imparcial dentro e fora do processo. Os
magistrados apenas estão
subordinados à Constituição e à Lei e
não a orientações políticas. Tratamento
dos cidadãos de igual forma. Os juízes
não podem estar ligados ou vinculados
às partes envolvidas no processo.
• Inamovibilidade – proibição do
executivo poder transferi-los ou afastá-
los da função como retaliação de
decisões desagradáveis por eles
proferidas.
• Irresponsabilidade - um juiz tem que
ter tranquilidade suficiente para poder
decidir conforme os factos que lhe são
apresentados, aplicando a lei ao caso
Página

concreto e ponderando tudo em


consciência. Apenas se encontram
86

limitados pelos diplomas legais.


• Impossibilidade de exercício de
outras funções remuneradas.

○ A responsabilização dos juízes ocorre quando há


uma violação grosseira da Lei. Nestes casos, o
julgamento dos juízes é da responsabilidade dos
Tribunais Administrativos – responsabilidade
civil extra-contratual do Estado;
○ Auto-governo dos juízes, através do Conselho
Superior de Magistratura (art. 218º da CRP);
○ Tutela graciosa
 A designação “tutela graciosa” remonta ao
século XIX, quando o Rei “concedia a sua
graça” ao lesado;
 Tem lugar no âmbito da Administração
Pública;
• Reclamação junto do autor do acto;
• Recurso Hierárquico junto do
superior hierárquico do autor do acto.
○ Tutela contenciosa (recurso aos tribunais)
 Visa resolver um contencioso entre partes,
de matéria administrativa (do julgamento
dos Tribunais Administrativos)

○ Características da Função Administrativa na


resolução de litígios
 Auto-tutela declarativa – a Administração
Pública define, unilateralmente, o Direito a
aplicar;
 Auto-tutela executiva – privilégio de
execução prévia, tomada sem recurso aos
tribunais.

○ Direito de Petição – previsto no art. 52º, 1, da


Página

CRP
 Direito de apresentar aos órgãos de
87

soberania petições, queixas, reclamações;


 Possibilidade de apresentar proposta de
discussão à AR, para ser discutida em
sessão de plenário, após reunidas as
assinaturas necessárias.
○ Direito de Resistência – art. 21º da CRP
 Forma de auto-tutela, possível, por exemplo,
no caso de detenção ilegal.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 20 de Novembro de 2009, 11h-12h30 –
Teórica)
➢ A lex privata pode ser considerada um critério jurídico,
mas não uma norma jurídica;
➢ Compete à ordem jurídica garantir a eficácia dos
compromissos por nós assumidos, no dia-a-dia;
➢ Coercibilidade – susceptibilidade de aplicação de
uma sanção (e não regra jurídica), porque, no caso das
prestações infungíveis, ninguém pode obrigar alguém
a praticar determinado acto;
➢ A anulabilidade pode decorrer de uma má
formulação da vontade do indivíduo (por coacção, por
acto erróneo). Trata-se de uma forma mais ténue de
invalidade;
➢ Princípio da não-beligerância entre Direito e
Moral – podem existir comportamentos tolerados pela
ordem jurídica e rejeitados pela ordem moral;
➢ A usucapião pretende garantir a paz social na opinião
pública;
➢ O usufrutuário tem de respeitar a disposição
económica do bem, direito que pertence ao
proprietário.
Página

➢ Causas da codificação (continuação da aula de


88

segunda-feira)
○ Ideológica / Filosófica – consequência do
movimento racionalista do século XVIII
(movimento iluminista). Exemplo disso é a Lei da
Boa Razão (1769). Criação de um “edifício
normativo” perfeito. Importância dos racionalistas
da Filosofia Moderna, tais como René Descartes,
Bento de Espinoza e Gottfried Leibniz. Direito
presente numa razão pura, sendo que o Código
constitui uma razão escrita;
○ Políticas – aconselhamento à legislação geral.
Os códigos vieram combater disposições
corporativas, proporcionando uma unificação
legislativa. Exemplo disto é o Código
Napoleónico, de 1804(originalmente designado
Code Civil des Français, ou Código Civil dos
Franceses), que permitiu uma unificação da lei
escrita e do costume. Este código chegou a
vigorar no nosso país;
○ Técnico-jurídicas – implica uma racionalidade
que se traduz numa sinteticidade. Para isto,
exige-se uma ciência jurídica madura.

➢ Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) e Anton


Friedrich Justus Thibaut (1772-1840) protagonizaram
uma célebre polémica acerca da codificação do Direito
alemão. Tratou-se de um embate entre o iluminismo
positivista, representado por Thibaut, maior defensor
da codificação e o historicismo romântico,
representado por Savigny, crítico da proposta de
codificação. Este, na famosa obra Da vocação de
nosso século para a legislação e a ciência do direito,
demonstra grande ceticismo em relação às leis criadas
por legisladores que se julgam dotados da capacidade
de identificar regras derivadas da própria razão, e de
Página

elaborar códigos que “con sus perfecciones, debían


garantir una mecánica exactitud en la administración
89

de la justicia; de modo que el magistrado, dispensado


de todo juicio propio, debía limitarse a una simple
aplicación literal de la ley. Debían, además, estos
Códigos estar completamente libres de toda histórica
influencia, y por obra de una solemne y extraña
abstracción, debían adaptarse a todos los pueblos y a
todos los tiempos.”;
➢ Vantagens da Codificação – permite criar
regulamentação mais apropriada do que outras fontes
do Direito, como o costume, que nem sempre oferece
respostas conclusivas. Evita, por outro lado,
incongruência, dada a sua elaboração de modo
científico. Assim, constata-se que um código permite o
aperfeiçoamento do Direito;
➢ Desvantagens da Codificação – por outro lado,
revela-se como desvantagem a sua rigidez,
mostrando-se pouco permeável à mudança. Tal
verifica-se, principalmente, nos códigos civis.
➢ De qualquer modo, os códigos não são “edifícios
jurídicos” fechados, estão por isso predispostos à
mudança, sempre que seja necessário. Os códigos
representam uma estrutura que se adapta bem aos
casos concretos;
➢ Ultrapassada a querela protagonizada por Savigny e
Thibaut, o movimento codificado evolui, numa
primeira fase, por iniciativa francesa (início do século
XIX) e, numa segunda fase, por acção dos juristas
alemães (final do século XIX);
➢ O Código Civil Alemão (Bürgerliches Gesetzbuch,
abreviado normalmente por BGB), de 1900, influenciou
os códigos posteriores, nomeadamente:
○ Código Civil Grego (Αστικός Κώδικας), de 1940
○ Código Civil Italiano (Il Codice Civile Italiano), de
1942;
○ Código Civil Português, de 1966;
Página

○ Código Civil Holandês (Burgerlijk Wetboek), de


1992.
90

➢ O primeiro código civil português, de matriz francesa,


mas autónomo dessa cultura, data de 1867, da autoria
do Visconde de Seabra. Marcou pela sua simplicidade
a antropormorfismo digno de destaque;
➢ É importante destacar o papel do Prof. Dr. Adriano
Paes de Vaz Serra, na realização de estudos
preparatórios para a elaboração do Código Civil de
1966 e de juristas como o Dr. Adriano Moreira, o Prof.
Dr. Fernando Pires de Lima e do Prof. Dr. Manuel de
Andrade, enquanto membros da Comissão Redactora
do Código Civil;
➢ O Código Civil de 1966 tem sido alvo de algumas
alterações pouco significativas, que não afectaram a
sua estrutura original;
➢ Iniciaram, em 2006, os trabalhos para um anteprojecto
de Código de Consumidor, que visa proteger os
direitos dos consumidores portugueses. Trata-se de
uma questão discutível a criação de um diploma
fundamental sobre esta matéria, que não seja
integrado no Código Civil.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 23 Novembro de 2009, 14h-
15h30 – Teórica)
➢ Outras técnicas legislativas
○ Partes Gerais – surgem em códigos e diplomas
de âmbito vasto. Enuncia-se um conjunto de
critérios que se aplicam a toda a matéria
abrangida pelo diploma, independentemente das
especificidades.
 No Código Civil Português, a Parte Geral
encontra-se no Livro I (os Livros constituem
unidades de sistematização da matéria). Os
Página

restantes livros (II a V) constituem Partes


Especiais. Há assim, entre o Livro I e os
91

restantes um trânsito do geral para o


particular;
 Finalidade da Parte Geral:
• Evitar repetições e fixar as disposições
normativas que se aplicam em todas as
situações. Por exemplo, o artigo 130º
do C.C. remete-nos para os efeitos da
maioridade: a aquisição de capacidade
de exercício de posições jurídicas;
• Esforço de racionalização da matéria e
inteligibilidade fácil;
• Apresenta-nos um conjunto de pré-
decisões e de critérios genéricos;
• Assume também importância nos
sistemas de common law anglo-
saxónicos. Constituem, igualmente,
critérios normativos fundamentais
(precedentes) de carácter geral, mas
não codificados.
 Críticas ao Código Civil Português:
• Inclusão na Parte Geral daquilo que é
considerado particular;
• Regulação de matéria geral em livro
especial.

 A Parte Geral do Código Civil não foi


totalmente conseguida, porque inclui na
Parte Geral matéria particular e, pelo
contrário, regula em livro especial matéria
geral. Ao intérprete-aplicador, compete
efectuar raciocínios e identificar estas
debilidades, não sendo possível o recurso
directo ao texto escrito. Tais situações
gerarão conflitos entre posições díspares.
Página
92

○ Remissões – expediente de que o legislador se


serve para remeter ao que está estabelecido (na
estatuição) noutra matéria, no mesmo diploma
ou noutro.
 Artigo 433º do C.C. - efeitos de resolução
(destruição) de um negócio jurídico. Remete
para o n.º3 do artigo 289º do C.C. - efeitos
da declaração de nulidade que, por sua vez,
remete para os artigos 1269º e seguintes do
C.C. – regime dos frutos do possuidor e do
proprietário (regime de 2.º grau);
 Remissão para estabelecer a previsão
da norma: art. 974º do C.C. – revogação da
doação, por comportamento de indignidade
sucessória, ocorre nos casos em que os
testamentos podem ser revogados
(deserdação). Remete para os artigos 2035º
e 2160º do C.C;
 Remissão para institutos gerais, aos
quais o legislador atribui
subsidiariedade, ou seja aplica
subsidiariamente. Tal verifica-se, por
exemplo, no caso de perturbação no
contrato de compra e venda. Como hipótese
de perturbação, temos a situação de venda
de coisas defeituosas, prevista no artigo
913º do C.C. Neste caso, aplica-se o regime
de venda de bens onerados (excepto nos
artigos 914º a 921º do C.C.), por vícios
jurídicos da coisa (ex: hipoteca de algo
adquirido, que implica respeito obrigatório).
Ver art. 939º do C.C.
Já no caso da permuta / troca directa de
bens, não se encontra um regime próprio
legislado, não deixando por isso de assumir
Página

significativa relevância. Para colmatar esta


lacuna, aplica-se o regime da compra e
93

venda para bens vendidos a título oneroso


(com as necessárias adaptações, dado que a
analogia nunca constitui semelhança);
 Remissão para um ramo de Direito: por
exemplo, o Direito Comercial remete para o
Direito Civil;
 Remissões extra-sistemáticas (fora do
sistema jurídico português): incorporação de
outros regimes estrangeiros. Verifica-se isto
no artigo 8.º da CRP, que consagra a
recepção de princípios do Direito
Internacional e nos artigos 1625º e
seguintes do C.C., a propósito da invalidade
do casamento. Neste último caso, constata-
se uma remissão para o Direito Canónico, no
caso do casamento católico.

○ Ficções legais – situação em que o legislador


ficciona a existência de outra situação. Visam
aplicar o regime da situação ficcionada (remissão
encapotada).
 Aplica-se no caso de obrigações puras, sem
prazo estipulado, mas de cumprimento
obrigatório. Se o devedor não cumprir a
obrigação a que está adstrito, entra em
situação de mora, ficando obrigado a
indemnizar o prejuízo do credor. É possível
que o devedor evite a interpolação do
credor, sendo que neste caso ele passa,
automaticamente, a considerar-se
interpelado (art. 805º do C.C.). Evita-se,
deste modo, a fuga à obrigação;
 Trata-se de uma técnica de ficção legítima,
Página

mas sujeita a perigos, pois efectua uma


equiparação de uma situação a outra, com
94

as necessárias adaptações.

○ Definições legais – não vinculam o intérprete-


aplicador, concedendo-lhe liberdade de reflexão.
Ou seja, não constituem a “última palavra”,
estando sujeitas às críticas do intérprete-
aplicador e da doutrina. Existe susceptibilidade
de erro na definição.
 Pode haver situações que não são
abrangidas pela definição legal, o que
implica um alargamento da mesma. Veja-se
isto no regime dos arrendamentos urbanos e
rurais: o regime dos arrendamentos urbanos
não abarca os arrendamentos rústicos não
rurais, para fins comerciais (comércio ao ar
livre) ou de exercício de profissão liberal –
definição estreita;
 Também no regime dos arrendamentos
(protege os arrendatários face aos
senhorios, que constituem a parte mais
fraca), verifica-se que este também se
aplica ao arrendamento de telhados e
fachadas, para fins de telecomunicações e
publicidade. Neste caso, exige-se uma
redução teleológica (do âmbito de
aplicação), através do estabelecimento de
uma ressalva – definição peca por
excesso.

○ Presunções legais – ilações do julgador, tiradas


de um facto conhecido para um facto
desconhecido (ver art. 249º do C.C.). Trata-se de
um procedimento regularmente utilizado, com
Página

base na experiência e na racionalidade e que se


revela importante para a comprovação de
95

matéria de facto. Nas presunções legais, a Lei faz


presumir um facto, a partir de outro, em situação
oportuna.
 A aplicação da presunção ocorre em
situações de incerteza;
 N.º 1 do art. 799º - na falta de cumprimento
da obrigação, presume-se a culpa do
devedor. Compete ao devedor explicar a
situação ocorrida e demonstrar que não tem
culpa, podendo o credor interpor uma acção
de responsabilização. No caso de o devedor
não conseguir ilidir a presunção, não se
entende, imediatamente, o contrário;
 As presunções podem ser ilidíveis, porque
admitem prova em contra;
 Existe, nas presunções, uma repartição do
risco pelo legislador, na maior parte dos
casos justa, quando o credor não consegue
provar a culpa do devedor.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 24 de Novembro de 2009 – 9H-11H –
Aula Prática)
➢ Continuação da resolução da ficha de trabalho
n.º5
○ O Direito de Petição encontra-se regulado na
Lei n.º 43/90, de 10 de Agosto e visa a aprovação
de leis, reunido um número mínimo de
subscritores:
 1000 assinaturas – obriga a publicação em
Diário da Assembleia da República;
 4000 assinaturas – obriga a apreciação em
plenário da Assembleia da República.
Página

A petição pode ser encaminhada para o Ministério


96

competente para aprovação sob a forma de


decreto-lei (proposta do Governo), para o
Procurador-Geral da República (PGR), autoridades
policiais. Pode, também, em último caso, suscitar
a criação de um projecto de Lei de um deputado.
O Direito de Petição não constitui um meio de
autotutela e distingue-se da Acção Popular, meio
de tutela judiciária que visa proteger os
interesses da colectividade.

○ Mediação e justiça arbitral – meio alternativo


aos tribunais para resolução de litígios, isto é,
visam a desjudicialização e a simplificação
processual, aliviando a sobrecarga dos tribunais.
 No processo judicial, no âmbito do Processo
Civil, existe a via da conciliação, também
considerado meio de resolução de litígios;
 Lei da Arbitragem (Justiça Arbitral). Podemos
ter arbitragem:
• Voluntária (mais comum);
• Necessária (nos casos de contrato de
arrendamento).
 Arbitragem encontra-se a cabo de juristas
especialistas na matéria em causa;
 Os tribunais arbitrais são compostos por
árbitros que não têm de ser juízes de
carreira;
 A sentença arbitral tem o mesmo valor que
uma sentença judicial;
 Vantagens da Justiça Arbitral
• Mais célere, com trâmites legais
simplificados;
• Grau de especialização dos árbitros na
matéria em causa superior, em relação
Página

aos magistrados judiciais. Podemos ter


árbitros com especialização:
97

○ Jurídica (da competência de um


jurista);
○ Técnica (da competência de um
médico, engenheiro ou outro,
conforme a matéria em causa,
contribuindo para uma decisão
mais justa).
 Desvantagens da Justiça Arbitral
• Justiça onerosa.

 Na mediação, o mediador auxilia a


conservação das partes, sendo que, todavia,
é a estas que compete a resolução do litígio
(resolução amigável). Assim, constata-se
que a mediação não visa a imposição de
uma decisão. Esta estende-se ao mundo
laboral, às relações familiares e a matéria de
Direito do Consumo. A qualquer momento,
uma das partes pode desistir da mediação.

 Julgados de Paz
• Encontram-se fora da hierarquia dos
tribunais comuns judiciais;
• Partilham matéria dos tribunais de 1.ª
instância;
• São tribunais do Estado com
organização própria;
• É composto por juízes de carreira fora
da actividade (juízes de paz);
• O processo é simplificado e acessível a
nível económico;
• Nos julgados de paz, pode-se recorrer a
processos de mediação, para obtenção
de acordo amigável;
• Em contrato internacional, é habitual
Página

haver referência aos árbitros (ex:


garantias bancárias autónomas, à
98

primeira solicitação ou on first demand,


que visam a satisfação do credor),
retirando os processos aos tribunais
judiciais.

➢ Ficha de Trabalho N.º6


○ Facto jurídico – facto que produz efeitos
jurídicos;
○ Situação jurídica – resultado da aplicação da
consequência jurídica (constituição, extinção ou
modificação) ou “posição jurídica do sujeito
perante o Direito” (definição do professor
Menezes Cordeiro), isto é, atribuição de uma
posição jurídica ao sujeito de direito;
○ Relação jurídica – modalidade de situação
jurídica;
○ Posição jurídica activa ou passiva – atribuição
de poderes ou deveres aos sujeitos da situação
jurídica.

Página
99
100
Página
101
Página
○ Distinção entre situação jurídica e relação
jurídica
 Situação jurídica – não implica a
existência de duas partes compostas por
sujeitos (ex: usufrutuário e a coisa, no
usufruto). Também nos direitos de
personalidade não há relações entre
pessoas determinadas;
 Relação jurídica – é bilateral, implicando
sujeitos determinados em partes contrárias.

○ O n.º2 do artigo 12º do C.C. não distingue estes


conceitos;
○ Não podemos afirmar que, numa relação jurídica,
existe uma posição activa e passiva, porque o
mesmo sujeito pode assumir as duas posições –
relação jurídica complexa. Pode suceder, por
exemplo, num contrato de compra e venda.

○ Alguns conceitos importantes presentes nos


esquemas:
 Acto Jurídico – facto jurídico voluntário;
 Negócio Jurídico – acto declarativo, com
manifestação ou manifestações de vontade,
produzindo os efeitos jurídicos pretendidos.
• Unilateral – uma declaração de
vontade de uma única parte (ex:
Página

testamento);
• Bilateral – pelo menos duas
102

declarações de vontade de cada uma


das partes (ex: contrato).
○ Unilateral ou Bilateral –
obrigações para uma ou ambas as
partes;
○Oneroso ou Gratuito – implica
ou não equilíbrio de prestações
das partes.
 Simples actos jurídicos – podem envolver
ou não declaração de vontade, sendo que os
efeitos jurídicos produzem-se de acordo com
a Lei e não de acordo com a vontade das
partes (ex: perfilhação);
 Quase negócio jurídico – implica
declaração de vontade (ex: art. 805º do C.C.
sobre a mora – os efeitos decorrem da Lei);
 Operação jurídica – acto material sem
declaração de vontade;

 Direito subjectivo (2 definições)


• “Poder conferido pela ordem jurídica a
um sujeito para tutela de um seu
interesse juridicamente relevante, isto
é, merecedor da tutela do direito” (Ana
Prata, Dicionário Jurídico, Vol. I, 5.ª edição,
Almedina, Coimbra, 2008)
• “Permissão normativa específica de
aproveitamento de um bem” (Menezes
Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, Vol. I,
Tomo I, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 2005)
 Direito potestativo – “Direito que se
caracteriza por o seu titular o exercer por
sua vontade exclusiva, desencadeando
efeitos na esfera jurídica de outrem
Página

independentemente da vontade deste” (Ana


Prata, Dicionário Jurídico, Vol. I, 5.ª edição, Almedina,
Coimbra, 2008)
103

 Direitos absolutos – Direitos que impõem


a todos os outros sujeitos um dever geral de
respeito, sendo assim oponíveis erga omnes.
 Direitos relativos – Direitos que só
produzem efeitos entre as partes, só
podendo ser exercidos perante o sujeito
passivo (que tem o correspondente dever).
 Expectativa jurídica - Posição do sujeito
jurídico que lhe pode permitir ser titular de
um direito subjectivo.
Exemplo: Expectativa do titular de um direito de
preferência, do adquirente sob condição ou do herdeiro
legitimário.
 Poderes funcionais – Os poderes
funcionais são também designados poderes-
deveres ou direitos-deveres. Direitos de
exercício obrigatório, uma vez que
(também) protege o interesse de terceiros.
Exemplo: Poder paternal (Artigo 36.º, n.º 5, da
Constituição da República Portuguesa – “Os pais têm o
direito e o dever de educação e manutenção dos filhos”)
– Discricionariedade no exercício do poder funcional.

○ Classificação de factos jurídicos:


 Testamento – negócio jurídico unilateral;
 Criação de obras artísticas – simples acto
jurídico, operação jurídica (no âmbito dos
direitos de autor e conexos);
 Doação – negócio jurídico bilateral (duas ou
mais declarações de vontade de doador e
donatários), contrato unilateral (com
obrigações para uma parte);
 Morte – facto jurídico involuntário (de
acordo com o Direito e não com a natureza
Página

das coisas);
 Procuração – negócio jurídico unilateral (e
104

não bilateral), porque não exige declaração


de vontade do procurador.
• A procuração consiste na transmissão
de poderes a um representante.
Prevista no art. 262º do C.C., pode
exigir documento escrito, consoante o
negócio jurídico em causa;
O contrato de mandato (art. 1157º e
seguintes do C.C.) é um contrato de
prestação de serviços em que o prestador é
o mandatário. Este age de acordo com as
indicações e instruções do mandante quer
quanto ao objecto, quer quanto à própria
execução; os serviços são prestados de
acordo com o querido e programado pelo
mandante; ao mandatário só é permitido
deixar de executar o mandato ou afastar-se
das instruções recebidas nos casos previstos
no art. 1162º CC. Ver artigos 1178º, 1179º e
1180º do C.C., sobre mandato com e sem
representação. No mandato com
representação, o procurador celebra
contratos em nome do mandante (outorga
directamente), já no mandato sem
representação, ele não actua em nome do
mandante.

 Contrato de Trabalho – acto jurídico,


negócio jurídico bilateral, contrato bilateral e
oneroso (equilíbrio de prestações);
 Despedimento com justa causa (um dos
tipos de rescisão de contrato) – acto jurídico,
negócio jurídico unilateral (a cessação do
contrato depende da declaração de vontade
Página

de uma das partes, mais do que a Lei).


105

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 26 de Novembro de 2009 – 11H-12H30
– Teórica)
➢ Ónus da prova (art. 342º e seguintes do C.C.) –
consiste na prova de um facto e incumbe àquele que
invoca o facto em seu benefício;

➢ Continuação do estudo de outras técnicas


legislativas
○ Presunções inilidíveis / absolutas – não
admitem prova em contrário.
 N.º3 do art. 243º do C.C. – simulação de um
negócio jurídico. O art.º 243º visa a
protecção de terceiros com boa-fé (n.º1 do
art. 243º) contra simuladores, isto é,
desconheçam plenamente a simulação. Daí
que, por exemplo, a aquisição de um imóvel
está sujeita a publicidade (registo predial). A
presunção inilidível constitui uma execução
justificada e assemelham-se às ficções.
○ Conceitos indeterminados – qualquer ordem
jurídica necessita de conceitos claros e precisos,
mas também de conceitos flexíveis, modificáveis
às próprias circunstâncias do caso e que exigem
uma densificação do conteúdo nos tribunais e
uma especial valoração, porque “carecem de
especial preenchimento valorativo” (Karl Lorenz)
 N.º2 do art. 766º do C.C. e N.º1 do art. 227º
do C.C. – vinculação aos ditames da “boa-
fé” quer na fase pré-contratual
(preliminares), quer na fase de execução. O
Página

conceito de boa-fé mantém-se inalterado ao


longo dos tempos, mas, pela sua
106

plasticidade, adequa-se cada vez melhor aos


casos concretos – “Direito vivo”;
 Outros conceitos indeterminados:
• “Bons costumes” (art. 280º do C.C.);
• “Ordem pública” (art. 280º do C.C.);
• “Interesse público” – conceito vago e
difuso;
• “Justa causa” – a propósito da
demissão de um trabalho;
• “Diligência exigível” – comportamento
adequado, que constitui a medida da
culpa. Apresenta-se uma bitola, que é
gradativa;
• “Bom pai de família” – conceito padrão
(bonus pater familias);
• “Violação grave” (art. 1003º do C.C.);
• “Escassa importância” (art. 802º do
C.C.).

○ Cláusulas gerais – regulamentações que


contêm uma disciplina geral aplicável a um
número indeterminado de situações. São
regulamentações fundamentais, das quais podem
constar conceitos indeterminados. Por exemplo,
os contratos devem ser pontualmente cumpridos
(art. 483º do C.C.);
 Vantagens das cláusulas gerais:
• Dada a complexidade da matéria em
causa, recorre-se à utilização de uma
directriz geral aplicável com a evolução
do tempo;
• Evitam-se omissões, com normas de
largo espectro;
• Revelam-se úteis na impossibilidade de
enunciar todas as situações.
Página

○ Regulamentação casuística – aplicação de


107

consequências a cada situação jurídica. Ver, por


exemplo, artigos 484º, 485º e 486º do C.C.;
○ Cláusula geral com regulamentação
casuística – despedimento por justa causa com
enunciação de situações aplicáveis, numa única
norma (no Código do Trabalho).
Artigo 441.º
Regras gerais
1 - Ocorrendo justa causa, pode o trabalhador fazer cessar imediatamente
o contrato.
2 - Constituem justa causa de resolução do contrato pelo trabalhador,
nomeadamente, os seguintes comportamentos do empregador:
a) Falta culposa de pagamento pontual da retribuição;
b) Violação culposa das garantias legais ou convencionais do trabalhador;
c) Aplicação de sanção abusiva;
d) Falta culposa de condições de segurança, higiene e saúde no trabalho;
e) Lesão culposa de interesses patrimoniais sérios do trabalhador;
f) Ofensas à integridade física ou moral, liberdade, honra ou dignidade do
trabalhador, puníveis por lei, praticadas pelo empregador ou seu
representante legítimo.
3 - Constitui ainda justa causa de resolução do contrato pelo trabalhador:
a) Necessidade de cumprimento de obrigações legais incompatíveis com a
continuação ao serviço;
b) Alteração substancial e duradoura das condições de trabalho no
exercício legítimo de poderes do empregador;
c) Falta não culposa de pagamento pontual da retribuição.
4 - A justa causa é apreciada nos termos do n.º 2 do artigo 396.º, com as
necessárias adaptações.

○ Enumerações taxativas – aplicação de uma


disciplina a situações concretas (elenco que não
pode ser alcançado). Como exemplo, temos as
situações taxativas que constituem excepções à
incapacidade de normas (art. 127.º, onde
constam conceitos indeterminados);
○ Enumerações limitativas – visam delimitar o
tipo de situações a que se aplica uma dada
situação. Página

➢ Direito Judiciário (dos tribunais) – Direito aplicado


108

proferido pelas instâncias que têm o direito de dizer o


que é o Direito, verificando-se um estilo de abordagem
da matéria jurídica diferente da presente nos códigos.
○ Os conceitos indeterminados e as cláusulas
gerais asseguram a sobrevivência do
ordenamento jurídico, dada a evolução da
sociedade;
○ No nosso ordenamento jurídico, existem normas
que padecem de uma rigidez que conduz ao seu
desuso;
○ Compete ao jurista concretizar o Direito, a quem
se exige um esforço argumentativo, valorando o
caso e reconstruindo-o;
○ Jurista como agente activo da realização do
Direito, dado que as leis são fontes de Direito e
não o próprio Direito.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 30 de Novembro 2009 – 14H-15H30
– Teórica)
➢ Tutela das Normas Jurídicas
○ Garantia que as normas possuem, no que
respeita à sua obrigação;
○ As sanções são, em grande medida, um
mecanismo de tutela jurídica;
○ O artigo 1º do Código de Processo Civil proíbe a
auto-tutela;
○ Normas com relevância jurídica:
 Para celebração de contratos – o
incumprimento destes pressupostos gera
uma ineficácia do contrato;
• Ex: A maioridade constitui um requisito
/ pressuposto da liberdade contratual.
Página

 Procedimentos para a elaboração e


aprovação de um acto normativo da
109

Assembleia da República – se estas normas


não forem observadas, a Lei será ineficaz;
 Normas que regulam a conduta humana,
cuja inobservância gera a aplicação de
sanções.
○ O exercício de direitos também pode ser
realizado judicialmente (posições jurídicas
judiciais), ou seja, só o tribunal pode conceder
esse direito ao indivíduo, constituindo um modo
de tutela jurídica. Todavia, na esmagadora
maioria dos casos, a ordem jurídica confere a
magnitude do exercício de direitos. Noutros
casos, a resolução de litígios pode ser conseguida
extra-judicialmente – direito de resolução que não
depende do recurso judicial, algo que apenas foi
instituído mais recentemente (ex: contrato de
locação);
○ A imposição da observância de normas constitui
um meio de tutela jurídica, preservando-se assim
as posições jurídicas dos mesmos. Noutros casos,
a ordem jurídica tutela directamente as normas
jurídicas, como se verifica na atribuição do poder
de fiscalização da legalidade aos superiores
hierárquicos da Administração Pública sobre os
seus inferiores. Trata-se de um mecanismo que a
ordem jurídica atribui para a sua própria
protecção. O mesmo sucede com a fiscalização
da constitucionalidade, garantindo-se assim o
respeito pelas normas contidas na Constituição
(fiscalização preventiva ou sucessiva);
○ As sentenças do Tribunal Constitucional têm uma
eficácia meramente declarativa (declara o
direito), procedendo assim ao controlo das
Página

normas. Também há sentenças constitutivas,


quando é esta que constitui direitos (ex: quando
110

há uma violação de um contrato-promessa de


compra e venda não cumprido, por uma das
partes (art. 830º do C.C.). Pretende-se obter a
declaração de transmissão da coisa;
○ A tutela jurídica é da responsabilidade do Estado
e do conjunto de entidades que o compõe. Assim,
temos a:
 Tutela administrativa – da
responsabilidade da Administração Pública,
visa promover a realização dos fins do
Estado;
• Estadual – liderada pelo Governo;
• Autónoma – autarquias locais, sujeita
a uma circunscrição territorial.
 Tutela judicial – da responsabilidade dos
tribunais.

○ A promoção e realização dos fins do Estado


realizam-se preventivamente (garantir a paz
social) e activamente (enquanto agente da
realização de fins colectivos).
 Pode efectuar estas acções em consonância
ou não com interesses particulares (ex:
expropriação, em que os interesses
particulares são sacrificados em detrimento
de interesses colectivos);
 O Estado deve revelar-se imparcial no
tratamento dos sujeitos;
 A Administração Pública necessita de meios
para fazer valer estes interesses públicos
(forças energéticas particulares de
agilização), assim como os privados
necessitam de meios de tutela;
 Princípio da legalidade e da
competência da Administração Pública
Página

– a Administração Pública poderá fazer, tão-


somente, o que a Lei lhe permite, ou seja, só
111

poderá agir de acordo com as competências


que a Lei lhe atribui;
 A Administração Pública contém um
privilégio de execução prévia das suas
decisões, podendo depois o particular
recorrer aos tribunais. O processo tributário
apresenta várias situações em que,
primeiramente, se exige o pagamento da
tributação, sendo que só depois se concede
o direito de reclamação sobre a mesma.
Este privilégio revela-se um mecanismo
exigente de defesa do interesse
público;
 Para acautelar os interesses dos
particulares, num Estado de Direito
Democrático, a Administração Pública deve
convocar os particulares a intervir nos
processos de decisão (discussão pública).
Este direito está consagrado na Lei, mas na
prática tem sido inviabilizado;
 Com a produção de um acto administrativo,
o sujeito pode recorrer a meios de tutela, no
âmbito do recurso gracioso …
• Reclamação para reapreciação do
acto por parte do autor do acto;
• Recurso Hierárquico para o superior
hierárquico do autor do acto.

… e do recurso contencioso, através dos


tribunais, intentando uma acção contra a
Administração para:
• Solicitação de indemnização;
• Declaração de nulidade. Página

 Os poderes da Administração Pública são


funcionais, porque estão assinalados a uma
112

função, orientadas para ela. Se tais funções


não forem cumpridas, a Administração
incorre num desvio de poder, passível de
controlo judicial. A Administração Pública é
parte interessada na prossecução do
interesse público.
 Sanções premiais da Administração
Pública – mecanismos de incentivo à
prossecução do interesse público (ex:
benefícios fiscais);
 A Administração Pública pode criar
mecanismos de dissuasão indirecta, que se
distinguem da persuasão, na tentativa de
evitar a prática de uma determinada
actividade;

 Tutela judiciária – da responsabilidade dos


tribunais, que têm a função jurisidicional
(não lhes é exclusiva). Devem exercê-la de
modo imparcial, dotada de uma autoridade
particular, dizendo o que é o Direito,
obrigatório para todos os outros órgãos. Os
tribunais agem supra partes, não atendendo
às partes envolvidas, julgando através do
Direito Objectivo. A existência de um
“tribunal” (seja esta ou não a sua
designação) é característica intrínseca de
todo o sistema jurídico. Também entidades
privadas assumem funções jurisdicionais
(ex: Conselhos de Jurisdição, Conselhos de
Justiça). Recentemente, lançou-se a questão
de saber se os tribunais administrativos
podem julgar matérias de Direito Desportivo
ou de funcionamento dos partidos políticos.
Página

A função jurisdicional é inerente à


compreensão do Direito. Os tribunais, ao
113

contrário da Administração Pública, apenas


tencionam promover o valor da justiça. A
característica da independência
demonstra que os tribunais não estão
vinculados à vontade de tribunais
superiores;
 Princípio da irresponsabilidade dos
juízes (n.º2 do artigo 216º da CRP) – diz-nos
que os juízes apenas decidem de acordo
com a sua consciência e cumprindo a Lei e o
Direito, não estando por isso obrigados a
prestar contas a ninguém. De qualquer
modo, existe uma Lei da Responsabilidade
Civil Extracontratual do Estado, onde se
prevê a responsabilidade do juiz, no
exercício da função jurisdicional, por erro
judiciário manifesto/acção negligente na
aplicação do Direito.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 04 de Dezembro de 2009 – 11H-12H30
– Teórica)
 Princípios da inamovibilidade dos juízes
(n.º1 do artigo 216º da CRP) – Os juízes
são inamovíveis, não podendo ser
transferidos, suspensos, aposentados ou
demitidos senão nos casos previstos na lei;
 Princípio do juiz natural – A consagração
do princípio do juiz natural ou legal (intervirá
na causa o juiz determinado de acordo com
as regras da competência legal e
anteriormente estabelecidas) surge como
Página

uma salvaguarda dos direitos dos arguidos,


e encontra-se inscrito na Constituição (art.
114

32.º, n.º 9: nenhuma causa pode ser


subtraída ao tribunal cuja competência
esteja fixada em lei anterior), com a
excepção de casos especiais legalmente
consentidos, procurando-se, assim, proteger
os arguidos - logo a partir da titularidade do
direito de punir - pondo-os a coberto de
arbitrariedades no exercício de tal direito;
 Incompatibilidades (n.º 3 do art. 216º da
CRP) – Os juízes em exercício não podem
desempenhar qualquer outra função pública
ou privada, salvo as funções docentes ou de
investigação científica de natureza jurídica,
não remuneradas, nos termos da lei;
 Auto-governo da Magistratura através
do Conselho Superior da Magistratura
(art. 218º da CRP) – presidido pelo Supremo
Tribunal de Justiça e composto por dois
vogais designados pelo Presidente da
República, sete eleitos pela Assembleia da
República e sete juízes eleitos pelos seus
pares. Os vogais designados pelo PR e pela
AR não carecem de ser juízes, o que se deve
à necessidade de reflectir a
representatividade política. Não deixa,
contudo, de ser uma questão polémica, pela
possibilidade de uso do poder para fins
políticos. O mesmo sucede com o Tribunal
Constitucional;
 Aos tribunais, apenas compete a função
jurisdicional. A declaração de sentença
deve estar de acordo com o Direito vigente,
requerendo por isso um poder neutral. A
sentença não deve reflectir a sociedade,
Página

como no caso dos poderes legislativo e


executivo. Por isso, o poder judicial é
115

designado “poder morto”, servindo apenas a


ordem estabelecida e não criando uma nova
ordem;
 Administração da Justiça em nome do
povo pelos tribunais (n.º1 do art. 202º da
CRP) – não visa um objectivo auto-
referencial, mas procura servir a sociedade,
garantindo a paz social (“paz jurídica”, em
conformidade com o Direito) ≠ Justiça
popular (vontade da maioria da sociedade
decide; as sensibilidades populares revelam-
se insuficientes, por falta de fundamentação
jurídica);
 Independência dos Tribunais (art. 203º
da CRP) – os tribunais são independentes e
apenas estão sujeitos à Lei. A vinculação do
juiz à Lei pode ceder em nome de um valor
maior – a Justiça – no caso de leis
gravemente injustas;
 Os juízes representam o interesse do povo e
não são eleitos, para não se criar um vínculo
de dependência com o seu eleitorado.
Assim, a legitimidade da actividade dos
juízes provêm do exercício da sua função e
não de sufrágio;
 O Tribunal de Contas assegura a
regularidade das aplicações orçamentais do
Estado. Discute-se se assume funções
jurisdicionais.
 Por alçada de um tribunal, entende-se o
valor dentro qual o tribunal julga
definitivamente uma causa sem
admissibilidade de recurso. A toda a causa,
é atribuído um determinado valor, que
representa a utilidade económica imediata
Página

do pedido (da pretensão do autor). É a este


valor que se atende para determinar a
116

alçada do tribunal (art.º 305º do Código de


Processo Civil). Por sua vez, a Lei de
Organização e Funcionamento dos Tribunais
Judiciais, no artigo 24.º, define o valor das
alçadas dos tribunais de 1ª instância (5.000
euros) e da Relação (30.000 euros). Não
existe alçada para o Supremo Tribunal de
Justiça nem em matéria criminal. Note-se no
entanto que em matéria cível, há causas em
que, independentemente do valor da acção,
há sempre possibilidade de recurso para a
Relação. Por vezes, o critério do valor da
acção (alçada) pode ser cerceadora da
hipótese de recurso da acusação. Do mesmo
modo, as despesas judiciais podem
impossibilitar o acesso à justiça, que
constitui uma aspiração fundamental de
todo o indivíduo.
 O estabelecimento de uma hierarquia de
tribunais visa o aperfeiçoamento das
decisões, admitindo-se o erro do juiz de
tribunal inferior.
 Ministério Público – departamento do
Estado, dotado de autonomia (n.º2 do art.
219º da CRP) relativa (n.º4 do art. 219º da
CRP), destinado a prosseguir políticas de
matéria criminal. Representa o interesse
colectivo, reprimindo a violação de valores
fundamentais. A Procuradoria-Geral da
República é o órgão superior do Ministério
Público (art. 220º da CRP). O Ministério
Público está sujeito a instruções da
Assembleia da República e do Ministério da
Justiça. Tem, também, legitimidade para
intentar uma acção popular, por interesses
Página

difusos (preservação do ambiente e direitos


dos consumidores). Intervêm em processos
117

de jurisdição voluntária (ex: interdição por


cegueira, surdez-mudez e distúrbios
psíquicos) e mantém uma relação complexa
com outras instituições de investigação
criminal, como a Polícia Judiciária. Coordena
a acção judicial (fases de instrução e
acusação) e preside à investigação da acção
penal, proferindo o nível acusatório.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 07 de Dezembro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Validade da norma jurídica
• O valor da regra jurídica está na razão da
validade do Direito, ou seja, aquilo que explica
que o Direito valha, justifica que uma norma
jurídica valha. Assim, uma norma vale na medida
em que realize a ordem social;
• Princípio da maioria dos Estados
democráticos – critério de governo e não de
validade, possivelmente a forma mais adequada
para chegar a uma decisão. Porém, a maioria por
si mesma não constitui um critério de validade,
pois essa maioria pode conduzir a decisões
arbitrárias e injustas. A maioria não deixa,
contudo, de estar subordinada à Justiça. Este
princípio manifesta a igualdade radical de todos
os seres humanos, com a mesma dignidade e
capacidade. O princípio da maioria postula a
dignidade da pessoa humana, enquanto princípio
que possibilita que todos manifestem a sua
opinião, com iguais oportunidades de decisão.
Página

Revela-se o critério de decisão que melhor


expressa aquilo que pode ser o Bem Comum. O
118

discurso argumentativo dos indivíduos deve ser


desinteressado e com tal abertura para existir
possibilidade de mudança de opinião;
• Há algo nas normas que não nos reconduz à
validade formal. Não basta que tenha sido
realizada pela entidade competente para
expressar uma valoração de Justiça. Deste modo,
apenas vigoraria formalmente e seria aceite
pelos positivistas legalistas. É também necessária
uma vigência social, uma validade social que se
evidencia pela adesão espontânea da população;
• Uma norma diz-se válida com congrega os
diferentes planos de validade: formal, material
(axiológica, valorativa) e social. A estes planos,
tem de atender o legislador na sua actividade
legislativa. Por vezes, denota-se que há falta de
sentido prático ao legislador, produzindo normas
idealistas, deficitárias, por isso, na validade
social;
• Problemática da Lei injusta – existem leis injustas,
que não deixam automaticamente de valer como
Lei (p.e. – fixação de um imposto, propinas). O
facto de serem injustas não lhes retira
juridicidade. Se porventura a Lei não ultrapassar
determinados limites de tolerabilidade, ela não
perde a sua juridicidade – injustiças suportáveis.
Por outro lado, se ultrapassar estes limites,
afectando gravemente a legitimidade de uma
norma, ela deixa de ser verdadeiramente uma
norma jurídica, podendo-se, neste caso, admitir a
desobediência. A vigência da Lei depende do seu
grau de injustiça, sendo que, se ultrapassarmos o
limiar de injustiça, deixa de existir dever de
cumprimento. Do mesmo modo, o juiz pode
desobedecer à Lei, se se verificar que os limites
Página

de tolerabilidade foram ultrapassados, deixando,


por isso, de estar vinculado à Lei. Noutra medida,
119

é também necessário atender ao bem comum da


sociedade;
• O art. 8º do C.C. visa evitar o subjectivismo,
procurando promover o encontro de fundamentos
objectivos. O confronto de pontos de vista só vale
a pena, quando há uma orientação para a
verdade. Portanto, este artigo visa apenas evitar
o arbítrio judicial. É nestes moldes que tem de ser
entendido este artigo, sendo que o juiz pode
recusar a aplicação da norma. Deste modo,
demonstra-se que a adopção de uma postura
relativista é refutável, pois existe conhecimento
absoluto. Caso contrário, estaríamos perante um
cenário de luta de interesses – teoria/princípio do
não-relativismo.
• Direito à Objecção de Consciência –
reconhece-se o direito de não praticar
determinados actos, atendendo ao modo de vida
do indivíduo e ao carácter injusto da norma. Por
estes motivos, concede-se excepcionalmente o
incumprimento da mesma.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 11 de Dezembro de 2009 – 11H-12H30
– Teórica)
➢ Princípios fundamentais do Direito
• À semelhança das normas jurídicas, também nos
Página

princípios fundamentais encontramos uma


previsão, enquanto orientação geral (em aberto),
120

que carece de ser desenvolvida (ex: princípio da


dignidade da pessoa humana), pois não nos são
apresentados os factos aos quais se aplicam o
princípio e o tipo de consequências que podem
ser postuladas;
• Princípios enquanto fundamentos da ordem
jurídica – princípio da dignidade da pessoa
humana, igualdade, autonomia privada
(capacidade de auto-determinação através de
negócios jurídicos), justiça nos contratos,
confiança (expectativas fundadas devem ser
protegidas), proporcionalidade;
 Estes princípios não são necessariamente
codificados, positivados. O elenco não se
encontra definido pelo legislador,
competindo ao intérprete aplicador
identificá-los;
 O Direito não é só composto por normas,
mas também por princípios (outro elemento
de trabalho do jurista), aos quais o jurista
tem necessariamente de recorrer para
definir o sentido das normas, quando estas
não são concludentes. Noutro caso, verifica-
se uma ausência de normas sobre
determinada matéria, sendo por isso
necessário recorrer aos princípios;
 Os princípios, na teoria do professor de
Teoria Geral do Direito Ronald Dworkin,
deixam de ser meros informadores da
ordem jurídica, passando a integrar o
ordenamento jurídico na qualidade de
normas jurídicas, e, portanto, incidem na
apreciação de todo o facto juridicamente
Página

relevante. Dworkin formula o ordenamento


jurídico composto por três elementos:
121

princípios (principles), medidas e programas


políticos (policies) e normas jurídicas (rules).
Para Dworkin, a observância dos princípios é
um requisito para a justiça, equidade ou
alguma dimensão da moralidade. Policies
são directrizes ou planos de acção que
determinam objectivos sociais, políticos ou
económicos a serem implementados pelo
governo em benefício da comunidade. Rules
são disposições específicas que constituem
critérios de decisão;
 A unidade / integridade da ordem jurídica é
garantida pelos princípios, que asseguram
as necessidades básicas dos cidadãos e
evitam o caos na sociedade, promovendo a
interligação entre os seus elementos
(congruência interna da ordem jurídica);
 Princípios ≠ Valores
• Princípios são proposições que
exprimem os valores. Concretização do
postulado pelo valor jurídico de
carácter indefinido;
• Valores – Justiça e Segurança.
 Princípios ≠ Normas
• Os princípios, ao contrário das
normas, podem não valer sem
excepção (limitação). Estas
limitações não colocam em causa,
contudo, o cerne do princípio;
○ Exemplo: O princípio da
autonomia privada está limitado
pela necessidade de respeitar a
autonomia dos outros.
• Os princípios, ao contrário das
normas, podem entrar, entre si,
Página

em oposição. De recordar que os


princípios são directrizes genéricas que
122

necessitam de ser compatibilizadas.


Todavia, a oposição entre princípios
não lhes retira a validade. Por outro
lado, uma colisão de normas conduz à
destruição de ambas;
○ Exemplo: O n.º1 do artigo 437º do
C.C. constitui uma cláusula geral
que coloca em conflito a justiça
contratual e o cumprimento
pontual dos contratos.
○ Já os juristas medievais se
debruçavam sobre esta matéria,
aceitando a alteração dos termos
do contrato, se ocorrer alteração
das circunstâncias (por motivos
especiais)
 Exemplo: Alteração do frete
marítimo3 por desvio da rota
forçado, para transporte de
petróleo.
• Os princípios não são suficientes para a
resolução de questões jurídicas, pois é
necessário harmonizar as exigências de
diferentes pessoas, daí que se afirme
que os princípios carecem de aplicação,
a cabo da norma ou do intérprete
aplicador;
• Podem existir sub-princípios, que visam
garantir a convivência social, através
da publicidade registal (ex: registo
predial), que é uma concretização do
princípio da tutela da confiança;
• As regras aplicam-se através de
mecanismos de subsunção (relação
causa-efeito), reconduzindo a situação
Página

de facto à sua consequência. As


normas recortam com clareza a
123

previsão e as situações de facto. Nos


princípios, requerem-se ponderações
cuidadosas valoradas;
• Os princípios jurídicos podem ser:

3 O frete marítimo representa o montante recebido pelo armador como


remuneração pelo transporte da carga.
○ Inerentes à noção de Direito
(princípios fundamentais do
Direito universalmente válidos,
supra-positivos (anteriores a
qualquer actividade de
positivação), que não carecem de
tutela do legislador);
○ Contingentes que não têm
uma filiação directa com a
noção de Direito, diferentes nos
diversos países.
 Exemplos:
• Publicidade dos actos
relativos a bens imóveis
(nem sempre existiu e
não existe noutras
ordem jurídicas
estrangeiras);
• Causalidade na
transferência de bens
móveis e imóveis (n.º1
do art. 408º do C.C.) –
realização de um
contrato (acordo de
vontades formal),
atendendo aos registos
formais exigidos,
independentemente da
Página

transmissão física. O
princípio da causalidade
124

encontra-se consagrado
no ordenamento jurídico
português, mas não na
ordem jurídica alemã ou
brasileira (assenta no
princípio da
transferência física).
• Os princípios fundamentais tendem a
ser aplicados com a evolução do
tempo, apesar da sua consagração ser
anterior. No caso dos princípios gerais
do Direito, não há razão para serem
universais e ajudam a criar a
integridade da ordem jurídica;
• Os princípios constituem fontes de
Direito a que o intérprete aplicador
recorre na ausência de Lei. Apresentam
um conteúdo material indefinido, mas
também podem ser metodológicos,
dizendo ao intérprete aplicador como
deve agir.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Segunda-Feira, 14 de Dezembro de 2009 – 14H-
15H30 – Teórica)
➢ Fontes de Direito
• Expressão analógica que significa “de onde brota
do Direito”, qual a sua origem, em cada momento
histórico; critérios de concretização do Direito;
• Elenco de Fontes de Direito: Jurisprudência,
Acórdãos Uniformizadores de Jurisprudência
(equiparados aos assentos do STJ) e Doutrina
subordinam-se ao Costume e à Lei;
Página

• O elenco de fontes do Direito difere de acordo


com a noção de Direito que tenhamos. A
125

determinação dos modos de formação do Direito


não pode ser satisfeita pelo legislador;
• A Lei elenca um conjunto de fontes de Direito nos
primeiros artigos do Código Civil. O facto de
existir uma Lei a indicar as fontes do Direito
Português não implica que não existam outras,
consideradas pelo intérprete aplicador. Se nos
restringirmos à Lei, entendemos que esta será a
fonte primordial do Direito, à qual as outras se
subordinam. A matéria de fontes de Direito
transcende aquilo que é manifestado por um
sistema jurídico positivado;
• Se considerarmos que é apenas Direito tudo o
que é legal, então o legislador determina o que é
Direito, de acordo com a sua vontade de
produção de normas;
• Os primeiros artigos do Código Civil constituem
normas sobre normas (ou de 2.º grau), pois são
normas sobre factos normativos, sobre o modo
de reconhecimento das fontes de Direito.
Também designadas normas secundárias ou
prévias. Apresentam-nos um elenco de fontes
formais (ou em sentido formal) reconhecidas
pela ordem jurídicas como tal. A abordagem do
Código Civil sobre esta matéria revela-se
insuficiente, mas não irrelevante. Assim, o
costume não constitui fonte formal de Direito,
mas tem uma justificação para ser considerada
como fonte;
• Fontes materiais (ou em sentido material)
do Direito – decorrem de circunstâncias de facto
que determinam a existência de normas jurídicas.
Por exemplo, a ruptura política de 1974
influenciou a CRP de 1976. Disciplinas como a
Sociologia, a Política, a Economia e a Cultura
Página

ajudam à formação do ordenamento jurídico de


uma comunidade, modelando o conteúdo das
126

normas;
• Uma teoria normativa / legalista sobre a matéria
de fontes implica um recurso ad infinitum
insustentável. Para quebrar o recurso ad
infinitum, poder-se-ia afirmar que é norma
jurídica a vontade da maioria. Todavia, os
primeiros artigos do Código Civil não decorreram
de uma vontade política expressa da maioria. Por
outro lado, também a vontade da maioria não é
um critério último daquilo que vale como Direito,
por isso a aprovação de um modo de formação
como fonte de Direito não é suficiente para a
legitimar;
• Existem fontes de Direito não positivadas:
 Costume;
 Princípios fundamentais inerentes ao
Direito.
• É inviável o legislador ter a última palavra sobre
quais as fontes de Direito. O legislador é limitado
por princípios fundamentais do Direito (Direito
Natural suprapositivo), não podendo, por isso,
dispor das fontes de Direito arbitrariamente
(determinar unilateralmente uma fonte de
Direito);
• O Direito não é imutável, daí que tenhamos de
identificar bem as fontes de Direito:
 Lei;
 Costume;
 Jurisprudência;
 Doutrina;
 Acórdãos Uniformizadores de
Jurisprudência (equiparados aos assentos
do Supremo Tribunal de Justiça) – decisões
sobre uma questão jurídica, vinculativas
para todos os tribunais;
Página

 Usos
127

• Fontes voluntárias (ou intencionais) ≠


Fontes involuntárias (ou não intencionais)
 Fontes voluntárias – existe uma vontade
de produção de Direito (ex: Lei,
Jurisprudência, Doutrina);
 Fontes involuntárias – não existe uma
intenção relevante de produção de Direito
(ex: Costume, Princípios Fundamentais do
Direito).

• Fontes imediatas (ou formais) ≠ Fontes


mediatas (ou materiais)
 Fontes imediatas – constituem, por si,
Direito. A lei é vista como uma fonte
imediata do direito, para alguns autores ela
é a única fonte imediata admissível.
 Fontes mediatas – só constituem Direito
por força das fontes imediatas (ex: Usos)

• No art. 2º do C.C., encontramos uma referência


às «normas corporativas» que, naturalmente,
não apresentam qualquer conotação com o
“Estado Corporativo”, depois da Constituição da
República Portuguesa de 1976. De qualquer
modo, dada a relação, por muitos, efectuada,
atentemos nas explicações que se seguem:
Com efeito, como refere Oliveira Ascensão, em O
Direito, Introdução e Teoria Geral, 13ª ed., pág.
288, reportando-se à referência feita no art. 2º do
CC, a expressão “ «normas corporativas»
continua a ser utilizável hoje para a determinação
do papel das fontes institucionais do direito. As
ordens profissionais, por exemplo, produzem
regras, pelas quais disciplinam toda a categoria
respectiva. Essas regras são reconhecidas pelo
Página

poder público; e no entanto não são regras do


Estado, são regras de produção dos próprios
128

interessados”.
No mesmo sentido se pronuncia Freitas do
Amaral, Manual de Introdução ao Direito, vol. I,
pág. 527, o qual especificamente inscreve no
campo das “normas corporativas”, como fonte de
direito, os “estatutos e os regulamentos internos
das organizações privadas internacionais, como
por ex., as grandes federações desportivas
mundiais (a FIFA, a UEFA, etc.) ” ou os “estatutos
e os regulamentos internos das organizações
privadas nacionais”.

• Costume – prática de uma conduta social


reiterada e constante, acompanhada de uma
convicção de juridicidade. Depende, por isso, de
uma vontade objectiva da comunidade.
 Fonte privilegiada de Direito, que exprime
directamente a ordem social, sem
necessidade de qualquer autoridade / acto
positivo;
 Harmonizado com aquilo que as pessoas
sentem como justo, ao contrário do que se
pode passar com a Lei;
 Os totalitarismos surgiram de uma
manipulação da Lei e não do Costume;
 Existe a possibilidade de existência de
costumes desadequados, devido a uma
errada convicção / consciência social
generalizada
 O costume é constituído por dois elementos
essenciais que devem estar sempre
presentes sob pena de não ser costume:
• Corpus (prática social reiterada);
• Animus (convicção de juridicidade4 da
prática social reiterada);
Página
129

 O costume não vigora com consagração


legal, sendo por isso independente desta. Só
se admitiria o inverso se se pudesse
determinar a superioridade da Lei face ao
costume. Não depende da imposição do
4 Convicção de juridicidade e não de obrigatoriedade, pois existem costumes
permissivos.
poder político, que não pode sancionar
quem não o pratica, já que o costume é
observado e não depende da coercibilidade;
 O costume necessita de ser racional para
ser fonte de Direito?
• Tem de ser conciliável com a
juridicidade, apesar de não ser forçado,
isto é, surgir espontaneamente;
• Fala-se do requisito da racionalidade,
para evitar a permanência de costumes
irracionais;
• Com o Marquês de Pombal, apenas
eram atendíveis costumes conformes
com a Boa Razão. O mesmo sucede
com a Lei, que tem de ser conforme
com um mínimo de racionalidade;
• Não é um requisito autónomo, é uma
exigência.

 Valia prática do costume


• O costume tem uma importância maior
àquela que lhe atribuímos. Durante
muito tempo, houve pouco espaço para
a consagração do costume;
• Há muitas normas jurídicas que se
fundam na Lei, mas também no
costume – normas com dupla fonte,
duplo fundamento com
Página

reconhecimento social pelo costume;


• Constitui a fonte primária de Direito
130

dos não juristas.

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Terça-Feira, 15 de Dezembro de 2009 – 9H-11H –
Aula Prática)
➢ Continuação da resolução da Ficha de Trabalho
N.º6
○ Sujeitos envolvidos:
 «Fundação Arte e Cultura» - pessoa
colectiva, fundação;
 Eleutério Côrte-Real – pessoa singular;
 Bernardo – pessoa singular;
 «ArtNoveau – Decoração e Design, Lda.» -
pessoa colectiva, sociedade comercial por
quotas;
 Ernesto – pessoa singular;
 Fagundes – pessoa singular;

○ Sujeitos de Direito (Pessoas) podem ser:


 Pessoas singulares (humanas)
• Personalidade Jurídica: Aptidão para
ser titular de relações jurídicas, ou seja,
de direitos e obrigações (sentido
qualitativo);
○ Começo: “A personalidade
jurídica adquire-se no momento
do nascimento completo e com
vida.” (n.º1 do art. 66.º do C.C.);
○ Termo: “A personalidade cessa
com a morte.” (n.º1 do art. 68.º
do C.C.)
Página

Direitos reconhecidos aos


131


nascituros5 (hão-de nascer) –
n.º2 do art. 66º do C.C.

5 Pode-se distinguir nascituros (concebidos que hão-de nascer) de concepturos


(não concebidos que hão-de nascer). É possível fazer doações e destinar herança a
nascituros e concepturos, mas os efeitos só se produzem com o nascimento
completo e com vida (art. 66º do C.C.)
 Doações a concebidos e
não concebidos (n.º1 do
art. 952º do C.C.);

 Sucessões
• a concebidos (n.º1 do
2033º do C.C.)
• a não concebidos
(alínea a), n.º2 do artigo
2033º)

• Capacidade Jurídica: É a medida


(variável) de direitos e vinculações de
que cada um pode ser titular e a que
pode estar adstrito (sentido
quantitativo) – art. 67º do C.C.
○ Capacidade de gozo – aptidão
para ser titular de um círculo
maior ou menor de relações
jurídicas.
○ Capacidade de exercício –
medida de direitos e vinculações
que a pessoa pode exercer ou
cumprir por si, pessoa e
livremente.
 A lei reconhece como
possíveis certas situações
excepcionais –
Página

incapacidades. Com efeito,


pode suceder uma pessoa
132

(menor ou demente) ser


titular de direitos, isto é, ter
capacidade de gozo, e não os
poder exercer, por lhe faltar
a necessária idoneidade para
actuar juridicamente, ou
seja, a necessária
capacidade de exercício de
direitos.
• Incapacidade dos
menores – art. 123º do
C.C.
• Incapacidade dos
inabilitados – art. 160º
do C.C.
• Incapacidade dos
interditos – art. 139º
do C.C.
• Incapacidade natural
acidental – art. 257º do
C.C.
 A inabilitação e a
interdição são decretadas
judicialmente. São
decretadas por motivos
comuns, como anomalia
psíquica. Todavia, há
também motivos especiais
para cada regime, como a
prodigalidade. O regime de
inabilitação aplica-se a
casos de menor gravidade
e de interdição a casos de
maior gravidade.
Página

 Incapacidade de Exercício
• Genérica – quando
133

uma pessoa não pode


praticar todos os actos;
• Específica – quando
uma pessoa não pode
praticar alguns actos.
 Supressão das
incapacidades:
• Dos inabilitados:
suprida, em princípio,
pelo instituto da
assistência, pois estão
sujeitos a autorização
do curador os actos de
disposição entre vivos,
bem como os
especificados na
sentença (art. 153º CC).
Pode, todavia,
determinar-se que a
Administração do
património do
inabilitado seja
entregue pelo Tribunal
ao curador (art. 154º/1
CC). Neste caso
funciona, como forma
de suprimento da
incapacidade, o instituto
da representação. A
pessoa encarregada de
suprir a incapacidade
dos inabilitados é
designada pela lei por
Página

curador. Se o curador
não der a autorização
134

para qualquer acto que


o inabilitado entenda
que deve praticar, o
próprio inabilitado pode
requerer ao juiz o
suprimento judicial do
curador nessa situação;
• Dos menores: suprida
pelo instituto da
representação. Os
meios de suprimento
são em primeira linha, o
poder paternal, e
subsidiariamente a
tutela (art. 124º CC). É
claro que só é suprível a
incapacidade dos
menores, na medida em
que haja uma mera
incapacidade de
exercício. Quando se
trata de uma
incapacidade de gozo
esta é insuprível. Nos
domínios em que é
reconhecida ao menor
capacidade de
exercício, este é
admitido a agir por si
mesmo.
• Dos interditos:
suprida mediante o
instituto da
representação legal.
Estabelece-se uma
Página

tutela regulada pelas


mesmas normas que
135

regulam a dos menores,


no funcionamento da
representação legal dos
menores é definida, no
que se refere à
incapacidade dos
interditos, ao tribunal
comum, art. 140º CC.

 Pessoas colectivas
• Associações – Pessoas colectivas de
substrato pessoal (agrupamento de
pessoas) que não tenham por fim a
obtenção de lucros para distribuir pelos
associados. No Código Civil, artigos
167º a 184º;
• Fundações – Pessoas colectivas de
substrato patrimonial (agrupamento de
bens) que visam o interesse do
fundador e são governadas pela
vontade inalterável deste. No Código
Civil, artigos 185º a 194º;
• Sociedades – Pessoas colectivas de
substrato pessoal que têm por fim a
obtenção de lucros. No Código Civil,
artigos 980º a 1021º.
○ Tipos de sociedades:
 Sociedades Civis (todas as
sociedades profissionais: por
exemplo, Sociedades de
Advogados)
 Sociedades Comerciais
(ver Código das Sociedades
Página

Comerciais)
 Sociedades em nome
136

colectivo
 Sociedades por quotas
(Lda.)
 Sociedades anónimas
(S.A.)
 Sociedades em comandita
• Simples;
• Por acções
○ No Código Civil:
 LIVRO I – PARTE GERAL;
• TÍTULO II – DAS RELAÇÕES JURÍDICAS;
○ SUBTÍTULO I – DAS PESSOAS;
 CAPÍTULO I – PESSOAS
SINGULARES (artigos 66º a
156º)
 CAPÍTULO II – PESSOAS
COLECTIVAS (artigos 157º a
194º)

○ Qualificação dos direitos subjectivos:


 a) Direito relativo (de crédito), a que
corresponde um dever jurídico;
 b) Direito potestativo extintivo, a que
corresponde um estado de sujeição;
 c) Direito absoluto real, a que corresponde
uma obrigação passiva universal / dever
geral de respeito;
 d) Direito absoluto real ou Direito
potestativo constitutivo
• Direito legal de preferência (art.
1091º,1 do C.C.)
○ Se o proprietário quiser vender o
prédio, tem de o comunicar ao
arrendatário para preferência e
projecto de venda. Se não houver
Página

comunicação, o arrendatário pode


interpor acção de preferência, que
137

torna ineficaz a venda a outrem


(direito potestativo constitutivo);
○ Se o proprietário quiser vender o
prédio, tem a obrigação de o
vender ao arrendatário, detentor
do direito de preferência, se este
aceitar as condições
estabelecidas;

INTRODUÇÃO AO DIREITO I
(Sexta-Feira, 18 de Dezembro de 2009 – 11H-12H30
– Teórica)
➢ Fontes de Direito (continuação)
• A alegação de desconhecimento da Lei não é
aceite em tribunal (art. 6º - ignorância ou má
interpretação da Lei), apesar de se considerar
compreensível, em certos casos. Noutros casos,
não é desculpável, porque a Lei corresponde a
costumes socialmente vigentes que todo o
cidadão tem obrigação de conhecer;
• Modalidades de articulação do costume com
a Lei
 Do ponto de vista da lei, o costume pode ser
de três espécies:
• costume secundum legem (segundo
a lei);
• costume praeter legem (para além da
lei); - com importância residual
• costume contra legem (contrário à
Página

lei) – o costume sobrepõe-se à Lei


vigente, que perde influência. Como
138

exemplo desta realidade, temos a


questão dos touros de morte em
Barrancos, que implicou uma tensão
entre Lei e Costume e a criação de uma
Lei de excepção.
• Cessação formal da Lei:
 Revogação – lei nova cessa lei anterior;
 Caducidade – fim do prazo de vigência ou
dos circunstancialismos sociais que a
justificavam;
 Cessação da convicção de obrigatoriedade
da mesma.

• Direito Consuetudinário Estrangeiro (art.


348º do C.C.) – aplicação do costume estrangeiro
no nosso país (atendendo às normas de conflito);
• Importância do costume em certos sectores
sociais, como nos baldios;
• Se uma lei, que revogue um costume, não for
seguida pela sociedade, não adquire eficácia. Isto
demonstra que a juridicidade observa-se na
sociedade;
• O costume é uma fonte autojustificada, isto é,
não carece de Lei para se justificar. Faz cessar
leis antigas obsoletas e intervém, inclusive, em
matéria constitucional.

• Doutrina – Conjunto de estudos, opiniões e


pareceres dos jurisconsultos sobre a forma
adequada de interpretação, integração ou
aplicação do Direito.
 Consta de tratados, manuais, comentários
às leis (códigos) e à jurisprudência,
Página

monografias e estudos jurídicos vários.


 Os jurisconsultos são juristas qualificados,
139

em geral, professores nas Universidades;


 A doutrina não é considerada fonte imediata
ou directa do Direito uma vez que ela não
cria normas jurídicas;
 A doutrina é uma fonte mediata do
direito, apesar de não criar Direito, tem
uma importante relevância prática na
revelação do próprio Direito, dado que as
opiniões dos Jurisconsultos contribuem para
esclarecer o sentido e o alcance de
determinadas normas jurídicas e ajudam a
colmatar algumas omissões na lei.
Uma outra relevância importante da
Doutrina é a influência que ela exerce na
execução das leis, nas decisões judiciais e
na actuação da Administração Pública.
Funda-se na consciência das pessoas
(consciência de juridicidade). A explicação
da doutrina modela o Direito e faz a “ponte”
entre as fontes formais de Direito e a
consciência social.
 De qualquer modo, há que atender à
falibilidade das opiniões dos jurisconsultos;

• Usos – Meras práticas sociais generalizadas que,


ao contrário do costume, não têm convicção de
juridicidade.
 O n.º 1 do artigo 3º do Código Civil revela-
nos que a Lei reconhece a relevância dos
usos, que não podem, contudo, ser
contrários à boa-fé. Constituem uma fonte
mediata de Direito, já que carecem da Lei
para adquirirem vigência;
Página

 Os usos assumem, fundamentalmente,


relevância em matéria de Direito
140

Comercial. Como exemplo disto, temos a


lex mercatoria, nas relações comerciais
transnacionais (Direito Internacional);
 Classificação dos Usos:
• Usos disciplinadores –
regulamentam uma certa matéria;
• Usos interpretativos – ajudam a
interpretar declarações emitidas;
• Usos integrativos – disciplinam uma
matéria que não estava regulada.

 Não é preciso que a Lei remeta para os usos,


para estes adquirem relevância.
• Ver artigos 236º (interpretação) e 239º
(integração) do Código Civil – remissão
para a vontade hipotética das partes;
• Não há remissão para os usos, mas
eles podem ser aplicados.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Fevereiro de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º6 (continuação)
3) Compete ao réu especificar os factos impugnados
Página

pelo autor na petição inicial, justificando


devidamente na contestação (artigo 490.º, n.º2
141

do CPC). Estamos perante uma posição passiva


do réu, um ónus da impugnação especificada.
Importa distinguir “ónus” de “dever”, na medida
em que, nos termos da lei, não constitui um acto
lícito a ausência de especificação dos factos
impugnados. Obviamente, se o réu não efectuar
essa especificação, incorrerá numa desvantagem
como, por exemplo, o pagamento de uma
indemnização.
➢ Ficha de Trabalho n.º7
• A generalidade e a abstracção são as
características comummente invocadas pela
doutrina tradicional, recordando que, por um
lado, autores como Oliveira Ascensão não
admitem a abstracção como característica da
norma jurídicas e, por outro lado, a coercibilidade
é, nalguns casos, apontada como característica
intrínseca da norma. Devemos, todavia,
considerar que esta última constitui uma
característica tendencial da norma,
frequentemente integrante da mesma. A norma
que nos é apresentada procura atingir todos
aqueles que pratiquem o facto ou categoria de
factos apresentados. A presente norma apresenta
uma previsão (“Quem afirmar ou difundir um
facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom
nome de qualquer pessoa, singular ou colectiva”)
e uma estatuição (“responde pelos danos
causados”).

A situação apresentada implica responsabilidade


civil extra-obrigacional, que implica geralmente o
pagamento de uma indemnização.
• O artigo 1026.º do C.C. constitui a sustentação
legal da arrendatária. Nele, estabelece-se um
Página

prazo supletivo, quando as partes não estipulam


uma unidade de tempo. Já o n.º2 do artigo 1110.º
142

do C.C. apresenta-se como a sustentação legal de


Xavier. Como podemos constatar, estamos
perante um conflito positivo de normas, numa
situação de ausência de fixação do prazo do
contrato. Independentemente da justiça ou da
ausência dela, intuitivamente inclinámo-nos para
a norma do artigo 1110.º do C.C., norma especial
(consiste numa mera adaptação do regime-regra
e não uma norma contrária ao regime geral) para
arrendamento com fins comerciais, que se aplica
ao presente caso. (Também a norma do artigo
1094.º do C.C. é uma norma especial respeitante
ao arrendamento para habitação – ver artigo
1082.º do C.C.6) Atentando na norma do artigo
1026º do C.C., verificamos, desde logo, que se
trata de uma norma geral, que se aplica apenas
em contrato de aluguer.

O artigo 1025º do C.C. fixa um limite máximo de


locação (30 anos), o que, desde logo,
impossibilita o arrendamento perpétuo. No
presente caso, estamos perante uma ficção legal,
na medida em que o legislador recorre desta
técnica legislativa, considerando que ocorreu um
facto que ele sabe que não ocorreu. Podemos
apontar um outro caso semelhante, relativo ao
contrato de mútuo (de bens fungíveis, como
empréstimo de dinheiro), em que se verifica a
fixação de um tecto máximo para o valor do juro,
visando-se evitar o aproveitamento daquele que
empresta para impor juros altíssimos.

O contrato de locação constitui um facto jurídico


voluntário (acto jurídico), negócio jurídico
bilateral (contrato) oneroso. A oposição à
Página

renovação do contrato (que contraria a


renovação automática do contrato de locação) é
143

um facto jurídico voluntário, negócio jurídico


unilateral (com uma declaração de vontade
tendente à produção de efeitos jurídicos
extintivos, fazendo uso de um direito
potestativo).
6 Situação díspar ocorre com os artigos 1297º do C.C., relativo à usucapião, por
inércia do proprietário, e a regra excepcional presente no n.º2 do artigo 1300º.
O direito de resolução do contrato, atribuído ao
arrendatário ou ao senhorio apresenta-se como
um direito potestativo extintivo.
• O artigo 483.º do C.C. é uma norma geral, que diz
respeito à responsabilidade civil extracontratual.
Constitui a sustentação da EDP, argumentando
que não se provou a existência de culpa ou dolo
(por factos ilícitos). Note-se que o n.º2 deste
artigo incide sobre situações em que se verifica
ausência de culpa. Já o artigo 509º do C.C. revela-
se a sustentação de Cecília, na medida em que
incide sobre a responsabilidade civil pelo risco
dos fornecedores de energia eléctrica. Neste
último, não se exige a prova da culpa,
considerando-se justo condenar o fornecedor
deste serviço. Neste caso, aplica-se o artigo 509º
do C.C., norma excepcional que contraria a
norma geral (princípio da culpa).
A propósito das regras excepcionais, o artigo 10º
do Código Civil proíbe a aplicação analógica de
regras excepcionais, pois aplicam-se a casos
concretos.

➢ Ficha de Trabalho n.º8


• Código ≠ Compilação Jurídica ≠ Consolidação
 Código
• Apresenta dimensão qualitativa,
Página

regulando determinado domínio do


Direito (Civil, Penal, do Trabalho);
144

• Passível de interpretação perante lei


hierarquicamente superior;
• Organização de forma sistemática,
garantindo uma coerência do código;
• Sinteticidade e cientificidade, através
da dogmática jurídica, pois incumbe à
doutrina este trabalho científico de
elaboração do código;
• Surge com o movimento codificador do
século XVIII, que trouxe um carácter
inovador, característica própria dos
Códigos.
 Compilação jurídica – aglomerado de Leis
(em vigor ou não) sobre um domínio do
Direito;
 Consolidação – apresenta semelhantes
características às dos códigos, distinguindo-
se destes num ponto: um acto consolidado
não procura inovar, apenas procura agregar
o Direito vigente.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Fevereiro de 2010 – 15H-16H30
– Teórica)
➢ Fontes do Direito (continuação)
• Nos ordenamentos jurídicos anglo-saxónicos, a lei
e a jurisprudência assumem significativa
relevância, sendo que esta última procura corrigir
lacunas da Lei. Já nos ordenamentos romano-
germânicos, a lei apresenta-se como fonte
primordial, o que revela a sua característica
positivista-legalista. Note-se que nos artigos 1.º a
Página

13.º do C.C., que constituem uma Parte Geral do


Direito e não apenas do Direito Civil, se constata
145

uma correspondência da Lei ao Direito,


entendendo o poder legislativo como o único que
é capaz de produzir Direito – paradigma
positivista.
• O nosso Código Civil arroga um elenco de fontes
de Direito. Podemo-nos interrogar como uma
fonte de Direito – a Lei – se dispõe a elencar
outras fontes. Numa perspectiva positivista,
temos fontes primárias (de 1.º grau) e fontes
secundárias (de 2.º grau);
• As normas jurídicas não se legitimam a si
próprias, legitimam-se, por outro lado, através da
existência de princípios fundamentais do Direito.
O nosso legislador positivista não refuta a
existência de princípios. Podemos considerar dois
tipos de princípios:
 Princípios de carácter universal
(“traves mestras”)
• Princípio do Estado de Direito;
• Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana;
• Princípio da Justiça;
• Princípio da Igualdade.
 Princípios específicos de alguns ramos
do Direito
• Princípio da boa-fé, próprio do Direito
Civil e mais particularmente do Direito
das Obrigações;
• Princípio do inquisitório e do
dispositivo, em Direito Processual Civil.

• Nos princípios, não conseguimos distinguir uma


previsão e uma estatuição. Além disto, estes não
se destinam a uma categoria de casos concretos,
contudo têm alguma aplicação prática,
Página

funcionando como um critério / fonte de


validação e legitimação de normas jurídicas. Na
146

opinião de Oliveira Ascensão, os princípios não


são fonte de Direito, na medida em que não
constituem modo de formação e de revelação de
normas jurídicas. Os princípios, constando ou não
da Lei, podem influenciar a criação de uma
norma, legitimando-a;
• O n.º3 do artigo 10º do C.C. prevê que, numa
situação de lacuna da Lei e na impossibilidade de
recurso à analogia, é criada uma norma ad-hoc,
que tem de respeitar a unidade do sistema, não
podendo, por isso, ser formada livremente. Os
artigos 227.º e 765.º do C.C., por exemplo,
apresentam referências ao princípio da boa fé.
Por um lado, não existe uma norma que reflicta,
de modo abstracto, sobre o que é o princípio da
boa fé, não havendo, por isso, uma enumeração
rigorosa do princípio. Por outro lado, se por algum
motivo deixa de haver referências à boa fé, tal
realidade não implica o abandono deste ditame;
• Se os princípios/direitos fundamentais podem
colidir entre si, já as normas não podem
conflituar entre si, definindo-se critérios de
aplicação destas, como os critérios da
posterioridade ou da hierarquia das normas, pois
apenas pode ser aplicada uma. No que concerne
aos princípios, procura-se a concordância prática
entre eles;
• A utilidade dos princípios não se prende,
somente, com uma possível situação de lacuna
da Lei, mas também está associada à matéria de
interpretação da Lei, aos cânones hermenêuticos,
no que concerne à teologia ou à ratio legis.
Revela-se importante conhecer o princípio
fundamental que preside àquela norma, pois o
Página

princípio é o reflexo da mesma;


• O costume é entendido pelos autores de
147

referência como fonte de direito imediata;


• Podemos definir Lei, em sentido amplo,
afirmando tratar-se do resultado do exercício do
poder legislativo, sob a forma de Lei, Decreto-Lei
ou Decreto Legislativo Regional (art. 112º da
CRP), e do poder regulamentar / administrativo,
tais como decretos regulamentares, despachos
normativos e portarias do Governo, que
apresentam normas jurídicas obrigatórias. Em
sentido estrito, entende-se por Lei toda aquela
que provem da Assembleia da República,
detentora por excelência da faculdade de
produzir normas jurídicas.
• Podemos distinguir lei em sentido material,
que é toda aquela que é, necessariamente,
composta por normas jurídicas gerais e
abstractas, de lei em sentido formal, que, por
seu turno, não apresenta, verdadeiramente,
normas jurídicas, na medida em que estas não
apresentam generalidade e abstracção, ainda
que produzidas pelos órgãos com poder
legislativo. Exemplificando esta realidade,
podemos verificar na proposta de Orçamento de
Estado 2010 a existência de verdadeiras normas
jurídicas, como também de normas que não
cumprem os critérios da generalidade e da
abstracção;
• Outra distinção que se pode efectuar diz respeito
às noções de lei constitucional e lei ordinária.
A lei constitucional pode resultar do exercício do
poder constituinte originário, por parte de uma
Assembleia Constituinte, ou do poder constituinte
derivado, através de uma revisão constitucional.
A lei ordinária pode assumir a forma de lei da AR,
decreto-lei do Governo e decreto legislativo
Página

regional das Assembleias Legislativas Regionais


(art. 112º da CRP). Podemos ainda considerar as
148

leis de autorização legislativa (da AR ao Governo)


e as leis de valor reforçado, que decorrem da
competência legislativa parlamentar e devem ser
respeitadas por outras leis. Por exemplo, o
legislador orçamental deve respeitar a Lei de
Enquadramento Orçamental;
• Na actualidade, o Direito Nacional é influenciado
e até incorporado pelo Direito Comunitário.
Constituem actos legislativos os regulamentos e
as directivas, que são influenciados pelos
tratados internacionais. Os regulamentos
dirigem-se aos Estados-membros e/ou entidades
de foro privado (colectivas ou particulares),
aplicando-se directamente aos seus destinatários,
sem necessidade de transposição e fixando meios
e fins. As directivas dirigem-se apenas aos
Estados-membros, fixando os fins, mas não os
meios (que ficam ao critério dos Estados-
membros), existindo a necessidade de
transposição da directiva (através, por exemplo,
de aprovação de Lei nacional). Podemos ainda
fazer referência às decisões comunitárias,
dirigidas pela Comissão Europeia e obrigatórias
para os destinatários que designar, não contendo
leis gerais e abstractas.
• No âmbito constitucional, também podemos
classificar os actos legislativos de inexistentes
(por exemplo, na ausência de promulgação do
Presidente da República – ver artigo 137.º da
CRP), inválidos (por exemplo, quando uma lei é
inconstitucional – ver efeitos da declaração de
inconstitucionalidade no artigo 282.º da CRP, em
que o n.º 1 prevê a nulidade das normas
inconstitucionais, não se produzindo efeitos
Página

jurídicos, atentando, porém, no n.º2 deste artigo,


que prevê a possibilidade de produção de efeitos
149

jurídicos.) e ineficazes em sentido estrito (por


exemplo, a ausência de publicação dos actos
legislativos elencados no artigo 119º da CRP,
necessária para garantir a cognoscibilidade da
comunidade);
• A inconstitucionalidade de uma Lei B, que revoga
uma lei A não conduz, de acordo com o regime
geral, ao renascimento da lei A. Todavia, a nossa
Constituição prevê a repristinação no artigo
282.º;
• Uma lei nunca entra em vigor no mesmo dia em
que é publicada, precisamente para permitir o
seu conhecimento. Está, por isto, em questão a
segurança jurídica, protegida pela Lei n.º74/98,
de 11 de Novembro. Todavia, uma Lei que
preveja a entrada em vigor no mesmo dia poderá
afastar a referida Lei.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 26 de Fevereiro de 2010 – 9H30-11H –
Teórica)
➢ Fontes do Direito (continuação)
• Oliveira Ascensão considera a possibilidade de
entrada em vigor de um diploma no mesmo dia
da sua publicação, desde que:
 Exista lei de igual valor hierárquico a prevê-
lo;
 Não se estabeleçam regras de conduta para
os particulares.
• O artigo 6.º do C.C. prevê que, perante uma Lei
que entre em vigor, respeitando todos os
requisitos exigíveis, não se admite a ignorância
ou má interpretação da Lei (“dura lex, sed lex”);
Página
150

• Análise da Lei n.º 74/98, de 11 de Novembro


 Artigo 1.º
• N.º 1 – A eficácia jurídica dos actos
depende da sua publicação (recorde-se
artigo 119º da CRP);
• N.º 2 – A data do diploma é a da sua
publicação
 Artigo 2.º
• Não é comum no ordenamento jurídico
português existir uma grande diferença
entre o período de publicação e a data
de entrada em vigor;
• O Código Civil Alemão (BGB) foi
publicado em 1896, mas entra em
vigor apenas em 1900;
• São frequentes as alterações ao Código
de Processo Civil, fixando-se períodos
de reflexão de 2/3 meses, o que
dificulta a compreensão/interpretação
das alterações. Coloca-se em causa a
segurança jurídica;
• O conhecimento de um ordenamento
jurídico implica um estudo das leis, da
doutrina e da jurisprudência, apesar de
estas últimas, no nosso país, não serem
fonte de direito;
• Em situação de urgência, a Lei entra
em vigor no dia seguinte à publicação
em Diário da República;
• N.º2 – trata-se de uma norma supletiva
(entenda-se supletivo em sentido
amplo), que prevê um prazo supletivo
de vacatio legis de 5 dias, prazo
Página

alterado em relação à primeira versão


da Lei. Esta primeira versão previa
151

diferentes prazos para os diversos


territórios pertencentes a Portugal
(Regiões Autónomas dos Açores e
Madeira e Região Administrativa
Especial de Macau);
• N.º4 – não tinha necessariamente de
existir, mas esclarece quaisquer
dúvidas. Os prazos contam-se a partir
do dia imediato ao de referência.
 Artigo 3.º - Distinção entre actos publicados
em I e II Séries, não abrange apenas
diplomas legais.

• Cessação da vigência da Lei (art. 7.º do C.C.)


 Por revogação7 (n.º 1 e 2 do artigo 7.º),
com a entrada em vigor de uma Lei nova, a
Lei antiga é revogada expressa ou
tacitamente, total ou parcialmente:
• “Disposições finais transitórias” – leis
sob aplicação no tempo e normas
revogatórias que consideram revogada
outra Lei (revogação expressa);
• Revogação tácita – existência de
disposições incompatíveis entre
diplomas, sendo que a Lei actual afasta
por revogação tácita a Lei antiga. Note-
se que não pode subsistir um conflito
positivo de Leis, aplicando-se o critério
da posteridade;
• Revogação total ou parcial (ab-
rogação e derrogação) – no primeiro
caso, trata-se da revogação do diploma
na sua plenitude; no segundo caso,
consiste na revogação de alguns
artigos do diploma, não se tratando de
Página

uma revogação do diploma em bloco.


152

 Ou por caducidade
• Leis de vigência temporária, que
apresentam um prazo definido de
vigência;

7 Revogação ≠ suspensão de vigência da Lei, pois neste último caso a Lei não é
afastada para sempre.
• Fim dos circunstancialismos sociais
que motivavam a vigência da Lei
(por exemplo, a lei que prevê a
concessão de subsídios aos antigos
combatentes do Ultramar cessa a sua
vigência com a morte do último
combatente).

 N.º3 do artigo 7.º - trata-se do critério da


especialidade, pois lei especial afasta a
aplicação de lei geral. Pode tratar-se de uma
regra supletiva, se houver disposição a
prever o contrário;
 N.º4 do artigo 7.º - trata-se do princípio da
não-repristinação da Lei. Se uma Lei A for
revogada por uma Lei B e esta, por seu
turno, for revogada por uma Lei C, que não
prevê disposição nova, não ocorre
renascimento da Lei A.
• Se uma segunda lei revogatória (Lei C)
colocar em vigor a Lei A, não se
considera que exista uma
repristinação. Entende-se apenas que a
Lei C apresenta um regime coincidente
ao da Lei A, ou seja, existe uma adesão
ao regime jurídico da Lei A, mas está
para todos os efeitos em vigor uma
nova Lei;
Página

• O n.º4 do artigo 7.º aplica-se a todos os


ramos do Direito. A norma
153

constitucional do n.º1 do artigo 282.º


constitui uma excepção ao n.º4 do
artigo 7.º do C.C., em situações de
declaração de inconstitucionalidade da
Lei.
• Vicissitudes da Lei
 Entrada em vigor da Lei;
 Cessação da vigência da Lei;
 Possibilidade de suspensão da vigência
da Lei e de suspensão da vacatio legis,
através de um diploma de igual valor
hierárquico, adiando a entrada em vigor;
 Rectificações ou alterações à Lei –
conjunto de normas (inovadoras), que
surgem posteriormente à entrada em vigor
da versão originária. Assim, antes da
declaração de rectificação/alteração, aplica-
se a versão originária; com a publicação e
entrada em vigor da declaração, aplica-se a
versão mais recente;
• No artigo 5.º da Lei n.º74/98, o
legislador sente a necessidade de
definir “rectificação”, não permitindo o
tal carácter inovador das rectificações.
Ora, deste modo, não se revela
necessário ter tantas cautelas. Todavia,
se a declaração implicar alterações ao
diploma originário, coloca-se em causa
a segurança jurídica.
○ N.º2 do artigo 5.º - fixação de um
prazo que, se não cumprido,
implica declaração de nulidade.
Página

• No domínio negocial, importa analisar as


cláusulas contratuais para se entender qual o
154

contrato em causa. Esta tarefa, da


responsabilidade do intérprete-aplicador, consiste
em verificar o tipo de contrato em causa, que
pode ser diferente do nome atribuído pelas
partes. Por exemplo, a denominação,
erradamente efectuada, de um determinado
contrato de hipoteca, não implica a aplicação do
regime jurídico da hipoteca. O mesmo se aplica
às Leis, em que o intérprete-aplicador não está
vinculado ao nome atribuído pelo legislador;
• Usos ≠ costumes
 Por costume, entende-se a prática social
reiterada, com convicção de obrigatoriedade
ou juridicidade (se se tratar de um costume
permissivo, em que exista admissibilidade).
O costume pode apresentar um âmbito
local, regional ou nacional. Composto por
um corpus (prática social reiterada) e por
um animus (convicção de obrigatoriedade
ou juridicidade). Já os usos apresentam
apenas um corpus (prática social reiterada);
 Admissibilidade de um costume contra
legem, com eficácia revogatória. Nestes
casos, importa conhecer a diferença entre
usos e costumes, não raras vezes
confundidos;
 O desuso da Lei não tem eficácia
revogatória, permanecendo vigente
formalmente. Recorde-se que os usos
necessitam de autorização legislativa para
serem admitidos, não podendo ser
contrários à Lei (artigo 3.º do C.C.). Por este
motivo, os usos são fontes mediatas de
Direito;
 Existem diversas normas do Código Civil que
Página

fazem referência aos usos:


• Artigo 218.º (o silêncio como meio
155

declarativo)
○ O silêncio não significa nada do
ponto de vista jurídico, isto é, não
se ficciona que houve consenso;
○ Todavia, se os usos considerarem
tacitamente relevância jurídica ao
silêncio, assumem valor
declarativo.
• Artigo 883.º (determinação do preço)
○ Em matéria de Direito das
Obrigações, os usos assumem
relevância jurídica nas práticas
comerciais, nomeadamente na
determinação do preço num
contrato de compra e venda.
• Artigo 763.º (realização integral da
prestação);
• Artigo 1682.º (alienação ou oneração
de móveis) – em matéria de direitos
patrimoniais de Direito da Família.

 O costume é admitido nacional e


internacionalmente, como fonte imediata,
apresenta força obrigatória própria;
• Representa a consciência jurídica da
comunidade, não admitindo
arbitrariedade;
• A existência ou definição de um
costume é, por vezes, incerta ou dúbia.
○ Artigo 348.º do C.C. – a
convocação de um costume
implica fazer prova do mesmo.
Mas o tribunal também deve,
oficiosamente, realizar diligências
Página

probatórias. Aqui se nota que o


costume pode assumir relevância
156

jurídica.

 Os usos assumem relevância em matéria de


interpretação e integração de lacunas das
declarações negociais, desde que
possibilitem um conhecimento razoável
(artigos 236.º e 239.º do C.C.). O artigo
239.º do C.C. apresenta cautelas em relação
a possíveis declarações de má-fé e assume
relevância para a determinação de prática
hipotética das partes.

• Doutrina
 Não constitui uma fonte de Direito, pois
apenas influencia a prática dos aplicadores
do Direito;
 Tem força persuasiva, não vinculativa, que
depende do prestígio daquele que emite o
parecer ou opinião. São comuns as
referências a autoridades em acórdãos.
• Equidade
 Surge no Código Civil como fonte de Direito
(artigo 4.º do C.C.), mas aplica-se apenas
nos termos da Lei;
• Trata-se de um artigo tributário de
um entendimento ultrapassado. Ver
Lei da Arbitragem Voluntária (1986),
tributária da equidade, na medida em
que as partes podem acordar a
aplicação da equidade em vez da Lei.
Este entendimento está, de facto,
ultrapassado nos tempos actuais, pois
a equidade faz parte de todo o
processo do Direito, na medida em
que consiste na aplicação justa da Lei
Página

no caso concreto, atendendo aos


interesses que estão em causa. Daí que
157

se entenda que a equidade não é fonte


de direito, visto tratar-se de um critério
concreto (não geral e abstracto) de
resolução de um caso particular, não
servindo para outros casos.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 02 de Março de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º8 (continuação)
• Questão 2
 Na alínea a), estamos perante conceitos
indeterminados, com conteúdo vago que
não se encontra bem definido, sendo que a
concretização destes conceitos pode ser
objecto de adaptação (“ordem pública”,
“bons costumes”). Diferentes destes
conceitos são os conceitos determinados,
como “contrato”.
• Vantagens dos conceitos
indeterminados:
○ Possibilidade de adaptação dos
mesmos aos casos concretos,
graças ao seu conteúdo muito
amplo, garantindo-se uma
aplicação mais justa – mais justiça
e segurança jurídica;
○ Possibilidade de adaptação da Lei
à evolução da própria sociedade,
impedindo-se a cristalização dos
códigos e introduzindo-se
dinamismo às normas.
• Desvantagens dos conceitos
Página

indeterminados:
○ Possibilidade de conduzirem à
158

caducidade de algumas normas;


○ A definição inflexível apenas se
aplica aos casos que se encaixam
naquele conceito.
• A utilização de conceitos
indeterminados atribui uma maior
margem de jus criação dos juízes,
aplicadores do Direito.

 Na alínea b), o n.º2, do artigo 1.º do Código


de Processo Penal constitui uma definição
legal (de conceitos). Já o artigo 215.º do
mesmo código revela-se uma proposição
normativa incompleta (não-autónoma), pois
desta não conseguimos retirar todo o
sentido que ela pretende reflectir. Para tal,
temos que recorrer ao artigo 1.º;
 Na alínea c), encontramos uma presunção
legal, pois parte-se de um facto conhecido,
provado, para um facto desconhecido, que
se parte do princípio que terá sucedido pela
ocorrência do anterior.
• O artigo 349.º do C.C. apresenta-nos a
definição do regime de presunções.
Este encontra-se enquadrado no
Capítulo II – Provas, pois trata-se de um
meio de prova;
• Procura-se provar um outro facto a
partir de um facto base. Trata-se de
fazer prova por meio de presunções;
• Dá-se o facto desconhecido como
provado, por meio de prova de
presunção, mais simples. Podemos ter:
○ Presunção ilidível ou relativa
Página

ou iuris tantum – presunção


regra que admite prova em
159

contrário;
○ Presunção inilidível ou
absoluta – não admite prova em
contrário, não podendo, portanto,
ser afastada (presunção
excepção)
• No artigo 350º do C.C., podemos
encontrar a regra da elisão de provas
(n.º1) e a regra do não afastamento da
prova (n.º2);
• O regime do ónus da prova constituição
o regime regra, todavia o regime da
presunção inverte as regras gerais do
ónus da prova (art. 342.º do C.C.,
números 1 e 2).
○ Existindo uma presunção de
culpa, aquele que estivesse
responsabilizado de fazer ónus da
prova fica desonerado (inversão
do ónus da prova). Também se
pode fazer presunção do
cumprimento da dívida pelo
devedor;
○ Àquele contra quem a invocação é
feita compete a apresentação de
factos extintivos do direito de
crédito invocado, para não ser
condenado.
• O artigo 491.º do C.C. apresenta-nos a
presunção de culpa do responsável
pela vigilância de um indivíduo que não
goza do discernimento ou maturidade
necessária. Aplica-se, por exemplo, na
responsabilidade de um pai sobre os
Página

danos causados pelo filho. Todavia,


pode não haver a esta presunção de
160

culpa se:
○ Se o responsável pela vigilância
tiver cumprido as diligências
necessárias para evitar a prática
danosa;
○ Se intervieram factores externos
incontroláveis, há lugar a
presunção ilidível.

 Na alínea d), encontramos uma presunção


absoluta ou inilidível, na medida em que não
admite prova em contrário, tal como
podemos entender da expressão constante
do artigo “Considera-se sempre (…)”.
• Estamos perante um negócio jurídico
simulado, com um conluio entre as
partes, por isso nulo;
• Estabelece-se um regime de protecção
de terceiros que intervenham de boa-
fé, isto é, que desconheçam o conluio;
• No presente artigo considera-se má-fé
o terceiro que adquiriu o direito
posteriormente ao registo – acção
declarativa que confere publicidade ao
acto jurídico, logo toda a gente tem a
possibilidade de conhecer a nulidade
do negócio.

 Na alínea e), encontramos uma presunção


judicial, prevista no artigo 351.º do C.C., que
consiste numa ilação que o julgador tira de
um facto conhecido para concluir sobre um
facto desconhecido.
Página

• Trata-se de uma prova judicial que


exige muitas cautelas. Recorre a
161

indícios fortes que conduzam a um


determinado entendimento,
mecanismo que comporta riscos. Por
isso, raramente se decide com base em
presunções judiciais;
• São também designadas presunções
naturais ou da experiência, dado o
recurso a um raciocínio lógico dedutivo.

 Na alínea f), encontramos uma ficção legal.


• O devedor adopta uma posição de
silêncio, tornando-se difícil ao credor
fazer prova dos factos alegados;
• Note-se a diferença entre ficção legal e
presunção legal, pois aqui aplica-se um
regime jurídico não contido na norma
que se pretende aplicar que, no
presente caso, é o regime da confissão
de dívida. Este regime baseia-se na
colaboração do devedor. Ora, se o
devedor não presta depoimento,
comportamento aliás censurável,
ficciona-se a confissão real de
dívida, acto que não aconteceu. Por
isto, também se designa que uma
ficção legal é uma remissão implícita.
Já a presunção legal, como vimos, é
de ocorrência duvidosa.

 Na alínea g), encontramos uma remissão


simples, para normas específicas. Manda-se
aplicar ao instituto da sub-rogação os
artigos 582.º a 584.º de outro instituto;
Página

 Na alínea h), encontramos uma Parte Geral


e uma Parte Especial. As Partes Gerais
162

visam evitar repetições, pois as normas nela


contidas constituem um regime geral de
todo o código, aplicando-se a todas as
matérias/domínios do respectivo ramo.
 Na alínea i), encontramos uma remissão
ampla, para o regime de protecção de
prova testemunhal.
• Aplicação em bloco do instituto jurídico
num instituto jurídico diferente;
• O artigo 939.º do C.C. apresenta-nos
uma remissão ampla das normas do
contrato de compra e venda, em bloco,
para contratos de troca/permuta, por
exemplo, com as devidas adaptações.

 Na alínea j), encontramos as seguintes


técnicas legislativas:
• No n.º1, encontramos dois conceitos
indeterminados (“gravidade” e
“consequências”) e uma cláusula geral,
que se aplica a uma multiplicidade de
situações não identificadas pela sua
“letra”. Difere da regulamentação
casuística, na medida que esta impõe
um elenco fechado de situações às
quais se aplica um determinado
regime, não admitindo outras que não
se encontrem nesse elenco (trata-se,
portanto, de uma enumeração
taxativa);
• No n.º3, encontramos uma enumeração
exemplificativa, que detectamos
através da expressão
“nomeadamente”. O n.º3 revela uma
aplicação da cláusula geral do n.º1.
Página

• Questão 3
163

 O artigo 317.º do C.C. apresenta-nos os


créditos (cumprimento de uma obrigação)
que prescrevem no prazo de dois anos;
 O artigo 316.º do C.C. apresenta-nos os
créditos que prescrevem no prazo de seis
meses;
• Em ambos os casos, estamos perante
prescrições extintivas, que diferem
das prescrições aquisitivas (de um
direito). Como exemplo de prescrição
aquisitiva, temos a usucapião. Aliás, o
Código de Seabra (1876) faz
precisamente referência a prescrição
aquisitiva.
 Temos também as prescrições
presuntivas em que, com o decurso do
tempo, presume-se o cumprimento da
obrigação. Note-se que se revela difícil ao
credor, decorridos os 6 meses, fazer prova
do incumprimento, na ausência de confissão
(artigo 313.º do C.C.);
 O artigo 342.º do C.C. refere que o credor
tem de provar o incumprimento (n.º1), mas
a única forma de o fazer é através da
confissão do devedor (artigo 313.º do C.C.),
daí que se presuma o cumprimento;
 Nos termos do n.º2 do artigo 342.º do C.C.,
o devedor que alega uma presunção do
cumprimento fica dispensado de fazer prova
do cumprimento.

Página
164

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 02 de Março de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
➢ Fontes do Direito (continuação)
• Jurisprudência – conjunto de decisões dos
tribunais que apresentam uma determinada
orientação. Aplicam-se apenas ao caso concreto,
não sendo por isso fonte de direito
 Nos ordenamentos anglo-saxónicos, a
jurisprudência tem força vinculativa e
obrigatória, vigorando a regra do
precedente vinculativo;
 Os Assentos eram fonte de Direito.
Eram acórdãos do Supremo Tribunal de
Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal
Administrativo (STA), que procuravam
uniformizar a jurisprudência dentro do
mesmo regime jurídico e sobre factos
substancialmente iguais. Apresentavam a
orientação jurisprudencial que devia valer e
assumiam utilidade indesmentível.
Tínhamos:
• Assentos interpretativos – Fixam o
sentido juridicamente relevante de um
preceito preexistente e com ele a partir
daí se confundem. “A norma a que se
dirige tal tipo de assento, de norma de
interpretação variável evolui, por força
da valoração jurídica sobreposta que
aquele consequencia, a norma de
interpretação estável ou, pelo menos,
mais estável (o assento, como norma
Página

jurídica, também é susceptível de


interpretação). A norma visada sofre,
165

por via do assento interpretativo,


profunda recomposição: é uma nova
norma, deste modo recomposta, que
passa a existir no direito positivo. Há
pois como que uma fusão entre a
norma atingida e a norma do assento
que a modula”8.
• Assentos integrativos – preenchem
uma lacuna do sistema e criam a
norma correspondente, para depois
fazer aplicação dela ao caso concreto.

Deviam ser respeitados em todos os casos


subsequentes e encontravam fundamento
no Código Civil e no Código Processo Civil.
O artigo 2.º do C.C. foi revogado por
declaração de inconstitucionalidade com
força obrigatória geral aos assentos, dado
que o Tribunal Constitucional entendeu que
estes violavam o artigo 112.º da CRP (actos
normativos), número 5, que impossibilita a
criação de outros actos normativos. Para
além disso, estava a ser colocado em causa
o princípio da separação de poderes,
com o STJ e o STA, detentores de poder
judicial, a exercerem o poder legislativo.
Apesar de o artigo 8.º, número 3, do Código
Civil declarar que o julgador deve procurar o
tratamento análogo dos casos, na medida
do razoável, não existe uma vinculação a
esta uniformização.

 Acórdãos Uniformizadores de
Página

Jurisprudência
• São criados quando houver
166

jurisprudência contraditória;
• Não têm força obrigatória geral, apenas
valor persuasivo;
• É aconselhável que os tribunais de 1.ª
e 2.ª instância sigam os Acórdãos
8 Esta caracterização dos assentos como actos normativos foi assumida no acórdão
n.º 40/84, Diário da República, II série, de 7 de Julho.
Uniformizadores de Jurisprudência.
Todavia, as mutações sociais podem
retirar valia a estes acórdãos;
• Pelo facto de não terem força
obrigatória geral, possibilita-se a
produção de jurisprudência
contraditória;
• Os assentos anteriores à decisão do
Tribunal Constitucional adquiriram o
mesmo valor dos Acórdãos
Uniformizadores de Jurisprudência;
• Os artigos 732.º-A e 732.º-B do CPC
estabelecem o regime processual
quando há jurisprudência contraditória.
○ Para assegurar a uniformidade da
jurisprudência, pode haver lugar a
julgamento ampliado de
revista, com intervenção do
pleno das secções cíveis. Nesta
circunstância, não é julgada
matéria de facto.
○ O julgamento alargado é proposto
pelo relator, por qualquer dos
adjuntos, pelos presidentes das
secções cíveis ou pelo Ministério
Público;
○ O juiz relator e os restantes juízes
que intervenham no julgamento
Página

votam e o acórdão proferido pelas


secções é publicado em 1.ª Série
167

do Diário da República.
• Os artigos 437.º e seguintes do CPP
trata da fixação de jurisprudência,
quando o STJ profere dois acórdãos que
assentem em soluções opostas.
○ O artigo 445.º do CPP regula a
eficácia dos acórdãos
uniformizadores de jurisprudência.
Estes assumem carácter
vinculativo no próprio processo
em que forem solicitados. Para
casos futuros, têm apenas um
carácter persuasivo;
○ O artigo 446.º do CPP prevê uma
situação de recurso de uma
decisão proferida contra
jurisprudência fixada pelo STJ.
Admite a possibilidade de recurso
directo para o STJ de qualquer
decisão contra jurisprudência por
ele fixada.
○ Nos termos do artigo 447.º do
CPP, o Procurador-Geral da
República (PGR) pode solicitar a
uniformização de jurisprudência
(n.º1), interpondo recurso para
novo acórdão (n.º2), sendo que a
decisão que resolver o conflito
não tem poder vinculativo sobre
qualquer caso em concreto (n.º3).

➢ Métodos de aplicação da Lei – produto da relação


com a dogmática jurídica, dado adquirido que não
pode ser alterado, mas é passível de interpretação
Página

pelo intérprete-aplicador. Estabelece-se um método


jurídico que traga uniformidade e inteligibilidade na
168

aplicação da Lei, assegurando-se a segurança e


certeza jurídica. Por exemplo, o método para
classificação dos factos jurídicos visa a coerência do
ordenamento jurídico e é de origem doutrinal. Note-se
o papel relevante que a doutrina assume para a
dogmática jurídica.
• Interpretação da Lei (ou hermenêutica
jurídica)
 Procura-se retirar o sentido/alcance das
normas, conhecendo o seu campo de
aplicação;
 Constitui um elemento indefectível do
Direito, pois todas as normas têm de ser
interpretadas, até aquelas que parecem
mais claras;
 Recurso aos elementos e cânones
interpretativos, não apenas ao elemento
gramatical ou literal. Obtém-se uma solução
diferente da interpretação natural;
 Necessidade de leitura para lá da “letra da
lei”, considerando a totalidade da lei, não
efectuando interpretações de modo parcial;
 As normas que utilizam conceitos
indeterminados (“prazo razoável”, por
exemplo) exigem maior atenção da
hermenêutica, dado que estes conceitos
variam com a evolução social;
 Também no que concerne à existência ou
não de definições legais, é exigida um maior
esforço ao intérprete-aplicador do Direito,
pois revela-se necessário verificar o rigor da
mesma e a necessidade de proceder a
alterações;
 A interpretação está sujeita a determinados
Página

critérios para ser válida. Pode haver


discricionariedade, mas nunca
169

arbitrariedade em relação ao Direito


vigente;
 Dois tipos de interpretação (em relação
ao sujeito da interpretação):
• Interpretação autêntica – advém de
um órgão dotado de poder normativo.
Consta de outro acto normativo
vinculativo, uma Lei interpretativa, que
tem igual ou superior valor hierárquico
relativamente à Lei interpretada. Note-
se que a Lei interpretativa não é uma
Lei inovadora, pois apenas fixa o
sentido da Lei interpretada, apesar de,
por vezes, trazer uma interpretação
inovadora. A norma interpretativa pode
ser produzida pelo próprio órgão que
criou o texto legislativo a ser
interpretado (autointerpretação) ou
outro (heterointerpretação).
• Interpretação doutrinal – a
interpretação doutrinal é feita por
todos os que atribuem sentido e
alcance ao texto legal e que não sejam
órgãos do Estado criadores desse
mesmo texto, estando desprovidos de
poder normativo. Assim, um advogado
ao interpretar uma disposição
normativa faz uma interpretação
doutrinal. Da mesma forma, produz
uma interpretação doutrinal um
estudante de Direito, quando se depara
com um texto de lei que precisa ser
interpretado, e atribui a esse texto
sentido e delimita seu alcance. Não
obstante, interpretação doutrinal em
Página

sentido estrito é aquela produzida


pelos doutrinadores do direito, pelos
170

juristas, que, pelo notório e


incontestável conhecimento do direito,
atribuem sentido e alcance aos textos,
criando as normas jurídicas. A
relevância da interpretação doutrinária
está no facto de que os órgãos
incumbidos de julgar os casos
concretos costumam seguir as opiniões
dos doutos no direito, ou seja, da
doutrina. A interpretação doutrinal não
é vinculativa e pode trazer incerteza na
aplicação do Direito.
○ A maioria dos actos
interpretativos é de carácter
doutrinal.

 Querela entre Teorias de Interpretação


subjectivista e objectivista (em relação
ao objecto da interpretação):
• Interpretação Subjectivista -
destinada a captar o sentido imprimido
à norma pelo legislador (mens
legislatoris).
○ Esta orientação inspira-se na
doutrina alemã de Savigny e
releva a necessidade de
considerar a vontade do
legislador;
○ Pires de Lima e Antunes Varela,
autores do Código Civil, defendem
a teoria da interpretação
subjectivista;
○ Esta orientação está sujeita a
crítica, na medida em que se
revela difícil a personificação do
Página

legislador, pois as Leis têm vários


autores e assume-se como uma
171

tarefa árdua o apuramento da sua


real intenção;
○ Os trabalhos preparatórios (actas,
projectos, questões) serviriam
para apurar a vontade do
legislador;
○ Muitas vezes, as interpretações da
Assembleia da República são
precipitadas e têm de ser
combinadas com outros
elementos de interpretação;
○ Podemos subdividir esta
orientação em Subjectivismo
moderado e Subjectivismo
radical.

• Interpretação Objectivista –
destinada a captar o sentido imanente
da lei (mens legis).
○ A partir do momento em que a Lei
é aprovada e publicada, ganha
autonomia em relação ao autor;

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 05 de Março de 2010 – 9H30-11H –
Teórica)
 Actualismo e Historicismo (em relação
ao objecto da interpretação):
• Actualismo – a interpretação está
sujeita a uma norma, não é inflexível.
Veja-se, por exemplo, a interpretação
do Código Comercial de 1888, redigido
Página

por Veiga Beirão, em relação à


actualidade. Trata-se de uma
172

interpretação extensiva com a


evolução social, portanto, permeável
à mudança.
• Historicismo – o sentido de uma
norma é fixado, de modo inflexível, no
momento da sua formação. Qualquer
alteração da mentalidade social, da
técnica, da situação económica não
vale para a sua interpretação. Trata-se
de uma visão rígida.

 O subjectivismo pode ter uma


interpretação actualista ou historicista.
Se admitirmos um juízo hipotético sobre a
vontade do legislador com a actual realidade
social, somos partidários do actualismo. Se
quisermos conhecer a vontade real, no
momento da formação, do legislador,
estamos perante uma interpretação
historicista;
 Se formos partidários de um objectivismo
actualista, vamos buscar o sentido da lei
adaptado à actualidade; se formos
partidários de um objectivismo
historicista, buscamos o sentido da lei no
momento da sua formação.
 A Lei Portuguesa tomou partido pelo
actualismo;
 Na actualidade, tendemos a encontrar
doutrina de síntese destas teorias, não se
conhecendo defesas puras de cada uma
delas. Manuel de Andrade defendeu uma
teoria mista, dado não existirem grandes
diferenças entre a teoria objectivista e a
Página

teoria subjectivista. Na prática, a única


diferença prende-se com os chamados
173

trabalhos preparatórios, isto é, as actas


das discussões da Assembleia da República,
estudos solicitados a juristas, o projecto
legislativo que permite conhecer a vontade
do legislador. O subjectivismo puro entende
que os trabalhos preparatórios conduzem a
uma determinada vontade do legislador, ao
contrário do objectivismo que atribui menor
relevo a estes. Nos ordenamentos anglo-
saxónicos, os trabalhos preparatórios, até há
pouco tempo, não assumiam qualquer
relevância, pois estaríamos a personificar a
vontade de um Governo ou de uma
Assembleia. Note-se que uma intervenção
oral de um deputado e o silêncio dos outros
pode não nos fornecer uma noção fidedigna
da vontade do legislador. Actualmente,
atribui-se maior relevo aos trabalhos
preparatórios. Os ordenamentos europeus
são partidários de uma teoria mista,
atribuindo uma importância relativa aos
trabalhos, mas não decisiva. No
objectivismo, atribui-se maior relevo à “letra
da lei” em relação ao subjectivismo.

 Método interpretativo
• Instrumentos
○ Elementos interpretativos
 Elemento gramatical /
literal (“letra da lei”) –
apreensão literal do texto da
lei, apuramento do
significado mais natural
desse conjunto de palavras.
• Funções
Página

○ Positiva –
conduzir o
174

intérprete para o
sentido que mais
decorre da “letra
da lei”, partindo-se
do pressuposto
que o legislador
utilizou
razoavelmente os
termos técnico-
jurídicos e que se
tem de retirar o
sentido mais
natural.
○ Negativa – afastar
os sentidos da
norma que não
encontram apoio
mínimo na “letra
da lei”. É a Teoria
da Alusão, que
não é defendida
pelos subjectivistas
radicais.

 Elementos lógicos
(“espírito da lei”)
• Elemento histórico –
consideração dos dados
e circunstâncias
históricas que rodearam
o aparecimento da lei.
○ Circunstâncias
económicas,
sociais, políticas
Página

em que a lei foi


elaborada (occasio
175

legis – art. 9.º/1


C.C.) Por exemplo,
o aumento da
moldura penal por
existência de um
alarme social ou a
suspensão da Lei
das Finanças
Regionais pela
ocorrência de uma
catástrofe na
Madeira;
○ História do
instituto ou do
regime jurídico:
precedentes
normativos
(normas e
diplomas legais
nacionais e
estrangeiros que
influenciaram a
aprovação de uma
Lei nova) Por
exemplo, o estudo
do Direito
Comparado
(semelhanças e
diferenças entre
Direito Nacional e
estrangeiro,
falando-se em
micro-comparação9
e macro-
comparação10) e
Página

regime vigente
que foi revogado
176

(por exemplo, o
Código de Seabra

9 Comparação de regras, normas ou institutos jurídicos de diferentes ordens


jurídicas.

10 Comparação de ordens jurídicas ou sistemas globalmente considerados. Procura-


se verificar a existência de uma influência de um ordenamento estrangeiro sobre o
nacional (p.e. o Código Civil Português foi influenciado pelo Código Civil Italiano).
em relação ao
Código Civil de
1966, em que se
efectua uma
comparação entre
o Direito actual e
anterior);
○ Fontes da lei
(doutrina, direitos
estrangeiros);
○ Trabalhos
preparatórios
(perspectiva
objectivista – como
elementos
auxiliares da
interpretação e
não como meio de
apuramento da
mens legislatoris).
Descobrir as
legislações que
influenciaram o
Direito Português,
dando a indicação
ao intérprete da
necessidade de
estudo dos Direitos
Página

que influenciaram.
Procura-se
177

descortinar a
vontade do
legislador.

• Elemento sistemático
– unidade do sistema
jurídico (art. 9.º/1 C.C.);
coerência interna do
ordenamento jurídico:
○ Na relação com
outras normas que
regulam a mesma
matéria (contexto
ou relação de
conexão). Nunca
ler uma norma de
forma isolada, pois
existe uma relação
entre elas. No
Código Civil, as
normas das Partes
Especiais mantêm
uma relação de
conexão com a
Parte Geral.
Existem relações
de conexão no
mesmo diploma e
em diplomas
diferentes dentro
do mesmo
ordenamento
jurídico;

○ Na consideração
Página

de disposições
legais que regulam
178

problemas
paralelos ou
institutos afins
(lugares
paralelos ou
relação de
analogia/semelh
ança) A propósito
da resolução do
contrato de
compra e venda,
pode haver lugar a
recurso da norma
do contrato de
empreitada,
partindo-se do
pressuposto da
razoabilidade do
legislador e
admitindo-se a
inexistência de
consequências
jurídicas diferentes
previstas. Neste
caso, recorremos
analogicamente a
esta solução;

○ Na relação com os
princípios gerais
do sistema
jurídico – ex.
interpretação
conforme com a
Constituição (lugar
Página

sistemático ou
relação de
179

subordinação) –
limite da
interpretação. A
hierarquia das
normas tem de ser
respeitada por
uma norma
inferior, em
relação a uma
norma superior.
Não podemos
interpretar uma
norma de carácter
interno num
sentido diferente
do da Constituição
ou do Direito
Comunitário, tendo
de estar conforme
com essa
legislação, de
hierarquia
superior. A
legislação
internacional
subordina a
interpretação da
lei nacional.

• Elemento teleológico
– razão de ser da lei
(ratio legis); justificação
social da lei (Oliveira
Ascensão); fim visado
pela elaboração da
Página

norma.
○ Escolhe-se o
180

melhor sentido
para alcançar a
finalidade da
norma;
○ Pretende-se
descortinar os
valores e princípios
prosseguidos que
estão na base das
normas.

 O confronto entre elemento


gramatical e elementos
lógicos permite-nos
averiguar a fidelidade de um
perante os outros.

○ Argumentos interpretativos
 Argumento a pari (de
identidade ou igualdade de
razão) – se uma norma
jurídica estabelecer um
determinado regime jurídico
e não houver razões para
distinguir o regime desta
com o de outra norma,
havemos de concluir que o
regime da norma que
pretendemos interpretar é
semelhante ao da outra.
• Pode ser utilizado
dentro dos lugares
paralelos;
• Aplicação do mesmo
Página

regime noutro caso não


abrangido pela norma
181

(entenda-se “letra da
lei”) por igualdade de
razão que subjaz aquele
regime jurídico, o que
conduz a uma
interpretação
extensiva da norma;
 Argumento a fortiori (de
maioria de razão) – uma
situação não está
expressamente prevista na
“letra da lei”, mas deve
receber a aplicação do
mesmo regime jurídico. A
submissão ao regime
aparece justificada por
motivos mais fortes do que
as situações previstas na
“letra da lei”;

 Argumento a maiori ad
minus (a lei que permite o
mais também permite o
menos) – deverá abranger
um comportamento mais
gravoso, se prevê um
comportamento menos
gravoso;

 Argumento a minori ad
maius (a lei que proíbe o
menos também proíbe o
mais) – deverá admitir uma
Página

situação muito menos grave


que as previstas;
182

 Argumento a contrario (da


disciplina excepcional
estabelecida para certo caso,
retira-se um princípio oposto
que corresponde ao regime-
regra, isto é, deduz-se que os
casos não contemplados
devem seguir o regime
oposto) – serve para
demonstrar que às situações
não previstas num
determinado regime jurídico,
aplicar-se-á o regime oposto.
Utilizado no âmbito das
normas excepcionais, após
determinação por
interpretação. Implica um
uso com várias cautelas,
antes de chegar à conclusão
que se aplicará o regime
oposto, nomeadamente a
aplicação da regra
excepcional;

 Argumento apagógico (ou


de redução ao absurdo ou
reductio ad absurdum) –
trata-se de uma redução ao
absurdo para não permitir
que a lei traga
consequências ilógicas ou
absurdas. Pretende-se
demonstrar que a Lei tem
aquele(s) sentido(s) que lhes
Página

queremos atribuir e não


conduzem ao absurdo, de
183

entre os vários sentidos


possíveis;

 Argumento de coerência –
sendo o sistema jurídico
unitário e coerente, o sentido
de uma norma jurídica será
harmónico / coerente com as
restantes;

 Argumento segundo o
qual um regime jurídico
desfavorável (por exemplo:
pagamento de impostos, em
Direito Fiscal) não será
interpretado num sentido
mais amplo, salvo se o
regime for favorável (por
exemplo: benefícios fiscais,
em Direito Fiscal);

 Argumento “onde a Lei


não distingue, não deve o
intérprete distinguir” (ubi
lex non distinguit nec nos
distinguere debemus).

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 09 de Março de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º9
• Texto 1 – Valor da Lei
 Entendimento sobre as fontes de Direito que
Página

eleva a Lei a única e verdadeira fonte


imediata, competindo a ela conferir a
184

condição de fonte a outros possíveis modos


de formação e revelação de normas
jurídicas;
 O Código Civil surge, por vezes, como
partidário desta tese (veja-se as suas
primeiras normas). Aliás, este código foi
aprovado por uma lei em sentido amplo
(decreto-lei);
 Não é o entendimento mais consensual na
actualidade.

• Texto 2 da alínea a) – Assentos:


 Interpretavam e integravam autenticamente
as leis (acção própria do legislador);
 Atribuição ao julgador de poderes de
vinculação efectiva;
 Violação do princípio da separação de
poderes (poder legislativo exercido por
órgãos judiciais – STJ e STA);
 Acórdãos produzidos pelo STA e STJ, com
funções interpretativas e integrativas,
aplicáveis ao caso concreto e restantes
casos análogos. Terminavam com uma
autêntica norma jurídica;
 Visavam a uniformização da jurisprudência,
zelando-se, deste modo, pelo valor da
segurança e certeza jurídica;
 Figura subsidiária aos assentos: Acórdãos
Uniformizadores de Jurisprudência, com
iguais funções e características. Não são,
contudo, vinculativos para casos externos.

• Texto 3 da alínea b) – Acórdãos jurisprudenciais


Página

do Tribunal Constitucional
 Os tribunais inferiores recorrem aos
185

tribunais superiores, dotados de um maior


poder de influência, para complementar a
sua actividade decisória;
 O Tribunal Constitucional é o único órgão
competente para produzir acórdãos com
força obrigatória geral, aquando da
declaração de inconstitucionalidade e de
ilegalidade (situação excepcional de
jurisprudência enquanto fonte de
direito)
 Só é possível conhecer a vigência da norma,
se conhecermos o seu percurso de
elaboração, através da interpretação
doutrinal (de conservadores, juízes, entre
outros). Também os despachos
administrativos dos conservadores, apesar
de susceptíveis de recurso contencioso, têm
valor vinculativo, gozando de um poder jus
criador (poder de criação de jurisprudência).
Portugal, apesar de tudo, não é dos países
do ordenamento jurídico romano-germânico
em que mais se nota o valor da
jurisprudência, ao contrário do que sucede
em países como a Alemanha (no âmbito do
Direito Civil) e França (no âmbito do Direito
Administrativo). Portanto, reconhece-se um
papel de crescente importância à
jurisprudência, apesar de não ser fonte de
direito. Constitui um importante auxiliar
para a compreensão da Lei.

• Texto 4 da alínea c) – Realização de espectáculos


tauromáquicos com touros de morte (caso
Barrancos)
Página

 O problema em questão pode ser visto


segundo dois prismas:
186

1. No presente caso, podemos dizer o que


o costume voltou a afirmar-se,
enquanto prática reiterada, localizada
numa dada região, dotada de uma
consciência de admissibilidade –
atribuição de tutela jurídica ao costume
enquanto fonte imediata;
2. Por outro lado, foi necessário fazer
aprovar uma Lei para fazer vigorar um
costume, que pode constituir um
desafio à autoridade do Estado
(observação de um costume ancestral
que se considera vigente).

 Antes da entrada em vigor da Lei


n.º19/2002, de 31 de Julho, denotava-se um
desafio à autoridade do Estado, pois trata-se
de um desrespeito da Lei vigente (Lei
n.º92/95, de 12 de Setembro). Este facto
implicou a intervenção política, através da
produção de nova legislação;
 Por mais que se afirme o costume como
fonte de Direito na teoria (no presente caso,
estamos perante um costume contra
legem), denota-se na prática a intervenção
da Lei a dar tutela ao costume, o que vai
subalternizar este último.
• De todo o modo, o costume contra
legem deixou de o ser, para se tornar
num costume secundum legem;
• Se considerarmos que costume e lei se
podem revogar reciprocamente,
consideramos que estamos perante
uma situação de equiparação. Porém,
perante o caso de uma prática do
Página

género cometida sobre um ser


humano, devemos alegar a primazia de
187

princípios jurídicos fundamentais


entretanto violados, como o princípio
da dignidade da pessoa humana,
plasmados inclusive na Lei
Fundamental do País;
• Tende-se a gerar jurisprudência de
promoção dos Direitos dos Animais, em
nome de um princípio de Humanidade.

➢ Ficha de Trabalho n.º10


• Questão 1
 Encontramos uma referência ao artigo
732.º-A do Código de Processo Civil, que
remete para os acórdãos de uniformização
de jurisprudência, obrigatoriamente
publicados na 1.ª Série do Diário da
República. Estes acórdãos não são
fontes de direito, na medida em que se
aplicam apenas ao caso concreto e
exercem apenas um poder de
persuasão;
 Já o artigo 8.º, número 3 do C.C. reflecte o
interesse da uniformização do Direito, tendo
em consideração todos os casos que
mereçam tratamento análogo;
 É ainda apontado no enunciado o artigo
10.º, n.º3 do C.C., que nos remete para o
poder atribuído ao julgador (entenda-se
“qualquer aplicador do Direito”) para a
criação de normas jurídicas, na falta de caso
análogo para integração das lacunas da Lei.
• Coloca-se em causa a possibilidade de
Página

a jurisprudência ser fonte de Direito.


Note-se que o artigo se refere à
188

integração de lacunas, após


impossibilidade de recurso analógico;
• Nestes casos, a jurisprudência não é
fonte de Direito. Não se cria uma
norma geral e abstracta, mas antes
uma norma ad-hoc, que apenas se
aplica ao caso concreto, apesar de
apresentar igual estrutura de uma
norma jurídica (previsão e estatuição).
Ainda assim, não é uma verdadeira
norma jurídica, pois não se aplica a
casos posteriores;
• Logo, não podemos afirmar que a
jurisprudência seja fonte de
Direito.

• Questão 2
 Encontramos uma alegação de um desuso
capaz de fazer cessar a Lei, que não está
dotado de uma convicção de juridicidade
(animus), de relevância jurídica;
 A Lei em causa, apesar de incumprida
sistematicamente, procura defender
questões de salubridade e segurança
pública;
 No presente caso, a Lei em causa não se
revela injusta, deixando-se de poder alegar
um costume contra legem. O mesmo se
aplica na Lei que impõe a obrigatoriedade
do uso cinto de segurança pelo condutor e
passageiros, apesar do incumprimento
geral. Estamos perante um mero
desuso, mas nunca um costume contra
legem.
Página

• Questão 3
189

 Encontramos uma alusão ao artigo 1.º do


C.C., relativo às fontes imediatas de Direito
(ver n.os 1 e 3);
• Oceana invoca o fim do Estado
Corporativo, que vigorava em 1966. Por
esse facto, ela entende que tinham
desaparecido os pressupostos de
vigência da Lei – interpretação
historicista;
• Vítor Hugo considera a possibilidade de
aproveitar a referida norma, aplicável
às corporações profissionais, sindicatos
e outros organismos que defendem os
interesses da sua classe. Estes gozam
de poder normativo, não podendo,
contudo, contrariar a Lei vigente, pois
as normas corporativas encontram-se
num plano hierarquicamente inferior.
Podemos dizer, então, que Vítor Hugo
faz uma interpretação actualista.
• O Estatuto da Ordem dos Advogados
não é uma norma corporativa, mas
uma Lei aprovada pela Assembleia da
República, órgão dotado de poder
legislativo. Todavia, esta Ordem goza
de poder regulamentar para a criação
de normas corporativas. Por exemplo, o
Código Deontológico dos Advogados é
passível de ser sindicável por um
tribunal.

Página

➢ Ficha de Trabalho n.º11


190

• Questão 1
 Organizando hierarquicamente:
1. Lei constitucional (editada pelo legislador
constituinte originário);
2. Lei constitucional (editada pelo poder
constituinte de revisão), pois esta tem de
respeitar os limites materiais de revisão;
3. Lei ordinária
4. Lei da AR (dotada de uma
legitimidade democrática e de uma
reserva de lei parlamentar);
5. Decreto-Lei do Governo (paridade
com a Lei em matéria concorrencial, mas
subalternizada pela Lei, nos termos do
artigo 112.º, n.º2 da CRP);
6. Decreto Legislativo Regional (sobre
matéria de interesse regional, não
podendo contrariar as Leis da República).
7. Regulamentos (dependentes ou
independentes)
8. Decreto regulamentar do Governo
(previsto no artigo 112.º, n.º6 da CRP,
com exigência de formalidade solene –
promulgação do PR);
9. Portaria;
10.Despacho normativo;
11.Resolução do Conselho de Ministros
(pode não ter conteúdo normativo, sendo
uma mera recomendação).

Página
191

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 09 de Março de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
 Método interpretativo (continuação)
• Cautelas a tomar na utilização dos
instrumentos interpretativos
○ Utilização em conjunto destes
instrumentos (não são
compartimentos estanques), com
habilidade e a recolha de
experiência;
○ Utilização de todos os elementos
na interpretação de uma norma
jurídica, o que apenas não sucede
quando se verifica a ausência do
elemento histórico;
○ Os resultados interpretativos
resultam da comparação da “letra
da lei” com o “espírito da lei”, em
todos os casos.

• Resultados interpretativos
○ Interpretação declarativa – O
sentido da lei cabe dentro da sua
“letra”. A “letra da lei” está
conforme com o seu “espírito”. O
intérprete conclui que a “letra da
lei” é coincidente com o “espírito
da lei”. Obtém-se igual resultado
com a combinação dos elementos
lógicos e a “letra da lei”;
Página

○ Interpretação extensiva - A
letra da lei diz menos que o seu
192

espírito ou, noutros termos, o


legislador pretendia dizer mais
além do que consta do texto da
lei; para obedecer à norma que se
extrai da lei, o intérprete deve
procurar uma formulação que a
traduza correctamente – alarga o
alcance do texto da lei para este
coincidir com o espírito que extrai
da lei, por interpretação
(importância do elemento
teleológico).
 Argumento a pari (de
identidade de razão);
 Argumento a fortiori (de
maioria de razão – submissão
ao regime aparece justificada
por motivos mais fortes).

Consiste na determinação do
sentido mais razoável da Lei,
obtendo-se um resultado
extensivo à fórmula textual, que
nela não se encontra contido. Esta
interpretação não viola a “teoria
da alusão”, pois a lei, fazendo uma
alusão mínima, possibilita a
extensão dentro dos limites do
razoável. Ocorre numa situação
de regulamentação casuística.
Muitas vezes, utiliza-se a
interpretação extensiva com o
argumento a maiori ad minus.
Veja-se o artigo 1305.º do C.C.: ao
possibilitar-se a venda e troca do
imóvel, depreende-se que também
Página

permite a oneração ou hipoteca, já


que o bem continua na posse do
193

proprietário.

○ Interpretação restritiva – A
“letra da lei” atraiçoa o
pensamento legislativo, por ter
um alcance mais abrangente do
que a norma que se pretendia
exprimir. Distingue-se da
interpretação extensiva, na media
em que se conclui que a “letra da
lei” não foi fiel ao “espírito da lei”,
pois disse mais do que queria
dizer. Com a interpretação
restritiva, diminui-se o elenco de
hipóteses de aplicação da Lei. Tal
justifica-se pelo facto de a Lei só
fazer sentido com um âmbito mais
reduzido de aplicação.

○ Interpretação enunciativa (ou


implicativa) – recorre bastante
ao argumento a contrario; se o
intérprete conseguir provar que o
regime abrangido pela norma
excepcional não cabe no espírito
da Lei, aplica-se o regime geral
contrário ao da norma que
estamos a interpretar. Contudo, é
importante estar seguro que estou
perante uma norma excepcional.
A interpretação enunciativa
resulta na descoberta de uma 2.ª
norma que não se encontrava
implícita. Para Oliveira Ascensão,
Página

estamos perante um método de


integração de lacunas.
194

 Argumentos a maiori ad
minus e a minori ad
maius (a lei que permite o
mais também permite o
menos; a lei que proíbe o
menos também proíbe o
mais);
 Argumento a contrario (da
disciplina excepcional
estabelecida para certo caso,
retira-se um princípio oposto
que corresponde ao regime-
regra, isto é, deduz-se que os
casos não contemplados
devem seguir o regime
oposto).

○ Interpretação revogatória (ou


ab-rogante) – o intérprete
conclui que existe uma
contradição insanável com outra
disposição legal. Regra não tem
sentido útil (quer porque há uma
impossibilidade prática de
coexistência quer porque as
regras exprimem valorações
contraditórias), o intérprete
apenas se limita a verificá-lo.
Existindo um conflito positivo de
normas, em que ambas
pretendem aplicar-se à mesma
situação, e não existindo um
critério para decidir qual a norma
Página

a adoptar, estamos perante uma


lacuna de colisão, gerando-se um
195

vazio no ordenamento jurídico.


Verificando-se um conflito de
normas que se anulam
mutuamente, criar-se-á uma
norma ad-hoc (artigo 10.º, n.º3 do
C.C.);
○ Interpretação correctiva – texto
da lei não exprime com uma
clareza mínima a finalidade para
que foi criado e, tomado à letra,
abrange hipóteses que não estão
de forma evidente no espírito da
lei. (Contra: Oliveira Ascensão –
alterações do sistema normativo
apenas competem às fontes de
direito). É raramente mencionado
no elenco de resultados
interpretativos, sendo duvidosa a
sua admissibilidade. Consiste na
ausência de adopção de um
sentido, que não encontra alusão
na “letra da lei”, já que conduz a
um verdadeiro absurdo. O artigo
8.º, n.º2 do C.C. é válido, na
medida que é congruente com os
princípios reinantes). Se a norma
violar um princípio fundamental,
ela é inválida. Argumenta-se que
o artigo 8.º, n.º2 do C.C. não
admite a interpretação correctiva,
procedendo à alteração da “letra
da lei”. Por outro lado, outros
dizem que apenas se proíbem
interpretações subjectivas do
Página

intérprete, afastando-se da “teoria


da alusão”, fazendo uma
196

interpretação hábil do artigo. O


entendimento maioritário não
admite a interpretação correctiva,
devendo ela cingir-se aos sentidos
que a lei admite, não se aceitando
sentidos que extravasem este
núcleo. O artigo 8.º, n.º2 do C.C.
impõe a obediência à Lei, mesmo
sendo injusta. Não é este o
entendimento de Mário Bigotte
Chorão, que considera que o
artigo admite uma defesa
fundamentada e objectiva da
injustiça da Lei.

• Artigo 9.º do C.C. – apresenta regras


gerais relativas à interpretação,
aplicáveis em princípio a toda a ordem
jurídica, a todos os ramos do Direito. O
legislador do Código Civil de 1966 não
tomou posição em relação à querela
objectivismo / subjectivismo.

Faz sentido que uma norma legal


preveja estas regras?
Normas definidas pela comunidade
de intérpretes

○ Orientação geral:
A interpretação não deve cingir-se
à letra da lei, mas reconstituir a
partir dos textos o pensamento
legislativo (n.º 1) – texto da lei =
apenas um elemento da
interpretação.
Página

Denota-se a utilização de uma


197

expressão neutra. Considera-se


que o legislador de 1966 será,
quanto muito, partidário da
corrente mista / gradualista.
Verifica-se um afastamento da
corrente subjectivista, pois impõe-
se um entendimento com a Lei,
mas não deixa de referir que a
interpretação deve ter em conta
as circunstâncias em que a Lei foi
elaborada, isto é, a descoberta da
vontade do legislador histórico. O
Código Civil entende que se deve
atender ao elemento sistemático
(unidade do sistema jurídico), ao
elemento teleológico (referência
que não se obtém directamente)
e, obviamente, à “letra da lei”.
 Na querela entre historicismo
e actualismo, vence este
último, na medida em que se
atende às condições do
tempo em que a Lei é
aplicada;
 É conferida legitimidade ao
legislador para estabelecer
normas de interpretação.
Muito poucos códigos civis
contêm uma norma tão clara
como a do artigo 9.º do C.C.,
pois muitos não se
consideram habilitados para
tal. Este facto justifica-se
com a necessidade de a
norma respeitante à
Página

interpretação também ter de


ser interpretada. No Código
198

Civil Português, decidiu-se


integrar uma norma com
sentido amplo e critérios de
interpretação válidos e
seguidos, que deve ser
consolidada pela doutrina e
jurisprudência. Os
detractores de uma norma
como esta consideram tratar-
se de uma norma sem
sanção, pois não se prevê
uma consequência para a
violação da mesma. A
sentença prevista para tal
prática é a revogabilidade
dessa interpretação, não
sendo, portanto, destituída
de consequências jurídicas.
 No que concerne à
interpretação deste n.º1 do
artigo 9.º do C.C., efectua-se
igualmente a sua
interpretação.

○ Responsabilidade do
intérprete – encontrar soluções
mais adequadas. Presume-se
“que o legislador consagrou as
soluções mais acertadas e soube
exprimir o seu pensamento em
termos adequados” (n.º 3) – não
dispensa a tarefa de interpretação
e o recurso a outros elementos.
Contem o critério do
legislador razoável, relacionado
Página

com a função positiva, devendo-se


por isso retirar o sentido mais
199

razoável da interpretação do texto


da lei, partindo do pressuposto
que o legislador é, de facto,
razoável.
○ Dupla função da letra da lei:
ponto de partida e limite da
interpretação (n.º 2)
 Não pode, porém, ser
considerado pelo intérprete o
pensamento legislativo que
não tenha na letra da lei um
mínimo de correspondência
verbal, ainda que
imperfeitamente expresso
(n.º2 do artigo 9.º do C.C.);
 A letra é um elemento
irremovível da interpretação,
ou um “limite da busca do
espírito”.
 Entendimentos de Karl
Larenz e António Manuel
Hespanha
• “Uma interpretação que
não se situe já no
âmbito do sentido literal
possível, já não é
interpretação, mas
modificação de
sentido.” (Larenz)
• “(...) há-de ser um
sentido (uma
motivação, um conjunto
Página

de objectivos) que caiba


razoavelmente no
200

sentido literal da
declaração do
legislador. Sob pena de,
se isto não acontecer,
se estar a criar uma
nova norma, em vez de
interpretar uma norma
já existente.”
(Hespanha)

• Os argumentos interpretativos devem


ser utilizados na sua totalidade e, aliás,
mantêm relações próximas com alguns
elementos interpretativos;
• Pode suceder que os próprios códigos
dos diferentes ramos do Direito
apresentem legislação sobre
interpretação e integração.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 12 de Março de 2010 – 9H30-11H –
Teórica)
• O processo de subsunção do caso
concreto à previsão da norma
jurídica é rejeitado por uma visão
tradicional, entendendo tratar-se de
um silogismo jurídico, isto é, um
raciocínio meramente lógico. Qualquer
valoração apresenta-se como uma
questão extra-jurídica, pelos
positivistas. Na actualidade, já não é
esta a visão sobre o processo, não se
Página

considerando um raciocínio meramente


lógico, visto que integra valores e
201

concepções ético-sociais na aplicação


ao caso concreto. Mas o raciocínio
lógico não é suficiente;
• Note-se que as presunções judiciais
vivem da experiência do aplicador
(julgador) da legislação ao caso
concreto. Se antes se rejeitava esta
noção, devido ao facto de se tratar de
um mero raciocínio lógico,
actualmente, desde que realizado com
objectividade, é aceite, envolvendo
raciocínios lógicos e elementos lógicos
e científicos;
• Refira-se, também, a abertura inter-
disciplinar do Direito no desenrolar de
processos no tribunal, enquanto
auxiliar ao juiz para tomar a decisão
correcta. Veja-se, por exemplo, ao nível
da prova pericial;
• Numa tentativa de os juízes garantirem
a comunicabilidade com a comunidade,
procura-se que estes não façam uma
abordagem hermenêutica nas
sentenças ou acórdãos, numa tentativa
de transmitir uma mensagem acessível
ao público-alvo. Os juízes devem
atender aos interesses que estão em
jogo no caso concreto e às
consequências jurídicas e práticas que
a aplicação da Lei no caso concreto
têm nos sujeitos sobre os quais
recaem.

• Integração de Lacunas da Lei


Página

 Lacuna – “é uma incompleição do sistema


normativo que contraria o plano deste”, ou
202

seja, uma incompletude contrária ao plano


do Direito vigente;
 Distinguem-se das situações extra-jurídicas
– dizem respeito a situações que cabe ao
direito regular mas em que o Direito (e não
apenas a lei) não dá resposta a esta questão
jurídica (lacunas do ordenamento jurídico –
Inocêncio Galvão Telles);
 O processo de interpretação e integração de
lacunas é um processo integrado, isto é,
antes da integração, procede-se à
interpretação, para chegar à conclusão que
existe uma lacuna. Esta ideia é apenas da
segunda metade do século XX;

Interpretação / integração – integração supõe


interpretação

momento de determinação momento de


preenchimento

da lacuna da lacuna

interpretação das fontes a aplicar por


analogia
Página

 A lacuna corresponde a um vazio jurídico, a


um caso omisso;
203

 A Lei refere-se apenas à lacuna da lei.


Todavia, se admitirmos a existência de
norma consuetudinária, não sendo
positivistas, só admitimos a existência de
lacuna de lei na ausência de costume
aplicável;
 Se se chegar à conclusão que, após
interpretação jurídica, não existe disciplina
para o caso em questão, denota-se um vazio
jurídico;
 Mesmo não existindo uma norma jurídica
aplicável, existe a hipótese de recurso ao
costume e aos usos autorizados, isto em
teoria;
 A doutrina, perante os vazios legais,
entende que é perfeitamente possível
existir lacunas, pois o legislador não é
perfeito e não pode legislar sobre tudo.
Todavia, nem sempre foi assim. No século
XIX e na primeira metade do século XX, a
doutrina não admite a existência de lacunas.
Teorias da época:

• Teoria do espaço juridicamente


livre – estabelece que todas as
matérias não reguladas pelo Direito
não eram juridicamente relevantes, isto
partindo do dogma que o Direito
legislava sobre tudo o necessário;
○ Crítica: podem existir matérias
não reguladas pelo Direito que
clamam protecção jurídica, o que
pode acontecer por esquecimento
do legislador, por exemplo.
Página

• Teoria da norma geral exclusiva /


204

de liberdade – as normas jurídicas


positivadas proibiam e impunham
condutas (normas gerais), sendo que
um comportamento não especialmente
previsto era permitido.
○ Críticas:
 As normas jurídicas também
permitem expressamente
comportamentos;
 Podem existir normas
omissas que proíbem ou
imponham uma conduta.

 Na actualidade, os ordenamentos da família


romano-germânica aceitam a existência de
lacunas. Já na família anglo-saxónica, nunca
se defendeu o dogma da plenitude de
cobertura de todos os casos, prevendo o
recurso à jurisprudência para integrar
lacunas;
 Quando é que existem lacunas?
• A mera existência de um vazio legal
não implica a existência de uma
lacuna. Por exemplo, há vazios legais
que são voluntários, gerida pelo
legislador. Note-se que o artigo 10.º do
C.C. apenas se aplica aos vazios
involuntários, isto é, não são desejados
pelo legislador). Há lugar a um vazio
voluntário:
○ Se houver uma falta de consenso,
devido a uma dada questão, tendo
o legislador decidido não legislar
(por exemplo: adopção por casais
Página

homossexuais);
○ Pela necessidade de conceder
205

autonomia na organização e
funcionamento nas empresas, nas
famílias, apesar da ingerência
crescente do Estado.

• Para se considerar que estamos


perante uma lacuna, é necessário ter
consciência das variações históricas da
vontade do legislador;
• Revela-se importante considerar a
existência de factos alheios ao Direito,
como o trato social ou a religião;
• A Constituição prevê que o legislador
se deve abster, em determinadas
questões, de produzir um regime
jurídico, por ser uma questão do foro
político, por exemplo.

 Se se verificar que existe uma lacuna,


depois de atendidos os critérios
anteriormente apresentados:
• É necessário atender à proibição do
princípio de negação de justiça,
estabelecido no artigo 8.º do Código
Civil e também no Código Penal, sujeito
portanto a moldura penal (artigo 369.º
do Código Penal) e possibilidade de
solicitação de indemnização, estando
submetido a processo especial (artigo
1083.º do Código de Processo Civil);
• Instrumentos de integração de
lacunas (note-se a hierarquia de
preferência de aplicação):
○ 1.º Instrumento: recurso à
analogia (analogia legis e
Página

analogia iuris) (artigo 10.º, n.º1


do C.C.);
206

○ 2.º Instrumento: criação de


norma ad-hoc (artigo 10.º, n.º3
do C.C.).

• Tipos de Lacunas
○ Lacunas da Lei
 Ao nível da teleologia –
após apuramento do
resultado interpretativo
restritivo, com a verificação
que a finalidade da lei não foi
tão além da “letra da lei”.
Nesta situação, existirá
matéria sem regime jurídico,
mas que o mereça;
 Ao nível das normas – pela
simples leitura das normas
(lacunas de colisão, por
interpretação revogatória,
por exemplo) ou por
ausência de diploma especial
que regule a actividade de
um órgão, ainda que
estivesse prevista a sua
existência.

○ Lacunas do Direito – existe uma


lacuna, não pela leitura da lei ou
da sua teleologia, mas porque
através de um princípio geral de
Direito chegamos a esta
conclusão, implicando,
habitualmente, o recurso a uma
norma especial (norma ad-hoc).
Página
207

• Aplicação analógica de normas


jurídicas (artigo 10.º, nos 1 e 2 do C.C.)
○ Estão em causa os valores da
igualdade e da segurança
jurídica, o que justifica a
organização hierárquica dos
métodos de integração;
○ Problemas que se colocam:
 Quando há analogia?
 Quando há lugar ao
recurso analógico?
• Há lugar a recurso a um
raciocínio de analogia /
semelhança nos
argumentos
interpretativos a pari
(por igualdade de
razão) e a fortiori
(por maioria de
razão).

○ Duas hipóteses de aplicação


analógica de normas jurídicas:
 Recurso analógico –
aplicação de uma norma
análoga ao caso omisso;
 Interpretação extensiva –
se o caso se integra no
espírito da norma análoga,
há lugar a aplicação directa
da mesma, não existindo
lacuna sequer. Importa
apurar se o caso omisso se
integra no espírito da norma
Página

análoga (ver caso dos


“lugares paralelos”, estando
208

em causa matérias
diferentes). Só se admite
aplicação analógica com as
devidas adaptações
(aplicação indirecta mutatis
mutandis).
○ Note-se que, para haver lugar a
integração, a hipótese não pode
estar compreendida nem na
letra nem no espírito da lei.
○ Refira-se ainda que não se trata
da extracção de uma regra
implícita num texto que a
exprime imperfeitamente (cfr.
artigo 11.º CC – proibição de
aplicação analógica de normas
excepcionais).

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 16 de Março de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º11 (continuação)
○ Questão 2:
 Em relação à alínea a), de acordo com o
artigo 7.º, número 4 do C.C., não é possível
o recurso à repristinação. Tal apenas pode
Página

suceder em situações excepcionais,


nomeadamente: quando há uma declaração
209

de inconstitucionalidade da norma que


revoga lei inicialmente revogada com força
obrigatória geral; ou quando uma lei
revogatória declara a repristinação,
gerando-se um conflito positivo de normas,
prevalecendo a Lei de Autorização da AR
sobre o Decreto-Lei autorizado do Governo
(que aprovou o Código Civil), isto numa
situação de autorização legislativa, em
matéria reservada à AR. Este último caso
não se aplica em matéria concorrencial,
situação aliás presente no enunciado desta
questão. Estando perante uma questão de
matéria concorrencial, recorremos ao
critério temporal lex posterior derogat priori
(lei posterior revoga lei anterior) e ao
critério de especialidade lex specialis
derogat legi generali (lei especial revoga lei
geral). Deste modo, e dado não existir o
carácter especial da situação em causa, não
há lugar a repristinação, sendo que a Lei
n.º5/2005 se limita a revogar e não há
regime jurídico aplicável. De todo o
modo, não há lacuna da lei, se é possível
aplicar o regime geral (estando perante
regime especial), ou havendo lacuna é
possível a criação de norma ad-hoc. Poderia
ainda o legislador de 2005 criar o regime
jurídico, o que não levava ao recurso destes
procedimentos;
 Em relação à alínea b), haveria lugar a
repristinação da Lei n.º15/99;
 Em relação à alínea c), no caso apresentado,
não há verdadeira repristinação, mas por
Página

outro lado incorporação do Decreto-Lei


n.º15/99 (ou remissão), tendo a Lei
210

n.º5/2005, que estaria em vigor, aderido ao


regime do Decreto-Lei n.º15/99. Aplica-se,
portanto, a Lei n.º5/2005.

➢ Ficha de Trabalho n.º12


○ Questão 1:
 Em relação à alínea a), constatamos que:
• A Lei n.º99/2003 apresenta duas
revogações expressas: uma revogação
total do Decreto-Lei n.º49408, de 24 de
Novembro de 1969 e uma revogação
parcial (artigo 13.º) do Decreto-Lei
n.º409/71, de 27 de Setembro.
Encontramos, também, uma revogação
tácita, ao abrigo do critério da
posteridade de outros diplomas não
apresentados, mas por
incompatibilidade entre lei posterior e
lei anterior;
• O artigo 1.º da Lei Orgânica n.º2/2004,
de 12 de Maio cessará a sua vigência
por caducidade, a de 1 de Julho de
2004. Trata-se de uma lei de vigência
temporária, que cessa com o fim do
evento em causa;
• A Portaria n.º568/81, de 8 de Julho
declara a cessação de vigência do
Decreto-Lei n.º54-A/81, de 30 de
Março, por fim dos circunstancialismos
que motivaram a aprovação daquele
diploma. Neste caso, não há lugar a
revogação, por uma questão de
hierarquia (portaria assume uma
posição hierarquicamente inferior em
Página

relação ao decreto-lei).
211

 Em relação à alínea b), importa notar que a


simples revogação não conduz à
repristinação das normas que aquele
diploma veio revogar. Recorde-se o
enunciado linguístico constante do artigo
7.º, n.º4 do C.C., que constitui regra geral.
○ Questão 2:
 Os bens públicos do Estado (artigo 84.º da
CRP) não são adquiríveis por usucapião, por
pertencem ao domínio público do Estado.
Veja-se também o artigo 202.º do Código
Civil, que reforça esta ideia. Todavia, os
bens móveis do domínio privado do Estado
são passíveis de transacção livre e de
aquisição por usucapião, estando
abrangidos pela Lei n.º54, de 16 de Julho de
1913;
 A argumentação da Junta de Freguesia
baseia-se no artigo 7.º, n.º1 do C.C.,
considerando que a referida disposição civil
(Lei n.º54, de 16 de Julho de 1913) deixou
de vigorar com a introdução do Código Civil
de 1966. Já a argumentação de Abílio
fundamenta-se no facto de a questão em
causa estar abrangida por legislação
especial a que se faça referência;
 No presente caso, não houve intenção do
legislador do Código Civil de revogar a
legislação especial anterior, continuando a
aplicar-se o regime de 1913. Só havia lugar
a aplicação dos prazos do Código Civil de
1966 se este manifestasse a intenção de
revogar a legislação especial anterior.
Página

➢ Ficha de Trabalho n.º13


○ Questão I:
212

 O artigo 1699.º do C.C. refere-se às


restrições ao princípio da liberdade em
convenções antenupciais, para determinar o
regime de tutela dos esposos. As
convenções antenupciais são um contrato
celebrado entre pessoas que ainda não
celebraram casamento.
• Note-se que é possível fazer
estipulações diferentes aos regimes
previstos no Código Civil;
• O artigo 1699.º, n.º2 do C.C. declara a
proibição de estipulação do regime de
comunhão geral nem possibilita que se
considerem comuns os bens referidos
no n.º1 do artigo 1722.º do C.C. (bens
próprios).
 Note-se as diferenças existentes entre o
regime da comunhão geral de bens
(artigo 1732.º do C.C.) e o regime da
comunhão de bens adquiridos.
• No regime da comunhão geral de bens,
o património levado para o casamento
por cada cônjuge passa a ser de ambos
(é isto que se pretende proibir no caso
apresentado), podendo ser adquiridos
bens, gratuitamente e durante o
casamento, por via de testamento;
• No regime da comunhão de adquiridos,
são posse de ambos os cônjuges os
bens adquiridos apenas na constância
do casamento (bens onerosos).
○ Note-se que o artigo 1733.º do
C.C. exclui da comunhão bens
próprios (bens incomunicáveis).
○ A sucessão com a morte de A,
Página

casado com B, em regime de


comunhão geral de bens, e
213

com um filho C, ocorre do


seguinte modo:
 50% do património é
entregue a B;
 Os restantes 50% do
património são divididos
entre B e C, tendo cada um
direito a metade.
 Portanto, ¾ do património
revertem a favor de B e ¼ do
património é de C.
 Já em comunhão de
adquiridos, os bens de A,
adquiridos antes do
casamento, não eram
levados para o casamento,
sendo que B tinha direito a
50% dos bens, tal como C.

 O artigo 1699.º, n.º2 do C.C. não distingue


entre filhos comuns e filhos unilaterais. De
acordo com o argumento interpretativo
“onde a Lei não distingue, não deve o
intérprete distinguir” (ubi lex non distinguit
nec nos distinguere debemus), não se faria
distinção, mas actualmente tem-se outro
entendimento;
 A interpretação em causa é doutrinal, não
sendo por isso da responsabilidade do órgão
que aprovou a Lei ou de outro órgão com
poder legislativo. Sendo uma interpretação
doutrinal, não tem efeito vinculativo
externo. Importa não confundir
interpretação doutrinal com as circulares
Página

interpretativas das Finanças ou com os


pareceres do Conselho Técnico do Instituto
214

de Registos e Notariado, que têm apenas


um efeito vinculativo interno. Para além
disso, não constituem interpretações
autênticas, apesar de os funcionários das
respectivas instituições as respeitarem, por
serem uma orientação de um superior
hierárquico.
 No presente caso, foram utilizados os
seguintes elementos interpretativos:
• Elemento teleológico – apurar a
finalidade da norma (elemento
principal);
• Elemento gramatical – forma textual
da norma (“letra da lei”).
 O resultado interpretativo encontrado foi
uma interpretação restritiva, pois entendeu-
se que a “letra da lei” foi mais além que o
“espírito da lei”, restringindo-se o âmbito
de aplicação da norma. Aplica-se apenas
aos filhos próprios de um cônjuge.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 16 de Março de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
• Integração de Lacunas da Lei (continuação)
 Analogia legis
• Analogia – aplicação de um processo
geral de pensamento particular no
domínio da integração;
• Fundamento: tratamento igual de
casos semelhantes (princípio da
igualdade e certeza do direito –
obtenção da uniformidade de
soluções);
Página

• Artigo 10.º/1 CC – “Os casos que a lei


não preveja são regulados segundo a
215

norma aplicável aos casos análogos”;


• Casos análogos: não basta
semelhança na descrição exterior da
situação, é necessário que exista um
conflito de interesses paralelo ou
semelhante e que o critério valorativo
adoptado pelo legislador para compor
esse conflito no caso previsto possa ser
aplicável também no caso análogo
(art. 10.º/2 CC – é necessário que
“procedam as razões justificativas
da regulamentação do caso previsto na
lei”).

 Refira-se a dificuldade do intérprete para


decidir qual o critério de aplicação analógica
a aplicar;
 Sempre que, estando em causa um conflito
de interesses, a Lei for capaz de se aplicar
no caso concreto, há lugar a recurso
analógico;
 Interpretação extensiva (artigo 11.º do
C.C.)
• Para haver lugar a integração, a
hipótese não pode estar compreendida
nem na letra nem no espírito da
lei;
• Não se trata da extracção de uma
regra implícita num texto que a
exprime imperfeitamente (cfr. artigo
11.º CC – proibição de aplicação
analógica de normas excepcionais, pois
“nenhuma excepção deve ser
transformada em regra”).
• Ainda assim, as normas excepcionais
Página

também são passíveis de interpretação


extensiva, desde que o caso omisso se
216

integre no “espírito de lei”. Situações


de impossibilidade de recurso
analógico:
○ Tipologias taxativas –
referência àqueles casos aos
quais, expressamente, se aplica,
com um regime contrário ao
regime geral
○ No âmbito do Direito Fiscal –
os números 2 e 3 do artigo 103.º
da CRP apresentam o princípio da
legalidade em Direito Fiscal
(aplicação de normas fiscais
apenas no caso a regular.
Também a Lei Geral Tributária
apresenta, no n.º4 do artigo 11.º,
a impossibilidade de integração
analógica de lacunas.

Artigo 11.º da Lei Geral Tributária (LGT)


Interpretação
1 - Na determinação do sentido das normas fiscais e na qualificação dos
factos a que as mesmas se aplicam são observadas as regras e princípios
gerais de interpretação e aplicação das leis.
2 - Sempre que, nas normas fiscais, se empreguem termos próprios de
outros ramos de direito, devem os mesmos ser interpretados no mesmo
sentido daquele que aí têm, salvo se outro decorrer directamente da lei.
3 - Persistindo a dúvida sobre o sentido das normas de incidência a aplicar,
deve atender-se à substância económica dos factos tributários.
4 - As lacunas resultantes de normas tributárias abrangidas na reserva de
lei da Assembleia da República não são susceptíveis de integração
analógica.

As normas fiscais não são


passíveis de aplicação analógica.
Podemos dizer que são
irretroactivas.
Página

○ No âmbito do Direito Penal –


se a regra a aplicar for
217

desfavorável, seria insusceptível


da lei analógica, mas se for
favorável já é susceptível de
aplicação. Isto, de acordo com o
princípio da legalidade, que
admite situação estiver
expressamente prevista ou for
possível fazer interpretação
extensiva.
 O artigo 1.º do Código Penal
(princípio da legalidade) não
admite a possibilidade de
recurso analógico para
efeitos de alteração de
moldura penal,
considerando-se apenas
como conduta criminosa toda
aquela que se encontra
prevista no Código Penal;
 No caso de normas
favoráveis, já pode haver
lugar a interpretação
analógica.

 Atitude do intérprete que não pode


suceder com uma norma excepcional
• Método indutivo – abstraindo-se da
norma excepcional em concreto,
formular um princípio geral, que depois
seria aplicado nos conflitos de normas.
• Método dedutivo
○ Estar-se-ia a contrariar a vontade
do legislador ao estabelecer um
regime excepcional.
Página

 O recurso análogo em Direito Fiscal levaria a


218

uma situação de incerteza jurídica, estando


o contribuinte sujeito a ver as suas práticas
fiscais submetidas a um grande âmbito, o
que aliás se aplica, mutatis mutandis, ao
Direito Penal, em que estão em causa
interesses fundamentais do indivíduo;
 Todas as restrições anteriormente
apresentadas estão sujeitas ao princípio da
proporcionalidade, tendo em vista a
protecção de Direitos Fundamentais, ao
abrigo do artigo 18.º, n.º3 da CRP.

 O artigo 10.º, n.º3 do C.C. é um


mecanismo com aplicação subsidiária, na
ausência de qualquer norma análoga.
• Trata-se de um mecanismo de
utilização rara, dada a vasta legislação
existente, directa ou analogicamente
aplicável;
• Tendo em consideração o princípio de
denegação de justiça, o juiz tem de
decidir e criar uma norma ad-hoc para
o caso concreto. Portanto, o seu âmbito
esgota-se no referido caso. O julgador é
obrigado a colocar-se acima do caso
concreto, aquando da criação da
norma, apesar de se apoiar
sociologicamente naquele caso, pois a
referida norma ad-hoc aplicar-se-á a
todos os casos que se integrem na
categoria em causa, tendo por isso
uma formulação abstracta.
• Intenção generalizadora: Assim,
formula uma autêntica norma, geral e
Página

abstracta, que não se aplique somente


ao caso concreto, apesar do interesse
219

em causa ser esse. Contudo, essa


norma apenas vale para o caso sub
judice;
• A aplicação de norma ad-hoc é passível
de recurso pelas partes, podendo ser
revogada se uma decisão de tribunal
superior assim declarar. Tal facto
poderá conduzir à criação de uma nova
norma;
• O mecanismo do presente artigo
confere maior liberdade ao juiz para
criar uma norma jurídica, estando,
contudo, sujeito a limites para a prática
deste acto e sob fiscalização, para
verificar o cumprimento dos
parâmetros legais para a técnica de
integração de lacunas. Além disso, a
solução encontrada tem de se
enquadrar no sistema (“espírito do
sistema”) e nos princípios jurídicos
transversais do Direito, como o
princípio da dignidade da pessoa
humana ou também princípios
particulares dos diversos ramos do
Direito;
 A analogia, em sentido técnico ou não,
revela-se um importante instrumento para
garantir a coerência do sistema jurídico, tal
como o argumento a pari;
 Só existe obrigatoriedade de legislar sobre
uma lacuna se estiver previsto na
Constituição, sendo que, se não houver,
incorre-se numa inconstitucionalidade.
Portanto, são admissíveis lacunas
voluntárias.
Página
220

• Aplicação da Lei no tempo


 Os conflitos da Lei no tempo estão regulados
pelos artigos 12.º, 13.º e 297.º do Código
Civil;
 Aquando do estudo das formas de cessação
de vigência de Lei, vimos que lei posterior
revoga lei anterior. Todavia, há também
situações jurídicas que surgem ao abrigo de
uma determinada Lei e que sobrevivem com
a entrada em vigor de uma nova Lei. A
questão que se coloca é qual o regime
jurídico a aplicar;
 Digladiam-se dois interesses, a propósito do
Direito inter-temporal:
• O surgimento de Lei nova constitui um
avanço no Direito, mais perfeito e
actual. Há, por isso, um interesse em
aplicar Lei nova, por uma questão de
dinamismo;
• Por outro lado, coloca-se em causa a
segurança jurídica, podendo acontecer
que alguém não preveja a entrada em
vigor de um novo regime jurídico,
abalando o conflito de interesses das
partes num negócio jurídicos. Há, por
isto, um defraudar de expectativas
e direitos fundamentais.
 Não existe um princípio constitucional a
declarar a irretroactividade da Lei. Todavia,
há que considerar os artigos 2.º, 18.º, 29.º e
103.º da CRP:
• Artigo 2.º - Princípio do Estado de
Direito Democrático, que promove o
princípio da segurança jurídica e de
uma irretroactividade;
• Artigo 18.º, n.º3 – A propósito das leis
Página

restritivas de direitos fundamentais, há


221

também consagração da
irretroactividade da Lei;
• Artigo 29.º, n.º1 e artigo 103.º -
Referência a domínios em que é
necessário proteger a segurança
jurídica e direitos fundamentais.
Consagração constitucional da
irretroactividade da Lei.

Assim, uma norma retroactiva será


inconstitucional nos casos dos artigos
18.º, 29.º, 103.º da CRP e, em casos
bastante graves, em que se fere de
modo intolerável a segurança jurídica,
impõe-se o artigo 2.º da CRP. Ainda
assim, note-se que não existe um
princípio constitucional geral de
proibição de retroactividade.

 Prevalece sobre o artigo 12.º do C.C.


qualquer norma contida num diploma que
preveja um dado regime;

 Recursos para aplicação da Lei no


tempo (ordenados)
• Em primeiro lugar, importa considerar
que em diploma preambular anexo ao
Decreto-Lei que aprova o Código Civil,
temos disposições (artigos 20.º e 21.º)
de Direito transitório, da
responsabilidade do legislador de 1966,
sendo que determinados regimes do
Código de Seabra devem ser
Página

devidamente adaptados.
○ Direito transitório
222

 Formal – a lei nova contem


normas de decreto
transitório, que apenas
referem qual o regime que se
aplica, sendo autênticas
regras de conflito;
 Material – estabelece um
regime jurídico de equilíbrio.

• Na ausência de normas de Direito


transitório, é importante conhecer se o
ramo do Direito em causa prevê
normas de aplicação da Lei no tempo
(por exemplo, em Direito Penal, no
Código Penal);
• Se também não existirem normas de
aplicação da Lei no tempo no ramo de
Direito em causa, recorre-se aos
artigos constantes do Código Civil.
○ Artigo 12.º - critério fundamental
de aplicação da Lei no tempo;
○ Artigo 13.º - aplicação no tempo
das leis interpretativas;
○ Artigo 297.º - prazos (facto
juridicamente relevante, capaz de
produzir efeitos jurídicos
relevantes, tal como na prescrição
e na cessação de vigência por
caducidade) para definição do
regime jurídico aplicável.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 19 de Março de 2010 – 9H30-11H –
Página

Teórica)
223

• Aplicação da Lei no tempo (continuação)


 Na maior parte dos casos, não existem
normas de Direito Transitório;
 Graus de retroactividade
• Máxima – uma lei nova pode ser
aplicada a factos antigos e sentenças
transitadas em julgado (efeito caso
julgado). Não há preocupações com
direitos fundamentais e segurança
jurídica, pois não se respeita o caso
julgado. O artigo 2.º da CRP (Estado de
Direito Democrático) prevê princípios
de confiança, segurança jurídica e
irretroactividade, o que conduziria à
declaração de inconstitucionalidade,
em Portugal, de lei com grau de
irretroactividade máxima;
• Média – respeita o efeito caso julgado,
podendo contudo aplicar-se a casos
passados e a efeitos passados de
factos passados (antes da entrada em
vigor). Exemplos: contrato de
arrendamento e nascimento;
• Normal – respeita o efeito caso
julgado, como os efeitos produzidos no
passado, de modo a garantir a
segurança jurídica. Admite-se a
aplicação de lei nova a factos
passados, no que concerne apenas a
efeitos do presente e do futuro.
Exemplo: num contrato de
arrendamento, as rendas passadas são
respeitadas, podendo as actuais e
futuras ser alteradas. O artigo 12.º do
Página

C.C. admite apenas este grau.


224

 Artigo 12.º do Código Civil (princípio


geral de aplicação das leis no tempo)
• Teoria do facto passado
complementada com doutrina alemã.
Sustenta o artigo 12.º do C.C.
• Teoria dos direitos adquiridos, que
difere das simples expectativas, teve a
adesão e defesa de Savigny. De acordo
com esta teoria, ao abrigo da lei nova,
têm de ser respeitados os direitos
adquiridos no passado.
• Direito adquirido ≠ Simples
faculdade
○ Numa concepção anterior, o
direito adquirido era aquele que
foi efectivamente exercido,
enquanto a simples faculdade é
aquela que não foi utilizada;
○ Numa concepção actual, não se
pensa assim, pois o direito de
propriedade, por exemplo, ainda
que não utilizado, não é uma
simples faculdade.

• Situações jurídicas objectivas e


subjectivas
○ Objectivas – questões atinentes
em que não intervinha a vontade
dos sujeitos, mas a vontade do
legislador;
○ Subjectivas
 As situações jurídicas
formadas no passado deviam
Página

ser respeitadas;
 Decorriam da vontade dos
225

particulares (situações
jurídicas negociais,
contratuais);
 Respeito pela autonomia
privada;
 Todavia, mesmo no âmbito
do Direito dos Negócios, há
regras imperativas que não
podem ser afastadas pelas
partes, de acordo com a
vontade do legislador, pois
estão em causa interesses
públicos.

• Situações jurídicas duradouras e


instantâneas (teoria de Inocêncio
Galvão Telles)
○ Duradouras – se a lei nova se
aplica às situações jurídicas
duradouras, então aplica-se às
situações do passado e do futuro;
○ Instantâneas – se a lei nova se
aplica às situações jurídicas
instantâneas, então aplica-se
apenas à situação posterior (por
exemplo: Imposto de Valor
Acrescentado – IVA).
 Crítica a esta teoria: Trata-
se de uma teoria simplista,
porque há leis novas que
remetem para situações
jurídicas duradouras (por
exemplo: contrato de
arrendamento) e que não
devem surtir efeitos nas
Página

situações passadas (por


exemplo: forma do contrato).
226

Tal justifica-se pela


necessidade de não colocar
em causa as legítimas
expectativas que as partes
depositaram no regime
jurídico.
• Teoria/Doutrina do facto passado
(sustenta o artigo 12.º do C.C.)
○ De acordo com a concepção inicial
desta teoria, a lei nova só se
deve aplicar a factos
posteriores, após a sua entrada
em vigor;
○ Todavia, de acordo com a doutrina
actual, há situações em que faz
todo o sentido aplicar a lei
nova a factos passados (por
exemplo: direitos perpétuos, como
o direito de superfície).
 Podem estar em causa
interesses superiores à
autonomia das partes que
prevalecem – interesses
públicos – e que são
protegidos pela lei nova,
devendo, por isso, aplicar-se
a lei nova a situações
jurídicas do passado;
 Ainda assim, a lei nova deve
respeitar os efeitos
produzidos pelas situações
jurídicas constituídas no
passado (grau de
retroactividade normal).
Página

 Artigo 12.º do Código Civil (princípio


227

geral de aplicação das leis no tempo)


• N.º1 – regra geral (Teoria do facto
passado);
• N.º2 – explicita a teoria enunciada,
distinguindo duas situações diferentes
○ Note-se que só se aplica este
artigo se não houver solução de
Direito transitório e em caso de
dúvida de aplicação da lei no
tempo;
○ 1.ª Parte da disposição:
“Quando a lei dispõe sobre as
condições de validade substancial
ou formal de quaisquer factos ou
sobre os seus efeitos, entende-se,
em caso de dúvida, que só visa os
factos novos (…)”
 Condições de validade
formal dos factos
• Ainda que o artigo 219.º
do C.C. consagre a
liberdade de forma
como regra geral,
existem situações
excepcionais em que é
exigida uma
determinada forma
(artigo 220.º do C.C.,
sob pena de declaração
de invalidade do
negócio jurídico),
prescritas pela lei nova;
• Veja-se o contrato de
mútuo, que, consoante
o valor em causa, impõe
Página

exigências de forma
(artigo 1143.º do C.C.);
228

• De todo o modo, tende-


se a assistir a uma
sucessiva
desformalização. Veja-
se, por exemplo, o
artigo 875.º do C.C.,
respeitante à compra e
venda de imóveis, em
que, se antes só se
poderia celebrar o
negócio jurídico por
escritura pública, desde
2008 já existe a
possibilidade de o fazer
por documento
particular autenticado
pelas autoridades
competentes, não tendo
de ser exarado pelo
notário.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Março de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º13 (continuação)
○ Questão II:
 Nesta questão, é feita referência à acessão
(art. 1325.º do C.C.), isto é, a incorporação
de um material pertencente a outrem,
distinguindo-se as situações de acessão de
boa-fé e de má-fé, com possibilidade de
aquisição de direito de propriedade.
Podemos considerar:
Página

• Acessão natural (artigos 1327.º e


seguintes) – por força da Natureza;
229

• Acessão industrial (artigos 1333.º e


seguintes) – respeitante a bens móveis
(mobiliária) e imóveis (imobiliária)
○ Os artigos 1339.º e seguintes
dizem respeito à acessão
industrial imobiliária, situação
presente no caso enunciado nesta
hipótese. Trata-se da construção
sobre bem imóvel;
○ Tal como sucede no presente
caso, e nos termos do artigo
1340.º do C.C., o autor da
incorporação de boa-fé pode
adquirir o direito de propriedade
sobre o prédio urbano, desde que
pague o valor justo. Já o artigo
1341.º refere-se à incorporação
de má-fé.

 O artigo 204.º do C.C. apresenta-nos, no


n.º1, um elenco de coisas imóveis e, no n.º2,
a distinção entre prédio urbano e prédio
rústico:

“Entende-se por prédio rústico uma parte


delimitada do solo e as construções nele
existentes que não tenham autonomia
económica, e por prédio urbano qualquer
edifício incorporado no solo, com os
terrenos que lhe sirvam de logradouro.”

Esta distinção rigorosa não é utilizada no


artigo 1340.º do C.C., optando-se por uma
linguagem coloquial: “terreno” (prédio
Página

rústico) e “edifício” (prédio urbano). A


expressão “terreno” orienta-nos para a
230

noção de prédio rústico. Resta saber se o


artigo 1340.º do C.C. também se aplica para
prédios urbanos.

 O Tribunal de 1.ª instância fundamenta a


sua decisão, efectuando uma interpretação
com base no elemento gramatical (“letra da
lei”), obtendo um resultado de interpretação
declarativa (coincidência entre “letra” e
“espírito” da lei), restringindo o campo de
aplicação apenas aos prédios rústicos;
 Já o Tribunal da Relação, na sua
interpretação, recorreu aos seguintes
elementos interpretativos:
• Elemento histórico – à data, o
legislador ter-se-á debruçado sobre a
construção de obras em terreno alheio
(occasio legis – conhecer a razão de ser
da norma);
• Elemento teleológico – o legislador terá
procurado contemplar as situações de
incorporação de material em coisa
alheia, daí surgindo uma inovação,
independentemente de efectivada
em prédio rústico ou urbano.
Utiliza-se, aqui, o argumento a pari ou
de igualdade de razão, pois não há
razão para distinguir uma situação da
outra;
• Elemento gramatical.

Como resultado interpretativo, temos


uma interpretação extensiva (o
legislador disse menos do que queria
dizer – minus dixit quam voluit),
Página

devendo também as construções sobre


prédio urbano alheio ser abrangidas.
231

 Se o caso não previsto se inscreve no


“espírito da lei”, há lugar a interpretação
extensiva. Por outro lado, se o caso não
previsto não se inscreve no “espírito da lei”,
não tendo a ver com a categoria de casos
que a norma abrange, há lugar a recurso
analógico para integração de lacunas
(aplicação indirecta de um regime jurídico
por recurso analógico. Por exemplo:
resolução de um contrato de empreitada,
aplicando o regime jurídico do contrato de
compra e venda);
 Em relação ao artigo 208.º do Código Penal,
a propósito do furto de uso de veículo:
• Haveria lugar a interpretação
extensiva, se necessário para
abranger, na categoria de casos, outros
veículos para além dos mencionados;
• Por outro lado, o recurso analógico não
é permitido, se dele resultar uma
situação desfavorável para o criminoso.

○ Questão III:
 A hipótese apresentada faz referência ao
artigo 483.º do C.C., princípio geral da
responsabilidade por factos ilícitos, aplicável
nas situações em que alguém, por dolo ou
mera culpa, violar ilicitamente o direito de
outrem. Trata-se de uma norma aplicável
em caso de culpa pelo incumprimento
salarial, quer em responsabilidade civil
contratual, quer em responsabilidade civil
extra-contratual. No caso de
responsabilidade civil contratual, há lugar a
Página

inversão do ónus da prova (artigo 799.º do


C.C.), contrariamente ao que consagra o
232

artigo 342.º do Código Civil. Assim, o credor


não tem de fazer prova do cumprimento,
havendo lugar a uma inversão da presunção
de culpa. Trata-se de uma presunção
relativa ilidível (regime-regra), salvo casos
expressamente previstos na Lei (artigo
350.º, n.º2 do C.C.). Todavia, não se trata de
uma verdadeira presunção, pois a culpa, em
última análise, revela-se essencial para
imputar responsabilidade civil e haver lugar
a indemnização (responsabilidade
subjectiva);
 Elementos hermenêuticos utilizados:
• Elemento gramatical (“letra da lei),
com função positiva (optar pelo sentido
mais natural utilizado nas palavras do
legislador) e negativa (afastar os
sentidos que não encontram apoio na
“letra da lei”);
• Elemento histórico e teleológico
(finalidade), procurando a
compreensão das circunstâncias que
estiveram na base da criação da norma
pelo legislador;
• Elemento sistemático, efectuando uma
comparação com outras normas do
sistema jurídico.

Como resultado interpretativo, temos


uma interpretação declarativa.

Apurou-se que o n.º1 do artigo 1.º da


Lei n.º17/86, de 14 de Junho é uma
norma excepcional, através do
argumento a contrario.
Página
233

➢ Ficha de Trabalho n.º14


○ Questão 1
 Interpretação de Américo – elementos
utilizados e resultado interpretativo:
• Elemento gramatical – parte da
leitura da cláusula 63.º, procurando
perceber o significado da palavra
“Previdência”.
• Para tal, utiliza o elemento
sistemático, pois refere que a
cláusula em causa se integra no
capítulo IX (combinação da cláusula
com o título em que se integra);
• Como resultado interpretativo, temos
uma interpretação declarativa, que
pode ser ampla ou restrita, sendo no
caso restrita, fixando-se no sentido
“Segurança Social”.

 Interpretação da Árvore – elementos


utilizados e resultado interpretativo:
• Elemento histórico (occasio legis): a
expressão «Previdência Social» era
utilizada para abranger todas as
situações; alusão aos precedentes
normativos (à data da publicação da
Lei de Bases da Reforma da
Previdência Social);
• Podemos também considerar que nos
estamos a referir a um elemento
sistemático (combinação de Leis para
garantir a coerência do sistema
jurídico);
• Através da occasio legis e do elemento
Página

sistemático, conseguimos concluir a


finalidade da norma (elemento
234

teleológico).
• Coloca-se em confronto a interpretação
da cláusula 63.º com o artigo 13.º da
CRP (conjugação com normas de outros
diplomas – Lei constitucional) –
interpretação conforme à Constituição,
requisito essencial para uma boa
interpretação.
• Isto conduz a uma interpretação
declarativa ampla, considerando que
Previdência abrange todos os sistemas
de Segurança Social.

 A argumentação jurídica da Árvore revela-se


bastante mais consolidada, não omitindo
determinados factos, como fez Américo.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 23 de Março de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
• Aplicação da Lei no tempo (continuação)
 Artigo 12.º, n.º2 do C.C.
• 1.ª Parte – a Lei nova deve apenas
aplicar-se a factos futuros se a Lei nova
valorar esses factos;
• 2.ª Parte – não sendo intenção da lei
nova valorar esses factos, aplica-se aos
efeitos produzidos por essas situações
jurídicas, que ocorram após a entrada
em vigor da Lei nova.
Página

 Lei nova aplica-se a factos futuros,


235

quando reporta a circunstâncias de:


• Validade formal de factos
○ Negócios jurídicos sujeitos,
excepcionalmente, a uma
determinada forma solene, por
motivos de interesse público
(escritura pública, documento
particular autenticado);
○ Lei nova estabelece novas regras
de validade formal, aplicando-se
apenas às situações que ocorram
apenas depois da sua entrada em
vigor.
○ Num mesmo momento, pode
acontecer que contratos sobre
uma mesma matéria observem
formas diferentes, de acordo com
o seu momento de constituição;
○ A forma solene pode aplicar-se a
outros factos jurídicos que não os
contratos, como por exemplo os
actos unilaterais ou os
testamentos.

• Validade substancial de factos


○ Necessidade de respeitar regras
correspondentes à substância de
factos jurídicos (condições de
validade substancial). Por
exemplo:
 Casar só é permitido com a
idade núbil mínima de 16
Página

anos (requisito de idade);


 Celebração de um negócio
236

jurídico, tendo sido coagido


(negócio inválido, havendo
uma viciação da vontade).

○ A lei nova só se aplica aos casos


constituídos após a sua entrada
em vigor (casos novos). Os casos
anteriores não são minimamente
afectados, nem para validar, nem
para confirmar negócios jurídicos
anteriores;

• Efeitos de factos regulados pela


Lei nova e aplicáveis a situações
jurídicas futuras
○ Os efeitos de factos jurídicos
distinguem-se do conteúdo de
situações jurídicas, isto é, direitos
e obrigações (n.º2 do artigo 12.º
do C.C.);
○ A expressão “relações jurídicas
reais” merece interpretação
extensiva, entendendo-se por
“situações jurídicas reais”. Por
exemplo, em matéria de direitos
reais, temos o direito do indivíduo
sobre a coisa (direito de
propriedade;
○ Efeitos de factos constitutivos,
modificativos ou extintivos de
uma situação jurídica;

 Artigo 12.º, n.º2 do C.C.


• 1.ª Parte – a Lei nova produz a
Página

valoração de factos posteriores, ao


abrigo do princípio da irretroactividade
237

da Lei;
○ Importa conhecer, para a
aplicação de uma das partes, a
teleologia da Lei. Por exemplo:
 Lei nova que valora facto
negativamente, tornando-o
ilícito, sendo que antes não o
era. Esta lei nova que
introduz um desvalor sobre
um facto só se aplica em
situações futuras
ou
 Já sendo o facto ilícito, a lei
nova estabelece
consequências mais
desfavoráveis, como por
exemplo o aumento dos
valores indemnizatórios. Esta
valoração negativa só se
aplica no futuro.

• 2.ª Parte – de acordo com a 2.ª parte


do artigo 12.º, a Lei nova aplica-se a
situações jurídicas que coexistem
no passado e continuam no futuro,
visando incidir sobre o conteúdo de
normas jurídicas e abstraindo-se dos
factos que lhe deram origem, não
os valorando. Podemos invocar como
exemplos a usucapião ou a acessão.
Apenas está em causa o direito da
situação jurídica (por exemplo: direito
de superfície). Surgindo novas
condições de valoração formal e/ou
substancial, não se aplicam a situações
Página

do passado.
Todavia, por alterações da situação
238

económica, pode haver lugar a


alteração do conteúdo normativo que
se aplica às situações existentes,
constituídas no passado, no momento
da entrada em vigor da Lei nova.
Admite-se, aqui, um grau de
retroactividade normal. Esta situação
aplica-se, por exemplo, com o contrato
de arrendamento.

 A distinção entre Lei nova que pretende


valorar efeitos de factos e Lei nova que
pretende incidir sobre o conteúdo normativo
depende da abstracção ou não face aos
factos que deram origem à situação jurídica;

 Outra forma de estudar a aplicação da Lei


no tempo é através do “raciocínio dos
estatutos”, desenvolvido por João Baptista
Machado, que se dedicou ao estudo do
Direito Internacional Privado (aplicação da
lei no espaço – situações jurídicas
plurilocalizadas)

Através deste raciocínio do Direito


Internacional Privado, desenvolve-se um
raciocínio para o Direito Civil Português –
regras tendenciais para cada domínio do
Direito, que se apoiam no artigo 12.º do C.C
• Estatuto contratual – aplica-se a Lei
em vigor no momento da celebração do
contrato, sendo princípio fundamental
do Direito Privado a liberdade
contratual. Daí que o Estado e a Lei
devam atender à vontade das partes
Página

(opções negociais em função do regime


em vigor).
239

○ A maioria das normas em Direito


dos contratos são dispositivas,
mesmo supletivas, havendo
possibilidade de:
 Afastar o regime supletivo;
 Não dispor nada em
concreto, aplicando-se o
regime supletivo;
 Reproduzir o conteúdo da
norma supletiva.

○ Com o surgimento de Lei nova


que prevê um novo regime
jurídico, colocam-se em causa as
legítimas expectativas das
partes. Por isso, perante normas
dispositivas, só se aplica a Lei
nova em casos posteriores. Neste
caso, não há abstracção dos
factos que estão na origem do
contrato. O mesmo não sucede
com normas imperativas, em que
estão em causa interesses
públicos, não se respeitando a
liberdade contratual, sendo por
isso de aplicação imediata. Aqui,
não há dependência do facto que
deu origem ao contrato.

 Exemplos de casos de
abstracção dos factos que
estão na origem do
contrato (perante normas
Página

imperativas instituídas
pela Lei nova):
240

• Lei nova que contem


normas de Direito do
Consumidor, visando
proteger a parte mais
fraca do contrato. Estão
em causa interesses da
colectividade;
• Lei nova que introduz
novas normas para
relações laborais,
discriminando
positivamente uma das
partes em situação de
desequilíbrio.

○ A propósito da responsabilidade
civil extra-contratual, sempre que
a lei regular um facto ilícito,
apenas se aplica no momento da
entrada em vigor a factos futuros.

• Estatuto real – aplicação da Lei nova


às situações jurídicas pendentes;

• Estatuto sucessório – aplicação da


Lei em vigor no momento da abertura
da sucessão, aquando da morte (facto
relevante). A lei nova só se aplica às
situações hereditárias geradas por
efeito da morte.
○ Quando o legislador introduz
normas imperativas, que visam
salvaguardar interesses
públicos, estas têm
aplicabilidade imediata. Temos
Página

como exemplo a fixação da quota


disponível, a chamada regra da
241

“legítima”, que se destina aos


herdeiros legitimários (cônjuge,
pais e filhos), salvo situações de
deserdação e indignidade
sucessória;
○ Se a lei nova diminuir as
capacidades de testar, no
momento em que já exerci esse
direito, aplica-se o regime
anterior.

• Estatuto pessoal – importa saber se a


Lei nova se aplica a estados
constituídos desde a sua entrada em
vigor ou se se aplica a estados
anteriores. Exemplos:
○ Casamento – apenas se aplica a
Lei nova desde a constituição do
casamento. Para regulação de
direitos e deveres do cônjuge
(conteúdo normativo), há lugar a
abstracção do facto que deu
origem ao casamento, aplicando,
portanto, a todos os factos;
○ Divórcio – direito potestativo dos
cônjuges. Há abstracção do facto
que lhe deu origem, aplicando-se
a Lei nova, desde que esta esteja
em vigor aquando do pedido.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 26 de Março de 2010 – 9H30-11H –
Teórica)
Página

 Ramos do Direito com particulares na


242

aplicação da Lei no tempo:


• Direito Penal
○ Direito fragmentário que apenas
abrange os domínios onde são
colocados em causa os bens
jurídicos fundamentais;
○ Visa garantir a paz social e
segurança jurídica;
○ Direito privativo até das
liberdades fundamentais, ainda
que com sujeição aos princípios
da personalidade e da proibição
do excesso;
○ Instrumento de “ultima ratio” para
a protecção de bens jurídicos
fundamentais e para a
manutenção da sociedade;
○ O artigo 2.º do Código Penal
consagra que a lei penal
retroactiva é inadmissível, quando
daí resulta uma situação
desfavorável.
 N.º1 – aplicação da Lei penal
que se encontra em vigor no
momento da ocorrência do
facto jurídico;
 N.º2 – a retroactividade é
inadmissível, quando daí
resultar uma situação
desfavorável para o arguido,
sendo admissível apenas se
resultar uma situação
vantajosa;
 N.º3 – no caso de lei
Página

temporária em vigor durante


um determinado período de
243

tempo, não é pelo facto de


ela deixar de vigorar e prever
um desvalor que é afectada
no caso da ocorrência de um
facto no período da sua
vigência;
 N.º4 – a lei posterior é
aplicável a situação anterior
se for mais favorável para o
arguido, tendo-se de
averiguar, no caso concreto,
se, de facto, é mais
favorável. Tal é realizado
através da feitura de
simulação da situação, com
as circunstâncias concretas
do facto ilícito em causa.

• Direito Processual (Civil e Penal)


○ Regra geral – aplicação
imediata da lei nova, mesmo em
processos a decorrer (antes da
produção do despacho), na
medida em que o Direito
Processual, enquanto direito
adjectivo acessório do Direito
substancial, fixa os trâmites legais
para a protecção de direitos e
imposição de deveres;
○ Todavia, a Lei nova, em matéria
de Direito Penal, não deve
desfavorecer o arguido. De todo o
modo, entende-se que
determinadas leis novas
Página

poderiam ser aplicados na


fase de inquérito do processo,
244

ainda que conduza a uma


situação desfavorável para o
arguido. Isto só pode suceder
em situações muito restritas.
Em Direito Processual Civil,
apenas se admite este
mecanismo de retroactividade
em situações de economia
processual. Por outro lado, a lei
nova não é aplicável se daí
resultar um prejuízo de economia
processual;
○ Aplicabilidade da Lei nova em
matéria de recursos – entende-
se que o momento relevante para
a aplicação da lei nova é aquele
em que a decisão é proferida.

 Artigo 13.º do Código Civil


• Refere-se a casos de interpretação
autêntica;
• Leis interpretativas – integram-se
nas leis interpretadas (art. 13.º, n.º 1
CC), ou seja, as leis que pretendem
fixar a interpretação de outras têm a
força vinculante de todas as leis (o
legislador não tem de obedecer a
princípios hermenêuticos).
○ A lei interpretativa deve ser
aplicada a factos passados, salvo
em casos de decisões transitadas
em julgado. Aparentemente, tem-
se aqui a admissibilidade da
retroactividade, dada a
Página

incorporação da lei interpretativa


na lei interpretada. Não haverá
245

uma retroactividade, mas uma


retrospectividade, na medida
em que, pelo facto de se
suscitarem dúvidas sobre a lei
interpretada, fixou-se o sentido
único da mesma com a lei
interpretativa, sabendo qual o
regime jurídico a aplicar, que
vincula o juiz;
○ A lei interpretativa vai escolher
um dos vários sentidos que a lei
interpretada podia tomar, que era
previsível. Todavia, esta definição
do sentido a tomar só é admissível
com o recurso aos elementos e
argumentos hermenêuticos, ou
seja, ao método interpretativo;
○ O artigo 12.º do C.C. regula a
aplicação das leis inovadoras no
tempo, o que não sucede com o
artigo 13.º, visto que as leis
interpretativas não são
inovadoras. Elas apenas
procuram fixar o sentido e o
regime jurídico a aplicar;
○ Se a lei interpretativa, respeitando
os mais rigorosos cânones
interpretativos, assumir a
possibilidade de existência de 3
sentidos admissíveis e, nos
tribunais, se aplicarem esses
mesmos 3 sentidos, sem se
formar uma tendência, haverá
lugar a futura interpretação de
acordo com esses 3 sentidos.
Página

Contudo, se houver uma


tendência jurisprudencial
246

marcada, essa deve ser


respeitada, tendo em vista a
garantia da segurança jurídica, de
acordo com o artigo 13.º do
Código Civil. Ainda assim, se não
for assumida esta tendência, há
lugar à criação de uma lei
inovadora.

 Artigo 297.º do Código Civil (decurso de


um prazo e extinção/constituição de um
facto, com um prazo. Por exemplo, recorde-
se as prescrições extintivas ou as
prescrições aquisitiva, como a usucapião)
• Não introduz um verdadeiro
desuso do artigo 12.º do Código
Civil, que consagra que a lei nova só
se aplica a factos futuros;
• O facto “prazo” ocorre com o final
do mesmo;
• Este artigo refere-se aos prazos em
curso e à aplicação da lei nova;
○ A lei nova que fixe um prazo
mais curto do que o da lei
anterior aplica-se a partir do
momento da entrada em vigor.
Destrói-se todo o prazo
decorrido, reiniciando-se a
contagem. Exceptuam-se as
situações que prevêem aumento
de prazo, pois a intenção do
legislador era o contrário. Aqui, há
lugar à aplicação da lei antiga;
Página

○ A lei nova que fixe um prazo


mais longo tem aplicação
247

imediata, aplicando-se o prazo


mais longo, mas não se
destrói o tempo decorrido até
ao momento. Se tal sucedesse,
teríamos um aumento exagerado
do prazo.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 07 de Abril de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho N.º14 (continuação)
○ Questão 2
 Na presente hipótese prática, é feita
referência ao artigo 2194.º do C.C., que se
integra nos casos de indisponibilidade
relativa. Não há nulidade absoluta, apenas
se aplica a determinadas pessoas:
• Artigo 2192.º C.C. (Tutor, curador,
administrador legal de bens e
protutor);
• Artigo 2194.º C.C. (Médicos,
enfermeiros e sacerdotes);
• Artigo 2195.º C.C. (Excepções ao
artigo 2194.º)
○ Admite deixa testamentária para
pagamento de serviços recebidos
pelo doente;
○ Admite deixa testamentária para
cônjuge ou familiar que exerça
profissão médica). Entende-se
que, dentro da família, existem
relações recíprocas de
Página

solidariedade, não havendo


situação de superioridade do
248

profissional sobre o doente


fragilizado, numa tentativa de
manipulação da vontade;
• Artigo 2196.º C.C. (Cúmplice do
testador adúltero).
 Também em matéria de doações (artigos
940.º e seguintes do Código Civil) se manda
aplicar, com as devidas adaptações, as
situações de indisponibilidade relativa
apresentadas. O artigo 958.º apresenta-nos,
aliás, uma norma remissiva;

 Posições em confronto nesta questão:


• Posição de Jasão
○ Pede a declaração de nulidade do
testamento, com base no artigo
2194.º do Código Civil;
○ Efectua uma interpretação
extensiva do mesmo, pois
considera que o referido artigo
quer abranger aqueles que
exerçam funções médicas de
facto, e não apenas aqueles que
detêm carteira profissional;
○ Recorre ao elemento histórico,
referindo a intenção da Comissão
Revisora do Código Civil, que
“teve por objectivo incluir na lei
não só os enfermeiros, mas
também aqueles que exercem de
facto funções médica, ainda que
ilegalmente”. Isto para além do
Página

recurso ao elemento
gramatical.
249

• Posição de Serafim e Atalanta


○ Efectuam uma interpretação
declarativa, considerando que a
“letra da lei” é inteiramente fiel ao
“espírito da lei”;
○ Utilizam o elemento gramatical,
com base no artigo 9.º do Código
Civil, em que se assume a
razoabilidade do legislador. Isto
para além da utilização do
elemento sistemático
(comparação com os artigos
2192.º e 2196.º do Código Civil) e
do elemento teleológico, a
partir do elemento histórico,
visto que, na Comissão Revisora
do Código Civil, “não foi, porém,
discutida a possibilidade de
abranger aqueles que, por
qualquer motivo não profissional,
prestem assistência ao testador”.
Alegam, assim, que esta posição
nunca se configurou, nos termos
do artigo 2194.º do Código Civil.

 Para interpretarmos o artigo 2194.º do C.C.,


devemos considerar o argumento “onde a
Lei não distingue, não deve o
intérprete distinguir” (ubi lex non
distinguit nec nos distinguere debemus) e
considerar o objectivo do legislador
(elemento teleológico) ao consagrar a
norma aludida:
• A
Página

referida norma considera a


debilidade do doente em momento de
250

situação terminal;
• Visa-se evitar as consequências
nefastas da posição de superioridade
do profissional sobre o doente
fragilizado (manipulação da vontade);
• O presente artigo não admite a
apresentação de prova em contrário –
presunção absoluta ou inilidível – na
medida em que não se duvida da
especial influência exercida pelo
profissional sobre o doente;
○ O mesmo se aplica no artigo
2192.º C.C., entre pupilo e tutor,
ainda que não seja no leito da
morte;
○ Já no caso constante do artigo
2196º C.C., a propósito do
adultério, admite-se que são
razões de ordem moral que
motivaram o legislador a prever
esta indisponibilidade, apesar de
se encontrar previsto o princípio
fundamental da liberdade de
testar.

 Concluímos assim que, atendendo à


finalidade do artigo 2194.º C.C., não faz
sentido abranger não profissionais (no
presente caso, amigos) que prestem
assistência. Aliás, também se admite uma
relação de solidariedade dos amigos perante
o doente, que deve ser fomentada. Este
artigo procura salvaguardar a liberdade de
testar do testador, não possibilitando a
disposição de bens àqueles que ilegalmente
Página

exerçam funções médicas e possam exercer


um efeito de superioridade sobre o doente,
251

independentemente de possuírem ou não


carteira profissional;
 Obtêm assim um resultado interpretativo
declarativo, considerando-se existir uma
relação de fidelidade entre a “letra da lei” e
o “espírito da lei”;
 Se tiver havido, de facto, uma manipulação
por parte dos amigos, aplica-se o regime
constante nos artigos 240.º e seguintes do
Código Civil, alegando o sobrinho que há
lugar a impugnação do testamento. Poder-
se-ia também fundamentar esta posição
com os artigos 255.º e 256.º do C.C., que
prevêem a anulação do testamento em
situação de coacção ou ainda, melhor
ajustado, o artigo 282.º C.C., a propósito dos
negócios usurários, por exploração da
situação de debilidade normal do doente,
desde que provada.

➢ Ficha de Trabalho N.º 15


○ Questão 1
 No presente caso, o Banco Internacional de
Negócios dispõe de uma garantia real
(hipoteca). Justiniano era arrendatário de
uma fracção autónoma no referido edifício e
foi confrontado com a diligência judicial de
entrega do andar que habita, no âmbito de
uma acção executiva onde ocorreu a venda
do mesmo. A entidade bancária alega a
caducidade do direito de arrendatário de
Justiniano, com base no artigo 824.º do C.C.
Página
252

• O n.º2 do referido artigo consagra que


a venda executiva conduz à
caducidade de:
○ Direitos reais de garantia;
○ Demais direitos reais anteriores a
arresto, penhora ou garantia.
Questão: Há um direito de
arrendamento?

• Categorias de Direitos reais


○ Direitos reais de gozo: Nos
direitos reais de gozo, o
aproveitamento da coisa é feito
de modo directo e imediato no
sentido de que o titular do direito
real de gozo pode fazer suas as
utilidades que a coisa lhe
proporciona. Pode colher os frutos
naturais, perceber frutos civis,
consumir a coisa, alterá-la, etc.
Portanto, o titular do direito real
de gozo satisfaz o seu interesse
através do aproveitamento do
valor de uso da coisa, retirando da
sua substância todas as utilidades
dessa coisa. São direitos reais de
gozo: a posse, o direito de
propriedade (compropriedade e
propriedade horizontal), as
servidões, o direito de superfície,
o direito de uso e habitação, o
direito de usufruto e o direito real
de habitação periódica.
Página

○ Direitos reais de garantia: Nos


direitos reais de garantia, as
253

utilidades proporcionadas ao seu


titular são aproveitadas de modo
indirecto, isto é, através do
valor económico, do valor de
troca, e não através do seu valor
de uso. Estes direitos reais são
acessórios de uma relação
creditória e por isso encontram-se
regulados no Livro II, tendo a
função de assegurar
eficazmente ao credor, o
pagamento preferencial do
seu crédito pelo valor da coisa
sobre que recaem. Os direitos
reais de garantia caracterizam-se
pelo facto de incidirem sobre o
valor ou os rendimentos de bens
certos e determinados, do próprio
devedor ou de um terceiro. O
Código Civil admite os seguintes
direitos reais de garantia:
 1. Consignação de
rendimentos (artigo 656º);
 2. Penhor (artigo 666º);
 3. Hipoteca (artigo 686º);
 4. Privilégios creditórios
(artigo 733º);
 5. Direito de retenção (artigo
754º).

○ Direitos reais de aquisição: Os


direitos reais de aquisição
constituem a categoria de direitos
reais mais recente, em que o
interesse do titular é satisfeito
Página

através da aquisição de um outro


direito real (a partir do momento
254

em que se exerce o direito real de


aquisição, o seu titular é
imediatamente transposto para
outro direito real de gozo). Por
exemplo:
 O direito que tem cada um
dos comproprietários a ter
preferência, na venda ou
doação, das quotas dos
outros;
 O caso do contrato-promessa
e do pacto de preferência
quando se tenha atribuído
eficácia real;
 A situação jurídica do
possuidor que adquire o
direito de propriedade por
usucapião (artigo 1287º do
C.C.);
 O caso de apropriação de
coisa alheia (artigo 1321º e
1323º do C.C.).

Esta é a classificação tradicional das


categorias dos direitos reais. O seu
critério de distinção assenta no
modo como se efectua o
aproveitamento das utilidades da
coisa, que é o objecto do direito real.

• Os direitos reais de garantia


apenas conferem ao titular o
direito de ser pago em primeiro
lugar em relação aos demais
credores comuns, não titulares de
um direito real de garantia. Os
Página

demais credores comuns podem


reclamar os seus direitos de crédito
255

num processo de insolvência.


• Há direitos reais de garantia que
prevalecem independentemente do
registo, como o direito de retenção e os
privilégios creditórios. Neste caso, não
há lugar a organização cronológica (de
graduação) dos créditos;
• Em acção executiva, procura-se
satisfazer o crédito do credor colocado
em primeiro lugar, podendo haver
lugar ou não, em função do limite do
valor de bens vendidos, à satisfação
dos credores posicionados em 2.º, 3.º e
restantes lugares.

• Arresto – apreensão judicial de bens


do suposto devedor, que ficam à ordem
do tribunal e servem de garantia da
eventual execução que contra ele
possa vir a ser efectuada.

• Se o direito de arrendamento for


constituído posteriormente à hipoteca,
como no presente caso, há lugar à sua
caducidade?
○ De acordo com o artigo 1057.º do
C.C., o adquirente do direito de
propriedade sucede nos direitos e
obrigações do locador, não
havendo lugar à caducidade do
direito de arrendamento;
○ Nos termos do artigo 695.º do
C.C., constante do capítulo da
hipoteca, é nula a convenção que
proíba o dono de bem hipotecado
Página

a aliena-lo ou onera-lo. É,
portanto, nula a cláusula de
256

hipoteca que proíba a oneração de


um bem. Note-se que, estando um
bem arrendado, há lugar a uma
diminuição do valor do mesmo e a
uma sucessão de direitos e
obrigações do locador.
• Posição do arrendatário
(Justiniano): alega que o seu direito
de arrendamento é válido, não
caducando, o que consequentemente
impede o seu despejo. Para
fundamentar esta sua posição:
○ Invoca o artigo 1057.º do C.C., em
que se diz que o contrato de
arrendamento é oponível ao
novo adquirente;
○ O direito de arrendamento não
é um direito real (não se aplica
o artigo 824.º, n.º2, que apenas
implica a caducidade de direito
reais, algo que neste caso não
sucede), mas obrigacional, pois
não consta do catálogo de direitos
reais de gozo11. O artigo 1022.º
(locação) consagra uma noção
que nos encaminha para um
direito obrigacional, exigindo-se
de outro um determinado
comportamento;
○ O artigo 695.º diz-nos que é nula
a cláusula de hipoteca que
proíba a oneração de um bem.
Logo, não faria sentido
Página

desproteger, de imediato, a
posição do arrendatário, devendo
257

o contrato manter-se válido, eficaz


e oponível ao locador.

11 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 22.02.1994, in www.dgsi.pt, cujo


sumário é “O direito de arrendamento não pode ser adquirido por usucapião”:
Recorre aos seguintes elementos
interpretativos:
○ Elemento sistemático – para
compreensão do artigo 695.º do
C.C., houve recurso a outros
artigos do mesmo diploma;
○ Elemento gramatical –
elemento vital na sua
interpretação, considerando a
“letra da lei”;
○ Elemento teleológico – verificar
a finalidade dos artigos 695.º e
1057.º do Código Civil, para
demonstrar que não faz sentido a
caducidade do contrato do
arrendamento;
○ Elemento Histórico – os n.os 2 e
3 do artigo 824.º C.C.

“Trata-se de questão muito controvertida, afigurando-se nos que a maioria da


doutrina e da jurisprudência considera o direito do locatário ao
arrendamento insusceptível de ser adquirido por usucapião, quer directamente,
afirmando que tal direito não é usucapível, quer indirectamente, dizendo tratar-se
de um direito de crédito, obrigacional ou pessoal, e não direito real, e certo
sendo que os direitos de crédito não podem ser adquiridos por usucapião, só o
podendo ser os direitos reais e não todos. Porém, uma corrente minoritária nos
apresenta - há ainda posições intermédias diversas, ao lado das quais
passaremos - tem defendido que o direito ao arrendamento, o direito do
locatário, é usucapível como consequência do facto de poder ser qualificado
como um direito real ou por se verificar uma situação justificativa da
admissibilidade da usucapião, atentos os fundamentos desta figura. Os defensores
daquela primeira orientação são muitos e de alta carreira (Vaz Serra, Revista de
Legislação e Jurisprudência 100; 202 e 203; Antunes Varela, Das Obrigações em
Geral, Volume I, sétima edição; 178 e Revista de Legislação e Jurisprudência 119;
Página

248 e 249; Galvão Teles, Direito das Obrigações, sexta edição, 17, Pereira Coelho,
Arrendamentos, edição de 1984, 16 e seguintes; acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça de 21 de Dezembro de 1982, Boletim do Ministério da Justiça 320, 338;
258

acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de Novembro de 1966, Boletim do


Ministério da Justiça 161, 1393; acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de
Julho de 1960, Boletim do Ministério da justiça 99, 804, além de outros. Mas a
apoiar a tese contrária também há autores de valia (Dias Marques, Prescrição
Aquisitiva, edição de 1960, Volume I, 214 e seguintes; J. Oliveira Ascensão, Direitos
Reais, edição de 1971, 91, 96 e 519 e seguintes; Meneses Cordeiro, Direitos Reais,
II Volume; 958 e seguintes; Paulo Cunha e Pinto Coelho (estes dois citados por
Meneses Cordeiro, além de outros, a página
975; Mota Pinto, Direitos Reais, edição de 1971, 146 e seguintes, se bem que com
bastante hesitação; acórdão da Relação de Lisboa, de 21 de Maio de 1992,
Colectânea de Jurisprudência de 1992, Tomo III, 181), além de outros.
correspondem ao anterior artigo
907.º CPC. O recurso ao elemento
histórico serve para defender que
o direito de arrendamento é um
ónus.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 07 de Abril de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
• A Lei nova aplica-se a factos jurídicos
constitutivos, modificativos e
extintivos (artigos 12.º e 297.º do
C.C.), juridicamente relevantes para
determinar a sua competência.
Distinguem-se dos “factos-
pressupostos”, na terminologia de
João Baptista Machado, que não se
revelam juridicamente relevantes, para
a aplicação da lei no tempo. Os factos-
pressupostos constituem pressupostos
de uma dada qualidade, como por
exemplo os factos que interferem com
a capacidade sucessória (qualidade de
sucessor), mas não são determinantes
para saber qual a Lei aplicável.
○ O facto constitutivo das relações
Página

sucessórias é a morte. Já o facto


impeditivo de adquirir capacidade
259

sucessória (facto-pressuposto)
não interfere na definição da lei a
aplicar;
○ Em matéria de prazos, eles nem
sempre são factos constitutivos
(por exemplo, prazo da
usucapião), extintivos (por
exemplo, prazo da prescrição) ou
modificativos. Se surgir uma Lei
nova que determina o novo
prazo, aplica-se a Lei vigente
à data da ocorrência do facto
juridicamente relevante;
○ Há factos que também podem
funcionar como prazos-
pressupostos:
 Prazo internupcial (artigo
1605.º do C.C.) – facto
impeditivo do casamento.
• Se surgir uma lei nova
que estabeleça a
diminuição do prazo
internupcial, coloca-se a
questão de qual a Lei
aplicável:
○ no momento do
início do prazo?
○ à data da entrada
em vigor da nova
Lei?

Tem-se de procurar o
facto constitutivo que
a Lei nova visa regular
(que no presente caso é
Página

o casamento),
aplicando-se a Lei
260

que vigora à luz da


celebração do
casamento.

• Só há retroactividade,
quando há aplicação de
Lei nova a factos
passados constitutivos,
modificativos ou
extintivos. No presente
caso, poderá haver uma
retroconexão ou uma
referência
pressuponente, que
não é uma verdadeira
retroactividade.

• Lei confirmativa tácita


○ Ao abrigo da 1.ª parte do n.º2, do
artigo 12.º, a Lei nova só se pode
aplicar a factos jurídicos futuros;
○ Se se celebrasse um contrato de
compra e venda, em 2007, por
documento particular autenticado,
ele seria nulo, nos termos do
artigo 220.º do C.C., dado o
incumprimento do requisito formal
exigido à época. Recorde-se que,
a partir de 2008, já seria possível,
com a entrada em vigor da Lei
nova;
○ Ainda assim, admite-se uma
interpretação restritiva do
artigo 12.º, entendendo-se que ele
Página

visa, sobretudo, salvaguardar a


segurança jurídica, não devendo
261

este artigo, por isso, aplicar-se


apenas aos casos que colocam em
causa a segurança jurídica. Assim,
se a Lei nova trouxer uma
desformalização dos requisitos
exigíveis, pode-se admitir uma
convalidação, desde que:
 Corresponda aos interesses
das partes;
 Não coloque em causa as
legítimas expectativas de
terceiros.

○ Assim, estamos perante uma Lei


confirmativa tácita que valida o
acordo celebrado, que diferem
das disposições confirmativas
expressas, constantes, por
exemplo, do Preâmbulo do Código
Civil (Direito transitório);
○ Esta interpretação restritiva não
tem sido utilizada em sede de
tribunais, mas é afirmada em
doutrina e jurisprudência diversa;
○ A admissibilidade de Lei
confirmativa tácita é defendida
por João Baptista Machado.
Contudo, trata-se de uma questão
que não é consensual.

--------------------------------------x-------------------------------------

➢ Introdução ao Direito Civil


Página

○ Parte Geral do Código Civil


 Análise da relação jurídica (conceito
262

operatório mais importante no Direito Civil


português)
• O legislador português divide o Título
"Das relações jurídicas" do Código Civil
em quatro subtítulos: (I) – "Das
pessoas" (artigos 66º a 201º), (II) –
"Das coisas" (artigos 202º a 216º), (III)
– "Dos factos jurídicos" (artigos 217º a
333º) e (IV) – "Do exercício e tutela dos
direitos" (artigos 334º a 396º);
• Elementos da relação jurídica
○ Sujeitos;
○ Objecto;
○ Factos jurídicos;
○ Garantia (tutela dos direitos
através de mecanismos
coercitivos).

• O Direito Civil regula as relações


jurídicas mais quotidianas dos sujeitos,
daí ser o ramo mais importante do
Direito Privado (constitui o seu tronco
comum);
• Aplicação das normas da Parte Geral
nas Partes Especiais. Por exemplo,
normas sobre coacção em Direito das
Sucessões ou Direito das Obrigações;
• Os conceitos indeterminados e as
cláusulas gerais são típicos do Direito
Civil;
• Na opinião de António Menezes
Cordeiro, a expressão relações
jurídicas é mal empregue. No seu
entender, a expressão que deveria ser
Página

utilizada seria situações jurídicas,


pois engloba as situações jurídicas
263

absolutas, em matéria de direitos de


personalidade e direitos reais.

• Princípios fundamentais do Direito


Civil
○ Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana: este princípio é
transversal a todos os ramos do
Direito, sendo que muitos
princípios a seguir apresentados
são a decorrência deste. Consiste
no respeito pela pessoa como
um fim em si mesmo e não
como um meio ou instrumento.
Implica o reconhecimento de
direitos e deveres e o respeito
mútuo entre os sujeitos que
estabelecem relações jurídicas;
 Cláusulas atentatórias da
dignidade da pessoa
humana:
• Medidas mais eficazes
no Direito Penal;
• No âmbito do
testamento (artigos
2224º e ss. do C.C.):
○ Artigo 2229.º do
C.C. - Condições de
testamento válido
e inválido;
condições do livre
desenvolvimento
da personalidade;
○ Artigo 2233.º do
C.C. – liberdade
Página

negativa (não se
obriga ninguém a
264

celebrar
casamento).
• Direitos de
personalidade (artigos
70º e ss. do C.C.):
○ Princípio do reconhecimento
da personalidade jurídica
humana (artigos 66.º e 67.º C.C.):
reconhece-se que cada sujeito
tem a susceptibilidade de ser
titular de relações jurídicas (ser
sujeito de Direito). No artigo 66.º,
n.º2 do C.C., admite-se a
protecção da vida intra-uterina;
 Diferente tratamento entre
personalidade singular e
personalidade colectiva: se
em relação à personalidade
singular não há atribuição
de direitos, mas apenas
reconhecimento dos
mesmos, no que concerne à
personalidade colectiva
estamos perante uma
abstracção colectiva, em que
o Direito decide atribuir
personalidade jurídica a
entes colectivos.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 9 de Abril de 2010 – 9H30-11H –
Teórica)
Página

○ Princípio da plenitude da
265

personalidade jurídica: a
faculdade de se ser titular de
direitos e obrigações difere de
pessoa singular para pessoa
colectiva e entre pessoas
singulares.
 Personalidade jurídica
(conceito qualitativo)
 Capacidade jurídica
(conceito quantitativo)
• As pessoas colectivas
têm uma capacidade
jurídica muito reduzida.
No artigo 160.º do C.C.,
vemos que apenas lhe
são atribuídos os
direitos e obrigações
necessários à
prossecução dos seus
fins. Por exemplo, sendo
o fim de uma empresa o
lucro, todo o acto para
além desse fim é nulo.

○ Princípio da tutela geral da


personalidade humana:
princípio autónomo à dignidade da
pessoa humana.
 Artigos 70.º a 81.º C.C. –
Direitos de personalidade
(direitos absolutos, inatos,
inalienáveis, irrenunciáveis e
oponíveis erga omnes);
Página

• Artigo 70.º - cláusula


geral de tutela
266

(abrangente) de direitos
de personalidade,
prevendo-se as
consequências civis
para a sua violação. Um
aspecto da
personalidade não
indicado nos artigos
seguintes está
protegido por esta
cláusula geral.
• Artigo 71.º - protecção
do bom-nome de
pessoas já falecidas.
Comprova que a tutela
geral não termina com a
morte física;
• Artigos 72.º, 76.º e
seguintes até 80.º -
protecção cirúrgica
de aspectos particulares
que merecem especial
relevo, pois são
regularmente sujeitos a
violações.
• Artigo 80.º - direito à
reserva sobre a
intimidade da vida
privada foi pensado
para os seres humanos,
mas pode ser adaptado
para o mundo
empresarial ou
associativo, tendo em
vista o desenvolvimento
Página

da sua actividade (por


exemplo: protecção da
267

divulgação das actas


das reuniões12).

12 A sua divulgação só é admissível no âmbito de um processo judicial, não se


podendo divulgar a sua integralidade, mas apenas o estritamente necessário para a
descoberta da verdade (valor maior).
 Admite-se que os direitos de
personalidade possam ser
aplicados, mutatis mutandis,
às pessoas colectivas, sendo
que nem todos são
aplicáveis;
 O direito à vida e à
integridade pessoal não se
encontram nos artigos
anteriormente referidos, mas
integram-se no artigo 70.º. É
recorrente, também,
conjugar este artigo com os
artigos 1.º, 24.º e 25.º da
CRP.

○ Princípio da personificação
jurídica e da capacidade
jurídica funcional das pessoas
colectivas privadas: do ponto
de vista naturalístico, apenas os
sócios deviam ser portadores de
personalidade jurídica. Todavia,
considera-se que também se deve
reconhecer personalidade jurídica
às seguintes entidades:
 Associações – Pessoas
Página

colectivas de substrato
pessoal (agrupamento de
268

pessoas) que não tenham


por fim a obtenção de lucros
para distribuir pelos
associados. No Código Civil,
artigos 167º a 184º;
 Fundações – Pessoas
colectivas de substrato
patrimonial (agrupamento de
bens) que visam o interesse
do fundador e são
governadas pela vontade
inalterável deste. No Código
Civil, artigos 185º a 194º;
 Sociedades – Pessoas
colectivas de substrato
pessoal que têm por fim a
obtenção de lucros. No
Código Civil, artigos 980º a
1021º.
 Tipos de sociedades:
• Sociedades Civis
(todas as sociedades
profissionais, como as
Sociedades de
Advogados) – para a
concessão de
personalidade jurídica, é
exigida a celebração de
um contrato de
sociedade e a inscrição
do acto constitutivo na
Conservatória do
Registo. Aliás, o
registo é condição
indispensável para a
Página

aquisição de
personalidade.
269

• Sociedades
Comerciais (ver Código
das Sociedades
Comerciais) – podem
ter:
○ Sócios de
capital: entram
com dinheiro ou
bens patrimoniais;
○ Sócios de
indústria: entram
com o seu trabalho
(know-how).

As associações e fundações
necessitam do reconhecimento do
Ministério Público para a aquisição
de personalidade.

○ Princípio da não violação da


esfera jurídica alheia: por
“esfera jurídica”, entende-se o
âmbito de relações jurídicas
(direitos e obrigações) de que
cada um de nós é titular. Trata-se
de um conceito aplicável a
pessoas singulares e colectivas e
abrange relações jurídicas de
personalidade (co-naturais à
condição de pessoa) e relações
jurídicas patrimoniais. Trata-se de
um instituto que está na base da
responsabilidade civil contratual e
extracontratual por danos que
atingem direitos pessoais ou bens
Página

patrimoniais.
270

○ Princípio da igualdade dos


Homens perante a Lei
 Evolução do conceito de
igualdade, no âmbito do
Direito Civil:
• Conceito formal de
igualdade – as partes
envolvidas numa
relação encontram-se
numa posição de
igualdade, havendo um
equilíbrio de prestações
– princípio do
equilíbrio de
prestações.
• Conceito material de
igualdade (actual) –
reconhece-se a
existência de
desigualdades nas
relações, em virtude da
situação económica das
partes, havendo uma
discriminação positiva
dos mais
desfavorecidos, em
Direito de Trabalho. Mas
também em Direito Civil
se reconhece este
conceito material, por
exemplo em Direito do
Consumo (através da
Lei de Defesa do
Página

Consumidor e de
Legislação
271

Extravagante).

 Regime jurídico das


cláusulas contratuais
gerais, instituído pelo DL n.º
446/85, de 25 de Outubro e
integrado num capítulo à
parte do Código Civil.
• Regula os contratos
celebrados por
empresas que
fornecem, a grandes
massas de população,
serviços de interesse
geral (luz, água,
telecomunicações,
seguros);
• Dado o poderio
económico destas
empresas, elas não
negoceiam os termos
dos contratos de
fornecimento dos
serviços, sendo que o
contratante apenas se
pode decidir pela
celebração ou não do
mesmo. Os contratantes
não podem influenciar a
redacção das cláusulas
do contrato de adesão;
• Para protecção do
consumidor, prevêem-
se listas “negras e
Página

cinzentas” de cláusulas
contratuais nulas,
272

podendo o consumidor
argumentar-se nestas
para solicitar a nulidade
do negócio;
• Compete à parte mais
forte informar a parte
mais fraca dos termos
do contrato, não
podendo apresentar
esta informação através
de letras microscópicas.
Em caso de desrespeito,
podem daí resultar
seguintes
consequências, de
acordo com a
gravidade:
○ Considerar a
cláusula não
escrita;
○ Direito a
indemnização;
○ Interposição de
processo contra a
empresa
fornecedora por
associação de
protecção dos
direitos do
consumidor.
• Pretende-se conferir
protecção acrescida à
parte contratual mais
fraca.
Página

 Disposições do Código Civil


que reflectem o princípio da
273

igualdade:
• Artigo 437.º - resolução
ou modificação de
contratos onerosos por
circunstâncias
imprevisíveis que
alteraram a relação de
equilíbrio de prestações
das partes;
• Artigo 428.º - excepção
do não cumprimento do
contrato. Trata-se de
um meio de tutela
privada compulsória,
que pretende manter a
relação de igualdade
entre as partes. Seria
injusto obrigar uma
parte a cumprir a sua
obrigação, se a outra
parte não o fizer;
• Artigo 1424.º - princípio
da igualdade na
repartição das
despesas, em matéria
de encargos dos
condóminos. Critério de
proporcionalidade entre
condóminos detentores
de diferentes fracções
autónomos, em função
da permilagem;
• Artigo 408.º - a
alienação de direitos
reais revela-se um facto
Página

constitutivo, por acordo


celebrado e não por
274

realização de
prestações – princípio
da consensualidade;
• Artigo 796.º - o
perecimento ou
deterioração de um
bem, em negócio
jurídico cuja entrega
não tenha sido,
imediatamente, por
vontade do comprador,
é da responsabilidade
do adquirente. Para tal,
houve uma ponderação
de interesses, tendo em
vista o equilíbrio de
prestações.

 “Cláusulas gerais” ≠
“Cláusulas contratuais
gerais”
• Cláusulas gerais –
técnica legislativa de
ampliação do âmbito de
aplicação de uma
norma, não a
desenvolvendo de modo
exaustivo. Fixam-se
directivas de
orientação. Por
exemplo: artigo 70.º do
Código Civil;
• Cláusulas contratuais
gerais – constam dos
contratos de adesão
Página

pelos consumidores a
serviços de interesse
275

geral fornecidos por


empresas. São gerais,
porque se destinam a
uma massa de clientes.

○ Princípio da autonomia
privada
 Liberdade de conteúdo
positiva (não se pode ser
obrigado) e negativa (não
se pode ser impedido);
 Trata-se de um princípio
transversal a todos os sub-
ramos do Direito Civil,
notando-se de modo mais
aprofundado no Direito das
Obrigações.
○ Princípio da liberdade
contratual (artigo 405.º, n.os 1 e
2)
 Princípio decorrente do
princípio da autonomia
privada;
 Liberdade contratual muito
vasta, que se analisa em
várias perspectivas:
• Ampla margem de
fixação das cláusulas
contratuais;
• Liberdade negativa e
positiva;
• Possibilidade de
celebrar os contratos
nominados (típicos) da
Lei (presentes no
Página

Código Civil ou em
Legislação especial13) ou
276

contratos inominados
(não previstos na Lei);
• Possibilidade de fazer
combinações de
contratos:
13 Por exemplo, contrato de locação financeira, vulgarmente designado contrato de
leasing.
○ Celebrando no
mesmo acto, dois
ou mais
contratos ;
14

○ Celebrando um
contrato misto, isto
é, um contrato não
tipificado na Lei,
que vai buscar
características de
outros contratos.

• Possibilidade de
escolher o sujeito com
quem se quer contratar.
 Há diversos desvios à
liberdade contratual, como
por exemplo:
• Em matéria de
modelação de contrato
em Direito do Consumo;
• Obrigação de celebrar o
contrato com outra
pessoa,
independentemente da
vontade, nas seguintes
situações:
○ Contrato de
Página

fornecimento de
interesse geral.
277

Havendo
monopólio do
serviço, há
obrigação de

14 Por exemplo, contrato de compra e venda, contrato de mútuo e contrato de


constituição de hipoteca.
celebração de
negócio;
○ Contratos
obrigatórios,
porque impostos
por Lei, como por
exemplo o de
seguro obrigatório
de
responsabilidade
civil automóvel
(contra terceiros).

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 13 de Abril de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho N.º 15 (continuação)
○ Questão 1
 O processo de insolvência tem execução
universal, podendo todo e qualquer credor
reclamar os seus créditos. Trata-se de uma
protecção dos direitos de propriedade
destes indivíduos, atribuindo-se o valor
correspondente da dívida com a venda
executiva de bens (massa insolvente);
 Argumentos do Banco Internacional de
Página

Negócios
• O Banco tem interesse que o bem se
278

venda em acção executiva pelo maior


valor. Logo, importa-lhe a caducidade
do direito de arrendamento, pois este
facto conduz à diminuição do valor do
imóvel;
• Para o Banco, o direito de
arrendamento é um “direito real” que,
nos termos dos n.os 2 e 3 do artigo
824.º do C.C., conduziria à caducidade
do contrato, com eficácia oponível erga
omnes (artigo 1057.º C.C.). Entende
que o direito de arrendamento é
inerente a um bem e é oponível a todo
o novo adquirente. O Banco
considera que o direito de
arrendamento tem características
tais que permitem uma
equiparação a um direito real;
• Compreensão do elemento
teleológico do artigo 695.º C.C. (a
segunda parte deste artigo antecipa o
vencimento da hipoteca), em confronto
com o artigo 824.º, n.º2 do C.C. No
interesse do Banco, este alega que o
presente artigo visa proteger os
interesses do credor. De facto, este
artigo integra-se no regime geral da
hipoteca, que constitui um direito real
de garantia do credor. Visa reforçar a
garantia patrimonial do crédito,
permitindo-se uma desoneração
forçada do bem;
• Relacionando o artigo 695.º com o
Página

artigo 824.º, n.º2 do C.C., podemos


referir que ele abrange os direitos que
279

partilham desta inerência e da


possibilidade de caducidade. Só assim
faria sentido o constante do artigo
695.º C.C., admitindo-se um ónus
real em matéria de arrendamento;
• Compatibilização do artigo 824.º com o
artigo 1057.º C.C. O artigo 1057.º C.C.
integra-se em matéria de locação,
enquanto o artigo 824.º C.C. constitui
uma norma de cumprimento de
obrigação. Assim, podemos afirmar que
o regime-regra se encontra no artigo
1057.º, enquanto o artigo 824.º
constitui norma especial, aplicável
nesta circunstância;
• Recurso aos elementos literal,
sistemático, teleológico e histórico,
sendo que este último se verifica na
parte final do enunciado, quando há
referência a legislação anterior;
• Aplicação analógica do artigo
824.º, por argumento de igualdade
de razão e de interesses, com as
devidas adaptações. Trata-se de uma
terceira via àquelas que anteriormente
apresentamos, mas que surte iguais
efeitos práticos da corrente
minoritária;
• O artigo 1057.º C.C. apresenta uma
lacuna de 2.º grau (lacuna
teleológica), pois devia prever a
existência de um regime especial, que
se encontra implicitamente na Lei;
• Como resultado interpretativo, temos
uma interpretação restritiva do
Página

artigo 1057.º e uma interpretação


extensiva do artigo 824.º.
280

○ Questão 2
 Formulação de norma ad-hoc aplicável ao
caso concreto;
 Visa-se a protecção da reserva da vida
privada da fundação e de terceiros
constantes das actas, só havendo lugar a
revelação de informação se estiverem
em causa interesses superiores, dentro
das estritas necessidades;
 Só existe protecção de escritura mercantil
(das sociedades comerciais);
 Ao abrigo do artigo 519.º CPC, poderíamos
dizer que todas as pessoas (singulares e
colectivas) estão abrangidas pelo n.º3 do
referido artigo. Todavia, há lacuna, na
medida em que não há como encaixar o
facto em causa na fórmula textual.
Entende-se que o presente artigo foi
elaborado a pensar nas pessoas singulares.
Ainda assim, podia haver lugar a uma
interpretação extensiva, através do
elemento teleológico, pois não há razão para
efectuar distinção (argumento de igualdade
de razão);
 Note-se a necessidade que o Código
Comercial sentiu em estabelecer normação
própria sobre esta matéria. Ainda assim,
podíamos alegar que apenas se trata de
uma regra especial que reforça o regime do
artigo 519.º CPC;
 Os artigos 42.º e 43.º do Código Comercial
não têm aplicabilidade directa ou indirecta
neste caso, pois destinam-se a sociedades
Página

com fins lucrativos, constando, por isso,


desse Código;
281

 Poderíamos invocar que, se o legislador não


teve preocupação em proteger as pessoas
colectivas, não haveria razão para os
proteger. Por outro lado, se se considerar
que há boas razões para proteger as
pessoas colectivas, admitindo-se existir
lacuna, há lugar ao recurso a norma ad-hoc,
por não haver hipótese a aplicação
analógica dos artigos do Código
Comercial.
• A natureza colectiva da pessoa em
questão no Código, com fins lucrativos,
não faz sentido para pessoas sem fins
lucrativos. O texto da norma do artigo
42.º do Código Comercial não é
normalmente aplicável a uma
fundação, o mesmo sucedendo,
parcialmente, com o n.º2 do artigo 43.º
desse Código. Trata-se de normas
expressamente pensadas para uma
sociedade comercial.
 O julgador deve atender sempre aos
princípios fundamentais do sistema,
aquando da elaboração de norma ad-hoc:
• Princípio da descoberta da
verdade;
• Princípio da reserva da intimidade
da vida privada da pessoa
colectiva.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 13 de Abril de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
Página

○ Princípio da boa-fé
 Subjectiva
282

• Artigo 243.º C.C. – se


duas pessoas (A e B), de
conluio, celebram um
negócio simulado com
um terceiro (C), que
desconhece a situação,
importa proteger este
último. Estamos perante
uma situação em que o
terceiro actua de boa-
fé, por ignorância
censurável ou não,
face à simulação
anterior.
Desconhecimento de
uma situação anterior
que viola a ordem
jurídica;
• Artigo 1260.º C.C. –
posse de boa-fé, neste
caso, por ignorância
face a um dado
estado de coisas.
• Artigo 291.º C.C. ≠
Artigo 243.º C.C., pois
exigem-se requisitos
mais fortes (ignorância
não censurável).

 Objectiva – o princípio geral


da boa-fé coincide com a
boa-fé objectiva, isto é a
adopção de um
comportamento pautado por
certos cânones de conduta
Página

fundamentais, tais como agir


com lealdade e honestidade,
283

não omitir informações ou


não utilizar artifícios.
• Artigo 762.º C.C. –
integra-se no regime do
capítulo do
cumprimento e
incumprimento de
obrigações. O n.º2
consagra que as partes
devem agir de boa-fé,
como modo de conduta;
• Artigo 227.º C.C. –
responsabilidade civil
pré-contratual. Trata-se
de um artigo que tem
sido alvo de abundante
reflexão doutrinal e
jurisprudencial.
Consagra o modo como
as partes se devem
comportar antes da
celebração do contrato,
considerando os
interesses da
contraparte e agindo de
modo leal e honesto,
sem ocultação de
informação. O
incumprimento destes
cânones pode ter como
consequência a
nulidade do negócio. Se
a contraparte teve
despesas, a propósito
do contrato e antes da
Página

sua celebração, e eu
decido abortá-lo nesse
284

momento, há um
desrespeito pelo
princípio da
confiança.
• Artigo 334.º C.C. –
abuso do direito, por
exercício de um direito
com uma conduta de
má-fé, de ilegítima
confiança por parte da
contraparte.

○ Princípio da proibição da auto-


defesa de direitos próprios:
constituem excepções, ao artigo
1.º do CPC, os artigos 336.º e
seguintes do Código Civil;

○ Princípio da liberdade
declarativa, consagrado no
artigo 219.º C.C., excepto se for
exigida uma forma prevista na Lei
(por exemplo, no contrato de
compra e venda – artigo 875.º
C.C.). A inobservância da forma
exigida por Lei implica a nulidade
do negócio jurídico;

○ Princípio da nulidade dos


actos e negócios jurídicos
violadores de disposições
Página

legais imperativas
 Artigo 294.º C.C. – a
285

inobservância de norma legal


imperativa implica a nulidade
do negócio jurídico. Este
artigo admite interpretação
extensiva, nos casos de
fraude à lei, em que a prática
de um acto não violador das
disposições legais repercute
os mesmos efeitos nefastos,
contornando a Lei. Por
exemplo, as sociedades
offshore. O artigo 295.º
também abrange actos
jurídicos que não sejam
negócios jurídicos;
 Artigo 875.º - a não
observância da forma legal
prevista conduz à nulidade
do negócio jurídico;
 Artigo 876.º - consequências
de fraude à Lei.

• Estrutura das relações jurídicas


civis
○ Noção de ónus (recordar) – não
implica a obrigatoriedade de
cumprimento de um dever
jurídico, mas sim a conveniência
da prática para garantir uma
vantagem ou impedir uma
desvantagem;
○ Critérios:
 1 – As relações jurídicas
podem ser obrigacionais,
Página

reais, familiares,
sucessórias e pessoais, de
286

acordo com o ramo de


Direito Civil;
 2 – As relações jurídicas
podem ser patrimoniais ou
pessoais, em função da
possibilidade de avaliação
pecuniária da relação. Como
exemplo das primeiras,
temos a atribuição de bens
comuns do casal, já da
segunda podemos invocar a
exigência de fidelidade do
cônjuge. Em Direito das
Sucessões, com a morte, não
se extinguem as relações
jurídicas patrimoniais do
falecido. O artigo 71.º C.C.
consagra a protecção do
bom-nome da família, ao ser
denegrida a imagem do
falecido;
 3 – As relações jurídicas
podem ser simples ou
complexas. Uma relação
jurídica simples constitui um
vínculo entre duas pessoas,
sobre as quais recai uma
posição activa para uma e
uma posição passiva para
outra. Estas relações são
raríssimas. Por outro lado, as
relações jurídicas complexas
envolvem, para ambas as
partes, uma multiplicidade
de direitos e obrigações, não
Página

sendo possível definir, com


precisão, uma posição activa
287

e uma posição passiva.

○ Reconhece-se a possibilidade de
existir uma eficácia póstuma de
uma relação jurídica, após a sua
cessação;
○ Note-se que as relações jurídicas
podem ter uma multiplicidade de
sujeitos de Direito envolvidos.
Veja-se o exemplo da constituição
de uma sociedade comercial,
composta por vários sócios;
○ Relações jurídicas complexas
(distinção de direitos e deveres)
 Direitos e deveres de crédito
típicos de cada relação
jurídica – direitos e
deveres principais, que
definem a relação jurídica,
decorrendo directamente do
contrato;
 Direitos e deveres
relacionados com o princípio
da boa-fé – direitos e
deveres acessórios ou de
conduta. Por exemplo, o
dever de informar sobre uma
característica específica do
bem, para evitar lesões
corporais.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 16 de Abril de 2010 – 9H30-11H –
Página

Teórica)
288

• Elementos da relação jurídica


○ Sujeitos
 Titular de posição activa
(direitos) e posição passiva
(deveres);
 Conceito de personalidade
jurídica – grande atributo de
todos os seres humanos, não
o sendo naturalmente das
pessoas colectivas;
 Artigos 66.º e 67.º C.C.,
relativos, respectivamente, à
personalidade jurídica
(conceito qualitativo) e à
capacidade jurídica de
gozo (conceito quantitativo);
 Capacidade jurídica de
exercício – pressupõe a
capacidade jurídica de gozo e
corresponde ao poder de,
autonomamente ou sob
representação voluntária, se
vincular a direitos e deveres;
 Artigo 66.º, n.º1 C.C. –
aquisição da
personalidade com o
nascimento completo e
com vida
• Nascimento completo
– implica completa
autonomização corporal
em relação à mãe, com
o corte do cordão
Página

umbilical. Trata-se de
uma questão discutível
289

que envolve matéria de


cariz moral e
entendimentos
médicos;
• Nascimento com vida
– não pode ser um
nado-morto. A partir do
momento em que
nasceu com vida, ainda
que apenas esteja vivo
durante uma fracção de
segundo, entende-se
que foi portador de
direitos e obrigações,
isto é, de personalidade
jurídica.

 A questão que se coloca,


acerca deste artigo, prende-
se com uma possível
verificação de
inconstitucionalidade, face
ao direito à vida e à
dignidade da pessoa
humana. Tal entendimento é
seguido por aqueles que
assumem a concepção
como o momento de
aquisição de personalidade
jurídica. Ora, nestes termos,
tornar-se-ia inviável a
Interrupção Voluntária da
Gravidez (IVG), sendo
considerada crime. Nesta
corrente, integram-se
Página

Meneses Cordeiro, Mário


Bigotte Chorão e Pais de
290

Vasconcelos. Consideram
que os nascituros concebidos
são portadores de
personalidade jurídica, sendo
que, na opinião de Meneses
Cordeiro, apenas são
portadores do direito à vida.
Para os outros autores, os
nascituros são titulares de
todos os direitos e estão
adstritos a todas as
obrigações. Trata-se de uma
concepção utópica, dada a
nítida diferença entre
nascituros e indivíduos
nascidos completos e com
vida. Nos termos do n.º2 do
artigo 66.º C.C., coloca-se
uma questão a estes autores:
o direito à indemnização faz
sentido com a morte do
nascituro, antes do
nascimento completo e com
vida? Neste campo,
reconhecem que não faz
sentido, pois a existência
desses direitos, formados na
esfera jurídica da criança, só
fazem sentido com o
nascimento completo e com
vida;
 Direitos reconhecidos aos
nascituros concebidos ou
não concebidos
(concepturos)
Página

• Aos nascituros,
conferem-se direitos
291

patrimoniais e alguns
direitos pessoais;
• Aos concepturos,
apenas são
reconhecidos direitos
patrimoniais.
• Direitos de natureza
não patrimonial
○ Artigo 70.º C.C. –
não faz referência
aos nascituros,
mas, pela
interpretação feita,
considera-se que
este também se
aplica aos
nascituros
concebidos;
○ Artigo 1878.º C.C.
– dever de
representar “…
ainda que
nascituros…”;
○ Artigo 1826.º C.C.
– referência aos
nascituros
concebidos sem
atribuição de
direitos;
○ Artigo 1824.º C.C.
– perfilhação
voluntária de um
nascituro.
Página
292

• Direitos de natureza
patrimonial
○ Artigo 952.º C.C. –
doação em favor
de nascituros
concebidos ou não
concebidos;
○ Artigo 2033.º C.C.
– capacidade
sucessória dos
nascituros
concebidos. O n.º2
confere
capacidade
sucessória, na
sucessão
testamentária ou
contratual,
abrange
concepturos;
○ Artigo 2240.º C.C.
– administração da
herança por
nascituro
concebido ou não
concebido.

 Capacidade jurídica de
gozo (artigo 67.º C.C.) –
atributo necessário de toda a
pessoa singular com
personalidade jurídica.
Página

Situações em que ela é


retirada:
293

• Direito das Sucessões –


artigo 2189.º C.C.
(sujeitos incapazes de
exercício e de gozo, não
podendo redigir o
testamento
autonomamente ou
através de
representante);
• Direito da Família –
artigo 1601.º C.C.
(impedimentos
dirimentes absolutos
para contrair
casamento, não se
admitindo procuração
ou representação legal);
artigo 1631.º C.C.
(causas de
anulabilidade do
casamento); artigo
1850.º C.C.
(incapacidade de gozo
para perfilhação); artigo
1861.º C.C.
(requerimento para
anulação de perfilhação
por incapacidade);
• Indisponibilidades
relativas – artigos
2192.º e seguintes do
C.C. (sobre testamento)
e artigo 953.º C.C.
(sobre doação) –
incapacidade de gozo
Página

para deixar bens, nem


através de
294

representante. Também
artigo 877.º C.C. (venda
a filhos e netos).

 Termo da personalidade
(artigo 68.º C.C.) – a
personalidade jurídica cessa
com a morte.
• Há lugar à extinção de
grande parte dos
direitos da esfera
jurídica do indivíduo,
principalmente direitos
pessoais, mas também
alguns patrimoniais. Por
exemplo: artigo 1443.º
C.C. (limite máximo de
usufruto atingido com a
morte do usufrutuário,
não transmissível por
via sucessória); artigo
1256.º C.C. (acessão na
posse – invocação de
direito de propriedade
por usucapião, juntando
a posse do vendedor à
do actual possuidor);
artigo 1255.º (sucessão
na posse – poder
patrimonial que se
transfere para a esfera
jurídica dos sucessores,
havendo uma simples
continuação na posse,
Página

mesmo estando o
sucessor de má-fé);
295

• Momento da morte
estabelecido por Lei –
morte cerebral. Esta
matéria foi discutida a
propósito do transplante
e doação de órgãos
provenientes de
pessoas vivas e mortas.
○ Artigo 68.º, n.º2
C.C. – presunção
quanto ao
momento de
conveniência da
morte. Presume-se
que morreram
ambas as pessoas
ao mesmo tempo.
Trata-se de uma
presunção relativa,
ilidível se houver
prova científica em
contrário;
○ Artigo 68.º, n.º3 –
presunção da
morte. Estabelece
o regime da
“morte técnica”,
ainda que o
cadáver não seja
encontrado. Os
artigos 114.º e
seguintes
relacionam-se com
o pedido de
Página

declaração de
morte presumida,
296

pelo facto de o
desaparecimento
ter ocorrido após
10 anos
decorridos.
Importa ressalvar o
artigo 119.º C.C.,
sobre o regresso
do ausente.

• Existência do dano
“morte”, a favor dos
falecido, tendo sido
afectada a sua esfera
jurídica e se transmite
por efeitos sucessórios.
○ Artigo 496.º, n.º2
C.C. –
indemnização aos
familiares, como
forma de
compensação por
danos não
patrimoniais. Faria
sentido
autonomizar este
dano, admitido nos
tempos actuais?15

 Incapacidade de exercício
(art. 122.º e seguintes do
Página

C.C.)
• Capacidade negocial
297

– aspecto associado à
capacidade de
exercício, que consiste
no poder de,
autonomamente,
15 No caso das seguradoras, quanto maior a idade do falecido, menor a
indemnização.
celebrar negócios
jurídicos;
• Capacidade delitual
(artigo 488.º C.C.) –
prática de facto ilícito,
que se relaciona com
imputabilidade, isto é, a
susceptibilidade de juízo
de censura por culpa.
Denomina-se actio
liberi in causa a acção
de quem usa, de modo
deliberado, um meio
para se colocar em
estado de incapacidade
física ou mental, parcial
ou plena, no momento
da ocorrência do facto
criminoso. É também a
acção de quem, apesar
de não ter a intenção de
praticar o delito, podia
prever que tal meio o
levaria a cometê-lo.
Noutras palavras, é a
acção de se deixar ficar
num estado de
inconsciência, culposa
Página

ou não (por exemplo:


embriaguez).
298

○ É possível a
presunção de
culpa de um menor
de 16 anos.
• Capacidade judiciária
– encontra-se associada
à personalidade
judiciária, isto é, à
possibilidade de ser
parte numa acção,
aplicando-se a pessoas
singulares e colectivas.
Encontra-se previsto na
Lei Processual Civil que,
por via da
representação, um
condomínio ou um navio
possam ser portadores
de personalidade
judiciária;
• Incapacidade
acidental – difere de
estados permanentes
de incapacidade (como
anomalia psíquica),
constituindo um estado
meramente transitório.
O artigo 257.º C.C.
prevê a anulabilidade
de um negócio jurídico
praticado nestas
circunstâncias (de modo
Página

involuntário).
299

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 20 de Abril de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º16
○ Questão 1
 Direito de preferência contratual – artigo
414.º e seguintes;
• Os pactos de preferência podem ter
origem legal ou convencional;
• O direito de preferência presente neste
caso não é contratual, mas resulta de
disposição legal;
• Como exemplo de direito de
preferência, temos o pacto que confere
o direito de tanteio (como designado
no Código de Seabra) ou prelação em
favor do vizinho que habita em prédio
contíguo, aceitando os termos e
condições negociadas com terceiros. É
efectuada comunicação (escrita) para
preferência, com prazo para preferir.
Se o vizinho o exercer, o vendedor terá
que vender o imóvel a ele;
• Artigo 1380.º C.C. - Direito de
preferência legal, sendo que o n.º2
prevê a situação de haver mais do que
um titular do direito de preferência;
• Artigo 1381.º C.C. – Casos em que não
há direito de preferência;

 A questão que se coloca, nesta situação


apresentada, é verificar se existe um direito
Página

de preferência. Pelos dados fornecidos,


faríamos o seguinte esquema interpretativo:
300

• Recurso ao elemento teleológico – o


decreto-lei n.º 384/88 visa reforçar a
competitividade da agricultura
portuguesa, dados os elementos
conhecidos e constantes do Preâmbulo.
Note-se que o artigo 1380.º C.C. não foi
revogado;
• Recurso ao elemento gramatical –
para análise do artigo 18.º, n.º1 do
Decreto-Lei, parecendo dar razão a
André;
• Recurso ao elemento histórico
(occasio legis) – circunstancialismos
económicos e sociais, politicamente
determinadas, que motivaram a
elaboração da norma. Importa recordar
a adesão à União Europeia e a Revisão
Constitucional de 1989;
• Recurso ao elemento sistemático –
conjugar o artigo 1380.º C.C. com o
artigo 18.º do Decreto-Lei.

• Todavia, o real objectivo deste decreto-


lei foi, precisamente, evitar o
progressivo fraccionamento dos
terrenos agrícolas. Entende-se, por
isso, que o artigo 1380.º não era
suficientemente capaz de prosseguir
este objectivo. Seria, então, o Decreto-
Lei mais um instrumento para
prosseguir este fim;
• O artigo 18.º do Decreto-Lei é
susceptível de dúvida, quanto à sua
redacção, se se efectuar uma
interpretação com base, apenas, na
Página

“letra da lei”. Esta redacção iria contra


a teleologia do Decreto-Lei de 1988,
301

havendo lugar a uma interpretação


restritiva do mesmo. Deve, por isto,
entender-se que o referido artigo se
aplica quando um dos terrenos,
pelo menos, tem uma área inferior
à unidade mínima de cultura;
• Assim, André não seria titular de um
direito de preferência.

○ Questão 2
 Em acção executiva para cumprimento
forçado das prestações:
• Artigo 733.º C.C. e seguintes –
Privilégios creditórios
○ Artigo 735.º C.C. – Privilégios
creditórios mobiliários (são gerais)
e imobiliários (são sempre
especiais);
○ Existem privilégios creditórios
imobiliários gerais não previstos
no Código Civil (por exemplo, no
Código do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas
Colectivas – CIRC), cujo regime
não se encontra previsto, o que
implica recurso analógico do
regime previsto em número
anterior;
○ Artigo 751.º C.C. – privilégio
imobiliário especial prefere sobre
garantias anteriores;
○ Compete ao Banco analisar o
regime jurídico dos privilégios
creditórios e verificar se há norma
Página

aplicável, por analogia mais


favorável.
302

○ Os artigos 749.º, 750.º e 751.º do


C.C. são aplicáveis num concurso
entre privilégio creditório e outro
direito. Os artigos 749.º, n.º1 e
750.º apenas se aplicam a
privilégios creditórios mobiliários
gerais, sendo que, no primeiro
artigo prevalece a hipoteca
(direito de terceiro oponível ao
exequente e erga omnes) e no
segundo prevalece, igualmente, a
hipoteca, porque foi constituída
em primeiro lugar. Estes artigos
não são passíveis de aplicação
directa no caso apresentado, nos
termos do artigo 735.º, n.º3 do
C.C;
○ Estando perante uma lacuna da
Lei, podemos colocar a questão
se é equiparável um privilégio
imobiliário geral face a um
privilégio imobiliário especial. Ora,
um direito real tem
necessariamente de incidir
sobre coisa certa e
determinada. Os privilégios
creditórios gerais (detidos pela
Fazenda Nacional e pela
Segurança Social) não incidem
sobre coisas certas e
determinadas na sua constituição,
não constituindo verdadeiros
direitos reais. Portanto, não são
oponíveis erga omnes;
○ O privilégio creditório
Página

imobiliário geral é mais próximo


de um privilégio creditório
303

mobiliário geral do que um


privilégio creditório imobiliário
especial.

➢ Ficha de Trabalho n.º17


○ Questão 1
 Aplica-se, no presente caso, a interpretação
extensiva da expressão “relação jurídica”,
entendendo-se como “situação jurídica”,
que incide também sobre direitos absolutos,
como direitos reais;
 Pretende-se regular, com a Lei nova, uma
relação jurídica real. Logo, em matéria de
estatuto real, a Lei nova aplica-se mesmo
aos direitos reais já constituídos.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 20 de Abril de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
 Incapacidade de exercício
(art. 122.º e seguintes do
C.C.)
• Artigo 122.º C.C. –
menoridade. Está
vedada a prática de
actos autónomos,
pessoais e de conteúdo
patrimonial, por falha
volitiva e cognitiva;
• Difere das
incapacidades de gozo
de testar (artigo 2189.º
Página

C.C.), de perfilhar e de
casar;
304

• Artigo 125.º, n.º1 C.C. –


Se o acto for realizado
sem representação
legal, é anulável, de
modo a proteger os
interesses particulares.
A anulabilidade não
pode ser invocada por
toda e qualquer pessoa,
estando sujeita a um
elenco taxativo (menor
ou quem cura dos seus
interesses). O n.º2 do
mesmo artigo prevê que
a anulabilidade é
sanável mediante
confirmação do menor,
logo que atinja a
maioridade ou esteja
emancipado, ou pelo
seu representante legal.
A anulabilidade pode
ser alegada no prazo de
um ano;
• O momento de
contabilização do prazo
de prazo de arguição de
anulabilidade difere
entre a incapacidade de
exercício em geral
(artigo 287.º C.C.) e a
incapacidade de
menores (artigo 125.º
C.C.);
• Nos termos do artigo
Página

287.º, n.º2 C.C., a


anulabilidade pode ser
305

arguida antes de se
cumprir o negócio;
• Artigo 126.º C.C. – Dolo
do menor (ver definição
legal de dolo – artigo
253.º C.C.) – uso de
dolo para se fazer
passar por maior,
não merecendo, por
isso, protecção.
Assim, o negócio é
válido, não havendo
lugar a invocação da
anulabilidade do menor.
Há lugar a interpretação
extensiva do artigo
126.º C.C., dada a sua
finalidade, não se
conferindo a
possibilidade de
nenhum dos legais
representantes para
arguir a anulabilidade;
• Artigo 127.º C.C. –
excepções à
incapacidade de
exercício de direitos por
menores;
• Artigo 128.º C.C. –
dever de obediência aos
pais ou tutor;
• Artigo 132.º C.C. –
emancipação apenas
através do casamento;
• Artigo 133.º C.C. –
Página

emancipação atribui
plena capacidade de
306

exercício de direitos,
salvo o disposto no
artigo 1649.º C.C., a
propósito do casamento
de menor, com idade
compreendida entre os
16 e os 18 anos (artigo
1601.º - idade núbil
mínima é 16 anos), sem
consentimento. Trata-se
uma protecção do
menor face à
possibilidade do outro
nubente se aproveitar
deste, dada a sua
fragilidade. Assim, o
menor não goza de
plena capacidade de
administração e
disposição dos bens).

• Artigos 138.º a 151.º


C.C. – interdição;
• Artigo 139.º C.C. –
aplica-se o regime da
menoridade.
• Afectação das
faculdades volitivas e
cognitivas;
• Tem de ser decretada
pelo tribunal, por
anomalia psíquica
duradoura, surdez-
mudez ou cegueira;
• Pressupostos:
Página

○ A causa da
307

interdição tem de
ser actual;
○ Causa habitual;
○ Elevado nível de
incapacidade
implica afectação
muito grave –
critério de máxima
gravidade (≠ art.
152.º - causas
menos graves).
• Incapacidades
excepcionais de gozo:
○ De casar;
○ De perfilhar (art.
1850.º C.C.);
○ De testar (art.
2189.º C.C.)
• Interdição mais grave é
a anomalia psíquica.
Trata-se de um conceito
indeterminado,
maleável com a
evolução social,
associado à demência, à
esquizofrenia;
• Utilização indevida da
Lei de Saúde Mental
para internamento
compulsivo de idosos;
• Artigo 141.º C.C. –
legitimidade para
requerer interdição (o
mesmo se aplica para
inabilitação). Verifica-se
Página

a elevada rigidez do
legislador para admitir a
308

possibilidade de o
próprio indivíduo
solicitar a interdição ou
inabilitação;
• Artigo 143.º C.C. – a
quem incumbe a tutela;
• Supressão da
menoridade e da
interdição através do
instituto da
representação legal,
através do poder
paternal (comum no
caso da menoridade),
do poder tutelar
(comum no caso da
interdição) ou do
administrador legal
de bens (entrega dos
bens patrimoniais para
administração legal e
representação em
relação a esses bens –
artigo 1922.º C.C.);
• Artigo 1877.º C.C. e
seguintes – poder
paternal /
responsabilidade
paternal;
• Artigo 1913.º C.C. –
inibição do poder
paternal (ausentes e
interditos);
• Efeitos da interdição
Página

(artigos 148.º a 150.º


do C.C.) – Distinção de
309

momentos temporais:
○ Actos anteriores
à interdição que
exigem a registo
civil (proposição da
acção) não sujeitos
a anulabilidade,
mas se for nítida a
condição de
incapacidade, há
lugar a
incapacidade
acidental para
protecção de
terceiros e a
declaração de
anulabilidade;
○ No decurso da
acção de
proposição, os
negócios são
anuláveis, sob
condição de
declaração futura
de interdição,
acautelando
prejuízos para
terceiros;
○ Depois da acção
de proposição.
• Prazo para requisição
da anulabilidade – 1
ano;
• Levantamento da
interdição – por decisão
Página

judicial.
310

• Artigos 152.º a 156.º


C.C. – inabilitação
• Artigo 156.º - nas
situações não
reguladas, aplica-se o
regime da interdição;
• Causas – para além das
situações já referidas
(mas com menor
gravidade), temos a
prodigalidade ou o
consumo de bebidas
alcoólicas;
• Causas da
inabilitação:
○ Actual;
○ Permanente;
○ Menos gravosa.
• Suprimento da
inabilitação:
○ Instituto da
assistência –
permite ao
inabilitado celebrar
negócios jurídicos
com autorização
do curador. Tem
poder sobre os
seus bens,
definidos em
sentença proferida
em tribunal;
○ Actos de
disposição de
Página

bens – a alienação
ou destruição de
311

um bem, com
diminuição do seu
valor, implicam
autorização do
curador;
○ Actos de simples
administração
dos bens (art.
153.º/154.º C.C.) –
maior
maleabilidade do
julgador na
decisão:
 1. Se for
considerada
plena
capacidade
de
administraç
ão de bens;
 2. Necessita
de
assistência
do curador;
 3. Regime da
representaç
ão em
relação à
administraç
ão de bens
(porventura
mais valiosos)
– substituição
pelo
administrador
Página

(curador) com
poderes
312

representativ
os (artigo
154.º C.C.)

○ Artigo 155.º C.C. –


Levantamento da
inabilitação nos
casos
especificados.
Implica trânsito de
5 anos;
○ Incapacidades de
gozo dos
inabilitados:
 De casar
(artigo
1601.º, b)
C.C.);
 De perfilhar
(artigo
1850.º, n.º2
C.C.), no caso
de notória
demência;
 Inibição de
representaçã
o e
administração
de bens
(artigo 1913,
n.º2 C.C.), no
caso de
padecer de
anomalia
psíquica.
Página

○ A doação de um
313

bem do filho
implica autorização
judicial (artigo
1889.º C.C.);
○ Autorização do
tribunal suprime
impedimento
colocado pelo
curador para a
celebração de
negócios jurídicos.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Sexta-Feira, 23 de Abril de 2010 – 9H30-11H –
Teórica)
 Pessoas colectivas:
• Associações;
• Fundações;
• Sociedades.

• O Código Civil
desenvolve
principalmente as
associações e
fundações. No que
concerne às sociedades,
apenas as sociedades
civis são reguladas no
Código Civil;

• Elementos a
considerar na
atribuição de
Página

personalidade
jurídica:
314

○ De facto /
substrato
 Conjunto de
bens
afectados
(nas
fundações);
 Pessoas que
contribuam
com a sua
actividade
para a
prossecução
de interesses
sociais (nas
associações);
 Pessoas que
contribuam
com bens e
serviços para
a prossecução
de uma
finalidade
económica
(nas
sociedades).

○ Jurídico / de
Direito /
Reconhecimento
da legalidade
 Associações
– dois
Página

regimes em
vigor e em
315

paralelo
desde 2007:
escritura
pública (mais
formal, pelo
notário), com
publicidade
da
constituição,
através da
Conservatória
do Registo
(pelo
conservador);
“associações
na hora”
(medida 111
do “Simplex”,
desde 2007),
não exige
escritura
pública,
apenas
documento
escrito, com
reconhecimen
to das
assinaturas,
no seio das
conservatória
s;

 Fundações –
processo
semelhante
Página

ao das
associações,
316

através de
escritura
pública, com
controlo pela
Conservatória
do Registo
Comercial,
Ministério da
Administração
Interna e
Presidência
do Conselho
de Ministros;

 Sociedades –
até há pouco
tempo, era
exigida
escritura
pública. Com
a
desformalizaç
ão dos actos
inerentes à
formação de
sociedades
comerciais, é
suficiente
documento
escrito.
Implica
controlo pela
Conservatória
do Registo
Comercial. Só
Página

existe
“sociedade” a
317

partir do
registo na
Conservatória
do Registo
Comercial.
• Sociedades de Direito
comercial –
organizações que
contribuem com bens e
serviços para o
desempenho de uma
actividade comercial (≠
sociedades civis);
○ Categorias híbridas
– sociedades civis
sob a forma
comercial (por
exemplo: por
quotas).

• Sociedades
unipessoais por
quotas – foge à regra
geral, por ter apenas
um sócio;

• Sociedades
comerciais –
distinguem-se em
função do nível de
Página

responsabilidade
assumido perante
318

terceiros:
○ Por quotas –
responde o capital
da sociedade e, se
necessário, cada
sócio responde
pela sua quota. Os
restantes sócios
podem assumir a
quota em falta de
outro sócio, no
capital social
(responsabilidade
limitada);
○ Anónimas – cada
accionista é
responsável pela
sua parte do
capital da
sociedade. Não é
possível atingir o
património do
accionista16
(responsabilidade
limitada);
○ Em nome
colectivo – em vi
de extinção, na
medida em que há
lugar a
responsabilização
pessoal, não
respondendo só a
pessoa colectiva,
com o património
Página

social. Responde o
património dos
319

sócios,
solidariamente, na
insuficiência do
património social
(património à
16 Apenas numa situação de má gestão da sociedade se pode atingir o património
individual dos accionistas. Trata-se de uma situação excepcional.
mercê dos
credores);
○ Em comandita –
envolvem um
regime híbrido,
havendo sócios
comanditários17
(apenas injectam
capital) e sócios
comanditados18
(prestam serviço à
sociedade, através
do desempenho de
actividade).
• O Código Civil prevê a
hipótese de constituição
de sociedades civis,
reguladas ao abrigo do
regime de pessoas
colectivas, que também
podem ser abrangidas
pelo regime especial
constante de diploma
avulso (por exemplo:
Sociedades de
Advogados);
• O Código Civil regula
um tipo de entidade
Página

desprovida de
personalidade jurídica
320

(que não é sujeito de


direito), com finalidades
transitórias. Por

17 Pode aplicar-se o regime de sociedade por acções, sem poder de administração,


mas com responsabilidade limitada.

18 Responsabilidade subsidiária face ao capital social, respondendo solidariamente


na insuficiência deste (regime análogo ao das sociedades em nome colectivo).
exemplo, Comissões de
Festas, que angariem
fundos e efectuem
despesas (artigos 195.º
e seguintes C.C.);
• Capacidade de gozo
das pessoas
colectivas (artigo 12.º
CRP e artigo 160.º C.C.)
– apresentam uma
incapacidade parcial de
gozo, isto é, um elenco
de direitos de que não
podem ser titulares. Por
exemplo, artigos 1484.º
e seguintes C.C.,
relativos ao uso e
habitação, direito real
intuitu personae,
vedado às pessoas
colectivas;
• Limitações ao nível
da capacidade
sucessória:
○ Sucessão
legitimaria –
regime imperativo
que limita a
Página

liberdade
sucessória (quota
321

de património
indisponível). Não
podem integrar a
sucessão
legitimaria;
○ Sucessão
legítima – regime
supletivo que se
aplica quando não
há uma disposição
plena do
património (na
ausência de
sucessão
legitimaria), em
último caso o
Estado, que
constitui a única
pessoa colectiva
considerada
herdeiro
legítimo;

○ Sucessão
testamentária –
é possível deixar
bens a pessoa
colectiva, por via
de testamento
(capacidade
testamentária
passiva). As
pessoas
Página

colectivas não
gozam do direito
322

de testar, pois
elas não morrem,
apenas se
extinguem.

• Artigo 160.º C.C. – as


pessoas colectivas
não podem ser
titulares de relações
colectivas fora do fim
a que se destinam.
Gozam, contudo, da
possibilidade de
efectuar doações que se
enquadrem no fim
prosseguido (acto
gratuito funcionalizado
aos interesses das
pessoas colectivas).
Também o aval
prestado a dívida de
terceiro é permitido,
desde que dentro dos
interesses prosseguidos
pela empresa;
• Artigos 157.º e
seguintes do Código
Civil – regime das
pessoas colectivas.
○ Não existe capítulo
associado às
sociedades civis,
apenas em
discurso doutrinal;
○ Artigo 980.º C.C.
Página

(sociedades civis) –
regime nuclear da
323

sociedade de
pessoa colectiva;
○ Existem normas
remissivas do
Código das
Sociedades
Comerciais para o
Código Civil.

○ Objecto
 Realidade ou bem sobre o
qual incide o direito da
relação jurídica;
 Espécies de objectos:
• Prestações
(comportamento
exigido a outrem, em
matéria de direitos de
crédito)
○ Objecto mediato
(o bem, a própria
coisa. Por
exemplo: imóvel)
≠ objecto
imediato
(exigência de uma
actividade ou
comportamento
devido. Por
Página

exemplo:
comportamento de
324

entrega do bem).

• Coisas (em matéria de


direitos reais)
○ Artigo 202.º e
seguintes C.C. –
elenco de coisas
que podem ser
objecto de relação
jurídica. O n.º2
distingue entre
coisas públicas e
coisas privadas
ou coisas fora do
comércio19 e
coisas dentro do
comércio;
○ Artigo 204.º C.C. –
coisas móveis e
coisas imóveis.
Este artigo
apresenta o elenco
de coisas imóveis,
sendo que o artigo
205.º C.C., por
exclusão de
partes, tudo o
restante é bem
móvel;
○ Artigo 408.º -
contratos com
eficácia real por
mero consenso ou
transferência de
propriedade de
Página

coisa futura,
apesar de haver
325

consenso, só
ocorre no
momento em que
se torna presente
do ponto de vista

19 As coisas fora do comércio pertencem ao domínio público do Estado.


jurídico (≠
naturalístico);
○ Bens
originariamente
móveis que se
tornam imóveis:
partes
componentes20
(incorporação de
elemento essencial
para a existência
de bem imóvel,
cuja ausência
constitui prejuízo
para o bem, como
por exemplo a
destruição,
enquanto não
houver destaque
material) e partes
integrantes21
(ligação material
de elementos não
fundamentais ao
bem imóvel, mas
que integraram o
negócio jurídico de
venda imóvel –
Página

artigo 204.º C.C.)


de imóveis;
326

○ Artigo 210.º C.C. –


coisa acessória22
(bens móveis) que

20 Por exemplo: telhas e janelas.

21 Por exemplo: ar condicionado, aquecimento central e antena TV.

22 Por exemplo, mobílias.


não constituem
parte integrante e
que constituem
ornamento,
servindo o bem
imóvel. O preço de
venda não abrange
estes bens, salvo
menção expressa
no contrato;
○ Prédio rústico e
prédio urbano
(n.º2 do artigo
204.º C.C.) –
segue-se o critério
económico e
funcional para se
distinguir as partes
mais importantes.
Não existe no
Código Civil a
categoria de
prédios mistos,
que existe no
Direito Fiscal, em
que há igualdade
de importância
para fins de
Página

tributação;
○ Artigo 206.º C.C. –
327

coisa composta:
conjunto de coisa
que constitui uma
universalidade de
facto, pertencentes
à mesma pessoa e
com finalidade
comum, podendo
ser entendida
como uma única
coisa (ex:
biblioteca,
rebanho, colecção
de selos). Por
norma, um direito
real incide sobre
uma coisa. Neste
caso, admite-se a
universalidade de
facto, ainda que
possa haver
alienação de cada
coisa
individualmente;
○ Artigo 1462.º C.C.
– usufruto (direito
real) sobre
conjuntos de
animais, com
finalidade comum;
○ Artigo 209.º C.C. -
Coisas divisíveis
(divisão
naturalística do
bem, espartilhável
Página

sem prejuízo para


a substância) ≠
328

coisas
indivisíveis (neste
caso, e havendo
excesso de valor
na recepção de
uma sucessão, há
lugar a aplicação
pecuniária);
○ Artigo 211.º C.C. –
coisas futuras:
relativamente
futuras (coisa não
existe, mas
encontra-se
juridicamente
disponível; a venda
dá lugar a direitos
obrigacionais, não
reais) e
absolutamente
futuras (não
existe do ponto de
vista naturalístico
nem jurídico –
artigo 408.º, n.º2
C.C.);
○ Frutos (artigos
212.º e seguintes)
– coisa ou utilidade
proveniente de
outra preexistente,
móvel ou imóvel,
que, dela sendo
separados, não
Página

determinam a sua
destruição total ou
329

parcial, isto é,
produzido,
portanto, sem
prejuízo da
substância. Podem
ser civis (são os
rendimentos
produzidos pela
utilização
económica da
coisa principal,
decorrentes da
concessão do uso
e gozo da coisa,
como por exemplo
juros, pensões,
foros, rendas,
alugueres,
prestações
periódicas) ou
naturais (provêm
directamente da
coisa principal,
eventualmente
com o concurso do
trabalho humano,
como por exemplo
produtos agrícolas,
partes
aproveitáveis de
animais);
○ No Direito
Matrimonial, nos
termos do regime
da comunhão de
Página

adquiridos, em
relação a um
330

imóvel arrendado
que adquiri antes
do casamento, os
frutos são comuns.
Incidindo uma
dívida sobre um
imóvel pessoal,
pode servir como
garantia o meu
património pessoal
e, supletivamente,
o património
comum onde se
integram estes
frutos → Frutos ≠
Coisas
principais;
○ Noção de
benfeitorias
(artigos 1273.º a
1275.º do C.C.) -
obras executadas
no imóvel com a
intenção de
conservá-lo,
melhorá-lo ou
embelezá-lo.
Existem várias
espécies de
benfeitorias e cada
uma produz um
efeito jurídico
diverso. As
benfeitorias podem
ser necessárias
Página

(destinam-se à
conservação do
331

imóvel ou evitar
que ele se
deteriore. Os
reparos de um
telhado, infiltração
ou a substituição
dos sistemas
eléctrico e
hidráulico
danificados serão
benfeitorias
necessárias, vez
que conservam o
imóvel e evitam
sua deterioração),
úteis (obras que
aumentam ou
facilitam o uso do
imóvel. A
construção de uma
garagem, a
instalação de
grades protectoras
nas janelas, ou o
fechamento de
uma varanda são
benfeitorias úteis,
porque tornam o
imóvel mais
confortável, seguro
ou ampliam sua
utilidade) ou
voluptuárias (não
aumentam ou
facilitam o uso do
Página

imóvel, mas
podem torná-lo
332

mais bonito ou
mais agradável.
São as obras de
jardinagem, de
decoração ou
alterações
meramente
estéticas.). As
benfeitorias
integram na posse
(em Direitos
Reais).
Nomeadamente
em Direito do
Arrendamento,
remete-se para
estes artigos. Se
houver
possibilidade de
dividir as
benfeitorias, sem
prejuízo da coisa
principal, há
aplicação do
regime das
benfeitorias; se
não for possível,
aplica-se o regime
do enriquecimento
sem causa, com
direito de
indemnização do
locatário.

• Pessoas (em matéria


Página

de direitos de
personalidade) e
333

pessoa de outrem
(outras pessoas, em
matéria de poderes-
deveres ou direitos
funcionais )
23

23 Por exemplo, de pai para filho ou de tutor para pupilo.


• Direitos
○ “Coisificação” de
direitos, o que se
revela uma
situação pouco
frequente;
○ É possível
constituir um
direito de usufruto
sobre um direito
de sócio, por
exemplo;
○ Artigo 688.º C.C. –
objectos da
hipoteca. Também
incide sobre
determinados
direitos, como o
direito de
superfície (artigo
1524.º e seguintes
C.C.), direito
alienável com
vantagem
Página

económica. A
propósito do
334

direito de
superfície, o
proprietário aliena
parte dos direitos
de superfície ao
superficiário,
nomeadamente
sobre bens do
domínio privado do
Estado,
entendendo-se,
por exemplo,
autarquias locais).
Também se pode
onerar aquele
direito de
superfície
vendendo-o em
acção executiva,
satisfazendo-se o
direito de crédito;
○ Nos termos do
artigo 688.º C.C.,
também é possível
constituir hipoteca
sobre direito de
usufruto e sobre
direitos de crédito
avaliáveis em
dinheiro (por
exemplo: acções).

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
Página

(Terça-Feira, 27 de Abril de 2010 – 11H-13H –


Prática)
335

➢ Ficha de Trabalho n.º17 (continuação)


○ Questão 1
 Determinar qual a Lei aplicável no presente
caso:
• A situação jurídica regulada pela Lei
nova incide sobre o conteúdo
normativo do direito de propriedade;
• Há lugar a abstracção do facto
constitutivo do direito de propriedade
(por exemplo: acessão, usucapião,
compra e venda);
• No presente caso, não há valoração do
facto que dá origem ao direito de
propriedade;
• Aplica-se a segunda parte do número 2
do artigo 12.º C.C., relativo ao exercício
dos direitos e deveres das partes do
facto, ainda que constituído
anteriormente à Lei nova;
• As normas do estatuto real tendem a
ser imperativas e, por isso, de
aplicação imediata. Vigoram os
princípios da taxatividade e da
tipicidade de direitos reais, só se
admitindo os direitos reais plasmados
na Lei, não se podendo criar um direito
real não previsto. Tem de haver,
igualmente, o respeito pelos direitos e
obrigações conferidos às partes pela
Lei. Constituem desvio a esta regra o
direito de usufruto e o direito de
servidão predial;
• Artigos 1445.º e seguintes do C.C. –
Página

relativos ao direito de usufruto,


336

constituem regras imperativas que


podem ser afastadas (regras
supletivas);
• Conclusão: É Américo que tem razão,
na medida em que a distância por ele
deixada se coaduna com a Lei nova
que se aplica, abstraindo-se do facto de
origem.

 Questão 2
• Artigo 103.º, n.º3 da CRP – princípio da
irretroactividade da Lei fiscal (ainda
que não exista um princípio geral de
irretroactividade). Também em Direito
Penal vigora o princípio da
irretroactividade;
• Aplicação da Lei em vigor no momento
de facto tributário, sendo no caso de:
○ IVA – momento da prestação de
serviço (imposto instantâneo),
no acto de consumo;
○ IRS e IRC – imposto periódico,
em que o facto tributário é o
rendimento obtido ao longo do
ano. O imposto é determinado no
fim do ano.

• Não há irretroactividade face à


transição de bens e serviços realizados
antes da aprovação da nova taxa de
IVA. Já em relação aos impostos
periódicos, a lei fiscal nova só se
aplicará aos rendimentos obtidos a
partir de 1 de Janeiro de 2006, não
Página

sendo possível separar a taxa a aplicar


no 1.º semestre e a taxa a aplicar no
337

2.º semestre – a taxa é una para um


ano fiscal.

 Questão 3
• Exemplo de fraude à Lei, pois estamos
perante uma situação de recurso a
meios lícitos para práticas ilícitas;
• A José, foi dirigida uma declaração de
não renovação;
• Lei nova proíbe a celebração plural de
contratos;
• De acordo com o estatuto contratual, a
lei nova só se aplica a factos futuros,
numa tentativa de garantir a segurança
jurídica e as legítimas expectativas do
empregador;
• Não havendo norma de Direito
Transitório, coloca-se a questão de
aplicação do artigo 12.º, n.º2, 1.ª parte.
Esta lei nova dispõe sobre efeitos de
factos, não havendo abstracção do
facto que deu origem (relação jurídica
laboral). Querendo a Lei nova incidir
sobre o facto que institui uma relação
jurídica laboral – contrato – não há
abstracção do facto constitutivo. A lei
nova declara a nulidade da cláusula de
termo – valoração negativa. Nos
termos do artigo 292.º, numa situação
de nulidade parcial, há lugar apenas ao
afastamento da cláusula nula;
• Regra geral, só se admite a cessação
Página

da vigência do contrato com o mútuo


dissenso;
338

• As partes envolvidas têm de ter


conhecimento da possibilidade de
alteração das condições, por razões de
interesse público;
• É sustentável a posição de Amaral.
 Questão 4
• Necessidade de verificação dos
pressupostos de vocação sucessória,
entre os quais temos a capacidade (ver
artigos 2033.º e 2034.º C.C., sendo
este último relativo à incapacidade por
indignidade);
• De acordo com o enunciado, é incluída
mais uma causa de indignidade no
artigo 2034.º C.C;
• No presente caso, e considerando o
enunciado apresentado, tem-se que:
○ A relação jurídica em causa tem
lugar com a morte, quando se dá
a abertura da sucessão;
○ O facto constitutivo da relação
sucessória é a morte;
○ Regra geral, aplica-se a lei em
vigor no momento da abertura da
sucessão;
○ No presente caso, a condenação é
um facto-pressuposto, não
havendo lugar a uma
retroactividade, mas a uma
retroconexão ou
retrospectividade. Trata-se de um
facto-pressuposto da aquisição da
qualidade de sucessor, cuja
Página

verificação determina a aplicação


da norma;
339

○ O artigo 12.º C.C. apenas se aplica


a factos constitutivos,
modificativos e extintivos, não
sobre factos-pressupostos;
○ Portanto, é relevante a aplicação
da Lei nova.
 Questão 5
• Situação em que está em causa a
propriedade horizontal, cabendo aos
condóminos contribuir para o serviço
do ascensor;
• Estamos perante uma situação jurídica
real – direito de propriedade horizontal;
• Facto constitutivo do direito real: por
exemplo, usucapião, acessão, compra
e venda;
• Regula-se os deveres dos condóminos,
havendo abstracção do facto
constitutivo. Dispõe sobre o conteúdo
normativo (artigo 12.º, n.º2, 2.ª parte);
• Aplica-se a Lei nova.

 Questão 6
• Está em causa uma Lei que dispõe
sobre as questões de validade
substancial (pressupostos materiais de
celebração do casamento), no caso a
idade, aplicando-se a Lei antiga (não há
abstracção do facto) e a 1.ª parte do
n.º2 do artigo 12.º C.C.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
Página

(Terça-Feira, 27 de Abril de 2010 – 15H-16H30 –


340

Teórica)
○ Facto jurídico (ou facto da
relação jurídica)
 Negócios jurídicos
• Constituem dos actos
jurídicos mais
importantes em Direitos
das Obrigações,
enquanto corporização
da liberdade contratual;
• Para a existência de um
negócio jurídico, é
necessário conhecer os
requisitos essenciais:
○ Declaração
negocial livre e
autónoma (sem
coacção), que
difere entre
negócios jurídicos;
○ Partes do
negócio
○ Objecto negocial
– idoneidade do
objecto: tem de ser
um objecto físico
ou legalmente
possível (artigo
280.º C.C.). Nas
fianças (garantia
pessoal, enquanto
negócio jurídico), o
objecto (crédito)
tem de ser
Página

determinável, não
podendo assumir
341

amplitude
exagerada. Como
estratégia
adoptada para não
cair na
indeterminabilidad
e total, fixa-se o
valor do crédito e o
valor garantido.

• Elementos naturais
(acompanham as
partes, se elas não
tomarem decisão –
regime supletivo) e
acessórios
(normalmente, não
acompanham os
negócios jurídicos, como
por exemplo as
cláusulas contratuais de
condição24, termo25 e
modo26) do negócio
jurídico. Por exemplo, o
contrato de compra e
venda pode estar
sujeito a condição
suspensiva, que o deixa
de ser, quando ela se
verificar ou puder ser
resolutiva (por exemplo,
numa partilha entre
herdeiros, em que uma
cláusula cessa os seus
efeitos da partilha,
Página

como ter um filho);


• Contratos reais
342

quanto à constituição
(a constituição depende

24 Evento futuro incerto.

25 Evento futuro certo (prazo), por exemplo: cláusula acessória de termo.

26 Típicas das doações, em que há um desequilíbrio entre prestações, assumidas


pelo doador. Ainda assim, não deixa de ser um negócio jurídico gratuito (o modo a
inferir aos bens entregues) e universal
da entrega de uma
coisa, o que significa
que o contrato de
compra e venda não é
real, quanto à
constituição, pois ele
não deixa de ser válido,
por não haver
transmissão) e quanto
aos efeitos (produz
efeitos reais, como por
exemplo a transmissão
de propriedade – ver
artigos 879.º, alíneas b)
e c) – efeitos
obrigacionais).
Diferentemente, o
mútuo implica o
empréstimo de coisa
fungível2728,
normalmente dinheiro.
• Artigo 947.º, n.º2 C.C. –
doação de coisas
móveis, não havendo
documento escrito,
implica tradição de
coisa doada, senão não
há doação – “dom
Página

manual”);
343

27 Coisas fungíveis (valem pelo que nelas há de genérico, ou seja, pelo que nelas
há de comum em relação a outras do mesmo género, e é nesse elemento genérico
que se concentram a vontade e a intenção das pessoas que contratam sobre esses
tipo de coisas) ≠ Coisas infungíveis (valem pelo que nelas há de individual e de
específico, porque só essas coisas é que têm essa característica específica e mais
nenhuma outra coisa tem essa característica, e é nesse elemento específico que se
encontram a vontade e a intenção da pessoa que contrata a respeito dessa coisa
que tem essas características específicas, insubstituível livremente por outra).

28 Coisas fungíveis ≠ prestações (in)fungíveis (obrigação de prestação, que,


se dentro de determinados trâmites, é uma prestação infungível).
• Um negócio jurídico
unilateral (uma
declaração negocial)
pode ser singular (um
elemento) ou plural
(mais do que um
elemento). Veja-se o
exemplo da promessa
(artigo 457.º e
seguintes C.C.). Já o
contrato de mútuo é um
negócio jurídico
bilateral, contrato
unilateral oneroso.

○ Garantia (ou tutela jurídica) –


constituem as garantias mais
usuais dos contratos a fiança, a
hipoteca e o penhor.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 11 de Maio de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º17
○ Questão 7
Página

 Aplica-se a lei antiga, dado estarmos


perante uma lei nova, que não se abstrai do
344

facto constitutivo, respeitando o princípio da


autonomia privada e da liberdade
contratual. Trata-se de uma situação em que
as partes, aquando da celebração do
casamento, confiaram no regime supletivo.
Sendo que a Lei nova não introduz um
regime imperativo, deve haver respeito, por
parte da Lei nova, da vontade das partes no
casamento;
 Aplica-se a 1.ª parte do n.º2 do artigo 12.º
C.C., estando em causa um efeito de um
facto constitutivo, não havendo valoração do
contrato e, consequentemente, não há
abstracção do facto constitutivo;
 Não está em causa um regime imperativo
(normas inderrogáveis), que incida sobre o
conteúdo normativo da relação jurídica. Tal
sucederia se, por exemplo, a lei nova
incidisse sobre direitos e deveres atinentes
à administração de bens.

○ Questão 8
 O artigo 1798.º C.C. constitui uma
presunção de paternidade. Fazia sentido
aquando da entrada em vigor do Código
Civil, em 1967, e da 1.ª Grande Reforma em
matéria de Direito da Família, em 1977;
 Esta presunção constitui um facto-
pressuposto da constituição da relação de
filiação;
 Aplica-se a Lei nova, na medida em que o
momento determinante dessa relação é o
nascimento.
Página
345

➢ Ficha de Trabalho n.º18


○ Questão 1
 O Fundo de Garantia Automóvel (FGA)
garante a reparação de danos decorrentes
de acidentes rodoviários ocorridos em
Portugal e originados:
• Por veículo sujeito ao seguro
obrigatório de responsabilidade civil
automóvel (SORCA), com
estacionamento habitual em Portugal
ou matriculado em país que não tenha
serviço nacional de seguros, ou cujo
serviço não tenha aderido ao Acordo
entre serviços nacionais de seguros;
• Por veículo sujeito ao SORCA, sem
chapa de matrícula ou com uma chapa
de matrícula que não corresponde ou
deixou de corresponder à chapa de
matrícula do veículo (matrícula falsa);
• Por veículo não sujeito ao SORCA em
razão do veículo em si mesmo, ainda
que com estacionamento habitual no
estrangeiro;
• Por veículo sujeito ao SORCA,
importado de um Estado-Membro, por
um período de 30 (trinta) dias a contar
da data da aceitação da entrega pelo
adquirente, mesmo que o veículo não
tenha sido formalmente registado em
Portugal.

 O Fundo de Garantia Automóvel satisfaz, até


ao limite do capital mínimo do SORCA, as
indemnizações que se mostrem devidas por:
Página

• Danos corporais, quando o responsável


seja desconhecido ou não beneficie de
346

seguro válido e eficaz, ou for declarada


a insolvência da empresa de seguros;
• Danos materiais, quando o
responsável, sendo conhecido, não
beneficie de seguro válido e eficaz;
• Danos materiais quando, sendo o
responsável desconhecido, deva o FGA
satisfazer uma indemnização por danos
corporais significativos, ou o veículo
causador, não beneficiando de seguro
válido e eficaz, tenha sido abandonado
no local do acidente e a autoridade
policial confirme a sua presença no
respectivo auto de notícia.

 Estamos na presença de uma acção


intentada contra os condutores e o Fundo de
Garantia Automóvel. Este último só cobre a
responsabilidade pelo risco. Aplica-se o
artigo 508.º C.C., que apresenta a obrigação
de indemnizar até aos limites fixados por
Lei;
 Indiscutivelmente, Bruna pode alegar o
direito à indemnização de danos pessoais
patrimoniais e não patrimoniais (artigo
496.º, n.º1 C.C.);
 Bruna, ao alegar o artigo 483.º C.C., tem de
fazer prova da culpa e dos danos causados,
sendo que a responsabilidade civil por factos
ilícitos não pode ser alegada contra o Fundo
de Garantia Automóvel;
 Os artigos 562.º e seguintes referem-se à
obrigação de indemnização. O artigo 564.º
C.C., em particular, diz respeito ao cálculo
da indemnização, considerando-se os
Página

benefícios que o lesado deixou de ter em


função do dano causado, como por exemplo
347

os rendimentos por actividade profissional


que deixou de exercer. Note-se que o n.º2
do artigo 564.º C.C. prevê a possibilidade de
indemnizar danos futuros que advêm desta
circunstância;
 Diferentes posições defendidas para
resolução:
• 1.ª – Entendendo-se que um nascituro
já é detentor de personalidade jurídica,
havia lugar a compensação por danos
patrimoniais e morais do nascituro,
sendo que Alberta sucederia ao
falecido, enquanto ascendente;
• 2.ª – Efectuando uma leitura do
elemento gramatical do artigo 66.º
C.C., números 1 e 2, um nado-morto
não foi portador de personalidade
jurídica e os direitos que a lei
reconhece aos nascituros só podem ser
exercidos com o nascimento completo
e com vida (posição maioritária e
seguida pela jurisprudência do
STJ).
 Outra questão que se pode colocar prende-
se com a admissibilidade do “dano
morte” (artigo 496.º, n.º2 C.C.). Entende-se
que o valor da perda da vida será
indemnizável, sendo possível autonomizar
um “dano morte”, ainda que integrado no
artigo referido;
 Aconselha-se a leitura do acórdão STJ de 09-
10-2008, referenciado na ficha de trabalho,
e a análise das posições assumidas por
Mário Bigotte Chorão, Pais de Vasconcelos e
Meneses Cordeiro, por um lado, e de
Página

Antunes Varela, por outro, sendo que este


último recusa a inconstitucionalidade do
348

artigo 66.º C.C. De acordo com este, só um


ser autónomo deve ser portador de
personalidade jurídica. Examinar, também, o
voto de vencido do juiz conselheiro Dr.
António Cardoso Santos Bernardino.
INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 11 de Maio de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
 Declaração negocial
(continuação)
• Normalmente o
elemento interno
(vontade) e o elemento
externo da declaração
negocial (declaração
propriamente dita)
coincidirão;
• Pode, contudo, verificar-
se por causas diversas,
uma divergência entre
esses dois elementos da
declaração negocial. A
normal relação de
concordância entre a
vontade e a declaração
(sentido objectivo) é
afastada, por razões
diversas, em certos
casos anómalos. À
relação normal de
concordância substitui-
se uma relação
Página

patológica. Está-se
perante um vício da
349

formulação da vontade.
• Regime de vícios da
declaração: pode
daqui resultar a
nulidade ou a
anulabilidade do
negócio jurídico, ou até
a inexistência;
• Vícios patológicos
(artigos 240.º e ss. C.C.)
○ 1 – Divergência
entre a vontade
e a declaração:
Esse dissídio ou
divergência entre
vontade real e a
declaração, entre
“querido” e o
“declarado”, pode
ser uma
divergência
intencional,
quando o
declarante emite,
consciente e
livremente uma
declaração com
um sentido
objectivo diverso
da sua vontade
real. Está-se
perante uma
divergência não
intencional,
Página

quando o dissídio
em apreço é
350

involuntário
(porque o
declarante não se
apercebe da
divergência ou
porque é forçado
irresistivelmente a
emitir uma
declaração
divergente do seu
real intento);
○ A divergência
intencional pode
apresentar-se sob
uma de três
formas principais:
 a)
Simulação: o
declarante
emite uma
declaração
não
coincidente
com a sua
vontade real,
por força de
um conluio
com o
declaratário,
com a
intenção de
enganar
terceiros (por
exemplo:
Fazenda
Página

Pública);
351

 b)
Reserva
mental
(artigo 244.º
C.C.)29: o
declarante
emite uma
declaração
não
coincidente
com a sua
vontade real,
sem qualquer
conluio com o
declaratário,
visando
precisamente
enganar este.
A protecção
ao
declaratário
justifica a
validade do
negócio,
excepção
feita à
reserva
mental
29 O art. 244º/1 CC, define reserva mental: (1) emissão de uma declaração
contrária à vontade real; (2) intuito de enganar o declaratário. Os efeitos desta
figura são determinados pelo art. 244º/2 CC, onde se estatui a irrelevância da
reserva mental, excepto se for conhecida do declaratário. Por consequência, a
Página

declaração negocial emitida pelo declarante, com a reserva, ocultada ao


declaratário, de não querer o que declara, não é em princípio nula. Deixará, todavia
de ser assim, sendo o negócio nulo, como na simulação, se o declaratário teve
352

conhecimento da reserva, por desaparecerem então as razões que justificam


aquele princípio geral. Se o declaratário conheceu a reserva, não há confiança que
mereça tutela. Não bastará para a relevância da reserva, a sua cognoscibilidade,
sendo necessário o seu efectivo conhecimento. A doutrina estabelecida vale mesmo
que só por sua culpa o declaratário desconheça a reserva, por se entender que o
dolo do declarante apaga a culpa da outra parte, e vale tanto para a chamada
reserva inocente como para a reserva fraudulenta. Mandando aplicar o regime da
simulação à reserva conhecida do declaratário, a lei considerar nula a declaração
(art. 240º/2 CC), permite que a nulidade seja arguida pelo próprio declarante em
face do declaratário (art. 242º/1 CC), mas já não admite a sua oponibilidade pelo
declarante a terceiros de boa fé (art. 243º/1 CC).
conhecida
pelo
declaratário,
que conduz à
anulabilidade
do negócio
jurídico;

 c)
Declarações
não sérias30:
o declarante
emite uma
declaração
não
coincidente
com a sua
vontade real,
mas sem
intuito de
enganar
qualquer
pessoa
(declaratário
ou terceiro).
O autor da
declaração
Página

30 São declarações não sérias as jocosas (“causa ludendi”), cénicas ou didácticas.


Nelas não há o intuito de enganar e há mesmo a expectativa do declarante de que
não sejam tomadas a sério. Se faltam nestes requisitos, como no gracejo jocoso
353

feitos para enganar, com a convicção de que o destinatário se convencerá da


seriedade da declaração, a figura é a da reserva mental. O disposto no art. 245º/2
CC, é somente aplicável quando, não obstante a expectativa do declarante, o
declaratário acreditou na declaração e essa crença é justificável, dadas as
circunstâncias em que o caso ocorreu. Três condições são portanto, necessárias
para que o declarante seja obrigado a indemnizar a contraparte: a) Que o
declaratário tenha tomado a sério a declaração; b) Que a convicção do declaratário
tenha sido provocada pelas circunstâncias em que a declaração foi emitida; c) Que
seja justificado, compreensível, aceitável o erro em que o declaratário caiu.
está
convencido
que o
declaratário
se apercebe
do carácter
não sério da
declaração.
Pode tratar-se
de
declarações
jocosas,
didácticas,
cénicas,
publicitárias.
○ Artigo 243.º C.C.
– inoponibilidade
de nulidade a
terceiro de boa-
fé (artigo 289.º,
n.º2 C.C.)31. Este
artigo é alvo de
interpretação
extensiva,
entendendo-se que
o credor também
não pode arguir a
nulidade. Pode
Página

revelar-se mais
fácil aos credores
354

provarem a

31 Tem sido suscitado um problema de Justiça principalmente no confronto das


preferências legais. Se houver violação do direito de preferência, o preferente pode
através de uma acção própria (acção de preferência - art. 1410º CC), pode fazer se
o negócio preferível. Uma das simulações mais frequentes é a venda por um preço
declarado por um valor mais baixo que o real para fuga ao fisco. Os terceiros
preferentes não podem evocar boa fé para optarem por um preço inferior ao real,
porque isso equivaleria a enriquecimento estranho ao espírito do legislador.
impugnação
pauliana (artigo
610.º C.C.), que
tem como
consequência a
ineficácia em
sentido estrito
(relativo);

○ Artigo 245.º C.C.


– declarações
não sérias, em
que é
indiscutível a
falta de
seriedade. No
n.º1, consagra-se
que a declaração
não séria em que a
falta de seriedade
é conhecida tem
como
consequência a
inexistência
jurídica do acto. Já
no n.º2, em
situação que se
possa induzir a
Página

seriedade, há lugar
a indemnização
355

por falta de
lealdade;

○ Uma distinção que


se faz é entre
simulação
absoluta, em que
as partes fingem
celebrar um
negócio jurídico e
na realidade não
querem nenhum
negócio jurídico,
há apenas o
negócio simulado
e, por detrás dele,
nada mais
(“colorem habet
substantian vero
nullam”); e
simulação
relativa, em que
as partes fingem
celebrar um certo
negócio jurídico e
na realidade
querem um outro
negócio jurídico de
tipo ou conteúdo
diverso. Pelo art.
241º, n.º2 C.C.,
enquanto o
negócio simulado é
nulo, e na
simulação se não
Página

põe mais nenhum


problema, na
356

simulação relativa
surge o problema
do tratamento a
dar ao negócio
dissimulado ou real
que fica a
descoberto com a
nulidade do
negócio simulado.

○ A divergência
não intencional
pode apresentar-se
sob uma de três
formas principais:
 Erro na
declaração
(artigo 247.º
C.C.)32: o
declarante
emite a
declaração
divergente da
vontade, sem
ter
consciência
dessa falta de
coincidência.
Por exemplo,
no caso de
promessa
pública com
valor
monetário
Página

errado.
Importa
357

considerar a
essencialida
de do erro

32 O legislador parte do erro da declaração (art. 247º), regime geral. Admite a


validade do negócio no art. 248º, regula o erro de escrita ou de cálculo no art. 249º
e o erro de transmissão na declaração no art. 250º. Depois o erro vício sobre a
pessoa ou objecto (art. 251º), passa a erros sobre os motivos determinantes (art.
252º/1) e conclui com erro de base do negócio (art. 252º/2).
para o
declarante.
Se se
conseguir
provar que há
um erro claro
para o
declaratário,
pode haver
lugar a
declaração de
anulabilidade.
Também
perante erro
de cálculo ou
de escrita, há
lugar a uma
divergência
entre a
vontade e a
declaração.
Por exemplo,
fixação do
valor de pipas
de vinho, por
unidade e
conjunto de
unidades;
Página

 Na falta de
consciência
358

da
declaração
(artigo 246.º
C.C.)33: o
declarante
emite uma
declaração
sem sequer
ter
consciência (a
vontade) de
fazer uma
declaração
negocial,
podendo até
faltar
completamen
te a vontade
de agir.
 Coacção
física ou
violência
absoluta
(artigo 246.º
C.C.)34: o
declarante é
33 A hipótese está referida no art. 246º: “se o declarante não tiver consciência de
fazer uma declaração negocial”. Estatui-se que o negócio não produz quaisquer
efeitos, mesmo que a falta de consciência da declaração não seja conhecida ou
cognoscível da declaratário. Trata-se dum caso de nulidade, salvo na hipótese de
falta de vontade de acção em que parece estar-se, antes, perante um caso de
verdadeira inexistência da declaração. Com efeito, quando falta a vontade de acção
não há um comportamento consciente, voluntário, reflexo ou, na hipótese de
Página

coacção física, absolutamente forçado, embora exteriormente pareça estar-se


perante uma declaração.
359

34 Na coacção física ou absoluta o coagido tem a liberdade de acção totalmente


excluída, enquanto na coacção moral ou relativa está cerceada, mas não excluída.
O Código Civil prevê, sob a epígrafe “coacção física” (art. 246º), a hipótese de o
declarante ser “coagido pela força física a emitir” a declaração (“agitur sed non
agit”). Têm-se em vista as hipóteses em que o declarante é reduzido à condição de
puro autómato (coacção absoluta) e não aquelas em que o emprego da força física
não chega aos extremos da “vis absoluta”. A coacção física ou absoluta importa,
nos termos do art. 246º, a ineficácia da declaração negocial.
transformado
num
autómato,
sendo forçado
a dizer ou
escrever o
que não quer,
não através
de uma mera
ameaça mas
por força do
emprego de
uma força
física
irresistível
que o
instrumentaliz
a e leva a
adoptar o
comportamen
to.
○ 2 – Vício da
vontade – Trata-
se de perturbações
do processo
formativo da
vontade, operando
de tal modo que
Página

esta, embora
concorde com a
360

declaração, é
determinada por
motivos anómalos
e valorados, pelo
Direito, como
ilegítimos. A
vontade não se
formulou de um
“modo julgado
normal e são”. São
vícios da vontade:
Erro, Dolo,
Coacção Medo e
Incapacidade
acidental. A
consequência
destes vícios
traduz-se na
invalidação do
negócio, tendo
para isso os vícios
de revestir-se de
certos requisitos.
Quando esses
vícios são
relevantes, geram
a anulabilidade
do respectivo
negócio.

 Erro sobre a
Página

pessoa ou
sobre o
361

objectivo do
negócio
(artigo 251.º
C.C.)35 –
conjugado
com o artigo
247.º C.C.,
que consagra
a
essencialida
de do erro
(ser aquela
pessoa com
quem eu vou
casar ou ser
aquele
objecto
específico são
elementos
essenciais do
negócio
jurídico,
senão o
negócio seria
válido). Por
exemplo, no
caso de
casamento
por
procuração,
havendo
Página

35 O erro traduz-se numa representação inexacta ou na ignorância de uma


362

qualquer circunstância de facto ou de direito que foi determinante na decisão de


efectuar o negócio. Tem as seguintes categorias: a) Erro sobre a pessoa do
declaratário: resulta do texto da lei respeitando ao facto de estar apenas em
causa a pessoas do declaratário. Se se referir a outras pessoas declarantes já se
aplica o art. 252º/1 CC. O erro pode referir-se à sua entidade, a qualquer qualidade
jurídica ou que não concorra na pessoa do declaratário, quaisquer outras
circunstâncias; b) Erro sobre o objecto do negócio: deve aceitar-se que ele
abrange o objecto material como jurídico (conteúdo), o erro aqui relevante quando
relativo ao erro material reporta-se à entidade ou às qualidades objectivas (art.
251º -247º); c) Erro sobre os motivos não referentes à pessoa do declaratário nem
ao objecto do negócio (art. 252º CC).
engano em
relação à
nubente;

 Erro sobre
os motivos
(artigo 252.º
C.C.) – N.º1:
Por exemplo,
a venda de
terrenos a
uma Câmara
Municipal
para
construção de
edifício de
interesse
público (lar,
escola),
destinando-os
depois para
um fim
diferente.
Deveria
constar da
escritura
pública a
vontade do
Página

detentor do
terreno em
363

vender, sob
condição de
construção
desse edifício.
Se tal não
constasse da
escritura, ter-
se-ia, por
outros meios,
que provar
essa
realidade,
aludindo ao
princípio da
boa-fé. Para
António Pinto
Monteiro, não
estamos na
presença de
um erro sobre
o motivo.
N.º2: Remete
para o artigo
437.º C.C.,
por
ocorrência de
factos
inesperados,
que alteram
as condições
do contrato. O
artigo 437.º é
aplicado com
cautela pelos
tribunais, que
Página

só admitem a
alegação este
364

artigo perante
alteração
anormal das
circunstâncias
. Discute-se,
também, a
consequência
desta
situação:
anulabilidade
ou resolução
do contrato
(nos termos
do artigo
437.º C.C.).
Considera-se
que não se
admite a
resolução.
 Dolo (artigo
253.º C.C.)36 –
importa
considerar a
distinção
entre “dolus
bonus” (por
exemplo: jogo
publicitário) e
“dolus
malus”
(prejudica

36 O dolo tem uma dupla concepção completamente distinta, pode ser: a) Uma
sugestão ou artifício usados com o fim de enganar o autor da declaração (art.
253º/1 CC); b) A modalidade mais grave de culpa é a contraposta à mera culpa ou
também negligência (art. 483º/1 CC). Em Direito Civil, o que está em causa é a
Página

primeira acepção. O dolo dá lugar a uma espécie agravada de erro, porque o dolo é
erro provocado. A noção de dolo consta do art. 253º/1. Trata-se dum erro
determinado por um certo comportamento da outra parte. Só existirá dolo, quando
365

se verifique o emprego de qualquer sugestão ou artifício com a intenção ou a


consciência de induzir ou manter em erro o autor da declaração (dolo positivo ou
comissivo), ou quando tenha lugar a dissimulação, pelo declaratário ou por terceiro,
do erro do declarante (dolo negativo, omissivo ou de consciência). A relevância do
dolo depende da sistematização colhida pela doutrina e jurisprudência, depende de
três factores: 1. Que o declarante esteja em erro; 2. Que o erro tenha sido causado
ou tenha sido dissimulado pelo declaratário ou terceiros; 3. Que o declaratário ou
terceiro haja recorrido a qualquer artifício, sugestão ou embuste. Para Castro
Mendes, “a relevância do dolo depende de uma dupla causalidade, é preciso que,
primeiro, o dolo seja determinante do erro, e que esse erro (segundo) seja
determinante do negócio”.
efectivament
e a vítima,
capaz de
viciar a sua
vontade,
tornando o
negócio
anulável)37;

 Coacção
moral (artigo
255.º C.C.)38;
37 Só é relevante, como fundamento da anulabilidade, o “dolus malus”. A lei tolera
a simples astúcia, reputada legítima pelas concepções imperantes num certo sector
negocial. A lei declara não constituírem dolo ilícito sendo, portanto, “dolus bonus”,
as sugestões ou artifícios usuais, considerandos legítimos, segundo as concepções
dominantes no comércio jurídico (art. 253º/2 CC);

38 Consta do art. 255º/1, e consiste no “receio de um mal de que o declarante foi


ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração”. É, portanto, a
perturbação da vontade, traduzida no medo resultante de ameaça ilícita de um
dano (de um mal), cominada com o intuito de extorquir a declaração negocial. Só
há vício da vontade, quando a liberdade do coacto não foi totalmente excluída,
quando lhe foram deixadas possibilidade de escolha, embora a submissão á
ameaça fosse a única escolha normal. Só se cairá no âmbito da coacção física
(absoluta ou ablativa), quando a liberdade exterior do coacto é totalmente excluída
e este é utilizado como puro autómato ou instrumento. A coacção moral origina a
anulabilidade do negócio (art. 256º CC) e dá lugar igualmente á responsabilidade
pré-negocial do coactor (art. 227º CC). Verifica-se a anulabilidade, e não a nulidade,
mesmo que o coacto tenha procedido com reserva mental, ao emitir a declaração.
São necessários três elementos, cumulativamente, para que exista coacção moral:
1. Ameaça de um mal, todo o comando do coactor que consta em desencadear o
Página

mal ou consiste no mal já iniciado. Este mal pode respeitar á pessoa do coagido (há
sua honra) e ao seu património, pode ainda haver ameaça relevante se respeitar à
pessoa, património deste ou de terceiro; 2. Ilicitude da ameaça, a existência
366

deste requisito vem duplamente estabelecida na lei (art. 255º/1 e 255º/3 CC), se a
ameaça se traduz na prática de um acto ilícito, está-se perante coacção, constitui
coacção, o exercício normal do direito (n.º 3); 3. Intencionalidade da ameaça,
consiste em o coactor com a ameaça tem em vista obter do coagido a declaração
negocial (art. 255º/1 CC), esta ameaça deve ser cominatória, este requisito da
intencionalidade falta de o coagido emitir outra declaração que não aquela que a
ameaça se dirigia. Para que exista moral relevante (coacção anulatória do negócio)
é necessário dos elementos referidos: - Requisitos da casualidade ou
essencialidade, dupla casualidade, medo, este provocado por coacção moral e esta
casualidade apresenta-se num duplo plano, é necessário que o medo resulte da
ameaça do mal e por outro lado, o medo causado pela ameaça há-de ser a causa da
 Incapacidad
e acidental
(artigo 257.º
C.C.)39

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 18 de Maio de 2010 – 11H-13H –
Prática)
➢ Ficha de Trabalho n.º18 (continuação)
○ Questão 2
 Fragoso intentou uma acção de interdição,
por incapacidade de Gilson reger a sua
pessoa e património (artigo 138.º C.C.). Este
regime difere da inabilitação, aplicável para
situações de menor gravidade e em que o
indivíduo se revela incapaz de reger o seu
património, somente;
 Relativamente à doação da escritura valiosa,
poder-se-ia entender que, pelo facto de o
negócio jurídico se ter realizado antes de ser

declaração; - Não é requisito de relevância da coacção a existência de prejuízo para


Página

o coagido; - No regime de relevância deste vício há que distinguir se a coacção vem


do declaratário ou de terceiro (art. 256º CC, à contrario). A coacção constitui um
acto ilícito, geral tal como o dolo.
367

39 A hipótese está prevista no art. 257º CC, onde se prescreve a anulabilidade,


desde que se verifique o requisito (além da incapacidade acidental) destinado à
tutela da confiança do declaratário a notoriedade ou o conhecimento da
perturbação psíquica. Para se conseguir a anulação de uma declaração negocial,
com base neste preceito é necessário: a) Que o autor da declaração, no momento
em que a fez, se encontrava, ou por anomalia psíquica, ou por qualquer outra causa
em condições psíquicas tais que não lhe permitiam o entendimento do acto que
praticou ou o livre exercício da sua vontade. b) Que esse estado psíquico era
notório ou conhecido do declaratário.
intentada a acção de interdição Gilson ser
maior, gozaria de plena capacidade de
exercício. Todavia, o artigo 150.º C.C. prevê
a aplicação do regime da incapacidade
acidental, constante do artigo 257.º C.C.
No n.º2 deste último artigo, faz-se apelo ao
critério do Homem médio (ou do bom pai de
família), isto é, ao entendimento que uma
pessoa normal teria perante a situação
concreta. Neste caso, Mariano era amigo de
longa data de Gilson, portanto privaria
regularmente com ele. Contudo, pode-se
não aperceber da situação de anomalia
psíquica. Importa salientar que o negócio
celebrado num intervalo lúcido é válido.
Prevalece, portanto, o critério da
cognoscibilidade da situação daquele que
padece da anomalia psíquica. Com isto,
visa-se proteger o declaratário (terceiro),
por desconhecimento da situação de
anomalia psíquica, ao abrigo do princípio da
boa-fé;
 No que concerne à doação de colar de
diamantes, aplica-se o regime previsto no
artigo 149.º C.C., relativo a actos praticados
no decurso da acção. Estamos perante um
negócio jurídico gratuito, cumprindo-se a
segunda parte do artigo 149.º CC;
Página

 Em relação à venda de anel em ouro, aplica-


se o artigo 148.º C.C., relativo a acto
368

posterior ao registo da sentença;


 Por fim, acerca da doação do CD de música
clássica, está em causa um bem de valor
diminuto. Nos termos do artigo 139.º C.C.,
prevê-se a equiparação do regime da
interdição ao regime da menoridade, dentro
do que não estiver disposto. Assim, aplica-
se, com as devidas adaptações, o artigo
127.º, n.º1, alínea b) do C.C. Estamos na
presença de um negócio especialmente
válido.

○ Questão 3
 Joca, com 17 anos, casa com Elita. Trata-se
de um casamento válido, nos termos do
artigo 1601.º, alínea a) do C.C, que
conduziria à emancipação do menor (artigo
132.º C.C.). A idade núbil necessária para
casar é 16 anos. Contudo, não tendo havido
consentimento dos pais, aplica-se o regime
do artigo 1649.º, n.º1 do C.C. Nos termos
desta disposição legal, Joca continua a ser
considerado menor para a administração de
bens que leva para o casamento ou que lhe
sejam oferecidos, até à maioridade, ainda
que esteja prevista a entrega de parte dos
rendimentos desses bens necessários à
sobrevivência do menor. O n.º2 deste artigo
constitui uma protecção do cônjuge menor
face à malícia do cônjuge maior;
 À doação de acções de família, é aplicado o
regime da anulabilidade (alegável no prazo
de 1 ano);
 Foi praticado um crime de falsificação
Página

qualificada / agravado da carta de


condução, que exige documento autêntico;
369

 Não é possível saber a proveniência do


dinheiro que Joca utilizou para comprar o
carro, podendo aplicar-se ou não o artigo
1649.º C.C. Se for aplicável, o negócio é
anulável, sendo necessário proteger o
declaratário sujeito a acção de dolo (artigo
253.º C.C.), por prática de crime de
falsificação da carta de condução. Nos
termos do artigo 126.º C.C., o menor não
goza de legitimidade para invocar a
anulabilidade da prática dolosa, pois
entende-se que o menor não deve ser
protegido. Por interpretação extensiva,
também as personalidades indicadas no
artigo 125.º C.C. não o podem fazer, de
modo a impossibilitar o menor de se imiscuir
das responsabilidades do seu acto doloso;
 O dinheiro aplicado para adquirir os
presentes de Natal proveio do trabalho (acto
oneroso) de Joca, o que confere validade aos
negócios realizados;
 Por incapacidade de Joca administrar o seu
património, Elita pode requerer a
inabilitação do seu marido, nos termos do
artigo 141.º C.C., aplicado como regime
supletivo, tal como consagra o artigo 156.º
CC;
 Aplicando, supletivamente, o artigo 138.º,
n.º2 C.C., por via do artigo 156.º C.C, a
sentença podia ser decretada um mês
depois de Joca completar os 18 anos, visto
que a acção de inabilitação foi intentada,
certamente, antes de o cônjuge perfazer
essa idade;
 O regime do ausente encontra-se previsto a
Página

partir do artigo 89.º C.C.


• Artigo 89.º C.C. – nomeação do
370

curador provisório (sem prazo);


• Artigo 94.º C.C. – direitos e obrigações
do curador provisório;
• Artigo 98.º C.C. – termo da curadoria;
• Artigo 99.º C.C. – curadoria definitiva,
que constitui um regime mais gravoso
da ausência e implica prazos;
• Artigo 101.º C.C. – abertura do
testamento;
• Artigo 114.º C.C. – morte presumida;
tem efeitos que retroagem à data do
desaparecimento e implica declaração
judicial;
○ N.º3 – neste caso, não fazia
sentido a instalação da curadoria,
dado que, por efeito da
inabilitação, já havia sido
nomeado um curador, por via do
instituto da assistência;
○ Se for declarada morte presumida,
aplica-se o artigo 116.º C.C.,
sendo dissolvido o primeiro
casamento; se não for declarada
morte presumida, aplica-se o
artigo 115.º C.C., sendo Elita
acusada do crime de bigamia,
previsto no Código Penal;
○ Em relação aos bens do ausente,
aplica-se o artigo 117.º CC;
○ No caso de regresso, aplica-se o
artigo 119.º C.C.

➢ Ficha de Trabalho n.º19


○ A) Dever-se-á aplicar o n.º4 do artigo 1225.º CC?
Página

 A denúncia e a acção judicial intentada


estão fora dos prazos do artigo 916.º C.C.,
371

mas dentro dos prazos fixados pelo artigo


1225.º CC;
 Acção interposta depois de entrada em vigor
do n.º4 do artigo 1225.º CC;
 Na Lei nova, estão em causa prazos de
caducidade, que constituem matéria
imperativa;
 O artigo 297.º C.C. apenas se aplica para
prazos a correr, o que não sucede neste
caso. O prazo já tinha decorrido, o que nos
leva a considerar que se aplica a lei antiga.
O mesmo entendimento se toma perante
correntes jurisprudenciais diversas;
 Contudo, se a Lei nova constitui lei
interpretativa (artigo 1225.º, n.º4 C.C.),
portanto não inovadora, aplica-se o
regime da lei nova a factos passados. Esta
aplica-se na medida em que a Urbanitária,
Lda. constitui-se, simultaneamente,
vendedor e construtor do imóvel. Note-se
que o n.º4 do artigo 1225.º C.C é a única
norma interpretativa dele, visto que o n.º3 já
constitui norma inovadora.

○ B) E se não foi a Urbanitária, Lda. quem


construiu?
 Não sendo empreiteira, não faz sentido
aplicar o artigo 1225.º C.C. Aplica-se o artigo
916.º C.C., ao abrigo do n.º1 do artigo 12.º
C.C.

○ C) Se o defeito fosse descoberto em 2 de


Dezembro de 1994, qual deverá ser o prazo da
Página

denúncia do defeito aplicável e como deverá ele


ser contado?
372

 Aplica-se o artigo 297.º, n.º2 C.C., pois o


prazo estava em curso à entrada da Lei
nova.

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
(Terça-Feira, 18 de Maio de 2010 – 15H-16H30 –
Teórica)
➢ Noções de Direito das Obrigações (Livro II do
Código Civil)
○ Eficácia relativa das obrigações (artigos 397.º e
seguintes CC)
 Artigo 397.º C.C. – noção de obrigação e
ideia de relatividade (vinculação apenas das
partes envolvidas);
 Artigo 406.º C.C. – eficácia dos contratos
• Desde que haja consenso, há
vinculação das partes. Para
desvinculação, revela-se necessário um
mútuo dissenso;
• Delimitação da eficácia: não se
produzem efeitos contra terceiros,
excepto nos casos previstos na Lei.
○ Eficácia externa (excepcional)
dos contratos perante
terceiros: por exemplo, o direito
de arrendamento é oponível a
todo o proprietário.
 De acordo com a Doutrina
Alemã, era possível opor a
terceiro um direito
obrigacional, que este violou,
com culpa, podendo exigir
indemnização. Entendia-se
Página

também que era imputada


uma obrigação a um terceiro.
373

Há uma particularização
das situações em que se
previa responsabilidade
extra-contratual;
 Os artigos 397.º e 406.º C.C.
são reveladores da
relatividade. Nestes casos,
não é possível imputar
responsabilidade a terceiro.
De acordo com a teoria
defendida em Portugal,
implica fonte extra-
contratual para acusar
terceiro. Recorde-se que o
artigo 483.º C.C. abarca uma
multiplicidade de casos, por
violação com culpa;
 Com isto, verifica-se que
faltou capacidade de
adaptação da doutrina
alemã ao ordenamento
jurídico português.

 Artigo 405.º C.C. – encerra o princípio da


liberdade contratual, como expressão do
princípio da autonomia da vontade privada.
Difere do princípio da taxatividade em
Direitos Reais (artigo 1306.º C.C.);
 Artigo 407.º C.C. - incompatibilidade entre
direitos pessoais de gozo.
• Importa distinguir direitos pessoais
de gozo (direitos relativos ou direitos
de crédito) de direitos reais de gozo
(direitos absolutos). Os direitos
Página

pessoais de gozo possibilitam ao seu


titular o gozo directo e autónomo de
374

determinada coisa, o qual, porém,


diversamente do que sucede com os
direitos reais de gozo, tem sempre por
fundamento uma relação obrigacional,
de que nunca se desprende (por
exemplo: direito de arrendamento,
comodato). Implicam colaboração da
contraparte e cedem o gozo sobre uma
coisa.
Já o mesmo não acontece com os
direitos reais de gozo (sobre coisa
própria ou alheia): estes, justamente
por não serem direitos relativos, não
pressupõem uma vinculação
obrigacional com quer que seja; por
isso, uma vez constituídos (por
contrato, usucapião, testamento,
acessão, etc.) desligam-se da
respectiva matriz e conferem ao seu
titular uma posição jurídica que não
depende de ninguém (uso directo e
imediato de uma coisa). Nos direitos
pessoais de gozo, diversamente, não
pode nunca deixar de atender-se à
fonte de onde promana o poder directo
de gozo sobre a coisa; e essa fonte,
como salienta Henrique Mesquita, é
constituída por uma vinculação
obrigacional assumida pela pessoa a
quem competia o gozo da coisa
(proprietário, usufrutuário, etc.) ";
• Este artigo prevê a possibilidade de
conflito entre direitos pessoais de gozo,
consagrando que prevalece o mais
antigo (critério cronológico).
Página

 Artigo 408.º C.C. – trata dos contratos com


375

eficácia real
• A constituição ou transferência de
direitos reais sobre coisa determinada
dá-se por mero consenso (não implica
a entrega do bem para transferência de
direito real).
○ Fontes das Obrigações
 Diz-se fonte de obrigação o facto jurídico
de onde nasce o vínculo obrigacional. Trata-
se da realidade sub specie iuris que dá vida
à relação creditória: o contrato, o negócio
unilateral, o facto ilícito, entre outros;
 A fonte tem uma importância especial na
vida da obrigação, por virtude da atipicidade
da relação creditória;
 Chama-se fonte de uma obrigação ao facto
jurídico de que emerge essa obrigação, ao
facto jurídico constitutivo da obrigação.
 Actualmente, face à nossa lei, são fontes
das obrigações:
• Os Contratos (art. 405º segs. CC);
• Os Negócios Jurídicos Unilaterais
(arts. 457º segs. CC);
• A Gestão de Negócios (arts. 464º
segs. CC);
• O Enriquecimento Sem Causa (arts.
473º segs. CC);
• A Responsabilidade Civil (arts. 483º
segs. CC).

Página

 Enriquecimento Sem Causa (arts. 473º


segs. CC)
376

• Este instituto constitui a “válvula de


escape” do sistema, funcionando
apenas subsidiariamente, quando não
for possível recorrer a outra fonte de
obrigações. Utilizado, com cautela,
pelos tribunais;
• Para que haja enriquecimento sem
causa, é preciso que haja uma
deslocação patrimonial, isto é, que haja
uma transferência patrimonial do
património de alguém para o
património de outrem;
• A obrigação de restituir fundada no
enriquecimento sem causa ou
locupletamento à custa alheia
pressupõe a verificação cumulativa de
três requisitos:

a) É necessário, que haja um


enriquecimento;

b) O enriquecimento, contra o qual


se reage, careça de causa justificativa;

c) A obrigação de restituir pressupõe,


que o enriquecimento tenha sido obtido à
custa de quem requerer a restituição.

• Para que haja lugar à obrigação de


restituir é necessário, ainda, que o
enriquecimento tenha sido obtido
imediatamente à custa daquele que se
arroga o direito à restituição;
• O enriquecimento sem causa, assim
como dá lugar à obrigação de restituir
no caso de a atribuição patrimonial se
Página

haver já consumado, também pode


servir de fundamento a uma excepção
377

contra o enriquecimento injusto, se a


atribuição não tiver sido ainda
realizada e for exigido o seu
cumprimento. Por exemplo:
arrendamento de imóvel que não me
pertence para enriquecimento, através
das rendas.
 Contratos (art. 405º segs. CC)
• Diz-se contratos o acordo vinculativo
assente sobre duas ou mais
declarações de vontade (oferta ou
proposta, de um lado; aceitação, do
outro), contrapostas, mas
perfeitamente harmonizáveis entre si,
que visam estabelecer uma
composição unitária de interesses;
• Existem normas gerais sobre
contratos (artigos 405.º a 409.º C.C.)
e normas sobre contratos em geral
(artigo 410.º e seguintes C.C.);
○ Contrato-promessa (artigo 410.º
C.C.)
 É a convenção pela qual
ambas as partes (bilateral,
mais comum), ou apenas
uma delas (unilateral), se
obrigam dentro de certo
prazo ou verificados certos
pressupostos, a celebrar
determinado contrato. Ao
contrato, a cuja futura
realização as partes, ou uma
delas apenas, ficam
adstritas, dá-se o nome
Página

genérico de contrato
prometido. Trata-se de um
378

acordo preliminar a qualquer


contrato, a que as partes se
vinculam, obrigando-se a
futuramente celebrar o
contrato principal;
 Objecto de muita
controvérsia, sendo um dos
contratos mais frequentes;
 O seu regime tem vindo a ser
aperfeiçoado, mas
permanecem dúvidas;
 A directiva de ordem geral
que a lei estabelece quanto
ao regime do contrato-
promessa é a do princípio
da equiparação (art. 410º
CC), que consiste em aplicar,
como regra, aos requisitos e
aos efeitos do contrato-
promessa as disposições
relativas ao contrato
prometido;
 Duas excepções no entanto
se abrem, ao princípio da
equiparação: a primeira,
relativa à forma do contrato;
a segunda referente às
disposições que, pela sua
razão de ser, se não podem
considerar extensivas ao
contrato-promessa.
 Quanto à forma, a solução
aplicável ao contrato-
Página

promessa traduz-se nos


seguintes preceitos:
379

a) Se, para o contrato


prometido, a lei exigir
documento, como sucede
para a venda ou doação de
coisas imóveis (arts 875º,
947º/1 CC), o respectivo
contrato-promessa só é
válido se constar de
documento escrito, assinado
pelos promitentes;
b) Tratando-se de
contrato-promessa relativo à
celebração de contrato
oneroso de transmissão ou
constituição de direito real
sobre edifício já construído,
em vias de construção ou
que deva vir a ser
construído, o documento
escrito necessita de ter o
reconhecimento presencial
das assinaturas dos
outorgantes, bem como a
certificação notarial da
existência da licença de
utilização ou de construção;
c) Se o contrato
prometido estiver
subordinado a qualquer outra
finalidade, que não seja a
redução a documento, vale a
respectiva promessa a regra
geral da liberdade de forma
(art. 219º CC).
 O princípio da
Página

equiparação, significa
portanto que ao contrato-
380

promessa, além das suas


regras próprias, são
aplicáveis as regras próprias
do contrato que é seu
objecto, do contrato
prometido;
 Do art. 410º/2 CC, resulta
quanto à forma do contrato-
promessa o seguinte: a regra
é a da consensualidade, a
regra é a de que o contrato-
promessa seja válido
independentemente da
observância de forma
especial;
 Quando o contrato-promessa
tenha por objecto um
contrato, que seja ele
próprio, um contrato formal,
então o contrato-promessa
também é formal.
 O contrato-promessa,
criando para o promitente
uma obrigação de contratar,
cujo objecto é uma prestação
de facto, goza apenas, em
princípio, de eficácia
meramente obrigacional,
restrita por conseguinte às
partes contraentes (não tem
efeitos erga omnes), ao invés
do contrato prometido,
quando se trate de contrato
de alienação ou oneração de
Página

coisa determinada, que goza


de eficácia real;
381

 Na fixação das
consequências do não
cumprimento, há também
que corrigir o princípio da
equiparação à luz das
prescrições especiais
constantes nos artigos 442º
e 830º/1/2 CC, para a falta
de cumprimento do contrato-
promessa;
 Admite-se, que a promessa
de transmissão ou
constituição de direitos
reais (de aquisição) sobre
bens imóveis, ou sobre
móveis sujeitos a registo,
produza efeitos em
relação a terceiros, desde
que se verifique:

a) Constar a promessa de
escritura pública, salvo se
para o contrato prometido a
lei não exigir escritura,
porque nesse caso a lei se
contenta com documento
particular;

b) Pretenderem as partes
atribuir-lhe eficácia real;
c) Serem inscritos no
registo os direitos
emergentes da promessa
(art. 413º CC).
 Quando assim for, a
promessa, enquanto não for
Página

revogada, declarada nula ou


anulada, ou não caducar,
382

prevalece sobre todos os


direitos (pessoais ou reais)
que posteriormente se
constituam em relação à
coisa, tudo se passando, sob
esse aspecto, em relação a
terceiros, como se a
alienação ou oneração
prometida, uma vez
realizada, se houvesse
efectuado na data em que a
promessa foi registada.
 Em situação de falta de
registos exigidos, o
contrato-promessa, ainda
que válido, terá eficácia
meramente obrigacional.
E é especialmente nestes
casos, em que o contrato,
podendo ter eficácia real,
carece dos requisitos para tal
efeito exigidos, que mais se
acentua a sua eficácia
relativa. Os direitos nascidos
do contrato não valem
contra terceiro, não podem
ser oponíveis a terceiros,
nem destes pode ser exigido
qualquer indemnização pelo
facto da sua violação;
 Perante contratos-promessa
com efeitos reais, é sempre
possível recorrer à execução
específica (artigo 413.º C.C. –
Página

possibilidade de executar o
património a terceiro). Já em
383

relação aos contratos-


promessa com meros efeitos
obrigacionais, há situações
em que é possível recorrer à
execução específica,
nomeadamente quando não
foi prestado sinal ou perante
contrato de constituição ou
transmissão de fracção
autónoma de edifício.
 Regime do sinal (artigo
440.º e seguintes C.C.,
conjugados com o artigo
830.º C.C.) – cláusula
acessória do contrato-
promessa, constitui a
exigência do promitente
vendedor, entendida como a
medida da indemnização do
incumprimento do contrato-
promessa. Prescinde-se da
acção executiva específica,
aplicável em situação de
mora (≠ incumprimento
definitivo) e que constitui o
exercício de um verdadeiro
direito potestativo. Há certos
contratos de constituição ou
transmissão de direitos reais
em que, pago o sinal, a Lei
admite não se prescindir da
execução específica;
 A transmissão de direitos
reais a terceiro não permite
ao promitente fiel avançar
Página

com acção específica, mas


apenas indemnização;
384

 Requisitos da eficácia
real: requisitos de
validade: O objecto do
contrato-promessa tem se
ser um contrato com eficácia
real transmissiva ou
constitutiva. Isto é, não pode
atribuir-se eficácia real, por
ex., a um contrato-promessa
de comodato, ou de
prestação de serviços, de
trabalho ou de
arrendamento. Só será
possível atribuir eficácia real
a um contrato-promessa
quando o seu objecto seja
um contrato com eficácia
real. E não qualquer eficácia
real: tem de ser transmissiva
ou constitutiva. O objecto do
contrato prometido pode ser
um imóvel ou móvel sujeito a
registo.
• A forma: A partir de
2006, verificou-se uma
desformalização das
exigências para a
celebração de contrato-
promessa. Ao nível da
forma, exige-se
escritura pública ou
documento particular
autenticado, levando o
respectivo documento
ao registo predial para
Página

publicitação.
385

○ Pacto de preferência (artigos


414.º e seguintes C.C.)
 Contrato pelo qual alguém
assume a obrigação de, em
igualdade de condições
escolher determinada pessoa
como seu contraente, no
caso de se decidir a celebrar
determinado negócio;
 Os pactos de preferência não
têm apenas por objecto a
compra e venda, mas
também outros contratos,
como o arrendamento, o
aluguer, o contrato de
fornecimento, a sociedade de
parceria, etc. De modo geral,
pode dizer-se que os pactos
de preferência são admitidos
em relação à compra e
venda (art. 414º CC) e
relativamente a todos os
contratos onerosos em que
tenha sentido a opção por
certa pessoa sobre quaisquer
outros concorrentes (art.
423º CC).
 Dar preferência, significa
escolher
preferencialmente para
contraparte no contrato,
a pessoa do credor no
pacto de preferência,
desde que esse sujeito se
disponha a celebrar
Página

contrato que é o objecto


da preferência, tanto por
386

tanto, seja, em igualdade


de condições com aquelas
que são oferecidas ao
obrigado à preferência
por um qualquer terceiro;
 A obrigação de dar
preferência não importa a
obrigação de realizar o
negócio a que a mesma
respeita, como sucede no
contrato-promessa (art.
410º CC). A vinculação
assumida pelo obrigado à
preferência é condicional:
se contratar, ele promete
preferir certa pessoa a
qualquer outro
interessado;
 O titular de preferência
apenas exige notificação
daquele que manifesta
vontade de vender, gozando
da faculdade de, dentro do
prazo definido (existe um
prazo supletivo no Código
Civil – artigo 416.º, n.º2 – de
oito dias), manifestar o
exercício ou não do direito de
preferência;
 Ao lado da preferência de
origem negocial, há direito
legais de preferência (que
são direitos reais de
aquisição), destinados a
facilitar, na maioria dos
Página

casos, a extinção de
situações que a facilitar, na
387

maioria dos casos, a extinção


de situações que não são as
mais consentâneas da boa
exploração económica dos
bens (arts 1409º e 2130º;
1535º e 1555º/1; 1830º, etc.
CC);
 Em caso de incumprimento
do pacto de preferência:
• Se for obrigacional,
existe direito a
indemnização;
• Se for real, existe a
possibilidade de recurso
a tribunal, para
substituição da venda
em falta (acção de
preferência.

 Nos termos do n.º2 do artigo


442.º C.C., por
incumprimento do
promitente vendedor, pode
haver lugar a indemnização
do promitente-comprador,
pelo aumento do valor do
bem.

○ Contratos tipificados
 Compra e venda (art. 874º
e segs. CC)
 Doação (art. 940º e segs.
CC)
 Sociedade (arts. 980º e
Página

segs. CC)
 Locação (art. 1022º segs.
388

CC)
 Parceria pecuária (art.
1121º segs. CC)
 Comodato (arts 1129º e
segs. CC)
 Mútuo (arts. 1142º segs. CC)
 Contrato de trabalho (art.
1152º CC)
 Prestação de serviços (art.
1154º CC)
 Mandato (art. 1157º segs.
CC)
 Depósito (art. 1185º segs.
CC)
 Empreitada (art. 1207º
segs. CC)
 Renda perpétua (art. 1231º
segs. CC)
 Renda vitalícia (art. 1238º
segs. CC)
 Jogo e aposta (art. 1245º
CC)
 Transacção (art. 1248º
segs. CC)

 Negócios Unilaterais (art. 457º segs. CC)


• Submetidos a um princípio da
taxatividade, só são reconhecido
como fonte de obrigações os casos
previstos na lei, sendo o contrato,
consequentemente, a fonte normal das
obrigações ex negotio. O art. 457º CC
afirma que “a promessa unilateral de
Página

uma prestação só obriga nos casos


previstos na lei”;
389

• O negócio jurídico unilateral é na sua


estrutura sempre unilateral, isto é,
composto por uma única declaração de
vontade ou um conjunto de
declarações de vontades, tidas com o
mesmo sentido. Apenas intervêm, um
sujeito jurídico, ou podem intervir
vários sujeitos jurídicos cujas
declarações são paralelas; são
declarações que têm o mesmo
conteúdo e, portanto, há apenas uma
parte;
• Há dois casos que, não sendo fontes de
obrigações, estão previstos nesta
secção: a promessa de
cumprimento e o reconhecimento
de dívida40 (artigo 458.º C.C.)
○ A lei admite que, através do acto
unilateral, se efectue a promessa
de uma prestação ou
reconhecimento de uma dívida,
sem que o devedor indique o fim
jurídico que o leva a obrigar-se,
presumindo-se a existência e a
validade da relação fundamental.
Mas trata-se de uma simples
presunção, cuja prova em
contrário produzirá as
consequências próprias da falta
de licitude ou da imortalidade da
causa dos negócios jurídicos.
Trata-se de negócios causais
apenas se dando uma inversão
no ónus da prova.
○ A existência destes negócios
Página

serve apenas para dispensar o


credor de provar a fonte da
390

obrigação: presume-se que a

40 O reconhecimento de dívida é frequentemente utilizado, assumindo maior


relevância na actualidade. Atente-se nesta situação: se um cheque para pagamento
de dívida não for levantado no prazo de 8 dias (prazo de prescrição), este não
poderá ser utilizado como título executivo para apresentar acção executiva. Assim,
em alternativa, considera-se que o cheque vale como simples documento escrito,
recognitivo de pagamento de dívida, no qual não consta a causa da obrigação. Para
ultrapassar este entrave, aplica-se o artigo 458.º C.C., presumindo-se a causa
enquanto o devedor não ilidir a existência da causa.
fonte existe, até que o devedor
prove que não existe;
○ A promessa de cumprimento e o
reconhecimento de dívida têm
que constar de documento
escrito, salvo se para a prova da
fonte fosse necessário um
documento de força probatória
superior;
○ Mas, existem alguns negócios
jurídicos unilaterais que são fontes
de obrigações: a promessa
pública (artigo 459.º C.C.) e o
concurso público (artigo 463.º
C.C.).

 Gestão de negócios (art. 464º segs. CC)


○ À intervenção, não autorizada
(implica desconhecimento do
dono do negócio), das pessoas
(gestor de negócios) na direcção
de negócio alheio, feita no
interesse e por conta do
respectivo dono, dá-se o nome
de gestão de negócios (art. 464º
CC);
○ A Lei atribui eficácia jurídica a
Página

uma situação de ingerência, por


falta de autorização do dono do
391

negócio;
○ Visa-se fomentar a solidariedade
social;

○ Deveres do gestor
 São as obrigações do gestor
em face do dono do negócio
(art. 465º CC):
a) Continuação da
gestão: Uma vez iniciada, ao
agente já não é
inteiramente livre de
interrompê-la, quer pelas
compreensíveis expectativas
que a sua actuação é capaz
de ter criado, quer pelo
obstáculo que ela pode ter
constituído para a
intervenção de outras
pessoas, dispostas a levar a
gestão a bom termo. A lei
não impõe ao gestor, de
modo directo, o dever de
prosseguir a gestão
iniciada, mas
responsabiliza-o pelos
danos que resultarem da
injustificada interrupção
dela (art. 466º/1 CC).

b) Dever de fidelidade
ao interesse e à vontade
(real ou presumível) do
Página

dono do negócio: O gestor


responde ainda, pelos
392

danos que causar, por


culpa sua, no exercício da
gestão, e a sua actuação
considera-se culposa,
sempre que agir em
desconformidade com os
interesses ou a vontade,
real ou presumível, do
dono do negócio (art. 466º
CC). É a consagração prática,
indirecta do principal dever
que põe a cargo do gestor
(art. 465º-a CC). O dever de
obediência simultânea ao
interesse e à vontade do
dono tanto vale para os
termos em que a gestão deve
ser iniciada ou tem
cabimento legal, como para a
forma por que deve ser
exercida. A actuação do
gestor será regular
(isenta de culpa), se ele
pratica um acto contrário
à vontade (real ou
presumível) do dono do
negócio, mas conforme ao
interesse deste, desde
que a conduta (omissão),
desejada pelo dominus
seja contrária à lei ou à
ordem pública, ou
ofensiva dos bons
costumes. A conduta do
gestor será igualmente
Página

regular, se ele omitir o acto


ilícito que o dono praticaria e
393

optar pelo acto lícito que


mais favorece os seus
interesses. O gestor deve
abster-se de todos os actos
que saiba ou presuma serem
contrário à vontade real ou
presumível do dono, por mais
favorável que fundadamente
os julgue às conveniências do
interessado. Como deve
igualmente renunciar aos
actos que o dono não deixaria
de praticar, se tiver razões
para considerar lesivos dos
interesses em causa.

c) Entrega dos valores


detidos e prestação de
contas (art. 465º-e CC): As
contas devem ser prestadas,
logo que a gestão finda ou é
interrompida, ou quando o
dono as exigir, podendo a
prestação ser feita coactiva
ou espontaneamente.

d) Aviso e informação
do dono do negócio: Ao
gestor impõe-se o dever de
avisar o dono do negócio
logo que tenha
possibilidade de fazê-lo,
de que assumiu a gestão,
para que ele possa prover
como melhor entender; e
Página

ainda a obrigação de lhe


prestar todas as
394

informações relativas à
gestão, para que o
interessado possa
acompanhar a evolução desta
e tomar oportunamente as
providências que o caso
requeira.
○ Deveres do dono do negócio
 Desde que a gestão seja
regular, isto é, não tenha
havido infracção das
obrigações impedientes
sobre o gestor,
designadamente da
obrigação de actuação
conforme ao interesse e à
vontade do dominus.
Neste caso de regularidade
da gestão, o dono do
negócio é obrigado (art.
468º/1 CC) a reembolsar o
gestor de todas as
despesas que ele,
fundadamente, tenha
considerado
indispensáveis, com os
juros legais, contratados do
momento em que as
despesas foram feitas e até
ao momento em que o
reembolso se verifica.
Ø Obrigação de
reembolso de despesas:
são todas e apenas aquelas
Página

despesas que ele tenha


considerado indispensáveis
395

com fundamento, desde que


a situação objectivamente
justificasse o juízo de
indisponibilidade. A essas
despesas, acresce a
obrigação de pagamento dos
juros legais, correspondentes
ao montante de tais
despesas.
Ø A obrigação de
indemnização: a obrigação
de reembolso só existe
quando houve despesas
feitas pelo gestor e só existe,
se ele tiver sofrido
prejuízos com a gestão:
prejuízos que podem ser de
natureza patrimonial ou de
natureza não patrimonial.
Ø Obrigação de
remuneração do gestor:
esta depende de a actividade
desenvolvida pelo gestor
corresponder à sua
actividade profissional.

Uma vez que o dono do


negócio tenha conhecimento
da actividade de gestão, ele
pode, em relação a essa
actividade, tomar uma de
três atitudes:
1.º - Pode aprovar a gestão;
2.º - Pode nada dizer;
3.º - Pode desaprovar a
Página

gestão.
396

○ Aprovação: É uma declaração


negocial dirigida pelo dominus ao
gestor, declaração que não tem
de ser expressa, pode ser tácita,
cujo conteúdo é um juízo de
concordância global com a
actividade genérica.
Tem como efeitos jurídicos (art.
469º CC):
- A renúncia por parte do
dominus a qualquer direito
indemnizatório que ele tivesse, ou
pudesse ter, contra o gestor, por
incumprimento culposo e danoso
das obrigações do gestor;
- O reconhecimento, por parte do
dominus, ao gestor dos direitos de
reembolso de despesas, juros
legais e direito de indemnização
pelos danos causados (art. 468º/1,
1ª parte CC).

Se a gestão não for regular, se


houver incumprimento de alguma
obrigação por parte do gestor,
designadamente a obrigação de
se pautar pelo interesse e pela
vontade do dominus, então o
gestor apenas tem direito a ser
restituído daquilo com que tenha
empobrecido, por parte do
dominus, nos termos do
enriquecimento sem causa (art.
468º/2 CC).
Diversamente da aprovação, pode
Página

o dominus ratificar os actos


jurídicos praticados pelo gestor no
397

exercício da gestão, se ele os


praticou representativamente.
Se o gestor agiu em seu
próprio nome, isto é, não
comunicou ao terceiro com quem
celebrou os negócios, que estes
não eram dele, não eram para ele
e tudo se passou como se ele
fosse titular do interesse que o
negócio visava satisfazer, então
tem-se uma gestão não
representativa, ele actuou em
nome próprio.
Mas o gestor pode ter comunicado
ao terceiro que estava a actuar
em nome e por conta de outrem e
aí tem-se uma gestão
representativa. A
representação é a situação em
que alguém actua, realizando
actos ou negócios jurídicos, em
nome de outrem. O representante
pode ter ou não ter poderes.
Se a gestão se consubstanciou em
actos jurídicos e foi exercida em
seu próprio nome, então o regime
aplicável às relações com
terceiros é o regime de
mandato41 sem representação
(art. 471º CC), com aplicação do
artigo 268.º C.C., relativo à
procuração (representação sem
poderes, que só é válida, se
ratificada pelo dono do negócio).
Página

 Responsabilidade Civil (art. 483º segs.


398

CC)
• Trata-se da figura que, depois dos
contratos, maior importância prática e
teórica assume na criação dos vínculos
obrigacionais, seja pela

41 Regras do mandato (com e sem representação) a partir do artigo 1178.º C.C.


extraordinária frequência com que
nos Tribunais são postas acções de
responsabilidade, seja pela dificuldade
especial de muitos dos problemas que
o instituto tem suscitado na doutrina e
na jurisprudência;
• Na rubrica da responsabilidade civil,
cabe tanto a responsabilidade
proveniente da falta de cumprimento
das obrigações emergentes dos
contratos, de negócios unilaterais ou
da lei (responsabilidade contratual),
como a resultante da violação de
direitos absolutos ou da prática de
certos actos que, embora lícitos,
causam prejuízo a outrem
(responsabilidade extra-
contratual);
• Sob vários aspectos, responsabilidade
contratual e responsabilidade extra-
contratual funcionam como verdadeiros
vasos comunicantes;
• Por um lado, elas podem nascer do
mesmo facto e transitar-se facilmente
do domínio de uma delas para a esfera
normativa própria da outra;
• Por outro lado, é bem possível que o
mesmo acto envolva para o agente (ou
Página

o omitente), simultaneamente,
responsabilidade contratual, e
399

responsabilidade extra-contratual, tal


como é possível que a mesma
ocorrência acarrete para o autor, quer
responsabilidade civil, quer
responsabilidade criminal, consoante o
prisma sob o qual a sua conduta seja
observada.
• Regime jurídico da
responsabilidade civil
○ A expressão responsabilidade civil
é ambígua porque, dentro dela, há
que distinguir dois grandes
sectores:
a) A responsabilidade
obrigacional ou contratual: é
aquela que resulta do
incumprimento de direitos
subjectivos de crédito, do
incumprimento de obrigações em
sentido técnico-jurídico;
b) Responsabilidade extra-
obrigacional: extra-contratual,
delitual ou aquiliana, está prevista
e regulada nos arts. 483º segs. CC.

Nesta definição do quadro da


responsabilidade civil em sentido
amplo, é preciso ainda ter em
conta que, quer no campo da
responsabilidade extra-
obrigacional, quer no campo da
responsabilidade obrigacional,
ainda há dois subsectores:
Responsabilidade subjectiva,
Página

quando ela depende da


existência de culpa do agente,
400

de culpa do autor da lesão;


Responsabilidade objectiva,
quando o agente se constitui na
obrigação de indemnizar
independentemente de culpa.
○ RESPONSABILIDADE POR
FACTOS ILÍCITOS
 Pressupostos
A simples leitura do art.
483º/1 CC, mostra que vários
pressupostos condicionam,
no caso da responsabilidade
por factos ilícitos, a
obrigação de indemnizar o
lesante:
a) Facto / Acção
(controlável pela vontade do
homem – acção humana e
voluntária)
• O elemento básico da
responsabilidade do
agente é a prática de
um facto dominável ou
controlável pela
vontade, um
comportamento ou uma
forma de conduta
humana, pois só quanto
a factos dessa índole
têm cabimento a ideia
de ilicitude, o requisito
da culpa e a obrigação
de reparar o dano nos
Página

termos em que a lei a


impõe;
401

• Este facto consiste, em


regra, num acto, numa
acção, ou seja, num
facto positivo, que
importa a violação de
um dever geral de
abstenção, do dever de
não ingerência na
esfera de acção do
titular do direito
absoluto. Mas pode
traduzir-se também
num facto negativo,
numa abstenção ou
numa omissão (art.
486º CC);
• Quando se alude a facto
voluntário do agente,
não se pretende
restringir os factos
humanos relevantes em
matéria de
responsabilidade dos
actos queridos, ou seja,
àqueles casos em que o
agente tenha
prefigurado
mentalmente os efeitos
do acto e tenha agido
em vista deles;
• O que está geralmente
em causa no domínio da
responsabilidade civil
são puras acções de
facto, praticadas sem
Página

nenhum intuito
declarativo.
402

b) Ilicitude
• O Código Civil procurou
fixar, em termos mais
precisos, o conceito de
ilicitude, descrevendo
duas variantes, através
das quais se pode
relevar o carácter anti-
jurídico ou ilícito:
1) Violação de um
direito de outrem
(art. 483º CC): os
direitos subjectivos
aqui abrangidos, são,
principalmente, os
direitos absolutos,
nomeadamente os
direitos sobre as
coisas ou direitos
reais, os direitos de
personalidade, os
direitos familiares e a
propriedade
intelectual. Implica
indemnização ou
compensação.

2) Violação da lei que


protege interesses
alheios: trata-se da
infracção das leis que,
embora protejam um
direito subjectivo, não
Página

o atribuam
directamente (por
403

exemplo: regras sobre


a concorrência de
mercado) e de leis
que, tendo também
ou até principalmente
em vista a protecção
dos interesses
colectivos, não
deixam de atender
aos interesses
particulares
subjacentes.

Além disso, a previsão


da lei abarca ainda a
violação das normas que
visam prevenir, não a
produção do dano em
concreto, mas o simples
perigo de dano em
abstracto.
Para que o lesado tenha
direito à indemnização,
três requisitos se
mostram indispensáveis:
1) Que a lesão dos
interesses do particular
corresponda a violação
de uma norma legal;
2) Que a tutela dos
interesses dos
particulares figure, de
facto, entre os fins da
norma violada, ainda
que não sejam
Página

conferidos direitos
subjectivos42;
404

3) Que o dano se tenha


registado no círculo de
interesses privados que
a lei visa tutelar.

42 A norma do Código da Estrada que proíbe a emissão de sinais sonoros próximo


de hospitais visa, apenas, proteger a tranquilidade dos doentes, não sendo aplicável
a quaisquer outras situações.
• Causas justificativas
de exclusão de
ilicitude
○ A violação do
direito subjectivo
de outrem ou da
norma destinada a
proteger interesses
alheios constitui,
em regra, um facto
ilícito; mas pode
suceder que a
violação ou ofensa
seja, coberta por
alguma causa
justificativa do
facto de afastar a
sua aparente
ilicitude;
○ O acto do
exercício de um
direito, ainda que
cause danos a
outrem, é um acto
lícito desde que o
direito seja
exercido em
Página

conformidade
com a boa fé,
405

com os bons
costumes, com o
fim económico e
social do direito
e respeitando as
regras de
compatibilização
de direitos do art.
335º CC. Isto é, em
todos os casos em
que o titular do
direito exerce
regularmente o
seu direito,
ainda que
prejudique
outrem,
normalmente
não comete um
acto ilícito;
○ Constituem causas
de justificação: as
formas de tutela
privada de
direitos (Acção
directa – art. 336º
CC; Legítima
defesa – art. 337º
CC; Estado de
necessidade – art.
339º CC), o
consentimento
do lesado e o
conflito de
deveres (o
Página

incumprimento de
um dever justifica-
406

se pelo
cumprimento de
outro).

c) Imputação do facto
ao lesante
• Para que o facto ilícito
gere responsabilidade,
é necessário que o
autor tenha agido com
culpa. Não basta,
portanto, reconhecer
que ele procedeu
objectivamente mal. É
preciso, nos termos do
art. 483º CC, que a
violação ilícita tenha
sido praticada com
dolo ou mera culpa.
Agir com culpa,
significa a adopção de
uma atitude contrária
às normas jurídicas, isto
é, actuar em termos de
conduta que merecem a
reprovação ou
censura do direito. E
a conduta do lesante é
reprovável, quando,
pela sua capacidade e
em face das
circunstâncias
concretas da situação,
se concluir que ele
Página

podia e devia agir de


outro modo.
407

• Fala-se em nexo de
imputação do facto
ao lesante (ou culpa)
para significar que não
basta que o agente
tenha praticado um
facto voluntário ilícito, é
preciso que ele possa
ser imputado ao
agente; e só é
imputado ao agente
quando o agente
actuou
culposamente.
• A culpa em sentido
amplo abrange duas
sub-modalidades:
○ 1. Culpa em
sentido estrito,
também designada
por mera culpa
ou negligência;
○ 2. Dolo.

• Verificando-se uma das


duas sub-modalidades,
significa que o nível de
diligência exigido ao
agente, na sua vida
quotidiana, não foi
cumprido;
• Há casos em que as
pessoas não têm os
requisitos para actuar
Página

culposamente. Para que


uma pessoa seja
408

susceptível do juízo de
culpabilidade, é
preciso que ela seja
imputável; para lhe
serem imputados actos,
é preciso que ela seja
susceptível de
imputação, que seja
imputável ou tenha
imputabilidade;
• Diz-se imputável a
pessoa com
capacidade natural
para prever os
efeitos e medir o
valor dos actos que
pratica e para se
determinar de
harmonia com o juízo
que faça acerca deles
(art. 488º CC). Ele
caracteriza-se:
○ Pela capacidade de
entendimento
mínimo, que
permite ao sujeito
prever as
consequências dos
seus actos;
○ E pelo mínimo de
liberdade, que lhe
permitia
determinar-se.
• É imputável o sujeito
que tem o mínimo de
Página

inteligência para
perceber alcance do
409

acto que pratica e que


tem liberdade de
determinação, isto é,
que é livre de decidir ou
não de praticar o acto;
• Pode dizer-se que para
haver responsabilidade
da pessoa
inimputável é
necessária a verificação
dos seguintes
requisitos:
a) Que haja um facto
ilícito;
b) Que esse facto tenha
causado danos a
alguém;
c) Que o facto tenha
sido praticado em
condições de ser
considerado culposo,
reprovável, se nas
mesmas condições
tivesse sido
praticado por pessoa
imputável;
d) Que haja, entre o
facto e o dano, o
necessário nexo de
causalidade;
e) Que a reparação do
dono não possa ser
obtida dos vigilantes
do inimputável;
f) Que a equidade
Página

justifique a
responsabilidade
410

total ou parcial do
autor, em face das
circunstâncias
concretas do caso.
• Artigo 488.º, n.º2 C.C. –
presunção de
inimputabilidade nos
menores de 7 anos e
nos interditos por
anomalia psíquica;
• A culpa (art. 487º CC)
exprime um juízo de
reprovabilidade pessoal
da conduta do agente: o
lesante, em face das
circunstâncias
específicas do caso,
devia e podia ter agido
de outro modo. É um
juízo que assenta no
nexo existente entre
o facto e a vontade
do autor, e pode
revestir duas formas
distintas: o dolo e a
negligência ou mera
culpa:
○ Há dolo, quando o
agente actuou
de forma a
aceitar, a
admitir, as
consequências
ilícitas da sua
conduta. Diz-se
Página

dolosa a conduta
quando o
411

agente, não
tendo previsto
as
consequências
danosas e ilícitas
que do seu acto
iriam resultar,
não fez nada
para as afastar,
porque as
admitiu;
○ Há mera culpa,
quando o agente
actuou
levianamente,
imponderadament
e,
negligentemente,
sem cuidado ou
sem atenção,
quando o agente,
numa palavra, não
empregou a
diligência que o
bom pai de
família, colocado
naquela
situação, teria
empregado.

• Modalidades de culpa
○ A distinção entre
dolo e a
negligência, como
Página

modalidades de
culpa, aparece
412

logo referida na
disposição que
constitui a trave-
mestra de toda a
construção
legislativa da
responsabilidade
civil (art. 483º/1
CC). O dolo
aparece como
modalidade mais
grave da culpa,
aquela em que a
conduta do agente,
pela mais estreita
identificação
estabelecida entre
a vontade deste e
o facto, se torna
mais fortemente
censurável. As
modalidades de
dolo são:
 Dolo
directo,
quando o
agente
actuou para
obter a
consequência
ilícita danosa
obteve,
tendo-a
efectivament
e obtido; o
Página

agente agiu,
de modo
413

intencional,
para o
resultado
ilícito (+
grave);
 Dolo
necessário,
quando o
agente não
tinha como
objectivo do
seu
comportame
nto o
resultado
ilícito, mas
sabia que o
seu
comportame
nto ia ter,
como
resultado
inevitável,
um ilícito;
 Dolo
eventual,
quando o
agente
prefigura a
consequênci
a ilícita e
danosa
como uma
consequênci
a possível
Página

do seu
comportame
414

nto e não
faz nada
para a
evitar,
conformand
o-se com o
resultado (-
grave).

○ Além do nexo
entre facto ilícito
e a vontade do
lesante, que
constitui o
elemento
volitivo ou
emocional do dolo,
este compreende
ainda um outro
elemento, de
natureza
intelectual
(elemento de
ciência). Para que
haja dolo, é
essencial o
conhecimento
das
circunstâncias
de facto que
integram a
violação do
direito ou da
Página

norma
tuteladora de
415

interesses
alheios e a
consciência da
ilicitude do
facto.
• Mera culpa ou
negligência
○ Consiste na
omissão da
diligência
exigível do
agente.
○ Há culpa
consciente,
quando o agente
representou a
possibilidade da
consequência
ilícita danosa e
só actuou
porque se
convenceu, de
modo infundado,
que conseguiria
evitar a
produção dessa
consequência (+
grave);
○ Há culpa
inconsciente, o
agente não
previu o
resultado, não
Página

pensou nisso e
ele ocorreu (-
416

grave);
○ A mera culpa
(consciente ou
inconsciente)
exprime uma
ligação da pessoa
com o facto
menos incisiva
do que o dolo,
mas ainda assim
reprovável ou
censurável. O
grau de
reprovação ou de
censura será tanto
maior quanto mais
ampla for a
possibilidade de a
pessoa ter agido
de outro modo, e
mais forte ou
intenso o dever de
o ter feito.

d) Dano
• Para haver obrigação de
indemnizar, é condição
essencial que haja
dano, que o facto
ilícito culposo tenha
causado um prejuízo
a alguém;
• O dano é o prejuízo que
um sujeito jurídico sofre
ou na sua pessoa, ou
Página

nos seus bens, ou na


sua pessoa e nos seus
417

bens;
• a) Danos
emergentes: é a
diminuição verificada
no património de
alguém, em
consequência de um
acto ilícito e culposo de
outrem, ou de um acto
constitutivo de
responsabilidade civil
para outrem, ainda que
não seja ilícito e
culposo;
• b) Lucros
cessantes: quando em
consequência do acto
gerador de
responsabilidade civil,
deixa de auferir
qualquer coisa que
normalmente teria
obtido se não fosse o
acto que constitui o
agente em
responsabilidade;
• Danos não
patrimoniais ou
morais (artigo 496.º
C.C.): ao contrário dos
danos patrimoniais, são
os danos que se
traduzem na lesão de
direitos ou interesses
Página

insusceptíveis de
avaliação pecuniária.
418

O princípio da
ressarcibilidade dos
danos não patrimoniais
é limitado à
responsabilidade civil
extra-contratual. E
não deve ser ampliado
à responsabilidade
contratual, por não
haver analogia entre os
dois tipos de situações.
Estes danos têm de ser
graves (conceito
indeterminado a ser
definido pelos
tribunais), dependo, por
isso, merecer a tutela
do Direito. O n.º2 do
artigo 496.º C.C.
constitui uma norma
especial para
indemnização no caso
de morte. Isto reporta-
nos à matéria da
admissibilidade do
“dano morte”. A maioria
da doutrina considera
relevante autonomizar o
dano morte, dada a
impossibilidade de o
falecido ser titular do
direito de
indemnização,
sucedendo nesta
posição as
Página

personalidades mais
próximas da vítima;
419

• Dano é presente ou
futuro, consoante já se
verificou ou ainda não
se verificou no
momento da apreciação
pelo Tribunal do direito
à indemnização; isto é,
futuros, são todos os
danos que ainda não
ocorreram no momento
em que o Tribunal
aprecia o pedido
indemnizatório, mas
cuja ocorrência é
previsível e provável;
• A gravidade do dano há-
de medir-se por um
padrão objectivo, e não
à luz de factores
subjectivos. Por um
lado, a gravidade
apreciar-se-á em função
da tutela do direito: o
dano deve ser de tal
modo grave que
justifique a concessão
de uma satisfação de
ordem pecuniária ao
lesado;
• A reparação obedecerá
a juízos de equidade
tendo em conta as
circunstâncias
concretas de cada caso
(art. 496º/3 CC – 494º
Página

CC);
• A indemnização fixada
420

tem especialmente
em conta a situação
económica do agente
e do lesado e é assim
mais uma reparação do
que uma compensação,
mais uma satisfação do
que uma indemnização.

e) Um nexo de
casualidade entre o facto
e o dano
• Para que o dano seja
indemnizável, é forçoso
que ele seja
consequência do facto
ilícito e culposo no
domínio da
responsabilidade
subjectiva extra-
obrigacional, facto não
culposo no domínio da
responsabilidade
objectiva, onde o facto
gerador do dano pode
mesmo ser um facto
lícito;
• Em qualquer caso, e,
portanto, em qualquer
das modalidades da
responsabilidade civil,
tem sempre que haver
uma ligação causal
Página

entre o facto e o
dano para que o
421

actor do facto seja


obrigado a
indemnizar o prejuízo
causado (artigo 563.º
C.C.);
• Teoria da
Causalidade
Adequada – impõe,
num primeiro momento,
a existência de um facto
naturalístico (acto
ilícito), condicionante de
um dano sofrido, para
que este seja reparado.
Depois, ultrapassado
aquele primeiro
momento, pela positiva,
a teoria da causalidade
adequada impõe que o
facto concreto apurado
seja, em geral e em
abstracto, adequado e
apropriado para
provocar o dano
(conditio sine qua non).
A teoria da causalidade
adequada apresenta
duas variantes: uma
formulação positiva e
uma formulação
negativa. Na formulação
negativa, o facto que
actuou como condição
do dano deixa de ser
considerado como
Página

causa adequada,
quando para a sua
422

produção tiverem
contribuído,
decisivamente,
circunstâncias
anormais,
extraordinárias ou
anómalas, que
intercederam no caso
concreto, não havendo
lugar a
responsabilização dos
sujeitos. Por mais
criteriosa, deve reputar-
se adoptada pela nossa
lei a formulação
negativa da teoria da
causalidade adequada43.

○ RESPONSABILIDADE EXTRA-
OBRIGACIONAL PELO RISCO OU
OBJECTIVA
 A responsabilidade pelo risco
é abrangida pelo n.º2 do
artigo 483.º C.C., na medida
em que não depende da
culpa do agente. Este
agente está na
impossibilidade de escolher
entre atitude conforme ou
desconforme com o Direito;
 A obrigação de
indemnizar nasce do risco
inerente de certas
actividades e integra-se
nelas, independentemente
de dolo ou culpa;
Página
423

43 Se a autora se lançou para a porta do comboio e iniciou a descida da


carruagem em direcção ao cais ou à plataforma da estação e saiu dele quando o
serviço da paragem já estava concluído, a ordem de partida já tinha sido dada e o
comboio já tinha iniciado a sua marcha, e se aquela se desequilibrou com o impulso
do andamento do comboio e caiu à linha, só a mesma autora pode ser considerada
a única culpada pelo acidente de que foi vítima, em termos de causalidade
adequada (Acórdão de Supremo Tribunal de Justiça nº 07A701, de 17 Abril 2007).
 Por força da remissão feita
no artigo 499º CC, deve
aplicar-se à responsabilidade
pelo risco o disposto no art.
494º CC. O facto de a
responsabilidade
objectiva não depender
de culpa do agente, não
impede que a
indemnização seja fixada
em montante inferior ao
dano, quando a situação
económica do responsável
pelo risco e do lesado e
as demais circunstâncias
o justifiquem;
 Elenco taxativo de
situações previstas:
• Responsabilidade do
comitente (artigo
500.º C.C.) - Aquele que
encarrega outrem de
qualquer comissão
responde,
independentemente de
culpa, pelos danos que
o comissário causar,
desde que sobre este
Página

recaia também a
obrigação de
424

indemnizar;
• Responsabilidade do
Estado e de outras
pessoas colectivas
públicas (artigo 501.º
C.C.);
• Danos causados por
animais (artigo 502.º
C.C.);
• Acidentes causados
por veículos (artigo
503.º C.C.);
• Colisão de veículos
(artigo 506.º C.C.);
• Danos causados por
instalações de
energia eléctrica ou
gás (artigo 509.º C.C.).

 É manifestamente difícil
provar a culpa em
actividades economicamente
vantajosas, como acidentes
de viação. Daí que se
prescinda da prova de culpa
por parte da vítima, para a
proteger.

○ RESPONSABILIDADE POR FACTOS


LÍCITOS
 O acto pode ser lícito e
obrigar, todavia, o agente a
reparar o prejuízo que a sua
prática porventura cause a
Página

terceiro;
425

 A licitude do acto não afasta


necessariamente o dever de
indemnizar o prejuízo que,
num interesse de menor
valor sofreu o dono da coisa
usada, destruída ou
danificada. E, por isso, se
impõe nuns casos, e se
admite noutros, a fixação da
indemnização a cargo do
agente ou daqueles tiraram
proveito do acto ou
contribuíram para o estado
de necessidade (art. 339º/2
CC).

 Enriquecimento sem causa (art. 473º


segs. CC)
• Natureza subsidiária da obrigação de
restituir (artigo 474.º C.C.);
• Artigos 475.º e seguintes – situações
específicas;
• Exemplos de aplicação:
○ No caso de transferência bancária
para conta errada, em que não há
hipótese de recurso a outra fonte
para restituir;
○ No caso de não devolução do
dinheiro que foi emprestado a
outrem e acabou por não ser
aplicado para a causa devida.
• Prescrição da obrigação de
restituir – aplica-se o prazo previsto
no artigo 482.º C.C. (três anos, a
contar da data em que o credor teve
Página

conhecimento do direito que lhe


compete e da pessoa do responsável),
426

sem prejuízo do prazo ordinário de 20


anos, consagrado no artigo 309.º C.C.,
se tiver decorrido este prazo a contar
do enriquecimento;
• Medida da obrigação de restituir –
pode haver um duplo limite de
restituição: para além do valor
calculável de enriquecimento sem
causa, existe o empobrecimento do
empobrecido, que também deve ser
considerado.

Página
427

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