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FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O professor de história Carlos, 42, fala sozinho às vezes. Seu coração, conta, dispara
sem motivo aparente. "Não conseguia controlar os alunos. Queria passar o conteúdo,
poucos me ouviam. Foi me dando uma angústia. Fiquei nervoso."
Não era assim. "Eu era bem calmo", afirma, referindo-se ao período anterior a 2004,
quando entrou como docente temporário na rede de ensino paulista.
Aprovado um ano depois em concurso, foi considerado apto a dar aulas, na zona sul da
capital. Passados três anos, obteve uma licença médica, que se renova até hoje, sob o
diagnóstico de disforia -ansiedade, depressão e inquietude.
Carlos espera nova perícia. Quer se tornar readaptado -situação de servidores com
graves problemas de saúde, que ficam ao menos dois anos afastados da sala de aula.
Fazem atividades administrativas na secretaria e na biblioteca, por exemplo.
De janeiro até a última sexta-feira, 194 docentes (mais de um por dia) da rede paulista
foram readaptados, aponta levantamento da Folha no "Diário Oficial". Pelos cálculos da
professora Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol, que fez uma pesquisa financiada pela
Secretaria da Educação, 8% de todos os professores da rede estão readaptados.
Os casos mais recorrentes são problemas nas cordas vocais, na coluna e psicológicos. A
autora do estudo é ela própria uma professora readaptada.
Entre os servidores da Educação, o índice desse tipo de afastamento é maior que dos
demais: 79% dos readaptados trabalham nas escolas, categoria que soma 53% do
funcionalismo.
"Em 2002, precisei me ausentar por problemas nas cordas vocais. Ficava muito rouca,
no final da semana mal conseguia falar"
MARIA DE LOURDES PEZZUOL
Professora readaptada
"Esta geração [de estudantes] é muito ativa. O professor se vê frustrado dia a dia por
não conseguir atenção deles"
RUDÁ RICCI
sociologo
Especialidades são das áreas em que servidores mais têm problemas e são as
maiores causas de absenteísmo
Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol, docente que está afastada das aulas desde 2002 por problemas
nas cordas vocais
DE SÃO PAULO
PREVENÇÃO
Segundo a Secretaria da Educação, o programa é inédito no país. "Vamos atuar na
prevenção de agravos, para que os professores faltem menos e estejam mais dispostos, o
que impactará na qualidade de ensino", afirma Fernando Padula.
Sobre o número de docentes readaptados, o governo estadual afirma que o índice vem
caindo, tomando como base os dados fechados por ano. Em 2007, foram 902; no ano
passado, 341.
(FÁBIO TAKAHASHI)
ANÁLISE
DEPOIMENTO