AUTOS DE REEXAME NECESSÁRIO N.º 413630-1, DE CASCAVEL - 3ª
VARA CÍVEL REMETENTE - JUIZ DE DIREITO AUTOR - ELVIO ANTÔNIO CAMPOS RÉU - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE. RELATOR - JUIZ CONV. KÜSTER PUPPI.
EMENTA - REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA -
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - ILEGALIDADE DA PORTARIA - AUSÊNCIA NO DOCUMENTO DE INDICIAMENTO E OMISSÃO DO FATO E DA INFRAÇÃO SUPOSTAMENTE COMETIDA PELO IMPETRANTE - FALTA DE CITAÇÃO - OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL , DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - CONFIRMAÇÃO DA DECISÃO EM SEDE DE REEXAME.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Reexame Necessário n.º 413630-
1, de Cascavel - 3ª Vara Cível, em que é remetente o Sr. Juiz de Direito, autor Elcio Antônio Campos e réu Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. Elvio Antônio Campos propôs mandado de segurança em face do Reitor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, alegando, em síntese que é professor do ensino superior da UNIOESTE, e que no mês de 06/2006 recebeu o Memorando de nº 02/2006-GRE, que informava a respeito da instalação de Comissão de Processo Administrativo instituída pela portaria nº 1785/2006-GRE. Foi convocado para prestar esclarecimentos acerca dos Processos Administrativos protocolados sob o nº 18312/2006 e 18313/2003. No primeiro prestou depoimento porque tal processo surgiu por denúncias suas, já no segundo sustenta que os atos realizados após o relatório final da comissão de sindicância são ilegais, pois ofendem o os princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, todos aplicáveis no âmbito administrativo. Aduz a nulidade do processo administrativo instalado contra o impetrante por ausência de citação, tendo sido apenas oficiado, nos termos do Ofício nº 002/2006, para comparecer à sessão de esclarecimento, não tendo sido dada a oportunidade de apresentar defesa. Alega que a portaria nº 1785/2006-GRE não traz indiciamento de ninguém, tampouco especifica um fato certo e determinado, nem a figura infracional caracterizada ou a sanção em tese cabível. Requereu a concessão de liminar para que fosse determinada a cassação dos efeitos da portaria nº 1785/2006-GRE e que ao final, fosse tornada definitiva, sendo declarada a nulidade da portaria e dos atos praticados após o acolhimento do relatório final da comissão de sindicância. A liminar foi concedida, suspendendo o processo administrativo. O impetrado prestou informações, alegando que a portaria nº 1785/2006-GRE, foi expedida para apuração de infrações apontadas pela Comissão de Sindicância, que apurou denúncias feitas pela acadêmica Lucilaine de Assumpção contra o impetrante. Alega que o processo administrativo não precisa de todas as formalidades do processo judicial, e sustenta que a portaria fez menção à comissão constituída, delimitando o alcance das acusações, preenchendo os requisitos necessários a propiciar o exercício da ampla defesa e do contraditório. Aduz que inexistem nulidades de citação, visto que o impetrante foi citado devidamente através do ofício nº 002/2006, o qual solicitou seu comparecimento para prestar esclarecimentos. Parecer do Ministério Público, apontado que a portaria não informou de forma precisa o comportamento irregular do impetrante, e também, a inexistência de citação no processo administrativo. Pugnou pela concessão da ordem. Sobreveio decisão de fls. 236/242, tendo por procedente o pedido, tornando definitiva a segurança concedida, anulando a portaria nº 1785/2006-GRE, bem como todos os atos que dela se originaram. Custas por conta da autoridade coatora, sendo incabíveis na espécie condenação em honorários advocatícios. Recorrendo de ofício da decisão, remetendo os autos para este Egrégio tribunal de Justiça. Conforme certidão de fls. 243-v decorreu o prazo legal para a interposição de recurso voluntário e as partes não se manifestaram. Parecer da Douta Procuradoria Geral de Justiça às fls. 254/260 opinando pela manutenção da sentença em sede de reexame necessário.
É o relatório.
Estão presentes os pressupostos processuais para conhecimento do recurso.
Como bem assinalado no Parecer pela Douta Procuradoria Geral de Justiça, o recurso não merece provimento, devendo ser mantida a decisão em sede recursal. Após o desentendimento entre dois professores, um deles o impetrante, uma aluna que acompanhava o outro professor envolvido no fato, compareceu juntamente com este numa Delegacia de Policia para veicular uma queixa criminal contra o impetrante. Das declarações do segundo professor envolvido, se nota evidentes contradições, notadamente quanto afirma que se tratou apenas de um acidente, ter se chocado com o professor Elvio, quase derrubando-o, não obstante, essa versão, compareceu logo em seguida numa Delegacia de Policia, para oferecer uma queixa pela comportamento do outro professor, porque este teria se exaltado na ocasião. O fato que motivou o ato administrativo é ainda mais nebuloso, a mesma aluna compareceu em seguida na sala onde se encontrava o professor, supostamente agredido, o ora impetrante, fora de seu horário normal, sem qualquer outra justificativa para ingressar ali, sendo determinado que se retirasse porque não estava incluída entre os alunos aos quais deveria ser ministrada a aula. A mesma conforme declaração de outro aluno presente não fez qualquer objeção, dali saindo normalmente, sem qualquer evidência de incidente entre ela e o impetrante. Os depoimentos de fls. 136 e 137, dão clara compreensão dos fatos ocorridos na sala de aula, sem possibilitar qualquer interpretação diversa, senão da inexistência de qualquer constrangimento entre professor e aluna, ao revés, no depoimento de fls.131/132, aluna demonstra toda o seu descontentamento com o mesmo professor, aduzindo fatos sobre a não observância de grade, tecendo diversas críticas ao mesmo, quanto ao seu comportamento. Não obstante ter se retirado da sala, onde sequer devia estar, a mesma aluna Lucilaine de Assumpção, desta feita demonstrando uma sensibilidade excessiva, promover uma cena de choros, provocando a reação, de seu acompanhante na ocasião do primeiro fato, que sem outro motivo comprou a suposta briga para sua responsabilidade, e nas declarações que presta nas fls. 121 a 124, fruto de total desequilíbrio pessoal, veicula, a caracterização de delito contra a honra do impetrante, em todos os seus requisitos legais. Diante disto, merecem integral acolhida as considerações feitas pela Douta Procuradoria Geral de Justiça, que transcrevo na seqüência, adotando-as como razões do voto:
"A sentença merece mantença. Primeiramente, deve-se analisar a ofensa aos
princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório alegada pelo Impetrante, sob os argumentos de ausência de indiciamento prévio pela Comissão Sindicante, não delimitação do fato imputado, falta de indicação da correspondente infração praticada e da sanção cabível, e inexistência de citação. Da análise da Portaria n° 1.785/06 -GRE, evidencia-se a ausência dos fatos a serem apurados, bem como a falta de indicação do indiciado, remetendo-se, apenas, às fls.46 a 49 do relatório final do Processo CR 016424/05, sendo a motivação insuficiente para a instauração do processo administrativo. O inciso LV do artigo 50 da Constituição Federal aduz: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. A ofensa a estes princípios clareia-se na omissão do documento em relação à ciência do fato/infração atribuído ao servidor para que este possa defender-se. Neste sentido, tem-se o seguinte julgado:
"ADMINISTRATIVO. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
PROCESSO DISCIPLINAR. OMISSÃO DOS FATOS IMPUTADOS AO ACUSADO. NULIDADE. r PROVIMENTO. 1. A portaria inaugural e o mandado de citação, no processo administrativo, devem explicitar os atos ilícitos atribuídos ao acusado. Precedentes. 2. O servidor não pode defender-se de forma eficaz se lhe falta o conhecimento pleno e cabal das acusações que lhe são imputadas. 3. Embora dotado de informalismo, o processo administrativo deve obedecer às regras do devido processo legal, em virtude do princípio da legalidade, ao qual a Administração se encontra submetida, por expressa determinação constitucional." (STJ. MS 1 0756/DF. Relator: Min. Paulo Medina. Dj 30/10/2006. p.237).
Examinado a alegada carência de citação do docente autor, entende-se que o
documento de f.26 é mero chamamento para prestação de esclarecimentos, não podendo ser considerado como citação, pois não propiciou o conhecimento da acusação ao impetrante. Neste viés, o ilustre Juiz Rosaldo Elias Pacagnan explanou: No documento de fl.26 verifica-se o descumprimento do requisito típico da citação, pois não apresentou qualquer descrição do fato imputado ao servidor e os fundamentos legais infração disciplinar, além de não constar qualquer prazo ou oportunidade para o oferecimento de defesa a que se refere o art. 320 da Lei n° 6.174/70 (Estatuto dos Servidores Públicos do Estado do Paraná), in verbis. 'Art. 320. Após a lavratura do termo da instrução será feita no prazo de três dias a citação do indiciado ou indicia dos, para apresentação de defesa, no prazo de dez dias, facultada vista do r processo ao indiciado durante todo este prazo, na dependência onde funcione a respectiva comissão'. Oportuno o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:
"MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO. REITOR DE UNIVERSIDADE ESTADUAL. INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO POR RESOLUÇÃO CONJUNTA SEM A DESCRIÇÃO DOS FATOS A APURAR E INDICAÇÃO DAS INFRAÇÕES EM TESE COMETIDAS. INÉPCIA MANIFESTA. PEÇA INADEQUADA AO FIM A QUE SE DESTINA, COMPROMETENDO NO NASCEDOURO O PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. NULIDADE DECLARADA. INEXISTÊNCIA, AINDA, DE CITAÇÃO DO IMPETRANTE PARA O DESEMPENHO DA DEFESA E ACOMPANHAMENTO DA INSTRUÇÃO. EVIDENTE VIOLAÇÃO AO CONTRADITÓRIO E À DEFESA. SEGURANÇA CONCEDIDA. Consoante a jurisprudência consolidada: "A portaria instauradora do procedimento disciplinar administrativo, deve, necessariamente, ao lado da qualificação do indiciado, especificar os atos e fatos a apurar, bem como, os dispositivos legais tidos por infringidos, a fim de que possa aquele exercitar o direito de ampla defesa".(Acórdão n° 98.013624-5 2a C.C. TJSC Ap.C. em M.S. Rei. Des. Xavier Vieira). (Acórdão n° 4036. Mandado de Segurança n° 145.168-1. Relator: Sérgio Arenhart. julgamento: 22/04/2004)".
Corretamente concluindo o aludido Parecer Ministerial que vislumbra-se a
ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa, bem como a ilegalidade do ato administrativo, devendo ser mantida a segurança concedida para anulação da Portaria nº 1.785/06 - GRE baixada pela Reitoria da UNIOESTE. O voto é pela confirmação da sentença, em sede de reexame necessário.
Do exposto:
Acordam os Senhores Juízes integrantes da 7a Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em manter a sentença em sede de reexame necessário. O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador Antenor Demeterco Junior, com voto, com ele votou o Senhor Juiz Convocado Edison de Oliveira Macedo Filho.