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ARTIGO ARTICLE
um compromisso com a qualidade de vida
Cidades Saudáveis e seu interesse nada mais foi feito para resolver o problema
para a Saúde Coletiva da desigualdade social. Isso significa que o go-
verno, com seu modelo monetarista de desen-
No momento, quando se aproxima o final do volvimento, não tem sido capaz de dar conta
século, o cenário mundial se apresenta como das demandas por qualidade de vida da popu-
um movimento dinâmico de globalização no lação em geral e em especial da carente. Um
qual surgem, além de novas fronteiras econô- modelo mais humanista, em vez do adotado
micas, sociais e geográficas, crescentes confli- pelo governo – ou complementar a ele –, pre-
tos culturais, religiosos e humanos. cisa ser pensado para que o desenvolvimento
A situação mundial assume contornos di- brasileiro se torne sustentável e o país mais
ferenciados conforme o país e a região do mun- saudável.
do, havendo grandes desigualdades entre paí- Apesar de estarmos vivendo em um mun-
ses desenvolvidos e em desenvolvimento. do globalizado, as cidades que concentram
Na década de 1990 o Brasil continua sen- grandes contingentes de população vêm ga-
do um caso clássico de desenvolvimento desi- nhando, nos últimos anos, uma importância
gual. Um pequeno segmento da população tem significativa como espaço de intervenção e de
acesso a uma parcela substancial da crescente mobilização em torno de projetos comuns e
produção de bens e serviços, enquanto uma de interesses coletivos. Esses projetos necessi-
proporção muito grande é forçada a sobrevi- tam, para seu desenvolvimento, da solidarie-
ver com o restante. A minoria mais rica ado- dade social e da integração das políticas pú-
ta hábitos de consumo dos países desenvolvi- blicas urbanas.
dos e lança no ecossistema resíduos e dejetos Considerando os problemas urbanos con-
semelhantes aos das sociedades ricas. Entre- temporâneos e as possibilidades que a cidade
tanto, os pobres, com baixo nível de escolari- oferece para a realização de projetos sociais, a
dade, privados de água tratada e de condições Organização Mundial de Saúde (OMS) e suas
dignas de habitação, têm mais probabilidade agências regionais, como a Organização Pan-
de adotar um comportamento destrutivo em Americana da Saúde (OPAS), iniciaram o Mo-
relação ao meio ambiente e de degradá-lo com vimento Cidades Saudáveis, com o intuito de
um fluxo nocivo de dejetos. motivar governos e sociedade civil a desenvol-
Uma conseqüência imediata desse mode- ver estratégias, em diversos setores das políti-
lo de desenvolvimento adotado e da desigual- cas sociais, com a implementação de projetos
dade dele decorrente tem sido o grande im- interinstitucionais e intersetoriais, visando
pacto sobre as condições ambientais e as con- realizar ações de melhoria das condições de vi-
dições de saúde da população. A desnutrição da e saúde da população urbana e, portanto,
é ainda um obstáculo sério à saúde e ao desen- de sua qualidade de vida.
volvimento de recursos humanos, algumas Este artigo vai apresentar o projeto Cida-
doenças infecciosas reapareceram ou avança- des Saudáveis, conforme concebido pela OMS,
ram e a violência, o uso de drogas e a Aids vêm suas adaptações à realidade brasileira, as pos-
se tornando o maior desafio à manutenção da sibilidades e desafios que tem trazido para téc-
vida e da qualidade de vida nas cidades. nicos, acadêmicos, políticos e aos cidadãos de
Para resolver os problemas da inflação que nossas cidades, tendo em vista a melhoria da
pareciam ser responsáveis pela desigualdade qualidade de vida.
e exclusão social, foi criado o Plano Real. Res-
taurou-se a confiança no Estado, o que acar-
retou uma relativa estabilidade econômica. A Contexto histórico
inflação caiu de 40-50% ao mês, na primeira
metade do ano de 1994, para 2% na segunda Os principais pressupostos do Movimento Ci-
metade, continuando estabilizada até o fim do dades Saudáveis podem ser relacionados a an-
ano de 1998, quando a moeda brasileira foi tigas preocupações do movimento sanitário
desvalorizada em relação ao dólar (Roque & europeu do século XIX, que já reconhecia os
Correa, 1998). Independente da interpretação governos locais das cidades e as associações
que seja aceita do agravamento da desigual- comunitárias como importantes agentes no
dade, como mostram os dados da ONU recen- equacionamento dos problemas de saúde.
temente publicados, o fato é que, nos últimos Por volta de 1840, iniciou-se o processo de
quatro anos, além da estabilização da moeda, urbanização na Europa. Com a sua ampliação,
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são tenha sido levada a efeito em Toronto, pois bitam ocupam um espaço simbiótico e se or-
lá já havia iniciativas que caracterizavam a ci- ganizam sob um poder político como socie-
dade como inserida no Movimento Cidades dade civil. Ocupam também um espaço sim-
Saudáveis (Hancock, 1990). Participaram da bólico, que integra seus habitantes cultural-
reunião profissionais da área de saúde e de ou- mente, possibilitando a formação de uma
tras áreas, bem como políticos. Ao final, Duhl identidade coletiva, que dinamiza as relações,
(1986) discute o ideário de Cidades Saudáveis convertendo a cidade ainda em um espaço que
como uma utopia a ser alcançada. responde a objetivos econômicos, políticos e
O assunto interessou muito aos presentes, culturais da nossa época. Em função dessas
principalmente à representante do escritório concepções de cidade é que surge a proposta
europeu da OMS, que o assumiu como um de Cidades Saudáveis.
projeto estruturante do novo paradigma, ini- A proposta tem sido compreendida de vá-
ciando a sua divulgação nos países europeus. rias maneiras. Daí a importância de tentar res-
Em 1985, a OMS/Escritório Europeu elaborou ponder à seguinte questão: ao se mencionar
uma proposta de projeto de Promoção de Saú- cidades saudáveis está-se falando de uma for-
de, para ser desenvolvido em quatro ou seis ci- ma de avaliação, de um projeto ou de um mo-
dades européias, denominado Projeto Cida- vimento?
des Saudáveis. O começo oficial do projeto, Muitos técnicos, e até mesmo representan-
que deveria durar cinco anos, ocorreu em Lis- tes da população, acreditam que seja uma for-
boa em março de 1986. As primeiras 11 cida- ma de avaliação da cidade que vai permitir
des selecionadas adotaram os princípios defi- destacá-la para receber prêmios ou selos de
nidos na proposta de Saúde para Todos da Or- qualidade. Na verdade, esta não é a conotação
ganização Mundial de Saúde e os adaptaram que assume para a OMS e para os acadêmicos
às necessidades das cidades envolvidas, trans- defensores da proposta. De acordo com Han-
formando-os em programas locais de saúde e cock & Duhl (WHO/EURO/HCPO, 1988), ci-
desenvolvimento urbano. Cada cidade promo- dade saudável não é somente uma cidade com
veu a articulação entre setor público, setor pri- alto nível de saúde, medido pelos indicadores
vado e o voluntariado, para enfrentar, com de mortalidade e morbidade, mas é uma cida-
uma base mais ampla, os problemas de saúde de comprometida com os objetivos de saúde
urbana. Atualmente o projeto europeu cons- de seus cidadãos e envolvida em um trabalho
titui-se de 36 projetos localizados em 23 países. contínuo para atingi-los.
Existem também projetos em desenvolvimen- Cidades Saudáveis é o nome que se dá a um
to em todas as regiões do mundo, alguns bas- projeto de desenvolvimento social, que tem a
tante solidificados, e outros ainda fragilizados saúde e suas múltiplas determinações como
por diversas razões que comentaremos poste- centro de atenções. É também um movimen-
riormente (Goumans, 1997). to de luta por um estilo de desenvolvimento
No Canadá (Toronto) foi desenvolvida na sustentável, que satisfaça as necessidades das
mesma ocasião iniciativa semelhante. Em gerações atuais sem comprometer a capacidade
1987, após um seminário de avaliação do pro- das futuras de satisfazer suas próprias necessi-
jeto, mais 14 cidades aderiram ao programa. dades (Guimarães, 1999).
Como já foi dito, quando se discutiu o con-
ceito histórico de cidades saudáveis, sua con-
Conceito de Cidades Saudáveis cepção esteve ligada ao ideário da nova Saúde
Pública, ou melhor da ‘produção social da
A cidade, segundo Duhl (1963), pode ser en- saúde’, tendo surgido como evolução natural
tendida como uma estrutura geográfica na do movimento internacional de Promoção de
qual se vive e se trabalha. Pode também ser Saúde, apoiado pela OMS, que resumidamente
vista como uma entidade administrativa, ou a define como aquela na qual as políticas públi-
como uma estrutura social e comunitária. Ne- cas são favoráveis à saúde (Ashton et al., 1986).
la diferentes sistemas interagem, buscando o O objetivo estratégico dos postulantes da
equilíbrio urbano em meio a conflitos de po- proposta era motivar governos e sociedades
der e de relações. para a melhoria das condições de vida e saú-
Para Castells & Borja (1996) cada vez mais de da população urbana. Para isso precisavam
as cidades vêm assumindo o papel de atores desenvolver metodologias, em diversos seto-
sociais, uma vez que os cidadãos que nela ha- res de políticas sociais, com a implementação
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da são o objeto e a finalidade do projeto. O outras pessoas, formar identidades sociais, sen-
projeto europeu original considera os pré-re- tir-se integrado socialmente e em harmonia
quisitos da Carta de Ottawa como parâmetros com a natureza. Alguns autores expressaram
de qualidade de vida. Os pré-requisitos, esta- posições radicalizadas relacionadas à valori-
belecidos na I Conferência Internacional de zação de um dos dois fatores.
Promoção de Saúde, realizada em Ottawa (Ca- Atualmente verifica-se uma tendência pre-
nadá) e referendada nas subseqüentes, foram: ponderante de considerar os dois tipos de fa-
paz; posse de uma habitação que atenda à ne- tores na constituição de um conceito que com-
cessidade básica de abrigo, adequada em ter- preenda aspectos humanos e ambientais e ain-
mos de dimensões por habitante, condições da que tenha um componente que possa ser
de conforto térmico e outras; acesso a um sis- expresso monetariamente e cotejado com o
tema educacional eficiente, em condições que Produto Interno Bruto (PIB).
favoreçam a democratização da informação e Com base nessa comparação, podemos
formação dos cidadãos; disponibilidade de ali- afirmar que os pré-requisitos da Carta de Ot-
mentos em quantidade suficiente para o aten- tawa enfatizam os dois aspectos e incluem ren-
dimento das necessidades biológicas; promo- da como um componente que pode ser expres-
ção do crescimento e desenvolvimento das so monetariamente.
crianças e adolescentes e reposição da força de Importa ainda comparar com o conceito
trabalho; renda suficiente para o atendimen- muito em uso ultimamente e que tem servido
to às necessidades básicas e pré-requisitos an- para chamar a atenção dos administradores
teriores; recursos renováveis garantidos por para a desigualdade social: o Índice de Desen-
uma política agrária e industrial voltada para volvimento Humano (IDH), de autoria de
as necessidades da população e o mercado in- Nussbaum e Sen. Os autores, influenciados pe-
terno – não somente para exportação e impor- los conceitos de ética de Aristóteles e pelos con-
tação – e ecossistema preservado e manejado ceitos de Marx, elaboraram uma concepção da
de forma sustentável. Estes pré-requisitos pre- existência e do florescimento humano e a par-
cisam ser garantidos por políticas educacio- tir daí propuseram a forma atual de desenvol-
nais, agrícolas, ambientais, de transporte ur- vimento do IDH (Crocker, 1993). Dentro des-
bano voltadas para o objetivo amplo de saú- ta perspectiva da ética do desenvolvimento,
de, qualidade de vida e desenvolvimento hu- definem qualidade de vida a partir de dois con-
mano orientado por valores democráticos de ceitos: capacidade, que representa as possíveis
justiça e eqüidade (OPAS, 1996; Strozzi & Gia- combinações de potencialidades e situações
comini, 1996). que uma pessoa está apta a ser ou fazer; e fun-
A discriminação destes pré-requisitos, nes- cionalidade, que representa partes do estado
ta perspectiva ampliada da saúde, não permi- de uma pessoa – as várias coisas que ela faz ou
te mais que fique restrita ao setor saúde a res- é. Para Nussbaum e Sen, então, qualidade de
ponsabilidade pelas ações relacionadas às ques- vida pode ser avaliada em termos de capacita-
tões da qualidade de vida. Clama as diferen- ção para alcançar funcionalidades elementa-
tes instituições e os diferentes atores sociais a res (alimentar-se, ter abrigo, saúde) e as que
verificar como a sociedade está satisfazendo as envolvem auto-respeito e integração social (to-
necessidades básicas da população, a distribui- mar parte na vida da comunidade). A capaci-
ção de bens e serviços, as carências decorrentes tação dependerá de muitos fatores e condi-
de iniqüidades. Exige do Estado a garantia dos ções, inclusive da personalidade do indivíduo,
direitos humanos básicos. mas principalmente de acordos sociais. Com
Vários autores, especialmente aqueles li- este enfoque, os autores privilegiam a análise
gados às ciências sociais e à filosofia, vêm dis- política e social das privações, valorizando as
cutindo formas de conceituar qualidade de vi- oportunidades reais que as pessoas têm a seu
da (Berlinguer, 1983; Coimbra, 1979; Crocker, favor. Segundo Herculano (1998) qualidade de
1993; Herculano, 1998). A leitura destes auto- vida não deve ser entendida como um conjun-
res permitiu observar uma tensão constante to de bens, confortos e serviços, mas através
entre o fato de qualidade de vida ser determi- destes, das oportunidades efetivas das quais as
nada por fatores objetivos, tais como as con- pessoas dispõem para ser, realizações passadas
dições materiais necessárias a uma sobrevi- e presentes. Nessa perspectiva o bem-estar, ou
vência livre da miséria, ou por fatores subje- melhor, a qualidade de vida, tem como com-
tivos, como a necessidade de se relacionar com ponentes básicos: a questão política e a possi-
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do a saúde. Sedentarismo, alimentação inade- car outras alternativas como as indicadas pe-
quada, uso de tabaco e drogas vêm provocan- lo Movimento Cidades Saudáveis.
do mudanças nos padrões de mortalidade, fa-
zendo com que convivam a mortalidade e
morbidade por doenças infecciosas e crônico- Estratégias utilizadas pelos projetos
degenerativas. A busca de soluções ou a pre- Cidades/Municípios Saudáveis
venção de novos fatores de risco têm direcio-
nado a solução das doenças para o componen- As metas dos projetos Cidades Saudáveis não
te psicossocial da questão saúde-doença, agre- podem ser definidas em termos de situações
gando-o como causalidade aos tradicionais ideais, abstratas, ou de futuro. As estratégias
componentes orgânicos (Ministério da Saú- devem ser formas de atuar no cotidiano.
de, 1996). A opção de um prefeito por inserir seu mu-
O modelo econômico de desenvolvimen- nicípio no Movimento Cidades/Municípios
to, apesar de eficiente em aumentar o PIB, por Saudáveis, por exemplo, envolve outra opção:
exemplo, tem sido bastante excludente, sendo a de se dispor a mudar gradativamente a for-
responsável pelo aumento das desigualdades ma de administrar, tornando-se gestor social
sociais, aumento da violência e uso de drogas. do processo (Mendes, 1992).
A concepção de Estado liberal mínimo, que Esse novo papel pressupõe um compro-
parece estar sendo adotada por nossos gover- misso formal do administrador com a adoção
nantes, vem retirando dos Estados latino-ame- de políticas públicas saudáveis que possam mi-
ricanos, esfacelados pela dívida externa, as nimizar as desigualdades através de ações so-
obrigações sociais em relação a saúde e edu- bre os determinantes dos problemas de saú-
cação. O modelo de privatização do público da de, nos múltiplos setores em que se localizam.
esfera pública já foi assumido por alguns paí- Pressupõe, também, a existência de um plano
ses de nosso continente, inclusive o nosso, nos de governo baseado na resolução dos proble-
colocando frente a frente com a necessidade mas identificados, com base em indicadores
de discutir a ética desse processo (Habermas, de qualidade de vida. Este plano deve ter me-
1984). O Projeto Cidades Saudáveis acena pa- tas explícitas e objetivar a resolução de ques-
ra a necessidade de ampliação de parceiros en- tões relacionadas à eqüidade e desenvolvimen-
volvidos no diagnóstico e solução dos proble- to sustentado e ainda estabelecer mecanismos
mas e o estabelecimento de alianças, sem exi- para promover a responsabilidade e o contro-
mir o Estado de sua responsabilidade social. le social.
Os gastos com saúde, muito menores do O planejamento e a gestão devem ser in-
que os dos países desenvolvidos, não têm cor- tersetoriais e intersistêmicos, representando a
respondido ao aumento da esperança de vida. união do setor saúde com os demais. A inter-
A maior parte da população (cerca de 70%) setorialidade é a articulação de saberes e de ex-
depende do sistema público de saúde, embora periências na identificação participativa de
os recursos de saúde tenham se concentrado problemas coletivos, nas decisões integradas
em instituições centralizadas, privadas, espe- sobre políticas e investimentos, com o objeti-
cializadas em atividades curativas, empregan- vo de obter retorno social, com efeitos sinérgi-
do alta tecnologia, com altos custos. Esse in- cos, no desenvolvimento econômico-social e
vestimento em atividades curativas não tem na superação da exclusão social (Junqueira,
tido resultados correspondentes em termos de 1998; Inojosa, 1998). Representa uma mudan-
melhoria dos níveis de saúde. Tal constatação ça de atitude que deve predispor políticos, aca-
corresponde à análise da esperança de vida e dêmicos e técnicos para a interação e integra-
dos gastos com saúde em vários países, realiza- ção de saberes entre si e destes com a popula-
da pelo Banco Mundial, que demonstra que ção. Justifica-se pela própria complexidade da
os sistemas de saúde que se dedicam a ações realidade.
de Promoção de Saúde são avaliados como O deslocamento do conceito de desenvol-
mais efetivos pelas populações assistidas. vimento social do eixo de pobreza para a de-
A prática dos profissionais de saúde, em sigualdade exige a superação de propostas se-
experiências desenvolvidas em cidades e mu- torizadas, assistenciais, compensatórias, vol-
nicípios a partir do setor saúde, tem demons- tadas para o alívio de problemas decorrentes
trado claramente os limites da ação setorial da pobreza, por outras intersetoriais, de supe-
para resolver os problemas e os tem feito bus- ração destes problemas. Se os problemas de-
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e alianças entre os diferentes setores e segmen- pectiva de Cidades Saudáveis e têm tido resul-
tos da sociedade. O medo da cooptação, o con- tados relevantes.
flito capital-trabalho, tão incorporado pelos Para metrópoles como São Paulo, progra-
dois segmentos, burguesia e proletariado, tem mas com ações de ‘larga escala’ e de desenvol-
dificultado a busca da solidariedade para a vimento local são necessários. Tóquio, no Ja-
produção social da saúde. pão, que está longe de ser saudável, já está se
Outro aspecto que as avaliações têm de- preparando para enfrentar os problemas do
monstrado é que os projetos Cidade/Municí- terceiro milênio com armas mais eficientes. A
pios Saudáveis são estratégias efetivas, mas a estratégia de Cidades Saudáveis já está em cur-
longo prazo. A racionalização dos recursos e so na região metropolitana da capital daquele
a escolha adequada das medidas, assim como país. A questão da poluição ainda não está re-
o trabalho intersetorial, têm efeito sinérgico solvida, nem mesmo a do transporte coletivo,
na resolução de problemas. As experiências ca- mas o processo já está iniciado e os problemas
nadense, européia, de alguns países da Amé- aos poucos se resolvendo, com a participação
rica Latina, e agora também em algumas cida- da sociedade civil (Sanderson, 1996).
des do Paraná e São Paulo, têm demonstrado É importante lembrar, ainda mais uma vez,
que a proposta de Cidades Saudáveis é possí- que o fundamento político da sustentabilida-
vel, eficiente, mas que só é viável politicamen- de encontra-se estreitamente vinculado ao
te, com dirigentes estatais comprometidos com processo de fortalecimento da democracia e
a causa social, com a qualidade de vida da po- da construção da cidadania. Isso significa a in-
pulação (Strozzi & Giacomini, 1996). corporação plena dos indivíduos no processo
Muitos problemas relacionados à poluição de desenvolvimento, que se resume, no nível
do ar, recuperação do meio ambiente e trans- micro, à democratização da sociedade civil, e
porte urbano têm sido objeto de ações na pers- no nível macro, à democratização do Estado.
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