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As velhas, de Lourdes Ramalho

As Velhas, peça de Lourdes Ramalho, é um duelo manchado de rancor, amargura e paixão, que conserva
no texto toda a pureza da comunicação dos sertanejos. A obra de Lourdes Ramalho, ao mesmo tempo
em que preserva elementos culturais nordestinos com suas tramas cordelescas, falares entremeados de
regionalismos, denúncia da Indústria da Seca, mostra também personagens delineados psicologicamente,
como “Mariana” e “Vina”, apresentadas ao espectador no desenrolar da trama.

E no sertão o universo humano aparece, do amor ao ódio, do político-social ao familiar, os conflitos vão
permitindo ao espectador indagar, se indignar, sorrir ou chorar, já que cada um pode ver como seu olhar
lhe permite.

A autora mostra os humores alterados de duas matriarcas, a cigana Ludovina e a sertaneja Mariana. Com
rixas do passado mal resolvidas, elas se vêem envolvidas em uma armadilha do destino: o filho de uma e
a filha da outra se apaixonam. A situação caminha para o inevitável — as rusgas terão que ser passadas
a limpo. O mascate Tomás é quem faz a ligação entre as histórias das duas famílias.

O texto de Lourdes Ramalho toca em questões sociais (problemas agrários) e se aprofunda na condição
humana. O texto defende a família, defende princípios. Não se trata apenas da mulher nordestina.

Em As velhas, temos, como já citado, a denúncia da famigerada “indústria das secas”, no mesmo nível de
narrativa.

É uma peça carregada de regionalismo, mas que não se limita ao universo nordestino.

A autora desconstrói o rancor das duas senhoras de uma maneira admirável. E inverte estereótipos: a
cigana renunciou à natureza nômade em nome da família — e quem viaja para fugir da seca é a
sertaneja. As mulheres são fortes, mas ao mesmo tempo sucumbem diante do amor incondicional pelos
filhos.

Os textos da autora revelam uma poética satírica que se encaixa muito bem no humor produzido pela
comédia da cultura popular, herança deixada pelos ibéricos no homem do Nordeste do Brasil.

Lourdes Ramalho cria um Teatro pleno do imaginário e fantasia, abordando a realidade de forma nua e
crua, expondo e denunciando injustiças sociais, históricas ou políticas, transformando um homem
simples, num herói grandioso, patético e quixotesco.
Macunaíma, de Mário de Andrade
Análise da obra

O romance Macunaíma (O herói sem nenhum caráter), de Mário de Andrade, foi editado em 1928,
embora tenha sido escrito em quinze dias, no final de 1926, numa fazenda da família, em Araraquara,
interior de São Paulo, para onde o escritor tinha ido passar uns dias. Levou consigo, naquela ocasião, os
apontamentos de anos de trabalho e pesquisa sobre folclore brasileiro. Portanto, o folclore, nas suas
múltiplas manifestações, vem a ser a trama de Macunaíma.Acumula um despropósito de lendas,
superstições, frases feitas, provérbios e modismos de linguagem, tudo sistematizado e intencionalmente
entretecido, “feito um quadro de triângulos coloridos em que os pedaços, aparentemente juntados ao
acaso, delineiam em conjunto a paisagem do Brasil e a figura do brasileiro comum”, conforme assinala
muito bem Cavalcanti Proença.

Mário de Andrade teve indecisões ao classificar o livro. Primeiramente, chamou-o “história” em um dos
prefácios, querendo aproximá-lo dos contos populares pelo muito que, de comum, possui com esse
gênero. Mas não era um título preciso e lembrou chamá-lo de “rapsódia”. De fato, apresenta como as
rapsódias musicais uma variedade de motivos populares. Rapsódia é a maneira de cantar dos rapsodos
gregos. São também rapsódias os antigos romances versificados e musicados, as canções de gesta de
Rolando, a Encantada Branca-Flor e, nos nossos dias, as gestas de cangaceiros, entoadas nas feiras do
Nordeste pelos cantadores. Daí a aproximação com as epopéias medievais.

Macunaíma é, sem dúvida, uma das expressões mais caracterizadoras do advento do Modernismo no
Brasil. A fúria demolidora que caracterizou a primeira fase do nosso Modernismo (1922 – 1928) está aí
em todos os sentidos: a estrutura do romance e a língua, principalmente, vem aí barbaramente
violentadas na sua feição tradicional e acadêmica. Mas tentemos esboçar aqui o panorama cultural da
época para que se entenda bem a literatura que vem expressa no texto genial de Macunaíma.

O livro é constituído pelo encontro de lendas indígenas (sobretudo as amazônicas, recolhidas e


publicadas pelo etnólogo alemão Koch-Grünberg) e da vida brasileira cotidiana, da mistura de lendas e
tradições populares. O espaço e o tempo são arbitrários, o fantástico assume um ar de coisa corriqueira e
o lirismo da mitologia se funde a cada passo com a piada, a brincadeira, a malandragem nacional, que
Macunaíma encarna (é o “herói sem nenhum caráter”).

A montagem do caráter de Macunaíma, síntese de um presumido modo de ser brasileiro, apóia-se na


obra de Paulo Prado, Retrato do Brasil (1926), em uma tentativa de definição de um caráter nacional, que
Paulo Prado descreve como luxurioso, ávido, preguiçoso e sonhador.

Há, também, a presença de Freud na abordagem psicanalítica dos mitos e dos costumes primitivos, que
as teorias do inconsciente e da mentalidade pré-lógica propiciaram.

Espaço e tempo

As estripulias sucessivas de Macunaíma são vividas num espaço mágico, próprio da atmosfera fantástica
e maravilhosa em que se desenvolve a narrativa. Macunaíma se aproxima da epopéia medieval, pois tem
de comum com aqueles heróis a sobre-humanidade e o maravilhoso. Está fora do espaço e do tempo.
Por esse motivo pode realizar aquelas fugas espetaculares e assombrosas em que, da capital de São
Paulo foge para a Ponta do Calabouço, no Rio, e logo já está em Guarajá-Mirim, nas fronteiras de Mato
Grosso e Amazonas para, em seguida, chupar manga-jasmim em Itamaracá de Pernambuco, tomar leite
de vaca zebu em Barbacena, Minas Gerais, decifrar litóglifos na Serra do Espírito Santo e finalmente se
esconder no oco de um formigueiro, na Ilha do Bananal, em Goiás.

Macunaíma é um personagem enquanto marginal, anti-herói, fora-da-lei, na medida em que se contrapõe


a uma sociedade moderna, organizada em um sistema racional, frio e tecnológico. Assim, o tempo é
totalmente subvertido na narrativa. O herói do presente entra em contato com figuras do passado,
estabelecendo-se um curioso “diálogo com os mortos”: Macunaíma fala com João Ramalho (séc. XVI),
com os holandeses (séc. XVII), com Hércules Florence (séc. XIX) e com Delmiro Gouveia (pioneiro da
usina hidrelétrica de Paulo Afonso e industrial nordestino que criou a primeira fábrica nacional de linhas
de costura).

Temas

Complexo racial – A confluência racial em Macunaíma se evidencia desde o primeiro capítulo. Basta ver
que o her6i índio, nasce preto retinto: "No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa
gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande
escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é
que chamaram de Macunaíma." (Mac. 9)

Note-se igualmente que quem avisa que o herói é muito inteligente é o próprio Rei Nagô, figura africana:
"e numa pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente" (Mac. 10).

Mas onde esse complexo racial da nossa formação fica claro mesmo é na passagem do poço encantado
em que Mário de Andrade reúne os três tipos fundamentais da formação da raça brasileira: o índio, o
negro e o branco.

Apatia – A natureza apática do homem brasileiro, longe daquele dinamismo de que Mário de Andrade era
dotado e queria no brasileiro, é mostrada já na primeira frase de Macunaíma que encarna as nossas
virtudes e desvirtudes:

“- Ai! que preguiça!...”

A frase é repetida por todo o livro com o herói da nossa gente sempre a pronunciá-la nas dificuldades que
encontra e que exigem um pouco de si.

Subdesenvolvimento - Em poucas palavras Macunaíma resumiu o subdesenvolvimento brasileiro:


"pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são" que se tornou igualmente uma constante em todo o
livro. É o que se pode ver no capítulo 8 ("Vei, a Sol") onde Mário de Andrade escreve:

"Nem bem Vei com as três filhas entraram no cerradão que Macularam ficou cheio de vontade de ir
brincar com uma cunhã. Acendeu um cigarro e a vontade foi subindo. Lá por debaixo das árvores
passavam muitas cunhas, cunhé se mexemexendo com talento e formosura.

– Pois que fogo devore tudo'. Macunaíma exclamou. Não sou frouxo agora pra mulher me fazer mal!"

Língua - Além desses aspectos de natureza social e étnica, destaca-se também em Macularam o
problema da língua portuguesa no Brasil. Como vimos, o Modernismo fez uma verdadeira revolução na
língua literária, dessacralizando-a da sua feição acadêmica e clássica. Os modernistas aproximam-na do
povo, incorporando a ela os modismos brasileiros – É o português do jeito que o brasileiro fala.

Muiraquitá - A muiraquitã é um amuleto que se associa à vida primitiva de Macunaíma, antes do contato
com a civilização. Pode-se dizer que a muiraquitã se associa à idéia de pureza e inocência. Com a perda
do amuleto, Macunaíma vai-se civilizando e “sifilizando": contrai as doenças da civilização, conforme
constata e registra na sua carta as icamiabas:

Inda tanto nos sobra, por este grandioso pais, de doenças e insectos por cuidar!... Tudo vai num
descalabro sem comedimento, e estamos corro (dos pelo morbo e pelos miríapodes!(Mac. p. 105).

Como se viu, o herói recupera o amuleto sagrado, mas já não é o mesmo – estava inteiramente
"sifilizado"...

Piaimã - O gigante Piaimã, por outro lado, representa bem o elemento estrangeiro, civilizado e superior,
que vai dominando a pobre nação, subdesenvolvida e fraca. Somente com muita artimanha, o herói
consegue enganá-lo e vencê-lo, na ficção de Mário de Andrade. Na realidade de hoje, a selva amazônica,
reduto majestoso das icamiabas de Macunaíma, está à mercê do gigante Piaimã dos impérios
internacionais que rondam gulosos à procura de um "pulmão". Mais do que nunca, precisamos,
antropofagicamente, robustecer-nos com a força de I – Juca-Pirama ou, camaleonicamente, aprender as
artimanhas de Macunaíma...

Foco narrativo e estrutura

Embora predomine o foco da 3ª pessoa, Mário de Andrade inova utilizando a técnica cinematográfica de
cortes bruscos no discurso do narrador, interrompendo-o para dar vez à fala dos personagens,
principalmente Macunaíma. Esta técnica imprime velocidade, simultaneidade e continuidade à narrativa.
Exemplo:

“Lá chegado ajuntou os vizinhos, criados a patroa cunhãs datilógrafos estudantes empregados-públicos,
muitos empregados-públicos! Todos esses vizinhos e contou pra eles que tinha ido caçar na feira do
Arouche e matara dois…

— …mateiros, não eram viados mateiros, não, dois viados catingueiros que comi com os manos. Até
vinha trazendo um naco pra vocês mas porém escorreguei na esquina, caí derrubei o embrulho e o
cachorro comeu tudo.” (Cap. XI – A Velha Ceiuci)

A escritura de Macunaíma apóia-se no pensamento selvagem, na idéia de que tudo vira tudo, e na
capacidade de compor e recompor configurações a partir de conteúdos díspares, esvaziados de suas
primitivas funções. Daí a técnica caleidoscópica, em que as idéias e as imagens projetam-se
arbitrariamente, inclusive nos modos de contar, nos estilos narrativos.
Alfredo Bosi destaca três estilos de narrar:

1. um estilo de lenda, épico-lírico, solene:

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da
noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a
índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamara de Macunaíma.

2. um estilo de crônica, cômico, despachado, solto:

Já na meninice fez coisas de sarapantar De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o
incitavam afalar~ exclamava:

ai! que preguiça!...

E não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos
outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O
divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro,
Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio,
todos juntos e nus. (...)

Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar Como a rede da
mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem.

Então adormecia sonhando palavras feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.

3. um estilo de paródia, retomando, satiricamente, a linguagem empolada e pedante dos parnasianos e


dos cultores de Rui Barbosa e Coelho Neto. É o que se vê na Carta pras Icamiabas, que o herói escreve
no capítulo em IX, focalizando a duplicidade no uso de nossa língua.

(...) Mas cair-nos-iam as faces, si ocultássemos no silêncio, uma a curiosidade original deste povo. Ora
sabereis que à sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem
noutra. (...) Nas conversas, utilizam-se os paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição
e impuro na vernaculidade, mas que não deixa de ter seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas
vozes do brincar Destas e daquelas nos inteiramos, solícito; e nos será grata empresa vô-las ensinarmos
aí chegado. Mas si tal desprezível língua se utilizam na conversação da pena, se despojam de tanta
asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da
vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula. língua de
Camões! (...)

Estruturalmente, o livro está dividido em 17 capítulos.

Personagens

Macunaíma - Macunaíma é individualista. Faz o que deseja e o que gosta sem preocupações sociais. E
vaidoso, necessita de espectadores e fica satisfeitíssimo quando faz o discurso no Ipiranga “muito
gangento” mesmo. Sente vontade de chorar, mas não vale a pena, pois está sozinho e não há
assistentes. Fisicamente, tem cabeça rombuda e cara infantil — “carinha enjoativa de piá” — e, em
pequeno, mostra o defeito dos subnutridos, nos quais a ossificação é imperfeita, pois tem as “perninhas
em arco".

Mente com a maior naturalidade; trai seus irmãos, tomando-lhes as mulheres; pratica safadezas gratuitas
ou intencionais; joga no bicho; fala os piores palavrões; é católico e espírita, mas não dispensa o terreiro
de macumba, nos grandes aflitivos. Vive deitado na rede “fumando fava de paricá”, para espantar os
mosquitos e ter sonhos alegres e gostosos. Pensa encontrar uma panela com dinheiro enterrado.

Assim é a figura do grande Macunaíma, “herói de nossa gente”. Herói de uma tribo amazônica, que o
autor misturou a outros, também indígenas, e reinventou como personagem picaresca, sem cortar suas
ligações com o mundo lendário. Depois da morte da mulher (Ci, Mãe do Mato, que se transforma na
estrela Beta do Centauro), Macunaíma perde um amuleto que ela lhe dera, a muiraquitã. Sabendo que
está nas mãos de um mascate peruano, Venceslau Pietra, morador em São Paulo, Macunaíma vem para
esta cidade com os dois irmãos, Maanape e Jiguê. A maior parte da trama se passa durante as tentativas
de reaver a pedra do comerciante, que era, afinal de contas, o gigante Piaimã, comedor de gente.
Conseguindo o propósito, Macunaíma volta para o Amazonas, onde após uma série de aventuras finais,
transforma-se na constelação Ursa Maior.

A muiraquitã é o próprio ideal de Macunaíma. E o presente do único amor puro de sua vida, o que lhe deu
um filho, o menino morto anjinho. Para reconquistá-la, empreende viagens, lutando e sofrendo, até que,
de posse do talismã, regressa à vida sem maldade dos primeiros tempos.
A tentação do sexo, a que não soube resistir, faz com que perca novamente a muiraquitã. Então
desanima. Sem o talismã, que, no fundo, é o seu próprio ideal, o móvel de todas as suas aventuras, o
herói reconhece a inutilidade de uma agitação sem persistência ao seu objetivo. A cabeça cortada, como
na lenda caxinauá, resolve ser lua por vingança. Não queria transformar-se em nada que servisse aos
homens, por isso vai parar no campo vasto do céu, sem dar calor nem vida. Inútil. Macunaíma vai ter
brilho inútil, porque ele próprio se julga inútil, desencantado com o inventário que fez de toda a sua vida
passada. Continuaria a brilhar, embora sem finalidade nem seriedade, nessa vocação para o brilho puro,
sem calor, que Mário de Andrade censurou tantas vezes nos artistas brasileiros. Não é imoral. Pertence
àquela classe de “seres nem culpados nem inocentes, nem alegres nem tristes, mas dotados daquela
soberba indiferença que Platão ligava à sabedoria”.

Maanape - mano de Macunaíma que o acompanha na sua peregrinação em demanda da Muiraquitã.


Tinha fama de feiticeiro o que demonstra em diversas passagens do livro. Por falta de sorte, foi o último a
lavar no poço encantado que "era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o
evangelho de Jesus pra indaiada brasileira". Quando foi se lavar também na água do poço
encantado "tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das
mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas." (Mac. 48) Representa o elemento negro
do complexo racial brasileiro.

Jiguê - É o outro mano de Macunaíma que o ajudou a reconquistar a muiraquitã perdida. Vendo que
Macunaíma ficara branco, atirou-se também nas águas do poço encantado: "Nem bem Jiguê percebeu o
milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e
por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados, só conseguiu ficar da cor do
bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:

"– Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz" (Mac.
48).

Representa o elemento indígena da nossa formação racial.

Sofará - cunhada de Macunaíma, "companheira de Jiguê", com quem Macunaíma "brincou" diversas
vezes, transformando-se em príncipe.

Iriqui - segunda mulher de Jiguê, com quem Macunaíma também "brincou" muitas vezes. Depois foi dada
a Macunaíma, de presente, porque Jiguê achou que não valia a pena brigar por causa de uma mulher.

Ci - foi o grande e único amor de Macunaíma. Ao tomá-la como companheira, passou a ser imperador do
Mato Virgem, sendo acompanhado de um séquito de papagaios e araras. Com o herói teve um filho que
morreu. Ela também morreu, transformando-se na "Beta do Centauro", onde vive "liberta das formigas,
toda enfeitada de luz", Foi ela quem deu a Muiraquitã a Macunaíma. "Ci" quer dizer "mãe" – "Mãe do
Mato".

Capei - era a cobra boiúna (cobra grande) que Macunaíma, dando uma de herói, matou para salvar Naipi,
amada de Titçatê. A cabeça, cortada pelo herói, tornou-se lua – "Boiúna-Luna": "Dantes Capei foi a
boiúna mas agora é a cabeça da Lua lá no campo vasto do céu."

Piaimã - é o gigante comedor de gente, Venceslau Pietro Pietra, que roubara a muiraquitã de
Macunaíma. De posse deste famoso amuleto vai constituir-se na principal oposição da reconquista pelo
herói. Macunaíma quase foi comido pelo gigante, mas, graças à formiga Cambgique e ao Carrapato
Zlezlegue, é salvo. Depois, para se vingar, dá uma tremenda surra no gigante através da macumba de
Exu. No final, o herói o mata e readquire o seu talismã. O gigante Piaimã é uma das poucas personagens
do livro que não vira estrela. Talvez por representar a maldade e a oposição na conquista da Muiraquitã.

Vei - É o sol ou, como quer Mário de Andrade, a sol, que tem duas filhas e quer o herói para genro.
Porém Macunaíma é mesmo impossível e não dá certo.

Pauí-Pódole - é o pai do mutum, origem da ave mutum, cracídeo. Torna-se depois no Cruzeiro do Sul
que é para os índios um enorme mutum "no campo vasto do céu". Por causa dele Macunaíma armou o
maior rolo com "o maior mulato da mulataria do Brasil."

Ceiuci: - velha gulosa, mulher do gigante Piaimã, que também comia gente. Uma vez tarrafiou o herói e
só não o comeu porque a filha dela o salvou. É também a caapora, duende maligno e malvado.

Oibê - é um "minhocão, variante da cobra-grande amazônica", que dá uma tremenda canseira no herói
porque este Ihe comera a pacuera (fressura de animal).

Enredo
Macunaíma, índio tapanhuma, era o filho mais novo de uma família (a mãe e os irmãos Maanape e Jiguê)
que vivia nas margens do rio Uraricoera, na Amazônia. Preguiçoso, manhoso, matreiro e mentiroso,
desde pequeno não deixa de arranjar encrenca com os irmãos, principalmente com Jiguê, de quem
sempre levava as esposas para "brincar". Com a morte da mãe, os irmãos resolvem sair pelo mundo, que
sempre se mostra mágico e cheio de personagens míticos.

Macunaíma encontra Ci, a mãe do mato, e a toma como esposa, tornando-se o Imperador do Mato
Virgem. Depois de perderem um filho, Ci morre e lhe dá uma pedra verde que serve de amuleto: o
muiraquitã. Num confronto entre os irmãos e um monstro chamado de Boiúna Capei (que logo se torna a
rechonchuda lua), Macunaíma perde o seu amuleto. Sabe, por intermédio de um pássaro, que a tal pedra
foi engolida por uma tartaruga tracajá na praia do rio. Segundo o pássaro, um homem pegou o bicho e
encontrou o amuleto, vendendo-o a um mascate peruano que mora na cidade de São Paulo, de nome
Venceslau Pietro Pietra.

Os três irmãos vão até São Paulo resgatar a pedra e descobrem que o mascate peruano é, na verdade, o
gigante Piaimã, comedor de gente. Seguem-se várias aventuras entre eles, sendo que dessas aventuras,
contadas como se fossem lendas, nascem várias tradições e costumes do povo brasileiro, como o jogo de
truco e a festa do Bumba-meu-boi. Por fim, trava-se o confronto final entre Macunaíma e Venceslau Pietro
Pietra: a casa deste possuía um cipó que ficava logo acima de uma grande panela de macarronada
fervendo. Persuadindo as pessoas a se balançar, o gigante Piaimã conseguia derrubar sua vítima e obter
comida. Macunaíma, no entanto, emprega a mesma técnica contra ele, matando-o na panela e
recuperando o amuleto.

De volta à Amazônia com os irmãos, Macunaíma recebe da deusa-sol, Vei, suas duas filhas. Envolve-se,
no entanto, com uma portuguesa, o que causa insatisfação em Vei. Esta, por vingança, atrai Macunaíma
até um lago onde uma moça de nome Uiara o seduz. O índio acaba por se entregar aos desejos da moça
do lago e tem os membros de seu corpo comidos pelos peixes. Recupera a todos, menos a perna e o
amuleto muiraquitã, engolidos pelo monstro Ururau.

Desgostoso da vida, sem o amuleto e sem os irmãos (transformados, numa das peripécias, na sombra
leprosa e segunda cabeça do pai do urubu), vai até o feiticeiro Piauí-Pódole, que o transforma na
constelação de Ursa Maior.

O Cortiço, de Aluísio de Azevedo


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O Cortiço foi publicado em 1890, em meio à atividade febril de produção literária a que Aluísio Azevedo se
viu obrigado, em seu projeto de profissionalizar-se como escritor. Teve de escrever muitos romances e
contos para atender a pedidos de editores, que procuravam corresponder ao gosto do público leitor, um
gosto marcado pelo pior tipo de romantismo. Por isso, produziu muita literatura inferior, baixamente
romântica, estilisticamente descuidada. Mas O Cortiço tem situação inteiramente à parte nessa produção
numerosa e quase toda sem importância, pois neste livro Aluísio pôs em prática os princípios naturalistas,
em que acreditava, e toda a sua capacidade artística.

Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou
descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional. Há o predomínio na narrativa
do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens. A visão do
narrador é fatalista pois as camadas populares são vistas como animais condenados ao meio social que
habitam, homens fadados a viverem como animais selvagens.

O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com
uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador
sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do
cortiço: "Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer
animal de existir,... E naquela terra, ...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a
esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como
larvas no esterco."

Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é o marco da literatura realista-naturalista


brasileira. Uma história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo
Império que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado, João
Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha",
caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se
entrelaçam e repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de
seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão.

No século XIX, os cortiços eram galpões de madeira habitados por trabalhadores não-qualificados. Esses
galpões eram subdivididos internamente. O proprietário era geralmente português, dono de armazém
próximo. Mas havia outros interessados: o Conde D'Eu, marido da princesa Isabel, foi dono de um imenso
cortiço, o "Cabeça-de-porco", onde viviam mais de 4 mil pessoas.

O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que
explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro,apresentado como inferior e
vilmente explorado pelo português. A obra revela a aceitação de idéias filosóficas e científicas do tempo:
a redução das criaturas ao nível animal (zoomorfismo) é característica do Naturalismo e revela a
influência das teorias da Biologia do século XIX (darwinismo, lamarquismo) e o Determinismo (raça, meio,
momento).

O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo,
típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de
"patologia" sexual: "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.

Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão (que é bastante inferior),
a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio; interrogou lavadeiras,
sapoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos
cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do
ambiente, segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as
coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe que as une, nos
momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa
“documentação”, criou o enredo em tomo de um problema social que se tomava mais e mais grave, com a
formação de mandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos
primórdios da industrialização do país.

Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de
representação visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (Aluísio
exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o
romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar
vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa
coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou irando-se — e ocupando o lugar de personagem
central da obra. Desse grupo variado e animado destacam se alguns tipos, a que o romancista soube
atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela,
sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura
brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas
e aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de
sujeito, são as que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.

Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipo humanos na obra:

João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha
da pedreira para a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem
meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de
tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas.

...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia
sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio
de palha.

Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo
cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho
mole e fino.

Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro
como escova, barba e bigode do mesmos teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe
aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo
com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos,
que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai
ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe
escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina.

Enredo

O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o
primeiro, o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo
sua inveja de Miranda, menos rico mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se
casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz
com que ele se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata
antes de perder a liberdade). A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador
português que é seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, pára de
pagar a escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias
secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio cortiço, que
parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.

A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro
comerciante português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este
consegue se aliar a uma negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda.
Para agradá-la, falsifica uma carta de alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O
pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza,
começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar pequenas casas, o que leva a
edificação de um grande cortiço: a "Estalagem São Romão." Logo se ergueriam novas pendências, como
a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus artigos
de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.

Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre
eles o negro Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de
portugueses), e a sensual Rita Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num
desses encontros feitos de música e gritos, Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que
provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta briga, e Firmo fere o jovem português com
uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.
Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de "Cabeça-de-gato" pelos moradores do
cortiço de João Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de "Carapicus", o que já indica a competição e a
rincha entre eles. Enquanto isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora
morador do cortiço rival. Enquanto o jovem português larga a mulher para viver com Rita Baiana, o
pessoal do "Cabeça-de-gato" entra em guerra com os moradores do cortiço de João Romão para vingar a
morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e destrói grande parte do cortiço do velho
comerciante português.

João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção
de freqüentar rodas mais finas e elegantes e se casar com um moça de boa educação. O verdadeiro
intento do esperto comerciante é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só
resta agora se livrar do incômodo de sua companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta
enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu esconderijo. Estes não demoram a aparecer no
cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a traição, suicida-se com a mesma faca de
limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João Romão e os clientes do seu
armazém.

Personagens

As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser
vistas preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem
ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão
apresentados a seguir.

O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de


tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão.
Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios na
pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na
evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da
história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de homem desprovido de livre-
arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa para Romão,
criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.

João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o
crítico literário Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra "não se isolam em planos equidistantes. Ao
contrário, o que existe [...] é um estado de permanente tensão e mútua agressão". Afirma, em outra
ocasião, que dessas lutas ninguém sairá vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de
aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos
elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se tornam entrelaçados similarmente
aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes, porém iguais sob olhar
mais minucioso. Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as óticas, o
oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação
de complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e
Miranda. Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro
almeja os contatos, a nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis
de meros instrumentos do autor para dar andamento à história.

Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais
claramente o princípio naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente
no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são, como Romão e Miranda,
complementos um do outro. Um era "a força tranqüila,o pulso de chumbo, em constante tensão com a
força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instante". Mas, nas
palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum deles pode fugir ao que lhes
está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à
perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de
Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como
tentativa de se tornar Firmo antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a
beleza, os encantos da terra, a vida feliz do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou
menos de acordo como suas características pessoais, notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e
a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos a conformação, a inércia. Com a morte
de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do que era no passado, que a
bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão sempre a
sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza
inevitável e irreversível.

Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie,


madrinha de uma das filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida
honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores
do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel,
era uma garota de 18 anos que ainda não havia se tornado mulher. Após anos esperando o momento de
se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com
Leónie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade de Pombinha, fazendo com que
ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de acontecimentos que passam a
independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento intelectual maior que a
maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas de sexo e
ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não
conseguiu se adaptar à falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a
comercialização do sexo protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo
pelos moradores do Cortiço enquanto esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se
tornam mais senhoras de si através do desejo alheio. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se
insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para
seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante,
termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.

Alguns personagens secundários, usados por Azevedo principalmente como objetos de estudo da
temática determinista:

- Henrique: filho de um fazendeiro importante que se encontra aos cuidados de Miranda até o fim de seus
estudos. Cultivará um caso com D.Estela.
- Valentim: filho alforriado de uma escrava por quem D. Estela nutria afeição ilimitada.
- Leonor: negrinha virgem, moradora do cortiço.
- Leandra (Machona): portuguesa feroz, habitante do cortiço.
- Ana das Dores: filha desquitada de Machona.
- Neném: filha virgem de Machona, muito cobiçada.
- Agostinho: filho caçula de Machona que morre num acidente da pedreira.
- Augusta: brasileira branca, honesta, casada com Alexandre e com muitos filhos.
- Alexandre: mulato, militar, dava muito valor ao seu emprego.
- Juju: afilhada de Leónie.
- Leocádia: portuguesa, esposa de Bruno, comete adultério com Henrique.
- Bruno: ferreiro casado com Leocádia.
- Paula (a Bruxa): cabocla velha que exercia função de curandeira. Põe fogo no cortiço duas vezes após
enlouquecer, morrendo na segunda tentativa.
- Marciana: mulata velha, com mania de limpeza, mãe de Florinda, que perde o juízo quando a filha foge
de casa.
- Florinda: filha virgem de Marciana, que engravida de um dos vendeiros de Romão e foge de casa.
- Dona Isabel: mãe de Pombinha. Seu maior sonho é ver a filha casada.
- Albino: lavadeiro homossexual, morador do cortiço.
- Delporto, Pompeo, Francesco e Andrea: imigrantes italianos que residiam no cortiço. Azevedo foi um
dos primeiros a caracterizar literariamente a figura do imigrante italiano no Brasil, mesmo que de forma
preconceituosa, retratando-os como carcamanos imundos.
- Porfiro: mulato capoeira amigo de Firmo.
- Libório: velho pão-duro que esmolava entre os outros moradores do Cortiço, mas que possuía uma
fortuna escondida, da qual Romão irá se apoderar depois da morte de Libório no segundo incêndio
provocado por Bruxa.
- Pataca: cúmplice de Jerônimo no assassinato de Firmo, torna-se um dos aproveitadores de Piedade
depois que Jerônimo vai morar com Rita.

A homossexualidade retradada em O Cortiço

No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da


homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as
personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a
realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados.

O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes,
com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional.

Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava
através do ficcional o factual, como por exemplo a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie
configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor
descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução,
desejo, poder, culminados nos processos deterministas do cientificismo/ evolucionismo.Os furtos,
estrupos, homicídios ocorrem sem justificativa.

Léonie - Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu
tempo. Mais por si tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria
definida como mulher pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a
sociedade e pode contaminar os que conviverem com ela.

A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam
relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência
francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para
satisfazer-se:

(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente
loiro. (AZEVEDO, 2009, p.105).

Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a
constantemente:

O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...). (pag.108)

Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...). (pag.109)

(...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. (pag.139)

Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.

-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou
louca por ti!(p.135)

E, num relance, desfez para o lado, examine, inerte, os membros atirados num abandono de
bêbado. (p.136-137)

No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor:

Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito
humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um
cachorrinho. (p.137).

Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente,
enfermiça, doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa
família, asseada.

A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um


estupro.Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa,
desigual, desumana. A moral cristã do naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do
"patólogico", defeituoso, se dar bem.

A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete
suicídio. Talvez essa figura do pai é substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que
conta muito segundo os estudiosos para a formação da personalidade de Pombinha.

Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha
toma Léonie como espelho, modelo de vida a ser seguido.

Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica:

"A folha era a flor do cortiço (...)". (p.37)

"As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo umaflor(...)orçando pelos
dezoito anos, não tinha pago a natureza o cruento tributo da puberdade". (p.38).

Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando mênstruo, todos ficaram sabendo, houve
comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e pássaro pudesse finalmente voar.

"E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e
de um instinto temor (...)" (p.135)

A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas
mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se
tornou perita e com sua sagacidade, conquistavatodos os homens.

Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie.

"A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta
naquela pobre menina desamparada, que se fazia mulher" (p.236)

Créditos: Bartolomeu Amâncio da Silva, professor de Literatura, Cursos Objetivo | Alessandra Cristina
Ferreira Porto, aluna do ITA | Marcia Jovelina de Jesus,

A Educação Pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto


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Publicado em 1965, A Educação Pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto, reúne os traços
determinantes da poesia de João Cabral de Melo Neto. Além da excelência de sua poesia pela
consciência construtiva da linguagem, João Cabral consegue ser uma singular forma de realização do
que se pode compreender por linguagem poética. Apesar de ter produzido livros fundamentais até o final
do século XX, A Educação pela Pedra vale como espécie de módulo quadrangular da obra como um todo.

A Educação pela pedra significa um importante momento na trajetória inventiva de João Cabral de Melo
Neto. Pode-se dizer que essa obra representa o efeito de um trabalho progressivo que teve o seu início
em 1942, com a publicação de Pedra do Sono, e que continuou, passando por estágios de tensão interna,
verdadeiros pontos nevrálgicos para a escala da sua invenção.

A coletânea reúne 48 poemas marcados pelo didatismo do poema "A Educação pela Pedra", seu núcleo
temático. A obra é dividida em 4 partes: a, A, b e B. Nas partes minúsculas os poemas são curtos e nas
partes maiúsculas os poemas são longos. Os temas dos poemas também são distribuídos conforme as
letras. Esta maneira de organizar os poemas pode exemplificar a preocupação do poeta com um livro
cuidadosamente projetado. São poesias em que sobressaem o rigor formal e a contenção, sem prejuízo
do lirismo.

No poema-título, ele nos remete ao conceito da "carnatura" da poética, sua matéria-prima ou conteúdo,
no caso, "pedagógico", de intimidade com os objetos:

A educação pela pedra

Uma educação pela pedra: por lições;


para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

*
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

Linguagem seca, precisa, concisa, desprezo pelo sentimentalismo. A arte não é intuitiva - é calculada,
nua e crua.

Há em Cabral uma verdadeira "didática da pedra", como processo teórico e prático da preensão da
realidade. Essa "educação" consiste num processo de imitação de objetos, pelo qual é possível tratar da
realidade através do poema, isto é, através de uma forma, de uma linguagem que para sua estruturação
não despreza, antes acentua, a existência do objeto, segundo João Alexandre Barbosa.

A pedra nos remete à aridez humana e geográfica do Nordeste e é símbolo constante na obra do autor,
fazendo confluir a temática social (linguagem-objeto) com a reflexão sobre o fazer poético no próprio texto
artístico (metalinguagem).

Aqui a pedra ensina ao homem. A pedra, um objeto inanimado, duro, frio, que à princípio não tem
nenhuma qualidade, não demonstra nada, não faz nada, é passada despercebida, ganha em João Cabral
essa poesia fantástica. O poeta detestava música, comparava a poesia a um cálculo matemático,
relegava a emoção a segundo plano para chegar à perfeição da construção do poema, calcado na
colocação das palavras precisas e fundamentais para cada espaço do papel, nada a mais, nada a menos,
só a precisão, o contido, o visual.

Observe, no texto que segue, a recorrência à pedra, num outro passo da "educação" que ela exerce na
feitura / leitura do poema:

Catar feijão

1.

Catar feijão se limita com escrever:


joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:


o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

Outros poemas da obra

Fábula de um arquiteto

A arquitetura como construir portas,


de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

2.

Até que, tantos livres o amedrontando,


renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero, com confortos de matriz, outra vez feto.

O mar e o canavial

O que o mar sim aprende do canavial:


a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.

O que o canavial sim aprende do mar;


o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.
O sertanejo falando

A fala a nível do sertanejo engana:


as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.

2.

Daí porque o sertanejo fala pouco:


as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.

Num Monumento à Aspirina

"Claramente: o mais prático dos sóis,


o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia. ..."

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