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Apelação Cível nº 578566-6, de Ponta Grossa – 4ª Vara Cível.

Apelante: Gerson Bueno.


Apelados: Praxedes Correia de Oliveira e Outro
Relator: Desembargador Francisco Luiz Macedo Júnior

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS.
ACIDENTE EM CRUZAMENTO URBANO.
CULPA EXCLUSIVA DO CONDUTOR DO VEÍCULO
QUE INVADIU VIA PREFERENCIAL, OBSTRUINDO
O TRÁFEGO DO CICLISTA. BOLETIM DE
OCORRÊNCIA NÃO ELIDIDO. CULPA
COMPROVADA DO APELANTE. DEVER DE
INDENIZAR CONFIGURADO. FAMÍLIA DE
BAIXA RENDA ONDE A DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA DOS PAIS PARA COM O FILHO É
PRESUMÍVEL. PENSÃO MENSAL DEVIDA AOS
PAIS, NOS TERMOS DO INCISO II, DO ARTIGO
948, DO CÓDIGO CIVIL E DA SÚMULA 491, DO
STF. PENSÃO MENSAL FIXADA EM 2/3 (DOIS
TERÇOS) DO SALÁRIO MÍNIMO, ATÉ A DATA
EM QUE A VÍTIMA COMPLETARIA 25 (VINTE E
CINCO) ANOS, REDUZIDA PARA 1/3 (UM
TERÇO) A PARTIR DAÍ, ATÉ O DIA EM QUE O
DE CUJUS COMPLETARIA 65 (SESSENTA E
CINCO) ANOS OU ATÉ O FALECIMENTO DOS
GENITORES. DANOS MORAIS. QUANTUM

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FIXADO DENTRO DOS PARÂMETROS


JURISPRUDENCIAIS ESTABELECIDOS PARA
CASOS SEMELHANTES E QUE, POR ISSO,
DEVE SER MANTIDO. QUANTUM
CONVERTIDO PARA VALORES EM REAIS.
LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO EM
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. HONORÁRIOS
QUE DEVEM SER CALCULADOS COM BASE
NO RESULTADO DA INDENIZAÇÃO DEVIDA,
SOMADO COM O VALOR DAS PRESTAÇÕES
VENCIDAS E DOZE PRESTAÇÕES VINCENDAS.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. “A decisão penal que acolheu o parecer do Ministério
Público e deferiu o arquivamento do inquérito policial não
vincula o juízo cível, de modo que pode ser questionada
a culpa nesta esfera, a fim de examinar eventual direito a
ressarcimento de danos decorrentes do acidente de
trânsito”. (TJRS – AP nº 70030456818 – Rel. Des.
Voltaire de Lima Moraes. Julg. 11/11/2009).
2. É indiscutível a força probatória do boletim de
ocorrência, elaborado por autoridade administrativa, que
contém presunção de veracidade juris tantum, pois foi
produzido no momento do evento, na busca de retratar,
com fidelidade, os acontecimentos e circunstâncias.
2. Não havendo produção de nenhuma prova capaz de
desconstituir o boletim de ocorrência, conclui-se que o
veículo do apelante foi o causador do acidente, por
avançar via preferencial.
3. A fixação do quantum indenizatório é tarefa cometida
ao juiz, devendo o arbitramento operar-se com
razoabilidade, proporcionalmente ao grau de culpa, aos
níveis socioeconômicos da parte ofendida e do ofensor
e, ainda, levando-se em conta as circunstâncias do caso;
4. “É devida pensão mensal aos pais da vítima que,
mesmo sendo maior de idade, com eles habitava, e que
presumivelmente contribuía para o sustento do lar, pois
se trata de núcleo familiar de baixa renda.”. (TJPR, Ac.
11009, 9ª CCv, Ap. Cível n. 473676-5, Relatora Desª.
Rosana Amara Girardi Fachin, julgado em 14/08/2008,

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DJPR 12/09/2008);
5. “A pensão mensal arbitrada em favor da apelada, no
valor equivalente a 2/3 do salário mínimo é devida até a
data em que vítima completaria 25 anos de idade,
presumindo-se que, a partir de então, ela assumiria
responsabilidades familiares próprias, a partir daí, no
montante de 1/3, e assim permanecendo, até a data em
que a vítima completaria 65 anos ou sua genitora vier a
falecer.” (TJPR, Ac. 34712, 4ª CCv, Ap. Cível n. 502342-
1, Relator Des.Abraham Lincoln Calixto, julgado em
25/05/2009, DJPR 20/07/2009);
6. Súmula 491, do STF: “É indenizável o acidente que
cause a morte de filho menor, ainda que não exerça
trabalho remunerado.”

Trata-se de recurso de apelação interposto por Gerson


Bueno, contra sentença que julgou parcialmente procedente os pedidos
formulados na ação de reparação de danos, ajuizada por Praxedes Correia
de Oliveira e Eromilda de Oliveira, em face de Gerson Bueno, para o fim
de condenar a ré a pagar aos autores: “o valor da bicicleta comprovado
pelo cupom fiscal de fls. 23 (R$ 379,00) e a pensioná-los, pagando-lhes
R$ 200,00 (duzentos reais) por mês, até que a vítima completasse 25
(vinte e cinco) anos e após com o valor mensal de R$ 100,00 (cem reais)
até que a vítima viesse a completar 65 (sessenta e cinco) anos,
reajustáveis de acordo com os reajustes do salário mínimo e todas as

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vezes que este subiu após a data do fato e vier a subir enquanto o
pensionamento subsistir, sendo que as parcelas vencidas sofrerão ajuste
monetário e serão acrescidas de juros de mora calculados de
conformidade com a lei material civil a partir da data em que cada uma
deveria ter sido paga (sempre no dia 15 de cada mês)”.

A sentença condenou, ainda, o réu a indenizar os autores


“pelos danos morais causados, pagando-lhes a importância de 50
(cinqüenta) salários mínimos vigentes nesta data para cada um dos
autores, corrigidos monetariamente com base no INPC calculados a
partir da data desta decisão e juros de mora a razão de 1% ao mês
computados a partir da citação (23.10.2006). ”

No tocante a sucumbência, condenou a parte ré ao


pagamento das custas e honorários advocatícios, fixados em 20% (vinte
por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 20, § 3º, do
Código de Processo Civil.

Inconformado, o requerido Gerson Bueno apela,


alegando, em apertada síntese, que: a) inexistiu qualquer ato ilícito no caso
em questão; b) o pagamento das despesas de funeral do filho dos apelados
teria sido um ato de mera liberalidade do apelante e que não importou em
reconhecimento de culpa, pelo sinistro; c) não ficou demonstrada a culpa
do apelante, posto que inexiste, no presente caderno processual, qualquer
prova neste sentido; d) a sentença recorrida interpretou erroneamente o

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Boletim de Ocorrência e o recibo de pagamento das despesas do funeral;


e) a sentença carece de fundamentação adequada, nos termos do art. 93,
IX, da CF/88; f) o valor do dano material fixado na sentença deveria ser
reduzido; g) os recorridos não demonstraram a dependência econômica em
relação a vítima do sinistro, não sendo, portanto, devida qualquer pensão
em favor dos apelados; h) os apelados não comprovaram os danos morais
alegados; i) a sentença seria extra-petita em relação a fixação dos danos
morais; h) os honorários de sucumbência não poderiam ter sido fixados
sobre o montante da condenação, posto que o valor da obrigação é incerto.

Por fim, requereu o provimento do recurso.

Não foram apresentadas contra-razões.

Expediente apresentado pelo requerido/apelante às fls.


210/217.

Relatados,
VOTO:

Presentes os requisitos de admissibilidade, intrínsecos e


extrínsecos, de se conhecer o presente recurso.

Da alegação de fato novo superveniente a sentença –


arquivamento do inquérito policial instaurado perante o juízo
criminal

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Sustenta o recorrente às fls. 219/221, a existência de fato


novo, que repercute na solução do litígio.

Conforme exposto pelo recorrente no referido


expediente, em razão do acidente em debate nestes autos, foi instaurado
Inquérito Policial pela 2ª Delegacia de Polícia do 2º Distrito Policial de
Ponta Grossa, porém arquivado pelo Juízo da 3ª Vara Criminal, com base
em manifestação do Ministério Público.

Defende o apelante, que a decisão na seara criminal


deveria influenciar o destino da lide civil, levando ao acolhimento do
apelo e, por conseguinte, a extinção do feito, haja vista o entendimento
registrado naquele juízo, de que não houve culpa ou dolo por parte do
requerido, pelo evento em questão.

Sem razão, no entanto.

A luz da legislação civil em vigor, a responsabilidade


civil é independente da criminal, salvo no que diz respeito às questões
relativas a existência do fato e da autoria quando estas se acharem
definitivamente decididas perante o juízo criminal.

Assim dispõe o art. 935, do Código Civil vigente:

“Art. 935. A responsabilidade civil é independente da


criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência
do fato, ou sobre quem seja seu autor, quando estas questões
se acharem decididas no juízo criminal”.

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Ocorre que não se verifica na hipótese em apreço


qualquer decisão definitiva sobre a existência do fato ou da autoria na
esfera criminal, posto não haver sentença absolutória ou condenatória
naquele juízo.

Com efeito, a decisão que determina o arquivamento do


inquérito policial, por ausência de indícios de autoria necessários a
instauração da persecução penal, não repercute na esfera cível.

A propósito, eis o teor do art. 67, inciso “I”, do Código


de Processo Penal:

“Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da


ação civil:
I – o despacho de arquivamento do inquérito ou das
pelas de informação”;

A respeito, confira-se a jurisprudência:

“RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE


TRÂNSITO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
ATROPELAMENTO. CULPA EXCLUSIVA DA
VÍTIMA. 1. A responsabilidade civil
independe da criminal (art. 935 do Código
Civil/2002). A decisão penal que acolheu o
parecer do Ministério Público e deferiu o
arquivamento do inquérito policial não vincula o
juízo cível, de modo que pode ser questionada a
culpa nesta esfera, a fim de examinar eventual
direito a ressarcimento de danos decorrentes do
acidente de trânsito. (...)”. (TJRS – AP nº
70030456818 – Rel. Des. Voltaire de Lima
Moraes. Julg. 11/11/2009).

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Assim, a decisão proferida nos autos nº 2006.1329-7, de


inquérito policial, que acolheu o parecer do Ministério Público e deferiu o
arquivamento do procedimento investigatório, não influencia o juízo cível,
não prejudicando a análise da culpa pelo evento danoso em comento.

Da responsabilidade pelo acidente

Cuida-se de ação de indenização por danos materiais e


morais, decorrentes de acidente de trânsito, que ocasionou a morte do filho
dos autores, ora apelados.

Defende o apelante a inexistência de elementos que


possam convergir para a existência de um ato ilícito no caso em questão,
sobretudo, por ato culposo do recorrente.

Noticia o Boletim de Ocorrência que, por volta das


18:30, do dia 14 de março de 2006, ocorreu um acidente na cidade de
Ponta Grossa, entre o cruzamento da Rua do Rosário e a Rua Gal.
Carneiro, envolvendo a caminhonete marca Ford Ranger, modelo XLS,
placas AMT 9589, de propriedade do requerido e, também, por ele
conduzido, que trafegava na R. Gal Carneiro Sul e a bicicleta marca
Sundow, modelo Tophil BxS 18M, de propriedade da vítima Junio de
Oliveira, filho dos autores, que trafegava pela Rua do Rosário no sentido
Leste.

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Os autos contêm versões opostas acerca de como os


fatos teriam ocorrido.

As alegações dos autores são no sentido de que o


requerido não teria observado a sinalização existente no local dos fatos,
cruzando a frente de seu filho, que conduzia sua bicicleta pela via
preferencial, causando, imprudentemente, o acidente em questão, que
vitimou o Sr. Junio de Oliveira.

Por seu turno, o requerido/apelante sustenta que


conduzia seu veículo pela Rua Gal. Carneiro, no sentido bairro/centro,
quando no cruzamento com a Rua do Rosário, parou seu veículo no
cruzamento em obediência a sinalização de trânsito, vindo, a vítima, que
descia em alta velocidade com sua bicicleta pela Rua do Rosário, atingir
seu automóvel quando este ainda se encontrava parado.

Para o deslinde da causa é preponderante, então,


estabelecer de quem seria a culpa pelo lamentável fato.

Pelo que se retira do boletim de ocorrência (fls. 24/26),


“o V1 trafegava pela R. Gal. Carneiro, sentido sul, quando no cruzamento
com a Rua do Rosário deu-se em acidente com o V2 que trafegava pela
segunda via citada, sentido leste. Informações fornecidas pelo condutor
do V1. Este no local. Equipes do Siate e SAMU que encaminharam o
autor do V2 ao Hospital Santa Casa. Anexo declaração do condutor do
V1. Obs. I – Deixa de constar a folha ‘D’croqui pois os veículos não se

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encontravam na posição de repouso e não ficaram vestígios na pista. II –


A r. do Rosário tem preferencial sobre a r. Gal. Carneiro, sendo
sinalizado o local”. (sic). O V1 se refere ao veículo conduzido pelo
requerido, ao passo que o V2 se trata da bicicleta da vítima.

Ainda, conforme consta das fls. 1, do Boletim de


Ocorrência, o veículo do apelante, na ocasião dos fatos, estava em
movimento.

De se observar, que o Boletim em questão foi elaborado


segundo informações prestadas pelo próprio apelante, visto que a vítima
foi encaminhada para atendimento médico.

Observa-se igualmente, que o apelante, no termo de


declaração prestado à autoridade policial que elaborou o Boletim de
Ocorrência, não faz qualquer referência à tese suscitada na contestação, de
que estava parado no cruzamento, aguardando o tráfego da via
preferencial, quando foi atingido pela vítima.

Assim, de se afastar referida tese, posto que se destoa do


Boletim de Ocorrência e das próprias afirmações do requerido, prestadas à
autoridade policial, no momento dos fatos.

Veja-se, é de se estranhar o fato de que, se realmente


estava parado, porque o apelante não relatou essa situação à autoridade
responsável pela confecção do Boletim de Ocorrência.

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Dessa forma, deve prevalecer o contido no Boletim de


Ocorrência, onde se assevera que o “o veículo quando do fato estava em
movimento”.

Anota-se que é indiscutível a força probatória do


Boletim de Ocorrência, elaborado por autoridade administrativa, que
contém presunção de veracidade juris tantum, e que foi produzido logo
após o acidente, buscando retratar com fidelidade os acontecimentos e
circunstâncias, no momento do evento, inclusive, tomando por base
informações prestadas pelo próprio apelante, e que não foi elidido por
prova nenhuma em contrário.

De outra banda, a colheita da prova oral não corrobora


as afirmações do apelante. O apelante não arrolou nenhuma testemunha
que tenha presenciado o acidente e que poderia confirmar sua tese. Nesse
passo, de se ressaltar, que o depoimento prestado pelo informante Marcos
José Horacio Bueno deve ser visto com ressalvas, posto se tratar de irmão
do apelante, e porque a versão narrada está em confronto com o Boletim
de Ocorrência.

Em consonância com as conclusões a que chegou a


douta magistrada a quo, verifica-se que outro não poderia ser o conteúdo
da bem fundamentada sentença, uma vez que não há, nos autos, qualquer
indício que possa confirmar as alegações do apelado.

A esse respeito, confira-se o seguinte trecho da sentença:

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“A versão de que estava parado aguardando o


tráfego da via preferencial e que o ciclista se atrapalhou com
uma lombada e bateu na caminhonete surgiu apenas
posteriormente e não encontra respaldo nas informações
constantes do Boletim de Ocorrência. Destarte, as
informações do Réu em seu depoimento pessoal e de seu
irmão, ouvido como informante, não convergem para dinâmica
dos fatos relatados no Boletim, de sorte que a credibilidade de
tal prova resta afetada.
Acresce que após o evento o réu pagou as despesas
de funeral, conforme termo de declaração que colheu dos
autores (f. 30). Sustenta que agiu por humanidade e
solidariedade, no entanto, foi além, fez constar na declaração
a quitação em relação a ‘todos os danos materiais e morais’,
de modo que, é certo concluir que tinha ciência de sua culpa
no acidente que ceifou a vida da vítima.
Com efeito, o réu, a despeito de estar incumbido de
fazer prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito dos autores, não se desvencilhou desse ônus, haja
vista que não coletou acervo probatório capaz de imprimir o
convencimento de que teria ocorrido culpa exclusiva da
vítima. Assim, não há dúvida de que o acidente ocorreu por
culpa exclusiva do réu que foi imprudente na condução da
caminhonete, deixando de tomar as cautelas necessárias a
evitar o acidente e violando o princípio da confiança recíproca,
pois não era previsível, para o filho dos autores, que alguém
pudesse, de inopino, avançar a via preferencial colidindo com
sua bicicleta”.

Assim, ao contrário do que alega a apelante, é de


concluir, a luz das provas contidas nos autos, que a culpa do acidente foi
do apelante, condutor do veículo Ford Ranger, que, ao transpor via
preferencial, não agiu com a cautela devida, pois, deveria ter aguardado a
passagem da vítima, o que, de fato, não ocorreu.

Com efeito, dispõe o Código de Trânsito Brasileiro:


“Art. 34. O condutor que queira executar uma

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manobra deverá certificar-se de que pode executá-la sem


perigo para os demais usuários da via que o seguem,
precedem ou vão cruzar com ele, considerando sua posição,
sua direção e sua velocidade.
Art. 44. Ao aproximar-se de qualquer tipo de
cruzamento, o condutor do veículo deve demonstrar prudência
especial, transitando em velocidade moderada, de forma que
possa deter seu veículo com segurança para dar passagem a
pedestre e a veículos que tenham o direito de preferência”.

Feitas estas considerações, verifica-se que a culpa pelo


evento danoso deve ser imputada ao veículo do apelante/réu, concluindo-
se, assim, que a sentença não merece reparos no que se refere a
responsabilidade pelo acidente.

Da indenização por danos materiais

Insurge-se o recorrente, quanto ao valor da condenação


por danos matérias.

Advoga que o valor da reparação pela perda da bicicleta,


não poderia ter sido fixado com base no preço de nota fiscal do produto,
haja vista a desvalorização pelo tempo de uso do bem.

Aduz, igualmente, que a pensão mensal não seria devida,


pois os autores não teriam comprovado a sua dependência econômica com
relação à vítima.

Questiona, ainda, a forma de fixação da pensão.

Pois bem, no que se refere ao valor da bicicleta, é de se

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dar razão ao apelante.

Isto porque não se pode valorar como novo um bem com


mais de 4 (quatro) anos de uso, pois, é natural que a utilização do bem
acarrete sua depreciação, e, conseqüentemente, sua desvalorização.

Assim, o valor fixado deve ser readequado.

De acordo com a nota fiscal de fls. 23, a bicicleta da


vítima foi adquirida em 06/02/2002, pelo valor de R$ 379,00 (trezentos e
setenta e nove reais).

Considerando que na data do acidente (14/03/2006), a


bicicleta contava com 4 (quatro anos) de uso, e de que não há, nos autos,
prova do estado real de conservação do bem, considero como justo e
adequado ao caso, a redução de 10% (dez por cento), por ano de uso, o
que representa um abatimento total de 40% (quarenta por cento), sobre o
valor da nota fiscal.

Deste modo, é de se fixar a condenação por danos


materiais, relativos à perda da bicicleta, em 60% (sessenta por cento), do
valor da nota fiscal do bem (fls. 23).

No que se refere a pensão mensal, não compartilha da


mesma sorte, o apelante.

Extrai-se, dos documentos constantes nos autos, que os

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autores, pais da vítima falecida, são pessoas humildes, de baixa renda e


que são beneficiários da assistência judiciária gratuita.

De se dizer, também, que não constam quaisquer


elementos nos autos, aptos a comprovar que os autores não necessitariam
do auxílio do filho menor, tampouco, que em vida a vítima não lhes
promoveria o sustento.

Por outro lado, de se dizer, que o pedido de pensão, por


si só, implica na presunção da necessidade, se inexiste prova robusta em
contrário.

Insta salientar, aqui, que o desaparecimento súbito de um


familiar causa, além da dor e do sofrimento, um abalo financeiro para a
família. Assim, em se tratando de família de poucos recursos, o filho que
ainda vive com os pais, auxilia na manutenção financeira da estrutura
familiar. E não poderia ser diferente no caso em análise.

A dependência financeira dos pais para com o filho é


presumível, além do que, em famílias pobres, um jovem solteiro,
normalmente trabalha para contribuir, decisivamente, com parte de seu
salário, para a manutenção de seus familiares, haja vista que tinha irmãos
menores.

A jurisprudência tem reconhecido que em famílias mais


pobres essa ajuda mútua é comum, confira-se:

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“Apelação Cível. Reparação de danos. Acidente


de trânsito. Pensão mensal. Valor. Remuneração
líquida. Termo final. Denunciação à lide.
Condenação solidária. Possibilidade. Danos
emergentes e lucros cessantes. Cobertura para
danos materiais. Valor segurado. Cominação de
juros de mora. Impossibilidade. Correção
monetária. Incidência. Danos morais. Espécie de
danos corporais. Ausência de exclusão expressa.
Inclusão do 13º salário. Recursos de apelação (1)
parcialmente provido, recurso de apelação (2) e
recurso adesivo providos. 1- "A pensão mensal
deve ser fixada sobre os rendimentos líquidos da
vítima, já que era com esse valor que se
promovia o sustento da família." (TJPR, 8ª Câm.
Cív., Ac. 9009, Rel. Juiz Conv. Luis Espíndola,
DJ: 16/11/2007) 2- Tratando-se de família
humilde, não é possível dizer que ao
completar 25 (vinte e cinco) anos, a vítima
deixaria de contribuir com seus pais, razão
pela qual a pensão mensal é devida até a data
presumível da vida da vítima. 3- (...). 1(grifo
nosso)

Apelação Cível (1) - Ação de Reparação de Danos


por Ato Ilícito e Acidente de Trânsito –
Atropelamento em Terminal de Ônibus –
Concorrência de Culpas – Vítima que Efetua a
Travessia em Local Inadequado e sem a Cautela
Necessária – Motorista que Conduz o Veículo
Acima da Velocidade Máxima Permitida e que
não Observa o Dever de Diligência em Relação
aos Pedestres que Circulam pelo Terminal –
Redução das Indenizações Proporcional ao Grau
de Culpa dos Envolvidos no Acidente –
Pensionamento Devido – Família de Baixa
Renda – 1/3 do Salário Mínimo até a Data em
que a Vítima Completaria 65 Anos ou Até o
Falecimento dos Genitores – Despesas com
Funeral – Devidas, desde que Devidamente
Comprovadas – Danos Morais – Quantum –

1
TJPR, Ac. 15419, 9ª CCv, Ap. Cível n. 561276-6, Relator Des. Hélio Henrique Lopes Fernandes Lima,
julgado em 19/03/2009, DJPR 22/06/2009.

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Majoração – Sucumbência Recíproca


Configurada – Suspensão da Exigibilidade do
Crédito nos Termos do Artigo 12 da Lei nº
1.060/50.
1. É devida pensão mensal aos pais da vítima
que, mesmo sendo maior de idade, com eles
habitava, e que presumivelmente contribuía
para o sustento do lar, pois se trata de núcleo
familiar de baixa renda.
2. O valor da pensão, no caso de não haver
prova do quantum percebido pela vítima, deve
ser fixado com base no valor do salário mínimo,
quantum necessário para a manutenção digna
de uma pessoa, arbitrando-se a pensão devida
em 1/3 do salário mínimo, montante esse devido
até a data em que o de cujus completaria 65
anos, ou até o falecimento dos genitores. 3. (...).
2 (grifo nosso)

Ademais o Supremo Tribunal Federal já sumulou a


questão através da Súmula 491, que dispõe: “É indenizável o acidente que
cause a morte de filho menor, ainda que mão exerça trabalho
remunerado.”

Assim, é devida a pensão mensal, pois o que se indeniza


não é a dor que o óbito causou, mas a repercussão potencial da perda do
filho sobre as disponibilidades econômicas da família.

O artigo 948, do Código Civil, que dispõe sobre a


indenização, para o caso de homicídio, assim estabelece:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização


consiste, sem excluir outras reparações:
2
TJPR, Ac. 11009, 9ª CCv, Ap. Cível n. 473676-5, Relatora Desª. Rosana Amara Girardi Fachin,
julgado em 14/08/2008, DJPR 12/09/2008.

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I - no pagamento das despesas com o tratamento da


vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o
morto os devia, levando-se em conta a duração provável da
vida da vítima.

O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça é


pacífico no sentido de ser possível o ressarcimento dos pais, pela perda
material que representa a morte de um filho, tendo em vista a realidade
social do país, eis que este, indubitavelmente, contribuiria para o sustento
da família:

“ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL


DO ESTADO. ACIDENTE NA VIA FÉRREA.
MORTE DE MENOR. PENSIONAMENTO. DANO
MORAL.
1. "É devida a indenização por dano material aos
pais de família de baixa renda, em decorrência
da morte de filho menor proveniente de ato
ilícito, independentemente do exercício de
trabalho remunerado pela vítima. O termo inicial
do pagamento da pensão conta-se dos quatorze
anos, data em que o direito laboral admite o
contrato de trabalho, e tem como termo final a
data em que a vítima atingiria a idade de
sessenta e cinco anos" (REsp 653.597/AM, de
minha relatoria, DJU de 04.10.04).
2. A pensão deve ser reduzida pela metade após
a data em que o filho completaria 25 anos,
quando possivelmente constituiria família
própria, reduzindo a sua colaboração no lar
primitivo.
3. Em atenção à jurisprudência da Corte e aos
limites do recurso especial, a pensão mensal
deve ser fixada em valores equivalentes a 2/3 do
salário mínimo desde os 14 até 25 anos de idade
da vítima, reduzido para 1/3, até a data em que
o de cujus completaria 58,4 anos de idade. 4.

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(...). 7. Recurso especial provido em parte. 3

“A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido


de ser devida a indenização por dano material
aos pais de família de baixa renda, em
decorrência da morte de filho menor,
independentemente do exercício de trabalho
remunerado pela vítima.” 4

Com relação ao parâmetro da pensão, deve ser levado


em consideração o valor do salário mínimo fixado na sentença, isto é, R$
300,00 (trezentos reais), o qual era vigente a época dos fatos, posto que
não houve recurso dos autores pugnando pela fixação do salário mínimo
vigente a época da sentença, conforme comumente tem decidido os
Tribunais.

De se dizer, ainda, que até que completasse 25 (vinte e


cinco) anos de idade, era presumível que o filho permaneceria em casa,
ajudando a família, razão pela qual o pensionamento deve corresponder
mensalmente a 2/3 do salário mínimo fixado, o que corresponde a R$
200,00 (duzentos reais). Mas, depois de completados os 25 (vinte e cinco)
anos, o valor da pensão deve ser diminuído para 1/3 do salário mínimo
fixado, no importe de R$ 100,00 (cem reais), até a data em completaria 65
(sessenta e cinco) anos de idade, salvo se os pais falecerem antes.

É que, depois de 25 anos, os jovens normalmente casam

3
STJ, REsp 861074/RJ, 2ª Turma, Relator Min. Castro Meira, julgado em 20/09/2007, DJ 07/02/2008,
p. 302.
4
STJ, REsp 738413/MG, 2ª Turma, Relator Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/10/2005, DJ
21//11/2005, p. 205.

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e assim, diminuem a ajuda dada aos pais carentes.

Igual entendimento vem sendo proferido por este


Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO.


AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS
E MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE
DE PRESO NO INTERIOR DE EDUCANDÁRIO,
EM RAZÃO DE REBELIÃO. DESCUMPRIMENTO
DE NORMA CONSTITUCIONAL CONTIDA NO
ARTIGO 5º, INCISO XLIX, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO
ESTADO - A responsabilidade objetiva do Estado
subsiste na hipótese de homicídio, pois é seu
dever garantir proteção àqueles que cumprem
pena no sistema carcerário. PENSIONAMENTO
DEVIDO À GENITORA DA MENOR - "É
indenizável o acidente que cause a morte de
filho menor, ainda que não exerça trabalho
remunerado" (Súmula 491 do STF). TERMO
FINAL DA PENSÃO. FIXAÇÃO NA DATA EM
QUE O MENOR COMPLETARIA 65 ANOS OU
SUA GENITORA VIER A FALECER, FATO QUE
OCORRER PRIMEIRO. PENSIONAMENTO
DEVIDO NO PATAMAR DE 2/3 DO SALÁRIO
MÍNIMO ATÉ O MOMENTO EM QUE O MENOR
COMPLETASSE 25 ANOS, E, APÓS, 1/3,
ASSIM PERMANECENDO ATÉ A DATA EM
QUE A VÍTIMA COMPLETARIA 65 ANOS OU
SUA GENITORA VIER A FALECER - A pensão
mensal arbitrada em favor da apelada, no valor
equivalente a 2/3 do salário mínimo é devida até
a data em que vítima completaria 25 anos de
idade, presumindo-se que, a partir de então, ela
assumiria responsabilidades familiares próprias,
a partir daí, no montante de 1/3, e assim
permanecendo, até a data em que a vítima
completaria 65 anos ou sua genitora vier a
falecer. (...). APELO PARCIALMENTE PROVIDO.

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5 (grifo nosso)

Corroboram este entendimento os seguintes arestos do


Superior Tribunal de Justiça:

“Assim como é dado presumir-se que a vítima do


acidente de veículo cogitado teria, não fosse o
infausto evento, uma sobrevida até os sessenta e
cinco anos, e até lá auxiliaria à sua mãe,
prestando alimentos, também pode-se supor,
pela ordem natural dos fatos da vida, que ele se
casaria aos vinte cinco anos, momento a partir
do qual já não mais teria a mesma
disponibilidade para ajudar materialmente a
seus pais, pois que, a partir do casamento,
passaria a suportar novos encargos, que da
constituição de uma nova família são
decorrentes.
Mantida a pensão fixada em 2⁄3 do salário
mínimo até quando viesse a completar vinte
e cinco anos, e na metade desse valor, até os
sessenta e cinco, salvo se antes os pais
falecerem, quando, então, a pensão se
extingue.” 6 (grifo nosso)

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL.


RESPONSABILIDADE CIVIL.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ACIDENTE
FERROVIÁRIO. MORTE. INDENIZAÇÃO. DANOS
MATERIAIS. DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO.
1. Divergência jurisprudencial comprovada, em
conformidade com o artigo 541, § único, do
Código de Processo Civil, e art. 255, e
parágrafos, do Regimento Interno desta Corte.
2. Guardando os termos do pedido recursal e na
esteira de precedentes desta Corte, a pensão é
fixada em 2/3 (dois terços) do salário mínimo,

5
TJPR, Ac. 34712, 4ª CCv, Ap. Cível n. 502342-1, Relator Des.Abraham Lincoln Calixto, julgado em
25/05/2009, DJPR 20/07/2009.
6
STJ, 4ª turma, REsp 192395/MG, Relator Min. César Asfor Rocha, julgado em 04/12/2001, publicado
em 15/04/2002.

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até quando a vítima viria a completar 25 (vinte e


cinco) anos, e reduzida para 1/3 (um terço) a
partir daí, até o dia em que, também por
presunção, o de cujus completasse 65 anos,
ou antes, se os pais vierem a falecer. 3. (...) 5.
Recurso especial conhecido e provido.” 7 (grifo
nosso)

Denota-se pelo entendimento expendido pelas


jurisprudências citadas, que a pensão deve ser paga até a data em que o
falecido completaria 65 (sessenta e cinco) anos ou até a morte do
beneficiário.

Quanto a atualização, a pensão mensal deve ser ajustada


conforme variações posteriores no salário mínimo, isto para bem adequar
as necessidades do alimentado, que surgem, naturalmente, dia após dia, e
não de uma vez só.

E nesse ponto, corretamente laborou o magistrado.

Verifica-se, assim, que o raciocínio desenvolvido na


sentença mostra-se acertado, posto que observa os parâmetros
jurisprudenciais atuais aplicáveis ao pensionamento decorrente de
indenização por responsabilidade civil.

Assim, o inconformismo manifestado no recurso não


merece guarida, pelo que a sentença recorrida deve ser mantida
integralmente neste aspecto.

7
STJ, REsp 703878/SP, relator Min. Jorge Scartezzini, DJ 12/09/2005.

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Da indenização por danos morais

Aduz o apelante que o valor fixado a título de danos


morais não teria observado os critérios de razoabilidade e
proporcionalidade, pleiteando, para o caso da manutenção da condenação,
a redução do quantum.

Assevera, ademais, que a sentença teria sido ultra-petita,


posto que os apelados pleitearam a fixação de danos morais a partir da
época dos fatos e não da sentença, conforme decidido em primeiro grau.

Primeiramente, importante tecer algumas considerações


a respeito dos critérios a serem utilizados na fixação do dano moral.

No caso em tela, o dano, é impossível de ser


reconstituído, visto ser a morte um fato que não se remedia. Uma das mais
acirradas discussões doutrinárias e jurisprudenciais é justamente a
avaliação do “preço da dor” nas indenizações por dano moral. Como
brilhantemente discorre o Prof. Clayton Reis8 sobre o assunto:

“A dificuldade reside na profunda subjetividade que


envolve a fixação de valores destinados a reparar o dano
extrapatrimonial sofrido pela vitima. Afinal, como será possível
avaliar a extensão da dor vivenciada por uma pessoa para,
em seguida, proceder a fixação de um ‘quantum’ indenizatório
que seja capaz de satisfazê-la na sua pretensão

8
REIS, C., Os Novos Rumos da Indenização do dano moral – Rio de Janeiro – Ed. Forense, 2002 -
p.116.

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ressarcitória”?

Embora sejam estas as dúvidas que dificultam a fixação


do quantum debeatur relativo aos danos extrapatrimoniais, elas não
podem constituir-se fator impeditivo para sua reparação. A indenização
deve contemplar, ainda no dizer do brilhante professor9, “um sentido de
satisfação pelo princípio de equivalência relativa, capaz de punir o
lesionador, exercer um poder de dissuadi-lo ao cometimento de novos
atos ofensivos e, sobretudo compensar a dor da vítima”.

Entretanto, não se pode perder de vista que no caso que


se apresenta, o fato que embasa a pretensão de reparação é a perda de uma
vida e todos os seus reflexos sobre outras vidas. Essa dor é irreparável e se
constitui no dano moral puro, eis que qualquer valor econômico não terá o
efeito de desfazer os efeitos dessa morte na intimidade dos lesionados.

No mesmo sentido10

“Os dois critérios que devem ser utilizados para a


fixação do dano moral são a compensação ao lesado e o
desestímulo ao lesante. Inserem-se nesse contexto fatores
subjetivos e objetivos, relacionados às pessoas envolvidas,
como a análise do grau da culpa do lesante, de eventual
participação do lesado no evento danoso, da situação
econômica das partes e da proporcionalidade ao proveito
obtido com o ilícito. (v. Carlos Alberto Bittar, Reparação civil
por danos morais, cit., p. 221).

9
Idem, p.124.
10
Novo Código Civil comentado/coordenação Ricardo Fiuza. 5ª ed. atual: São Paulo: Saraiva, 2006, p.
760.

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Jci Apelação Cível nº 578566-6 25

Feitas estas considerações, e não havendo dúvida quanto


ao dever de indenizar, cumpre analisar o pedido para redução do quantum
arbitrado.

A Jurisprudência tem fixado indenizações entre 100


(cem) à 500 (quinhentos) Salários Mínimos, para casos semelhantes.

Desta forma e por tudo que aqui foi visto, tem-se como
correta a fixação do quantum a título de danos morais, pois sem se inserir
em injustificáveis efeitos punitivos, a sentença quantificou a indenização
em 100 SM (cem salários mínimos), na proporção de 50 SM (cinqüenta
salários mínimos) para cada autor, naturalmente, observando, os abalos
psicológicos sofridos pelos apelados, pela morte do próprio filho.

Como se sabe, a fixação do quantum indenizatório é


tarefa cometida ao juiz, devendo o arbitramento operar-se com
razoabilidade, proporcionalmente ao grau de culpa, aos níveis
socioeconômicos da parte ofendida e do ofensor e, ainda, levando-se em
conta as circunstâncias do caso. Sendo assim, o valor arbitrado foi justo e
correto, além de se situar dentro dos parâmetros normais que os Tribunais
têm reconhecido como devidos para casos semelhantes.

Nesse sentido:

O valor da indenização por danos morais deve ser


fixado em limites razoáveis, levando-se em consideração a
condição sócio-econômica da vítima, assim como de seus
pais, a capacidade do ofensor, a natureza e extensão do

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dano. (TJDF – APC 19980610018989 – DF – 5ª T. Cív. – Relª


Desª Haydevalda Sampaio – DJU 15.05.2002 – p. 106).

Conclui-se, desse modo, que o valor da indenização


mostra-se adequado, portanto, deve ser mantido.

Entretanto, a fim de ajustá-la ao teor da Constituição


Federal, que em seu artigo 7º, inciso IV impede a vinculação ao salário
mínimo para qualquer fim e tendo o STF já decidido que é vedada a
fixação de indenização por danos morais em salários mínimos11, é de se
converter os 100 salários mínimos, para R$ 41.500,00 (quarenta e um
mil e quinhentos reais), para cada um dos apelados, devidamente
atualizado e corrigido.

Por fim, assevera-se, que, em se tratando de danos


morais, o juiz não se encontra vinculado ao valor sugerido na inicial, nem,
inclusive, a forma de correção, de modo que não há que se falar em
sentença ultra-petita, em razão de não se acolher os parâmetros propostos
pelo autor da ação.

Do ônus de sucumbência

Por fim, sustenta o apelante, que os honorários do


patrono dos autores não poderiam ser fixados sobre o valor total da
condenação, posto que o pensionamento ao qual o apelante foi condenado,

11
Resp 225488-PR – Rel. Min. Moreira Alves – DJU:11/04/2000.

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não tem prazo certo, pois, não se pode determinar quando a obrigação
encerrará.

De se dar razão, em parte, ao apelante, porque os


honorários advocatícios devem ser calculados com base no resultado da
indenização devida, somado com o valor das prestações vencidas e doze
prestações vincendas.

No mesmo sentido é a jurisprudência deste Tribunal:

“Os honorários advocatícios devem ser


calculados com base no resultado da
indenização devida, somado com o valor das
prestações vencidas e doze prestações
vincendas.” 12

“Nas ações de indenização por ato ilícito em que


há condenação ao pagamento de pensão, sem
prejuízo da inclusão das outras verbas na base
de cálculo, a verba honorária é calculada sobre
as pensões vencidas até a sentença e mais doze
vincendas.” 13

Corrobora este entendimento o seguinte aresto do


Superior Tribunal de Justiça:

“É pacífico no Superior Tribunal de Justiça o


entendimento de que, na hipótese de
condenação a prestações periódicas, é possível
delimitar-se a incidência dos honorários
advocatícios sobre as parcelas vencidas mais

12
TJPR, Ac. 15668, 9ª CCv, Ap. Cível n. 566911-0, Relator Des. Hélio Henrique Lopes Fernandes de
Lima, julgado em 16/04/2009, DJPR 06/07/2009.
13
TJPR, Ac. 11865, 10ª CCv, Ap. Cível n. 481281-1, Relator Des. Vitor Roberto Silva, julgado em
04/09/2008, DJPR 26/09/2008.

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doze prestações vincendas, nos termos do art.


260 do Código de Processo Civil.” 14 (STJ, 6ª
Turma, AgRg no Ag 528313/RS, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, DJ: 18/02/2008)

Assim, pela jurisprudência citada os honorários não


incidem sobre a totalidade das prestações vincendas, como o magistrado
fez.

Portanto, merece reforma a sentença, para que os


honorários advocatícios devidos ao patrono destes, fixados na sentença em
17 (dezessete por cento) sobre o valor da condenação, sejam calculados
sobre o valor resultante da condenação por danos morais e materiais, mais
as prestações do pensionamento mensal vencidas e a soma de 12 (doze)
prestações vincendas.

Quanto a redistribuição da sucumbência, porém, o apelo


prospera.

Conforme se infere dos autos, com exceção do quantum


pleiteado a título de ressarcimento por danos materiais, cujos valores
concedidos foram inferiores ao pleiteados, o autor obteve êxito em seus
pedidos.

Porém, diante dos termos da ação proposta, revela-se


mínima a sucumbência do autor.

14
STJ, 6ª Turma, AgRg no RG 528313/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis de Moura, DJU
18/02/2008.

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Por essa razão, a sucumbência recíproca em relação ao


mérito da demanda deve ser afastada, aplicando a regra do artigo 21,
parágrafo único, do Código de Processo Civil, já que o autor decaiu de
parte mínima de seu pedido.

Diante do exposto, VOTO por CONHECER da


apelação interposta por Gerson Bueno, e DAR-LHE PARCIAL
PROVIMENTO, nos termos acima expostos.

ACORDAM os Membros Integrantes da Nona Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, por UNANIMIDADE de votos,
em CONHECER do recurso de apelação, e DAR-LHE PARCIAL
PROVIMENTO, nos termos do voto do relator.

Participaram do julgamento os excelentíssimos Senhores


Desembargador Hélio Henrique Lopes Fernandes Lima (presidente em
exercício sem voto), Rosana Amara Girardi Fachin e o Juiz Substituto de
2º Grau Francisco Jorge.

Curitiba, 13 de abril de 2010.

Francisco Luiz Macedo Junior


Relator

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