Вы находитесь на странице: 1из 10

Nome: Lilian Ivana Born

Titulação: Mestre em Educação


Professora da rede municipal de ensino de Cachoeirinha (RS).
E-mail: lilianivanaborn@hotmail.com
liborn@ibest.com.br

Entrevista

1. Como e quando os celulares passaram a ter importância para o


público infantil?
-> Acredito que a questão esteja mais relacionada com o “como”, pois a
importância do aparelho para o público infantil não surgiu por parte deste e
sim, por uma lógica de mercado que não parece mais ser guiada pela
“necessidade”, ou seja, “construir um produto para o consumidor”, mas
acima de tudo por uma lógica de desejos infinitos e a “construção de um
consumidor para seu produto”. Logo, o que inicialmente era explorado em
propagandas apenas por adultos (tecnologias como TV, telefone celular,
ipod, notebook, etc.) passou a ser incorporado por crianças. Mas tal
processo não ocorreu naturalmente, antes foi um processo de construção de
uma nova representação da infância. Nesse sentido, a mídia tem sido
pródiga nessa construção de uma “infância digital”, de uma “cyber-
infância”, pois os discursos proferidos por propagandas, filmes, anúncios,
desenhos e programas de entretenimento direcionados à infância enfatizam
uma criança independente, esperta, capaz de lidar com artefatos
tecnológicos com maior facilidade que os adultos, inclusive sendo capaz de
auxiliá-los com relação ao uso das tecnologias (Exemplos dessa nova
construção de infância: filmes “Esqueceram de mim”, “Denis, o
pimentinha”, “Riquinho”; propagandas que mostram as crianças operando
artefatos tecnológicos como computador, telefone celular, etc; seriados de
TV como “Bebê falante” – que mostra um bebê que entende os problemas
dos adultos, conversa com eles e, inclusive dá conselhos acerca dos mais
diversos assuntos, etc). A partir desses exemplos e de tantos outros do
cotidiano, é que vemos uma profunda modificação do conceito e
significado atribuído à palavra “infância”, pensado na modernidade como
dependente, ingênua, frágil e incapaz. Mas crianças ingênuas e frágeis, sem
iniciativa, não seriam capazes de se adequar a esses novos espaços-tempos
que vivemos. Portanto, era preciso construir um novo significado para a
infância, a infância do século XXI – capaz, curiosa, esperta, inteligente e
habilidosa com relação ao uso da(s) tecnologia(s). E isso ocorreu com
relação ao uso do telefone celular também, antes restrito ao mundo dos
adultos e, atualmente, associado o seu uso por crianças das mais diversas
faixas etárias. E isso foi devidamente explorado pelas operadoras de
telefonia móvel em suas propagandas e anúncios, passando uma idéia
positiva da relação criança-telefone celular. Para convencer os pais a
comprarem o telefone celular para seus filhos, construiu-se uma idéia de
segurança e comodidade, de vigilância e controle sobre os filhos, ou seja,
de estar conectado com o filho a qualquer hora e lugar. E para capturar as
crianças como novos e potenciais consumidores, as propagandas passaram
a investir em cores, brinquedos atrelados à infância, bem como uma imensa
rede de produtos associados aos heróis e desenhos televisivos, ícones
infantis, além do uso do artefato (telefone celular) por crianças em suas
programações (seriados, telenovelas, etc). Não era mais só o comércio e
exploração do telefone celular, mas o celular com diferentes capas,
pingentes, roupas, adesivos. Tal “febre” teve seu início nos anos de 2004-
2006, momento de realização da pesquisa “O telefone celular e suas
repercussões nos modos de vida da infância e na escola”, de minha autoria.
Contudo, “novas febres”, “novas modas e artefatos” surgiram (ao final da
pesquisa a “nova moda” era tudo que estivesse vinculado à novela
“Rebeldes”, por exemplo), dando lugar a novos e intensos apelos dos filhos
em relação aos pais na aquisição de novos modos de inserir-se no grupo,
tudo muito atrelado ao consumo de uma determinada “moda, mercadoria”
do momento. Devo ressaltar que, durante o período da pesquisa, o consumo
e desejo em portar o aparelho “telefone celular” foram intensos, bem como
a insatisfação dos que a ele não tinham acesso, visto que acabavam sendo
excluídos de seus grupos escolares em função de não ter o aparelho –
objeto que significaria pertencimento ao grupo de iguais.

2. O que o aparelho celular representa para esse público?


O telefone celular representa um espaço de liberdade. “Crianças desde as
bem pequenas e jovens de todas as idades têm encontrado no uso dos
celulares um espaço de independência do mundo adulto, historicamente
construído como aquele capaz de balizar e moldar o padrão de vida infantil,
bem como seus caminhos em direção à tão decantada maioridade”1. Se
antes os pais tinham acesso às conversas, assuntos e amigos dos filhos, pelo
telefone convencional, agora com o uso do telefone celular essa relação é
alterada, pois que os filhos conquistaram um espaço privativo, no qual se
pode conversar em segredo, receber e enviar as mais diversas mensagens e
músicas (algumas de conteúdo sexual ou considerado impróprio para as
crianças), resguardados de qualquer interferência ou controle dos adultos.
Por outro lado, há uma forma de “conexão imediata” com os pais e, apesar
de essa não ser a principal função, alguns pais viram (e eu diria que foram
persuadidos, convencidos) que presentear o filho com telefone celular
possibilitaria uma forma de controle, de estar presente com o filho.
Contudo, tal situação nem sempre parece trazer bons resultados para essa
relação, isso porque crianças pequenas ou sem capacidade de
discernimento para entender a necessidade ou não de ligar para os pais,

1
COSTA, Marisa Vorraber; BORN, Lilian Ivana. Crianças, celulares e o desaparecimento da infância.
(p.206 a 208) In: COSTA, Marisa Vorraber (org.). A educação na cultura da mídia e do consumo. – Rio
de Janeiro: Lamparina, 2009.
acabam tendo dificuldades em resolver seus conflitos e relacionamentos e,
diante da frustração, contatam imediatamente a família, sem antes contatar
a escola, o que gera alguns conflitos com relação à confiança dos pais na
escola e a capacidade de frustração da criança, algo extremamente
necessário para seu desenvolvimento e construção da personalidade.
Afinal, para que ligar para os pais? No momento em que estes largam seu
filho na escola pressupõe-se que nela confiam e, além disso, se necessário,
a própria escola se encarregará de entrar em contato com os pais. Também
há situações em que os pais trabalham fora e a maneira de manter contato
com o filho é por meio do telefone celular, logo, o uso torna-se útil, desde
que a criança seja instruída e saiba como e quando utilizá-lo. Entretanto,
“embora a justificativa mais difundida para possuir ou ofertar esse artefato
seja a do contato entre pais e filhos, esta é a finalidade mais banal de sua
utilização. A maior parte das crianças declara que não pode dispensá-lo
porque é a melhor forma de ter e manter amigos, com os quais trocam
idéias, aconselham-se, desabafam e vivem seu cotidiano. Grande parte
delas também declarou usar celulares para se informar, jogar, assistir
vídeos e ouvir suas bandas favoritas. A partir dos 6 anos, os meninos já
usam os celulares para abordar temas picantes, aumentando suas
informações relativas àquele espaço privativo dos adultos e interdito à
infância – o da sexualidade.”2 Como podemos observar, seja o telefone
celular ou outra tecnologia, é difícil estabelecer um binômio bom/ruim,
correto/incorreto, pois que a tecnologia não é boa nem ruim e, se deve ou
não ser utilizada, dependerá muito do sentido/significado que atribuímos a
ela.

2
Idem nota de rodapé n.1.
3. Com que idade, em média, as crianças passam a possuir seu próprio
aparelho celular?
Aproximadamente, por volta dos 6 anos de idade (mas apareceram casos de
crianças que portavam o aparelho em creches, durante a realização da
pesquisa). Mas acredito que atualmente não esteja mais sendo utilizado
tanto por essa faixa etária e sim por crianças a partir dos 9 anos em diante,
que trazem o celular para sala de aula para passar mensagens, escutar
música, tirar fotos, gravar fatos considerados interessantes, etc.

4. Qual seria a idade correta, em que elas teriam autonomia suficiente,


para possuir o aparelho?
Não acredito em “idade correta” ou “momento adequado” para que uma
criança possua ou não um telefone celular. Afinal, há crianças que possuem
muito mais discernimento que um adolescente ao fazer uso do mesmo.
Além disso, também conta a opinião da família, os valores, o tipo de
educação e relação que estabelece com o filho – a importância de
esclarecer a necessidade ou não de portar o aparelho pela criança bem
como os argumentos utilizados pela criança para “convencer” os pais do
seu uso. O problema reside não no aparelho, em si, mas na maneira que é
utilizado e isso tanto por crianças, como jovens e adultos. Saber onde,
como e quando usar que é a questão, pois atender durante a aula ou
manusear o aparelho durante uma explicação poderá interferir na
aprendizagem dessa criança, desse aluno, no caso de levá-lo para a escola.
Contudo, recomendaria o seu uso por crianças a partir dos 11 ou 12 anos de
idade, pois não vejo “necessidade” antes dessa idade, a não ser que um
trabalho direcionado a compreender as questões éticas com relação ao uso
da tecnologia fosse desenvolvido pelas escolas, pais e sociedade em geral –
o que também é complicado, pois que essa geração é a geração do
imediatismo e falar em restrições de uso, de contenção de impulsos parece
“bobagem” ou “caretice”. Contudo, fica uma pergunta: como a escola está
lidando com tudo isso? Como manter crianças desse século XXI numa
escola que insiste em práticas do século XIX e XX – crianças sentadas,
disciplinadas e obedientes, quando lá fora há um mundo de imagens, de
informações, de estímulos os mais diversos e muitas vezes mais atraentes
que um quadro-giz e um professor? Mais que encontrar respostas para essas
questões, convém colocar em prática a capacidade de refletir, de repensar o
mundo que idealizamos, de ver de quê infância estamos falando, ao invés
de lamentar a nossa infância. Hoje, existem muitas formas de significar e
viver a “infância”, ou seja, temos diversas “infâncias – a rica, a pobre, a
marginalizada, a hiper-realizada, a desrealizada, a digital, etc”.

5. Como os pais devem avaliar se seu filho está ou não apto para ter
seu próprio celular?
Não acredito em “receitas” e nem saberia dizer o momento exato de dar ou
não um celular para uma criança. Para realizar tal avaliação, talvez seja
necessário apenas observar o comportamento do filho: se este solicitar o
celular como presente e apresentar argumentos que os pais acharem
convincentes (e não só porque o “fulano” tem) é de se pensar. Por outro
lado, se o desejo e interesse não partir da criança, ou ainda, se esta tem uma
relação muito forte de dependência em relação aos pais, acredito que ainda
não seja hora de presenteá-la com um celular, pois que poderá dificultar o
processo de separação e autonomia, usando o celular a qualquer
desconforto, angústia ou conflito encontrado. Nesse caso, o uso do celular
por parte da criança tornar-se-ia prejudicial, visto que para construir sua
personalidade e autonomia, antes precisa passar e vivenciar o processo de
frustração – tão necessário e “positivo” para que aprenda a lidar com as
diferenças, com seus conflitos internos e externos, para que equilibre e
acomode e, com isso, cresça em suas aprendizagens.
6. Quais as vantagens em uma criança possuir seu próprio celular?
- Contato permanente com pais e amigos;
- Espaço de liberdade em relação à influência dos adultos (músicas,
mensagens, amigos, etc.);
- Novas formas de interação e linguagem, acesso ao mundo tecnológico de
seu tempo;
- Novas aprendizagens (se utilizado em “projetos escolares” – filmar uma
apresentação ou uma excursão com função educativa; aprender a usar a
calculadora, a agenda; estudar as diferentes formas de linguagem – uso
correto da Língua Portuguesa e novas formas de uso por meio da
tecnologia, etc.). *Nesse sentido, vislumbro uma forma de trazer a
tecnologia para o espaço escolar (telefone celular, computador, etc.),
tornando esse espaço mais atraente e produtivo, ao mesmo tempo em que
procura levar em conta as transformações sociais, culturais e tecnológicas
de nosso tempo.

7. Que prejuízos o celular próprio pode trazer para crianças?


- Dependência em relação aos pais (ligar a qualquer momento e lugar, por
imediatismo);
- Distração na escola, prejudicando sua aprendizagem, quando usada de
forma incontrolada e sem orientação;
- Novas formas de interação (diminuindo a oralidade – exemplo -> em uma
das observações realizada numa escola as crianças encontravam-se
reunidas num grande grupo, mas não oralizavam, apenas se comunicavam
via mensagens/torpedos de celular).
A tecnologia faz parte desse momento histórico que vivemos e com certeza
muitas outras virão. O problema é quando a tecnologia substitui as
interações e brincadeiras tão necessárias ao desenvolvimento infantil (o
faz-de-conta, as brincadeiras que exercitam o corpo, a exploração de
museus, de diferentes espaços de aprendizagem). Não parece saudável
deixar nossas crianças à mercê da TV, do celular, do computador, como
melhor solução para mantê-las quietas e obedientes, pois que por meio
desses aparelhos também estão sendo educadas, seja para o bem ou para o
mal. É preciso possibilitar o contato e interação com outras crianças,
possibilitar diferentes vivências e frustrações, de maneira que uma não
substitua nem exclua a outra e sim complemente.

8. O fato de a tecnologia estar sempre se atualizando e de o público


infantil estar mais suscetível às influências da publicidade pode
aumentar o desejo de consumo das crianças? Nesse caso, como os pais
devem agir?
Com certeza o público infantil é o mais suscetível às influências da
publicidade. E para procurar compreender essa influência sobre as crianças,
é importante pensar em que tipo de sociedade vivemos, como esta é
pensada, como nos tornamos o que somos. Segundo Zigmund Bauman,
vivemos em uma sociedade caracterizada pela busca de prazeres imediatos,
de relações e desejos que devem ser saciados no mesmo momento em que
surgem. Logo, “esperar o tão sonhado presente natalino” (que muitos de
nós e de nossos pais e avós sonhavam e esperavam o ano inteiro) não faz
mais parte nem sentido na vida de uma grande parte de nossas crianças,
pois que os pais com maior poder aquisitivo acabam se rendendo aos
pedidos consumistas das crianças como forma de compensar a ausência no
lar e, aqueles de menor poder aquisitivo também se esforçam para
satisfazer a vontade dos filhos (ainda que com simulacros) para que estes
não sintam-se inferiores em relação ao colega que possui esse ou aquele
artefato do momento. Contudo, há pais que estão no caminho certo,
dizendo “não” quando necessário, frustrando seus filhos, reativando os
sonhos e a espera do presente ou mesmo ensinando a economizar para
comprá-lo. Afinal, nem tudo o que a criança pede é porque precisa e sim
porque alguém ou alguma propaganda a estimulou, a persuadiu a consumir,
utilizando-se tanto de técnicas como imagem, som, cores, movimento,
brinquedos, como de técnicas do tipo “se não tiver, ta fora da moda”,
“compre isso e será feliz” entre outros discursos utilizados pelos meios de
comunicação.

9. Mesmo que uma criança não tenha celular, ela convive com amigos
de sua mesma faixa etária que possuem o aparelho, o que pode
provocar o desejo pelo produto. Como lidar com isso?
É difícil para os pais dizer “não”, mas a frustração faz parte do processo de
evolução e crescimento do ser humano na construção de sua personalidade
e, muito dela, se constrói na infância, nos primeiros anos de vida. Frear
impulsos, desejos e ensinar a fazer escolhas, diante de um mundo de
estímulos e apelos ao consumo torna-se uma tarefa extremamente árdua,
tanto para os pais como para as escolas. Enquanto muitos desses segmentos
(pais, professores, instituições de proteção aos direitos da criança, etc)
trabalham em prol da proteção e defesa da criança, muitos outros minam
essa tarefa, chegando até mesmo a realizar estudos e congressos, a contratar
pedagogos e psicólogos que tragam informações acerca de gostos e
preferências infantis, para então criar novos produtos que possam ser
utilizados por essa “nova e potencial clientela – as crianças”3. A maioria
das crianças justifica a compra de produtos e artefatos com a frase: “mas
todo mundo tem, menos eu”. Penso que chegamos num momento crucial de
nossa sociedade, momento de tomar decisões e fazer reflexões acerca de
tudo que está ocorrendo em seus mais diversos aspectos (catástrofes
ambientais; questões éticas; papel da família, da escola e da sociedade
(Governo); visão de futuro e planejamento sustentável, etc). Precisamos
3
Para maiores detalhes acerca da relação entre crianças e consumo, vide: Linn, Susan. Crianças do
consumo: a infância roubada.
“educar para o consumo responsável e sustentável” e não apenas “educar
para consumir sem pensar nas consequências de nossos atos”. Estamos
criando consumidores desde o berço, uma geração imediatista, incapaz de
lidar com a angústia e frustração quando diante de um “não”, seres
individualistas e sem uma sólida base moral e de respeito perante os
semelhantes. Isso deverá ser repensado, principalmente ao nível de
políticas públicas para a infância e juventude. Ao mesmo tempo, não
podemos negar a sociedade capitalista que vivemos bem como esse mundo
de relações e interações “líquidas” de que nos fala Bauman (tanto no
campo de nossas relações com as pessoas como com os objetos). Então,
mais do que dizer “não” e privar as crianças dos brinquedos, dos programas
televisivos ou de outras “ondas e modas do momento”, está o papel de
educar as crianças para que sejam críticas em relação ao que consomem,
para que entendam que para ter determinado objeto é preciso economizar e
apresentar argumentos convincentes para tê-los e não pelo simples fato de
“todo mundo tem”.

10. A criança deve possuir o aparelho celular?


Não tenho uma resposta definitiva para tal questão, penso que depende das
razões que dará para possuí-lo, dos valores da família, da forma de
educação dos pais, do que estes acreditam ser o melhor para seus filhos,
bem como do discernimento da criança ao fazer uso do aparelho. Contudo,
pessoalmente, não vejo necessidade de uso do aparelho antes dos 11 ou 12
anos de idade, a não ser por extrema necessidade.

Вам также может понравиться