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ESTUDO DO GRAU DE COLAPSIVIDADE DA ARGILA LATERÍTICA DE


ALFENAS (*)

ÉRICLIS PIMENTA FREIRE (**)


GUSTAVO EUGÊNIO RODRIGUES (***)
YASSER VASCONCELOS SOARES (***)
RESUMO
A presente pesquisa discute inicialmente os tipos básicos de solo, e posteriormente os conceitos de argila e a
relação dos processos de formação deste material com as condições ambientais (tropicais). São apresentados ainda conceitos
sobre sua estrutura, comportamento, grau de colapso e critérios para quantificação da colapsividade. E finalmente são
analisadas as características físicas e comportamentais da argila laterítica de Alfenas a partir de ensaios experimentais
realizados em laboratório e a análise de recalques excessivos em edificações locais.

DESCRITORES: Solo, argila laterítica, colapso, recalque

SUMMARY
STUDY OF THE GRADE OF COLLAPSE OF THE LATERITIC CLAY OF ALFENAS

The present research discusses at first the basic soil kinds, and afterwards the conception of clay and the relation
of the formation process of this material with the environmental conditions (tropical). Concepts are also given about its
structure, behavior, collapse grade and criteria for the quantification of collapse. Finally the physic attributes and behavior of
lateritic clay of Alfenas are analyzed from experiments carried out in the laboratory, and the analysis of excessive pressing
down in the local buildings.

KEYWORDS: Soil, clay lateritic, clay collapse, pressing down

1. INTRODUÇÃO segundo Vargas (1977). No item sobre “grau de


colapsividade” são apresentadas observações e
O presente trabalho apresenta uma breve conclusões sobre o tema de vários pesquisadores como
resenha sobre as argilas, com ênfase ao estudo Sousa Pinto (1995), Ferreira e Lacerda (1993). Neste
experimental da argila laterítica, freqüente na camada tópico ainda são mencionadas regiões do Brasil onde
superficial do subsolo da cidade de Alfenas. O objetivo foram identificados solos colapsíveis incluindo-se o
principal da investigação consiste na determinação do local do presente estudo. Agnelli e Albiero (1997), estes
grau de colapsividade do material estudado e suas autores apresentaram importantes conclusões
conseqüências na prática da engenharia, relacionadas ao pH do solo e sua influência no colapso.
principalmente no que se refere a projetos e Casos práticos são apresentados e discutidos por
comportamentos de fundações. Santos et al (1998), sobre o efeito do colapso em
O tópico 1.1 apresenta um comentário dos fundações.
tipos e processos de formação dos solos e a influência No tópico 1.3 são apresentados vários critérios
destes fatores no seu comportamento, e de obras de para quantificação da colapsividade dos solos. Alguns
engenharia a partir de um enfoque geotécnico. No destes métodos são fundamentados nas propriedades
tópico II.1 são apresentados os conceitos gerais sobre físicas do solo, evidenciadas a partir dos Limites de
argilas e suas características a partir das propriedades Atterberg. Pode-se citar como exemplo os critérios de
físicas. No tópico II.2 são apresentados conceitos sobre Denison, Priklonskij e Resnik, relatados por Spósito
as argilas lateríticas, e a forma de ocorrência deste (1993). O método proposto por Handy e Saber,
material no território brasileiro. também relatados por este autor basea-se
No tópico 1.2 são apresentados e discutidos exclusivamente no teor de finos do material.
os conceitos de “estrutura”, “grau de colapsividade” e No tópico 1.4 são apresentados conceitos e
critérios de quantificação do colapso nas argilas resultados de ensaios de laboratório relativos à
lateríticas, típicas de regiões tropicais. Especificamente caracterização física da argila laterítica de Alfenas.
no tópico sobre estruturas são apresentados os Os resultados obtidos estão resumidos na
conceitos de “tixotropia” e “sensibilidade” das argilas, Carta de Casagrande, apresentada no final do tópico
* Trabalho apresentado a SME (Sociedade Mineira de Engenheiros).
** Professor UNIFENAS. C.P. 23 , CEP 37130-000, Alfenas-MG
*** Acadêmicos do curso de Engenharia Civil UNIFENAS

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1.4.1 E finalmente no item 1.4.2 conceitos sobre intensas e dinâmicas transformações internas e externas
“deformabilidade”, apresentados por Vargas, são do planeta, forjadas pelo movimento de seu calor
discutidos. interno e pela transformação da energia solar em
No tópico 1.5 são apresentados, os resultados trabalho mecânico, através principalmente da
dos ensaios de laboratório realizados e na conclusão movimentação das águas superficiais e subsuperficiais.
do presente trabalho são discutidos os resultados dos Acrescenta ainda que a Geotecnia, sendo uma interface
ensaios de colapso da argila de Alfenas, e o resultado entre a geologia e a engenharia civil, como ciência
da atuação deste fenômeno em edificações locais. natural e tecnológica, tem em seu material de trabalho
e suas características gerais a manifestação destas
constantes transformações do relevo”.
1.1. SOLO: TIPOS E PROCESSOS DE Freire (1995) comenta também em seu
FORMAÇÃO trabalho que várias abordagens têm sido feitas pela
comunidade geotécnica sobre a consideração deste
O solo é definido pela Engenharia Civil como aspecto. O Instituto Tecnológico do Estado de São
todo material da crosta terrestre que não oferece Paulo (IPT) ressalta ser a superfície do planeta o
resistência intransponível à escavação mecânica e que resultado entre as chamadas forças internas – que
perde totalmente sua resistência, quando em contato atuam no sentido de elevar a superfície da terra – e as
prolongado com a água. Tem sua origem imediata ou externas, que tendem a arrasar estas elevações. Para
remota na decomposição das rochas pela ação das o entendimento desta dinâmica natural Freire ressalta
intempéries (Vargas, 1977), fato que já lhe confere ser fundamental a consideração dos processos de
uma primeira possibilidade de classificação: “Solo formação, que estão geralmente associados a
Residual” como sendo aquele que permanece no local movimentos orogenéticos ou decorrentes da
da rocha matriz e “Solo Transportado” para aquele epirogênese, e dos processos de erosão. O autor
que após a desagregação das rochas é levado por algum acrescenta os comentários de Wolle sobre a atuação
agente (água, vento ou gravidade) para outros locais. antagônica da natureza: “ de um lado o diastrofismo,
Esta classificação geral implica em uma série de através de dobramentos e flexuras ou através de
propriedades físicas e de comportamento que podem tectônica rígida, falhamentos e basculamentos, cria os
ser previstas para o material a partir deste processo relevos acidentados, a elevação dos terrenos de que
de formação. resultam serras e montanhas e os afundamentos que
A análise geotécnica de obras de engenharia dão origem a vales, planícies, lagos e mares. Por outro
portanto, sob o prisma da Mecânica dos Solos, deve lado ocorre a ação dos processos erosivos, através de
sempre se apoiar neste processo dinâmico do relevo e seus agentes principais, que são a água e o vento, sob
procurar resgatar a história geológica do solo antes a condicionante básica da gravidade, procurando
de qualquer projeto. Especificamente sobre este transportar para cotas mais baixas o material presente
processo dinâmico, Freire (1995) sintetiza informações em maiores altitudes, numa permanente tendência a
de vários pesquisadores do tema e ressalta: “ o relevo peneplanização”.
e seu processo de transformação tem sido abordado A partir destas considerações iniciais sobre o
com destaque pelas várias disciplinas das Ciências processo de formação dos solos de uma forma geral e
Naturais. A Geografia Física através da sua relação com a dinâmica do relevo, o presente
Geomorfologia, a Ecologia e principalmente a trabalho pretende-se ater especificamente sobre os
Geologia, têm demonstrado a importância de tal solos denominados de “formação pedogenética”
consideração. A Geomorfologia faz uma abordagem (lateríticos), ou seja, aqueles que adquiriram
ampla desta dinâmica ao considerar a atuação do relevo características próprias, em função da atuação das
como suporte das interações naturais e sociais. Destaca condições climáticas, após e independentemente de sua
o antagonismo entre as forças endógenas e exógenas condição de “residual” ou “transportado”.
sendo os trabalhos gerados entre tais forças, produtos O tópico 1.2 abordará especificamente sobre
em permanente transformação, dada a constante ação as características das argilas lateríticas, também
e reação entre matéria e energia, interagindo através conhecidas como “solos tropicais”, objeto principal
dos diferentes componentes da natureza. A tese do presente trabalho.
ecológica do Desenvolvimento Sustentável, em um de
seus grupos de ações previstas, refere-se aos esforços 1.2. ARGILAS
do desenvolvimento científico e tecnológico voltados
a compatibilizar as atividades humanas com a Aglomerado de argilo minerais e de outros
dinâmica do meio físico. Também num contexto elementos tais como quartzo, feldspato e mica, e ainda
ambientalista, Santos et al. (1998) comentam as certo teor de impurezas, tais como óxidos de ferro e

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matéria orgânica. Quanto a influência dos processos de um manto de solo com características pedogenéticas,
geológicos e da composição dos solos no seu ou seja, estruturados a partir da laterização: fenômeno
comportamento, a composição mineralógica pode ser característico de regiões de clima tropical e
um dado valioso para prever ou resolver alguns intertropical (quente e úmido), condicionado pela
problemas poucos usuais na engenharia de solos. lixiviação de bases e sílica produzidos por hidrólise,
Entretanto, sozinha é insuficiente para explicar o acumulação de sesquióxidos de ferro e alumínio e
comportamento dos solos, havendo a necessidade da produção de argilo minerais do grupo caulinítico. A
consideração de outros fatores: arranjo das partículas, denominação de lateríticos se incorporou na
origem geológica, tamanho e forma das partículas, terminologia dos engenheiros, embora não seja mais
características do fluido dos poros e dos íons usada nas classificações pedológicas que atualmente
adsorvidos, e finalmente da natureza complexa das utilizam o termo Latossolo (EMBRAPA, 1999). Os
características mineralógicas dos solos naturais solos lateríticos têm sua fração argila constituída
(Massad, 1996). predominantemente de minerais cauliníticos e
Com relação ao processo de formação, como apresentam elevada concentração de ferro e alumínio
foi comentado no item anterior, todo solo tem sua na forma de óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos donde
origem imediata ou remota na decomposição das sua peculiar coloração avermelhada. Estes sais se
rochas pela ação das intempéries. Concomitantemente encontram, geralmente, recobrindo agregações de
com a fragmentação pela expansão e contração térmica partículas argilosas.
a rocha sofre oxidação e ataque de águas aciduladas Os solos lateríticos apresentam-se, na
por ácidos orgânicos. A argila é formada através da natureza, geralmente não saturados, com índice de
decomposição dos feldspatos e mica , pela água vazios elevado, e consequentemente pequena
acidulada. capacidade de suporte, porém podendo ser
O termo argila não pode ter em mecânica dos reestruturado a partir de compactação. Por isto são
solos o significado de rocha que tem em geologia, pois muito empregados em pavimentação. Após
se referirá sempre a um solo. (Vargas, 1977). compactado, apresenta contração se o teor de umidade
A primeira característica que diferencia o solo diminuir, mas não apresenta expansão na presença de
é o tamanho das partículas que os compõe. Existem água (Sousa Pinto, 1998).
grãos de areia com dimensões de 1 a 2 mm e existem
partículas de argila com espessuras da ordem de 10
angstrons (0,000001 mm). Há porém situações de
grãos de areia envoltos por grande quantidade de 1.4. ESTRUTURA E COMPORTAMENTO DOS
partículas argilosas finíssimas ficando com o mesmo SOLOS
aspecto de uma aglomeração formada exclusivamente
de partículas argilosas. Quando secas as duas “ Chama-se estrutura de um solo o arranjo ou
formações (areia/argila) são dificilmente diferenciadas, configuração das partículas entre si” (Vargas, 1977).
quando úmidas, entretanto a aglomeração de partículas Dentre os fatores que proporciona o arranjo estrutural
argilosas, se transforma em uma pasta fina enquanto de um solo destacam-se:
a partícula arenosa revestida é facilmente reconhecida tamanho das partículas; a mineralogia; e o arranjo
pelo tato. (Sousa Pinto, 1998). físico (Feitosa, 1993).
Granulometricamente os solos são Especificamente sobre a macroestrutura dos
classificados em quatro tipos básicos (pedregulho, solos de evolução pedogenética Vargas (1977) salienta
areia, silte e argila), a partir do diâmetro médio dos que esta poderia ser descrita como se faz na pedologia
grãos, conforme especificado em Vargas (1977), a descrição das estruturas do solo para agricultura.
apresentado a seguir: Destaca ser a estrutura dos solos porosos (lateríticos)
Pedregulho – diâmetro médio > 2 mm colapsível, ou seja, destroi-se pela saturação com
Areia – 0,02 mm < diâmetro médio ≤ 2 mm conseqüente diminuição de vazios, mesmo que sobre
Silte – 0,002 mm < diâmetro médio < 0,02 mm ele não esteja atuando pressão externa alguma.
Argila (micro cristais) – diâmetro médio < 0,002 mm O estudo da estrutura do solo considera
( 2µ ) inicialmente o processo de formação: “solos
sedimentados em água”, “residuais e evoluídos”, e por
último os “Loess” (transportados pelo vento).
1.3. ARGILAS LATERÍTICAS Seqüencialmente parte-se para a investigação da
“Sensibilidade” definida como propriedade das argilas
Grandes áreas do território brasileiro, assim de perder resistência com o amolgamento, e da
como de muitos outros países tropicais, estão cobertas “Tixotropia” que descreve o reestabelecimento da

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resistência num solo amolgado. Skempton e Nortey temporária, que pode ser destruída com a inundação ,
apresentaram dados sobre esta recuperação de levando o solo a um colapso estrutural. Sousa Pinto
resistência em um trabalho sobre sensitividade das (1998) também apresenta uma definição para Solos
argilas. Segundo estes autores “ a recuperação de Colapsíveis destacando que são solos não saturados
resistência raramente atinge 100 % do valor primitivo, que apresentam uma rápida e considerável redução de
pois o remolgamento diminui as distâncias entre as volume quando submetidos a um aumento brusco de
partículas, desequilibrando o campo atrativo entre elas umidade, sem que varie a tensão total a que estão
levando a um estado que não é estável. Quando o solo submetidos. São vários os fatores que influenciam no
é deixado em repouso ou sobre ele atuam pressões de comportamento de colapso dos solos devido à
adensamento ou ainda quando trocam-se as condições inundação: estado de tensão, teor de umidade, peso
coloidais do meio, a distância entre as partículas específico aparente seco, teor de finos, plasticidade,
tendem a um nível de energia de repouso que será maior etc. Obviamente os maiores valores dos potenciais de
que o anterior “(Vargas, 1977). colapso estão associados a menores graus de
compactação e maiores desvios do teor de umidade
1.4.1. GRAU DE COLAPSIVIDADE em relação à umidade ótima.
Diversos problemas têm sido observados em
Existem solos que apresentam comportamento edificações construídas em solos colapsíveis, quando
característico sob determinadas condições e, dentre não são identificadas na fase de projeto. Edificações
eles, destaca-se o solo colapsível. Esse tipo de solo, de obras de engenharia nestes solos podem sofrer
ao ser inundado e estando sob a ação de uma diversos danos: trincas, fissuras, rupturas de casas,
sobrecarga, sofre uma brusca e significativa redução edifícios, reservatórios e canais de irrigação,
de volume. Portanto, são caracterizados por depressões em pavimentos rodoviários e formação de
apresentarem estruturas instáveis, não saturadas, superfície de escorregamento de taludes.
porosas e com partículas ligadas por pontes de argilas, Valores altos ou baixos do SPT (Standard Penetration
colóides, óxidos de ferro, etc; que quando submetidos Test) não indicam se o solo é ou não potencialmente
ou não a um aumento de tensão seguido de acréscimo colapsível. Valores altos do SPT em solos colapsíveis
de umidade sofrem um rearranjo estrutural com a estão associados à baixa umidade (w<5%) ou altas
conseqüente redução de volume (Guimarães Neto e sucções. Valores do potencial de colapso medidos
Ferreira, 1998). Estes autores apresentam em seu através de ensaios de campo são inferiores aos de
trabalho relação entre Tensão Vertical de Consolidação laboratório em cerca de 20%, conforme Ferreira e
e Índice de Vazios, na qual o colapso está nitidamente Amorim (1998).
evidenciado (Figura 1). Os solos colapsíveis são localizados geralmente nos
horizontes mais superficiais e sofrem profundo
intemperismo químico (processo de alitização e
fenalitização). O processo de alitização que sofrem os
solos é responsável pela forte agregação das partículas
de solo com a conseqüente geração de grandes vazios
e o elevado potencial de colapso.
Tem-se então que: os solos colapsíveis são
parcialmente saturados e que a tensão de sucção
representa uma tensão efetiva a que o solo está
submetido. Quando saturado, os meniscos capilares
se desfazem, e a tensão efetiva diminui. Tal fato, se
interpretado sob a luz do princípio das tensões efetivas,
Figura 1. Relação entre Tensão Vertical de
deveria provocar um aumento de volume e não uma
Consolidação e Índice de Vazios (Guimarães
redução. Ocorre, entretanto, que a redução da tensão
Neto e Ferreira, 1998).
de sucção provoca um enfraquecimento das ligações
entre as partículas e pequenos escorregamentos entre
Um solo colapsível apresenta, em sua condição elas, gerando uma macrocompressão (Sousa
natural, elevada porosidade e baixo teor de umidade. Pinto,1996).
Essa estrutura porosa geralmente se associa à presença Ferreira e Lacerda (1993) também descrevem
de agentes cimentantes, que podem ser óxidos ou sobre solos colapsíveis salientando que solos não
hidróxidos de ferro e de alumínio e carbonatos. Essa saturados podem ser encontrados em diversas
cimentação, aliada a uma sucção suficientemente condições na natureza: em argilas expansivas de alta
elevada, confere ao solo uma resistência aparente ou plasticidade, em solos residuais saprolíticos e
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lateríticos, em depósitos naturais de solos aluviais,
coluviais e eólicos. Alguns destes solos têm seus
comportamentos típicos relacionados a instabilidade
volumétrica: expansão e contração nas argilas
expansivas; e colapso em solos de estruturas porosas,
metaestáveis, com grãos de areias interligados por
argilas ou agentes cimentantes. Em todos os casos, o
histórico de tensões e a variação de umidade impõe
uma avaliação para análise de seu comportamento. Figura 2. Resultados de ensaios edométricos
A ocorrência dos solos naturais colapsíveis realizados por Ferreira e Amorim (1998).
no Brasil é geralmente verificada em solos aluviais,
coluviais e residuais que têm sofrido lixiviação dos Alguns autores têm estudado a influência da
horizontes mais superficiais, em regiões onde se composição química (e do pH) do líquido inundante
alteram estações secas e de precipitações intensas e no comportamento dos solos colapsíveis. Tem sido
em solos de regiões semi-áridas com baixo teor de constatado, regra geral, que com o aumento do pH do
umidade. líquido inundante, acentua-se o valor do colapso do
A identificação de solos colapsíveis no Brasil solo, o que parece explicar a magnitude e a velocidade
está normalmente associada a obras de engenharia que de recalque que sofrem as construções executadas
envolvem grandes áreas. No Brasil já foram sobre solos colapsíveis, quando estes são encharcados
identificadas algumas ocorrências de solos colapsíveis com água de esgoto doméstico, que, normalmente,
em: Manaus (AM), Parnaíba (PI), Gravatá (PE), possui grande quantidade de sabões e detergentes,
Carnaíba (PE), Petrolândia (PE), Santa Maria da Boa substâncias essas de elevada alcalinidade.
Vista (PE), Petrolina (PE), Rodelas (BA), Bom Jesus Contudo, nem sempre um líquido de pH
da Lapa (BA), Manga (MG), Brasília (DF), Três elevado provoca colapso no solo, tendo-se como
Marias (MG), Itumbiara (MG), Uberlândia (MG), Ilha exemplo, a constatação feita por Cruz et al. (1994)
Solteira e Pereira Barreto (SP), Rio Sarapuí (SP), São citado por Agnelli e Albiero (1997), que ao se usar
Carlos (SP), Rio Mogi-Guaçu (SP), São José dos uma solução de hidróxido de cálcio, com pH 13, o
Campos (SP), São Paulo (SP), Sumaré (SP), Paulínea solo, ao invés de sofrer colapso, apresenta expansão,
(SP), Itapetininga (SP), Bauru (SP), Canoa (SP), o que aponta para a importância da composição
Carazinha (RS) e especificamente Alfenas (MG); química do líquido inundante, e, nem sempre, para o
conforme resultados apresentados na conclusão do valor do pH. O ácido sulfúrico, formado a partir das
presente trabalho. Tem sido verificado que o águas servidas, agride o óxido de ferro, que é um dos
comportamento colapsível dos solos está intimamente principais cimentos dos solos porosos tropicais
relacionado com sua estrutura, conseqüência do (lateríticos).
processo de sua formação. Colapso também ocorre A literatura técnica especializada tem
em solos compactados, sendo reduzido na medida em apresentado trabalhos de pesquisa relacionados a Solos
que a umidade de compactação é maior ou o grau de Colapsíveis. A seguir são apresentadas algumas
compactação é elevado. conclusões obtidas nestas investigações (Agnelli e
O fenômeno da colapsividade é geralmente Albiero, 1997):
estudado em ensaios de compressão edométrica, por - Determinou-se os coeficientes de colapso
representarem adequadamente a situação do terreno mediante os critérios baseados em índices físicos e
abaixo de elementos de fundação superficial. O limites de Atterberg e, também, de acordo com o
Colapso depende do nível de tensão aplicado no solo: critério proposto por Vargas (1977). Com os resultados
é praticamente nulo para tensão baixa, atinge um valor obtidos nas provas de carga, pôde-se avaliar a
máximo e não ocorre para valores de pressão acima intensidade do recalque sofrido pela placa, quando o
de certo valor. Nos ensaios edométricos o colapso se solo é inundado com líquidos de diferentes composições
dá em microescala, pois o confinamento impede a químicas.
ruptura generalizada; e são estas as responsáveis pela - Constatou-se, através da M.E.V.
colapsividade dos solos. (Sousa Pinto, 1998). A (Microscopia Eletrônica de Varredura), que o arranjo
Figura 2 apresenta resultados de ensaios edométricos é de partículas grandes, subangulares, em alguns casos,
realizados por Ferreira e Amorim (1998), cimentadas por partículas da fração argila. Existem,
nos quais estão demonstrados uma avaliação também, os grumos de areia-argila-silte, formando os
comparativa do grau de colapsividade para os solos “torrões”.
das cidades de Petrolina, Santa Maria da Boa Vista - Observou-se que os agregados, na sua
e Petrolândia - PE. maioria, são formados por encaixe (empacotamento)

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de grãos de diversos tamanhos e, em alguns casos, que ele se dá num intervalo muito curto de tempo e
constituídos por cimentações, através dos essa movimentação é da ordem de 10%. Em função
sesquióxidos. de condições hidrológicas ou hidrogeológicas
- Os resultados dos ensaios de adensamento específicas, como concentração de fluxo de água,
são úteis, para avaliar a velocidade e a magnitude do inundações, flutuações do nível do lençol freático, ou
colapso, considerando-se os diferentes líquidos mesmo vazamentos de esgotos e adutoras, o fenômeno
inundantes empregados. da colapsividade pode se manifestar, tendo como
- Observa-se que a solução de sabão em pó conseqüência o rompimento de tubulões, recalques e
(presença de hidróxido de sódio), é mais agressiva que várias em estruturas de concreto”.
a água potável. Esse resultado está coerente com o A Figura 3 seguinte mostra um caso típico de
que foi constatado em ensaios de adensamento. colapso de solo sob adutora, observado em tubulões
- Em solos que apresenta uma estrutura instalados em sedimentos colapsíveis. No caso de
bastante porosa, formada por grãos de quartzo, linhas de transmissão, a situação é mais crítica, pois
interligados por contrafortes de silte e micronódulos ocorre inclinação de torres, com ruptura de cabos
de argila, em estado floculado, cujos contatos são elétricos e das estruturas de concreto das fundações.
reforçados por uma cimentação de óxidos de ferro e
alumínio, o estado floculado pode ser explicado pela S OLO
COLAPS ÍVEL ATERRO
baixa presença de sódio e elevada acidez do solo.
N.A.
Quando um fluído rico em sódio penetra nesse solo,
provoca uma defloculação e um rearranjo das
partículas coloidais, gerando o colapso. 1 - FAS E PÓS -CONS TRUÇÃO - S ITUAÇÃO PRÉ-COLAPS O

- O caráter colapsível é evidenciado, mediante


um dos critérios adotados. Contudo, o colapso depende
da composição química (e do pH) do líquido inundante. N.A.
O líquido, a base de ácido muriático, de pH 3, não
causa colapso em alguns solos, segundo o critério de
Vargas(1977).
- Com base em provas de carga, constata-se
Figura 3. Caso típico de colapso de solo sob adutora
que o colapso diminui com a profundidade e a
(ABMS/ABGE, São Paulo)
velocidade média de colapso, empregando-se a solução
de água e sabão em pó, de pH 11, é da ordem de 2
mm/h, enquanto que, com o emprego de água potável,
1.4.2. CRITÉRIOS DE QUANTIFICAÇÃO DA
de pH 7, essa velocidade diminui para 1 mm/h. A
COLAPSIVIDADE
diferença explica o efeito devastador que vazamentos
de esgotos doméstico têm causado em solo.
Antes de iniciar a discussão dos critérios de
Santos et al. (1998 ) apresenta um caso prático
colapsividade e considerando todas as informações
de colapso em obra e faz alguns comentários sobre o
sobre o fenômeno apresentado anteriormente, pode-se
assunto: “para projeto de fundação é indispensável
concluir que:
que se tenha informações quanto do solo do local.
- um solo potencialmente colapsível é aquele
Existe sempre a possibilidade de se encontrar um
que apresenta um alto índice de vazios e umidade
terreno com comportamento especial como, por
natural menor que a necessária para a saturação;
exemplo, um solo colapsível, que nem sempre são
- a forma com que se dá o colapso depende
detectados pelas investigações geotécnicas usuais para
das características inerentes do solo e do modo de
fins de fundação (SPT). O comportamento destes solos
variação da umidade natural e da carga aplicada;
podem ser determinados através de ensaios específicos
um solo colapsível se caracteriza pela estrutura macro-
de mecânica dos solos, como o ensaio de adensamento”
porosa, meta-estável, com partículas de grandes
(edométrico).
dimensões, mantidas em sua posição pela presença de
Acrescenta então que “nos solos colapsíveis,
algum vínculo;
o fenômeno ocorre pela destruição de uma estrutura
- quanto a sua formação pode-se citar os
muito instável do arranjo das partículas, o que provoca
processos eólicos, residual e transportado pela água.
uma movimentação total das mesmas. Essas
Comum em regiões tropicais, áridas e semi-áridas;
modificações que são físico-químicas são resultantes
- especialmente sobre o processo de colapso
da adição de água ou não; podendo alterar sua estrutura
ainda pose-se mencionar que sua ocorrência está
somente devido ao carregamento. Analisando-se a
relacionada à diminuição da resistência ao
diminuição do volume de um solo colapsível, ver-se-á
cisalhamento nos vínculos, podendo ser desencadeado
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por umedecimento do local e também em função de 1.5.CARACTERIZAÇÃO DA ARGILA
um nível de tensões suficientes para provocar a quebra LATERÍTICA DE ALFENAS
dos vínculos entre os grãos com um rearranjo estrutural
sem aumento da umidade natural do solo.
Quanto aos critérios, vários pesquisadores têm 1.5.1. PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO
estudado o fenômeno e consequentemente proposto
modelos para identificar e quantificar esta Na mecânica dos solos as propriedades
característica de alguns solos tropicais, desde os profundamente estudadas, cujos resultados são
meados dos anos cinqüenta. Denison (1951) propõe importantes e aproveitados pelos engenheiros são
ser o grau de colapsividade (K) a relação entre o índice obtidos através de propriedades físicas mais imediatas
de vazios do solo amolgado correspondente ao limite tais como: sua granulometria – ou textura, sua
de liquidez e o índice de vazios natural. A partir desta plasticidade e a atividade da fração fina do solo.
relação tem-se que para K maior que 0,5 e menor que
0,75 o solo seria altamente colapsível. Para K maior 1.5.1.1. TEXTURA, GRANULOMETRIA,
que 1 seria não colapsível . Priklonskij (1952) defini TAMANHO E FORMA DOS GRÃOS
como grau de colapsividade (K D) a relação da
diferença do limite de liquidez e a umidade natural, e Conforme Vargas (1977), os grãos dos solos
o índice de plasticidade (diferença entre o limite de acham-se reunidos de modo a se tocarem, deixando
liquidez e o limite de plasticidade): KD = (LL – W0 / espaços vazios: os poros do solo. Esses poros são
IP) sendo que para as situações de KD < 0 o solo seria preenchidos por água ou ar. Há portanto três fases
altamente colapsível; para KD > 0,5 não colapsível e constituintes dos solos: sólida, líquida e gasosa. A
quando KD for maior que 1 o solo seria expansivo granulometria é a medida da “textura”, parte sólida
(Spósito, 1993). relativa ao tamanho dos grãos do solo. A disposição
Um outro critério também citado por Spósito dos grãos em relação a água intersticial e ao ar,
(1993) refere-se ao “Código de Obras da U.R.S.S.” constituem a estrutura do solo.
mencionado por Resnik (1989), no qual o solo No estudo da textura dos solos, o método usado para
é identificado como colapsível quando o grau a determinação da granulometria das areias e dos
de saturação for menor que 80 % e o coeficiente pedregulhos é o simples peneiramento. Nas malhas
CI = (e0 – e1 / 1 + e0 ) for menor que : das peneiras ficam retidos porções de solo, porções
0,10 para 1 % < IP < 10 %; essas cujos grãos tem diâmetro maior que as malhas
0,17 para 10 % < IP < 14 %; e da peneira onde foram retidas, e menor que das peneiras
0,24 para 14 % < IP < 24 %. que passaram.
E um último critério ainda citado pelo autor Para argilas e siltes, que são solos mais finos,
identifica a probalidade de colapso baseado no teor de fica impraticável o peneiramento, pois a abertura das
finos (% < 0,002 mm) do solo. Segundo estes autores malhas deveriam ser excessivamente pequena, difícil
os solos com (% < 0,002 mm ) < 16 % apresentam de ser obtida industrialmente e preservada com o uso.
alta probalidade de colapso; com (% < 0,002 mm) Assim, para grãos menores com cerca de 0,075 mm
variando de 16 a 24% seria provavelmente colapsível; (peneira 200), emprega-se o método de sedimentação.
com (% < 0,002 mm) de 24 a 32 % teria a Este método consiste em colocar uma certa quantidade
probabilidade menor que 50% para apresentar de solo em um frasco de água com um antifloculante,
colapso; e finalmente aqueles com (% < 0,002 mm) > para se obter uma suspensão fina. Sob a ação da
32% seriam geralmente não colapsíveis. Este critério gravidade, as partículas irão sedimentar. Segundo a
não se aplica para os solos de Alfenas (MG). Lei de Stokes, e admitindo-se que as partículas são
A utilização de qualquer um dos métodos esféricas, a velocidade num dado espaço Z num tempo
apresentados e os referidos resultados obtidos não T será dada pela fórmula:
devem ser aceitos como conclusivos na identificação
e quantificação da colapsividade, devido as V = Z / T = [ ( δ - γ0 ) / 1800 η ] D2
circunstâncias regionais específicas em que foram D2 = (V 1800 η) / ( δ - γ0 ) onde:
estudados. Um estudo preciso do assunto deve utilizar
vários critérios simultaneamente e, quando possível, δ é a massa específica do grão do solo, γ0 a da água,
executar um ensaio edométrico com inundação em η é a viscosidade do líquido e D o diâmetro da esfera,
amostra indeformada, pois assim a verificação estará cuja a massa é equivalente à da partícula em queda.
simulando as condições reais de utilização do solo. Quanto aos grãos que estão em suspensão no líquido
Esta última consideração norteou o presente trabalho. (suspensão fina), a sua densidade é determinada através
de um densímetro calibrado, a sua leitura num
R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:81-92, 1999
88 É. P. FREIRE et al.
determinado tempo, permitirá o cálculo da A partir de um certo teor de umidade h1, o
porcentagem dos grãos em suspensão (onde os grãos material torna-se plástico (sujeito a moldagem). Se
tem diâmetro inferior aos grãos sedimentados ). continua-se a adicionar água, este vai se tornando cada
Arthur Casagrande pesquisou exaustivamente esse vez mais mole, até que ao atingir um teor de umidade
ensaios e os resultados dos seus estudos continuam h2, passará a atuar como um líquido viscoso. Portanto
sendo a base do ensaio de granulometria. Através de na representação unifilar dos valores de umidade, tem-
um gráfico semilogarítmico, onde as abcissas se um material plástico entre os valores limites h1 e
representam o diâmetro dos grãos e as ordenadas as h2. Esses limites foram denominados por Atterberg,
porcentagens em peso dos grãos de diâmetro inferiores h1= limite de plasticidade (LL ou WL) e h2= limite de
aos da abcissas, tem-se a melhor maneira de liquidez (LP ou WP). Com umidade superior a h2 o
representar os resultados da análise granulométrica solo fino está no estado líquido. Abaixo de h1 o solo
(Vargas, 1977). está no estado semi-sólido. Entre h1 e h2 o solo está
no estado plástico. A Figura 4 apresenta em um
1.5.1.2 - PLASTICIDADE E LIMITES DE diagrama unifilar a variação da umidade e a indicação
ATTERBERG dos parâmetros LL e LP, conforme discutido
anteriormente (Vargas, 1977).
Os solos arenosos são facilmente
identificáveis, por meio das curvas granulométricas,
mas já nos solos finos (diâmetro inferior a 0,1 mm)
isso não acontece. Conclui-se que o conhecimento da
curva granulométrica de tais solos não é suficiente para
prever seu comportamento na prática, ou seja, podem-
se encontrar siltes, argilas e solos argilosos com a FIGURA 4. Diagrama unifilar a variação da
mesma curva granulométrica, mas com umidade. (Vargas, 1977).
comportamentos diferentes. Isto se dá porque nos solos
finos, além do tamanho a própria forma dos grãos irá Observa-se que as propriedades mecânicas dos
intervir. Nos pedregulhos e areias os grãos são solos vão depender da granulometria, da forma dos
arredondados e angulosos; sempre de forma grãos, do teor de umidade e do arranjo desses próprios
aproximadamente esférica. Já nas argilas os grãos grãos.
sendo, de minerais cuja estrutura cristalina é complexa, Para a determinação do Limite de Liquidez,
tem forma lamelar, escamosa, filiforme, ou outras Atterberg baseou-se no fato de que o material é fluido
ainda mais complexas. Esses grãos, tendo a espessura e toma forma do recipiente que o contém. Se for aberto
média muito pequena, envolvidos pela água intersticial, uma ranhura no centro da massa de solo, esta se
isto é, com a relação entre a área superficial das fechara com a aplicação de choques na base do
partículas e o seu volume, muito grande, os grãos estão recipiente. Se estiver mais próximo do estado sólido
ligados entre si e a água por forças capilares que lhes necessitará de um número maior de golpes. E se,
emprestarão uma resistência intríseca, a qual é próximo de um líquido viscoso fechar-se-á a ranhura
chamada coesão. Por isto os solos finos são chamados imediatamente. Arthur Casagrande padronizou esse
coesivos. Sendo a forma dos grãos lamelares, eles ensaio, mecanizando o primitivo processo de Atterberg.
poderão deslizar uns sobre os outros quando o solo é O mecanismo é provido de um recipiente de cobre, em
deformado por uma força externa; sendo que esta concha, ligado a um suporte com manivela a qual faz
resistência dependerá do teor de umidade do solo cair a cápsula sobre uma base padronizada. Com um
(Vargas. 1977). gabarito executa-se uma ranhura na massa do solo
Defini-se portanto como plasticidade, a colocada na concha. Girando-se a manivela o
propriedade de certos sólidos tomar outras formas sem excêntrico fará com que o recipiente se eleve a uma
variar o seu volume. A plasticidade de uma argila existe altura constante igual a um centímetro e, em seguida,
devido a forma lamelar de seus grãos, e depende do caia chocando-se contra a base ( Figura 4 ). O esforço
seu teor de umidade. As formas dos grãos possibilitam do choque da concha na base corresponde a um esforço
que as partículas deslizem umas sobre as outras desde de cisalhamento que leva o solo lateral a move-se,
que a água intersticial poça funcionar como um fechando a ranhura . Anota-se o número de golpes
material lubrificante. Ésta é uma propriedade das necessário para fechar a ranhura e coloca-se em um
argilas. Uma argila extremamente seca não é moldável gráfico relacionando-os com as umidade das amostras.
plasticamente; se entretanto, adicionarmos Colocam-se esses valores em gráfico semilogarítmico
progressivamente pequenas quantidades de água esta verificando-se que os pontos correspondentes dispõe-
vai se tornando cada vez mais maleável . se em linha reta. Convencionou-se que no ensaio de

R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:81-92, 1999


ESTUDO DO GRAU DE COLAPSIVIDADE DA ARGILA LATERÍTICA DE ALFENAS 89

Casagrande, a umidade correspondente a 25 golpes, lateríticas do solo local.


necessários para fechar a ranhura, é o Limite de CARTA DE CASAGRANDE
Liquidez. Para se obter esse valor determinam-se pelo Vários pontos de Alfenas.
menos três pares de valores, número de golpes versus IP
50

umidade. Traçando-se o gráfico semilogarítmico, Linha B


40
determinar-se por interpolação, a umidade pouco compressível muito compressível

correspondente a 25 golpes. 30
Linha A

O Limite de Plasticidade foi determinado


originalmente por Atterberg. Modernamente o ensaio 20

foi padronizado especificando que a moldagem deva muito plástico


10
ser feito por movimentos regulares de vai e vem dos
pouco plástico
dedos da mão sobre uma placa de vidro fosco, colocada 0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
em superfície horizontal. A quantidade de solo com
que se faz o ensaio deve ser tal que dê para moldar um LL
cilindro de 3 mm de diâmetro e, aproximadamente a Figura 5. Ensaios de Limites de Atterberg.
largura da mão. Ao rolar-se a amostra esta vai
progresssivamente perdendo umidade até chegar ao
ponto em que o cilindro, atingindo as dimensões acima
indicadas, começa a partir-se. Determina-se então, a
umidade da amostra e esta refere-se ao Limite de
Plasticidade.
Segundo Atterberg, a plasticidade de um solo
seria definida por um índice: Índice de Plasticidade,
igual a diferença entre os limites de liquidez e
plasticidade.
Arthur Casagrande fez um gráfico onde um
solo é definido por um ponto cujas coordenadas são
seus IP e LL. A região onde o ponto cai defini a
plasticidade do solo correspondente. O gráfico é
dividido então em 4 regiões pelas linhas A e B e Figura 6. Talude de corte no bairro de Campos
limitado pela linha U a qual é o limite superior, acima Elísios
do qual não ocorre valores de IP e LL. Se o ponto
definidor do solo cai acima da linha A, o solo é dito 1.5.2. DEFORMABILIDADE
muito plástico; abaixo, pouco plástico. A direita da
linha B é um solo muito compressivo e a esquerda, Conforme Vargas (1977) as deformações de
pouco compressivo. um solo são obtidas com a expulsão da água de seu
Com o conhecimento da granulometria e da interior, o que demanda certo tempo em virtude da
posição no gráfico de plasticidade do ponto. baixa permeabilidade das argilas. O processo de
Com o conhecimento da granulometria e da posição dissipação das pressões neutras e das deformações
no gráfico de plasticidade do ponto correspondente correspondentes é caracterizado como o adensamento
aos IP e LL do solo, pode-se prever com certa dos solos.
aproximação, todas as outras propriedades do solo e Ainda conforme o autor, o entendimento do
portanto, classificá-lo convenientemente (Vargas, processo de adensamento fica bastante facilitado pela
1977). analogia à mecânica de Terzaghi. O solo pode ser
Nesta pesquisa foram executados ensaios de assemelhado a uma mola, cuja deformação é
Limites de Atterberg utilizando-se amostra deformada proporcional às cargas nela atuante. O solo saturado
da argila laterítica de Alfenas. Os resultados podem corresponde a uma mola dentro de um pistão cheio de
ser verificados na figura seguinte. água, no êmbolo do qual existe um orifício de reduzida
Observa-se a partir dos valores plotados na dimensão.
Carta de Casagrande que o solo estudado apresenta Ao se aplicar uma carga sobre o pistão, no
baixa plasticidade e alta compressibilidade, indicando instante seguinte a mola não terá se deformado, pois
o potencial colapsível. ainda não teria ocorrido qualquer saída de água. Toda
A Figura 6 anterior mostra a imagem de um a carga é suportada pela água. Estando em carga, a
talude de corte no bairro de Campos Elísios na cidade água começa a sair pelo orifício. Num instante
de Alfenas, onde estão evidenciadas as características qualquer, a quantidade de água expulsa terá provocado
R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:81-92, 1999
90 É. P. FREIRE et al.
uma deformação na mola que corresponde a uma certa utilizou-se amostras indeformadas e prensa
carga. Neste instante, a carga total estará parcialmente convencional para ensaio de adensamento.
suportada pela água e parcialmente pelo solo. A água,
ainda em carga, continuará a sair do êmbolo, a mola
continuará a se comprimir, suportando cargas cada
vez maiores, até que toda a carga aplicada esteja 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
atuando sobre ela.
No anel de adensamento ou no campo, quando Os ensaios realizados em laboratório
não há deformação lateral, sucede algo semelhante. utilizando amostras indeformadas da argila laterítica
Ao ser aplicado um acréscimo de pressão, a água nos de Alfenas, demonstram ser este material colapsível
vazios suporta todo o carregamento. A pressão neutra quando inundado e/ou submetido a um carregamento.
aumenta de um valor igual ao acréscimo de pressão Tal constatação pode ser verificada nos gráficos dos
aplicada, enquanto a tensão efetiva não se altera. ensaios edométricos seguintes.
Estando a água em carga superior à externa, passa a A Figura 7 demonstra que o colapso ocorreu
ocorrer percolação, para as pedras porosas, no ensaio, apenas com o carregamento, pois a inundação foi
ou nas camadas drenantes, no subsolo. A saída de água aplicada após a deformação volumétrica específica de
é acompanhada da deformação do solo, que se dá com aproximadamente 25%. No segundo ensaio (Figura
o aumento da tensão efetiva. Como na analogia 8) a amostra foi inundada quando a tensão aplicada
mecânica, o processo continua até que toda a pressão era de 25 kPa, e a partir de então, a amostra apresentou
aplicada tenha se tornado acréscimo de tensão efetiva. redução brusca de volume, (colapso), atingindo um
Adensamento secundário é uma compressão valor final de deformação volumétrica semelhante ao
lenta que continua a ocorrer após o desenvolvimento primeiro ensaio
dos recalques previstos na teoria do adensamento. ENSAIO EDOMÉTRICO
ARGILA LAT. VERMELHA DE ALFENAS.
Teoricamente as tensões neutras teriam se 0
Def. Vol.
dissipado. Na realidade, alguma pressão neutra Espec. 5
contínua presente, justificando a saída de água do (%)
10
interior do solo. 15
Este fenômeno indica que pode ocorrer
20
deformação no solo mesmo sendo constante a tensão inundação
25
efetiva, o que, implicitamente, contradiz o princípio
30
que considera a tensão efetiva a única responsável pelas
35
deformações estabelecidas por Terzaghi. Deformação
40
lenta ocorre em todos os materiais, mas nos solos ela 1 10 100 1000
carga (kPa)
é mais notável em virtude das transmissões de forças
pelos contatos entre as partículas. Figura 7. Colapso pela carga.
Parte das forças são transmitidas pelos ENSAIO EDOMÉTRICO
contactos entre minerais argila, que se dão pela água Argila Laterítica de Alfenas

0
adsorvida. Com o tempo alguns destes numerosíssimos Específ.
(%)
contactos se desfazem, descarregando as forças para 5
inundação

os contactos vizinhos, com pequenos deslocamentos.


O fenômeno de deformação das argilas 10

costuma ser dividido em duas fases, como se elas 15


fossem bem distintas: o adensamento primário, durante
o qual as pressões neutras se dissipam, e o adensamento 20

secundário, que ocorre sem pressão neutra, ou com 25


pressão neutra muito pequena, para justificar a saída
da água. 30
0.1 1 10
Carga (kPa)
100

Figura 8. Colapso com carregamento e inundação.


2. MATERIAL E MÉTODOS
Uma comparação dos dois ensaios (Figuras 7
Os trabalhos de investigação da argila e 8) podem ser observados na Figura 9, de onde pode-
laterítica colapsível da cidade de Alfenas constaram se concluir que argila laterítica de Alfenas apresenta
de ensaios edométricos, com inundação após colapso para qualquer uma das situações:
carregamento. Para a realização destes ensaios carregamento e/ou inundação.

R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:81-92, 1999


ESTUDO DO GRAU DE COLAPSIVIDADE DA ARGILA LATERÍTICA DE ALFENAS 91
ENSAIO EDOMÉTRICO
Def. Vol. 0 Argila Laterítica de Alfenas
Específ.
(%)
5 inundação

10

15

20 inundação

25

30
0.1 1 10 100
Carga (kPa)
Figura 12. Amostra e anel de ensaio de
Figura 9. Comparação entre resultados de ensaios. adensamento.
Nas Figuras 10, 11 e 12 estão demonstrados
Os resultados obtidos justificam a ocorrência
o equipamento (prensa de adensamento) utilizado, e
de recalques excessivos em edificações na cidade de
seqüencialmente as imagens das amostras ao lado do
Alfenas, conforme ilustram as Figuras 13, 14, 15 e
anel de confinamento, após ensaio.
16.

Figura 13. Efeito de recalque excessivo em


fundação.
Figura 10. Prensa de adensamento.

Figura 11. Amostra e anel de ensaio de Figura 14. Efeito de recalque excessivo em
adensamento. fundação.

R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:81-92, 1999


92 É. P. FREIRE et al.

os dados apresentados confirmam que a observação


feita no início da pesquisa de que o ensaio edométrico
é o método mais adequado e que os critérios que têm
como base as características físicas do material
(Limites de Atterberg e Índice de Vazios) devem ser
aplicados conjuntamente e somente nas condições
específicas em que foram propostos, ou seja, em
materiais de regiões não tropicais.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
AGNELLI, N. e ALBIERO, J.H. Aspectos Físicos,
Figura 15. Efeito de recalque excessivo em Químicos e Mecânicos de um Solo Colapsível,
fundação. Inundado com Diferentes Líquidos. Solos e
Rochas. Revista Brasileira de Geotecnia. São
Paulo, v. 20, n 2, p. 16 , 1997
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999.
412p.
FEITOSA, S.. Seminário de Geotecnia, UNB, 1993.
22p.
FERREIRA, S. R. M. e LACERDA, W. A. Variação
de Volume em Solo Colapsível medidas através
de ensaios de laboratório e campo. Solos e
Rochas. Revista Brasileira de Geotecnia. v.16,
Figura 16. Efeito de recalque excessivo em
fundação. n 4, p. 8.
FERREIRA, S. R. M. e AMORIM, S. F. XI
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica. Volume 1, Brasília, DF,
4. CONCLUSÃO 1998. 680p.

O presente estudo possibilitou a confirmação FREIRE, E. P. . Estabilidade de Taludes Naturais em


do fenômeno de colapso na argila laterítica de Alfenas, Solos nos Morros da Cidade de Santos.Brasília,
através dos resultados experimentais de ensaios de DF, 1995.108p. (Dissertação de Mestrado de
caracterização física e edométricos. A análise destes Geotecnia, UNB).
resultados indica que o colapso pode ocorrer devido a GUIMARÃES NETO, J. S. F. e FERREIRA, S. R.
um carregamento do solo ou por processo de M. XI Congresso Brasileiro de Mecânica dos
inundação, ou ainda com a ocorrência das duas Solos e Engenharia Geotécnica. v. 1, Brasília, DF,
situações simultaneamente. 1998. 680p.
A confirmação da colapsividade desta argila
permite ainda o entendimento dos recalques excessivos MASSAD, F. Notas de Apoio as Aulas. , São Paulo,
verificados em edificações da cidade de Alfenas, e EPUSP. 1996. 400 p.
sinaliza o rumo que as investigações devem tomar para SANTOS, A. M. et al. Geologia de Engenharia. São
as soluções de engenharia mais adequadas. Paulo ABGE, 1998. 586p.
Os resultados obtidos mostram ainda que os
objetivos da presente pesquisa foram atingidos, ou seja, SOUSA PINTO, C. Fundações. Teoria e Prática. São
identificou-se experimentalmente o colapso do material Paulo, PINI. 1996. 751p.
estudado, o que abre um novo campo de investigação
SPOSITO, T. J. Seminário de Geotecnia, UNB, 1993.
visando o sucesso da Engenharia Civil na região do
9p.
Sul de Minas.
Especificamente sobre os métodos para VARGAS, M. Introdução à Mecânica dos Solos. .
identificação e quantificação do grau de colapsividade, São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977. 509p.

R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:81-92, 1999

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