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O documento discute o conceito de discurso em Michel Foucault e sua contribuição para pesquisas educacionais. A autora explica que para Foucault o discurso deve ser analisado em seu nível de produção histórica e política, considerando a linguagem como constituinte de práticas sociais presas às relações de poder. Além disso, o discurso é composto por enunciados que pertencem a formações discursivas definidas por regras históricas.
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Resenha do artigo de Fischer, em que a autora aborda a teoria de Foucault aplicada à educação.
O documento discute o conceito de discurso em Michel Foucault e sua contribuição para pesquisas educacionais. A autora explica que para Foucault o discurso deve ser analisado em seu nível de produção histórica e política, considerando a linguagem como constituinte de práticas sociais presas às relações de poder. Além disso, o discurso é composto por enunciados que pertencem a formações discursivas definidas por regras históricas.
O documento discute o conceito de discurso em Michel Foucault e sua contribuição para pesquisas educacionais. A autora explica que para Foucault o discurso deve ser analisado em seu nível de produção histórica e política, considerando a linguagem como constituinte de práticas sociais presas às relações de poder. Além disso, o discurso é composto por enunciados que pertencem a formações discursivas definidas por regras históricas.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Foucault e a anlise do discurso em Educao.
Cadernos de Pesquisa (CEDES). [online]. 2001, vol. 114, no. 197-223.
Resenha Ludmilla M. Alves
Segundo a prpria autora, o objetivo central do seu artigo propor uma
discusso terica e metodolgica sobre o conceito de discurso em Michel Foucault e a as possibilidades de sua contribuio para investigaes de natureza educacional. Para incio de discusso, Fischer nos alerta para o abandono de interpretaes homogneas e para a busca de um sentido oculto por trs dos signos, como se coubesse ao estudioso trazer tona as verdades adormecidas de um texto. Pelo contrrio, nos recomenda ficar (ou tentar ficar) simplesmente no nvel de existncia das palavras, das coisas ditas. Isso significa que preciso trabalhar arduamente com o prprio discurso, deixando-o aparecer na complexidade que lhe peculiar (FISCHER, 2001, p. 198). Portanto, interessa em seu trabalho explorar os materiais em nvel de uma produo histrica e poltica, considerando a lngua como uma constituidora de prticas. Para um melhor entendimento dos procedimentos e conceitos foucaultianos, a autora se lana a nos esclarecer algumas proposies, como, por exemplo, a de que o discurso sempre se produziria em razo das relaes de poder e do saber que se implicam mutualmente. Logo, os enunciados e visibilidades, textos e instituies, falar e ver constituem prticas sociais por definio permanentemente presas, amarradas s relaes de poder, que as supem e as atualizam. (FISCHER, 2001, 200). Por isso, entende-se em Foucault que o discurso est alm da linguagem dos signos e dos sentidos encerrados em si mesmos. Para o filsofo, o mundo dos conceitos no reside nessa conscincia lingustica compartilhada, mas sim, dentro dos prprios discursos (e campos discursivos). No prximo tpico, a autora ir discorrer sobre a noo foucaultiana de enunciado. Em Arqueologia do Saber, Foucault (1986) define discurso como um conjunto de enunciados que se apoiam numa mesma formao discursiva. Ao contrrio
da concepo bakhtiniana, Foucault no considera que o enunciado se constitua numa
unidade, pois ele se encontra na transversalidade de frases, proposies e atos de linguagem: ele sempre um acontecimento, que nem a lngua nem o sentido podem esgotar inteiramente (FOUCAULT, 1986 apud FISCHER, 2001). Desta forma, no h como existir enunciado sem que este esteja apoiado num sistema de signos. No entanto, o que interessa a no seria a linguagem em si, mas o fato de essa funo de enunciado se caracterizar em quatro elementos: 1) um referente (princpio de diferenciao); 2) um sujeito; 3) um campo associado (a condio de coexistir com outros enunciados); 4) uma materialidade especfica (a forma concreta em que registrado). Assim, entende-se que ao estudar um enunciado, dando conta desses quatro elementos, tambm perceb-lo como um acontecimento: algo que surge num determinado tempo, num determinado lugar, sob determinadas condies. E o que nos permite situar um conjunto de enunciados nesses aspectos o fato de pertencerem a uma mesma formao discursiva. Para Foucault (1986, p. 82) uma formao discursiva um feixe complexo de relaes que funcionam como regra, ou seja, definir em sua individualidade singular um sistema de formao , assim, caracterizar um discurso ou um grupo de enunciados pela regularidade de uma prtica. (Idem). Fischer (2001, p. 203) complementa o pensamento com Maingueneau, afirmando que as formaes discursivas devem ser vistas sempre dentro de um espao discursivo ou de um campo discursivo, ou seja, elas esto sempre em relao como determinados campos de saber.. A primeira vista, essas teses nos soam pouco acessveis. No entanto, a autora busca intercalar a discusso com exemplos prticos, aplicando os conceitos em situaes hipotticas e correlacionando-os com outros saberes, de modo a dinamizar o modo como os visualizamos. Por exemplo, toda a ideia exposta anteriormente, pode ser melhor compreendida se consideramos os atos de fala, uma vez que esto inseridos dentro de certas formaes discursivas, e esto em acordo com determinados regimes de verdade, ou seja, estamos sempre, inevitavelmente, obedecendo a um conjunto de regras histricas e fixando as verdades do seu tempo (FISCHER, 2001). Portanto, tudo aquilo que enunciamos, est irremediavelmente amarrado s verdades de um tempo e de um espao. Portanto, estudar os enunciados de um discurso:
Trata-se de um esforo de interrogar a linguagem o que efetivamente foi dito
sem a intencionalidade de procurar referentes ou de fazer interpretaes reveladoras de verdades e sentidos reprimidos. Simplesmente, perguntar de que modo a linguagem produzida e o que determina a existncia daquele enunciado singular e limitado. Deixar se ficar nos espaos brancos, sem interioridade nem promessa, como escreve Foucault. (FISCHER, 2001, p. 205)
No prximo tpico, a autora debate a heterogeneidade discursiva, fator
correspondente disperso dos enunciados. Aqui Fischer parece utilizar vrias opes de terminologia para cambiar o conceito, entre elas, esto: pluridiscursividade, heterogeneidade discursiva, interdiscurso. Todas parecem convergir para um mesmo ponto: a disperso do enunciado como acontecimento. Nesse sentido, o trabalho do pesquisador ser constituir unidades a partir dessa disperso, mostrar como determinados enunciados aparecem e como se distribuem no interior de um certo conjunto (FISCHER, 2001, p. 206). Desdobrando o assunto, o texto segue para aprofundarmos nos tpicos de sujeito e interdiscurso. Considera-se aqui a noo da presena das vozes dos sujeitos, em sua condio de descontinuidade e disperso nos discursos (pois ele ao mesmo tempo falante e falado). Nesse ponto, Foucault contesta as teses de que o sujeito seria formado fora de si, constitudo por um outro, a quem, num plano de tomada de conscincia, esse sujeito pudesse vencer e tornar-se o senhor do seu prprio destino. Foucault foge a essas concepes entre o eu e o outro (e demais teses postuladas por estudiosos do discurso), para formular a sua noo de disperso do sujeito. Nela, o sujeito multiplicado, desdobrado, relacionado com outros da sua mesma categoria, que ocupam um mesmo lugar e coexistem sob as mesmas regras histricas. Assim, Fischer esclarece que: A heterogeneidade discursiva est diretamente ligada a essa disperso, j que nos discursos sempre se fala de algum lugar, o qual no permanece idntico: falo e, ao mesmo tempo, sou falado; enuncio individualmente, de forma concreta, constituindo-me provisoriamente um, ambicionando jamais cindirme, porm a cada fala minha posiciono-me distintamente, porque estou falando ora de um lugar, ora de outro, e nesses lugares h interditos, lutas, modos de existir, dentro dos quais me situo, deixando-me ser falado e, ao
mesmo tempo, afirmando de alguma forma minha integridade. (FISCHER,
2001, p. 208).
Adiante, a autora nos insere na definio de interdiscurso. Segundo a teoria
foucaultiana, esse o campo das dissonncias, dos confrontos, das vozes complementares, isto , so enunciados povoados por outros enunciados que se cruzam transversalmente. Ora, para Foucault, no h enunciado livre, neutro e independente; mas sempre um enunciado fazendo parte de uma srie ou de um conjunto, desempenhando um papel no meio dos outros, neles se apoiando e deles se distinguindo: ele se integra sempre em um jogo enunciativo, onde tem sua participao, por ligeira e nfima que seja. [...] No h enunciado que no suponha outros; no h nenhum que no tenha, em torno de si, um campo de coexistncias. (Foucault, 1986, p.114)
Assim, para o analista do discurso, debruar-se no campo das
interdiscursividades estar disposto a defrontar-se com as contradies, as diferenas, os apagamentos, enfim, permitir que essa heterogeneidade do discurso se manifeste. Nessa pluralidade de discursos, esto inseridos os embates dos sujeitos em suas buscas pelo sentido e pela significao. A, Fischer traz para a discusso o exemplo da mdia, lugar em que diversas instituies e sujeitos falam, onde discursos, mais do que nunca, se veem multiplicados, esfacelados. Chega mesmo ao ponto de afirmar que atingimos um tempo em que cada vez mais essa discursividade toma corpo, define-se, impe-se como bsica ao funcionamento geral da sociedade contempornea. (FISCHER, 2001, p. 213). E sugere que nos falta investigar os limites e os modos atravs dos quais esses discursos se configuram, e identificarmos quais so as suas regularidades. Mas, ressalva que o tratamento que devemos dar a essas unidades de discurso no deve ser a de um todo bem-acabado, categorizadora de cada ocorrncia discursiva. A disposio exigida do analista aqui seria a de analisar esses objetos como organismo vivos, inseridos em seus momentos histricos de enunciao. No ltimo tpico, a temporalidade do discurso, discute-se a respeito da histria das verdades e modos de existncia dos enunciados. A autora traz para o texto a pesquisa de Foucault em Histria da Loucura e, a partir dela, explica como o filsofo situa o discurso nas cadeias de apropriaes, condies de realizao e utilizao. Para se compreender a questo, necessrio ultrapassar a noo de que o discurso emerge num certo espao e tempo histricos. preciso mergulhar atravs dos documentos
escolhidos, das prticas a que os textos se referem, da formao social em questo, da
trajetria dos conceitos envolvidos e ainda do prprio posicionamento do pesquisador. (FISCHER, 2001, p. 216). Em sntese, trata-se da anlise arqueolgica foucaultiana, processo que objetiva revelar a sistematizao de um canal de redes interrelacionadas, no necessariamente lineares, que possibilitam o surgimento, a emergncia, de um determinado discurso. No interessa aqui o descobrimento de verdades ou inverdades. Interessa descobrir o que foi dito, o que se pensou, o que se fez a partir de um dado estado das coisas e dos saberes. Enfim: O que est em jogo no mtodo arqueolgico, quando se fala na ntima e necessria relao entre o discursivo e o no-discursivo, que ele se concentra sobre o domnio de coisas efetivamente ditas ou escritas, importando descrever justamente de que modo elas se inscrevem no interior das formaes discursivas, isto , no sistema relativamente autnomo dos atos do discurso, em que so produzidas essas coisas ditas (FISCHER, 2001, 219).
Fischer encerra o debate nos conscientizando para o fato de que cabe ao
analista do discurso, a responsabilidade de observamos como anunciamos, de percebermos que a transitoriedade e modificao dos enunciados implicam num acervo de memrias discursivas j antes enunciadas. Essas cadeias de (re)constituio do discurso so as pontes que permitem a descrio das memrias, dos esquecimentos, das rupturas, etc. Portanto, reafirma Fischer, no se pretende despertar o sentido oculto, dormente por trs dos textos. Trata-se de revelar os modos e condies de existncia que caracterizam os enunciados. Assim, como arquelogos, estaramos defrontando o passado, libertando-nos do presente e enxergando a possibilidade de nos situarmos no futuro.