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Livros

Graça Lobo, Virgílio Franco-Português, Lisboa


Castelo e Jorge Silva (inserido no Festival do
Leitura Melo lêem excertos de
Samuel Beckett e James
Silêncio) a 16 de Junho às
21h30.
Joyce, no Instituto

mente confrontada com os seus sign deixa de ser uma acção neutra, tualmente ou a forma como poderá intervenção crítica. Autor de obras leve”, resumo que Eugénio Lisboa
próprios limites. mas passa a ser visto como algo que evoluir no futuro. Por vezes, não se ensaísticas importantes, como considera escandaloso. Lisboa recupe-
O livro, como o próprio autor admi- engana, que se atravessa no cami- trata apenas da maneira como uma “Crónica dos Anos da Peste” (1973- ra igualmente autores ignorados por
te, é sobre a complexidade da Améri- nho, nem sempre com as melhores palavra muda ao longo do tempo, 1975), Lisboa andou na órbita causa da sua discrição, enaltecendo
ca e a sua inesgotável capacidade de intenções; quanto ao designer, passa mas do modo como é interpretada “presencista”, tendo estudado em o regionalismo vernáculo de João de
superar as crises. Tem uma conclusão: a ser “um conspirador dissimulado em diferentes lugares. Flusser re- especial a obra de José Régio, de Araújo Correia ou o minimalismo en-
que “nunca é aconselhável desistir da que estende as suas armadilhas”. corre frequentemente ao inglês, ao quem foi amigo. simesmado de Saul Dias. O negregado
América”. Por isso, Schama escreve Através do design, engana-se a natu- alemão, ao francês para ilustrar os Os dois grossos volumes de “In- “psicologismo” também é resgatado, e
na sua introdução: “Poderei indicar- reza, substituindo “o que é natural seus argumentos, uma versatilidade dícios de Oiro”, que reúnem textos Lisboa diz que o que serve para Proust
vos o preciso momento em que a de- pelo que é artificial”, transformando linguística que deriva sem dúvida do dispersos, também são, de algum também há-de servir para a pátria. E
mocracia americana ressuscitou: foi “dissimuladamente simples mamífe- seu percurso: nascido em Praga, em modo, crítica presencista. Não por- há ainda um perceptivo ensaio que
às 19h45 (hora da Europa Central) do ros condicionados pela natureza em 1920, foi o único sobrevivente da sua que se ocupam apenas dos escritores demonstra que David Mourão-Ferreira
dia 3 de Janeiro de 2008. O céu cin- artistas livres”. Esta análise etimoló- família, desaparecida nos campos de ligados à revista coimbrã, mas por- não é, como se julga, um poeta total-
zento não ostentava nenhum sinal a gica torna-nos “conscientes de toda extermínio; emigraria para São Paulo que os ensaios partem de pressupos- mente luminoso.
dizer ‘Dia Histórico’”. O dia em que o a cultura ser uma fraude, de nós ser- em 1940, onde foi director de uma tos críticos afins aos de Régio e seus Às vezes aparecem juízos bastante
Iowa fez a sua escolha para candidato mos burlões burlados, e de qualquer fábrica de transformadores e pro- colegas. O próprio título é, além da discutíveis. Será verdade que Urbano
democrata à Casa Branca. Se quere- interesse pela cultura equivaler a um fessor universitário de filosofia; do homenagem poética óbvia, um sinal: Tavares Rodrigues nunca é toldado
mos perceber o que hoje está em jogo, auto-engano”. Mas será que se pode Brasil, voltaria a emigrar nos anos 70, Lisboa procura “indícios”, ou seja, pela cegueira partidária, como aqui
então a leitura do livro é obrigatória. redimir o design depois desta toma- desta vez para França, tendo vindo intuições críticas, do “oiro”, que se diz? Que Sílvio Lima foi o nosso
A tradução é competente. da de consciência? Flusser confessa a falecer em 1991, num acidente de corresponde ao que Régio chamava maior ensaísta? Que o instinto sexu-
finalmente que a intenção – mais um automóvel na sua cidade natal, Pra- “um caso”. Interessa-lhe encontrar al é decisivo em Torga? Pontos que
sinónimo de design – do seu ensaio é ga, à qual regressou para dar uma intuitivamente os grandes casos da ficam por provar. Em contrapartida,
Ensaio mostrar os seus aspectos insidiosos; conferência. literatura, nomeadamente da portu- o autor tem intuições e deduções ex-
poder-se-ia igualmente sublinhar a Os seus textos sobre design, em- guesa. Embora tenha sido professor celentes, como as páginas sobre um
O design e as relação da palavra design com termos
mais optimistas, como as palavras
bora publicados num sem número
de revistas e antologias entre 1970
universitário, Eugénio Lisboa tem
uma mentalidade ostensivamente
Rodrigues Miguéis americano que
nunca saiu de facto de Lisboa, ou

suas palavras alemãs Zeichen, “sinal”, Anzeichen,


“indício”, Vorzeichen, “presságio” ou
Abzeichen, “marca distintiva” – tudo
e 1991, só seriam reunidos em livro
depois da sua morte, revelando uma
forma extremamente critica de pen-
não-académica, e a sua tendência
polémica tem como alvo frequente a
universidade portuguesa, e o cânone
sobre a correspondência de Jorge
de Sena que rasura a interioridade.
E também há belos textos de litera-
dependendo da intenção ou seja do sar o design, que não resvala porém que esta terá estabelecido. tura comparada: a aproximação de
Uma obra excêntrica mas design. para o moralismo fácil e típico de o Lisboa rejeita algumas ideias do- “A Selva” a “Heart of Darkness” ou a
essencial: vinte e dois textos A equivalência entre intenção e de- apresentar como algo simplesmente minantes. O domínio do significante noção de exílio em Pessoa e Cavafis.
curtos que desmontam sign introduz um tema recorrente ao reprovável, publicidade e consumo sobre o significado, a tendência her- Nem todos os ensaios são elogios: o
longo do livro: a responsabilidade do com aspirações a forma de arte, ven- mética, e aquilo a que chama o “vo- autor é severo com a obsessão No-
de modo quase casual as designer e a dificuldade de manter do-o sempre como uma tarefa que, cabulário ingramável” e a “sintaxe bel de Vergílio, e ajusta velha contas
palavras mais comuns do uma ética convincente dentro do de- quando é executada de modo respon- teratológica”. Por mais equívoca que presencistas com Casais Monteiro. Se
discurso do design. sign. A industrialização veio fragmen- sável é tão importante, complexa, útil sejam essas palavras, defende no es- Eugénio Lisboa abusa das citações, é
tar os processos de trabalho; tarefas e digna de consideração como outra sencial uma literatura de realismo e verdade que também regista os fac-
Mário Moura que eram produzidas por uma única coisa qualquer. claridade. Um realismo plural, aberto tos, alguns menos conhecidos, para
Uma Filosofia do Design pessoa, neste momento são distribu- Muita desta reflexão será desper- ao social e ao metafísico. E uma clari- que possamos formar o nosso juízo.
- A Forma das Coisas ídas por longas cadeias de produção, diçada nos próprios designers, para dade de simplicidades aparentes, com O volume I de “Indícios de Oiro”
Vilém Flusser sendo a responsabilidade dispersa de quem um livro sobre palavras pare- zonas de sombra. Ocupando-me nesta acaba menos bem, com um punhado
(Trad. Sandra Escobar) igual modo. Já não é possível, portan- cerá talvez supérfluo. Por tradição, recensão apenas do primeiro volume de textos sobre alguns autores dis-
Editora: Relógio de Água to, isolar a responsabilidade quando os designers não gostam de falar, a (sobre autores portugueses), direi que pensáveis que deslustram um pouco
as coisas correm mal. maioria nem gosta de palavras – se é notória a valorização de autores que o critério exigente de Eugénio Lisboa.
mmmmn É uma visão pessimista, mas Flus- não estivermos a falar de letras, das estão do lado de uma certa “legibili- Mas começa muito bem, com evoca-
ser apresenta também algumas solu- suas formas, do seu desenho. Falar dade”, como Namora ou Eugénio. No ções em que a literatura não se distin-
No que diz ções. No ensaio “O design: um obstá- sobre design é uma espécie de der- que ao romance diz respeito, a bíblia gue da vida. É o caso de um Camões
respeito ao culo à remoção de obstáculos”, por rota, uma admissão que este às vezes de Lisboa é o Forster de “Aspects of visto do Índico (o autor nasceu em
design, este não é exemplo, ele lembra que a palavra precisa de um empurrãozinho para the Novel” (1927). O ensaísta faz justiça Moçambique), ou dos tocantes textos
um livro “objecto” se aproxima bastante de funcionar. Dito de outro modo: uma aos contistas portugueses, em textos sobre Camilo como autor que nos faz
particularmente “obstáculo” mas também de “objec- filosofia do design parece supérflua. lúcidos sobre Domingos Monteiro, companhia (com o pai em fundo). É
bonito, nem por tar”; um objecto é, portanto, algo que Porém, mesmo o designer mais prag- Branquinho da Fonseca e Maria Judite também na “vida” (e não apenas nos
dentro, nem por – tal como o design – se atravessa no mático passa mais tempo a falar, a de Carvalho, que apontam diferentes “textos”) que encontramos o oiro e
fora – o que talvez caminho das pessoas. Mesmo quando discutir e a argumentar do que gos- caminhos realistas, do comezinho ao os indícios. Pedro Mexia
afugente algum se produzem objectos com o intuito taria de admitir – também para ele, inquietante: “ (…) nas narrativas de
do seu público de resolver um problema, de remover as palavras são ferramentas. Domingos Monteiro, nada é só o que
alvo. É pena, porque é uma obra um obstáculo, está-se a criar novos parece: o real não é só real e sugere Um bispo e um
excêntrica mas essencial, vinte e
dois textos curtos, cheios de
problemas, novos obstáculos. No
entanto, é possível – e aqui entra de Presença da
ou coabita com ou promove o sobre-
natural, as pessoas são mais do que à
céptico olham-se
reviravoltas que, escapando-se a novo em jogo a intenção – criar objec- “presença” primeira vista nos é transmitido, as na praça
exemplos óbvios e a nomes tos não com o fim de se atravessarem histórias despretensiosamente con-
sonantes, desmontam de modo no caminho, mas de dialogarem com Indícios de Oiro – Volume I tadas são mais do que histórias bem Diálogo em Tempo de Escombros
quase casual as palavras mais outras pessoas, comunicando com Eugénio Lisboa contadas, a vida aparentemente mais Manuel Clemente com José Manuel
comuns do discurso do design, elas. Para Flusser, a “responsabilida- Imprensa Nacional-Casa da Moeda banal transmuta-se em destino, o ba- Fernandes
desarticulando finalmente a própria de é a decisão de responder por algo nal quotidiano enche-se inesperada- Pedra da Lua
relação deste com a sociedade, a perante outras pessoas. Significa le- mmmnn mente de conteúdo mítico ou simbó-
arte, a ciência, a ética e a cultura. aldade em relação aos outros”; estes lico (…)” (pág. 210). mmmnn
Começa-se, justamente, pela pró- objectos, ao colocarem a sua ênfa- Publicado há O ensaísta também não aceita cer-
pria palavra “design”, descobrindo- se na comunicação, encarnam uma vários meses mas tos “diktats” intelectuais, como aque- A primeira
lhe novos sentidos a partir de velhas responsabilidade perante os outros, tardiamente le que menospreza o biografismo. Ao virtude desta obra
interpretações. Hoje o termo é as- perante a sociedade. distribuído, contrário, acha úteis as biografias bem é trazer para o
sociado a “desenho” ou “projecto”, Qualquer um destes ensaios de- “Indícios de Oiro” feitas, e na recensão a uma vida de espaço público o
mas Flusser recupera-lhe outros monstra bem o método de Flusser: assinala os oitenta Júlio Dinis (paradigma da legibilida- debate de ideias,
significados, mais negativos, como através da etimologia de uma palavra anos de Eugénio de) mostra como se criam falsas ima- raro em Portugal.
“conspiração”, “trama” ou “intriga”, descobrem-se sentidos inesperados Lisboa, que gens dos escritores, no caso de um ro- Não é conversa de
todos sinónimos de “design” na lín- que permitem pôr em relevo o papel correspondem a mancista que, segundo Eça, “viveu café ao sabor do
gua inglesa. Visto deste modo, o de- que esse conceito desempenha ac- décadas de de leve, escreveu de leve, morreu de vento circulante,

42 • Sexta-feira 11 Junho 2010 • Ípsilon

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