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Sermão não é comentário ligeiro

Permitam-me dar-lhes outro ponto negativo. Alguns parecem pensar


que a pregação consiste de um ligeiro comentário sobre uma
passagem das Escrituras. Não estou dizendo que isso não tem seu
legítimo lugar e função. Você toma um parágrafo e o comenta
versículo por versículo numa espécie de comentário ligeiro. Isso não é
pregação. Passa por pregação muitíssimas vezes, mas para mim é
muito diferente da pregação. Ou, eis outro modo de expressá-lo: um
homem pode tomar um versículo ou uma passagem, pode dar-lhes a
sua exegese do texto, pode falar-lhes sobre o seu contexto, pode
dar-lhes o significado das palavras, pode dividi-la e expô-la;
entretanto continuo a dizer que não é pregação. Conheci um homem
que, tanto no país de vocês como no nosso, era famoso como
"preletor bíblico". Ele mesmo se chamava assim, e a expressão
estava certa. Seu método era tomar um parágrafo das Escrituras,
talvez um capítulo inteiro, muitas vezes todo um livro, e o analisava
para você e lho dava em suas partes componentes. Num sentido
técnico, o que ele fazia era um comentário ligeiro sobre uma seção ou
sobre um livro, no curso do qual podia acrescentar ilustrações aqui e
ali. E penso que isso é interessante e importante porque os seus
livros eram muitos populares.

Eles tiveram influência em seu país e no nosso, no sentido de


fazerem o povo pensar que pregação é isso. Naturalmente, o
argumento era que esse método é mais bíblico, mas eu penso que foi
uma falácia completa. E possível tratar das palavras das Escrituras e
nunca chegar à doutrina. Esse preletor nunca tratou de doutrina, não
tinha interesse pela teologia, e costumava dizer isso. Todavia, porque
tratava o tempo todo da letra propriamente das Escrituras, pensava-
se que ele era mais bíblico. A minha idéia de ser bíblico é expor a
mensagem real, o tesouro das Escrituras. Não se deve ficar tão
amarrado às palavras literais o tempo todo, mas certamente é o
significado que importa, em última instância. Isso não quer dizer que
não devemos interessar-nos pelo outro aspecto; devemos, todavia eu
digo que a preleção bíblica fica aquém do ponto onde começa a
verdadeira pregação. Eu poderia pôr a totalidade daquilo em minha
introdução, e ainda não começar a pregar quando eles terminam.
Permitam-me colocá-lo doutra maneira: vocês fazem distinção entre
um sermão e a pregação? Eu faço. E tenho a impressão de que uma
parte do problema quanto à pregação é que as pessoas não
reconhecem essa distinção.
Que é sermão? Qual é a diferença entre um sermão e uma preleção
bíblica ou uma exposição de uma passagem? No meu modo de ver, é
que o sermão é sempre um todo, uma entidade, uma mensagem.
Vejam a frase utilizada pelo profeta, no Velho Testamento: "o fardo
do Senhor". Para mim, a exposição das Escrituras não se torna
sermão enquanto o que você estudou, exegetizou e explicou não
tomar a forma de uma mensagem particular que leve a um fim
particular.
Deixem-me dizer de passagem que sou um grande admirador dos
puritanos e, numa medida mínima, talvez, fui responsável por um
renovado interesse por eles na Grã-Bretanha. Mas os puritanos
podem ser muito perigosos, do ponto de vista da pregação. Os
puritanos eram primariamente mestres, em minha opinião, não
pregadores. No púlpito constumavam analisar a sua passagem das
Escrituras e, quando se lhes esgotava o tempo, diziam: bem,
deixaremos aqui por ora, e o retomaremos na próxima vez. Para
mim, ao dizerem isso, declaravam que não estavam pregando,
porque não tinham esta forma, esta totalidade, esta mensagem
completa. Acho muito difícil pôr isto em palavras, porém isto, para
mim, é um ponto deveras vital entre uma exposição de uma
passagem e um sermão. O preparo de um sermão é um processo que
permeia o íntimo da mente, do coração e do espírito. Não sei como
acontece, mas penso que posso ilustrar o que quero dizer. Lembro-
me de como se fazia manteiga antigamente. Punha-se a nata numa
desnatadeira. Entrava como nata, mas depois você girava a manivela
ou punha um cavalo para acionar uma grande polia, e se desnatava e
se desnatava até sair como manteiga. Nada se adicionava aos
ingredientes, mas o que saía era diferente do que tinha entrado. Não
era mais nata, era manteiga. Receio que isso é o mais perto que
posso chegar do que seja dizer-lhes a diferença entre exposição,
exegese, comentário e explicação do sentido das palavras, e um
sermão. Os mesmos ingredientes, contudo resultando num fim
diferente!

Agora devo acrescentar uma palavra de advertência neste ponto,


penso - sem dúvida, eu mesmo preciso muito dela. Não sei se vocês
leram um livro escrito por um homem chamado Edwin Hatch, que era
um dignitário da Igreja da Inglaterra no século passado. Ele ministrou
dois cursos de preleções famosas -as Preleções Bampton - tratando
da natureza da Igreja do Novo Testamento e, a menos que a minha
memória esteja falhando, por volta de 1888 ele pronunciou as
Preleções Hibbert, nas quais tratou da influência do pensamento
grego sobre a Igreja Cristã. Na última série de preleções, que vale a
pena ler, ele afirma algo que me vem preocupando
consideravelmente. Ele argumenta que a noção geral de pregação
mudou no século segundo, e a sua tese é que a mudança ocorreu
como resultado da influência grega. Vocês recordam como no século
segundo a Igreja Cristã se lançou frontalmente contra o mundo
grego, e os apologetas entraram em cena. Eles tinham que fazer isso,
é claro, mas, de acordo com a teoria de Edwin Hatch, a influência
grega teve grande efeito sobre a pregação cristã, e o efeito que teve,
sustenta ele, foi que a pregação dos apóstolos e da Igreja Primitiva
era uma espécie de pronunciamento profético inspirado, porém,
devido à influência apologética que se introduziu e o desejo de
apresentar o evangelho de um modo que não ofendesse a douta
mente grega, a igreja passou a adotar, cada vez mais, a forma grega
e, num sentido, a forma romana de discurso. A forma que tinha sido
empregada pelos grandes retóricos da Grécia envolvia uma
introdução premiliar do assunto, depois uma divisão da matéria, e
finalmente uma conclusão. E o seu argumento é que esta veio a ser a
forma do sermão do século segundo em diante, como resultado da
influência grega.

Estou disposto a concordar que o que Hatch diz provavelmente é


muito verdadeiro, mas isso me coloca num impasse. Creio
intensamente no que ele denuncia idéia original da pregação. Para
mim, isso é o que há de mais importante. Ao mesmo tempo, também
acho que a forma não somente tem um lugar legítimo, e sim
também, em certo sentido, é essencial, se se quer comunicar
fielmente a verdade às pessoas. Vocês vêem, estamos sempre num
estado de tensão. Como posso ter a forma e, todavia, evitar que me
torne um preletor? Como posso ter esta forma que eu acho que o
sermão deve ter, sem deixar que ele degenere, vindo a ser uma
espécie de discurso geral? Bem, como essa delimitação, faço a minha
asserção de que sempre devemos lembrar que o sermão deve ter
esta forma e este fim, se há de funcionar de fato.
Lloyd-Jones / ESCRITURA EM FOCO

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