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Pessimismo capitalista e Darwinismo

social
Leonardo Boff, Teólogo, Filósofo,
Sociólogo e Ecologista

Que fazer quando uma crise como a nossa se


transforma em sistêmica, atingindo todas as áreas e mostra
mais traços destrutivos que construtivos? É notório que o
modelo social montado já nos primórdios da modernidade,
assentado na magnificação do eu e em sua conquista do
mundo em vista da acumulação privada de riqueza não
pode mais ser levado avante. Apenas os deslumbrados do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo
Lula, acreditam ainda neste projeto que é a racionalização
do irracional. Hoje percebemos claramente que não
podemos crescer indefinidamente porque a Terra não
suporta mais nem há demanda suficiente. Este modelo não
deu certo, pelas perversidades sociais e ambientais que
produziu. Por isso, é intolerável que nos seja imposto como
a única forma de produzir como ainda querem os membros
do G-20 e do PAC.

A situação emerge mais grave ainda quando este


sistema vem apontado como o principal causador da crise
ambiental generalizada, culminando com o aquecimento
global. A perpetuação deste paradigma de produção e de
consumo pode, no limite, comprometer o futuro da biosfera
e a existência da espécie humana sobre o planeta.
Como mudar de rumo? É tarefa complexíssima. Mas
devemos começar. Antes de tudo, com a mudança de nosso
olhar sobre a realidade, olhar este subjacente à atual
sociedade de marcado: o pessimismo capitalista e o
darwinismo social.

O pessimismo capitalista foi bem expresso pelo pai


fundador da economia moderna Adam Smith (1723-1790),
professor de ética em Glasgow. Observando a sociedade,
dizia que ela é um conjunto de indivíduos egoistas, cada
qual procurando para si o melhor. Pessimista, acreditava
que esse dado é tão arraigado que não pode ser mudado.
Só nos resta moderá-lo. A forma é criar o mercado no qual
todos competem com seus produtos, equilibrando assim os
impulsos egoístas.

O outro dado é o darwinismo social raso. Assume-se a


tese de Darwin, hoje vastamente questionada, de que no
processo da evolução das espécies sobrevive apenas o mais
forte e o mais apto a adaptar-se. Por exemplo, no mercado,
se diz, os fracos serão sempre engolidos pelos mais fortes.
É bom que assim seja, dizem, senão a fluidez das trocas
fica prejudicada.

Há que se entender corretamente a teoria de Smith. Ele


não a tirou das nuvens. Viu-a na prática selvagem do
capitalismo inglês nascente. O que ele fez, foi traduzi-la
teoricamente no seu famoso livro: "Uma investigação sobre
a natureza e as causas da riqueza das nações"(1776) e
assim justificá-la. Havia, na época, um processo perverso
de acumulação individual e de exploração desumana da
mão de obra.

Hoje não é diferente. Repito os dados já conhecidos:


os três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos
superiores à toda riqueza de 48 países mais pobres onde
vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas sozinhas
acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões de pessoas o que
equivale a 45% da humanidade; o resultado é que mais de
um bilhão passa fome e 2,5 bilhões vivem abaixo da linha
da pobreza; no Brasil 5 mil famílias possuem 46% da
riqueza nacional. Que dizem esses dados se não expressar
um aterrador egoismo? Smith, preocupado com esta
barbárie e como professor de ética, acreditava que o
mercado, qual mão invisível, poderia controlar os egoismos
e garantir o bem estar de todos. Pura ilusão, sempre
desmentida pelos fatos.

Smith falhou porque foi reducionista: ficou só no


egoismo. Este existe mas pode ser limitado, por aquilo que
ele omitiu: a cooperação, essencial ao ser humano. Este é
fruto da cooperação de seu pais e comparece como um nó-
de-relações sociais. Somente sobrevive dentro de relações
de reciprocidade que limitam o egoismo. É verdade que
egoismo e altruismo convivem. Mas se o altruismo não
prevalecer, surgem perversões como se nota nas
sociedades modernas assentadas na inflação do "eu" e no
enfraquecimento da cooperação. Esse egoismo coletivo faz
todos serem inimigos uns dos outros.

Mudar de rumo? Sim, na direção do "nós", da


cooperação de todos com todos e na solidariedade
universal e não do "eu" que exclui. Se tivermos altruismo e
compaixão não deixaremos que os fracos sejam vítimas da
seleção natural. Interferiremos cuidando-os, criando-lhes
condições para que vivam e continuem entre nós. Pois cada
um é mais que um produtor e um consumidor. É único no
universo, portador de uma mensagem a ser ouvida e é
membro da grande família humana.

Isso não é uma questão apenas de política, mas de


ética humanitária, feita de solidariedade e de compaixão.

Leonardo Boff é autor de Princípio compaixão e


cuidado, Vozes (2007).

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