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“Tino ve: Contempony pla peng: an 7 BINS 64 |Past 2 Fostoria 00 eins cops “Tadeo tts desta edgy o Bra reerados icraria Martins Fontes Eitora Lida, ‘us Const Ramalh, 330 01325.000 Sh Paulo SP Bras Tl. 1) 326 3677 Fax 2) 310102 ‘eit ins@martnfone con. ion martnsfintescom br 2 Sant 7. O feminismo A teoria politica feminista é extremamente diversa, tan- to nas premissas como nas conclusdes. Em certo grau, isso também é verdadeito para as outras teorias que examinel. Esta diversidade, porém, € multiplicada dentro do feminis- dentro do ferinismo. Assim, temos 0 feminismo liberal, o Teininismo socialista e até mesmo o feminismo libertario. ‘Além disso, hd um movimento Signcativo dentro do fe corrente dominante da flosofa politica anglo-saxénica. Al. son Jagger diz. que um compromisso de eliminar a subor- dinagao das mulheres unifica as diversas correntes da teo- ta ferninista Qaggar, 1983: 5). Mas (como observa Jaggar) esta concordancia logo se dissolve em descricdes radical- ‘mente diferentes desta subordinagao e das medidas reque- ridas para que seja eliminada as teorias politicas dominantes atendem, ou deixam de aten- 1. Para inodugbes a estas diversas corente do pensamento feminist,” ‘ve Joga (1985 Nye (1988; Charve (1982) Tong (985). 304 FILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA der, aos interesses e preocupagies das mulheres. Argumentei, que um amplo leque de teorias polit com y i abandonadas, muitas feministas acre ios que foram desenvolvidos com a azes de reconhecer adequadamente as necessidades das my : Considerarei trés destes argumentos. Q primero conceh- tra-se na descricéo da discriminacdo sexual “neutra quanto 20 géne10"; 0 segundo concentra-se fia distingio publico- privado, Estes dois argumentos afirmam que aspectos im- pportantes da concepcio liberal-democrstica tém predisposi- _siomasculina.O terceiro a que a prépria énfase na ju: ‘argumentos oferecem ape- nas uma idéia limitada do Ambito da teoria feminista recen- te, mas suscitam questées importantes que qualquer descri- <0 da igualdade sexual deve enfrentar, e representam trés dos pontos de contato mais sustentados entre o feminismo € a filosofia politica dominante. 1A igualdade sexual e a discriminagdo ao Até boa parte do século pasado, a maior parte dos Sricos homens, de todos os pontos do espectro politico, itavam a crenga de que havia um “fundamento na natu- ara confinamento das mulheres a famiia'> para _“suigigda legal costumeira das mulheres aos seus mari- OFEMINISMO 305 dos” na familia (Okin, 1979: 200). Dizia-se que as restrigdes aos direitos dvis-€ politicos das mulheres eram justificadas pelo fato de que as mulheres, por natureza, eram_inaptas para atividades politicas e econémicas fora do lar. Os teori- ‘Gos contemporaneos abandonaram progressivamente esta ‘suposigdo de inferioridade natural das mulheres. Aceitaram que as mulheres, como os homens, devem ser vistas como al livres e iguais”, caj de autodeterminagao e de se 17 "Senso de justiga e, portanto, livres ‘PiiblicoE es democracias liberais adotaram progressiva~ "mente estatutos antidiscriminagao com o objetivo de asse- : , 2urar que as mulheres tenham igual acesso & educagdo, 20 emprego, 20 cargo public etc. Estes.e: itos ant it ‘as presentes tendencias continuarem, todas as pessoas abai- 50 da linha da pobreza nos Estados Unidos no ano 2000 se- 2. Ao aoe ea visio vigente de que hs "um Fundamento na Nature za para que o mado comande “porque €0 mas capaze o mais forte” (Lac. ein Ok, 1979; 200, os bees clissiens xara im ra contadso PaTS ‘3. Pols les tambon argurienaranreratos on sree humane #9 peas Pornatueza que a natura do fomece nen fandamento para ume Ge. Sigualdace de dros. Ba, come vimios era a central de sas eon do eta de natureza (ap. 3, seo 3 aca). Porque osupesto fat de que 0: homens sio “mas capazes e mais fortes” deve justicar cries desiguis para as mulheres quando, como prépi Locke di, “iferengas na exen :média € mens capaz do que o homer médio, entéo, todos os homens que so menos capazes do que o homem médio também devem ser excludes (Como diz Olin, “para que abase do seu individualism fosee firme, ee prec sara argumentar que mulheres individuais eram iguais a homens indivi- "dais assion come homens mas acs eram igusis a homens mals fortes" (Okin, 1979: 199 306 . FILOSOFIA POLETICA CONTEMPORANEA, ‘Go mulheres ou criangas (Weitzman, 1985: avioléncia doméstica e a agressio sexu do, ass ‘utras formas de violéncia e degradagio di- Tigidas as mulheres. Catherine Mackinnon resume seu le- “Vantamento dos efeitos dos direitos iguais nos Estados Uni- dos dizendo que “a lei de igualdade sexual foi inteiramente ineficaz no que diz respeito a conseguir para as mulheres aquilo de que precisamos e que somos socialmente impe- ~ didas de ter com base em uma condiggo de nascimento: uma chance de vida produtiva com razodvel seguranca fisica, auto-expressio, individuagdo e um minimo de respeito € dignidade” (Mackinnon, 1987: 32). Por que isso? A discriminacdo sexual, como comumen- te interpretada, envolve 0 uso arbitrério ou ircional do gé- nero na concessdo de beneficios ou igdes. Segundo esta visio, as formas mais ostensivas de discriminagao sexual $30, aquelas, por exemplo, em que alguém se recusa empregar uma mulher, apesar de o género no ter nenhuma relagao racional com a tarefa a ser executada. Mackinnon chama isso de “abordagem diferenciada” da discriminacao sexual, pois vé como discriminatério o tratamento desigual que nao pode ser justificado por teferéncia a alguma diferenga sexual ide discriminagao sexual deste tipo foi modelada, para _a cor”, alei de iguatdade imeja uma x c de cega para o sexo. [ma Sétiedade sétia nao discrimina- ‘dota se a raga e 0 género nunca entrassem na concessio de beneficios. Naturalmente, embora seja concebivel que as de- cisbes politicas e econdmicas possam desconsiderar intei- ramente a raga, é dificil perceber como uma sociedade po- deria ser inteiramente cega para o sexo. Uma sociedade que prove auxilio-maternidade ou esportes sexualmente segre- gados esté levando o sexo em conta, mas isso nao parece injusto. E, embora banheiros racialmente segregados se~ jam claramente discriminatorios, a maioria das pessoas no sente o mesmo a respeito de banheiros sexualmente segre- ofnismo > . 307 \gedos. Portanto, a “abordagem diferenciada” aceita que hé, encial dos SRS. EStés nio so discriminat6rios, porém, na medida eth que haja uma diferenga si wuina que explique e justifique 9 ttatamento diferencal-Os oponent 5 gi reltos iguais para as mulheres muitas vezes invocaram o espectro dos espor- tes (ou banheiros) sextalmente integrados como indicio de que a igualdade sexual é mal otientada. Mas os defensores, da abordagem da diferenca respondem que os casos de di- ferenciacio legitima sdo suficientemente raros e 0s casos de dliferenciaglo arbitréria tio comuns que 0,Snus da‘prova re—_ cai sobre os que afirmam que o sexo é fundamento relevant Para a atribuigao de iges— cca igem da diferenca, como a interpretagdo-pa- dro da lei de igualdade sexual na maforia dos paises ociden- tais, teve alguns sucessos. Seu “impulso moral” é “conferir fas mulheres acesso aquilo a que os homens tém acesso” € realmente “conseguiu que as mulheres tivessem certo aces- 80 ao emprego e a educacio, as ocupagtes puiblicas — inclu sive como académicas, profissionais, liberais e operdrias-, & carreira militar e acess mais que trivial ao atletismo” (Mac- kinnon, 1987: 33, 35)] A abordagem diferenciada ajudou a} \Jfetiat acesso ou Competicdo neutros quanto ao género com} [relacdo a beneficios sociais e cargos. J San Tia de género ei dade dos sexos em fungio da capacidade das mulheres de ‘competis, sob regras neutras quanto ao género, pelos pa- “patsyde os homens definiram. A igualdade, pam MS pode ser aivancada permiGinds que os homens construam instituigbes sociais segundo seus interesses e, depois, igno- rando 0 género dos candidatos a0 he 08 papéis nestas instituigdes. é neutts Guanto ao género. + _filhos em nossa socedade, os homens tenderao a se Suir mé- 308 % _ FILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA ‘Considere o fato de que a maioria dos trabalhos “exigem que a pessoa, neutra quanto ao género, que esteja qualifi- cada para eles seja alguém que nao é 0 guardio primario de uma crianga em idade pré-escolar” (Mackinnon, 1987: 37). lo que ainda se espera que as mulheres tomem conta dos jue as mulheres ao competi “Ado acontece porque Raja 1¢40 contra as mulheres candidatas. Os empregadores podem nao dar aten¢o a0 + género dos candidatos ou podem, na,verdade, desejar con-~ ‘ratar mais mulheres. O problema é que muitas mulheres ca- recem de qualificagdo relevante para 0 trabalho - isto &, se- rem livres de responsabilidades pelo cuidado dos filhos. neutralidade quant. conta ao decidir quem deve ter acesso a0 cargo, mas ignora ofato “de que o dia um no proceso de levar em conta 0 sexo foio dia em que as fungées do cargo foram estruturadas com ‘expectativa de que seu ocupante no teria responsabilida- des pelo cuidado dos fithos” (Mackinnon, 1987: 37). (O que determina se a neutralidade quanto ao sexo gera ou no igualdade sential € 0 fato de 0 sexo ter sido antériormen- te levado em conta ou nao, Como diz Janet Radcliffe Richard, se um grupo é mantido fora de algo por um perfodo suficien- temente longo, é avassaladoramente provavel que as ativida- des deste tipo se desenvolvam de maneira inadequada para ‘© grupo excluido. Sabemnos com certeza que as mulheres fo- arn mantidas fora de muitos tipos de trabalho e isso significa que é bem provével que o trabalho seja inadequado para elas. * Oexemplo mais Sbvio disso é a incompatibilidade da maior parte dos trabalhos com o parto ea criagio dos filhos; estou fimemente’convencida de que se as mulheres estivessem plenamente envelvidas na administrasio da sociedade des- & OFEMINISMO 399 deo inicio clas teriam encontrado uma maneia de ordenar tra- balho filhos de maneira que se ajustassem mutuamente. (Os homens nao tiveram tais motivagies e pademog ver o$ re- sultados (Radcliffe Richards, 1980: 113-4). Essa incompatiblidade que os homens originaram entre a ctiagdo dos filhos eo trabalho remunerado tem resultados profundamente desiguais para as mulheres. Q resultado é nao apenas que as posigges mais valorizadas da sociedade so ocupadas por homens, epquant0 as muther = rari-se esproporcionalimente concentradas no trabalho de meio perfodo e com salério mais baixo, mas também que thuitas mulheres tormam-se economicamente dependentes dos homens. Quando a maior parte da “renda familiar” vem do trabalho remunerado do homem, a mulher, que faz 0 Ga- -balfe domestico nao rerrimerado, WISE Aeperidentedele _ ate 6 acesso aos Fecuisos. AS Consequences desta dejién- cla-torpakam-"e mais evidentes com o aumento da taxa de dvétios,Pnquanto os casas casos podem compart: thate 10 padrdo de vida durante o casamento, inde- peridentemente de quem recebe a renda, 0s eft t Gio sio catastroficamente desiguais. Na Calif6mia, o padrio de vida médio dos homens sobe 42 por cento depois do di- vércio, o das mulheres cai 73 por cento e resultados similares foram encontrados em outros estados (Okin, 1989b: 161). Contudo, nenhuma destas conseqiiéncias desiguais da in- ‘compatibilidade do cuidado com os filhos e o trabalho remu- nerado sio discriminadoras; segundo a abordagem diferen- ciada, pois ndo envolvem discriminagéo arbitraria. O fato é que estar livre das responsabilidades relativas ao cuidado das criangas é um ponto relevante para a maioria dos traba~ hos existentes, e os empregadores nao esto sendo arbitré- tos ao insist nisso. Por se tratar de um aspecto importante da qualificagio, a abordagem diferenciada diz que nao é uma discriminacao insistir nele, independentemente das desvan- tagens que cria para as mulheres. Na verdade, a abordagem diferenciada vé a preocupacio com as responsabilidades pelo ‘cuidado dos filhos, mais do que como critérios irrelevantes 310 FILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA 9 - OFEMINISMO 3i _ Como género, como indicio de que a discriminago sexual fot _,__Na verdade, quanto mais a sociedade define posigées eliminada. Nao consegue perceber que a relevancia das res- ‘de maneira marcada pelo género, menos a abordagem dife- ponsabilidades pelo cuidado dos filhos é, ela prépria, uma renciada é capaz de detectar uma desigualdade, Consideze profunda fonte de desigualdade seamal._uma fonte que sur- alumna. sociedade que restringe 0 acesso a contracepsao e 20 iy da maneira como os ho} yrcamien- ~ “aborto, que define's pagamento de trabalhos de maneiza ‘que os fore incompatis .a criago dos fi- , {05 € que Nao prové compensacao econdmica pelo traba- consideracéo, precisamos saber como jé foi levado em con- + tho doméstico. ffoda mulher que enfrenta uma gravidez ta. Eo fato é que quase todos os papéis e posig5es impor- (Ro planejada €que no pode ctiar os filhos e ter um traba~ tantes foram estruturados de maneiras marcadas pela pre- tho remunerado simultaneamente é tornada economica- aferéntia de género: mente dependente de alguém que obtém renda de maneira estével (isto é um homem). Para assegurar que, consiga apoio, ela deve tomar-se sexualmente atzdente para ie nat 0s homens" Sabendo que este €seu destino provavel, mul~ dios euros de autores ‘as arotas nao se empenham tanto quanto 0s garotos para S jetadas para o social definem ‘conseguir habilidades de emprego que s6 podem ser exer- as expeciativas de local de trabalho e padrdes bem-sucedi- cidas pelas que evitam a gravidez. Enquanto 0s garotos bus- y dos de carreira, suas perspectivas e interesses definem a qua- J | tidade no trabalho académico, suas experiendias ¢ obsessGes definem 0 mérito, sua objetfcacéo da vida define a arte, seu servico militar define a cidadania, sua presenca define afa- ila, sua incapacidade de se darem bem uns com 03 aia guerras e governs — define a historia, sun imager de. ; € associada com a obtencio de renda e a feminilidade é de- i de identificagdes culturais no qual a masculinidade fine Deus ¢ seus drgios genitais definem & sexo. Para cada finida em fungao de servicos sexuais e domésticos para os ee ee eee homens e da criagio dos filhos. Portanto, homens e mulhe- vale a um pl afirmativa, conhecido, de outra res ingressam no casamento com potenciais de obtencio de aeons: eee renda desiguais ¢ esta disparidade aumenta durante 0 casa- (cana (Mackinnon, ‘Hento& medida que o homem adquire experiéncia de traba- Tudo isso é “neutro quanto ao género”, no sentido de : Iho valiosa. Como a mulher enfrenta mais dificuldade para que as mulheres no esto exclufdas arbitrariamente da bus- ca das coisas que a sociedade define como valiosas. Mas € neira neutra quanto ao género baseiam-se nos interesses e —Enrtat soxtedade, Os Homers COMO gMUpo exercem con valores dos homens, As mulheres estdo em desvantagemm trole sobre as chances geras de vida das mulheres (por meio no porque os chauvinistas favorecem os homens arbitra: = dedecisdes politicas a respeito do aborto e de decisées eco- tiamente na concessao de trabalhos, mas porque a sociedade némicas referentes a exigéncias de trabalho) e os homens inteira favorece'sistematicamente os homens ao definir tra- como individuos exercem controle sobre mulheres ecqno- balhos, mérito ete, micamente vulneréveis dentro dos casamentos. Nao obstan- 312 FILOSOFIA POLETICA CONTEMPORANEA te, ndo precisa haver nenhuma discriminagdo arbitréria. Tudo isto € neuttro quanto ao género no sentido de que o género ‘de uma pessoa nao afeta necessariamente o modo pelo qual la é tratada pelos que estéo encartegados de distribuir meios contraceptivos, trabalhos ou pagamento doméstico. Mas, embora a abordagem diferenciatia considere'a auséncia de discrimina¢ao arbitréria como indicio da auséncia de desi-' gualdade sexual, ela pode, na verdade, ser indicio de sua di- fusdo. istamente; i - tasociedade que nfio hd nenhuma necessidade de ja “Mlssininagio cana cles A diectmninayio abo vo ‘emprego é nao apenas, desnecessiria para a manutencio do privilégid masculino, mas € improvavel que ocorra, pois a maioria das mulheres nunéa estard em posigo de so- frer discriminagao quanto a-empregos. Talvez uma ou outra mulher consiga superar as pressdes sociais que sustentam 08 papéis sexuais tradicionais. Mas, quanto maior a domina- {g40, menor a probabilidade de que quaisquer mulheres es- tejam em posicio de competir por emprego ¢, portanto, menor 0 espaco para a discriminagao arbitréria. Quanto mais desigualdade sewual ha em uma sociedade, navas erie r Toeracia® Oci identais contemporaine: ‘exgir que uma pessoa seja igual aos que estabeleceram o pa- drdo ~ aqueles ante os quais uma pessoa jé é socialmente definida como diferente ~ significa simplesmente que a igual dade sexual destina-se conceitualmente a nunca ser alcanca~ ww O FEMINISMO 313 tratada de modo igual, Doutrinariamente falando, os proble- PR a esipeceade nae as mulheres “situadas similarmente” aos homens. Muito me- nos as priticas da desigualdade sexual exgirdo que 03 atos ‘sejam intencionalmente discriminatorios (Mackinnon, 1987: 44; cf. Taub e Schneider, 1982: 134) A subordinagio das mulheres no é fundamentalmen- te uma questio de diferenciagao irraciénal com Seem Preece? U resultado de tal capacitacao poderia ser fo diferent€ de nossa sociedade ou da sociedade de ins- tituigdes masculinas com igual oportunidade de ingresso, preferida pela teoria da discriminagdo sexual contempora- nea. A partir de uma posicio de igual poder, nao teriamos ctiado um sistema de papéis sociais que define os trabalhos “mascufinos” como superiores aos trabalhos “femininos”. Por exemplo, os papéis dos profissionais de satide, homens ‘e mulheres, foram redefinidos pelos homens contra a vonta~ de das mulheres da érea. Com a profissionalizacao da medi- ‘ina, as mulheres foram expulsas de seus papéis tradicionais na satide como parteiras e curandeiras, e relegadas ao papel . de enfermeiras — uma posigao que é subserviertte ao pape! do médico e financeiramente menos recompensadora. A rede- finigdo nao teria acontecido se as mulheres estivessem em posicdo de igualdade e teré de ser repensada agora se as mu- heres quiserem alcancar a igualdade. A aceitacao da aborday it 314 FILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA OFEMINISMO- . i 315 rias de justiga? A maioria dos teéricos recorre & idéia mais profunda da igualdade moral em vez ios anteriores aceita implicita ou expli- de entrar em conflito cont ea, Pow ela afirma que oF interes- diferenciada. Isso, porém, reflete uma ses,e experiéncias das mulheres devem ser igualmente im: principios ou uma falha na maneira como es- : portantes na moldagem da vida social. Como diz eigiria em nos: discutidos nos i foram aplicados as questées de género? Mui- senstein, “a igualdade neste sentido significa os ir tas feministas argumentam que a falha se encontra nos pré- terem igual valor como seres humanos. Nesta visio, a igual- prios principios, que o§ tedricos da “corrente masculina” dade nao significa ser como os homens, tal como {como Mary O’Brien os chama), tanto da direita como da es- hoje, nem ter igualdade com nossos opressores” (Eisenstein, __ querda, interpretam a igualdad® Ge Maneiras que sao inca” 1984: 253). pazes dé reconhecer a subordinagai Navet- Portanto, a abordagem da dominacio compartilha com i a _ algumas feministas argumentam que a luta contra a 08 teéricos da corrente dominante 0 compromisso com a subordinago sexual exige que abandonemos a propria idéia igualdade. Mas ela compativel com a maneira como os de interpretar a justica em termos de igualdade. Elizabeth tedricos da corrente dominante interpretam este compro- i Gross argumenta que, visto que as mulheres devem ser li- , misso — por exemplo, a abordagem da dominagio ajusta-se vres para redefinir os papéis sociais, seus objetivos so d 4 visio liberal da igualdade de recursos? Mackinnon 2 Tenia ques aborday fa dominacao leva-nos.além dos GE momia7 do que como uma politica de “igualdade”: “nap base do liberalismo. E assim? E verdade que os —_ teéricostiberais-como-outrosteéricos dacorrente masculi- quer eeromia impli 0 Sena bere ta, acétaram a abordagem diferenciada da igualdae se- {ima inteprasao ou alianga com outios apes naw xual e, como resultado, ndo atacaram seriamente a subordiy igualdade, por outro l m nagao das mulheres. Fodemos argumentar, porém, que padréo dado. A iguald ‘equivaléncia de dois (ou mais), berais (e outros teéricos contempordneos) esto traindo: termos, um dos quais assume o papel de norma ou modelo ptéprios principios ao adotar a abordagem diferenciada’ de maneira inquestionsveis.A autonomia, por contraste, im. plica 0 direito de aceitar ou zejeitartais normas ou padres segundo adequagio a nossa autodefinicSo. As lutas por 3,Jalver 0s comanitsos nio possam acer 2 abr ‘implicam uma aceitago de padres dados e uma ‘Glo, FI Que ela supde que as pessoas podem colocar suas expectativas e exigncias, As lutas deume maneia que 0 comintarismo nega oureprova “sobre a tensto ene o feminism e ocomnnitarmo, ver Gres (hein, 198%; 41-62; Fedman, 1989). & como os Hbetrios no igaldedeiitada de condo subjacent abordagem da dleengacnio.e tho prontos a ecitar a abordagem da dominagS. As outasteoris.porém. parecem capazes de adotar a abocdagem da domi por autonomia, por outro lado, implicam o direito de rejeitar tais padrées e de criar padres novos (Gross, 1986: 193). a" nem como ele se rlacona cork 0s principios liberaietracicionae de ‘gualdade e iberdade. Mackinnon muita vezes parece igualaolieraismo a ‘uma corente particular de intepretagio constiniional americana. 316 + ~ BLOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA Na verdade, a disjungao entre a abordagem diferenciada igual oportunidade e com uma distribuigdo de recursos sensivel & ambic&o e insensivel & dotagio exclu as dvisdes de génerotradicionais, Rrece néo 1840 para 0 geiie= sociais existentes nao seria” it - kes ila posicao orignal dé Rawisvome-fente 2. Embora ©-préprio RAWIS To Giga nada ares ‘peito de como estes contratantes necpretariam a igualdl: se imentaram que a logica da construgao de Rawls “Isto é 0 coiriptvntisso com a eliminagao das desi- gualdades imerecidas e com a liberdade de escolhetmos nos- berdadenequera tedistribuigiox (Green, ). ESusan Okin argumenta que os contratantes de Rawls insistiriam em um ataque mais completo ao sistema de diferenciagio de géneros, eliminando a divisio desigual I Iho doméstico ¢ a. objetificagag sexual (ORR, TET: |) \clusSes similares a respeito da injustiga dos pa- péis de género tradicionais podem ser obtidas se pergun- tarmos se estes papéis passam pelo teste de eqiiidade de Dworkin (cf. cap. 3, segdo 5 acima).. 1am endossado historicamentes aabordagem diferenciada, isso nao é 0 produto de principios falhos, mas de aplicagdes falhas destes princtpios. Isso ndo quer dizer que os iberais tenham simpli a roblemia da desigualdade séxual, como que por acidente. Ha “Tazbes evidentes de interesse proprio pelas quais os teéri- -eosmmustulinos evitaram a abordagem da dominagéo. Além disso, como veremos, um compromisso com esta descricao mais forte da igualdade sexual suscita questdes dificeis a res- Peito da relacao entre o piiblico e o privado e entre a justiga € 0 cuidado, ‘OFEMINISMO 317 - 2.0 pablico e 0 privado borage da dominate 3 igual tes centraidé a que : ‘gé-las & luz de padrdes de justica. Os icos, por ‘exemplo, supuseram que a familia (encabecada por um ho- mem) é uma .unidade biologicamente determinada e que a justiga refere-se as relagdes convencionalmente determi- nadas entre familias (Pateman, 1980: 22-4). Portanto, a igual- dade natural que discutem é de pais como representantes de familias, ¢ 0 contrato social que discutem governa as relacoes centre familias. A justiga refere-se a0 dominio “piiblico”, no qual homens adultos lidam com homens adultos em canfor- ide com convenes mutuamente acordadas. As relagées familiares, por outro lado, sao “privadas”, governadas pelo instinto ou solidariedade natural. Os teéricos contemporaneos negam que apenas os ho- mens sejam capazes de atwar dentro do dominio piiblico. Mas, embore a igualdade sexual seja agora afirmada, ainda se pressupde que esta igualdade, como na teoria liberal clés- sica, aplica-se a relagdes fora da familia. Os teéricos da jus- tiga continuam a ignorar relagSes dentro da familia, que se supGe ser um dominio essencialmente natural. E ainda se supée, implicita ou explicitamente, que a unidade fa- miliar natural é a familia tradicional encabegada por um homem, com as mulheres executando o servico doméstico e reprodutor ndo remunerado. Por exemplo, embora J. S. Mill enfatizasse que as mulheres eram igualmente capazes de rea- lizagio em todas as esferas de empreendimento, ele supds que as mulheres continuariam a fazer o trabalho doméstico. Ele diz que a divisdo sexual do trabalho dentro da familia "jé ¢ feita por consentimento ou, de qualquer modo, no pela 318 FILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA lei, mas pelo costume geral’.e defende isso como “a divisio de trabalho mais adequada entre duas pessoas’ Como um homer quando escolhe uma profissio, assim também, quando uma mulher se casa, entende-se de modo geral que ela faz uma opgao pela administragéo de uma casa @ a criagio de uma familia, como a primeira coisa que exige seus esforgos, durante tantos anos da vida quanto sejam ne- cessérios para este propésito; e que ela renuncia, nao a todas as outras coisas e ocupacées, mas a tudo que néo seja com- Pativel com as exigencias disso (Mille Mill, 1970: 179), Emibora 0s tedricos contemporéneos raramente sejam 80 explicitos quanto Mil eles compartilham implicitamen- te esta suposi¢ao a respeito do papel das mulheres na familia {(¢,se nao compartilham, nao dizem nada sobre como o tra- balho doméstico deveria ser recompensado ou distribudo). Por exemplo, embora Rawls diga que a familia é uma das instituigdes sociais a serem avaliadas por uma teoria da jus- tiga, ele simplesmente pressupde que a familia tradicional € justa e passa para a medigao das distribuicdes justas em fun- 0 da “renda familiar” que provém dos “chefes de familia”, de modo que as questées de justiga dentro da familia sao excluidas do tribunal’. A negligéncia da familia esteve pre- sente até mesmo em boa parte do feminismo liberal, que “aceitou a diviséo entre as esferas publica e privada e esco- Iheu buscar a igualdade primariamente rio dominio piiblico” (Evans, 1979: 19). Os limites de qualquer abordagem da igualdade sexial we negligencie a familia tornaram-se cada vez mais claros. mo Vimos, 0 resultado da “dupla jomada” de trabalho das mulheres 0 fato de que as mulheres estéo concentradas em trabalho de meio perfodo e remuneracao baixa, o que, Por sua vez, as toma economicamente dependentes. Con- 4. Ver Raves (1971: 128, 146). A descrgdo de Rawls da familia &discti- ‘da em Okin (1987), Green (1985); English 1977); Keame (1983), A “reseca aistotdica™ J sum na cela poles (Stiehm, 1983). OFEMINISMO. 319 tudo, mesmo que esta vulnerabilidade econémica fosse re- “movida, pela garantia de uma renda anual a todos, ainda ha- veria a injustica de que é apresentada as mulheres uma es- colha, entre famiia € carreira, que os homens nao enfrentam. A afirmagio de Mill de que uma mulher que se casa aceita ‘uma ocupagao de tempo integral, exatamente como um ho- mem que assume uma profissao, é notavelmente injusta. Afi- nal, 05 homens também se'casam — por que o casamento deve ter conseqiiéncias tao diferentes e desiguais para ho- mens ¢ mulheres? O desejo de ser parte de uma familia ndo deve impedir uma pessoa de ter uma carreira e, na medida em que isso tem conseqiiéncias inevitéveis para as carreiras, deve ser suportado igualmente por homens e mulheres. ‘Além disso, resta a questo referente & razao pela qual 0 trabalho doméstico nao recebe maior reconhecimento pii- blico. Mesmo que os homens e as mutheres compartilhem o trabalho doméstico nao remuneraco, isso ndo seria consi- derade como igualdade sexual genuina se o motivo de sua ndio-remuneragao fosse o fato de nossa cultura desvalorizar 0 “trabalho de mulher” ou qualquer coisa “feminina”. O sexis- ‘mo pode estar presente néo apenas na distribuicao do tra~ balho doméstico, mas também na sua avaliagdo. E, como a desvalorizagio do trabalho dornéstico esté ligada a desvalo- rizagdo mais ampla do trabalho feminino, ent& or maior respeito para as mulheres en\ to pela sua contribuicao para a familia. A familia, porta estd no centro da desvalorizagio cultural e da dependéncia “econdmica vinculada 20s papéis tradicionais das mulheres. Eo resultado previsivel é que os homens tém poder desigual ‘em quase todos os casamentos, poder que é exercido nas de- cisdes referentes ao trabalho, a0 lazer, ao sexo, ao consumo etc.,e que também € exercido, em uma minoria significativa de casamentos, em atos ou ameacas de violencia doméstica (kin, 1989b: 128-30), A familia, portanto, é um locus importante para a luta por igualdade sexual. Hé um consenso crescente entre as feministas de que a luta pela igualdade sexual deve ir além da discriminagao piiblica, até 0s padrdes do trabalho domés- 320 -FILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA tico e a desvalorizacao das mulheres na esfera privada, Na verdade, Pateman diz que a “dicotomia entre o piblico € oprivado [..] é, no fin, aquilo de que trata o movimento fe- minista” (Pateman, 1987: 10) Confrontar a injustica da esfera privada exigiria mudan- as substanciais na vida familiar. Mas que mudangas exige das teorias de justica? Corno vimos, o fracasso em confrontar as desigualdades de género na familia pode ser visto como uma taiclo dos principios liberais de autonomia e igual oportunidade. Segundo algumas eriticas feministas, porém, 0 liberais recusam-se a interferir na familia, mesmo para promover objetivos liberais de autonomia e igual oportuni- dade, porque estéo comprometidos com uma distingdo en- tre 0 piiblico e o privado, e porque véem a familia como 0 ‘centro da esfera privada. Assim, Jaggar argumenta que, como © direito liberal & privacidade “abrange e protege as intimi- dades pessoais do lar, a familia, o casamento, a matemidade, a procriagao e a criagéo dos filhos”, quaisqi:2x propostas li- berais de interferéncia na familia em nome da justiga “re presentam um claro abandono desta tradicional concepgao liberal'da familia como centro da vida privada. (..] A medida que a énfase feminista liberal sobre a justica cada vez mais obscurece seu respeito pela chamada vida privada, podemos comegar a nos perguntar se os valores basicos do liberalis- ‘mo so, no fim, mutuemente compativeis” aggar, 1983: 199); Em outras palavras, os liberais devern renunciar 20 compro- isso com a igualdade sexual ou ao compromisso com a dis- tingio de publico e privado. Contudo, nao esta claro que “a tradicional concepgao li- beral” vé a familia “como o centro da vida privada”. Ha, na verdade, duas concepgées diferentes da distingdo de piiblico ¢ privado no liberalismo:-a primeira, que teve origem com Locke, &a distingio entre 0 politico e o social; a segunda, que teve origem com os liberais de influéncia romédntica, é a dis- tingdo entre o social e o pessoal. Nenhuma trata a familia ‘como inteiramente privada nem explica ou justifca sua imu- nidade & reforma juridica. Na verdade, cada distingao, se apli- cada a familia, prové fundamentos para criticar a familia tra- OFEMINISMO, 321 dicional. Os liberais, porém, ngo aplicaram estas distingdes, familia e geralmente negligenciaram o papel da familia na estruturagao da vida piblica e da vida privada, : (@) O Estado e a sociedade civil A primeira versaé da distingio de piblico e ptivado do liberalismo é ilustrada pela distingao de Constant entre a li- berdade antiga ea liberdade modema. A liberdade dos anti- {g0s era sua participacao ativa no exercicio do poder politico, ‘do a fruigao pacifica da independéncia pessoal. Os atenien- ses eram homens livres porque governavam a si mesmos coletivamente, embora carecesser de independéncia‘e de li- berdades civis pessoais e fosse esperado que sacrificassem seus prazeres em nome da pélis. A liberdade dos modernos, por outro lado, encontra-se na desimpedida busca de felici- dade em suas ocupagdes e apegos pessoais, o que requer li- berdade a partir do exercicio do poder politico. Enquanto os antigos sactificavam a liberdade privada para promaver a vida politica, os modernos véem a politica como um mei certa medida, um sacrificio) necessario para proteger sua vida privada. O liberalismo expressa seu compromisso com a liberdade modema separando nitidamente 0 poder pibli- co do Estado das relagées privadas da sociedade civil ¢ esta- belecendo limites estritos & capacidade do Estado de intervir ra vida privada. oH Citticos fizeram, muitas vezes, objegdes a esta distingo de ptiblico e privado baseados no fundamento de que a én- fase do liberalismo sobre a vida privada é anti-social. Segun- do Marx por exemplo, os direitos individuais enfatizados pelos liberais séo as liberdades de “um homem tratado co- ‘mo uma ménada isolada e fechada em si mesma [..] 0 di- reito do homem a liberdade no é baseado na unio de ho- mem com homem, mas na separagao de homem e homem, Eo direito a esta separagio” (Maix, 1977b: 53). A visdo liberal, porém, pressupde efetivamente nossa sociabilidade natu- ral. Como observa Nancy Rosenblum, 322 ILOSOFIA POLITICA CONTEMPORANEA esta fronteira entre esferas nao implica que a vida privada seja radicalmente apolitica ou anti-social. Vida privada significa Vida na sociedade civil, néo algum estado pré-social da na reza outa condigSo anti-social do isolamento e do desapego. a liberdade privada oferece uma escapaldria & supervisio rferéncia dos funcionérios piblices, multiplicando possi ides de associagdes e combinacdes privadas (.] Longe de convidar a apatia, supde-se que a liberdade privada enco- tale a discussio publica e a formagao de grupos que oferecam 05 individuos acesso.a contextos sociais mais amplos e a0 governo (Roserblum, 1987: 61), ‘Quando o Estado deixa as pessoas na “independéncia perfeita” da vida privada, no os deiva em isolamento, mas, antes, livres para formar e manter “assgciacdes e combi- nagdes”, ou 0 que Rawls chama “unides sociais livres”. Co- mo somos animais socials, os individuos usardo sua liber- dade para juntarem-se a outros na busca de fins comparti- Ihados: A liberdade, para os liberais classicos, baseava-se realmente na “unio de homem com homem”, mas eles acreditavam que a unio de homens que surge da sociagdo na sociedade civil € mais gem que a unidade coagida das associacées pol beral de vida privada nao era proteger 0 individuo Giedade, mas libertar a sociedade da interferénci E mais preciso ver o liberalismo nao como anti-s0c ‘como “a glorificagio da sociedade”, pois os liberais “ sifi- cavam a vida social como a forma mais elevada de realizac5o humana e a condigao vital para 0 desenvolvimento da mo- talidade e da racionalidade”, enquanto o politico era reduzi- doo “simbolo rude da coergéo necesséria para sustentar as transagées sociais ordeiras” (Wolin, 1960: 363, 369, 291; cf Holmes, 1989: 248; Schwartz, 1979: 245). ‘A questo bésica na avaliagao desta versio da divisio de Piiblico e privado nao é em que medida os individuos re- querem a sociedade para a sua liberdade, mas em que me- ida os individuos sociais precisam do Estado para a sua liberdade, Como vimos no capitulo 6, isso foi obscurecido Pelas crticas comunitérids do “atomismo” liberal (cap. 6, se- OFEMINISMO 323 ‘204 acima). Contudo, quando Aristételes disse que os ho- > ‘mens eram 260m poltikén, ndo quis dizer simplesmente que os homens sio animais sociais. Pelo contrério, “o companhei- rismo natural meramente social da espécie humana foi con siderado uma limitagéo imposta a nés pelas necessidades da ‘vida biol6gica, que so as mesmas para o animal humanoe para. as outras formas de vida animal” (Arendt, 1959: 24). A vida politica, por outro lado, era diferente de nossa vida me- ramente social e superior @ ela. Foram feitas varias tentativas de derrubar a glorificacio liberal da sociedade e de reinstaurar a politica como forma superior de vida. A visio liberal, porém, impregna a era mo- dema p é compartithada implicitamente mesmo pelos seus ‘riticos mais radjcais (Wolin, 1960: 290, 414-6). Enquanto os sgtegos sentiam que “sob nenhuma circunsténcia a politica poderia ser apenas um meio de proteger a sociedade”, os tedticos modemos simplesmente discordam quanto a qual tipo de sociedade a politica deve servir - “uma sociedade os fis, como na Idade Média, uma sociedade, de proprie- trios, como em Locke, uma sociedade incansavelmente de- dicada a um processo de aquisigao, como em Hobbes, uma sociedade de produtores, como em Marx, uma sociedade de detentores de empregos, como em nossa sociedade, sociedade de trabalhadores, como em paises comunistas. Em todos estes casos, € liberdade [1] da socie- dade que requer e justifica a contengio da autoridade poli- tica, A liberdade localiza-se no dominio do social ea forga ou violéncia torna-se 0 monépélio do governo” (Arendt, 1959: 31), Este & um dos casos, como o compromisso com a igual- dade moral,.em que o capitalismo simplesmente venceu 0 debate histético, e todo o debate subseqiiente ocorre, em certo sentido, dentro das fronteiras dos compromissos libe- rais basicos. Esta 6 a primeira forma da distingfo de puiblico e privado do liberalismo. As ferinistas fizeram objecbes a ela com base ‘em vérios fundarnentos. A objego mais premente é que a ‘maioria das descrigdes liberais do dominio social faz parecer que ele contém apenas homens adultos (eficicamente ca- 324 ‘ILOSOP1A POLITICA CONTEMPORANEA pazes), negligenciado o trabalho necessério para criar e nu- tir estes participantes, trabalho que é executado principal- mente -pelas mulheres, principalmente na familia. Como ‘observa Pateman, “o liberalismo conceitua a sociedade civil abstraindo-a da vida doméstica atributiva” e, portanto, “esta permanece ‘esquecida’ na discussio tedrica. A separagdo en- tre piblico e privado é, assim, [apresentada] como uma di- visdo dentro [=] do mundo dos homens. A separagao, entao, 6 expressada de muitas maneiras diferentes, ndo apenas como 2, como ‘socie- uais sio divisdes “dentro do mundo dos homer A vida doméstica, portanto, tendeu a ser classificada fora do Estado e a sociedade civil. Por que a familia é ex- cluida da sociedade civil? Nao podemos responder que ela € exclufda porque se encontra no dominio privado, pois 0 problema, no caso, é justamente que ela nao é vista como parte do dominio privado, que é 0 dominio da liberdade li- beral. Esta exclusio da familia € surpreendente, em um sen- tido, pois a familia parece, uma instituigio paradigmatica- mente social, potencialmente baseada justamente no tipo de cooperagao que os liberais admiravam no resto da socieda- de, ainda que hoje esteja at stamente no tipo de res- trigdes atributivas que os ‘abominavam no feuda- lismo. Nao obstante, os liberais preocupados em proteget a vida social, e 0 acesso dos homens a ela, nao se preocupa- ram em assegurar que a vida doméstica fosse organizeda de acordo com os principios de igualdade e consentimento ou que os arranjos domésticos nao impecam 0 acesso das mu- heres a outras formas de vida social. Por que os liberais, que se opuseram & hierarquia atributiva no dominio da cién- ia, da religiio, da cultura eda economia, nao mostraram ne- ‘hum interesse em fazer o mesmo pela esfera doméstica?® * 5. Uma empleagaoé que feigdo que 0s antigo pars com iam a esfera doméstica come a ‘doméstico. Asim como os atiges transcendido para que os homens k= OFEMINISMO 325 A explicagio, Gbvia é que os filésofos homens nao ti- ham interesse em questionar uma diviséo somual do traba- Iho da qual se beneficiavam. Isso fot racionalizado no nfvel da teoria por meio da suposi¢ao de que os papéis domésti- 03 sio fixaidos biologicamente, uma suposi tada em afirmagées da inferioridade das mulheres ou na ideologia mais recente da familia sentimental, que diz.que o vinculo sentimental que surge naturalmente entre mae e fi- Iho incompativel com os tracos de carater necessérios para a vida social ou politica (Okin, 1981). Mas, embora 0s te6- 1icos liberais tenham invocado uma ou outta destas suposi- 6es, elas nao séo visdes distintamente liberais e nao hé ne- nhuma ligagdo lgica ou hist6rica entre elas e a aceitacao da distingio liberal de Estado e sociedade. O triste fato.da questo & que quase todgs os teéricos politicos da tradigao ocidental, quaisquer que fossem suas ‘vis6es sobre a distineao de Estado e.sociedade, aceitaram uma ou outra destas justfcativas para separar a vida domés- tica do resto de sociedade e para relegar as mulheres a ela ‘Como observam Kennedy ¢ Mendus, “em quase todos os aspectos, as teorias de Adam Smith e Hegel, de Kant e Mill, de Rousseau e Nietasche esto muitissimo distantes, mas, no seu tratamento das mulheres, estes filésofos, que diver- ‘gem em outros pontos, apresentam uma frente surpreenden- temente unida”. Os tebricos de todos 03 pontos do espectro politico aceitaram que “o confinamento das mulheres & esfe- ra privada {doméstica]& justficado por referéncia & natureza particularista, emocional e nao universal das mulheres. Vis- to que ela 56 conhece os vineulos do amor e da amizade, ser ‘uma pessoa perigosa na vida politica, preparada, talvez, para ‘res pudessem partcpar da vida politica os liberais vam a vida doméstica ‘como algo a ser dominad para que Gcassem lives para a vida social. sso pa- rece explicarparcialmente por que Mill e Marx néo consideraram a reprodu- «io um dominio de iberdadee justia. Hles vam o papel tadiconal da mu Ther como um papel meramente “natura”, incapar de desenvolvimento cul tual (¢ agar, 1983: cap. 4; kin, 1979: cap.) 7 326 FILOSOFIA POLTICA CONTEMPORANES sacrificar o interesse piiblico mais amplo a algum vinculo pessoal ou preferéncia privada” (Kennedy e Mendus, 1987: 3-4, 10). Em outras palavras, os iberais endossaram a distin- ‘gio de puiblico e doméstico pelas mesmas razdes que os anti- liberais a endossaram, nao por acreditarem em uma distin- so de piblico e doméstico’. ___Naverdade, esfes tedricos que rejetaram a distinggo de iiblico e privado tenderam a agucar a divisdo tradicional de doméstico e piblico. Por exemplo, embora os gregos antigos rio tivessem nenhuma concep¢0 do tipo de esfera privada que os liberais preferem, faziam uma nitida distingéo éntre ‘estésendo obscurecida Eisenstein 1981 tse Gren 1886 34 Nihon, 1986 169} or que esta compreencio Leal oxiginal da esera privada se perdeu, demo qe falar de um el de mundo pevado dene doco da o- ntempocinea ¢ fala & respeita da familia” (Elshain, dade nos Estados Unidos, Griswold contra Connecti feressado ndo apenas em proteger a esfera - OFEMINISMO 333 Esta segunda forma de distingio de piblico e privado do liberalismo muitas vezes é discutida sob sei legitimo disfar~ ce de um “direito& privacidade”. Como a primeira distingao de pidblico e privado, eld se tomo alvo da critica ferinista. A decisio que deu status constitucional ao direito & as mulheres, jé que determinava que leis que negassem o acesso a contracepgao a mulheres casadas violavam o direi- to de privacidade. Contudo, desde enti, tomou-se claro que este direito, como interpretado pelo Supremo Tibunal Ame- icano, também pode ser um impedimento para a adicional da pal oméetica das mulheres. A idéia de um diteito& privacidade fot interpretada como significando que qualquer interferéncia exterior na frria € uma violagao da privacidade, Como resultado, serviu para imunizar a fa- nila contra reformas déstinadas a proteger os interesses das mulheres ~ por exemplo, a intervendo estatal que protege- ria as mulheres contra abuso, que capacitaria as mulheres 2 mover uma aco por falta de pagamento de pensao ali- menticia ou reconheceria oficialmente o valor do trabalho domeéstico (Taub e Schneider, 1982: 122). O direito a privaci- dade “teforca a diviséo entre publica e privado que {..] man- tém 0 privado além do alcance da compensacao puiblica e despolitiza a sujeigio das mulheres dentro dele” (Mackin non, 1987: : Portanto, esta segunda distingdo de pablico e privado seforgou a tendéncia de isentar as relacbes familiares do teste dda justiga publica. H, porém, algo incomum a respeito da in- texpretacao de direito’& privacidade dada pelo Supremo Tribu- de retrace da sociedade possa ser encontrada em Bberais list ‘exemple, a Carta da elenincia de Locks), la €primariamente ume bberaladotada. Ver a privacidade em fungio do abandono de tots os papéis

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