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Cultura Editor

Franklin Jorge
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14 / NOVO JORNAL / NATAL, SEXTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2010

ARGEMIRO LIMA / NJ

UMA
MULHER
FORA DO
PROGRAMA
/ PERFIL / AOS 38 ANOS, A ‘MULTIARTISTA’ CIVONE MEDEIROS
▶ Civone Medeiros durante a entrevista

MANTÉM ACESA A CHAMA DA REBELDIA

SHEYLA DE AZEVEDO instalação na qual ela mostra peças íntimas suas e de sua famí-
DO NOVO JORNAL lia. “Podem até pensar que é, mas não é fácil nada. Me dói e eu
sei que pago caríssimo por romper esse hímen que a sociedade
MARCAMOS PARA O final da tarde. Cinco minutos depois da hora me impõe”. Claro que também tem trabalhos que ela faz que são
combinada, ela liga com uma fleuma discreta, avisando que vai divertidos e plasticamente agradáveis aos olhos do espectador.
chegar “um pouco atrasada”, como quem pede desculpas pelo Como o recente ensaio fotográfico clicado pelo profissional Flá-
trânsito ruim e pelo fato de ter praticamente atravessado a ci- vio Aquino, no qual Civone Medeiros empresta o corpo e a alma
dade de um ponto a outro, para chegar ao local marcado: o Nal- para encarnar Janis Joplin, que o leitor pode ver em algumas fo-
va Melo Café Salão. Lugar que tanto serve para palco de suas tos que ilustram esta reportagem.
performances, quanto para esteio de suas ideias, já que Nalva Durante um tempo, a “rebeldia” inata seja nas performan-
Melo, a dona, é também uma grande amiga. ces, na forma peculiar de escrever e de expor ao mundo suas opi-
“A minha vida é mais ou menos atrapalhada porque eu niões lhe rendeu uma certa, digamos, “geladeira” por parte dos
sou muito atrapalhada”, vai logo dizendo assim que chega, uns jornais locais. No ano 2000 Civone Medeiros foi responsável por
25 minutos fora do combinado, enquanto pede um café gran- um projeto que levou dezenas de artistas potiguares para aque-
de “pingado” e uma água com gás. Civone Medeiros, 38, pou- le país, onde puderam mostrar a arte produzida no Estado. Ela
co mais de 50 quilos em 1,63 metro, pele branca, olhos expres- conta que enquanto viveu na Áustria tentava acompanhar o que
sivos, cabelos castanhos escuros, quase sempre com um cigar- estava acontecendo em Natal e se deparava com informações
ro passeando pelos dedos e lábios, pode até ser meio atrapalha- sobre bandas e atores que traziam peças teatrais enlatadas de
da, mas é muito mais do que possa falar – e ela fala – porque é, outros locais, por exemplo, e não encontrava o mesmo espaço
sobretudo, uma moça das letras. Eu não estou à frente da mi- para o que os artistas do Rio Grande do Norte produziam. Foi
nha poesia/ eu não estou dentro da minha poesia./ A verdade é quando ela fez o seguinte comentário que causou polêmica: “O NUNCA FIZ
que eu sou a poesia (Adentro – Escrituras Sangradas 2009). Ou Viver é a morte e o Muito é pouco”, referindo-se aos dois cader-
uma mulher que tem coragem de se despir – “nunca ficar nua”, nos culturais, respectivamente, da Tribuna do Norte e do Diá- TRABALHO
faz questão de diferenciar - para deixar o corpo esculpir a men- rio de Natal.
sagem que quer passar. Como ela própria se define em seu site Mas a falta de espaço nos veículos convencionais de infor- BONITINHO. QUE
(http://naredecomcivone.wordpress.com/) é “multiartista, po- mação nunca lhe pareceu um problema: “Aprendi a me virar so-
eta, performer, produtora cultural e curadora. Trabalha com in- zinha – e dá uma gargalhada rouca – tenho uma porção de blo- FOSSE PARA
ternet, cinema/vídeo, cenários, moda, performances e intermí- gues e sites, como o Na Rede com Civone, o trabalho com os
dias. Vive em Natal e trabalha no Mundo”. postais, o programa de entrevistas com pessoas de distintas ex- AGRADAR”
A filha de Cícero, já falecido, e dona Ivone, mãe de Bian- pressões”, sai enumerando as ações que circulam pela internet e
ca, 15, não terminou a 8a série. Mas a falta de vivência escolar não deixam sua produção artística no escuro da desinformação. Civone Medeiros
foi suprida pela inquietação de viver. Cinco anos na Áustria – Além do trabalho de poeta, Civone Medeiros atualmente cola- Performática

FOTOS: FLÁVIO AQUINO

▶ Em ensaio fotográfico e Flávio Aquino, Civone Medeiros encarna a figura da musa de Woodstock, a cantora Janis Joplin

país para onde se mudou em 1999 com a filha pequena - lhe bora na ONG Instituto Ecos do Bairro, que trabalha com tecno-
renderam para início de conversa a segunda língua, o alemão. logia da informação dentro da gestão pública, sob o novíssimo
“A língua alemã é totalmente imagética”, explica, o que lhe deu conceito de transparência. “É um serviço de desenvolvimento de
a chance de desenhar na mente as palavras que estava absor- softwares que automatiza e publiciza a contabilidade pública”,
vendo na época do aprendizado. Além disso, compreende in- resume.
glês e lê francês. Intensa e sem papas na língua, depois de revelar fatos como a
“A minha educação afetiva foi dada pelos amigos”, revela vinda da filha Bianca ao mundo, depois que ela tomou a decisão
em meio a uma informação qualquer anterior, que parecia a de não fazer mais aborto; que encontrou o ex-marido – opres-
mais trivial. Para em seguida explicar que o pai era mecânico sor e machista – na cama com outro homem, o que a fez sair
da Volkswagen, e a mãe possuía uma força interiorana que a de casa, sempre na busca de ser “a protagonista” de sua própria
fez sair do analfabetismo no interior do Estado para se tornar história, e sendo permissiva com as indagações dos outros, tem
professora primária na capital. Mas em casa não tinha muito perguntas que ela não perdoa: “certa vez um repórter me per-
afeto, abraço, aconchego. Daí essa necessidade desde cedo de guntou se as pessoas me consideravam muito ‘doidona’. Aqui-
abraçar o mundo, a rua, conhecer a noite e seus seres. lo me arrepiou toda. Eu disse a ele, pergunte e elas! Mas esse tipo
Antes do enlace matrimonial com as palavras, Civone Me- de rótulo pode ser porque eu assumo meus atos. Não faço jogo,
deiros flertou com o balé clássico e o teatro. Este segundo sob a não tenho necessidade de ser conveniente. É difícil viver numa
batuta de Véscio Lisboa. Mas achava tudo muito paradão. En- sociedade – impregnada de regras – na qual o cabelo não pode
saiar meses, depois repetir aquele texto inúmeras vezes nos estar assanhado, você não pode não ter colocado perfume. Eu só
palcos não lhe prenderam por muito tempo. Em 1994 se “en- sei que só quero dizer a minha verdade. Ser eu mesma e pagar o
controu” na Arte Visual e na escrita. O teatro lhe permitiu um preço. Eu quero ser consumida por quem quer me consumir”,
EU QUERO SER domínio de palco que ela levou para a vanguarda de suas per- desabafa. Não quero uma obra/ que tenha valor/ de mercado./
formances. Atividade artística que lá no início dos anos 1990 Quero uma obra que tenha valor de expressão. O poema Huma-
CONSUMIDA POR chamara a atenção do jornalista e escritor Paulo Augusto, que na Ambição (Escrituras Sangradas Ave de Arribaçã ou a Propó-
certa vez teria escrito que Civone Medeiros “é uma garota fora sito de Viena e Outros Ondes) parece traduzir esse sentimento.
QUEM QUER ME do programa”. Aliás, tendo ou não intenção de ser profético, E que consumir jamais se confunda com consumar. Porque
Paulo Augusto enveredava por uma característica intrínseca Civone Medeiros embora às vezes admita uma certa fragilida-
CONSUMIR” do trabalho da artista: estar à margem. Principalmente se isso de até mesmo física – pelas noitadas que já desfrutou - parece
significasse que ela estaria longe do convencional e da medio- que não vai parar tão cedo de fazer arte e de sentir um “alívio são”
Civone Medeiros cridade. “Nunca fiz trabalho bonitinho. Que fosse para agra- de ter se expressado, se comunicado, seja com a voz, o corpo ou
Performática dar”, diz a poeta que já lançou a exposição Privatesfera, uma com os olhos com seu interlocutor.

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