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14 Umuarama, domingo,

20 de junho de 2010

Gralha-Azul
por Ney Souza Lima
 Nasci entre os galhos da araucária
nos braços da mãe natureza, aqui

Ver não é o mesmo que olhar


na terra de muito pinhão
no útero do Aqüífero-Guarani 
conheço o Parque Nacional de Ilha Grande
o clima o relevo a argila e o Arenito Caiuá
vi na história o índio Xetá e o Kaigang
e as paisagens no varjão, do Rio Paraná  Por Thiago Calixto
andei caminhos trechos estradas e trilhos Há tempos me interesso pela temática do
extinta, nos limites da serra do mar
sou Gralha-Azul, e do Paraná eu sou o Símbolo olhar, cujo movimento nesta senda remonto
e para os bichos e as aves viver é voar  conscientemente à minha primeira leitura da
represento essa gente, cabocla, roxa e vermelha obra “Orwelliana” intitulada 1984 (entretanto
gente de olhos azuis na cidade, no campo finalizada em 1948, reverso este que tem sua
africanos, escravos, heróis de pele negra
personalidades, folclore, lendas e fandango 
lógica), de caráter irônico e crítico aos regimes
eu faço parte da lenda e da realidade políticos autoritários, em especial o stalinismo
ave canora, ave azul, da cor da água (qualquer semelhança contemporânea não é
Sete Quedas, e os turistas, Cataratas do Iguaçu mera coincidência). Um de seus termos que
e entre a mata desmatada solto meus gritos de Gralha  ganhou notoriedade foi o de “Big Brother” numa
eu vi guerras, Bandeirantes, paraguaia e Contestado
até hoje tenho medo, da bala, da flecha e do machado referência ao olho fiscalizador do Estado, re-
e se eu fosse guerrear juntamente com os pássaros sponsável pelo controle da vida das pessoas.
definindo nossas terras, exigindo nosso espaço?!  Da digressão retomamos ao tema mais
o meu nome é Gralha Azul, sou Bicho do Paraná específico, focando a importância que o olhar
entre tropas e frio, nasci neste lugar
ninguém nunca viu, em nenhum estado há
carrega na transmissão de palavras que darão
ave tão interligada como sou no Paraná!  sentidos a um sujeitinho em construção - o
carrego entre as mãos o meu livro didático humano. Destarte, investido por um ato, o qual
com a história da minha vida, dessa gente-pássaro vai além da mera ação e denota satisfação, o
nas campinas só  sobraram eu e a araucária olhar paulatinamente marca uma existência,
preciso dela para viver e ela precisa de mim 
sou um só corpo com a fauna e com a flora propicia o reconhecimento, através do circuito
em terras vegetadas, cheia de trilhos e nuvens construído entre Semelhante-semelhante a
passo os dias nas galhas a observar a Gaia sustentar o movimento. Portanto, resta claro a
as Araucárias novinhas, o grão que plantei  vivacidade de um desejo posto em curso também Reprodução d´A Parábola dos Cegos, por Pieter Bruegel (1525/30 – 1569) –
a  árvore nasce do solo, uma nova muda “Quando um cego guia outro cego, ambos caem no abismo.”
assim que o meu Paraná-uê tem que crescer no sul
pelo investimento escópico que nomeia, conta
de uma arvorezinha destacar no mundo história, diz quem é.
com as cores da Bandeira no corpo da Gralha -Azul  Curioso, mas não arbitrário é que o olhar desesperadamente agarradas ao investimento narcísico que lhes
sou Símbolo do Paraná, levo a semente ausente não banhe de linguagem, tornando, depois de um tempo, faltou. Este objeto colorido exerce uma atração que o eleva ao patamar
faço minha trilha, nutrida de pinhão expressão da falta identitária que aprisiona o sujeito crescido como
trato da família no ninho paranaense de fascinação, fazendo vezes de Outra satisfação.
ao ouvir sonoramente o grito de alimentação... apêndice do Outro e assim na dependência daquele gozo sussur- É mister, então, que vejam os semelhantes nas trivialidades
rado em tom de coerção qualquer coisa, de preferência tudo, serve. do acordar, comer, conversar, banhar, transar e dormir para que se
Também conhecido como Ney Poeta em São Jorge do Patrocínio, o autor Esta ausência supracitada baseia minha letra quando milhões de possam sentir representados na vida sem sentido, sem lugar e sem
teve estas linhas premiadas com o 3º  Lugar da Categoria Adulto no 16° televisores brasileiros se plugam quase que automaticamente ao Big
Concurso de Poesia Pinheiro do Paraná  2008. Parabéns e sinta-se sempre
função. E o pior é que tais semelhantes acabam por se transformar
bem vindo, Ney!.
Brother, fazendo da virtualidade um lago refletor de imagens que, em Semelhantes a ponto de serem idealizados e imitados numa
deixando de ser anônimas “assegura” às pessoas suas existências, cadeia que alude à Parábola dos Cegos de Bruegel.

AMBIGUIDADE Por Ângela Russi

Quem nunca brincou de cara ou coroa? É só pegar uma moeda escolher um dos lados e jogar para cima. Quando não é ele quem faz esse papel, pois vive para ser agradado. Viver para agradar não é nem um pouco agradável e o
cair ou é cara ou é coroa. Quem escolheu o lado que ficou para cima é o vencedor desgaste emocional é grande. Obrigar-se a isso é doloroso. Porém, ambíguo esperto dá um tempo de vez em quando,
Algumas pessoas são como moedas, têm duas faces totalmente diferentes. Dois lados de um mesmo ser faz uns agradinhos quando percebe que o outro está cansando de suas instabilidades e continua controlando a
humano. Pena que não dá para jogá-las para cima para ver qual dos lados exibirá. Assim seria bem mais fácil relação. Azar de quem não percebe.
lidar com elas. Por isso é bem complicado conviver com pessoas- moedas, isto é, ambíguas. Quando é possível se afastar do ambíguo, beleza. Resolvido. Mas quando ele é um chefe, um parente próximo
O ambíguo é mais ou menos assim: num dia chega feliz da vida, cumprimenta, conversa e até fala sobre o tempo. ou o amor de sua vida o negócio muda de figura. O que fazer? Nada de se jogar da ponte ou do viaduto. Se não
Em outro chega e nem olha. Talvez um bom dia rápido, carrancudo e só. Tem também o namorado ambíguo que der para aguentar, ou seja, se já estiver a ponto de se internar no hospício, fale. Toda a palavra que explica um
no passado era um encanto, conquistou a garota com flores e romantismo. Isso no passado. Hoje maltrata e, ao desconforto e que não sai da boca para fora, corre o risco de ficando no corpo, adoecê-lo. Explique a ele que o modo
invés de presentear reclama dos presentes que ganha e exige coisa melhor. O colega ambíguo num dia te conhece como se comporta está enlouquecendo-o. Jogue limpo. Palavras sinceras que esclareçam é o melhor caminho.
e no outro te esquece. Deve ter amnésia. Tem indivíduo que diz ‘Deus lhe abençoe’ em um dia e no outro espera E se o ambíguo tiver poder? Poder para demitir, para querer descasar, ou para judiar? Falar ou não
que o Diabo lhe carregue. Tem gente que passa rapidinho do sorriso ao cinismo. De manhã está feliz, de tarde está falar? Eis uma importante questão. Tem de escolher. O medo de magoar, de perder e da solidão muitas vezes impede
emburrado. Em um momento está alegre e no outro está zangado. Numa semana é educado e na outra é revoltado. um bom diálogo. Fazer o quê? Uma escolha tem de ser feita. E quando a saúde está em risco é sábio refletir o que
Diz que odeia amarelo e um tempo depois, lá está ele com uma roupa amarela que ofusca a visão. O que é isso? vale mais. Para não correr riscos desnecessários no emprego é viável procurar outro e antes de descasar, tentar
Isso é ambigüidade, também chamada de ambivalência e é enlouquecedor. Não dá para saber o que esperar ou demonstrar o valor que dá ao relacionamento. O ambíguo pode lhe fazer sofrer? Driblar o sofrimento e proteger-se
o que virá. É complicado esperar o feliz e ver chegar o estressado. Cumprimentar o compreensivo e não receber até decidir qual atitude tomar é a atitude sábia nesse caso.
resposta do mal-educado. Sorrir para o bacana e receber uma cantada do sacana. O mundo está cheio deles e Infelizmente só há três alternativas: resolver, suportar ou fugir. A primeira e a última são alternati-
embora haja ambíguos diferentes e para todos os gostos, eles têm algo em comum: nunca estão satisfeitos. É vas radicais. E quem não tiver coragem nem para uma coisa nem para outra? Fazer o quê? Suportar, e que Deus
de pirar qualquer um. Desestabiliza mesmo. Pessoa desestabilizada fica frágil, é aí que o ambíguo toma conta e o ajude. Casos extremos de ambigüidade só mesmo com intervenção divina para mudar. Psicoterapia também é
controla a situação. um santo remédio, entretanto, tentar resolver através desses meios ainda não exclui a sinceridade. Se tudo isso
Neste tipo de relacionamento apenas um sempre busca agradar ao outro. Como é impossível agradar o ambíguo, falhar, jogue o ambíguo para cima. Quem sabe ele cai do lado bom ou ainda do lado que se consegue suportar?

O grotesco e o sagrado por Jair Junior Monteiro Solin


Ela é uma daquelas pessoas Não que o toque dele seja tão
que você facilmente julgaria – caso interessante, mas existem lugares
ela aparecesse na sua vida – como e maneiras de tocar em nosso
necessitável. A gente está sempre corpo que se fosse a mão de nossa
precisando de alguém como ela: bun- mãe o fazendo, sem que víssemos,
duda, linda, astuta e absurdamente sentiríamos o mesmo que ao ser
sensitiva. Erótica e terna. Leopardo massageado por um ex-capa de G
e joaninha num mesmo corpo de Magazine, altamente arrebatado.
caverna clara. É daquelas mulheres O sol quase cinza de escórias da
que você gasta absurdos interurba- chuva, quase amarelo de promessas
nos para ouvir suas palavras ora do verão , enraíza seus nervos na
otárias, ora geniais. Ora grotescas, tarde desta sexta. É possível ver o
ora santas. Ora inúteis, ora sábias. inverno saindo detrás do horizonte,
Bem, apresento-lhes A.S.F. feito um moleque pulando um muro.
Tarde de quinta-feira, sol pau- O oriente dá fisgadas no ocidente
listano, vento da chepa do outono. e nos pulmões de A.S.F.. Uma onda
Dor paulatina e uma tuberculose bizarra se levanta na praia, mais
crescente feito progresso. Uma um passo e o contentamento de
herpes no seio se incendeia. A.S.F. tão contente se tornaria coisa
vai ao massagista. Lá se distrai, ela nenhuma. Um naco de eternidade
valoriza as artes do corpo. Aliás, nos olhos da moça.
que corpo... Ela e ele formam a Eis que um dia ela deita em
união de gregos e troianos. O trem sua maca, e depois de muito tempo
treme a sua dor. Os passos pisam sendo massageada (seu sutiã que
na sua alegria. Mas apesar de tudo, esconde uma feia herpes), começa
a felicidade colabora. elétrico, mas tem vontade aparar tranqüilamente num outdoor ou a sentir no ar um forte cheiro de
O seu massagista, aqui tratado outras coisas, como a cabeça da numa novela. A.S.F. é uma espécie sexo (de lubricidade, sensualidade,
pelo pseudônimo de Márcio B. F. K., sua ex-mulher, por exemplo. A.S.F. rara de mulher: é como uma her- de volúpia, de pênis intumescido
foi a primeira capa de uma revista é solteira. mafrodita absurdamente natural de selvageria harmônica), cheiro
de homens nus, a quarta mais ven- No primeiro dia de massagem, e comum. Um fenômeno banal. Um este que não é o seu. Ela estranha.
dida até hoje no Brasil. Atualmente como Márcio percebe que A. não é prodígio ordinário. Ela disse pra Mas entende. Esse homem é as-
tem os seus quarenta anos, embora uma pessoa como as outras, ele se ele que gosta mais de mulheres do sim. Tantos homens são assim. A
muito bem conservado. Se não me expõe, porque é verdadeiro. Elogia que de homens. Ele ouviu enquanto tuberculose assoviava no seu peito
engano tem uma filha, é separado. as sinuosidades excêntricas e per- a massageava. Márcio argumentou e um arranha-céu era erguido no
É cauto ao ponto de ter comprado feitas do corpo dela. A maneira como para ela: eu tenho uma bunda linda, seu coração.
um aparador de pêlos nasais suas estranhezas poderiam estar você não sabe quanta gente quer O cheiro vai debelando cada
tocá-la. Márcio abaixa sua calça e vinco do ambiente feito maré que aos
mostra sua bunda para A.S.F. Ela poucos engole uma ilha. Num dado
vê. “É bonita sim”. E relaxa sor- minuto, a sala está transbordando
rindo, afinal, por mais verdadeiro, Márcio B. F. K. e seu amor guloso.
honesto e gracioso que ele seja (com Eis que num momento ele brada:
toda sua virilidade de capa de uma eu não agüento mais!!! “Não consigo
revista para pederastas) ele é mais mais me policiar, você tem que ir
um homem deliciosamente especial embora daqui, não vê o que está
e corriqueiro, que se encontra aos causando?”
montes nesta terra. A.S.F. quer uma A.S.F. desce da maca, veste suas
mulher como Penélope Cruz em roupas, diz: ok, eu compreendo. E sai
filmes de Pedro Almodóvar. do consultório com a leve impressão
Ele começa a dar sessões gratui- de que não havia compreendido
tas de massagem para ela, cinco ses- nada.
sões gratuitas que somam R$250,00 Tosse, vai ao mercado, tem
de “avaria”. Ela aceita, adora ser fome.
massageada e tocada, melhor ainda
quando isso não custar. (solin_jc_1@hotmail.com)

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