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ROLAND BARTHES COMO VIVER JUNTO Simulagées romanescas de alguns espacos cotidianos Cursos e semindrios no College de France, 1976-1977 t Texto estabelecido, anotado e apresentado ‘por Claude Coste Martins Fontes Sao Paulo 2003 | Rolend Barcer | de nada: vai depender do que cerei aprendido eu mes- mo nas exposicdes dos outros: ¢ 0 principio do se- mindrio) algumas andlises de “tenir discours". 9 de marge LMarin | 16 de marco Falhaule? 294 ‘© DISCURSO-CHARLUS ESBOGO DE ANALISE DE UM DISCURSO! DISCURSO-CHARLUS* A dupla-diferenga Tipo de discurso Método: S/Z? 1) Cinética ‘Acaso Logica silogistica . ‘Mergulhia* ‘Marcas sucessivas cada, anexada is noas de 3970. Anise da novela Saran, de Balzac ead. bras, 92}. (N. da) 4, Em francés, , mergulin: tipo de eprodusio vege que consis: teem enrerar um rao de planta ainda preso 3 ea, ars consi, depos de entizado, nove exempla, sina vr separada da plantamse (Neto Diiandro Audi). (N. da T) 295 1 Roland Barthes | 2) Desencadeadores 3) A instincia alucutbria Andromagué Discurso-Charlus. Os inflexemas, “Psicandlise” Intensidades Conclusio 5. Andsmague: gia cliica de Racine. (N. da") 296 | Aula do dia 23 de marco de 1977 | © DISCURSO-CHARLUS Discurso feito por Charlus ao Narrador, que lhe faz uma visita noturna, depois do jantar na casa dos Guermantes: Le cété de Guermantes, Il, Pléiade, II, 553-561 ~ discurso de reprimenda e de ruptura +a titulo de complemento: Andromague, II, 4. Desde® a primeira leitura, uma impressdo con- traditéria, paradoxal: 1) Por um lado, discurso mantido, denso, con- tinuo, fluente, irritado, ditigido a0 Narrador, que se limita a intervir brevemente; algumas veres; parece 6. Comega dem longa srecho sscado no manusert. 27 | Relond Barer | realizar o sentido original do “senir discoun”: com- pacidade ¢ tensio. 2) Mas por ourro lado ¢ ao mesmo tempo: dis- curso muito mével, cambiante como uma paisagem sob nuvens. Espécie de ondulacio sutil de inflexdes: 1c er ju | inventirio completo dos elementos de estrutura, mas apenas colocar questées de método ~ ou, para ser ainda menos ambicioso: quest6es operatérias, Como ‘operat (n0 futuro) para analisar um discurso como este de Charlus? discurso inflexivo. Nesse sentido, poderiamos dizer, Dest Eliminar, de antemao, um engano metodolégi- por causa daquelas duas caracteristicas: of 0 tecido “Sco: 0 discurso de Charlus nao é um exemplo, uma musical wagneriano, continuo ¢ inflexivo, macigo amostra. Ele no representa uma massa tipica, que solto: mobilidade dos gestos musicais; aquilo que seria a dos “discours senus”. Ele apresenta uma dife- Nietzsche chamava de Ton-Semiotl? e que ele conde- fenga —e para mim (antigo analista estrucural), uma nava, como expresséo de decadéncia. dupla diferenca: 1) com relagio ao discurso da doxa, O caso Wagner: “Em Wagner, hd inicialmente fe- Qateune do esterestipo, 2) com relagio a uma andise ante- némenos de alucinagao, nao tons, mas gestos. E pe- los gestos que ele busca primeiramente a semiologia musical; se quisermos admiré-lo, é aqui que devemos vé-lo em aco: como ele decompée, como ele separa em pequenas unidades, como ele as pée em destaque, como ele as torna visiveis! Mas nisso se esgota sua poténcia: o resto nao vale nad: E essa relagdo entre a massa (que escorre) € 0 ‘gesto, a extensio e a inflexo, que me interessa. Daf um percurso de andlise sobretudo metodolégico: ini- iativas grosseiras, um primeiro destrinchamento, nem minucioso, nem exaustivo. Nao vou fazer um rior: SIZ. 1) E provavel (hipétese intuitiva de pesquisa) que haja um tipo ou varios tipos de “tenir discour. 10 que cemos, por exemplo, quando escuta- mos discuzsos politicos = um tipo, um cédigo endo- xal = discursos estruturdveis segundo as vias cldssicas da andlise estrutural: um corpus de discurso > tira- se dele a desctigdo de um tipo (de uma gramética) # Discurso de Charlus: parece atfpico. Podemos re- conhecer pedagos, mas nfo 0 conjunto. Ora, logo que hd reconhecimento, hé signo (o signo € reconhecido, Benveniste). Hé, pois, algo de semiético no discurso de Charlus (¢ 0 sentido da intervengio de Nietzsche sobre Wagner). Mas esse discurso ¢ tinico (reconhe- 2. Ton-Semiert (alma): semidica musica bo "Di » cido # batido): € 0 “Discurso-Charlus”. Esbarramos 8. Le Cidpucade dei op. ci p. 61 298 299 | Roland Barter | aqui num problema epistemolégic rar o Unico? O Unico, quando ele ndo se joga para como estrutu- fora da estrururagao, isto é, no inefivel; 0 Unico = 0 Texto. O “Discurso-Charlus” = um Texto, dito por uma voz, um corpo, € que corpo! O de Charlus € muito presente, muito figurado, ao longo de todo 0 romance de Proust, Esse ponto de vista sobre o Tex- to atipico, que deve ser captado fora de qualquer cor- ‘pus: aquele retido ¢ afirmado em S/Z. +92 2) Entretanto, os cédigos do “Discurso-Charlus” no podem ser comados na mesma perspectiva (na mesma ordem) que os de Sarrasine. Se Balzac recor re a um cédigo cultural (alusdes & arte, por exem- plo): unidades foscas, e como que denotadas, € 0 es- tar-ali, a naturalidade da cultura que é dada: cédigo manejado sem conotagao. # Charlus: cédigo cultu- ral (estilo das cadeiras, por exemplo’) + um suplemen- to afetivo, emotivo, enunciativo. © sujeito Charlus de cultural: arrogincia, agressio. se coloca na O cédigo cultural ¢ usado por ele para colocar-se diante do outro, ¢ entrar num jogo reclproco de ima- gens, de lugares. As langas, de Velasquez": pintura + 9. Charla exarnece @ Nartador, dizendo qu ese nso reconhece 0 estilo das endl WaT) 10, A reniet de Bred ou At lanes, quadeo de 1635. Lange Vlasquer, 0 vencedor se drige quelque & a zer todo nob, fq ers tudo e voc! fo era nad, sos em sus dreio" (N. aT) aus dina Mare: "Como nas mile, e come deve f ot praeioe par 300 1 Come vse junto | cédigo cavalheirgsco + teatralizagao da relagio, ete. > “Discurso-Charlus’: um tecido banal de eédigos (of Sarrasing) + suplementos. A cultura, por exem- plo, no é apenas uma referéncia, uma origem (como em Balzac), mas um lugar de enunciagéo. Assim: tre- cho acerca do jover berlinense que, pelo menos, co- nhece Wagner ¢ A Vilquéria!: a) eédigo musical, + 8) modernidade de Charlus (Wagner comegava a ser conecido na Franca, nessa época), + 4 gosto de Charlus pela Alemanha, + d) cédigo da licao dada. E o deslanchar polifénico dos cédigos que consticui nosso problema metodolégico (problema subest- mado em S/Z)". Para seguir esta primeira (e grosscira) explora- co de um novo método (de um novo problema), vou partir do conhecido a fim de entreabrir uma porta para o menos conhecide, © conhecid a andlise estrutural, isto ¢, o levantamento de unida- des, de morfemas do discurso. O menos conheci- do: o aparecimento da nogio de forga no campo de andlise. 301 1 Rabo Bareher | A MANEIRA ESTRUTURAL” 1) CINETICA Anélise estrutural (da narrativa): no comego. Normal, porque a nova anilise ¢ dificil = tendéncia a reencontrar a “construgio” do texto (influenciada pela explicagao de texto), o plano; reconsticuir “uni- dades” (aparigdes de cédigos) e uma combinacéria, ‘um arranjo, ~ Caréter tabular dessa primeira andlise, Tabular = carécer imével, panoraimico, planimétrico do texto como objeto. Entretanto, muito rapidamente: consciéncia do verdadeiro problema. Como é que o texto avanca? Como, uma vez iniciado, ele germina, prolifera? Como se opera a mutagio das situag6es, dos sitios (situs) de discurso (seria jé um progresso falar de si- tios, preferentemente a unidades)? Qual ¢ 0 segredo do desenvolvimento, da difusio, do modo como um discurso “pega” (of, Tenue de discours); da trans- lagio das unidades (dos sitios)? — Essas perguntas diriam respeito a uma cigncia cinética do discurso: so os motores do discurso, uma mecanica (q do cursus que ha em ais-cursu2) E também uma arte da viagem, Como é que o texto viaja? (Reencontra- 13, No manusrio, tuo fi ealgsdo com um marcado. 302 Aco | Come sve junto | riamos aqui hodés', que estd em hodoiporta, viagem, € em método). Jn abstracto, pelo menos quatto ope- rages, quatro motores poss{veis (€ uma primeira aproximagio): 1) O Acaso: nao deve ser excluido, Alids, a mo- demidade jogou freqiientemente com 0 acaso das conseqtiéncias verbais, Palavras, frases, lexemas (uni- dades de qualquer espécie): jogados num chapéu. A continuagao seria tirada & sorte = procedimento es- tocéstico"’. A mecanica mais simples, mas também o resultado mais insosso, pois produziria uma seqitén- cia cujos elementos setiam indiferencidveis (nenhu- ma pertinéncia de lugar). Uma vee dado, 0 acaso nao pode, no interior de si mesmo, gerar diferencas tipicas. Entretanto: a) seria talvez interessante fazer a experiéncia com frases (as do “Discurso-Charlus”); 0 acaso poderia fazer sairem pedacos de seqtiéncias Is- gicas: um bom objeto de observacios 8) no esque- cer: muitas formas estéticas nasceram do princ{pio do acaso corrigido, do acidente controlado; 0 acaso dé io & cadcia ~ € 0 inicio é sempre dificil. Tiés outros motores (0 que resta quando néo ¢ © acaso): 14. Hod (ego: camino, eseada 15, ‘Terme music “Dizse de wm esa de uma cnica de composigi musical langa- sds elo greg Yannis Xenakis (192) fim de opor ao ftmalsmo da msica set nes quar 9 comp onda A for intodus tora matemdtica das probabilidades” (Nove (WaT) 303 Envimems 17, Pasece que Barthes eransform: Ca em cena um fl caregado se 1 Rolend Bates 2) Como lembrete, porque nao foi bem estuda- do, salvo na Retérica de Perelman’: motor légico: discurso avangando por articulagbes de raciocinio. Uma proposicéo acarreta ou impde 2 proposis#o conse- qiiente, sob a lei de um constrangimento légico. A mais praticada: légica silogistica ou entimemética. (Nossos discursos correntes: certamente muito mais entimemédticos do que pensamos. A explorar: reste interessante, pois desembocaria sobre 0 discurso do ensaio € as novas legibilidades.) 3) Mergulhia, ou rebento. Principio dos forma~ listas russos: se um prego é fixado no inicio, € para que o herdi se enforque nele no fim”. Supde uma es- pécie de Iégica endoxal, difusa, ancestral, depésiro de experitncias, Idgica empitica: bater na porta > abrir / nao abrir; pergunta — resposta (ou niio). Ha um rebento — ow alporque ~ porque unidades mais ou menos numerosas, vindas de outras seqiiéncias, podem se interpor entre o primeiro ¢ o segundo —> Entrelacamento de seqiiéncias = crana, texto. Para tudo isso, ver S/Z. Motor privilegiado na narrativa clissica. seca, La Nouvelle Rhtorign. Tivté de Farge Mar sehr feria de Tchekbow: "Ni se deve eo gum tem 2 (ears de 1? de roverbo de 1889 « Lizarev-Grourins) 304 1 Cone ver junto | 4) Em tudo isso (salvo recurso a0 acaso), a ins- tincia postulada pela andlise: espécie de légica “em si — paracientifica ou empirica ~ que faz avangat © discurso por si s6, com pelo menos a ajuda minima de um manager, autor ou discursador. Estrutura im- pessoal, tinica relagéo de uma lingua légica e de uma fala que a performe: andlise que nfo faz intervir 0 sujeito ~ isto €, 0 outro. 5) Eis um quarto motor (cl vir 0 outro, estrururalmente (¢ nfo implicitamente): sistema das marcas sucessivas; ico) que faz inter- — Modelo dado por Platio; entra na oposicio Mé Recérica (Sofistas) # Boa Retérica": retdtica fi losdfica, ou dialética, ou psicagogia (Formagio das almas pela fala). ~ Discurso psicagégico: nao do escri fala: busca de interlocugio pessoal, ad hominem. mas da. Exemplo tipico: 0 didlogo do mestre e de aluno, uni- dos pelo amor inspirado. Pensar em comum, tal € 0 motor do discurso. Essa retérica = um didlogo de amor. - Exemplo de “desenvolvimento” (entender sempre essa palavra um pouco no sentido ciclista = regime de marcha). Na busca da verdade, partir de uma unidade global, imprecisa, ¢ descet, segundo as articulagées (escadas) naturais, segundo as espécies Ver Gbigias de Plt. 305 | Rolond Bother | como patamares, até atingir a espéci cada. A cada degrau, uma alternati Iher um termo em prejuizo de oucro, para retomar a descida, Exemplo: definigao progressiva do sofista": preciso esco- Caprura da caga Selvagem / domesticado ‘A mio armada / por persuasio Em pablico (em privado ‘Como dom I em roca de beneicio Para comer I por dinhiro mmizada se assemelha & es- yguagem: marcado / nao ~ Essa estructura trutura paradigmatica da marcado, E 0 marcado que faz prosseguir a descida. Ora, a marca é garantida por uma concessio daque- le que responde (o aluno). So necessétios dois in- tetlocutores, ¢ que um aprove, com um movimento de cabega ou com seu equivalence verbal: codas as par- tfeulas um pouco ridiculas ow tediosas dos didlogos soctiticos. Na verdade, essas particulas = afinal, atos de amor e operadores retéricos. Isso introduz a nosso problema: avango do dis- curso por marcas de afeto, ow o afeto como operador 19, Burhes comencou um quadeo muito semelhance em Lncenne Rhéerigne. 306 1 Come vive junto | 2) DESENCADEADORES Devemos admitit, a minima, que existem mo- dos de discurso (de discursividade) que sé avangam porque, na situagdo alocutétia, hé acontecimentos (palavras-acontecimentos) que, em determinados mo- mentos, desencadeiam (bruscamente) um novo cur- s0 do discurso. So os starters, incitadores, embrea- gens, espécies de shifters interlocutérios. Embrear = “estabelecer uma comunicagio entre 0 motor e os O shifter interlocutério coloca bruscamente em comunicagéo © motor afetivo ¢ os drgios retéricos do discurso: o Grgios que ele deve por em movimen carro discursivo funciona. Os desencadeadores po- dem exprimir as sacudidas do discutso. Evidente no caso do Discurso-Charlus: Charlus tem um discurso que rateia (catear = cortar por sobressaltos, no caso de certas ferramentas, agir por golpes sucessivos, em se tratando de um freio, de uma embreagem, de uma maquina). A mecifora (rateat) exprime bem aquela dialética especial de que eu falava no inicio: massa + inflexdes rpidas. Charlus fala como um cortador de gfama, como uma britadeira: cle rumina® o discurso de modo voraz. ter em dois significado: aca e raminat dato rocaitho de Barthes, 307 | Roland Bares 1 Desencadeadores pi 1) Gestos, Sentar-se na cadeira errada — discur- s0 desprezivo ¢ inflamado, Oui gesto de denegagéo — retomado duramente. 2) Palavras do outro. A palavra em si, na sua for- ma significante tipica, desencadeia uma vaga de dis- curso-afeto: estar ligado, ofender". Esquilo: palavras como chicotadas (Orestia). As vezes no é a palavra, é a idéia, o significado, que passa através de uma interpretagdo: “Eu jurei ao senhor que nao disse nada” > “Entio eu estou mentindo!™, Mas a ondulagao afetiva é edo cambiante, 0 motor t2o caprichoso, que pode mudar bruscamente de regime, de modo abso- lutamente inesperado. > Reviravolra espantosa: “En- ganaram o senhor” ~> “E possivel” (vem bruscamen= te, no lugar de “Entio eu sou um idiots”). = Defla- Bes: elemento certamente importante dessa semio- logia das forcas de discurso, que estamos tentando exbosar 3) Palavras pronunciadas pelo préprio sujeito, ¢ {que se tornam desencadeadores. Uma palavra minha me duplica ¢ me orienta para outro discurso: of 2D. Marcel pena que Charla ent angido antes qu ele ram Tigados", 0 que pr 29 por pace de ligadaa? ON. 22, No eax pro dando um salto tal que foi paar de péa doi pss cde nvm som aT) 308 1 Come vee jn tly. Mareeline Desbordes-Valmore: “Aos vinte anos, s0- Prews Pm mentosprofundos me forgram arenanca 0 n> to, porque minha vor me fazia chorat”s ¢ Werther veri “Eels que choro como uma crianga ao relembrar 7-125 je ego vivamente”®, = Emogio de Charlus, que cres- ce até chegar & beira das lagrimas, quando ele desen- vyolve 0 tema: voct poderia 20 menos ter me escrito = auto-emogio = desdobramento do sujcito, em lo- cutor e ouvinte de si mesmo. 4) Na ordem dos autodesencadeadores, ques- do a aprofundar: a das “construgées sintéticas’. Pe- dagos de frases feitas, esteredtipos sintaticos: “Nao fio nego que...” Essas constru- goes sintaticas = vazias, s6 adquirem um contetido depois; inicios de desenvolvimento prontos de ante- nfo. Dossié: lembram as alucinagbes verbais (Freud, Lacan) que enxameiam nos sonhos (of seminério dobre 0 Discurso amoroso* ¢ Safouan, Oedipe, 43, 110”), Frases truncadas que se limita & parte sin- 1B, Cieages [i ucleada por Barthes em Frngments de sm dis 3) 24, Bas 1973). Grit de spelo: porque a rang & cifca que s6 pode ser el jude Ge aplo que se cumpre aah bin’. "Enqunneo grit, Fu 25, Etude ow Ice, 309 | olend Barer | “Embora vocé sej “Se vocé ainda pre- cisasse.. De modo geral, os desencadeadores internos, ou startersinternos do discurso, poderiam petmicir ~ talvez ~ uma primeira classificagio dos “aparelhos dis- cursivos”. Narrativas “narvativas lectuais", os raciocinios-narrativas: a verificar) # cenas (discussos com desencadeadores internos). No discurso-cena, a mola da mudanga (da progressio) é a repercussio: resposta imediata de todo o imagind- tio a um significante-estimulo, E exatamente a situa- io do sujeito diante do logro — do touro diante da capa vermelha, O discurso-cena (e principalmente 0 de Charlu gesto, giro sintd gem violenta, imagem do outro e/ou imagem que 0 outro tem ou reré de mim, ow imagem de mim que uma tauromaquia. — O logro (palavras, , interpretandun®) = uma ima- oferego a mim mesmo como teatzo sob o olhar, sob a instincia do outro, Isso me leva a: 310 | Aula do dia 30 de margo de 1977 | O DISCURSO-CHARLUS (continuacio) 3) A INSTANCIA ALOCUTORIA jogo dos lugares entre 0 outro e eu: objeto da pesquisa psicanalitica. Mas como dar a esta pesquisa uma versio (ou uma vertente) semidtica? Como ana- lisar um discurso-cena? Como classificar os lugares, nar posi- seus graus de proximidade, como deter ges de enunciacio ~ de interlocucio? Objero dessa nove fin (ou semiologia) que se busca, Ou ain- da: jé que se trata de lugates (méveis: ondulagdo!) no 1. A palava sada por Barches € moi, que design a ondalgio ea inidesnca do tecido de tafts moire (N. dT) Bl | Roland Barts | discurso = tética. Apontar “tactemas”, manifestos, ope- radores de lugares. De fato, na pragmética (# an estructural propriamente dita), exibir um lugar é des- locar outro: toda exibigio & aqui transitiva. Nao me arriscarei a propor uma ca ou uma classificagao desses “eactemas”, Somente, para come- gar, uma distingao grosseira: a) discurso de tética ar- razoada, calculada: manipulacio politica do outro; era o préprio campo da antiga retérica (persuadir, transformar o julgamento, a decisio do outro) (An- dromaque’, Wl, 4); # discurso selvagem, pontuado de explosdes expressivas; discurso sem tética, mas nfo sem efeitos: 0 Discurso-Charlus. (Distingéo pro- viséria, discuch infra) talver todo discurso sejatético: of a) Andromaque Discurso que visa a obter alguma coi : que Her- mfone’ intervenha junto a Pirro para salvar seu fi Iho. Toda 2 tética: evitar as feridas narcisicas, provor cidade, uma solidariedade (situacio muito comum: precisar obter evitando feris, ow en- car uma cum to: lisonjear sem ferirs situagio minada por um 67, inspira wa Bava do Prisons anor, 0 que pode canseguir cisando- WaT) 312 1 Come sive junto | risco de gafe; aliés, a estudar: a gafe como acidente analisével do discurso). = Discurso inteiramente centrado no alocuté- rio, Hermione, Caso em que 0 alocutitio é 0 alvo absoluto. Nenhuma divagagio, nenhum desperdicio: nfo exprimir nada de si mesmo, pensar apenas no que se recebera do outro; espécie de alocugéo oblati- va, pura. — Andrémaca decompée estritamente Her ne em papéis e, tendo fixado os papéis, adapta em céncavo seu préprio lugar nesses papéis, © “em cbn- cavo": discurso muito vigiado da naio-agressio. Dis- curso verdadeiramente titico: cede fururamente em todos os pontos éspetos, isto & responde de anteméo aos discursos implicitos de Hermione, a seus discur- sos de lugar: Rial Reconce sa wicia | a Thiunfance ‘Humilharse | ign Prope a paz A Armed Fromac depart A Mie - ‘Camplicidade Apenas a segunda coluna é “discursivizada’ = colocada em enuinciados (mas com a primeira = enun- ciagio). 313 1 Rolend Barthes | Um “cactema” duvidoso (perigoso): a lembran- 52 da divida, 0 apelo ao reconhecimento, & troca (ja- mais obrigar 0 outro a ser agradecido) Resposta de Hermione: deixa de lado codos os papéis e sé conserva um: o da Rival em posigio de forga. Em certo sentido, ¢ ela quem faz 0 discurso: seu discurso nao ¢ titico, mas expressivo, tenso, afir- mando uma forca. Os “tactemas” de Andsémaca dispdem de instru mentos gramaticais ¢ icos muito finos, com os quis ela joga como se fossem um conjunto delicado de timbres: os pronomes encarregados de se refetit aos parceiros. Hé uma reescritura dos pronomes ~ “Eu? + a vitiva de Heitor (of “meu Heitor Acentua a conjugalidade, retirx Andrémaca di (do eu). — “Nosso’ ‘nds” — cumplicidade materna. — “les” (*querem tiré-lo de nés sufemisa Piero e Agamémnon, apaga © papel negativo que eles representam. Pelo contrétio, Hermione ¢ posta, brutalmente, anu: “eu” / “eu? Sobre’ “je" | “on”, ou melhor: “je” —> “on” (rees- crito como “on”). Exemplo célebre ¢ elementary os tém med vondente em por ns ow através da fore 314 1 Come vive junc | artigos de Brichot durante a guerra: of discussio em casa dos Verdurin, em “O tempo reencontrado” (Ex busca do tempo perdido). A reescritura do “je’ sob a forma de “on”: abertura possivel de uma esti da escrevéncia, que seria muito necesséria (supondo- se que se admita a distingio proposta entre escritura ¢ escrevéncia’). Escrevéncia, cientifica: 0 texto se ¢s- creve sob o olhar aterrorizante de Madame Verdarin. De modo difuso, revezado, por substitutos: problema do * 4 que todo discurso inclu © pensamento, se néo a estratégia de sua resposta, of Infic) reescrito em formas impessoais, ausentes. E \ciagio. A vantagem, no todo o problema da en comeso, de restr & que, do imenso dossié légico, psicanalitico, prag- ético (lugar do sujeito na enunciagao, entre o Ou- tro € 0 outro’), isso apresenta uma pequena abertu- ra abordével pela semiologia. De fato, reescritura do ca, volatilizada) apareceria na menor inflexao discus- siva (esta, aliés, pode ser lexical e no apenas rio outro a um inelocutor pac 315 | Rolo Barthes | gans de greve. Daf entrever uma nova concepgio da denotagio (of comego de S/Z). Nao 0 tragado neu- tro, abstrato, do enunciado, desembaracado hipote- -0s (a mensagem mas pelo contrétio: ordem e campo do “je’, © texto reescrito na primeira pessoa. “Je” nfo € 0 es- 'vo, espontaneo, expressivo do texto (iss0 ), mas seu estado amalgamado, e nisso in- dissociével como uma cola (uma coalescéncia): forga do desejo + forca do desconhecimento (“je" prono- me do desconhecimento # “on”, pronome da men- , da tapeacio, da exibigao tdtica)® b) Discurso-Charlus Esse discurso nfo procede de uma tética simples (caleulo direso). Tatica obscura, enigmiética, alvez nfo determinada pelo proprio sujeito (of infia sobre “ex- pressao”, “explosio”), No entanto, tenho certeza: té- tica = obter, agarrar o Narrador. Afinal, Ainico discurso sem tética? Todo discurso: idéia im- plicita ou inconsciente de mirar 0 outzo (0s outros) como alvo, isto & como objeto que se pode possuir, transformar. Nao haveria discurso sem esperanga: fa- queda da palavra na inutilidade (esquizofrenias? autismos?) lar & esperar. Se ha caréncia de tética = si 8. Fim do techo riseado no mans 316 | Como vie Tatica de Charlus: nao pode ser analisada como ade Andrémaca: @) pode set inconsciente, 8) segue vias tortuosas: retorcidas, denegativas, revitadas. De- sejo oferecido sob forma de agressio. Por isso, néo desencadeadores diretos, simples, mas inflexionado- res do discurso. Impeto de afero determinando uma inflexao do discurso: 1) Devolugio da responsabilidade: “Vocé é que sabe". “Problema seu”: forma freqiiente de agressio. Ato verbal de separaco, de néo-comunicagao; dei- xa-se 0 otto sozinho ¢ faz-se com que ele 0 saiba = inflexemas”. “isolema’. 2) Apresenta-se uma proposicao contando com ‘um protesto (que nos trard um proveito narcisico). Muito freqiiente: “Estou envelhecendo” —> “Nao é verdade!” etc, Aqui: “Vamos nos separar definitiva- mente.” > “Nao, vamos nos rever.” (A proposigfo pode ser dita sinceramente; nesse caso, ela se torna teza. Mas ela é dita um aurodesencadeador: de 0 também, € a0 mesmo tempo, com um gro infinite- simal de esperanga.) 3) Acusagdes; “suas invengdes caluniosas”. Ofen- sas: “que ignora o valor”, “no sentido da mais eficaz tam denegagbes, explicasées, obti- gam o outro a passividade ou & resposta. protecio” — sol tério de Chars. (N. dT) 317 | Ralod Bother | 4) Acaricia-se, por meio de refinamentos de lin- guagem, a descrigao da relacio: “declaracionismo”. Va- riam-se, refinam-se as palavras-ecrans. Aqui, Charlus 0 faz de forma ageessiva, mas 0 prazer de rogar € 0 ‘mesmo: “simpatia’, “benevoléncia’: méscaras que di- zem o desejo (Larvatus prodeo 5) Coloca-se 0 discurso praticado como meta- ciéncia do primeiro prazer. Isto € apenas um esbogo de classificagio intuiti- va. Permite-me entretanto norar, em geral, se obser vo esse discusso: — Haveria uma generalidade, uma tipologia das agressGes discursivas: remeter 0 outro a sua respon- sabilidade, & soliddo de sua responsabilidade. Rup- de anaclit da irvesponsabilidade infantil: obrigé-lo a perder a mie, Charlus quer obti- gar o outro a reconhecer sua responsal ismo", fratu ruptura ocorre por culpa sua, 2) problema seu, 3) “Parece-me, apenas, que vocé teria podido.. 1 Come vive ji = A attibuigio de responsabilidade funciona como uma separagio de comunicagio. No entanto, cla mesma constitui uma comunicagio, na medida cem que todos esses “inflexemas” de ruptura consti- ruem demandas, pedidos de resposta. Charlus colo- ca 0 outro em posigao de ter de responder ~ mesmo se ele nao the dé tempo para isso. Todo discurso alo- assim, tum constrangimento de respos- 0 = essa performance de fala na qual ha resposta. > Metodologicamente (estruturalmente), nfo poderemos analisar semioticamente o discurso sem levar em conta unidades implicitas de resposta. ‘A resposta = rubrica obrigatéria do discurso. Notar: teoria do double bind, o duplo constran- gimento" (recebo duas ordens imperativas rigorosa- mente contraditérias) — situagio propria a gerar a psicose (“The effort to drive the other person crasy”, Searle”). Charlus esté nessa posigéo: respond | no responda. Ora, essa linguagem ¢ a de todo poder po- licial = muito exatamente, conversa de tira: “Vocé é responsdvel por —> “Sim, mas...” — “Nada de im, mas.” Nesse ponto da cadeia, o sujeito interpe- lado ¢ constrangido & revolta (vias de fato contra 0 hes empeegafegientemente esa femula 1. Ver not em “Flog do um, 9a ala do dia 23 de mare. rents den dscane amare.) : 15. "0 cafouge para lear o outro &loucur". Barches cou esa fase na Ver comenitio de Barthes aa aula do dia 9 de margo de 1977, relative a outro crecho , Fragments de wn disrso amas, com 3 seine rfeéncia: Nowell Rerue de Pry 4 obra de Progst (N. da T) hana © 12, La yc, Gallimard “Preamble 318 319 | Roland policial) ow & passividade, covardia. Ele tem de esco- Iher entre deteriorar sua pessoa (pelo 0) ou sua imagem. Notar que o Narrador ~ que 0 longo de todo o romance se coloca fora do jogo, em situagio de resposta suspensa — ¢ aqui levado a um acting, out (0 tinico, no livro todo): ele pisa no chapéu. Ele responde a Charlus, entra em comunicagao ~ 0 que acalma Charlus, 4) AS FORCAS Adivinha-se” que toda essa andlise ¢ orientada pela idéia de colocar 0 discurso (0 “Discurso-Char- lus”) menos como uma tabela de unidades submeti- dlas a regras de agenciamento (semioldgico, clissico, taxiondmico) do que como um campo, um jogo de forcas, de intensidades méveis (idéia do moiré, dos desencadeadores, dos “tactemas”, dos “inflexemas”. Entreranto, do ponto de vista da andlise, essas forcas nfo sio diretamente captiveis. Elas passam por eta- pas intermediarias analiticas (desctitivas) ~ das quais nenhuma ¢ falsa, ou melhor, invilida, So como esta- dos descritivos de forcas, dispostas em etapas inter- mediarias. Vejo erés delas. 320 1 Come vive jute a) “Psicologia” E possivel utilizar esse discurso para descrever “psicologicamente” Charlus. O que parece escapar & anélise do Discurso-Charlus como encadeamento (Cinética) de “tactemas” (pensamento do lugar com relagio 20 outro), s%0 os momentos em que, dentro de Charlus, algo parece explodir ¢ exprimir (no sen- tido forte) um ser que se encontra “em si”, dentro de Charlus, independentemente de qualquer tética. Por exemplo: “Vocé acredita que a saliva envenenada de quinhentos amiguinhos seus <...> chegaria a babar até meus augustos artelhos?” Uma “ofensa” parece dererminar um movimento de orgulho (uma paixio) que explode, como a exteriorizagio de uma espécie primitiva do. ser-Charlus. Temperamento, alma de Charlus = sua verdade, sua sinceridade = suspensio miraculosa ¢ excepcional da tética, Orgulho: tltimo fundamento. Entreranto: esses “explosemas” sé ficam fora da tética para uma psicologia “natural”, que admite que, em certos momentos verdadeiros, 0 outro € posto entre parénteses. Mas ha psicologias que recusam qualquer “em si” da psique e, por conseguinte, reco- locam todas as partes do discurso num trabalho de dlaboragao do locutor ~ trabalho ditigido para 0 ou- tro (jogo de imagens, porcanto titico). Esse trabalho pode ser intencional ou inconsciente. 321 16. Eiquie dae sore sobre acer, ver em partial | Roland Barts | Intencional? Isso néo quer dizer forgosamente consciente, no sentido corrente. Pensat em Sartre, Eiguisse d'une théorie des émotions. “desmaic", “céle- ra” (0 que assenta bem a Charlus): comportamen- tos de fuga diance do intoleravel. Na verdade, inten- cionalizamos nosso desmaio, nossa célera. Eles ser- vem para alguma coisa. Ocupam um lugar na econo- mia jda do sujeito: sio conducas proveitosas, Toda célera é tética. Inconsciente? > Uma terpretasio dos “explo- semas” de Charlus ¢ possivel. ~» Outro nivel de for- as se descobre. b) “Psicandlise” (No sentido restrito de psicandlise interprecati- va: vulgata.) Naturalmente, néo se trata de psicana- lisar Charlus (nao ha nenhuma pertinéncia em psi- canalisar um ser de papel: a psicanilise literéria nao existe). Trata-se apenas de postular uma segunda eta- pa, para chegar perto das forcas do discurso. ~ 0s “explosemas”, 0s atos in- cos do discurso no pertencem mais a0 “em ndo so expresses irredutiveis, mas interpretanda”, sintomas, Por exem- sion, Pacis, Hermann, 1995, Sobre o deta, ver p. 45; ta, objets de interpreta, 322 18, Chasis havia envio ao Narrador ur live decors com miosods flo 1a igea de Balbee, achando que odetnacrio compreenderia a mensagem. (da T) plo: envio do livro com miosétis": mensagem claris- sima para Charlus (Nio me esquega), ¢ completa- mente obscura para 0 Narrador “Havia uma manei- ra mais limpida de he dizer: ‘Nao me esquega’?” Es- pécie de excesso de interpretagio que pode ser ele mesmo interpretado, isto é, recolocado numa tipo- logia. O fundamento precedence (“orgulho”) sera des- locado, recuado ¢ integrado num quadro mais vasto: ico, jogo complexo de sincomas. © pré- prio Proust dé os componentes da sindrome-Char- lus; orgulho, homossexualismo e loucura — tipo clés- sico: 0 paranéico. — Cercamente, nao reduzirei a psicandlise a um sistema interprecativo, a uma hermenéutica que teria recuar as bases da interpretasio psicolégica (or- gulho > parandia). Mas é verdade que, segundo a iga as conversas habituais), 0 discur- ” (discurso degradado) vulgaca (que so analitico ou “des-anali funciona como uma interpretacio. Ela pretende ter por fungio (nesses diseursos) levantar cortinas, ecrans. O problema (meu problema) = no teatro infinito da linguagem, quando se levanta uma cortina, aparece ‘um fundo, isto é, outra cortina. Eis como vivo atual- ‘mente a psicanilise: ela mesma como uma tela trans- 323 | Rolend Barts | parente que esconde (ou esconde em parte, ou vela) alguma coisa, ¢ essa coisa esté talver na frente. Idéia de um ecran que esconde o que esti na frente: opo- sigdo de onar (0 sonho vulgar) e /yjpar: 0 grande so- ho claro, a visio profética em que nunca se exé (Pi tia’). Gf Discurso amoroso, “Compreender’ ~E no é tudo. Vivo a psicandlise como uma tela, mas sobre a qual podem ser pintadas e so pin- tadas coisas ~ lindas, e que me so necessirias ~ neste tempo que é 0 meu: uma ficcio de que tiro provei- to, um grande véu pintado: a mata", coberta de no- mes, de formas, de tipos. c) Intensidades O grande sonho claro (/yjpar): aboligio do es- condido / aparente™. Forgas do discurso, nao obriga- toriamente tomadas numa tipologia (desligamentos de espagos segundo a profundidade e o movimento), ‘mas segundo uma intensidade. 1) A nogo de excesso ou de pobreza (raridade) A moda Zen ~ (estados, marcas discursivas) torna- se pertinente. Por exemplo: 0 Narrador estima Char- Erie Marty | Como sve june | lus exatamente em tazio de seu excesso, A mie € amada em razio de sua discriglo (dire: cera forga de distincia, de descontinuidade). 2) Pertinéncia na nogio de moiré, iridescéncia sutil de intensidades diferentes. Uma arte se encarre- ga, estatutariamente, dessa ondulagio de intensida- de: a miisica. a) A miisica é simbolizante, mas nao simbolizével. Nao podemos, portanto, interpreti-la iegundo 0 movimento de um espago hetmenéutico (nfo ha semiologia da miisica). 8) A mitsica: funda- mental em Proust. Nao no plano do discurso Peque- na-Frase-Vinteuil (Filosofia da meméria), mas no plano da miisica da lingua, a lingua como miisica Atencio apaixonada, insistente, prestada por Proust as vores: a mie lendo Frangois le Champi. Descti- fo das vozes em sua mobilidade:,fineza ¢ acuidade dos altos ¢ baixos das vozes. Charlus, precisamente: 0 lugar de Charlus (sua identidade de forgas): sua vor. + O objeto da semiética das Forgas, da filologia ati- vva dos discursos, seria: a declamagio, a promunciatio. Exemplo (entre outros): “Ele sorriu com desdém, ele- ‘vou sua vor até os mais extremos registros ¢ af, ata- cando a nota mais aguda ¢ mai Tudo 3 ss yarece aqui transcendido — ou anulado — por um di- 19. Sacerdotiza de Apolo em Delfos,ptonisa. (N. dT) P qu trans ° p aoe ee eee OT a onduda mae rmensn ferencial mel6ic das intensidades ‘mundo como iusto; para 0 bramanismo, xo cori, o vén dt mia € manifestagso 1 No caminho de Senn, “Combray™ 324 325 Plnimetia de mao), esses croqusfguram a perspeiva erent 1 Roland Barthes | PARA NOS DESPEDIR E PARA MARCAR ENCONTRO Embora eu tenha falado pouco, na verdade, do “Discurso-Charlus”, era necessdrio, para mim ~ e significativo ~ apoiar-me ~ mesmo que ligeiramente — sobre um texto (nfo hé fala sem um texto de apoio: monges, Tuo). Pois um texto ~ este texto, este dis- curso na medida em que ele foi inscrito na ficgao — apresenta a triple via do texto metédico (0 meu, no passado ¢ no futuro) 1) A anilise estrurural de tipo clissico: descri- 640, anatomia da Coisa-Discurso: 0 que ¢ 0 discur- 0, descrito segundo um procedimento cartogritico. discurso (de Charlus) (nao o fiz, mas teria podi- do fazé-lo): exibido como uma tabel nna qual se léem as regides, os limites, as propriedades. > Anilise t2- bular e planimétrica’, 2) Logo que hé ~ na anslise ~ consideragio da enunciagio, a andlise ndo é mais planimétiica, tabu- leva em consideragio 0 lugar dos sujeitos no discurso. Quer sejam 0 sujeitos ficcionais (Charlus e sew alocutétio), quer (¢ a0 mesmo tem- Po) 0s sujeitos da leitura. Ito: uma nova anélise, to- nt. a ess nota dois croquispouco legis prado pela esede Y-A. Bois oncepea do espago em Lisiaky ¢ Male 4 “perpecton ocidena 326 vive juss polégica, ou perpectivista: colocagao em perspectiva (complexa) dos pontos de vista que agem no discur- so. Essa orientagio, largamente explorada pelos con- ferencistas deste ano: uma semiologia dos lugares do discurso (no discurso). 3) A essa semiologia anunciada, requerida e jé desembaragada, uma inflexio suplementar pode ser dada (ela procura dar-se, talvez com um malogro no a visio das forcas, das intensidades, dos exces- sos e das deflagées, dos enrubecimentos ¢ palores da- quele que fala, escuta, escreve. Percepgio cujo mode- gillstica, mas antes lo nao setia mais diretamente a a mtisica. > Levantamento complexo dos planos (1), dos cortes (2) ¢ das elevagdes (3). Espécie de axono- metria do texto ou perspectiva chinesa (porque as pri- meiras aplicagbes regeadas da axonometria nos vém mas também arquitecura € pintura mo- dernas. Escolher um ponto de vista mével ¢ abran- gente: olhar com passeios e safdas; apreciando von- tade distincias ¢ papéis das partes reservadas: ordem de leitura sem violéncia, etc. Naturalmente: dossié reservado. ‘Nacuralmente, 0 corte epistemolégico (na esca- Ja da ultima década semiolégica) estd entre 1) € 2 + 3). O trabalho a ser feito esta na dialética do 2 ¢ 3. E af que vamos marcar um encontro (nao num semi- nario, mas numa pluralidade de pesquisas, &s quais 0 327 1 Roland Baths | semindtio desce ano, coletivamente, deu algumas en- Podemos colocar esse trabalho sob 0 signo da pragm: cugio, da qual Récanati falou (no seminario do dia lingtiistica das relagées de interlo- 2 de feverei aos in- ), recomando a palavea ea i gleses. Mas talvez ainda (seria minha inclinagio) sob 0 signo da Nova Filologia ou da por Nietasche: logia ativa, deseja- logia do quem e niio do qué. 328 | Resumo de Roland Barthes para o anudrio do College de France | SEMIOLOGIA LITERARIA Profesor Roland Barthes Curso: COMO VIVER JUNTO: SIMULAGOES ROMANESCAS DE ALGUNS ESPAGOS COTIDIANOS Na aula inaugural desta cétedra, postuléramos a possibilidade de ligar a pesquisa a0 imaginario do pesquisador. Desejamos, este ano, explorar um ima- gindrio particulat: nao todas a8 formas do “viver jun- 10” (sociedades, falanstérios, fa , casais), mas rincipalmente o “viver junto” de grupos muito res- ititos, nos quais a coabitagio nao exclui a liberdade 329

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