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O QUE É BARBÁRIE?
•Não é um modo de regressão histórica que precisaria ser anulado por uma
reação ética, política ou estética.
•Barbárie é um conceito meta-histórico que caracteriza uma atitude
consubstancial a todo estado de civilização, ou, mais exatamente ainda como
•Um conceito metafísico que define um dos dois pólos em relação aos quais o
homem encontra sua orientação.
•A barbárie pode remeter à constituição do entendimento humano que
dissocia todas as coisas e, arruinando os sentimentos pelos princípios,
destrói a unidade natural do ser humano.
•Quando Sócrates tenta descrever o que significa para cada um cuidar da
própria alma, ele ensina que só a dialética consegue tirar a alma do seu
“lamaçal bárbaro” para fazer ela aceder, fora de si mesma, a o que está
“acima” dela: a luz do bem.
•A alma bárbara, que dorme dentro de cada um, manifesta-se pela carga
ontológica que a puxa para baixo e a faz comprazer-se no lamaçal dos
instintos.
•É o poder de involução que proíbe que o ser humano de arrancar-se dos
porões da interioridade para voltar seu olhar para uma luz exterior.
BARBÁRIE MODERNA
Quatro características do ressentimento:
•O desconhecimento da beleza de uma obra: a ignorância.
•A negação do que é elevado, ou a negação da excelência: a pretensão.
•A incapacidade de realizar um gesto criador: a impotência.
•A vontade confusa de destruição: a regressão.
Os fundamentos da civilização são: reconhecer o que existe fora de nos, o
que é diferente de nos, o que se chama religião, natureza, sociedade, cultura.
O sinal da decadência, é a interiorização, o fato de referir tudo a nos: filosofia
e ciência moderna.
O SUJEITO MODERNO
•A característica marcante do homem moderno, que se qualifica como
“sujeito” sem sempre medir a própria sujeição, é a interiorização e a
necessidade de referir tudo a si próprio.
•A autonomia do sujeito aparece como uma ilusão e um fechamento do
indivíduo em si próprio.
•A noção de sujeito de direito passou por várias etapas e distinções:
–A identidade do homem: seu corpo
–A identidade de sua substância: a alma
–A identidade da pessoa: sua consciência.
•Aparece cada vez mais a figura do homem não como de um sujeito fechado
em si mas aberto para o universal o que permite superar os perigos do
subjetivismo e do relativismo moral.
1
MATTÉI, Jean-François, La barbarie intérieure, essai sur l’immonde moderne, Paris,
Presses Universitaires de France, 2001
•A relação de si para si próprio do sujeito moderno o conduz a identificar-se a
qualquer instância material que poderia dar-lhe um predicado, este lastro
virtual que compensa seu vazio original.
ARTE E SUBJETIVIDADE
•Jean Clair mostra o vínculo intrínseco que existe entre o laicismo da arte,
submetida ao reinado da expressão e não mais da representação, e a
violência endêmica do nosso mundo.
•Quando a arte limita-se à expressão da personalidade do sujeito libertando
suas forças escuras na exaltação do imediato, o homem e o mundo não
demoram a desaparecer.
•O apagar-se do rosto humano na pintura bem como o desaparecer da
paisagem depois do impressionismo anunciaria a barbárie dos totalitarismos.
•Eis o paradoxo constitutivo da arte moderna: o desaparecimento do
semblante do homem proporcionalmente à irrupção da subjetividade.
•A arte identifica-se inteiramente com a subjetividade do artista no comum
esquecimento do homem e do mundo.
•A atrofia da obra ecoa a hipertrofia do ego: a expressão do sujeito substitui a
verdade do mundo.
ESPELHOS DA MODERNIDADE
•Perdemos o sentido do iniciar.
•Nossos tédios conjugam-se com nossas impotências no esquecimento das
grandes narrativas que animaram o mundo durante séculos e que, no refluxo
geral do sentido, apagam seu rosto na areia da pos-modernidade.
•A vertigem permanente da razão, que a mergulha no seu abismo interior,
tece uma seqüência infinita de variações sobre a morte de Deus e sobre a
conseqüente morte do homem.
•O que é este homem que desviou os recursos do conhecimento para
sujeitar, numa escala industrial, a vida à morte.
HUMANO Vs BÁRBARO
•Para poder distinguir, a cada época da história, o que é humano do que é
bárbaro é preciso um modelo de homem e, face a ele, um modelo de bárbaro,
que transcendem as manifestações efetivas da humanidade e da barbárie.
•Sem tais modelos, como poderíamos julgar a humanidade de Sócrates e de
Platão, ou a barbárie de Átila e de Gengis Khan.
•O bárbaro não é mais um estrangeiro para o humano do que a barbárie o é
para a civilização ou a morte para a vida: cada elemento do par, sem ser
semelhante, não pode ser separado do outro.
•A barbárie é constitutiva da humanidade: é interior a ela.
•Só o homem enquanto homem, misto de razão e instinto, de paixão e de
entendimento, pode deixar soltas as pulsões destruidoras do próprio ser ou
dominá-las numa obra de civilização.
•Desde a Grécia e Roma, a humanidade civilizada pensou-se como
humanismo somente elevando o homem acima da própria barbárie, pela uma
conversão da sua violência surda numa obra de criação, ou, como diz
Goethe, numa obra de excelência.
•O que distingue em nos o civilizado do bárbaro é uma medida exterior ou
estrangeira aos homens que são comparados; Goethe a chamava de
demónica.
•Este elemento exterior, idéia para Platão, rosto para Levinas, que comanda a
singularidade de toda existência humana, é o princípio ético que dá
significado para a humanidade e à sua degradação na barbárie.
A AUTODESTUIÇÃO DO SUJEITO
•Quando o filósofo pensa em direção a uma idéia, mesmo se ele morar ainda
na caverna, quer dizer o mundo, ele volta seu olhar para fora. É o sentido da
conversão segundo Platão e, analogicamente, da conversão cristã.
–O homem antigo alicerçava a elevação de sua alma sobre o mundo ou sobre
o além do mundo que é o Bem;
–O homem cristão alicerçava a dignidade da pessoa sobre Deus;
–O homem moderno alicerça unicamente o próprio ego sobre si mesmo.
•A atomização dos egos na decomposição do individualismo contemporâneo
os proíbe de participar a qualquer universalidade.
•Se um ego exige o respeito a si próprio sem justificar a própria pretensão
recorrendo a um fundamento comum e que outro ego recusa este respeito,
quem poderá julgar e devolver a cada um o que lhe é devido.
PENSAR
•Segundo Hanna Arendt, Eichmann era um sujeito de direito: tinha
conhecimentos, convicções e argumentos mas não tinha consciência dos
seus atos e não conseguia pensá-los como maus porque era impossível
para ele percebê-los por um outro ponto de vista que não fosse o dele
mesmo!
•O pensamento estabelece uma ruptura no tempo: ela é o hiato que permite
que o ser humano suspenda uma ação, estabeleça uma ruptura no fluxo
contínuo da vida que é tecido de desejos, de necessidades e de submissão.
•Na sua energia interna que o arranca à indiferença, o pensamento cava uma
falha, um entre-dois, entre o passado e o futuro para inserir-se nela.
•O homem é sempre, a todo instante, um começo absoluto, um initium,
porque o pensamento tem o poder de interromper o desenrolar-se da vida
animal para alojar-se neste entre-dois, além dos processos temporais.
•O ato de pensar não define o critério lógico mas sim o critério ético da
humanidade, quando cada um consegue suscitar em si, suspendendo o fluxo
de ódio e o barulho das armas. Entre o elã e o ato existe um breve intervalo
onde se aloja o pensamento.
•O amor pelo pensamento é menos a busca do saber e mais a busca do
sentido que se oferece através a divisão interior, a brecha entre o tempo e a
eternidade.
BARBÁRIE E ESCOLA
•A barbárie é previsível quando se considera a escola não como um lugar de
estudo mas como um lugar de vida.
•A escola não deve abrir-se para a vida mas para o mundo; e para abrir-se
para o mundo permanente das obras legadas pela história e para o mundo
comum dos homens entregue pelo espaço público, a escola precisa continuar
como um lugar à parte.
•A escola deve fechar-se fora da vida biológica (não é família), da vida social
(não é cidade). Deve separar-se rigorosamente delas numa fronteira própria
(limes) que é a medida de sua reflexão para permitir a aquisição de
conhecimentos que fazem da pessoa um ser humano verdadeiro.
•Deve ser o lugar por excelência da crítica social que permite que o
pensamento do aluno se distancie das necessidades vitais e dos processos
históricos para poder analisá-los, entender e julgar.
EDUCAÇÃO E PROCESSOS
•O postulado de equivalência entre a educação e a vida, a vida e os
processos faz com que a educação seja concebida como um processo vital
indefinido, formado de procedimentos de ensino voltados para eles mesmos,
sem referência e fonte externas.
•A finalidade pedagógica é substituída pela função de ensino. Esta função
de ensino acaba sendo reduzida a procedimentos didáticos e mecânicos.
•O saber não está mais situado em conteúdos substanciais que devem ser
ensinados mas em métodos formais fechados em si.
•O círculo pedagógico que define os procedimentos pelos objetivos a ser
atingidos e os objetivos pelos procedimentos a ser utilizados leva a um sujeito
em processo privado de horizonte de significado.
•Não estamos mais no mundo do pensamento nem do conhecimento, mas
num laboratório experimental de condutas que se expressam unicamente em
termos de funcionamento e se referem a uma função pedagógica.
•O comportamento humano será avaliado por um funcionamento correto
ou incorreto, sem necessidade de buscar um sentido porque a função
substitui a finalidade, quer dizer o significado de nossos atos.
•O antigo mestre ou magister (que tinha autoridade porque sabia magis
mais).
•O postulado da autonomia do sujeito transfere o ponto de Arquimedes do
ensino, que se encontra fora do mestre e do aluno, na realidade do
conhecimento, para o aluno.
CULTURA: PRIMEIRO SIGNIFICADO
•O campo cultural cobre a totalidade do campo social.
•A cultura confunde-se com o modo de existência da sociedade, ou a cultura
é o espelho que a representação social dá a si própria.
•Cícero faz a transposição da palavra cultura do que tem a ver com o trabalho
dos campos (labor que tem a ver com pena) para o que se refere ao otium
(lazer), quando o pensamento se afasta de toda dependência em relação às
necessidades da vida.
•Cícero usa a expressão: excolere animos doctrina (cultivar os espíritos pela
instrução). O homem culto é o que sabe cuidar da própria alma, como se
prestasse para ela um culto, de modo que habita o mundo como um ser
humano e não como um animal.
•A cultura é na origem o culto da alma e não está ligado à produção de
objetos nem à criação de obras de arte. Trata-se de cuidar da própria alma
como o camponês cuida do próprio campo.
•A cultura está articulada com a natureza, o espírito com a terra e o homem
com o mundo num trabalho íntimo no qual a alma abre em si mesma o
próprio sulco até colher os frutos.
•Segundo Cícero: Cultura animi philosophia est: é a filosofia que é a cultura
da alma.
CULTURA: AMPLIAÇÃO DO SIGNIFICADO
•No século das Luzes (XVIII), a palavra “cultura” designa não só o cuidado do
espírito que purifica seu campo de estudo por um método apropriado
(Descartes), mas também o conjunto dos conhecimentos humanos.
•A cultura designa tanto o saber dominado num sistema quanto o trabalho de
educação do espírito que elabora este sistema na emergência da civilização.
É esta cultura herdada dos princípios humanistas da Antiguidade que a
Europa tentará impor ao mundo inteiro.
•Nietzsche colocou em evidência dois aspectos aparentemente opostos,
porém convergentes da cultura do nosso tempo:
–Seu espalhamento indefinido que a difunde para um círculo de pessoas
cada vez mais amplo
–Seu enfraquecimento generalizado que a foca sobre objetos cada vez
mais diversificados, de tal modo que abandona aos poucos sua pretensão à
elevação do homem e à sua excelência.
•A antiga cultura da alma que definia os traços essenciais do ser humano foi
esvaziada para reduzir-se à cultura formal desse ser novo: o homem
massificado.
BARBÁRIE DA POLÍTICA
•Pela primeira vez na história da humanidade, a barbárie de massa,
disfarçada de razão social ou racial, produziu sistematicamente crimes de
massa.
•A morte atingiu não só indivíduos, famílias ou comunidades: atingiu blocos
de humanidade.
•São crimes de massa, a inércia da alma, que proibia criminosos e vítimas,
num mesmo material humano, de opor-se a este movimento deliberado de
destruição.
•O principio de inércia da morte não parecia mais poder modificar seu estado
na ausência de uma força externa de vida que colocaria um fim aos
massacres.
•Como a luz da razão, comparada por Heráclito a um fogo, pode reduzir, em
nome da humanidade, homens a cinza?
HUMANIDADE CONCRETA FEITA DE INDIVÍDUOS ABSTRATOS
•A neutralização progressiva da pessoa (substância individualizada de
natureza racional) em um sujeito formal (cuja formula identificável eu=eu é
auto-referencial) conduziu a modernidade a explorar uma humanidade
concreta paradoxalmente composta de indivíduos abstratos.
•É o olhar processador do sujeito abstrato (Poe) que transforma as pessoas
reais, consideradas nas suas relações coletivas e por massas, em sujeitos
abstratos impossíveis de ser distinguidos uns dos outros.
•A massificação do olhar produz a massificação do comportamento e a
massificação do pensamento.
•O sujeito recorta a realidade social em blocos estáticos, logo friáveis, em
seguida dissolvidos pelo movimento da história: os seres, um momento
agregados, existem só pelos seus encontros indistintos e efêmeros.
•A morte de massa, oriunda pelo pensamento calculista e seu entendimento
estéril, aplica-se naturalmente a homens de massa, unidades indiferenciadas
oriundas de um reservatório inesgotável de unidades semelhantes.
AUTONOMIA ABSOLUTA DO HOMEM
•O humanismo racionalista, oriundo da concepção cristã do mundo, cortando
suas raízes espirituais, quis realizar a autonomia absoluta do homem em
relação a todas as forças colocadas acima dele.
•Esteantropocentrismo proclama a idéia do homem como centro de tudo o
que existe, e a coloca num molde social.
•Exonera o homem de sua responsabilidade em relação a um princípio que o
funda porque ele mesmo é seu próprio princípio.
•A liberdade humana torna-se incondicional porque ninguém precisa
responder pelos próprios atos ante uma instância externa.
•Cada um responde para seu próprio tribunal sendo ao mesmo tempo juiz,
testemunha e acusado.
•Quando o humanismo perdeu a própria alma e se carregou de materialismo,
não esteve mais em condição de estabelecer defesas contra a pressão das
necessidades que ocultaram outras dimensões da pessoa, principalmente
sua exigência por justiça.
•A filosofia do sujeito é a filosofia dos bárbaros porque impõe sua vontade ao
mundo e, quando o mundo resiste, sua destruição ou ainda, já que o sujeito
substitui o mundo, sua autodestruição.
•Para evitar isso, é preciso cessar de representar o homem como sujeito e
reinstaurá-lo como pessoa.
•Apersona latina representa uma alma aberta que ressoa na sua interioridade
de um som que vem de fora e a vincula ao mundo inteiro.
SISTEMA TOTALITÁRIO (Raymond Aron)
Raymond Aron definia o sistema totalitário a partir de cinco critérios que o
distinguia dos regimes despóticos tradicionais:
•A confiscação do poder por um partido único
•O dogmatismo de uma ideologia que se torna o discurso oficial do Estado
•O monopólio de Estado de todos os meios de persuasão e de coerção
•O monopólio de Estado das atividades econômicas e comerciais
•O erro político, econômico ou social que é considerado como culpa
ideológica.