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O documento discute a estrutura e função dos mitos em sociedades tradicionais. Apresenta exemplos de crenças em cultos de carga na Oceania e explica como esses mitos justificam práticas religiosas e crenças similares às do cristianismo. Também discute a definição de mito e como ele revela padrões de comportamento humano e origem das coisas na natureza.
O documento discute a estrutura e função dos mitos em sociedades tradicionais. Apresenta exemplos de crenças em cultos de carga na Oceania e explica como esses mitos justificam práticas religiosas e crenças similares às do cristianismo. Também discute a definição de mito e como ele revela padrões de comportamento humano e origem das coisas na natureza.
O documento discute a estrutura e função dos mitos em sociedades tradicionais. Apresenta exemplos de crenças em cultos de carga na Oceania e explica como esses mitos justificam práticas religiosas e crenças similares às do cristianismo. Também discute a definição de mito e como ele revela padrões de comportamento humano e origem das coisas na natureza.
Os eruditos ocidentais h meio sculo passaram a estudar o mito por uma perspectiva diferente. - Contraste com a perspectiva de mito como fbula, fico, histria ilusria, semntica que mais atribuda ao uso da palavra em nossa lngua. Assim como as sociedades arcaicas compreendiam, nesta perspectiva que ressurge, o mito designa uma histria verdadeira, exemplar e significativa. O objeto do nosso estudo so as sociedades onde o mito vivo, isto , ainda fornece modelos para a conduta de tal indivduo e/ou sociedade, estando assim, ligado a uma significao e valor existencial para os que convivem nela. a) Cargo cults - O cargo cult um tipo de prtica religiosa que aparece em sociedades tribais tradicionais. Os cultos centram na ostentao da riqueza material pertencente aos brancos, que os nativos acreditam ser destinada a eles atravs de seus deuses. Mas o que essa prtica tem a ver com nosso objeto de estudo? As atividades e crenas dessa prtica esto diretamente ligadas justificao pelos mitos. Entenda bem: Na crena dos praticantes do cargo cult na Oceania, os indgenas voltaro a ser os senhores de suas ilhas e no mais precisaro trabalhar. Os mortos retornaro em grandes navios carregados de valiosas mercadorias, assim como as cargas que os brancos recebem. Com a aproximao do homem branco ao territrio nativo, os ndios ao observarem e no reconhecerem os meios de transporte pelos quais o homem branco recebia suas cargas (navios, avies), tomaram por atribuir a essas formas a imagem de entidades espirituais divinas, sagradas. Uma nova era paradisaca ento se iniciar e os membros do culto se tornaro imortais. Em primeira instncia, essas crenas nos parecem um tanto quanto absurdas e fantasiosas, no mesmo? Mas na verdade, se esmiuarmos essas crenas, ns podemos constatar que os mitos pelos quais esses atos e crenas so justificados so semelhantes ou at os mesmos que justificam crenas vistas como normais em nossa sociedade, predominantemente crist. Por exemplo: um dos movimentos profetiza a chegada de Cristo a bordo de um navio cargueiro.
A crena em uma era paradisaca e na imortalidade do indivduo
pode facilmente ser identificada na crena crist, onde Jesus Cristo voltar e levar os que o seguem ao paraso, onde alcanaro a vida eterna. A partir dessa anlise podemos constatar as crenas desta prtica religiosa so justificadas pelo mito da Destruio do Mundo, seguido de uma Nova Criao e da Instaurao da Idade de Ouro. Os estudos apontam que fenmenos como tais tendem a se tornar cada vez mais raros, estranhas, incomuns. Como por exemplo, sob qual base os praticantes dessas condutas justificam as suas crenas e seus atos? Ao compreendermos, estamos reconhecendo estas como fenmenos humanos, de cultura, e no como meros fatos bestas sem sentido. Deixamos de ver estas como aberrao quando a encaramos por uma perspectiva histrico-religiosa. - O INTERESSE DAS MITOLOGIAS PRIMITIVAS Todas as grandes religies mediterrneas e asiticas tm sua mitologia, mas NO prefervel considerar como o ponto de partida do estudo do mito, a mitologia grega, egpcia ou indiana. Por que no? A maioria dos mitos gregos foi recontada, e como consequncia, modificada e sistematizada. O mesmo aconteceu com as tradies mitolgicas do Oriente Prxima e da ndia: foram diversas vezes reinterpretadas e elaboradas por seus respectivos telogos. Ou seja, estas NO consideram um estgio inicial do nosso estudo, sendo necessrio ir um pouco alm no tempo. Vale ressaltar, porm, que isso no significa que as Grandes Mitologias tenham perdido seu valor de mito e no passem de literatura, nem que as tradies mitolgicas das sociedades arcaicas tambm no tenham sido remanipuladas por sacerdotes. Mas ento por que devemos considerar as sociedades arcaicas e tradicionais como o nosso ponto de partida, se elas tambm foram remanipuladas? Apesar das modificaes sofridas no decorrer dos sculos, os mitos dos primitivos ainda refletem um estado primordial. So sociedades onde os mitos ainda esto vivos, ou seja, fundamentam e justificam o comportamento e a vida do homem. - TENTATIVA DE DEFINIO DO MITO Antes de tentarmos defini-lo, devemos considerar que o mito uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser reinterpretada atravs de perspectivas mltiplas e
complementares. Seria difcil encontrar uma definio que
contemplasse os eruditos e os no-especialistas. Para o autor do texto, a definio mais ampla : (...) o mito conta uma histria sagrada, relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do princpio. Em outros termos, o mito narra como, graas a Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade como um todo (o universo por exemplo), ou fragmentos dele. A principal funo do mito consiste em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas, como o casamento, trabalho, educao, arte, sabedoria, etc. HISTRIAS VERDADEIRAS X HISTRIAS FALSAS Nas sociedades onde o mito ainda permanece vivo, os indgenas distinguem as histrias verdadeiras dos contos, chamados de histrias falsas. Por exemplo, os Pawnee incluem, primeiramente, aquelas que tratam das origens do mundo. Seus protagonistas sempre so entes divinos e/ou sobrenaturais. As histrias verdadeiras, os mitos, esto relacionados ao sagrado e o sobrenatural enquanto os contos tm um contedo profano. Da importncia de conhecer o mito. Por exemplo, conhecer a origem de um objeto equivale a adquirir sobre ele um poder de dominao, manipulao, reproduo, etc. Para se estudar um objeto, necessrio conhecer todo o seu processo. Assim acontece com o mito. Ele nos permite que compreendamos diversas condutas do ser humano, eventos relacionados nossa origem e at mesmo tcnicas de manipulao de instrumentos. ESTRUTURA E FUNO DOS MITOS Sabe-se: 1) O mito constitui a Histria dos atos dos Entes Sobrenaturais 2) Que essa Histria considerada verdadeira (pelo fato de se referir a realidades) e sagrada (pois obra dos Entes Sobrenaturais) 3) Que o mito se refere sempre a uma criao, contando como algo veio existncia, ou como um padro de comportamento, uma instituio, uma maneira de trabalhar, foram estabelecidos 4) Que ao conhecer o mito, conhece-se a origem das coisas, chegando a domin-las e manipul-las vontade. 5) Que de uma maneira ou de outra, vive-se o mito, no sentido de que se impregnado pelo poder sagrado e exaltante dos eventos rememorados ou reatualizados. Viver o mito est relacionado a uma experincia religiosa, pelo fato dela se distinguir da esfera da vida cotidiana. O indivduo deixa de existir
no mundo de todos os dias e penetra num mundo transfigurado,
impregnado da presena dos Entes Sobrenaturais. O homem evoca a presena dos personagens dos mitos e torna-se contemporneo deles. Ele ento deixa de viver no tempo cronolgico e passa a viver no Tempo primordial, um tempo remoto no passado onde o evento narrado pelo mito teve lugar pela primeira vez. O nascimento da filosofia no significou o fim do pensamento mtico. Os mitos persistiram at aos nossos dias. Podemos descobri-los, por detrs das primeiras filosofias, mas tambm em muitas das ideias atualmente desenvolvidas na cincia. Uma daquelas ideias onde factos anda frequentemente enredados em mitos a teoria da evoluo. No fcil, seno mesmo impossvel, determinar a histria do nosso Universo, a origem das primeiras formas de vida e a sua evoluo at s espcies no seu estado atual. A teoria da evoluo acaba, muitas vezes, por ser tratada como um mito, isto , como uma histria que narra as origens do Cosmos, e o modo como surgiu o mundo vivo e o lugar que nele ocupa o homem. Estes mitos, como os antigos mitos cosmognicos, no deixam de ter um enorme fascnio sobre os homens, dado que lhes permitem responder suas eternas interrogaes: De onde viemos? Para onde vamos ? Que nos lcito fazer? Que o Homem?