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2.

DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E
SUBDESENVOLVIMENTO
(Síntese Conceitual
e Manifestações Espaciais)

Como foi dito no capítulo anterior, a tensão entre povos


dependentes e países exploradores, entre
subdesenvolvimento e desenvolvimento capitalista, é a
mais peremptória (decisivo, terminante) e a que mais
sacode todas as nações do mundo (a real "contradição
antagônica" de nosso tempo) sendo necessário
posicionarmo-nos corretamente diante desse tema.1
Muito se escreveu na década de 70 sobre a teoria da
dependência; é especialmente sugestiva a contribuição dos
economistas e sociólogos latino-americanos. Em suas obras,
que irão surgindo, paulatinamente, nas bibliografias, no
final de cada capítulo, colhi dados aos quais me referirei
de ora em diante.
Embora saiba não estar trazendo nenhuma nova
contribuição teórica, acredito ser necessário incluir, aqui,
uma síntese das idéias que devem ser levadas em conta
para se poder encarar o assunto sob o prisma terceiro-
mundista. Reordeno-as e as transmito em linguagem mais
simples, a fim de adequá-las à finalidade estritamente
pedagógica deste livro.

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1. Luis Fernando Chaves, eminente geógrafo venezuelano, recentemente falecido,
fez o seguinte comentário sobre essa idéia: "A questão mais importante, a nosso
ver, é a desigualdade existente entre a classe burguesa (encabeçada por um
punhado de empresas multimilionárias, as transnacionais) e as classes exploradas.
Isto é, uma contradição de classe se dilui em uma contradição entre povos; com
isso, omite-se o papel desempenhado pelas burguesias intermediárias ou
'consulares' dentro do esquema de dominação global, resultante da
internacionalização da forma de produção capitalista"

AS ORIGENS

O capitalismo teve início com a introdução do capital


como intermediário histórico entre os proprietários de
terras ou de qualquer outra espécie de propriedade e o
trabalho. Os meios de produção deixaram, então, de
possuir valor de uso, convertendo-se em valor de troca.
O processo paralelo de conversão dos indivíduos em
trabalhadores assalariados emancipados, não implicou o
desaparecimento das antigas condições de propriedade,
nem o de velhas fontes de receitas; modificou apenas seu
emprego. Por isso, diz-se que a exploração capitalista do
tipo colonial resultou da soma da escravidão, feudalismo e
capitalismo, mesmo que nenhum desses três conceitos
corresponda estruturalmente ao das realidades históricas
de onde se originaram.
A atuação do capitalismo sobre as sociedades
tradicionais da América Latina, Ásia e África, a partir do
século XVI, afetou suas economias orientando as culturas
de subsistência para a comercialização e exportação.
Afetou, também, as economias artesanais que vieram a
sofrer a concorrência dos produtos manufaturados importa-
dos das metrópoles. Criou-se, dessa forma, um enorme
contingente de força de trabalho disponível empobrecida e
esse é um elemento-chave para poder entender as futuras
relações entre o centro e a periferia.
A empresa capitalista estrangeira fortaleceu a
instalação do capitalismo mercantil e postergou ou impediu
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sua transformação em capitalismo industrial. A coalizão
político-social resultante foi um reflexo fiel desse fato: deu-
se entre comerciantes ricos, grandes latifundiários e
agentes do intercâmbio importador-exportador.
A expansão foi tão grande que afetou até mesmo as
zonas mais distantes e isoladas do mundo extra-europeu. É
imprescindível levar isso em conta, pois só assim se pode
conceber que as formações sociais existentes, atualmente,
em todo o Terceiro Mundo, sejam o resultado do
desenvolvimento histórico do sistema capitalista.
Além do mais, o sistema capitalista constitui uma unidade,
isto é, um todo que precede as partes; é um sistema social
com sua forma de produção e suas classes sociais
decorrentes; é anterior a suas expressões parciais (preços,
receita, etc.)

É um todo desigual, porém unitário, mesmo com suas


diversidades e desigualdades, com uma forma de produção
estritamente capitalista, no centro, e formações sociais
matizadas (variadas) na periferia.
O ponto-chave de qualquer enfoque teórico (ou teórico-
prático) é explicar e compreender o significado do alcance
da dominação do modo capitalista sobre os outros e como
essa dominação constitui a base da unidade.
Somente se partirmos dessa situação de dominação,
poderemos superar a idéia de desenvolvimento implícita
na sociedade capitalista (e que se poderia assimilar à
idéia do "progresso" do liberalismo); ou seja, a melhoria
acumulativa natural e inevitável que somente uma
catástrofe pode impedir; um perpétuo ir além, que se
orientaria para uma maior riqueza e uma maior igualdade e
que na época atual corresponderia à linha sempre
ascendente do desenvolvimento científico e tecnológico.
Em oposição a essa idéia é que se deve inserir a grande
contribuição de Karl Marx: a descrição objetiva e sua
interpretação científica da relação humana que consiste na
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exploração do homem pelo homem. Ao mesmo tempo, a
necessidade de analisar profundamente as conseqüências
dessas relações, em vez de se conformar em medir os re-
sultados da exploração, isto é, as diferenças entre países e
entre povos.
As economias e sociedades capitalistas e as economias
e sociedades subdesenvolvidas mantêm, entre si, uma
estrutura definida de relações de dominação! dependência, e não
uma simples diferenciação de etapas ou estágios no
sistema produtivo.
Não é fácil captar essa unidade totalizadora
dominação/dependência, pois o processo de transformação
das ligações entre a forma capitalista e os outros modos de
produção é muito recente. Diz-se a respeito que, ainda na
década de 30, os produtores da periferia eram, talvez, na
maioria, pequenos produtores e comerciantes. Por esse mo-
tivo, interessa-nos incluir aqui algumas poucas referências
históricas.

AS ETAPAS

A evolução do sistema capitalista pode ser dividida em


períodos e momentos. Para efeito dessa síntese interessam-
nos, sobretudo, dois.

O primeiro, foi a etapa da Revolução Industrial


ocorrida na Inglaterra e outros países da Europa
ocidental no final do século XVIII (de 1750 em diante).
A partir dessa etapa, fica determinada a divisão
internacional entre países industrializados e países
de economia agrária e tem início a exportação de
capitais dos primeiros para os segundos.
A segunda etapa é a imperialista, de exportação
maciça de capitais, motivada pela procura de maiores
taxas de lucros.
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Há um dado importante a considerar: os
excedentes do capitalismo podiam continuar sendo
utilizados no próprio centro, porém os salários baixos
estão fora dele. O resultado direto da emigração in-
ternacional do capital monopolista (isto é, do
imperialismo) é o intercâmbio desigual. Entretanto,
graças a essa exportação de capitais foi possível
instalar, fora dos grandes centros, uma produção
moderna beneficiada com baixos salários. Foi nessa
etapa imperialista, já em fins do século XIX, que se
originou a situação de subdesenvolvimento. A partir
de então – e isso tem conseqüências transcenden-
tais, ainda hoje – a contradição fundamental do modo
de produção capitalista (sua tendência de
crescimento mais rápido da capacidade de produzir
do que da capacidade de consumir), transfere-se do
centro para a periferia; das formações nacionais
centrais, a todo o sistema mundial.
O subperíodo imperialista passa por duas fases:
a clássica –que vai de 1880 a 1930 – e a recente. Na
recente, acontecem coisas decisivas que definem a
situação do Terceiro Mundo e entre elas destacam-se
as seguintes:
a) Tendência de aumentar a diferença entre salários
pagos na periferia e no centro.
h) Elevação mais acentuada do lucro na periferia que
no centro. Por exemplo, de 15 a 22% de rendimento bruto
dos investimentos na América Latina por parte das
transnacionais em vez dos 11 a 14% obtidos dentro dos
Estados Unidos.
e) Forte deterioração nos intercâmbios.
d) Passagem da periferia à condição de "velho
mutuário" porque o retomo dos lucros aos países centrais
é bem maior que a entrada de capitais "novos" nestes. (A
Europa ocidental e o sudeste asiático, por exemplo, foram
"mutuários jovens" durante a década de 60.)

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Uma das conseqüências do exposto é que as
burguesias "au-
tóctones" se desnacionalizam; devem tomar-se
reacionárias (ao explorar os trabalhadores que ainda
atuam dentro dos modos pré-capitalistas subsistentes
no interior), consumidores de mais-valia e de-
pendentes por necessidade, uma vez que só assim
conseguem continuar gerando excedentes.
Outra dás conseqüências é que os países
subdesenvolvidos não podem continuar sendo
caracterizados como simples exportadores de produtos
básicos, por duas razões. A primeira porque pelo
menos a metade da produção agrária de exportação
não se origina na agricultura tradicional, mas nas
explorações capitalistas modernas. A segunda, porque
mudou a natureza dos produtos de intercâmbio:
cresceu e se afirmou notoriamente a indústria
substitutiva das importações.
Muitos países subdesenvolvidos se
converteram inclusive em exportadores de
produtos manufaturados de consumo, destinados a
outros subdesenvolvidos, menos avançados ou a
países desenvolvidos.
O seguinte dado obriga a superar muitos
preconceitos e estereótipos: 75% das exportações da
periferia procedem de modernos setores com alta
produtividade. É preciso ajustar-nos a essa nova
realidade para não continuarmos reiterando os erros
de interpretação teórico-prática resultantes da
aplicação mecânica de conceitos sobre o imperialismo
do início deste século.

ACUMULAÇÃO EXTERNA E DEPENDÊNCIA


A expansão e controle dos mercados é condição
intrínseca ao desenvolvimento capitalista, pois ele é
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estimulado exclusivamente pela busca do lucro; isso
conduz as empresas a comprar matérias-primas
onde os preços são mais convenientes e a vender
seus produtos industrializados em qualquer lugar.
Porque, atualmente, a concorrência entre os
monopólios verifica-se na luta pela maior venda e não
mais no nível de preços.
Por outro lado, os monopólios se interessam pelos
produtos exportados pela periferia se a remuneração
da mão-de-obra nesta é menor que a praticada nos
centros. Se a chave para a sobrevivência do
sistema é proporcionar mão-de-obra barata ao setor
exportador, tem-se que assegurar, por todos os
meios (econômicos e extra-econômicos, lícitos ou
ilícitos), o domínio exercido pelas burguesias inter-
mediárias: latifundiários, grandes comerciantes e
burocratas cúmplices dentro do Estado.
É importante deixar claro para os terceiro-
mundistas, portanto, que enquanto em uma economia
autocentrada existe uma relação orgânica entre a
burguesia e o proletariado (ambos estão integrados
em uma mesma realidade que é a nação), em uma
economia periférica não se verifica essa unidade dos
opostos dentro do quadro nacional, mas sim fora dele,
em nível mundial.
A política da burguesia local deve ser a de
esboçar uma estrutura subalterna, cujo modelo
coincida com seus próprios interesses. E interessa-lhe
defender essa situação a qualquer preço porque, so-
mente graças a ela alcança níveis de consumo
elevados. Eles são superiores aos que o tipo de
sociedade, nas quais se registram, poderiam
aspirar. A burguesia de nossos países desfruta de
níveis de consumo mais suntuosos e mais supérfluos
que o de idêntica burguesia de países desenvolvidos.
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Hoje se poderia, em tese, falar de uma nova
modalidade de subdivisão de funções ou tarefas
produtivas em escala mundial: a apropriação e gestão
diretas ficam por conta das burguesias locais,
enquanto o capitalismo dos países do centro
"especializa-se" no controle da tecnologia e com isso
domina todo o processo de industrialização, sem
precisar instalar novas indústrias. Ficamos, pois,
sujeitos a um processo de "desenvolvimento do
subdesenvolvimento". A causa principal reside no
intercâmbio internacional desigual ao qual me
referirei no próximo subtítulo. A isso se soma, hoje, a
dependência financeira submetida ao jogo de
interesses da dívida externa.
O INTERCÂMBIO DESIGUAL

O intercâmbio internacional define-se como a


troca de bens entre formações sociais diferentes. Ele
é desigual quando a diferença entre as remunerações
do trabalho é superior à que caracteriza as produtivas.

No intercâmbio entre o centro e a periferia as


remunerações são menores na periferia que as
produtividades. Um camponês africano precisa trabalhar
cem (100) dias para adquirir os mesmos produtos
manufaturados que um operário europeu consegue com
vinte (20) jornadas de trabalho; e essa desproporção
cresce a cada ano.
No início da década de 80, as exportações da
periferia alcançavam, aproximadamente, 35 bilhões de
dólares; se nela a remuneração do trabalho fosse igual à
do centro, o valor real subiria, automaticamente, para 56
bilhões de dólares. Só nisso, pois, as transferências
ocultas de valor da periferia para o centro — devido ao
intercâmbio desigual — somam 22 bilhões de dólares em
um ano. Essa cifra é duas vezes maior que o montante do

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subsídio público somado
aos capitais privados recebidos por todos os países
subdesenvolvidos nesse mesmo ano.
Assim, a pauta primordial para manter e aperfeiçoar os
mecanismos de dominação do centro sobre a periferia
baseou-se na forma como o capitalismo organizou a
proletarização da periferia. Dito de outra forma, o que
importa é verificar como age o capitalismo para nos impor
especializações que geram excedentes de mão-de-obra;
uma superabundância que é cumulativa, principalmente no
setor moderno.
Em 1974, Samir Amin antecipava:

A massa da força de trabalho mais numerosa e mais duramente


explorada tende a deslocar-se para a periferia do sistema capitalista
mundial; mediante uma projeção mecânica, simples, sem dúvida,
porém significativa, poderia-se demonstrar que, em algumas
décadas, a principal proporção de mais-valia que o capital extrai do
trabalho se originará na periferia do sistema capitalista.

E completava:

Simultaneamente, torna-se mais ostensiva a contradição do


sistema: em números absolutos, há mais desempregados e su-
bempregados no Terceiro Mundo que no Ocidente. Chegou-se ao
absurdo de com a atual divisão do trabalho, o capital não conseguir
explorar o potencial de força de trabalho que acompanhou seu
próprio desenvolvimento.

Os países do Terceiro Mundo precisam, ainda hoje,


valorizar suas matérias-primas. Entre razões, pelas
seguintes:

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1. Um preço mais alto permitirá a entrada de mais
divisas.
2. A possibilidade de extrair mais-valia transformando-a
no lugar de origem mediante um processo de
industrialização com força de trabalho própria.
3. Necessidade de defender os recursos naturais para
evitar a perda de um capital irrecuperável – no caso de
recursos não renováveis – ou assegurar sua recuperação a
médio prazo – no caso dos re-
nováveis.
Somente quando essas razões estiverem bem claras é
que se tornará imperioso definir uma política de
conservação dos recursos naturais. E esta não pode
separar o problema da conservação das forças
produtivas daquele da apropriação das mesmas.

SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS

Do que foi exposto, tira-se a seguinte conclusão, que


deve ser empregada como meta de trabalho: a
conformação de fatores que ca- racteriza o
subdesenvolvimento não é estática, mas evolutiva.
Quais são, atualmente, as características estruturais do
sistema
capitalista mundial do qual dependemos? A primeira e
mais importante é: a crescente desproporção das
economias em interação. A relação entre mundo
desenvolvido e mundo subdesenvolvido quanto à renda per
capita era de 4:1 há trinta anos, de 6:1 há dez anos e logo
chegará a 10:1.
Sem dúvida, os fatores que determinam nosso
subdesenvolvimento variaram fundamentalmente
nesse período. Os especialistas assinalaram três
mudanças estruturais de destaque no sistema
capitalista.
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1. A constituição de empresas internacionais gigantescas
(transnacionais) que operam em escala mundial. Três
empresas controlam 75% do comércio mundial de
bananas; 6 empresas, 70% do comércio de cacau; 6
empresas, 85% do fumo em folha e de cada 5 patentes
utilizadas no Terceiro Mundo, 4 são de propriedade de
transnacionais.
2 A concentração da tecnologia de mais alto nível
nas empresas estrangeiras.

3 A afirmação de uma revolução tecnológica que


hierarquiza certas indústrias como a nuclear, a eletrônica e
a espacial e que converte, assim, em fator primordial o
recurso "matéria-prima" e o trabalho altamente qualificado.
Tudo isso conduz – é sempre bom reiterar – à
desvalorização da importância das inversões em capital
físico para a apropriação do excedente. Os modelos
clássicos de acumulação estão ultrapassados.
A dinâmica indiscutível desse processo neo-
imperialista confirma a unidade totalizadora do sistema
capitalista em escala mundial, porém não contribui para a
homogeneização entre o centro e a periferia. Ao contrário,
colabora para que haja uma separação crescente e cria
novos antagonismos entre formações nacionais centrais
(Europa ocidental e Japão contra os Estados Unidos).
Nos projetos de planificação traçados, divulgados ou
impostos a partir do centro americano, surge uma nova
modalidade de especialização para o Terceiro Mundo: a
produção industrial "clássica" – incluindo a de certos
bens de produção – ficaria para nós, enquanto a de
automatização, a eletrônica, a indústria de energia atô-
mica e a espacial, seriam deles. Urna espécie de
desenvolvimento desigual, estilo século XXI.
As desigualdades na remuneração do trabalho se
tornariam, então, sempre maiores e repercutiriam em
desigualdades crescentes –tanto em salários, como em

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produção – no interior das próprias economias periféricas.
As conseqüências políticas e ideológicas vão, então,
sendo firmemente definidas. Entre elas, o confronto
irreversível entre os partidários do status quo e os postulantes
da mudança social. Os que defendem a primeira posição
são os Estados Unidos e os regimes de direita neofascistas.
A segunda posição é defendida pelas nações socialistas,
vários nacionalismos surgidos na periferia e que deram
saltos gigantescos no período entre 1945-1985 e, ainda,
alguns governos social-democratas (Suécia, Espanha e
Venezuela), com orientação reformista e modernizadora.
Estruturalmente, as opções parecem ser apenas duas:
o reformismo ou as transformações parciais capazes de
promover a renovação das alianças com o imperialismo
através das burguesias periféricas modernizadas; ou a
ruptura dos laços de dependência com o sistema
capitalista no plano internacional, como condição
inexorável para eliminar a forma de produção capitalista
dependente no plano

interior. Primeiro passo para assumir a independência


econômica plena e superar, assim, nossa condição de
subdesenvolvimento.

MANIFESTAÇÕES ESPACIAIS DA SITUAÇÃO DE


SUBDESENVOLVIMENTO

As características estruturais do sistema capitalista


mundial, bem como os fatores que determinam nosso
subdesenvolvimento, anteriormente citados, apresentam-se
espacialmente de maneira peculiar para cada situação
concreta de dependência. Porque como afirmaram F. H.
Cardoso e E. Falleto (1974): "Não existe uma relação
40
metafísica de dependência de uma nação a outra, de um
Estado a outro. Elas são criadas por uma rede de
interesses e coações que ligam uns grupos sociais a
outros, umas classes a outras". E aduz Norbert Lechner
ao comentar a afirmação anterior: "A dificuldade que
ocasiona a situação de dependência é a desarmonia
entre o espaço econômico e o espaço político".
Apesar dessas advertências, isto é, apesar de que
cada subespaço de país dependente seja um caso
concreto e específico, diferente para determinada
situação de subdesenvolvimento, não resisto à tentação de
apresentar alguns traços comuns ou repetidos. Agrupo
esses "cartões de identidade" da seguinte maneira, em
listagem meramente enunciativa:

1. Decorrências da Situação Econômica e Financeira

a) Por ser o Terceiro Mundo produtor tradicional de


matérias-primas, há subsistência de paisagem de enclave,
tanto na mineração como na agropecuária. Incluo, aqui,
desde as bananeiras centro-americanas da United Fruit até as
modernas plantações de soja no sul do Brasil.
Por ser a atividade comercial mais importante que a
industrial, ocorre um peso desproporcional das cidades
portuárias, uma distribuição desigual da população (no
interior e no litoral), e uma tendência para que nossos
países continuem se organizando territorialmente como
"repúblicas de mercadores"

e) Pela distorcida inversão de capitais nos países do


Terceiro Mundo e a destinação inadequada de
excedentes para as atividades não produtivas, perduram,
ainda, de maneira ostensiva, as paisagens tranqüilas e os

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espaços neutros.
d) Por serem nossas economias controladas ou
penetradas por empresas transnacionais, há depredação e
subutilização de nossos recursos naturais.
e) Por ser acumulativa e persistente a dependência,
existem regiões fictícias dentro de cada país ou integração
nacional a serviço dessa dependência.
d) Por não existir integração entre empresas privadas e
Estado, é pouco provável que se logre constituir um
verdadeiro espaço-nação. O Estado assume os principais
gastos não-produtivos (basicamente estradas e serviços
públicos) para que as empresas possam expandir seus
raios de ação.

Decorrências da Situação Social e Cultural

a) Devido à desigualdade de oportunidades de acesso


a níveis de vida mais adequados há espaços de consumo
diferenciados tanto na região urbana, como na região
rural. Inclui-se aqui o grande tema da marginalização e
sua localização no espaço, ou melhor, do "circuito inferior"
nesse espaço dividido tão bem analisado por Milton
Santos.
b) Em decorrência do crescimento demográfico
peculiar, na maioria dos países do Terceiro Mundo há
espaços demograficamente jovens. Esta situação é
problemática em momentos de ociosidade estrutural mas
se torna singularmente propícia a uma alternativa de
mudança.
a) Em vista da insuficiente remuneração do trabalho
nos países subdesenvolvidos, da defasagem entre a
capacidade de força de trabalho e sua utilização e da falta
de empregos, ocorre uma crescente depredação de nossos
recursos humanos.
Pela expansão contínua e multifacetada do American
42
way of life as sociedades dependentes tendem a satisfazer
necessidades muitas vezes supérfluas.

3. Decorrências da Situação Política e 'ideológica

a) Por estar o sistema capitalista unificado em escala


mundial existem espaços subalternos aos Estados Unidos
tanto nos países subdesenvolvidos como nos países
desenvolvidos, isto é, outras potências capitalistas. Há,
também, espaços subalternos em espaços capitalistas em
expansão, como é o caso do Japão; em pequena escala,
na cidade de fronteira San Antonio de Táchira, na
Venezuela, o centro comercial é um microespaço
subalterno das transnacionais japonesas fabricantes de
produtos eletrônicos.
b) Pela redução territorial da dominação colonialista e
neocolonialista assiste-se à afirmação paulatina de um
espaço-nação em países recentemente liberados. É
necessário aprimorar, com urgência, nossa informação
geográfica sobre a forma como está sendo organizado o
"novo" espaço em países como Cuba, Tanzânia, Argélia,
Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Nicarágua.
c) Pela intensificação das ações defensivas do Terceiro
Mundo ocorre a definição progressiva de um espaço
supranacional, institucionalizado através de medidas de
solidariedade econômica, política e inclusive militar, que
esboça o possível espaço mundial do século XXI.
Porventura o espaço petrolífero das nações da OPEP não é
um espaço terceiro-mundista inter-relacionado superando
as distâncias e diferenças geográficas estritas?
Esta é minha síntese sobre as manifestações
espaciais da situação de subdesenvolvimento e das
relações de dependência. Nos capítulos seguintes, irei
apresentá-las com maiores detalhes. A essas condições
estruturais somam-se circunstâncias conjunturais que in-
43
fluenciam o acontecimento geográfico e geopolítico da
presente década e que, portanto, condicionam a forma e o
conteúdo desses próximos capítulos.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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1974. BARAN, Paul e SWEEZY, Paul. El capital
monopolista. México, Siglo XXI, 1969.
CARDOSO, Fernando Henrique e FALLETO, Enzo.
Dependencia y desarrolo en América Latina. México, Siglo
XXI, 1974.
FRANK, André G. Economia política del subdesarrollo en
América Latina. Buenos Aires, Signos, 1970.
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Valparaíso, CEREN, Universidad Católica de Chile, 1972.
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1971. KRUMAH, Nkwame. Neocolonialismo, última etapa del
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LENIN, Vladimir Ilich. El imperialismo, última etapa del
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México, Grijalbo, 1969.
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44
México, Fondo de Cultura Económica, 1961.

WETTSTEIN, German. Subdesenvolvimento e


geografia. São Paulo: Contexto, 1992. (Caminhos da
Geografia) Capítulo 2, p. 29-41.

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