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O documento discute as visões de João Calvino sobre a lei. Calvino via a lei como uma revelação contínua de Deus no Antigo e Novo Testamentos, que tinha três usos: (1) mostrar o pecado humano, (2) refrear os ímpios, e (3) revelar a vontade de Deus aos crentes. Isso permitiu que o calvinismo desenvolvesse programas éticos detalhados baseados na lei moral.
O documento discute as visões de João Calvino sobre a lei. Calvino via a lei como uma revelação contínua de Deus no Antigo e Novo Testamentos, que tinha três usos: (1) mostrar o pecado humano, (2) refrear os ímpios, e (3) revelar a vontade de Deus aos crentes. Isso permitiu que o calvinismo desenvolvesse programas éticos detalhados baseados na lei moral.
O documento discute as visões de João Calvino sobre a lei. Calvino via a lei como uma revelação contínua de Deus no Antigo e Novo Testamentos, que tinha três usos: (1) mostrar o pecado humano, (2) refrear os ímpios, e (3) revelar a vontade de Deus aos crentes. Isso permitiu que o calvinismo desenvolvesse programas éticos detalhados baseados na lei moral.
Joo Calvino (1509-1564), era um humanista, e no um sacerdote. Ele
no teve nenhuma crise espiritual profunda ou experincia dramtica de converso. Na realidade, a nica coisa que ele disse certa vez sobre a sua experincia que ela havia sido uma converso repentina. Por outro lado, durante trs anos ele estudou Direito em Orlans e Bourges (1528-31). Mas, certamente, a razo principal do seu interesse pela lei foi a sua profunda conscincia da realidade da soberania de Deus, e da sua santa vontade.
Calvino e a Lei
Quando Calvino fala em lei, ele geralmente d a esse termo um
sentido diferente daquele dado por Lutero. Para ele, a lei no significa o correlativo do evangelho, mas a revelao de Deus ao antigo Israel, tanto nos livros de Moiss como em todo o Antigo Testamento. Assim, a relao existente entre lei e evangelho, antes que dialtica, torna-se praticamente contnua. Existem diferenas entre os dois testamentos, mas o seu contedo essencialmente o mesmo: Jesus Cristo. Isso de importncia fundamental, pois o conhecimento da vontade de Deus seria intil sem a graa de Cristo. A lei cerimonial tinha em Cristo o seu contedo e fim, pois sem ele todas as cerimnias so vazias. A nica razo pela qual os sacrifcios dos sacerdotes antigos eram aceitveis a Deus era a prometida redeno em Jesus Cristo. Em si mesmos, dada a nossa corrupo, quaisquer sacrifcios que pudssemos oferecer a Deus seriam inaceitveis. Mas na lei moral que se pode ver mais claramente a continuidade que existe entre o antigo e o novo. De fato, a lei moral tem um trplice propsito.
O primeiro propsito da lei e aqui Calvino concorda com Lutero
mostrar-se o nosso pecado, misria e depravao (usus theologicus). Rm 3.20; 5.20. Quando vemos na lei o que Deus requer de ns, ficamos face a face com as nossas prprias deficincias. Isso no nos capacita a fazer a vontade de Deus, mas nos fora a deixar de confiar em ns mesmos e a buscar o socorro e a graa de Deus (Institutas2.7.6-9). A lei um espelho que mostra aos homens a sua verdadeira aparncia aos olhos de Deus, para que despidos e vazios eles possam correr para a sua misericrdia, repousar inteiramente nela, ocultar-se nela e apegar-se somente a ela para obter a justia e os mritos disponveis em Cristo para todos os que anelam e buscam essa misericrdia com verdadeira f. Nos preceitos da lei, Deus galardoador somente da perfeita justia, e disso todos ns carecemos. Por outro lado, ele o Juiz severo de todos os pecados. Mas, em Cristo, a sua face brilha plena de graa e suavidade mesmo para com pecadores miserveis e indignos (Institutas2.7.8).
O segundo propsito da lei refrear os mpios (usus
civilis; Institutas 2.7.10-11). 1 Tm 1.9-10. Embora, isso no leve regenerao, todavia necessrio para a ordem social. Como muitas pessoas obedecem lei movidas pelo temor, as ameaas que ela contm servem para fortalecer essa funo. Sob essa rubrica, a lei tambm serve queles que, embora predestinados para a salvao, ainda no se converteram. Ao for-los a atentar para a vontade de Deus, ela os prepara para a graa qual eles foram predestinados. Assim, muitos que chegaram a conhecer a graa de Deus testificam que antes da sua converso sentiram-se compelidos a obedecer a lei movidos pelo temor.
Finalmente, o terceiro uso da lei tertium usus legis revelar a
vontade de Deus queles que crem (Institutas 2.7.12). Sl 19.7-8; 119.105. Essa uma nfase que haveria de tornar-se tpica da tradio reformada e que lhe daria grande parte da sua austeridade em matria de tica. O prprio Calvino, com base nesse terceiro uso da lei, dedica uma extensa seo das Institutas exposio da lei moral (Livro II, Cap. VIII). A sua afirmao bsica que Cristo aboliu a maldio da lei, mas no a sua validade. O erro do antinomianismo est em afirmar que, uma vez que Deus aboliu em Cristo a maldio da lei, os cristos no mais esto obrigados pela lei. Na verdade, a lei no pode ser abolida, pois ela expressa a vontade de Deus, que nunca muda. O que foi abolido, alm da maldio da lei moral, foi a lei cerimonial. A razo para isso clara: o propsito das antigas cerimnias foi apontar para Cristo e isso no mais necessrio um vez que a realidade plena j foi revelada.
O terceiro uso da lei significa que os cristos devem estudar a lei de
modo cuidadoso, no somente como uma palavra de condenao que continuamente os impele para a graa de Deus, mas tambm como o fundamento para determinarem como devem ser as suas aes. Nesse estudo e interpretao da lei, trs princpios fundamentais devem ser conservados em mente: (1) Deus esprito e por isso os seus mandamentos dizem respeito tanto s aes externas quanto aos sentimentos ntimos do corao. Isso verdade quanto a toda a lei e, portanto, o que Cristo faz no Sermo da Montanha simplesmente explicitar o que j estava implcito, e no promulgar uma nova lei. A lei de Cristo no outra seno a lei de Moiss (Institutas2.8.6-7). (2) Todo preceito ao mesmo tempo positivo e negativo, pois toda proibio implica em uma ordem e vice-versa (Institutas 2.8.8-10). Assim, nada deixado de fora da lei de Deus. (3) O fato de que o Declogo foi escrito em duas tbuas mostra que a devoo e a justia devem caminhar de mos dadas (Institutas2.8.11). A primeira tbua trata dos deveres para com Deus; a segunda diz respeito s relaes com o prximo. Assim, o fundamento da justia o servio a Deus e este impossvel sem um relacionamento justo com as outras pessoas. Portanto, existe uma continuidade fundamental entre o Antigo Testamento e o Novo (Institutas 2.10; 3.17). Essencialmente, essa continuidade tem a ver com o fato de que a vontade de Deus revelada no Antigo Testamento permanece eternamente a mesma, com o fato adicional de que o mago do Antigo Testamento foi a promessa de Cristo, do qual o Novo Testamento fala como um fato consumado. No obstante, existem algumas diferenas significativas entre os dois testamentos. Essas diferenas so cinco (Institutas 2.11): (a) O Novo Testamento fala claramente da vida futura, ao passo que o Antigo somente a promete por meio de sinais terrenos. (b) O Antigo Testamento apresenta apenas a sombra daquilo que est substancialmente presente no Novo, a saber, Cristo. (c) O Antigo Testamento foi temporrio, enquanto que o Novo eterno. (d) A essncia do Antigo Testamento lei e, portanto, servido, ao passo que a essncia do Novo o evangelho da liberdade. Cumpre observar, todavia, que tudo o que prometido no Antigo Testamento no lei, mas evangelho. (e) O Antigo Testamento foi dirigido a um nico povo, enquanto que a mensagem do Novo universal. Porm, apesar dessas diferenas, a nfase bsica da reflexo de Calvino sobre lei e evangelho de continuidade, e a diferena entre ambos uma diferena entre promessa e cumprimento. Nisso, Calvino diferiu substancialmente de Lutero. E foi isso em parte que permitiu ao calvinismo articular programas ticos mais detalhados do que o fizeram os luteranos.
As Confisses Reformadas e a Lei
A nfase de Calvino ao terceiro uso da lei fez com que os documentos
confessionais reformados dessem grande destaque a esse ensino, especialmente atravs da exposio detalhada do Declogo. J no Livro II das Institutas, ao tratar da lei (captulos 6-11), Calvino faz uma exposio detalhada dos Dez Mandamentos (8.11-50); o mesmo no seu primeiro catecismo, Instruo na F (1537).
A 2 pergunta e resposta do Catecismo de Heidelberg (1563) diz o
seguinte:Quantas coisas deves conhecer para que possas viver e morrer na bem-aventurana desse consolo? Trs. Primeiro, a enormidade do meu pecado e misria. Segundo, como sou liberto de todos os meus pecados e suas terrveis conseqncias. Terceiro, que gratido devo a Deus por tal redeno. Isso antecipa as trs partes em que se divide o Catecismo:
(1) O Pecado e a Culpa do Homem A Lei de Deus (pp. 3-11): os dois
primeiros usos da lei. (2) A Redeno e Liberdade do Homem A Graa de Deus em Jesus Cristo (pp. 12-85): o evangelho. (3) A Gratido e Obedincia do Homem A Nova Vida Atravs do Esprito Santo (pp. 86-129): a lei moral, especialmente o Declogo (pp. 92-115). A Confisso de F de Westminster (1643-1646) dedica um captulo Lei de Deus, na parte que trata da vida crist. Esse captulo aborda em sete pargrafos os trs usos da lei e os seus diferentes aspectos (cerimonial, civil e moral). J o Catecismo Maior d um destaque muito mais enftico lei. A sua terceira parte (pp. 91-196) aborda o dever do homem em relao a Deus. Nessa seo, mais da metade das perguntas tratam da lei e do Declogo (pp. 91-148). O mesmo se pode dizer do Breve Catecismo (pp. 39-84, de um total de 107 perguntas).
Davi escreveu o salmo 147 quando estava fugindo do rei Saul e havia se escondido em uma caverna. Eu penso que Davi procurou aquela caverna não só por uma questão de segurança ou medo, mas, sobretudo para se isolar de