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Edited by Foxit PDF Editor Copyright (c) by Foxit Software Company, 2003 - 2009 For Evaluation Only. 1. 2. Sumario Sincronia e diacronia = O problema da palavra_ tt ialavra.e unidade accntual sees e 19) Palavra e homonimia u Palavra ¢ lexia__ 1 A segmentagao morfematica __13 As unidades minimas significativas____—— 13, A dupla articulacao da linguagem dS A importancia do sentido 16 Alomorfes e morfema zero ___ 18 Alofones ¢ alomorfes 18 A forma bésica Alomorfe ou morfema Morfema zero (9) e alomorfe zero (a) — 23 Classificagéo dos morfemas (1) __ 26 Radical Afixos: prefixos e sufixos Desinéncias —___ 8 Desinéncias de género as 25 Desinéncias de mimero —____________31 Desinéncias verbais —___________32 34 Vogais tematicas a Vogais teméticas nominais _____34 Vogais tematicas verbais — - 36 Vogais e consoantes de ligaséo 37 6. Classificagéo dos morfemas (2) _____ 40 Morfemas aditivos —_________— 40 Morfemas subtrativos —______42 Morfemas alternativos —___-___ 43 Morfemas reduplicat ee) Morfema de posigao —______ 46 Morfema zero (@) ————_______—_— 47 7. Conclusao _ —_— 48 8. Exercicios de aplicagao ________51 9. Vocabulario critico — 65 10. Bibliografia comentada ________69 1 Sincronia e diacronia Considerando-se que uma lingua é 0 resultado de evo- lugdes ocorridas ao longo dos séculos, podemos enfocé-la de dois pontos de vista diferentes: ou fixamo-nos no estado atual, com preocupagdes marcadamente descritivas (enfo- que sincr6nico), ou procuramos compreender-lhe 0 processo evolutivo, acompanhando-a desde as mais antigas fases até hoje, o que se torna tanto mais realizével quanto mais dis- pusermos de documentos escritos da lingua em questao (en- foque diacrénico). Nao julguemos, todavia, que a utilizacao de uma ou de outra postura seja uma mera questéo de escolha; sincronia diacronia podem contrapor-se quanto a métodos e resultados. Tomemos, a titulo de ilustragdo, verbo pdr. Nossas gramaticas consideram-no como uma anomalia da segunda conjugacdo. Realmente, a evoluedo histérica da lingua por- tuguesa confirma essa observacio. © verbo pontre, em latim, evolui normalmente para ‘por, em portugués, conforme se pode observar na cadeia evolutiva: pontre > ponére > poner > poder > poer > por Essas diferentes formas sdo decorrentes de transformagoes fonéticas bem caracterizadas através dos séculos e suficien- 8 temente explicitadas em nossas gramiiticas histéricas. Nao € nosso objetivo, aqui, especificar os detalhes esclarecedo- res das etapas apontadas; interessa-nos, sim, mostrar que poer, da segunda conjugacao, evolui para pdr, € que vesti- gios da antiga forma poer encontramos em adjetivos como poente e poedeira. Podemos, entretanto, chegar & mesma conclusio se dispensarmos a explicagao histérica ¢ fixarmo-nos no fun- cionamento do portugués atual, Observemos, p.ex., que algumas das formas conjuga- das do verbo pdr apresentam a vogal temética -e-, da segunda conjugagao: pusEmos, pusEra, pusEsse. ‘Acrescente-se, também, que as trés conjugagdes do portugués constituem paradigmas caracterizados pelo fato de serem representados por varios verbos: pertencem a pri- meita conjugagéo verbos como amar, cantar, falar etc.; beber, comer, correr etc. ilustram a segunda conjugagéo; fa terceira conjugaco é representada por verbos como exis- tir, partir, sumir etc Ora, verbo em -or s6 temos um: pér, que dé origem a derivados como contrapor, decompor, repor etc. Portanto, 0 verbo pdr nao constitui paradigma como os demais ver- bos dcima mencionados. Essas observagdes podem levar-nos a crer que, afinal, a escolha de uma posig¢ao sincrénica ou diacrOnica ¢ indife- rente, visto que ambas conduzem ao mesmo resultado. Notemos, contudo, que nem sempre o resultado é 0 mesmo. Sirva-nos de exemplo 0 verbo comer. Em latim, 0 verbo correspondente a comer & edBre, com radical ed-. No presente do indicativo, algumas for- mas desse verbo se confundiam com o verbo esse: ao lado de edo, edis, edit, havia as variantes edo, es, est. Com 0 objetivo de diferengar mais esses dois verbos, 6 latim vulgar da peninsula Ibérica antecedera o primeiro de um prefixo, cum- (que exprime companhia), e o resul tado, cum ed&re / cumedere, em virtude de uma série de transformacées fonéticas, produziré a forma comer, O cotejo de comer com comida, comilanea, comilao conduz- nos & conclusdo de que o radical comum a essa série ¢ com- (diferentemente do radical latino ed-).. Esse exemplo permite-nos constatar que nem sempre 9s enfoques sincrénico e diacrénico levam as mesmas con- clusées. De um ponto de vista metodolégico, ¢ aconselhavel, portanto, que se separem as duas posigGes. Adotaremos, ao longo de nossa exposi¢ao, uma postura sinerdnica com relagdo a alguns aspectos da morfologia portuguesa, por- que acreditamos que 0 conhecimento dos mecanismos de funcionamento de um idioma no seu “aqui € agora’” deve anteceder as explicagdes de cardter histérico, indiscutivel- mente necessirias e esclarecedoras, mas que devem ser invo: cadas num segundo momento. 2 O problema da palavra De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), a morfologia deve ocupar-se das palavras quanto & sua estrutura e formagdo, bem como quanto as suas fle- xOes € classificacio Concentrando-se a morfologia na palavra, & neces rio, inicialmente, que levantemos ¢ discutamos algumas propostas de caracterizagao desse elemento. ‘Ainda segundo a NGB, a palavra, considerada, do ponto de vista fonético, como constituida de fonemas ¢ silabas e pro- vida ou ndo de tonicidade, recebe a designacdo de voedbulo; palavra & a denominagao mais adequada se enfocarmos 0 ponto de vista semantico. Nao levaremos em conta, aqui, essa ingdo, e os dois termos serao utilizados como sindnimos. ‘Apresentamos, em seguida, alguns critérios com vistas Accaracterizagao da palavra, assinalando as dificuldades cor- respondentes. Palavra e unidade acentual Tomemos, por exemplo, um critério fonético: a pala- vyra seria uma unidade acentual, um conjunto mareado por um s6 acento ténico. u Nao ha diivida de que mdrmore, xicara, café corres- pondem ao critério proposto; contudo, uma expresso como com o chinelo também satisfaz exigéncia acima — a preposicao com e 0 artigo definido 0 séo dtonos ¢ 0 substantivo chinelo € paroxitono; 0 grupo apresenta um 86 acento t6nico, mas nao constitui uma palavra do ponto de vista grafico. Em resumo, existem unidades acentuais que nao sfo palavras; esse critério fonético revela-se par- cial e, portanto, insu Palavra e homonimia Se procurarmos caracterizar a palavra sob 0 aspecto semAntico, os casos de homonsmia revelar-se-do problemati- cos. Consideram-se homénimas as formas lingiiisticas de mesma estrutura fonolégica, porém inteiramente distintas quanto ao ponto de vista significativo. Poderiamos afirmar que manga, nos seus diferentes sig- nificados, é uma sé palavra; ou haveria tantas palavras manga quanto os diversos significados correspondentes? A resposta, é menos simples do que parece; basta levar em conta as diver- géncias dos dicionérios, relativamente a solugdo do problema. Acrescente-se, ainda, que o fato de a palavra ter um sentido atualizado dentro de um contexto especifico (frasal/ textual), 0 que gera o fendmeno da polissemia (possibili- dade de variagdes de sentido em funcdo dos diferentes con- textos), impede o estabelecimento de limites claros entre esta tiltima e a homonimia. Palavra e lexia Vejamos se 0 conceito de lexia, proposto por Bernard Pottier, pode ser-nos de alguma utilidade para a caracteriza- ¢80 do voedbulo: 2 Segundo o autor, entende-se por lexia a unidade lexi cal memorizada. Dentre os diferentes tipos de lexia, desta- quemos, aqui, as lexias simples e as compostas B. Pottier propde alguns testes formais para a determi- nagdo das lexias, dos quais um dos mais operatérios é 0 da ndo-separabilidade dos elementos componentes. Apli- cando-o ao substantivo composto guarda-chuva, p.ex., notemos que qualquer modificador acrescentado a esse substantivo no pode romper o grupo em questao: guarda-chuva novo / novo euarda-chuva * guarda-novo-chuva (construgao inaceitavel) Nao é 0 que se observa com um vocabulo como obede- cerei. O acréscimo de um pronome pessoal obliquo a essa forma verbal acarreta a separacdo de seus elementos const tutivos: obedecer-te-ei. Assim sendo, obedecerei nao set uma lexia, embora possa ser reconhecido como uma palavra. Assinalemos, contudo, que, se nao podemos estabele- cer correspondéncia automatica entre palavra e lexia sim- ples (como o ilustrou o exemplo acima), 0 teste da ndo-sepa- rabilidade permite-nos levantar um grande ntimero de com- postos nao-dicionarizados. Sirva-nos de exemplo a expres- sao casa de detencdo. Qualquer adjetivo a ela acrescentado nao pode ocupar posicao interna relativamente ao grupo: casa dé detengtio abandonada “casa abandonada de detengao (construsao inaceitével) Ora, 0 comportamento de casa de detencéo é 0 mesmo do grupo guarda-chuva, acima apontado. Sao, portanto, dois exemplos de substantivos compostos Os critérios apresentados neste capitulo nao so os inicos possiveis, Revelam, todavia, a complexidade que caracteriza a palavra e, por conseguinte, as dificuldades da elaboragdo de uma morfologia baseada nesse elemento 3 A segmentacao morfematica As unidades minimas significativas Expusemos, no capitulo anterior, algumas dificuldades associadas & caracterizagdo do vociibulo. Partiremos, aqui, da hipétese de que a palavra é um elemento de constituicao complexa, cuja andlise poderé conduzir a uma base mais rigorosa para os estudos morfolégicos. Tomemos, a titulo de ilustrago, a forma verbal faldva- ‘mos. Como a conjugacao verbal portuguesa & caracterizada por uma riqueza de flexes, é possivel comparar a forma pro- posta com as demais que a ela se associam. Estabeleceremos, como principio, que as comparagdes devem ser feitas por pares; cada par deve apresentar uma s6 relagao de semelhanga € uma s6 relacdo de diferenca. Comparemos, inicialmente, fakivams falava O elemento comum (relagao de semelhanga) é falava; o ele- mento diferencial é -mos, que s6 ocorre na primeira forma. Consideraremos, também, que os elementos destaca dos devem ter um valor significative. No par acima, -mos indica que a aco expressa no passado € realizada por um grupo de pessoas, entre as quats se inclui o falante. oe ‘A forma comim — falava — é igualmente decomponi- yel, como 0 mostra a comparacdo seguinte: falava fala O segmento destacado — -va — indica que a aco expressa pelo verbo se desenrola num passado que se prolonga (pre- térito imperfeito do indicativo). Convém assinalar que nem sempre um tnico par nos permite depreender 0 segmento correto. Outros pares devem set estabelecidos para confirmar ou infirmar certos resulta~ dos. Se tivéssemos comparado falava com falara, teriamos isolado 0 -v-. O recurso a outras comparagdes — falava / fala; fatava / falasse — permite-nos corrigir esse resultado para -va. Podemos ainda prosseguit com um novo par, fala lo que nos fornece os segmentos -a e -0, Como a forma proposta é faldvamos, interessa-nos o -a. Baseados exclusivamente nesse par, deveriamos interpretar -a como indice de terceira pessoa do singular do presente do indicativo (em oposigiio ao -0, ‘mare de primeira pessoa do singular do mesmo tempo). Mais uma vez, a comparagdo com as outras formas do mesmo verbo vai conduzir-nos a interpretagdo correta; falAva, falAremos, falAriam, embora correspondam a ‘tempos ¢ pessoas diferentes, apresentam a mesma vogal -<- que é, na verdade, marca da primeira conjugacao. Finalmente, comparando fala chora destacamos os elementos fal- e chor-, que indicam agées iferentes. Portanto, a forma verbal apresentada ¢ constituida de quatro elementos: fal + d + va + mos. 18 Com relagéo a esses segmentos, convém ressaltar os seguintes aspectos: 1) so unidades portadoras de sentido; 2) sdo elementos recorrentes, de grande produtividade na lingua; fal- figura em toda a conjugacdo do verbo falar, bem como em derivados, como falador; -a- & marca de todos os verbos da primeira conjugacao (falar, cantar, cho- rary; -va- caracteriza o pretérito imperfeito do indicativo de qualquer verbo da mesma conjugacio (falava, cantava, chorava); -mos é indice de primeira pessoa do plural, inde- pendentemente de tempo, modo € conjugacdo (falamos, faldssemos, temtamos); 3) a ordem desses segmentos é rigida; qualquer alteraco resulta em formas inaceitaveis na lingua (p.ex.: * faldmosva). Como so elementos contiguos, podem ocorrer altera- ges fonoldgicas em alguns deles. Em portugués, sdo freqiten- tes os casos de crase e de elistio. Se compararmos gosto com gostoso, destacamos apenas -so, como elemento diferencial; contudo, os pares creme / cremoso, sabor / saboroso perm tem-nos depreender -oso. Trata-se do mesmo segmento, visto que 0 segundo membro de cada par apresenta um traco sig- nificativo comum. A vogal final de gosto ¢ a inicial de -oso, por serem idénticas, fundiram-se, de acordo com a regra fonoldgica da crase. Com relagdo ao par creme / cremoso, notamos que 0 -¢, dtono, de creme se elide diante do o- de -080; trata-se, agora, de um caso de elisdo. Essas unidades minimas significativas recebem 0 nome especifico de morfemas. A dupla articulagiio da linguagem Baseando-nos, agora, no par 16 destacamos f- e m=, que ja no sao elementos providos de sentido. A substituicao de f= por m- contribu, entretanto, para distinguir os vocabulos fala ¢ mala. Essas unidades distintivas, desprovidas de sentido, recebem a designagio de fonemas. Convenciona-se represen- tar os fonemas entre barras obliquas: /f/ ¢ /m/ Os pares caracterizados por apresentarem formas que se distinguem por um s6 trago diferencial sfio designados como pares minimos. Quando, na comparacio das formas, a substituigdo de um traco por outro acarreta uma mudanca de sentido, realizamos 0 que se denomina uma comutagao. Entre os morfemas ¢ os fonemas, hd uma diferenca qualitativa: enquanto aqueles so significativos, estes sio distintivos. Com base nessa oposi¢ao, André Martinet esta- belece a teoria da dupla articulagao da linguagem: a uma primeira articulac&o, representada por unidades significati- vas (que A. Martinet designa como monemas), acrescenta- se uma segunda articulacdo, de unidades distintivas (os fonemas). Convém esclarecer que, a0 contrério do que nossa exposi¢ao poderia levar a crer, as téenicas de analise fonolé- gica se desenvolveram primeiro; posteriormente, foram transpostas para o terreno da morfologia. Embora 0 termo monema, segundo A. Martinet, nao seja exatamente sindnimo de morfema, € esta tiltima desig- nacdo que se Vem generalizando cada vez mais e que mante- remos ao longo deste trabalho. ! A importancia do sentido valor significative dos morfemas tem algumas impli- cagdes, que passamos a expor a seguir. ' Remetemos o leitor interessado 20 vocabulirio ertico, para os devidos cselarecimentos de detalhes terminolégicos. ” Os pares canta / cantas ¢ mesa / mesas permitem-nos depreender -s. Ocorre que, no primeiro, 0 elemento desta- cado indica segunda pessoa do singular, ao passo que, no segundo, € marca de niimero plural. Como os valores signi- ficativos sao diferentes, devemos reconhecer, ai, dois mor- femas hom6nimos. ‘Além da diferenga de significado entre os dois, ha tam- bem diferencas de caréter formal. O -s de cantas opde-se as terminagdes de outras formas (canta, cartamos, cantais, cantam); com relagao a mesas, a ‘inica oposigo que pode- mos estabelecer é entre mesa © mesas. ‘Ao operarmos com determinados pares, devemos evi- tar as falsas comutacdes, que podem levar-nos a destacar elementos desprovidos de sentido. Assim, a comparacéo entre os membros do par lei / legal pode sugerit-nos que ie -gal sio morfemas, 0 que é falso, visto que n&o sao, em portugues, segmentos portadores de significado. Temos, aqui, um elemento indecomponivel — /ei — ¢ uma forma variante leg-. Cumpre, ainda, esclarecer que 0s segmentos comuns a0 par devem ter 0 mesmo valor seméntico. Para determi- nar os morfemas de capacidade, nao poderiamos compari- lo com capa ou com cidade, que, embora existentes em por- tugués, no tém nenhuma relagdo significativa com o voci- bulo proposto. A iinica comparagdo possivel, no caso, & com capaz; como resultado, obtemos a forma capac-, variante. 4 Alomorfes e morfema zero Jé assinalamos que as téenicas da anélise fonoldgica foram transpostas para a andlise morfolégica. Aqui, ressal- taremos alguns paralelismos resultantes dessa transposicéo. Alofones e alomorfes Alguns fonemas podem realizar-se através de variantes Assim, 0 fonema /1/ (depreendido de um par como fia / ria) apresenta, em portugués, as realizacSes [1] (J alveolar) ', quando antecede uma vogal: Jama; ¢ [w] (w semivocalico, como em mau), quando se pospde a uma vogal: alma [aw- ma], no portugués do Brasil. (Em Portugal, 0 / pés-voedllico realiza-se como um ff] (/-velar). Para a exposiedo que se segue, escolhemos a variante brasileira.) Essas variantes recebem a designacdo de alofones e, com freqiiéncia, encontram-se em contextos exclusivos, como 0 ilustra o quadro seguinte: 19 prévocalica revet | wl = + Fazendo a leitura do quadro com base nas colunas verticais, temos que [I] s6 aparece em posigao pré-vocdlica, diferente- mente de [vi], que s6 ocorre em posigéio pés-vocillica; onde utilizamos uma variante, néo podemos utilizar a outra, Neste caso, dizemos que as variantes séo combinatérias e esto em distribuigdo complementar, Existem alofones que nao ocorrem em distribuicdo com- plementar. Por exemplo, o fonema /7/, em posicdo inicial, pode realizar-se, em nossa lingua, como [F] (alveolar) ou como [¥] (velar), indiferentemente: rua [Fua / Kua]. Aq dizemos que as variantes sao livres. O mesmo pode observar-se com relacfio aos morfemas, que nem sempre séo caracterizados por uma tnica forma, como a maioria dos exemplos apresentados no capitulo ante- rior poderia levar a crer, No adjetivo infeliz, a comparagéo com feliz permite- nos depreender o morfema in-. Esse mesmo morfema realiza- se como #- antes de radicais iniciados por /-, m- € r-: ilegal, imoral, irreal. Essas diferentes realizagdes sio designadas como alomorfes, em paralelismo com alofones. De modo geral, os alomorfes apresentam-se em dist buicdo complementar, a exemplo do que ocorre com os alo- fones. Em portugués, 0 pronome pessoal obliquo mim rea- liza-se como /mim/ apés qualquer preposicio diferente de com (de mim, em mim, sem mim); seguindo-se & preposi¢aio com, temos a variante /migo/ (comigo), conforme o ilustra o quadro aba mim | 2P65 prep. | apés prep. # com com | | Tren + [| imigol [+ As colunas verticais do quadro mostram que /mim/ s6 cocorre em seguida as preposiedes diferentes de com, a0 passo que /migo/ s6 figura apés a preposi¢ao com. Dizemos, aqui também, que os alomorfes esto em distribuigao complemen- tar, visto que ocorrem em contextos exclusivos 7. E importante notar que nem sempre os alomorfes resul- tam de um contexto fonolégico, como pode sugerit 0 exem- plo do morfema in-, acima: a variante i- 6 € encontrada antes de determinadas consoantes. Com relacéo ao segundo exemplo, poderiamos pensar que a variante /migo/ ocorre apés nasal; as seqiiéncias em mim, sem mim, em que as preposigdes também terminam por nasal, negam a validade dessa afirmagio. O condiciona- mento, aqui, é, portanto, morfolégico, ¢ nao fonoldgico. Mesmo no exemplo anterior, 0 condicionamento fonolé- gico ndo representa uma restri¢ao absoluta na lingua. Obser- vemos que, se uma forma como irreal poderia induzit-nos a crer que a nasal no ocorre antes de /i/ (dada a inexisténcia de inreal na lingua culta), 0 verbo enrolar mostra que, em portugués, 0 fonema /F/ pode figurar apés -n-. Embora mais raros, também se encontram em portu- gués exemplos de variantes alomérficas livres: ao lado de ouco; temos a variante oico, € 0 falante € livre na escolha de uma ou de outra forma, diferentemente do que se obser- ‘you com relagdo as variantes /mim/ e /migo/, dependentes do contexto, A forma basica ‘A existéncia de diferentes alomorfes para um mesmo morfema remete-nos ao problema da escolha de um deles 2 Nao devemos falar em variante nos easos de erase ¢ elisd0. Por exemplo, fem gosioso houve crase de -o de gosto com o- de -080, mas o morfema é. indiscutivelmente, -os0 (cf., aqui, p. 18) a para representar 0 conjunto, © alomorfe selecionado recebe a designacdo de forma basica; nem sempre é facil estabele- cer essa forma, mas alguns critérios podem ser apontados. O primeiro deles, 0 critério estatistico, ¢ que especi- fica que, dentre as variantes existentes, é escolhida como forma basica a mais freqiiente. Com relacao ao exemplo acima, mim / migo, vimos que mim figura ap6s todas as preposigdes, com excecao da preposicdo com; por ser esta- tisticamente mais freqiiente, é selecionada como a forma bdsica. Convenciona-se representar a forma basica entre chave fonkC ‘A indicagdo acima deve ser lida da seguinte forma: 0 mor- fema {mim) realiza-se fonologicamente como /mim/ ¢ /mi- g0/, em contextos serem especificados. Quando os alomorfes apresentam a mesma freqiiéncia, escolhe-se a forma basica em funcao do critério da regulari- dade de formacao. Explicitemos, através de um exemplo, 0 que se deve entender pelo critério acima. O futuro do presente do indi- cativo, em portugues, € expresso pelos morfemas -rd- ¢ -re-, que ocorrem trés vezes cada um: -rd-, na segunda e terceira pessoas do singular e na terceira pessoa do plural (amards, amard, amaréo); -re-, na ptimeita pessoa do singular ¢ na primeira e segunda pessoas do plural (amarei, amaremos, amareis). Considerando que os morfemas indicativos de tempo e modo, em nossa lingua, apresentam todos formas basicas em -a e variantes em -e (de acordo com o critério estatistico), selecionamos, por paralelismo, -rd- como forma basica e -re- como variante (cf. quadro desses morfemas, as p. 32 € 33). ‘migo/ Nos casos em quie uma das variantes ocorre isolada- mente, enquanto a outra sé aparece atrelada a um novo morfema, ¢ a primeira que deve ser tomada como forma bésica. Em portugu@s, 0 substantive chapéu possui a variante chapel-, s6 utilizada quando seguida de um morfema ini- ciado por vogal: chapelaria, chapeleiro. Como sé a forma chapéu pode ser empregada isoladamente (Vi um homem de chapéu ), € ela a forma basica. Observemos, ainda, que & mais econémico partir de chapéw para prever chapel- basta estabelecer a regra segundo a qual o -w passa a -/- diante de morfema iniciado por vogal. Se partissemos de chapel-, como forma bsica, precisarfamos de duas regras para chegar outra variante: 0 -/ passa a -u: 1) diante de pausa; 2) antes de morfema iniciado por consoante (p.ex., chapeuzinho). Para certos morfemas, & conveniente postular uma forma basica teérica, ndo-documentada em sincronia. Em portugués, para explicarmos 0 plural do substantivo mar, poderfamos partir de uma forma teérica "mare (sineronica- mente, inexistente); 0 -e é eliminado no singular ¢ mantido no plural (mares). As-vantagens dessa descrig&io so especi- ficadas no capitulo 5 (cf. p. 31-2). Alomorfe ou morfema Nos exemplos acima apontados, encontramos alomor- fes que se assemelham do ponto de vista fonoldgico: in- / chapéu / chapel-. Observemos, contudo, que esse trago néo ¢ condi¢ao para postularmos a existéncia de variantes. No adjetivo amdyel, depreendemos 0 morfema -vel, que se realiza como -bil- quando antecede morfemas iniciados por vogal: ama- bil-idade, ama-bil-issimo. Os alomorfes -vel e -bil- esto fonologicamente muito mais distanciados do que as varian- tes dos outros exemplos apresentados 23 Essas consideragdes remetem-nos a um novo problema: diante de formas semanticamiente aparentadas, & preciso espe- cificar os critérios que nos permitam estabelecer se se trata de morfemas diferentes ou de variantes de um mesmo morfema. Para elucidar a questao, devemos basear-nos no aspecto semantico. Em amdvel / amabilidade, -vel e -bil- apresen- tam o mesmo sentido, 0 que nos leva a concluir que sio alomorfes. Comparando, agora, os membros do par: altura / alti- tude, depreendemos os segmentos -ura e -itude, ambos for- madores de substantivos abstratos a partir de radicais adje- tivos. Em altitude, ha alusio a elevagéo acima do nivel do mar, 0 que nao se verifica em altura; acrescentemos, ainda, que sé podemos falar na altura de um individuo, e nao em sua altitude, Por conseguinte, -ura € -itude so morfe- mas distintos, e ndo alomorfes. As observagdes aqui apresentadas confirmam um aspecto que ressaltamos no capitulo anterior: a depreensao dos morfemas no se reduz. a um mero exercicio formal; é fundamental que se leve em conta o elemento seméntico. Morfema zero (a) e alomorfe zero (0) ‘Ao tratarmos das técnicas de segmentagdo morfema- tica, utilizamos um par que retomaremos aqui: falivamos falava Comparando as duas formas, destacamos 0 morfema -mos, indicativo de primeira pessoa do plural Relativamente a falava, sabemos que representa a pri- meira ou a terceira pessoa do singular; no entanto, ndo se destacou nenhum segmento que exprima esas nog6es. E a auséneia de marca que, aqui, indica a pessoa e 0 mimero. Nesse caso, falamos em morfema zero (representado por 9). Pa S6 podemos postular um morfema @ se trés condigdes forem satisfeita: 1) € preciso que 0 morfema o corresponda a um espago vazio; 2) esse espago vazio deve opor-se a um ou mais seg- mentos (no par utilizado, 0 @ de falava contrapée-se 20 -mos de faldvamos); 3) a nogdo expressa pelo morfema o deve ser inerente classe gramatical do vocdbulo examinado. Em nosso exemplo, as nogdes de niimero e pessoa existem obrigato- riamente em qualquer forma verbal portuguesa No par: fiel fielmente que nos conduz a depreensao de -mente, nao é possivel pos- tular um morfema o para fiel, porque, em portugués, mor- femas como -mente (formador de advérbios de modo) nao so extensivos a todos os adjetivos; nao temos formas como triangularmente, vermelhamente etc. Assinalemos, também, que, mesmo em fielmente, 0 uso do segmento final sfa0 é obrigatério e automético para exprimir a idéia de modo; nada nos impediria de substitui-lo pela expressao de modo fiel. Nao é 0 que se observa no par casa em que destacamos -s, indicativo de nimero plural; 0 que nos permite afirmar que casa é singular é a auséncia de seg- mento destacavel. Temos, aqui, um exemplo de morfema © (de singular), porque a nogao de numero é inerente a qualquer substantivo de nossa lingua. Quando, numa série de alomorfes, houver a auséncia de um traco formal significativo num determinado ponto | | | 25 da série, podemos designar como alomorfe @ essa auséncia. E o que se pode verificar no substantivo pires, que apre- senta a mesma forma para o singular e para o plural; & impossivel depreender, neste caso, qualquer segmento indi- cativo dessas nogdes. A idéia de mimero aflora do contexto: © pires novo (sing.) 08 pies novos (pl.) > Como, em portugués, os alomorfes de plural sio -s, -es, -is, podemos dizer que pires é constituido do radical pires mais 0 alomorfe o de ntimero (singular/plural). Em resumo, 0 morfema @ ocorre numa série de mor- femas, ao passo que 0 alomorfe @ ocorre numa série de alomorfes. 3 0 que se da, também, com os demais substantivos; comparem-se: o livro novo (sing.) 95 livros novas (pl.)

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