Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
O "xixi" na cama fora do tempo é problema infanto-juvenil denominado enurese, que significa
o esvaziamento desapropriado e involuntário de urina por um indivíduo cuja idade deveria ser a
suficiente para controlar os seus esfíncteres, os músculos que asseguram a oclusão ou abertura
do orifício da bexiga.
Trata-se de uma situação bastante comum, mas que causa grande transtorno e
aborrecimentos no seio da família.
Este descontrolo vesical noturno acontece durante a infância, afetando principalmente os
rapazes entre os 6 e os 7 anos de idade. Mas, em certos casos, pode persistir até que a
puberdade seja atingida.
No entanto, estabelece-se uma distinção entre as crianças que não conseguiram atingir o
controlo dos seus esfíncteres e continuam a urinar na cama (enurese permanente ou primária) e
as que, depois de o terem conseguido por um período superior a seis meses, voltam a urinar-se
(enurese secundária ou adquirida).
A enurese é mais freqüente entre os rapazes do que entre as raparigas, numa relação de 3
para 1. Até aos 5 anos atinge uns 15 a 20 por cento das crianças, 7 a 10 por cento por volta dos
10 anos, mas pode persistir em um por cento dos casos até ao final da adolescência.
Alguns estudos demonstram que quase 50 por cento das crianças com enurese noturna não
são levadas ao médico por esse motivo. A enurese não tratada cura-se espontaneamente ao
ritmo de 10 a 20 por cento dos casos por ano.
Um pesado "segredo"
A enurese constitui um pesado fardo para a criança e para a sua família, não só por afetar a
sua auto-estima numa idade extremamente importante para o desenvolvimento da sua
personalidade, mas também porque acarreta custos econômicos e sociais consideráveis que vão
aumentando com o crescimento da criança.
Hoje, são muitas as atividades da criança que exigem passar a noite fora de casa: dormir em
casa de amigos, campos de férias, acampamentos, torneios desportivos, visitas a familiares. Uma
criança com enurese evita todas estas atividades, receando que o seu "segredo" seja
desvendado, sobretudo por outras crianças.
O tratamento
2
desdramatizar o problema. É preciso enfrentar o problema com tranqüilidade e paciência,
encorajando a criança pelo esforço que está a fazer para o ultrapassar. E, sobretudo, não
demorar a procurar apoio médico.
A criança não molha a cama para chamar à atenção ou por ser preguiçosa, trata-se de uma
situação que ela não controla. Por isso, "sermões" e castigos só a vão fazer sentir-se pior,
agravando os sentimentos de frustração, angústia e culpa.
No dia a dia, os pais deverão também tentar alterar alguns hábitos prejudiciais, evitando que
a criança beba muitos líquidos antes de ir para a cama e lembrando-a da necessidade de urinar
antes de se deitar.
Evitar a vergonha
ENCOPRESE
Fowler (1882), Henoch (1889) e Weissenberg (1926), parecem ter sido os primeiros
investigadores a interessarem-se pela encoprese, devendo-se a este último o termo e a sua
definição: "- Qualquer defecação involuntária que ocorra numa criança que já tenha ultrapassado a
idade de 2 anos e na ausência de lesão evidente do sistema nervoso ou de outra afecção orgânica".
Trata-se, portanto, de uma falta de controle do esfíncter anal, que é geralmente adquirido até
à idade de 2 anos e meio, caracterizando-se sobretudo por ser uma defecação involuntária, não
diretamente atribuída a doenças físicas tais como anomalias retais e anais, a fraturas da coluna
vertebral, infecções agudas e outras ( que serão "incontinência intestinal" e não encoprese).
A encoprese não é uma doença do esfíncter anal, mas de um problema psicológico que afeta
o seu normal controle. Tal como a enurese, a encoprese é apenas um dos sintomas de um quadro
psicopatológico, raramente sendo monossintomático. Mas pode aparecer associado a tiques,
manipulações (roer as unhas, sucção no polegar), gaguez, timidez, medos, birras, delinqüência, etc.
(Gruenspun, 1982).
3
A Encoprese Primária, em que a criança não chega a adquirir a higiene correspondente ao
controle do esfíncter anal, corresponde a um atraso na maturação funcional ou num inadequado
processo de ensino-aprendizagem.
Na Encoprese Diurna, a excreção fecal ocorre geralmente uma única vez, embora haja casos
em que a criança se suje pouco, mas quase constantemente. Já Encoprese Noturna é mais
freqüente que a diurna (Hallgren, 1957).
2 - Encoprese Irregular, em que não se encontra uma regularidade, aparecendo por períodos e com
intervalos maiores ou menores:
3 - Encoprese Intermitente, em que ocorre transitoriamente, mas de modo regular, estando muitas
vezes associada a separações do meio familiar, a alterações da vida escolar, etc.
4 - Encoprese Episódica, em que aparece por um muito breve lapso de tempo, entre períodos muito
longos de bom controle esfincteriano: o ingresso na escola, o nascimento de um irmão, separação
da mãe e outras situações.
Ajuriaguerra (1967) refere que é raro que, na encoprese, as fezes tenham uma consistência
normal. A prisão de ventre aparece algumas vezes associada e outras vezes há alternância entre
diarréia e prisão de ventre.
4
CAUSAS DA ENCOPRESE
Anthony (1967), Launay e Lauzanne (1970) referem como principais fatores etiológicos da
encoprese o modo de aprendizagem da higiene esfincteriana e a relação mãe-filho.
Os casos de Encoprese Primária são geralmente devidos a uma falta de cuidados familiares
quanto ao habituar a criança a evacuar no seu bacio, ou a uma repugnância manifesta do meio
familiar sobre o mau cheiro e os dejetos evacuados.
Um ensino demasiado coercivo e exigente por parte da mãe ou demasiado precoce, levam
geralmente a uma situação de Encoprese Secundária.
Algumas crianças resistem à aprendizagem dos hábitos de higiene, para não perderem o
prazer que sentem com o ato e o contacto com os produtos da sua excreção. Outras manifestam a
necessidade de afirmar a sua agressividade contra o modo de ensino, sob a forma de regressão.
A INTEGRAÇÃO
A integração escolar da criança enurética e/ou encoprética não requer quaisquer disposições
materiais ou programáticas diferentes das usualmente empregues pelo educador e professor com
todas as crianças. Há, porém, toda uma série de atitudes do adulto que devem ser modificadas e
outras que devem ser evitadas.
Dado que se tratam de sintomas de problemas psicológicos que, na sua evolução se poderão
tornar doenças de difícil tratamento, sendo mais importante prevenir do que remediar, é fundamental
que o primeiro passo seja o de enviar a criança a uma consulta de psicologia clínica, logo que se
notem os primeiros acidentes "molhados" ou "sujos".
Tal como não há duas pessoas iguais, também não há dois problemas psicológicos iguais,
constituindo cada caso um caso único e isolado, que deve ser estudado e diagnosticado na sua
originalidade, desenvolvendo-se a terapia em função da especificidade de cada quadro
psicopatológico. A única constante é a de que todas as crianças que mostram sinais de enurese ou
encoprese deverão usufruir tratamento psicoterapêutico, especificamente objetivado para a
resolução das dificuldades psicológicas de que a enurese ou encoprese são sintomas.
Não uma psicoterapia para resolução dos sintomas, mas dos fatores psicológicos específicos
que os causam.
5
Só se poderá pensar em integração escolar de uma criança enurética ou encoprética se ela já
estiver a fazer psicoterapia num consultório psicológico.
ATITUDES GERAIS
Há que evitar todas estas e outras atitudes contraproducentes, como ameaças, castigos,
humilhações e autoritarismos, geradoras de climas de medo, procurando-se criar um clima de
compreensão, de ajuda e de apoio, tal como sucede em qualquer situação de doença física. Quando
uma criança está com gripe, com varicela, papeira ou outra doença semelhante, a mãe não lhe ralha,
não lhe bate nem a humilha, desvelando-se por a acarinhar, medicamentar e criar um clima de
ternura e carinho.
Evitar, sobretudo, que o caso seja conhecido por outras pessoas. É uma situação de que a
criança se envergonha e que procura esconder, um segredo que deve ser partilhado apenas com os
seus pais, educador ou professor, sendo por estes respeitado e jamais divulgado. Evitar mesmo falar
muito do assunto com a criança; atuar no sentido de ajudar é melhor do que falar-lhe num assunto
que a faz sofrer.
6
A aprendizagem das regras de higiene e o amor, são indissociáveis, não se podendo, de
modo algum, procurar que a criança aprenda a controlar os seus esfíncteres sem que seja num
ambiente de carinhosa afetividade.
O desejo que algumas mães têm de que o seu filho aprenda muito cedo a conter-se e a pedir
para "fazer xixi", pode lavá-las a agir precocemente nesse sentido, em situações em que o seu filho
não possua ainda o necessário desenvolvimento neuro-fisiológico ou, mais importante, não tenha
ainda atingido o desenvolvimento afetivo que lhe permita fazer o desinvestimento libidinal nas suas
zonas genitais e nas suas micções ou fezes.
Ajuriaguerra (1976) refere que esta atitude inadequada por parte dos pais (educação
esfincteriana prematura) é encontrada principalmente nas mães obsessivas (aplicação das regras de
modo muito rígido) ou fóbicas (nojo do sujo).
Quando se faz referência a um ensino precoce, isto significa que jamais deverá ser efetuado
antes da aquisição do andar e que ter 2 ou 3 anos de idade não significa que possua o mesmo grau
de desenvolvimento afetivo, cognitivo, social ou motor. Casos de afastamento da mãe, de graves
conflitos familiares, internamento em creches e outros, levam por vezes a grandes atrasos no
desenvolvimento afetivo-social que deverão ser considerados e devidamente ponderados.
Mesmo em idades normais, a atitude dos pais em relação a estas aprendizagens, deverá ser
sempre bastante cuidadosa. Atitudes excessivamente coercivas levam geralmente a criança a
reações de revolta e de defesa, e atitudes demasiadamente permissivas podem impedir a adequada
organização do controle dos esfíncteres.
Alguns autores referem que pais que são ou foram enuréticos podem apresentar atitudes de
temor ou de superproteção, motivadas pelas suas recordações traumáticas, que podem influenciar
negativamente as aprendizagens da criança neste campo.
Numa família em que a criança esteja em casa com a sua mãe, é natural que acompanhe esta
para todas as partes da casa, inclusivamente para a casa de banho, sempre que necessite de
satisfazer as suas necessidades fisiológicas. A criança aprende deste modo e muito naturalmente,
que há um ritual que leva a mãe a ir algumas vezes àquele local e a proceder àqueles
comportamentos.
Se, por volta dos 2 anos de idade, a mãe colocar o bacio da criança na casa de banho e a
sentar nela (às vezes é a própria criança que toma esta iniciativa) ao mesmo tempo que se senta na
sanita, a criança começa a integrar mais esta associação e, geralmente pelos 3 anos, começa
também a baixar a fralda e, posteriormente, a fazer no bacio.
Se, desde a primeira vez que a criança conseguir este acontecimento, a mãe se desvelar em
gratificar a ação, mostrando contentamento, alegria, batendo palmas, beijando-a e fazendo uma
grande festa, mostrando o "produto" a toda a família para que todos se mostrem contentes e a
elogiem, estes comportamentos vão reforçar a ação conseguida, procurando a criança comportar-se
futuramente do modo que sabe ser o mais gratificante.
Como a criança possui ritmos de evacuação com intervalos mais curtos do que os da sua
mãe, esta deverá ter em atenção as horas em que a criança tem necessidade de ir para o bacio,
7
para actuar em conformidade. É relativamente fácil cronometrar as "molhadelas" e colocar a criança
no bacio (e se necessário, dar o exemplo, sentando-se a mãe ao lado, na sanita) uns minutos antes
do "acidente", mesmo que seja necessário acordar a meio da noite ou a meio da sesta.
NO JARDIM DE INFÂNCIA
A separação da mãe para entrar pela primeira vez num local completamente diferente do seu
lar, com adultos que desconhece e com outras crianças que inicialmente a confundem e
antagonizam, perante a sua natural posição egocêntrica, pode constituir um severo trauma
psicológico para a criança que é prematuramente colocada nesta situação.
Geralmente, os Jardins Infantis não aceitam crianças com menos de 3 anos de idade ou que
ainda usem fraldas, considerando que o uso das fraldas depois desta idade (enurese primária) revela
alguma imaturidade afetivo-social, necessitando a criança de estar mais tempo com a mãe, no seu
seio familiar, antes de ingressar no meio escolar.
Se, depois de já ter deixado as fraldas e, ao entrar para o Jardim Infantil, a criança começar a
ter "acidentes molhados ou sujos" (enurese secundária), poderá ser um sinal de que sucedeu
qualquer problema psicológico grave, como, entre outros, mesmo o entrar para a escola sem possuir
maturidade para tal, devendo por isso ser imediatamente enviada a uma consulta de psicologia
clínica, atuando-se em conformidade com o diagnóstico e o aconselhado pelo psicólogo.
No caso de enurese primária, não será recomendável que o educador do Jardim Infantil
procure organizar quaisquer atividades de ensino-aprendizagem do controle dos esfíncteres. Pelos
fatores afetivo-relacionais já referidos anteriormente, é imprescindível que seja a mãe a encarregar-
se no assunto.
Nos casos de enurese secundária, o educador deverá seguir os conselhos do psicólogo, dado
que na maioria das vezes é necessária uma ação concertada dos psicoterapeutas (para além da
terapia da criança é também muitas vezes necessária uma terapia familiar), dos pais (em especial da
mãe), da família e de todos os agentes educativos, em que o educador possui um papel
predominante.
As recomendações atrás referidas para não deixar que ninguém se aperceba dos "descuidos",
para evitar atitudes de repulsa ou de nojo, bem como ameaças, castigos ou humilhações, são
extensivas não só para as crianças enuréticas ou encopréticas, mas para todas as crianças do
Jardim Infantil, dado que todas se encontram ainda numa fase de solidificação das aprendizagens
dos hábitos de higiene, não estando nenhuma livre da ocorrência ocasional de qualquer "acidente":
Que cada criança tenha o seu bacio, de preferência aquele bacio no qual aprenderam em
casa os seus hábitos de higiene (compra-se outro para casa), que possui algo de transacional
com o ato e a relação afetiva com a sua mãe;
Criar uma rotina, havendo um horário sistemático e considerando-a ao mesmo nível de
qualquer outra atividade educativa, para as crianças (sobretudo as mais pequenas) se
sentarem nos respectivos bacios;
8
Continuar as ações de reforço, gratificando com alegria, palmas, canções ou de qualquer
outro modo, aquelas crianças que forem mostrando o "xixi" ou o "cocô" acabado de fazer;
Gratificar ainda de modo mais intenso aquelas crianças que, fora deste horário, pedirem para
ir ao bacio e mostrem o que acabaram de "fazer".
Como as crianças variam muito nos seus hábitos nestas idades, o educador deverá procurar
descobrir o horário mais conveniente para as suas crianças, de modo a que a "atividade educativa
do bacio" suceda minutos antes das necessidades gerais nesse sentido, De um modo geral, há
necessidade desta atividade antes do deitar para a sesta e logo a seguir ao acordar, variando ao
longo do dia, de grupo para grupo de crianças, espaçando-se com o evoluir da idade.
O ritmo de reflexão da bexiga é, na criança de 3 aos 6 anos, muito variável, sendo por vezes
bastante rápido.
Tudo o que cause excitação, alegria, entusiasmo e movimentação, provoca um imediato aumento
da secreção da urina e um conseqüente enchimento muito rápido da bexiga, pelo que o educador
deverá ter o cuidado de fazer com que as crianças façam o "ritual do bacio" antes de festas, danças,
jogos e brincadeiras muito excitantes, bem como fazer intervalos nestas para o mesmo efeito.
A excitação e o interesse pelas atividades de que gosta levam muitas vezes a criança a
"esquecer-se de sentir vontade" e às vezes até nem notam "que se molhou" antes da brincadeira
terminar.
Entre as outras atividades educativas, alguns psicanalistas, entre os quais J. Santos (1980),
referem como as que mais ajudarão a criança nesta fase do seu desenvolvimento, todas aquelas
que a levarem a manusear matérias líquidas e pastosas: água, sabonetes, areia, areia molhada,
lama, digipintura, barro, plasticinas, massa de pão, etc.
NA ESCOLARIDADE BÁSICA
É raro aparecer enurese primária na escolaridade básica, sendo mais freqüentes os casos de
enurese secundária, envoltos numa complexidade etiológica, associada a diferentes traumas e a
fortes situações de angústia.
Mais do que nunca, deve-se ter os maiores cuidados em não castigar, ameaçar ou criticar a
criança que se "molha", compreendendo que ela não o faz de propósito, sendo ela própria a primeira
a desejar evitar que tal aconteça.
9
O professor terá que, nestas situações, ajudá-la a limpar-se e a mudar de roupa, sem críticas,
sem comentários e, sobretudo, sem que mais ninguém saiba do que se passa, nomeadamente
colegas e outros adultos.
Quaisquer escárnios ou humilhações ("- Sr. professor, este menino cheira mal!...", "-... fez xixi
nas calças!", "-... é o mijão!...", "-... o porcalhão...", "- Não o quero na minha mesa porque cheira
mal!", etc.), mais do que imediatamente desviados, devem, sobretudo, ser evitados, pela ação
preventiva do professor, adiantando-se a qualquer situação que possa eventualmente dar origem a
situações do conhecimento de terceiros que possam causar estas exclamações.
Procurar descobrir qual o horário mais freqüente dos "acidentes", para aconselhar
particularmente a criança a ir à casa de banho uns minutos antes, é um procedimento da parte do
professor, tão simples quanto eficaz.
Interessa também que o professor crie com a criança um clima de amizade, de carinho e de
compreensão tal que, quando houver um "acidente", a criança se sinta inteiramente à vontade para
lhe fazer um discreto sinal, sabendo que o professor lhe vai imediatamente acudir, nem que ninguém
note alguma coisa.
Como atividades educativas que contribuirão mais ou menos diretamente para ajudar a passar
estes problemas, alguns autores, para além do manuseamento-modelagem (barro, lama, digitinta,
plasticina, massa de pão, etc.) recomendam atividades que envolvam coleções, ordenações e
seriações, bem como o desenvolvimento das qualidades de arrumação e de pontualidade.
10