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Esgotamento sanitário

Processos de tratamento
e reuso de esgotos

Guia do profissional em treinamento Nível 2


Promoção Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental – ReCESA

Realização Núcleo Regional Nordeste – NURENE

Instituições integrantes do NURENE Universidade Federal da Bahia (líder) | Universidade Federal do Ceará |
Universidade Federal da Paraíba | Universidade Federal de Pernambuco

Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia I Fundação Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde I Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades

Apoio organizacional Programa de Modernização do Setor de Saneamento – PMSS

Comitê gestor da ReCESA Comitê consultivo da ReCESA


- Ministério das Cidades; - Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC
- Ministério da Ciência e Tecnologia; - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES
- Ministério do Meio Ambiente; - Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH
- Ministério da Educação; - Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP
- Ministério da Integração Nacional; - Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais – AESBE
- Ministério da Saúde; - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE
- Banco Nacional de Desenvolvimento - Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica – CONCEFET
Econômico Social (BNDES); - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA
- Caixa Econômica Federal (CAIXA). - Federação de Órgão para a Assistência Social e Educacional – FASE
- Federação Nacional dos Urbanitários – FNU
- Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas – FNCBHS
- Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras
– FORPROEX
- Fórum Nacional Lixo e Cidadania – LeP
- Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental – FNSA
- Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
- Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS
- Programa Nacional de Conservação de Energia – PROCEL
- Rede Brasileira de Capacitação em Recursos Hídricos – Cap-Net Brasil

Parceiros do NURENE
- ARCE – Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará
- Cagece – Companhia de Água e Esgoto do Ceará
- Cagepa – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba
- CEFET Cariri – Centro Federal de Educação Tecnológica do Cariri/CE
- CENTEC Cariri – Faculdade de Tecnologia CENTEC do Cariri/CE
- Cerb – Companhia de Engenharia Rural da Bahia
- Compesa – Companhia Pernambucana de Saneamento
- Conder – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
- EMASA – Empresa Municipal de Águas e Saneamento de Itabuna/BA
- Embasa – Empresa Baiana de Águas e Saneamento
- Emlur – Empresa Municipal de Limpeza Urbana de João Pessoa
- Emlurb / Fortaleza – Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização de Fortaleza
- Emlurb / Recife – Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife
- Limpurb – Empresa de Limpeza Urbana de Salvador
- SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto do Município de Alagoinhas/BA
- SANEAR – Autarquia de Saneamento do Recife
- SECTMA – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco
- SEDUR – Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia
- SEINF – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura de Fortaleza
- SEMAM / Fortaleza – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano
- SEMAM / João Pessoa – Secretaria Executiva de Meio Ambiente
- SENAC / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Pernambuco
- SENAI / CE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará
- SENAI / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Pernambuco
- SEPLAN – Secretaria de Planejamento de João Pessoa
- SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado da Paraíba
- UECE – Universidade Estadual do Ceará
- UFMA – Universidade Federal do Maranhão
- UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco
- UPE – Universidade de Pernambuco
Esgotamento sanitário

Processos de tratamento
e reuso de esgotos

Guia do profissional em treinamento Nível 2


EXX Esgotamento sanitário: processos de tratamento e reuso de esgotos: guia do
profissional em treinamento: nível 2 / Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental (org). – Salvador: ReCESA, 2008. 179 p.

Nota: Realização do NURENE – Núcleo Regional Nordeste; coordenação de


Viviana Maria Zanta, José Fernando Thomé Jucá, Heber Pimentel Gomes e
Marco Aurélio Holanda de Castro.

1. Saneamento e saúde. 2. Qualidade da água – fundamentos. 3.


Tecnologias de tratamento – operações, processos e graus. 4. Soluções
individuais para destino e tratamento de esgotos domésticos. 5. Estações
de tratamento de esgotos – concepção e arranjos. 6. Tratamento
preliminar. 7. Tratamento primário. 8. Tratamento anaeróbio. 9. Lagoas
de estabilização. 10. Tratamento aeróbio – noções. 11. Águas servidas e
lodo – manejo e reuso. 12. Legislação aplicada. I. Brasil. Secretaria
Nacional de Saneamento Ambiental. II. Núcleo Regional Nordeste.

CDD – XXX.X

Catalogação da Fonte:

Coordenação Geral do NURENE


Profª. Drª. Viviana Maria Zanta

Organização do guia
Professor André Bezerra dos Santos

Créditos
André Macedo Faço | Elisângela Maria Rodrigues Rocha
Fernando José da Silva Araújo | Gilson Barbosa Athayde Júnior
Marcos Erick Rodrigues da Silva | Neyliane Costa de Souza
Paula Loureiro Paulo | Renato Carrhá Leitão
Sandra Tédde Santaella | Soraia Tavares de Souza Gradvohl
Suetônio Mota
Marcos von Sperling | Silvio Roberto Magalhães Orrico
Hugo Vítor Dourado de Almeida

Central de Produção de Material Didático


Patrícia Campos Borja | Alessandra Gomes Lopes Sampaio Silva

Projeto Gráfico
Marco Severo | Rachel Barreto | Romero Ronconi

Impressão
Fast Design

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte.
Apresentação da ReCESA

A criação do Ministério das Cidades no A ReCESA tem o propósito de reunir um


Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da conjunto de instituições e entidades com
Silva, em 2003, permitiu que os imensos o objetivo de coordenar o
desafios urbanos passassem a ser desenvolvimento de propostas
encarados como política de Estado. Nesse pedagógicas e de material didático, bem
contexto, a Secretaria Nacional de como promover ações de intercâmbio e de
Saneamento Ambiental (SNSA) inaugurou extensão tecnológica que levem em
um paradigma que inscreve o saneamento consideração as peculiaridades regionais e
como política pública, com dimensão as diferentes políticas, técnicas e
urbana e ambiental, promotora de tecnologias visando capacitar
desenvolvimento e redução das profissionais para a operação,
desigualdades sociais. Uma concepção de manutenção e gestão dos sistemas e
saneamento em que a técnica e a serviços de saneamento. Para a
tecnologia são colocadas a favor da estruturação da ReCESA foram formados
prestação de um serviço público e Núcleos Regionais e um Comitê Gestor,
essencial. em nível nacional.

A missão da SNSA ganhou maior


Por fim, cabe destacar que este projeto
relevância e efetividade com a agenda do
tem sido bastante desafiador para todos
saneamento para o quadriênio 2007-
nós: um grupo predominantemente
2010, haja vista a decisão do Governo
formado por profissionais da área de
Federal de destinar, dos recursos
engenharia que compreendeu a
reservados ao Programa de Aceleração do
necessidade de agregar outros olhares e
Crescimento (PAC), 40 bilhões de reais
saberes, ainda que para isso tenha sido
para investimentos em saneamento.
necessário "contornar todos os meandros
do rio, antes de chegar ao seu curso
Nesse novo cenário, a SNSA conduz ações principal".
de capacitação como um dos
instrumentos estratégicos para a
Comitê Gestor
Gestor da ReCESA
modificação de paradigmas, o alcance de
melhorias de desempenho e da qualidade
na prestação dos serviços e a integração
de políticas setoriais. O projeto de
estruturação da Rede de Capacitação e
Extensão Tecnológica em Saneamento
Ambiental – ReCESA constitui importante
iniciativa nessa direção.
NURENE Os Guias

O Núcleo Regional Nordeste (NURENE) tem A coletânea de materiais didáticos


por objetivo o desenvolvimento de produzidos pelo NURENE é composta de
atividades de capacitação de profissionais 19 guias que serão utilizados nas Oficinas
da área de saneamento, em quatro de Capacitação para profissionais que
estados da região Nordeste do Brasil: atuam na área de saneamento. Quatro
Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco. guias tratam de temas transversais,
quatro abordam o manejo das águas
O NURENE é coordenado pela pluviais, três estão relacionados aos
Universidade Federal da Bahia (UFBA), sistemas de abastecimento de água, três
tendo como instituições co-executoras a são sobre esgotamento sanitário e cinco
Universidade Federal do Ceará (UFC), a versam sobre o manejo dos resíduos
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a sólidos e limpeza pública.
Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). O público alvo do NURENE envolve
profissionais que atuam na área dos
O NURENE espera que suas atividades serviços de saneamento e que possuem
possam contribuir para a alteração do um grau de escolaridade que varia do
quadro sanitário do Nordeste e, semi-alfabetizado ao terceiro grau.
consequentemente, para a melhoria da
qualidade de vida da população dessa Os guias representam um esforço do
região marcada pela desigualdade social. NURENE no sentido de abordar as
temáticas de saneamento segundo uma
proposta pedagógica pautada no
Coordenadores Institucionais do NURENE
reconhecimento das práticas atuais e em
uma reflexão crítica sobre essas ações
para a produção de uma nova prática
capaz de contribuir para a promoção de
um saneamento de qualidade para todos.

Equipe da Central de Produção de Material Didático – CPMD


Apresentação da área temática

Esgotamento sanitário

O tema esgoto foi dividido em duas


grandes áreas: esgotamento sanitário e
tratamento de esgotos. Na parte de
esgotamento sanitário, consideraram-se os
aspectos relacionados aos fundamentos de
projeto, operação e manutenção das
diversas partes que compõem o sistema,
de forma a proporcionar à audiência uma
visão macro do assunto. Na parte do
tratamento de esgotos, procurou-se, além
de abordar os aspectos de projeto,
operação e manutenção de ETEs, atentar
sobre a importância do mesmo na questão
da saúde pública, além de formas de reuso
de esgotos e lodo em irrigação.
Finalmente, abordou-se o assunto
qualidade de água e controle de poluição
de uma maneira simples e objetiva,
tentando assim mostrar a enorme
importância do assunto aos dois públicos
alvos do NURENE.

Conselho Editorial de Esgotamento Sanitário


Sumário

Saneamento e saúde ..................................................................................09

Fundamentos de qualidade da água ...........................................................19

Processos, níveis e tecnologias de tratamento ............................................36

Destino e tratamento dos esgotos domésticos através de soluções


individuais .................................................................................................48

Concepção e arranjos de estações de tratamento de esgotos .....................63

Tratamento preliminar de esgotos .............................................................73

Tratamento primário de esgotos ................................................................85

Tratamento anaeróbio de esgotos ..............................................................92

Lagoas de estabilização ............................................................................109

Noções de tratamento aeróbio de esgotos ................................................124

Manejo e reuso de águas servidas ............................................................140

Legislação aplicada ao descarte de esgotos em corpos d’água e reuso de


esgotos em irrigação ................................................................................158

Referências ..............................................................................................172
Saneamento e saúde

Autores: Suetônio Mota e Márcio Botto

Condições de saneamento básico e saúde

As ações de saneamento básico compreendem, principalmente, o abastecimento de água


potável, o esgotamento sanitário e o manejo adequado das águas pluviais e dos resíduos
sólidos. Essas ações integradas são indispensáveis para que várias enfermidades não
ocorram em uma comunidade.

Muitas doenças são veiculadas a partir de fezes humanas e podem ser transmitidas de uma
pessoa doente para uma sadia por meio da água ou pelo contato com o ambiente
contaminado por dejetos.

O Brasil é um país com profunda desigualdade social, que torna um desafio as ações de
promoção da saúde. Infelizmente, ainda é precário, no Brasil, o atendimento à população,
por serviços de saneamento básico, especialmente o esgotamento sanitário.

Devido ao lançamento de efluentes de esgoto sem tratamento, com elevada carga de


poluição, nos recursos hídricos e suas proximidades, a população está sujeita a captar água
de poços ou mananciais superficiais, imprópria sanitariamente para consumo humano.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios de 2005, 67% da população da região Nordeste contava com
abastecimento de água por rede geral, enquanto este índice alcançava 79% para o Brasil.
Essa disparidade regional é mostrada na Figura 1.
Fonte: IBGE Estatcart (2004), sistematizados
por Botto (2006).

Figura 1. Domicílios sem abastecimento de água por rede geral no Brasil. 2000.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 9


Existe também, uma enorme disparidade nas condições de precariedade de saneamento
entres as zonas rurais e urbanas. No Brasil, em 2000, 90% dos domicílios situados na área
urbana eram abastecidos por rede geral, no entanto, somente 18% na área rural possuíam
esse benefício.

Quanto ao esgotamento sanitário, os dados são mais alarmantes. De acordo com os dados
levantados pelo IBGE, em 2005, somente 27% da população do Nordeste e 48 % da
população do Brasil contavam com esgotamento sanitário por rede geral. A Figura 2
apresenta as condições de esgotamento sanitário para cada estado do Brasil. Esgotamento
sanitário adequado nesse mapa significa a destinação dos efluentes para rede coletora
pública ou para fossa séptica corretamente executada.

Não obstante, o indicador que mais impressiona é a falta de banheiros ou sanitários. Uma
em cada quatro casas na região Nordeste não dispõe de um sanitário ou um banheiro,
condição básica para destinar adequadamente os resíduos fecais (BOTTO, 2006).
Fonte: IBGE Estatcart (2004), sistematizados
por Botto (2006).

Figura 2. Domicílios sem esgotamento sanitário adequado no Brasil. 2000.

A inexistência de sistemas adequados para a destinação dos dejetos pode resultar no


contato do homem com os mesmos, ocasionando a transmissão de várias doenças.
Muitos microrganismos patogênicos estão presentes nas fezes humanas e podem alcançar
outras pessoas por diversas maneiras, causando-lhe doenças.

A falta de sistemas de coleta, tratamento e destinação final dos esgotos sanitários resulta
em formas inadequadas para sua disposição, tais como: lançamento em corpos de água;
disposição em terrenos; infiltração no solo e conseqüente poluição da água subterrânea.
Com isso, favorece-se o contato, de forma indireta, das pessoas com os dejetos,
ocasionando a proliferação de doenças.

No Brasil, 17,4% das crianças e adolescentes vivem sem abastecimento de água interna no
domicílio. Como conseqüência direta da falta de água tratada, a incidência de doenças
relacionadas com a água se torna elevada, ocasionando um excessivo número de óbitos,
principalmente de crianças de 0 a 5 anos, por diarréia aguda (OPS/OMS, 2002).

10 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Isso ressalta a necessidade da adoção de sistemas adequados para destinação dos resíduos
líquidos, especialmente a execução de serviços coletivos de coleta, tratamento e destinação
final de esgotos domésticos.

O destino adequado dos dejetos humanos do ponto de vista sanitário visa,


fundamentalmente, a evitar a poluição do solo e dos mananciais e o contato de moscas e
baratas (vetores) com as fezes, controlando e prevenindo as doenças a eles relacionadas. Do
ponto de vista econômico, condições adequadas de saneamento propiciam uma diminuição
das despesas com o tratamento de doenças evitáveis, redução do custo do tratamento da
água de abastecimento, pela prevenção da poluição dos mananciais e o controle da poluição
das praias e dos locais de recreação, com o objetivo de promover o turismo e a preservação
da fauna aquática (FUNASA, 2006).

Mecanismos de contato com dejetos

Várias são as formas das pessoas terem contato com dejetos, como mostrado na Figura 3.
As principais destinações dos esgotos domésticos, tratados ou não, são os corpos de água.
O lançamento de esgotos na água geralmente contribui para a ocorrência de várias doenças,
seja pela sua ingestão, por contato com a pele e mucosas, ou quando a mesma é usada na
irrigação ou preparação de alimentos.

A disposição não controlada de esgotos no solo pode ser causa de doenças, adquiridas pelo
contato das mãos, dos pés ou de outras partes do corpo com o terreno contaminado.
A falta de higiene pessoal pode levar à transmissão de doenças pelo contato de pessoa a
pessoa (mão x mão) e à contaminação de alimentos por meio da manipulação feita por
pessoas que não lavam as mãos após o uso da privada.

As moscas e baratas encontram nos dejetos locais para reprodução e para alimentação,
podendo causar a contaminação de alimentos e do ambiente, resultando na transmissão de
doenças. A carne de animais que se alimentam de fezes pode, também, causar doenças ao
ser humano, como, por exemplo, a teníase.

Para que as doenças veiculadas a partir de dejetos não ocorram é necessário evitar-se essas
diversas vias de transmissão. Muitas doenças são evitadas com a execução de sistemas
adequados de coleta, tratamento e destinação para os esgotos sanitários, seja por meio de
soluções individuais (fossas), mais indicadas para edificações isoladas, ou seja, áreas de
baixa densidade, ou pela implantação de serviços públicos de esgotamento sanitário,
soluções mais recomendadas para as áreas urbanas.

Além disso, é importante a educação sanitária da população, para que, com a adoção de
hábitos higiênicos, evite a contaminação de outras pessoas, dos alimentos e do ambiente.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 11


Ingestão

Água Irrigação

C ontato

Mãos
Solo
Pés
descalços

Dejetos de
p essoa Mãos
doente Mãos

Fonte: Adaptado de Mota (2006a).


Alimentos

Moscas Ambiente
Baratas

Alimentos

Carne de
Animais Ingestão

Figura 3. Mecanismos de transmissão de doenças a partir dos dejetos.

Dejetos e doenças

Várias doenças podem ser transmitidas a partir dos dejetos humanos, por diversos
mecanismos de veiculação, como mostrado na Figura 3.

O Quadro 1 relaciona algumas doenças veiculadas a partir de dejetos humanos, indicando os


seus modos de transmissão. Como se pode constatar nesse quadro, os mecanismos de
transmissão de doenças a partir de dejetos são: água, alimentos, mãos sujas, solo, moscas e
baratas, carne de animais doentes.

A giardíase, por exemplo, tem sua transmissão pela ingestão de cistos maduros, por meio
de águas e alimentos poluídos por fezes humanas, os quais podem ser contaminados,
também, por cistos veiculados por moscas e baratas; de pessoa a pessoa, por meio de mãos
sujas, em locais de aglomeração humana e onde há má higiene das mãos ao alimentar-se.
Essa infecção é com facilidade adquirida quando crianças defecam no chão e, brincando com
outras crianças, levam as mãos à boca (NEVES, 2000).

Quadro 1. Doenças transmitidas a partir de dejetos humanos e seus modos de transmissão


DOENÇA MODOS DE TRANSMISSÃO
Amebíase Ingestão de água ou de alimentos contaminados, moscas, mãos
sujas

12 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Ancilostomíase Contato com o solo contaminado

Ascaridíase Ingestão de ovos contidos no solo e nos alimentos

Cólera Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas,


moscas

Diarréias infecciosas Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas,


moscas

Esquistossomose Contato da pele ou mucosas com água contaminada

Febre tifóide Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas

Febre paratifóide Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas

Giardíase Mãos contaminadas por fezes contendo cistos; água e alimentos na


transmissão indireta

Hepatite infecciosa Contaminação feco-oral; ingestão de água e alimentos


contaminados

Poliomelite Indiretamente, por meio da ingestão de água contaminada; as


moscas podem funcionar como vetores mecânicos

Teníase Carne de animais doentes (que se alimentaram de fezes);


transferência direta da mão à boca; ingestão de água ou de
alimentos contaminados
Fonte: Mota (2006a)

Moraes (2000) indica que a prevalência de Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura é maior
em crianças moradoras de bairros sem esgotamento sanitário.

Segundo Marques (2003), citando outros autores, vários estudos mostram risco aumentado
da diarréia e parasitoses em domicílios sem disposição adequada de dejetos, seja por rede
pública ou fossa séptica.

A cólera é uma doença que tem nos dejetos a sua origem, sendo uma infecção intestinal
aguda causada pelo Vibrio cholerae, que é uma bactéria capaz de produzir uma enterotoxina
que causa diarréia. O V. cholerae penetra no organismo humano por ingestão de água ou de
alimentos contaminados (transmissão fecal-oral). Uma pessoa infectada elimina o V.
cholerae nas fezes por, em média, 7 a 14 dias. A água e os alimentos podem ser
contaminados, principalmente, por fezes de pessoas infectadas, com ou sem sintomas. Nos
anos de 1996 a 2000 ocorreram 12.284 casos confirmados de cólera no Brasil. A forma mais
efetiva de impedir a instalação da cólera em uma localidade é a existência de infra-estrutura
de saneamento básico adequada (PEDRO et al., 2007).

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 13


Outra enfermidade veiculada a partir de dejetos é a febre tifóide, enfermidade infecciosa
potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Salmonella typhi. A principal forma de
transmissão é a ingestão de água ou de alimentos contaminados com fezes humanas ou,
menos freqüentemente, com urina contendo a S. typhi. Mais raramente, pode ser transmitida
pelo contato direto (mão-boca) com fezes, urina, secreção respiratória, vômito ou pus
provenientes de um indivíduo infectado. De 1996 a 2006 foram confirmados 12.303 casos
de febre tifóide no Brasil (CASTIÑEIRA et al., 2007).

Nos países em desenvolvimento, a doença diarréica está entre as principais causas de


morbi-mortalidade em crianças, sendo ocasionada, predominantemente, pela transmissão
feco-oral, veiculada por água e alimentos contaminados por dejetos, devido à falta de um
adequado esgotamento sanitário.

Um estudo apresentado na Rio+10 pelo Pacific Institute of Oakland, indicou que o número
de mortes em decorrência do uso de água de baixa qualidade pode ultrapassar o de mortes
causadas pela pandemia global de Aids nas próximas duas décadas. Mesmo se os atuais
objetivos das Nações Unidas forem alcançados, ainda assim, 76 milhões de pessoas, a
maioria crianças, poderão morrer devido a doenças evitáveis relacionadas com a água, até
2020 (SAÚDE e TECNOLOGIA, 2002).

Fonte: http://www.undp.org
Você sabia...
 A falta de acesso à água e saneamento, mata uma criança a cada 19 segundos,
em decorrência de diarréia?
 Infecções parasitárias transmitidas pela água ou pelas más condições de
saneamento atrasam a aprendizagem de 150 milhões de crianças. Em razão
dessas doenças, são registradas 443 milhões de faltas escolares por ano?

 Você já relacionava a existência de alguma dessas

Debate doenças com as deficiências dos sistemas de


esgotamento sanitário? Qual delas?

Controle de doenças veiculadas a partir de dejetos

De acordo com Heller (1997), é possível afirmar, com segurança, que intervenções em
abastecimento de água e em esgotamento sanitário provocam impactos positivos em
diversos indicadores de saúde. É necessário, no entanto, o aprofundamento dessa
compreensão para situações particularizadas, em termos da natureza da intervenção, do
indicador medido, das características sócio-econômicas e culturais da população beneficiada
e do efeito interativo das intervenções em saneamento e destas com outras medidas
relacionadas à saúde.

14 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Heller (1997) ressalta, também, a grande importância da adoção de hábitos higiênicos para a
melhoria das condições de saúde, como medida complementar a implantação das
instalações de saneamento.

A seguir, são comentadas as diversas medidas preventivas a serem adotadas no controle de


doenças veiculadas a partir dos dejetos.

Destinação adequada para os esgotos sanitários:


sanitários A melhor maneira de evitar o contato de
pessoas com dejetos é a execução de sistemas adequados de coleta, tratamento e
destinação final para os esgotos sanitários. Em regiões isoladas, podem ser usadas as
fossas: fossa seca ou ecológica, onde não há água encanada; e fossa séptica, composta de
tanque séptico e sumidouro, onde as privadas são providas com descarga de água. Nos
centros urbanos com elevada densidade demográfica, a solução mais indicada é a rede
coletora pública de esgoto seguida de estação de tratamento de esgoto, onde o mesmo tem
suas cargas poluidoras reduzidas antes de ser lançado em algum corpo receptor. No
entanto, muitas cidades ou partes delas ainda não dispõem de eficientes sistemas públicos
coletores de esgoto, sendo indicado o uso de fossas sépticas, as quais, quando não
dimensionadas e executadas de forma adequada podem resultar em problemas de
contaminação ambiental (do solo e da água). Em ocupações urbanas ou rurais com baixas
densidades populacionais, podem ser executadas soluções individuais para os esgotos,
como as fossas sépticas, adotando-se os necessários cuidados para evitar a poluição
ambiental.

Sistemas de abastecimento de água


água:
gua Como
demonstrado, muitas doenças estão
relacionadas com a água, seja por ingestão
http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=oassu
ntoe.internaeid_tema=6eid_subtema=5ecd_area_atv=5

ou contato com a mesma. Assim, um


sistema de distribuição de água potável à
população constitui uma das medidas mais
eficazes de controle da transmissão de
doenças. A água a ser consumida pela
população deve ser, preferencialmente,
tratada em estações de tratamento, na
qual haja a desinfecção para a eliminação
de microrganismos patogênicos. Na
ausência de distribuição de água potável
pelo serviço público, devem ser adotadas
medidas simplificadas, caseiras, de
tratamento da água, como o uso de
hipoclorito de sódio, a fervura, a
desinfecção solar, dentre outras.
Figura 4. Sistema de abastecimento de água.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 15


Fonte: http://www.undp.org
Você
Você sabia...
 No mundo, as estimativas apontam para 1,1 bilhão de pessoas sem acesso a
água limpa, sendo que, dessas, cerca de duas em cada três vivem com menos de
dois dólares por dia?

Proteção dos alimentos:


alimentos Alimentos ingeridos crus não devem ser irrigados com água que
recebeu esgotos. Na preparação de alimentos deve ser usada água de qualidade adequada.
Quando houver dúvidas sobre a procedência dos alimentos, os mesmos devem ser bem
lavados em água limpa, antes de sua ingestão. Os alimentos devem ser protegidos do acesso
de vetores transmissores de doenças, como as moscas e as baratas.

Educação Sanitária:
Sanitária O impacto das ações de saneamento básico na incidência de doenças
pode variar, dependendo do comportamento da população quanto aos hábitos de higiene.
Segundo Marques (2003), para se avançar na redução da morbi-mortalidade por diarréia e
da prevalência de parasitoses intestinais, poderão ser necessárias mudanças
comportamentais somadas aos investimentos em saneamento básico. Não há dúvidas que
uma população que conta com serviços adequados de abastecimento de água e de
esgotamento sanitário tem menor risco de adquirir alguns tipos de doenças. No entanto, a
implantação desses serviços deve ser acompanhada da educação da população para a
adoção de práticas higiênicas, tais como: higiene corporal, incluindo a lavagem das mãos
após o uso da privada; evitar o contato do solo com as mãos ou com pés descalços; controle
do manuseio dos alimentos; combate a insetos vetores de doenças. O Quadro 2 relaciona a
redução de casos de doenças diarréicas com intervenções realizadas na comunidade.

Quadro 2. Redução de doenças diarréicas a partir de intervenções na comunidade

INTERVENÇÃO
INTERVENÇÃO REDUÇÃO DE DOENÇAS DIARRÉICAS

Higiene (educação sanitária) 45%


Qualidade de água melhorada 39%
Saneamento melhorado 32%
Quantidade de água melhorada 21%

Fonte: OMS (2004)

16 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Considerações finais

Pode-se afirmar que o controle da transmissão de doenças a partir de esgotos sanitários


depende, basicamente, das ações constantes do trinômio indicado na Figura 5.

ABASTECIMENTO
DE ÁGUA POTÁVEL
POTÁVEL

Fonte: http://www.undp.org
ESGOTAMENTO EDUCAÇÃO
SANITÁRIO SANITÁRIA

Figura 5. Ações para o controle de doenças veiculadas a partir de dejetos

Para que não ocorram doenças transmissíveis por microrganismos patogênicos presentes em
esgotos sanitários (nas fezes humanas), em uma comunidade, são indispensáveis as
seguintes ações:

− implantação de sistema de abastecimento de água potável.


− execução de rede coletora e de estação de tratamento de esgoto sanitário.
− educação da população para a adoção de hábitos de higiene pessoal e do ambiente.

Para refletir
 Você consegue compreender as relações entre o nível de atendimento dos serviços de
saneamento e a qualidade de vida das pessoas?
 De quais maneiras você imagina que a falta de um sistema adequado de coleta e
tratamento de esgoto sanitário pode afetar a qualidade de vida das pessoas?

Exercícios propostos

1. Explique a relação existente entre saneamento e saúde pública.

2. Enumere as principais formas que um agente patogênico pode chegar ao homem.

3. Descreva as principais medidas de controle de doenças.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 17


4. Pesquise sobre a situação do saneamento em sua cidade, em termos de abastecimento
de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos.

18 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Fundamentos de qualidade da água

Autores: Soraia Tavares de Souza Gradvohl, Neyliane Costa de Souza e André


Bezerra dos Santos

Poluição e contaminação das águas

A poluição das águas é principalmente resultante da adição de substâncias que alteram a


natureza do corpo hídrico e prejudicam os usos subseqüentes (VON SPERLING, 2005). Esse
conceito é relativo, já que indica que a água pode ser considerada poluída para certo uso e,
ao mesmo tempo, não poluída para outra finalidade. Tal fato decorre das próprias
características apresentadas pela água, que são definidas conforme o uso a que será dado,
por exemplo: a água para abastecimento humano deve apresentar características bem mais
restritivas do que para a atividade de navegação. As finalidades, bem como suas
características inerentes, são definidas e regulamentadas conforme as classes de
enquadramento dos corpos hídricos, que atualmente seguem a Resolução No 357/2005 do
CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

O homem contribui direta e indiretamente para a poluição e lançamento de poluentes


através de emissões pontuais (carga poluidora de forma concentrada) ou difusas (carga
poluidora dispersa, de forma distribuída). As principais fontes de poluição encontram-se
listadas no Quadro 3.

Quadro 3. Principais fontes de poluição da água.


De águas  Esgotos domésticos e industriais.
superficiais  Águas pluviais (carreamento de impurezas no solo, esgotos
lançados nas galerias e precipitação de poluentes atmosféricos).
 Resíduos sólidos.
 Erosão nas margens de mananciais (carreamento do solo)
 Pesticidas, fertilizantes, detergentes, etc.
De águas  Infiltração de esgotos (sumidouros, valas de infiltração, fossas
subterrâneas sépticas, sistemas de tratamento de esgotos e sistemas de
irrigação, quando há reuso).
 Percolação de chorume (depósitos de resíduos sólidos).
 Infiltração de águas poluídas com impurezas, pesticidas,
fertilizantes, detergentes, poluentes atmosféricos, etc.
 Vazamentos de tubulações e depósitos subterrâneos.
 Injeção de esgotos no subsolo.
 Intrusão salina (próximo ao mar).
 Outras fontes: cemitérios, minas, depósitos de materiais
radioativos, etc.
Fonte: Adaptado de Mota (2006a).

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 19


Alguns poluentes estão associados diretamente à transmissão de doenças relacionadas com
a água, gerando, portanto, uma preocupação sob o ponto de vista de saúde pública. Quando
a poluição existente ocasiona prejuízos à saúde humana diz-se que a água está
contaminada. Logo, toda água contaminada é poluída, mas a recíproca não é verdadeira. O
grau de poluição de um dado ambiente é avaliado mediante a análise dos parâmetros físico-
químicos e biológicos de qualidade de águas, os quais serão detalhados no presente
capítulo.

Principais parâmetros de qualidade da água

Parâmetros Físicos

Os parâmetros de qualidade de água são de suma importância para verificação de


atendimento aos padrões de potabilidade, balneabilidade, lançamento de esgoto tratado em
corpos d’água, reuso de águas em irrigação, piscicultura, indústria, etc. A água pode ser
avaliada tanto com relação aos aspectos físico-químicos quanto aos aspectos biológicos.
Dentre as características físicas de qualidade da água, são de fácil percepção a cor, turbidez,
sólidos, temperatura e odor, os quais são comentados a seguir, baseados em APHA (1998),
Metcalf e Eddy (2003), Jordão e Pessoa (2005) e Von Sperling (2005).

Cor
A presença de cor na água pode ser resultado de resíduos de origem
mineral ou vegetal, causada por substâncias como ferro ou manganês,
matérias húmicas, taninos, algas, plantas aquáticas e protozoários, ou por
resíduos orgânicos ou inorgânicos de indústrias, tais como produtos de
mineração, polpa, papel, etc. Nas estações de tratamento de água e esgoto
(que possuam efluentes coloridos), a determinação da cor é imprescindível,
por ser um parâmetro operacional de controle da qualidade da água nas
diversas etapas do tratamento, servindo como base para a obtenção dos
valores ideais das dosagens de produtos químicos quando são utilizados
processos de tratamento físico-químicos. A cor pode ser dita verdadeira ou
aparente, em que a cor verdadeira é obtida pela centrifugação ou filtração
da amostra.
.

Turbidez

Causada por sólidos em suspensão, tais como partículas inorgânicas como


areia, silte e argila, e partículas orgânicas como algas, bactérias, plâncton
em geral, etc. Há uma preocupação adicional no que se refere à presença
de turbidez nas águas submetidas à desinfecção, já que os sólidos
presentes podem abrigar microrganismos, protegendo-os contra a ação do
agente desinfetante.

20 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Sólidos
No âmbito do saneamento ambiental, sólidos nas águas correspondem a
toda matéria que permanece como resíduo, após evaporação, secagem ou
calcinação da amostra a uma temperatura pré-estabelecida durante um
tempo fixado. Em linhas gerais, as operações de secagem, calcinação e
filtração são as que definem as diversas frações de sólidos presentes na
água (sólidos totais, em suspensão, dissolvidos, fixos e voláteis). Têm
importância nos estudos de controle de poluição das águas naturais e,
principalmente, nos estudos de caracterização de esgotos sanitários e de
efluentes industriais. As determinações dos níveis de concentração das
diversas frações de sólidos resultam em um quadro geral da distribuição
das partículas com relação ao tamanho (sólidos em suspensão e
dissolvidos) e à natureza (fixos ou minerais e voláteis ou orgânicos).
.

Frações
a) Sólidos Totais (ST): resíduo que resta na cápsula após a evaporação em banho-maria de
uma porção de amostra e sua posterior secagem em estufa a 103-105°C até peso constante.
Também denominado resíduo total.
b) Sólidos em Suspensão (ou sólidos suspensos) (SS): porção dos sólidos totais que fica
retida em um filtro que propicia a retenção de partículas de diâmetro maior ou igual a 1,2
µm. Também denominado resíduo não filtrável.
c) Sólidos Dissolvidos (SD): porção dos sólidos totais que passa pelo filtro, Também
denominado resíduo filtrável. É obtido pela diferença entre ST e SS.
d) Sólidos Voláteis (SV): porção dos sólidos (sólidos totais, suspensos ou dissolvidos) que se
perde após a ignição ou calcinação da amostra a 550-600°C, durante uma hora para sólidos
totais ou dissolvidos voláteis ou 15 minutos para sólidos em suspensão voláteis, em forno
mufla. Também denominado resíduo volátil.
e) Sólidos Fixos (SF): porção dos sólidos (totais, suspensos ou dissolvidos) que resta após a
ignição ou calcinação a 550-600°C após uma hora (para sólidos totais ou dissolvidos fixos)
ou 15 minutos (para sólidos em suspensão fixos) em forno-mufla. Também denominado
resíduo fixo.
f) Sólidos Sedimentáveis (SSed): porção dos sólidos em suspensão que se sedimenta sob a
ação da gravidade durante um período de uma hora, a partir de um litro de amostra mantida
em repouso em um cone Imhoff.

Temperatura
A temperatura é uma condição ambiental muito importante em diversos
estudos relacionados ao monitoramento da qualidade de águas e no
tratamento de esgotos, já que interfere diretamente nas taxas de
reprodução da biota aquática e nos microrganismos envolvidos no
tratamento de esgotos. O aumento da temperatura provoca o aumento da
velocidade das reações, em particular as de natureza bioquímica de
decomposição de compostos orgânicos. Entretanto, o incremento da
temperatura diminui a solubilidade de gases dissolvidos na água, em
particular o oxigênio, base para a decomposição aeróbia.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 21


Odor
A água pura não produz sensação de odor nos sentidos humanos. Uma das
principais fontes de odor nas águas naturais é a decomposição biológica da
matéria orgânica. No meio anaeróbio, isto é, no lodo de fundo de rios e de
represas e, em situações críticas, em toda a massa líquida, ocorre a formação
do gás sulfídrico, H2S, que apresenta odor típico de ovo podre, de
mercaptanas e amônia, esta última ocorrendo também em meio aeróbio.
Águas eutrofizadas, isto é, águas em que ocorre a floração excessiva de algas
devido à presença de grandes concentrações de nutrientes liberados de
compostos orgânicos biodegradados, podem também manifestar odor. Em
tratamento de esgotos, compostos odoríferos podem ser gerados em ETEs
(Estações de Tratamento de Esgotos) que possuam tratamento anaeróbio
como lagoas de estabilização, digestores anaeróbios de fluxo ascendente
(DAFAs), fossas sépticas, filtros anaeróbios, etc., sendo algumas vezes o
limitante da seleção do tipo de tratamento de esgotos adotado.

Parâmetros Químicos
São relacionados tanto com os agentes químicos do ar e solo durante o ciclo biogeoquímico,
quanto provenientes da poluição antrópica, podendo ser de natureza orgânica ou inorgânica.
Os principais parâmetros químicos de qualidade de água são: matéria orgânica (DBO e DQO),
pH, alcalinidade, cloretos, amônia, nitrato, nitrito, fósforo total, ortofosfato, sulfato e
sulfeto, os quais serão discutidos a seguir, baseados em APHA (1998), Jordão e Pessoa
(2005) e Von Sperling (2005).

Matéria orgânica
Nas águas residuárias, encontra-se presente uma grande variedade de compostos orgânicos,
que podem estar suspensos ou dissolvidos. Estes compostos são constituídos de matéria
orgânica carbonácea (que tem como base o carbono orgânico) e microrganismos (vivos ou
mortos).

Matéria orgânica carbonácea: Corresponde à matéria presente


no esgoto que pode ser consumida pelos microorganismos em
seus processos metabólicos. As principais categorias de
matéria orgânica encontrada nos esgotos sanitários são
proteínas, carboidratos, gorduras e óleos, além de uréia,
fenóis, pesticidas, entre outros (COSSICH, 2006).

Dentre os métodos de laboratório mais empregados para quantificar a matéria orgânica num
corpo d’água, destacam-se os testes da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda
Química de Oxigênio (DQO), ambos baseados na oxidação do material orgânico. Em ambos,
a concentração do material orgânico está relacionada ao consumo de oxidante para a
oxidação. As diferenças essenciais entre os testes estão no oxidante utilizado e nas
condições operacionais de cada teste. É fundamental salientar que os compostos orgânicos
avaliados no teste podem ser divididos em dois grupos:

22 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


1. Biodegradáveis: compostos que podem ser oxidados biologicamente pelos
microrganismos presentes no meio;
2. Não-biodegradáveis: compostos que não podem ser degradados biologicamente, como
alguns tipos de detergentes e de derivados de petróleo, por exemplo.

No teste da DBO, detecta-se somente a fração biodegradável, ou seja, a fração não


biodegradável não interfere no teste. Já no teste da DQO, são detectadas ambas as frações
biodegradáveis e não biodegradáveis. Assim, para a mesma amostra de esgoto, sempre a
DQO será superior à DBO.

Considerando-se a importância desses dois testes na análise de qualidade de água, a DQO


em função da simplicidade do teste e a DBO por melhor traduzir a possibilidade ou não de
processos biológicos de tratamento de esgotos, eles serão mais detalhados a seguir:

Demanda Bioquímica de Oxigênio


É definida como a quantidade de oxigênio dissolvido (OD) necessária para estabilizar a
matéria orgânica através da ação de bactérias aeróbias. Em outras palavras, a DBO é a
diferença de OD no início do teste e após um tempo de incubação de cinco dias a 20 ºC.
A DBO é expressa em mgO2/L.

A DBO possui a capacidade de definir a quantidade de matéria orgânica presente que, por
sua vez, determina o grau de poluição de uma água residuária.

Atenção!!!

Note que: quanto maior é a DBO do esgoto, maior será o dano que o mesmo pode causar no
ambiente.

Demanda Química de Oxigênio


Este parâmetro mede a concentração da matéria orgânica indiretamente pela oxidação da
mesma por um agente químico oxidante, em meio ácido. Uma das grandes vantagens sobre
a DBO é o tempo de resposta (apenas 2 horas). Além disso, consegue envolver tudo o que é
susceptível a demandas de oxigênio, como sais minerais oxidáveis e não somente a
demanda satisfeita biologicamente. Outra vantagem é que não está sujeito à interferência da
nitrificação, como na DBO.

A DQO é também expressa em mgO2/L.

Atenção!!!

Note que: quanto maior é a DQO do esgoto, maior será o consumo de oxigênio nos corpos
d’água e maior o potencial de dano no meio ambiente.

A DQO sempre será maior do que a DBO. O que vai aumentar ou diminuir a relação DQO/DBO
é a presença do material biodegradável. Quanto menor o valor da relação DQO/DBO, maior a
fração de material biodegradável.

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pH e alcalinidade
O termo pH expressa a intensidade da condição ácida ou básica de
um certo meio. Os esgotos sanitários apresentam-se, de um modo
geral, neutros ou ligeiramente alcalinos (pH de 6,7 a 7,5).
A determinação do pH é uma das mais comuns e importantes no
contexto do tratamento de águas residuárias por processos
químicos ou biológicos. Nestas circunstâncias, o pH deve ser
mantido em faixas adequadas ao desenvolvimento das reações
químicas ou bioquímicas do processo. No tratamento de lodos de
ETE’s, especificamente através da digestão anaeróbia, o pH
representa um dos principais parâmetros de controle do processo.
Alcalinidade é a medida da capacidade do líquido em neutralizar
ácidos. Ela é um importante parâmetro físico-químico devido à
capacidade de atuar no tamponamento do sistema e evitar a queda
do pH que pode levar o processo de tratamento ao colapso.

Condutividade
Definida como a medida de sua capacidade de conduzir corrente
elétrica sendo dependente do número e do tipo de espécies
iônicas nela dispersas. Este parâmetro é geralmente expresso
em bmhos/cm ou bS/cm. Águas de abastecimento e águas
residuárias domésticas têm geralmente valores de condutividade
entre 50 e 1500 bS/cm, sendo a condutividade do esgoto 2-4
vezes superior a da água. Medidas de condutividade são
importantes na prática da irrigação, aqüicultura e prevenção de
corrosão, especialmente na área do reuso de águas.

Nitrogênio

Dentre os componentes inorgânicos presentes no esgoto, o nitrogênio


em sua forma orgânica merece especial atenção nas análises de
qualidade de água, não somente por ser um nutriente indispensável para
o crescimento dos microrganismos envolvidos no tratamento biológico de
esgotos, como também por possibilitar o desenvolvimento de algas e
plantas aquáticas (eutrofização) e subseqüente comprometimento da
qualidade dos corpos receptores.
No meio aquático, o nitrogênio pode-se encontrar nas formas molecular
(gasosa), orgânica (dissolvida ou em suspensão), amoniacal como amônia
livre (NH3) ou ionizada (NH4+), de nitritos (NO2-) e de nitratos (NO32-).

Um resumo das principais formas de nitrogênio é apresentado no Quadro 4.

Quadro 4. Principais formas de nitrogênio presentes nos esgotos.


Formas de nitrogênio Abreviação Definição
Amônia livre NH3 NH3
Amônia ionizada NH4+ NH4+
Nitrogênio total amoniacal NTA NH3 + NH4+
Nitrito NO2- NO2-

24 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Nitrato NO3- NO3-
Nitrogênio total inorgânico NTI NH3 + NH4+ + NO2- + NO3-
Nitrogênio total Kjeldahl NTK N orgânico + NH3 + NH4+
Nitrogênio orgânico N orgânico NTK – (NH3 + NH4+)
Nitrogênio Total NT N orgânico + NH3 + NH4+ + NO2- + NO3-
Fonte: Metcalf e Eddy (2003).

Pelo fato de o nitrogênio ser um constituinte natural de proteínas, clorofila e muitos outros
compostos biológicos, ele é um componente sempre presente nos esgotos sanitários.
Nesses, as formas predominantes são o orgânico e o amoniacal (cerca de 99% do nitrogênio
total). Para o nitrogênio amoniacal, a forma NH3 (amônia livre) é predominante em valores de
pH superiores a 11, sendo a forma ionizada NH4+ predominante em pH inferior a 8. Deve-se
salientar que a presença de amônia livre, mesmo em pequenas concentrações, é prejudicial
aos peixes.

O nitrito e nitrato podem ser formados através da oxidação da amônia, em um processo


chamado nitrificação, o qual é realizado por bactérias autotróficas (não necessitam de
carbono presente na matéria orgânica carbonácea para o seu crescimento, mas o adquire a
partir do CO2) na presença de oxigênio. Em outro processo chamado de desnitrificação, o
nitrato formado é convertido em gás nitrogênio, o qual é realizado por bactérias
heterotróficas (necessitam de carbono presente na matéria orgânica carbonácea) na ausência
de oxigênio. A nitrificação, que ocorre em alguns processos de tratamento, consome
oxigênio dissolvido e alcalinidade, provocando subseqüente redução do pH, o que, se não
for controlado, pode trazer sérios problemas de eficiência da estação.

Atenção!!!

Amônia  Nitrito  Nitrato (Nitrificação)

Nitrato  Gás nitrogênio (Desnitrificação)

Nos cursos d’água, a presença de compostos de nitrogênio pode ser um indicador de


despejos de esgotos a montante e da “idade” destas ocorrências. Por exemplo, a presença
excessiva de nitrogênio amoniacal indicará poluição recente e a predominância de nitratos é
um indício de uma descarga mais antiga ou mais distante.

Fósforo Total e Ortofosfato


O fósforo, assim como o nitrogênio, é um nutriente essencial
para os microrganismos responsáveis pela degradação da
matéria orgânica, além de também contribuir para o processo
de eutrofização. O fósforo presente nos esgotos sanitários tem
origem principalmente da urina humana e do emprego de
detergentes, apresentando-se, sobretudo, nas formas
inorgânicas de ortofosfato, poli ou pirofosfatos e fósforo
orgânico. Os ortofosfatos são diretamente disponíveis para o
metabolismo biológico sem necessidade de conversões a
formas mais simples.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 25


Sulfato e Sulfeto A presença de sulfeto em águas residuárias se deve,
principalmente, à redução do sulfato presente pelas bactérias
que atuam nesse processo (BRS – bactérias redutoras de
sulfato). Em estações de tratamento de esgotos, a produção e
emissão de sulfeto de hidrogênio (H2S) causam odor repulsivo.
Em redes coletoras de esgoto construídas em concreto, o
sulfeto pode causar corrosão nas paredes devido a sua
conversão a ácido sulfúrico (H2SO4).

Oxigênio Dissolvido (OD)


O oxigênio dissolvido (OD) é de essencial importância
para os organismos aeróbios. Durante a estabilização da
matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio
nos seus processos respiratórios, podendo vir a causar
uma redução de sua concentração no meio.

Cloretos
Geralmente estão presentes em águas brutas e tratadas em
concentração que podem variar de pequenos traços até altas
concentrações, encontrando-se principalmente nas formas de
cloretos de sódio, cálcio e magnésio. Concentrações altas de cloretos
em esgotos podem restringir o descarte de efluentes em corpos
d’água e reuso de águas em irrigação, piscicultura e industrial. Os
métodos convencionais de tratamento de água e esgoto não removem
cloretos.

Os principais parâmetros químicos de qualidade de água são resumidos no Quadro 5.

Quadro 5. Principais parâmetros químicos de qualidade de água.


Matéria Orgânica  Proteínas, carboidratos, óleos e graxas, uréia, moléculas orgânicas
naturais ou sintéticas.
 Quantificação realizada em laboratório:
DBO5 - Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO - Demanda Química de Oxigênio
COT - Carbono Orgânico Total
Matéria  N e P  são nutrientes que podem levar à eutrofização dos corpos
inorgânica receptores;
 Sais  salinização de solos e água;
 Chumbo, arsênio, cromo, mercúrio, cianeto, zinco etc.  diferentes
níveis tóxicos aos organismos dos ecossistemas.
 pH e Alcalinidade
 Gases  N2, O2, CO2, H2S, CH4 (mais freqüentes)
Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003).

26 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


 Dos parâmetros físicos e químicos apresentados
até agora, qual (ou quais) você acredita ser o
Debate mais importante na operação de um sistema de
tratamento de esgotos?

Características Biológicas
Nos esgotos sanitários, há uma imensa variedade de microrganismos, a citar as bactérias,
archaea, protozoários, fungos e leveduras, algas, helmintos, etc., cada um com um papel
diferente tanto no tratamento de esgotos, quanto nos ciclos biogeoquímicos que se
desenvolvem nos corpos d’água em decorrência da chegada de esgotos. Por exemplo, um
grupo de microrganismos é responsável pela estabilização da matéria orgânica, outro é
responsável pela eliminação de nitrogênio, outro do fósforo e assim sucessivamente.

Uma parte desses microrganismos, denominados de aeróbios,


aeróbios somente desempenha as suas
funções na presença de oxigênio, em que a outra parte, denominados de anaeróbios,
anaeróbios
somente realiza trabalho na ausência (ou baixíssimas concentrações) de oxigênio. Existe
ainda um terceiro grupo de microrganismos, denominados de facultativos,
facultativos que conseguem
realizar metabolismo tanto na presença como na ausência de oxigênio. Quando existe uma
condição anaeróbia, mas existe nitrato, depara-se com uma condição anóxica. Os principais
grupos de microrganismos envolvidos no tratamento de esgotos são detalhados no Quadro
6.

Outro aspecto de grande relevância em termos da qualidade biológica da água refere-se à


possibilidade da transmissão de doenças, sendo os principais patogênicos as bactérias,
vírus, protozoários e helmintos. A origem desses patogênicos nos esgotos é
predominantemente humana.

A detecção de patógenos específicos em corpos d'água seria uma tarefa extremamente


difícil, com vista na grande diversidade desses microrganismos e sua baixa concentração na
amostra de água. Visando superar tal obstáculo, foi criado o conceito de organismos
indicadores de contaminação fecal. Apesar de os organismos indicadores serem
predominantemente não patogênicos, eles dão uma satisfatória indicação de quando uma
água apresenta contaminação por fezes humanas ou de animais e, por conseguinte, da sua
potencialidade para transmitir doenças. Os organismos mais comuns utilizados para tal
finalidade são as bactérias do grupo coliforme, podendo ser classificadas como fecais ou
termotolerantes e totais.

Quadro 6. Principais grupos de microrganismos envolvidos no tratamento biológico de esgotos.


Microrganismo Descrição
Bactérias  Procariotos unicelulares
 Apresentam-se em várias formas e tamanhos
 São os principais responsáveis pela estabilização da matéria
orgânica
 Algumas bactérias são patogênicas, causando principalmente
doenças intestinais

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 27


Archaea  Procariotos unicelulares
 Similares às bactérias em formas e tamanho
 Parede celular, material celular e composição do RNA são
diferentes
 Importantes para os processos anaeróbios (produção de metano)
 Em condições extremas de temperatura, pH, etc., são
normalmente os microrganismos predominantes
Fungos e  Eucariotos multicelulares, não fotossintéticos
Leveduras  Eucariotos heterotróficos
 Maioria é estritamente aeróbio
 Possuem também grande importância na estabilização da matéria
orgânica, podendo crescer em condições de baixa concentração de
nitrogênio e baixos valores de pH
 Leveduras são fungos unicelulares
Protozoários  Eucariotos unicelulares
 Seres aeróbios ou facultativos
 Alimentam-se de bactérias, algas e outros microrganismos
 São essenciais ao tratamento biológico para a manutenção de um
equilíbrio entre os diversos grupos
 Alguns são patogênicos
Algas  Eucariotos unicelulares ou multicelulares
 Autotróficos que realizam fotossíntese
 Importantes para o processo de tratamento de esgotos por lagoas
de estabilização
Vírus  São obrigatoriamente parasitas intracelulares que contêm material
genético (DNA ou RNA necessários para sua replicação).
 São incapazes de sintetizar compostos, invadindo células
(hospedeiros), onde se apossam e redirecionam as atividades celulares
para produzir novas partículas virais à custa das células dos hospedeiros
Helmintos  Animais superiores
 Ovos de helmintos presentes nos esgotos podem causar doenças
Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003) e Von Sperling (2005).

Conforme Von Sperling (2005), os coliformes termotolerantes (CTer) são um grupo de


bactérias presentes no trato intestinal de humanos e animais, compreendendo
principalmente o gênero Escherichia. O teste para CTer é feito a uma elevada temperatura,
objetivando a supressão de bactérias de origem não fecal. No entanto, mesmo nessas
condições, algumas bactérias não fecais ainda conseguem resistir ao aquecimento, o que
levou recentemente a se preferir substituir o termo coliforme fecal por coliforme
termotolerante, pelo fato de serem bactérias que resistem à elevada temperatura do teste,
mas não serem necessariamente fecais. Durante todas as etapas do tratamento há um
decaimento, mas a remoção completa dos CTer é muito difícil por processos físicos de
sedimentação, necessitando de tratamentos específicos de desinfecção como a cloração,
ultravioleta, ozônio etc. A Escherichia Coli é a principal bactéria do grupo coliformes fecais,
desenvolvendo-se apenas na flora intestinal dos animais de sangue quente, garantindo,
portanto, uma contaminação exclusivamente fecal. Dessa forma, funciona como um
indicador de contaminação fecal. Possui grande significância, mas não garante que a

28 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


contaminação seja de origem humana, já que também pode ser encontrado em outros
animais de sangue quente.

Para helmintos, como não há indicadores que possam substituí-lo, a presença de seus ovos
é determinada diretamente na análise laboratorial através de contagem. Esse parâmetro é
importante ao se avaliar o uso da água ou esgotos para irrigação, na qual os trabalhadores
podem ter contato direto com água contaminada e os consumidores podem ingerir vegetais
crus ou com casca. Tais ovos podem ser removidos pelo processo físico de sedimentação,
que ocorre, por exemplo, em lagoas de estabilização, e por filtração.

Conseqüências da poluição

O lançamento de esgotos em corpos de água ocasiona diversas conseqüências que vão do


caráter sanitário e ecológico ao social e econômico, englobando, entre outras coisas:
prejuízos aos usos da água (abastecimento humano, indústria, irrigação, pesca, recreação,
etc.); transmissão de doenças; desequilíbrios ecológicos com prejuízos aos peixes e outros
organismos aquáticos; proliferação excessiva de algas e vegetação aquática; elevação do
custo de tratamento da água; degradação da paisagem; desvalorização das propriedades
localizadas às margens e impactos diversos na qualidade de vida da população usuária.

O Quadro 7 indica algumas conseqüências da poluição, relacionando-as com as alterações e


os parâmetros existentes.

Quadro 7. Principais agentes poluidores e suas conseqüências.


Poluente (alteração) Conseqüências
Elevação da  Alterações nas reações químicas e biológicas
temperatura  Elevação da ação tóxica de elementos e compostos químicos
 Redução de teor de OD (ruim para a vida aquática aeróbia)
 Diminuição da viscosidade da água (afundamento de organismos)
Mudanças no pH  Corrosão
 Efeitos sobre flora e fauna
 Prejuízos para uso na agricultura
 Aumento da toxidez de alguns compostos
 Influência nos processos de tratamento
Sólidos  Soterramento de animais e ovos de peixes
 Aumento da turbidez da água (diminuição da atividade
fotossintética)
 Adsorção de poluentes (proteção de patogênicos)
 Depósitos de lodo
 Problemas estéticos
 Salinidade (inorgânicos dissolvidos)
 Toxicidade (inorgânicos dissolvidos)
Matéria orgânica  Redução de OD
biodegradável  Mortandade de peixes
 Maus odores (decomposição anaeróbia)
Matéria orgânica  Toxicidade (vários)

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 29


não-biodegradável  Espumas (detergentes)
 Redução da transferência de oxigênio (detergentes)
 Não-biodegradabilidade
 Maus odores (fenóis)
 Redução da tensão superficial
 Redução da viscosidade
 Danos à fauna
 Sabor
Nutrientes  Crescimento excessivo de algas (eutrofização: sabor, odor,
toxidez, corrosão, redução da penetração da luz solar, redução de OD,
danos à vida aquática, prejuízos à recreação e à navegação, entupimentos,
danos às bombas e turbinas, aspecto estético ruim)
 Toxicidade aos peixes (amônia)
 Doença em recém-nascidos (nitratos)
 Poluição de águas subterrâneas
Microrganismos  Doenças ao ser humano
patogênicos
Metais pesados e  Toxicidade
outros compostos  Inibição do tratamento biológico
tóxicos  Problemas de disposição de lodo para a agricultura
 Contaminação da água subterrânea
 Danos à saúde humana e aos organismos aquáticos
Corantes  Cor
 Redução da transparência (diminuição da atividade fotossintética)
 Prejuízos aos usos (manchas)
Substâncias  Danos à saúde humana
radioativas  Danos aos animais
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005).

Depuração em corpos d’água

Todo corpo d’água possui condições de recuperar-se naturalmente após o recebimento de


uma carga poluidora orgânica, fenômeno este denominado de autodepuração.
autodepuração A
autodepuração desenvolve-se ao longo do tempo, podendo ser dividida em zonas de acordo
com a dimensão longitudinal do curso d’água que recebe a matéria orgânica, sejam elas:
zona de degradação, zona de decomposição ativa, zona de recuperação e, por fim, zona de
águas limpas. Cada zona apresenta características e comportamentos distintos com relação
à matéria orgânica, ao OD, ao nitrogênio, aos organismos presentes e até mesmo ao aspecto
estético. O Quadro 8 ilustra as várias zonas de autodepuração e suas principais
características.

A forma mais comum de analisar a autodepuração é através da Curva de Depleção de


Oxigênio. A Figura 6 indica o comportamento do OD, da DBO e das bactérias aeróbias em
um curso d’água qualquer durante o processo de autodepuração.

30 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Mota (2006a) apresenta alguns fenômenos físicos, químicos e biológicos que podem
contribuir para a autodepuração em um curso d’água, e aqui encontram-se detalhados, tais
como:

 Fenômenos físicos:
- diluição: um dos mais importantes já que quanto maior a vazão do curso d’água em
relação à vazão do esgoto, maior será a sua capacidade em autodepurar-se, ou seja, de
recuperar-se. Para regiões semi-áridas, que possuem muitos rios intermitentes, esse
fenômeno é de pouca importância;
- turbulência: a absorção de oxigênio da atmosfera cresce com o aumento da turbulência;
- sedimentação: faz com que a demanda de oxigênio seja menor devido à maior deposição
de matéria orgânica no fundo;
- temperatura: influencia na concentração de saturação do oxigênio dissolvido e nas
atividades biológicas;
- luz solar: possui ação germicida e é fonte de energia no processo de fotossíntese;

 Fenômenos químicos:
- reações de oxidação: respiração e nitrificação;
- reações de redução: fotossíntese e desnitrificação;

 Fenômenos biológicos:
- predatismo: destruição de organismos patogênicos por outros organismos;
- aglutinação: junção de partículas arrastadas para o fundo;
- produção de antibióticos e toxinas: substâncias produzidas por microrganismos que têm
esse tipo de ação sobre bactérias patogênicas.

Quadro 8. Zonas da autodepuração e suas características.


Zona Características
Zona de  Tem início logo após o lançamento de esgotos
degradação  Alta concentração de matéria orgânica em estágio complexo
 Estética: aparência turva com formação de bancos de lodo (condições
anaeróbias e geração de gás sulfídrico que causa odor desagradável)
 Elevado consumo de oxigênio para estabilizar a matéria orgânica
 Início da proliferação bacteriana com predominância de formas aeróbias
 Aumento no teor de gás carbônico (subroduto da respiração)
 Diminuição do pH (formação de ácido carbônico)
 Compostos nitrogenados em teores elevados
 Sensível diminuição do número de espécies de seres vivos, mas com
espécies mais adaptadas com mais indivíduos
 Grande quantidade de patogênicos se o esgoto for doméstico
 Há protozoários (alimentam-se de bactérias) e fungos (alimentam-se de
matéria orgânica)
 Presença rara de algas e elevada turbidez
 Evasão de crustáceos, moluscos, peixes, etc.
Zona de  Início de reorganização do ecossistema
decomposição  Microrganismos atuando na decomposição da matéria orgânica
ativa  Estado mais deteriorado da qualidade da água

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 31


 Coloração acentuada e depósitos de lodo no fundo
 Menor concentração de OD (condições de anaerobiose)
 Vida anaeróbia predomina sobre a aeróbia
 Bactérias reduzem-se (falta de alimento, luz, floculação, adsorção e
precipitação)
 Maior parte do nitrogênio na forma de amônia (oxidando a nitrito no final
desta zona)
 Número de patogênicos diminui (não resistentes às novas condições
ambientais)
 Número de protozoários cresce
 Macrofauna ainda com espécies restritas
Zona de  Água mais clara e aparência melhor
recuperação  Lodo sedimentado com aparência granular (diminuição na emissão de
gases)
 Matéria orgânica bem estabilizada (compostos inertes)
 Consumo de oxigênio mais reduzido
 Aumento no teor de oxigênio (reaeração atmosférica > consumo de OD)
 Condições anaeróbias não ocorrem mais
 Amônia é convertida a nitritos e nitratos
 Fósforo convertido a fosfatos
 Desenvolvimento das algas (nutrientes e luz)
 Aumento da atividade fotossintética (aumento no teor de oxigênio)
 Bactérias e protozoários em número reduzido
 Aparecem microcrustáceos, vermes, dinoflagelados, esponjas, musgos e
larvas de insetos
 Surgem os primeiros peixes, mais tolerantes (cadeia alimentar mais
diversificada)
Zona de  Condições normais de teores de oxigênio, de matéria orgânica e de
águas limpas bactérias (patógenos, provavelmente também)
 Aparência semelhante à anterior no ponto de vista da poluição
 Predominância dos compostos minerais em formas oxidadas e estáveis
 Concentração de OD próxima a de saturação
 Maior riqueza em nutrientes
 Maior produção de algas
 Restabelecimento da cadeia alimentar (grandes crustáceos e vários peixes)
 Grande diversidade de espécies
 Ecossistema estável (clímax da comunidade)
Fonte: Adaptado de Mota (2006) e Von Sperling (2005).

32 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Esgoto (matéria orgânica)

Rio

OD

Distância

Fonte: Adaptado de Mota (2006)


DBO

Distância

Bact.
Aeró-
bias

Zona de Zona de Zona de Zona de


Degradação Decomposição Ativa Recuperação Águas Limpas

Figura 6. OD, DBO e Bactérias Aeróbias nas zonas da autodepuração.

A queda dos níveis de oxigênio dissolvido, por conseqüência do processo de respiração dos
microrganismos envolvidos na depuração dos esgotos, corresponde à resposta mais nociva
da poluição de um corpo d’água em termos ecológicos, cujo impacto estende-se a toda
comunidade aquática, onde certas espécies são naturalmente selecionadas em função da
redução dos teores de oxigênio. Diante desse fato, o oxigênio dissolvido tem sido
tradicionalmente utilizado para a verificação do grau de poluição e de autodepuração em
corpos d’água, onde ocorre, na verdade, um balanço entre as fontes de consumo e as fontes
de produção de oxigênio. Os principais fenômenos que interagem no balanço de oxigênio
dissolvido em um corpo d’água são mostrados no Quadro 9.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 33


Assim, o conhecimento da autodepuração possui grande importância para que seja mantida
a capacidade de tratamento natural de esgotos lançados por parte dos mananciais, de forma
a garantir a qualidade destes para os usos a que se destinam.

Quadro 9. Principais fenômenos que interagem no balanço de oxigênio dissolvido em um corpo


d’água.
Processo Impacto
Impacto no Balanço de OD
Respiração aeróbia Decréscimo
Digestão anaeróbia Nenhum
Fotossíntese Acréscimo
Nitrificação Decréscimo
Reaeração atmosférica Acréscimo

Atenção!!!

Note que: Se consumo > produção  concentração de oxigênio decresce


Se consumo < produção  concentração de oxigênio aumenta

Lembre-
Lembre-se, sua participação é muito importante.
Caso você tenha dúvidas ou comentários a fazer
sobre os assuntos abordados, exponha-
exponha-os a todos
os participantes!!!!
participantes!!!!

Exercícios propostos

1. Qual a diferença entre poluição e contaminação das águas?

2. Qual a importância dos parâmetros de qualidade de água para a conservação do meio


ambiente e uso das águas?

3. Relacione os principais parâmetros físicos, químicos e biológicos de qualidade de águas


a serem avaliados.

4. Liste as principais diferenças entre a DBO e DQO.

5. Quais os principais danos causados aos reservatórios superficiais pela emissão de


matéria orgânica e nutrientes?

6. Cite as principais vantagens da utilização dos coliformes termotolerantes como


indicadores de contaminação biológica.

34 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


7. Discorra sobre o fenômeno da autodepuração descrevendo de forma sucinta as
principais características das zonas de depuração ao longo do curso d´água.

8. Liste os principais problemas associados à eutrofização de águas superficiais.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 35


Processos, níveis e tecnologias de tratamento

Autores: André Bezerra dos Santos e Gilson Barbosa Athayde Júnior

Operações unitárias

Várias operações unitárias podem estar presentes nos diversos processos de tratamento de
esgotos, as quais objetivam a remoção de compostos ou redução das concentrações a níveis
aceitáveis.

Operações Unitárias: “operações onde ocorrem transformações


físicas e/ou físico-químicas, realizadas em equipamentos
específicos, tanto em escala piloto como industrial, que por meio
da aplicação dos fenômenos de transporte permitem e
complementam: a) a otimização e interação das conversões
químicas nos processos industriais; b) a preparação das
matérias-primas a serem processadas; c) a otimização e
racionalização energética dos processos; d) a separação e/ou
purificação dos produtos intermediários e/ou finais dos
processos; e) o controle e tratamento de efluentes sólidos,
líquidos e gasosos” (DICIONÁRIO ROSSETI DE QUÍMICA, 2008).

As principais operações unitárias empregadas nos sistemas de tratamento são apresentadas


no Quadro 10.

Quadro 10. Principais operações unitárias do tratamento de esgotos.


Operação Descrição Exemplo
Unitária
Gradeamento Remoção do material que fica retido nas grades. Grade de barras, peneiras, etc.
Sedimentação Retirada do material pela ação da força da Retirada de areia nos
gravidade. desarenadores, alguns sólidos
em suspensão nos decantadores
primários, etc. Pode ser uma
etapa posterior ao processo de
coagulação-floculação ou a um
processo biológico, como no
caso das lagoas de
sedimentação colocadas a
jusante de lagoas aeradas de
mistura completa.
Flotação Operação de retirada de contaminantes no sentido Remoção de gordura e óleo,
inverso ao da sedimentação, conseguida pela com uso ou não de aeração;
adição de produtos químicos, seguida ou não de remoção de partículas em
injeção de bolhas de ar pressurizado no líquido. suspensão pela ação de

36 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


No final é feita a remoção do material flotado, coagulantes seguidos de
normalmente pelo uso de raspadores superficiais. aeração.
Coagulação Adição de agentes coagulantes no esgoto com a Adição de hidróxi-cloreto de
química propriedade de atuar no material em suspensão alumínio, sulfato de alumínio,
com baixa capacidade de sedimentação, além da cloreto férrico, auxiliares de
matéria coloidal, de modo a se formarem flocos coagulação, etc.
que podem ser removidos, quer por sedimentação
quer por flotação.
Filtração Remoção de poluentes pela retenção dos mesmos Filtros de areia localizados após
em um leito filtrante ou membranas. decantadores, membranas, etc.
Desinfecção Inativação de patógenos presentes por um agente Ozonização, ultravioleta (UV),
desinfetante. cloração, etc.
Oxidação Remoção de poluentes ricos em matéria orgânica, Sistemas biológicos de
biológica nutrientes, etc., pelos microrganismos aeróbios e tratamento como lodos ativados,
anaeróbios presentes nos esgotos. lagoas de estabilização,
tratamento anaeróbio, etc.
Troca de gás Operação de adição de gases ao esgoto. Adição de oxigênio para os
processos aeróbios, cloro
gasoso em alguns processos de
desinfecção, etc.
Precipitação Reação de precipitação entre substâncias Adição de cal a um esgoto rico
química selecionadas e as substâncias dissolvidas em ferro, produzindo flocos que
presentes no esgoto. sedimentam.
Fonte: Adaptado de Jordão e Pessoa (2005).

Processos e níveis de tratamento

Os processos de tratamento de esgotos podem ser classificados em físicos, químicos ou


biológicos. Devido a estes não atuarem de forma isolada, a classificação final será função da
predominância de um determinado processo, como enumerados nos tópicos abaixo,
adaptados de Jordão e Pessoa (2005) e Von Sperling (2005):

1. Processos físicos
físicos:
cos remoção de substâncias fisicamente separáveis dos líquidos ou que
não se encontram dissolvidas, como a remoção de sólidos grosseiros, sedimentáveis
(inclusive remoção de areia) e remoção de sólidos flutuantes. Ex: gradeamento, mistura,
floculação, sedimentação, flotação e filtração.

2. Processos químicos:
químicos há a utilização de um produto químico, sendo estes processos
raramente utilizados de forma isolada e, por via de regra, são selecionados quando apenas
os processos físicos e biológicos não atendem aos padrões a serem alcançados com o
tratamento. Podem-se mencionar as etapas de: coagulação e floculação, precipitação e
oxidação química, adsorção, desinfecção e neutralização.

3. Processos biológicos:
biológicos há a participação de microrganismos, quer sejam facultativos,
aeróbios ou anaeróbios na remoção de contaminantes ricos em matéria orgânica, nutrientes,
detergentes, etc. Ex: remoção da matéria orgânica, nitrificação, desnitrificação, remoção de
fósforo, redução de sulfato, remoção de metais pesados, etc.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 37


 Baseado na sua própria experiência, qual dos tipos de

Debate processos apresentados acima você acha que está mais


presente nas principais tecnologias de tratamento de
esgotos?

Os processos de tratamento de esgotos podem ser classificados em função da remoção do


poluente na ETE em:

 Sólidos grosseiros: crivos, grades ou peneiras.


 Sólidos sedimentáveis: desarenadores, centrifugadores, decantadores, flotadores etc.
 Óleos, graxas e sólidos flutuantes: tanques de retenção de gorduras (caixa de gordura),
flotadores, decantadores com removedores de escuma.
 Matéria orgânica: tratamento anaeróbio (tanque séptico, UASB, etc.), lodos ativados
(convencional, aeração prolongada, batelada seqüencial), filtros biológicos (baixa e alta
taxa), disposição no solo, lagoas de estabilização, etc.
 Microrganismos patogênicos: técnicas de desinfecção artificiais como ozônio,
ultravioleta, cloração, etc., ou naturais como disposição no solo e lagoas de estabilização.
 Nutrientes na forma de nitrogênio: remoção biológica através do processo de
nitrificação/desnitrificação, ANAMOX, disposição no solo, processos físico-químicos.
 Nutrientes na forma de fósforo: remoção biológica ou por processos físico-químicos.
 Odor: Gás stripping, adsorção em carvão, biofiltros etc.

Visando simplificar tal classificação, além de se tentar explicitar de forma clara o objetivo do
tratamento, foi criado o conceito de nível de tratamento, que se divide em: Preliminar,
Primário,
Primário, Secundário, Terciário e Avançado (METCALF e EDDY, 2003). Os dois últimos níveis
de tratamento são realizados apenas em algumas ETEs do Brasil. Entretanto, com limites de
descarte de esgotos cada vez mais restritivos, que forçam operadoras de saneamento e
indústrias a adotarem políticas de reuso de águas, a tendência é de se ter mais estações
realizando tratamento a nível terciário e avançado.

O tratamento preliminar objetiva a remoção de sólidos grosseiros, areia, óleo e gordura,


enquanto o tratamento primário visa à remoção de sólidos suspensos (removendo
indiretamente parte da matéria orgânica). Em ambos os níveis, predominam os mecanismos
físicos de remoção de poluentes. O tratamento secundário visa, principalmente, à remoção
de matéria orgânica, podendo, eventualmente, remover nutrientes (nitrogênio e fósforo). O
tratamento terciário objetiva a remoção de poluentes específicos como nutrientes, metais,
compostos não-biodegradáveis, etc., ou ainda a remoção complementar de poluentes não
removidos nas outras unidades de tratamento (VON SPERLING, 2005). O tratamento
avançado é realizado para remover material suspenso e dissolvido, remanescentes, visando
à reutilização da água (METCALF e EDDY, 2003). Esse ainda é bastante raro no Brasil, apesar
de existirem algumas experiências de sucesso em indústrias têxteis, de papel etc. O Quadro

38 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


11 sumariza os níveis de tratamento e os principais poluentes removidos. Os diferentes
níveis de tratamento são representados na Figura 7.

Quadro 11. Níveis de tratamento e os principais poluentes removidos.


Nível Remoção
Preliminar Sólidos em suspensão grosseiros que ficam retidos nas grades, areia que fica
retida na unidade de desarenação e, eventualmente, gordura e óleo (caixas de
gordura).
Primário Sólidos em suspensão. Podem ser removidos pelo uso de decantadores,
flotadores e processos físico-químicos de coagulação-floculação.
Primário Remoção acelerada de sólidos pela adição de químicos ou através de filtração.
avançado
Secundário DBO em suspensão não removida no tratamento primário ou DBO solúvel
(sólidos dissolvidos)
Secundário com Remoção de compostos orgânicos biodegradáveis, sólidos suspensos e
remoção de nutrientes (nitrogênio, fósforo ou ambos)
nutrientes
Terciário Nutrientes
Patogênicos
Compostos não-biodegradáveis
Metais pesados
Sólidos inorgânicos dissolvidos
Sólidos em suspensão remanescentes
Avançado Remoção de material suspenso e dissolvido remanescentes visando o reuso da
água. Ex: Adsorção por carvão, eletrodiálise, troca iônica, membranas, etc.
Fonte: Adaptado de von Sperling (2005) e Metcalf e Eddy (2003).

Preliminar Primário Secundário Terciário

Remoção de

Desinfecção.
Remoção de Remoção de Degradação Remoção nutrientes de
sólidos sólidos, flutuantes de de lodo materiais não
grosseiros, e sedimentáveis. compostos biológico.
biodegradáveis e do
areia.
carbonáceos lodo.
.

Adensamento, digestão,
condicionamento,
desidratação, secagem,
etc.

Disposição
adequada.

Figura 7. Níveis de tratamento de esgoto sanitário.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 39


Assim, através das análises físico-químicas e microbiológicas obtidas durante o
monitoramento de ETEs no esgoto bruto e tratado, e em alguns casos em cada etapa do
tratamento, pode-se estimar a eficiência unitária e global do tratamento, além de verificar se
o esgoto tratado encontra-se dentro dos limites de descarte regulamentados pelo órgão
ambiental. Caso a concentração esteja acima, dever-se-á investigar as causas do
comportamento e propor soluções técnicas para a correção do problema.

Sua participação é muito importante. Caso você


tenha dúvidas ou comentários a fazer sobre os
assuntos abordados, exponha-
exponha-os a todos os
participantes!!!!

Tratamento biológico de esgotos

Introdução
Os processos biológicos de tratamento de esgotos são aceitos como os de menor custo
quando comparados com os demais tipos de tratamento. Para esgotos sanitários eles
sempre estarão presentes, motivo pelo qual serão detalhados no presente item. Devido à
vasta quantidade de informação para o detalhamento dos processos biológicos existentes,
serão descritos apenas aqueles mais utilizados no Brasil.

Os sistemas de tratamento biológico podem ser classificados como aeróbios (presença de


O2), anaeróbios (ausência de O2 e nitrato) e anóxicos (ausência de O2 e presença de nitrato).
Os microrganismos podem crescer tanto em suspensão como aderidos em um meio suporte,
onde o reator biológico pode ser configurado para a remoção de DBO, remoção de
nutrientes, patógenos etc., ou uma combinação destes. Um resumo dos principais processos
biológicos e suas finalidades é mostrado no Quadro 12.

Quadro
Quadro 12. Principais processos biológicos de tratamento de esgotos aeróbios, anóxicos, anaeróbios e
facultativos.
Tipo Nome comum Uso
Processos aeróbios
Crescimento suspenso Lodos ativados Remoção DBO, nitrificação
Lagoas aeradas Remoção DBO, nitrificação
Digestão aeróbia Estabilização, remoção DBO
Lagoas aeróbias Remoção DBO
Lagoas de maturação Remoção de nutrientes e patógenos
Crescimento aderido Filtros biológicos Remoção DBO, nitrificação
Reatores de contato (biodiscos) Remoção DBO, nitrificação
Reatores com leito fixo Remoção DBO, nitrificação
Híbridos (combinados) Filtro biológico/lodos ativados Remoção DBO, nitrificação
Processos anóxicos

40 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Crescimento suspenso Desnitrificação de crescimento Desnitrificação
suspenso
Crescimento aderido Desnitrificação de crescimento Desnitrificação
aderido
Processos anaeróbios
Crescimento suspenso Reatores de contato anaeróbios Remoção DBO
(biodiscos)
Digestão anaeróbia Estabilização, destruição de sólidos,
remoção de patógenos
Lagoas anaeróbias Remoção DBO
Crescimento aderido Reatores com leito fixo e Remoção DBO, desnitrificação
fluidizado
Manto de lodo UASB (upflow anaerobic sludge Remoção DBO
blanket)
Híbrido UASB/crescimento aderido Remoção DBO
Processos Facultativos
Crescimento suspenso Lagoas facultativas Remoção de DBO
Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003).

Tratamento Anaeróbio

Nesse processo, parte da matéria orgânica presente no esgoto vai ser convertida em metano
(CH4) e gás carbônico (CO2) na ausência de oxigênio, sendo que o primeiro tem um enorme
potencial energético, podendo ser convertido em energia elétrica, usado para alimentar
motores de combustão interna etc. (CHERNICHARO, 2007).

São sistemas que removem cerca de 50-70% da DBO presente no esgoto em um curto tempo
de detenção hidráulica, motivo pelo qual demandam pouca área. Em relação ao lodo gerado,
tais processos produzem cerca de 5-10 vezes menos lodo do que os processos aeróbios,
além dos mesmos não requisitarem da etapa de estabilização antes de serem encaminhados
a um destino final (LETTINGA et al., 1998). O material não convertido em biogás, ou em
biomassa, deixa o reator como material não degradado.

As diversas aplicações de tratamento anaeróbios, assim como suas principais vantagens e


desvantagens em relação aos sistemas aeróbios, serão detalhadas no capítulo 08.

Lagoas de Estabilização

Vários sistemas de lagoas de estabilização foram construídos no Brasil para o tratamento de


esgoto sanitário, tendo-se observado resultados satisfatórios em termos da qualidade do
efluente, sempre quando o projeto é tecnicamente adequado e existe um mínimo de
operação e manutenção. Como principal desvantagem do sistema pode-se citar o
requerimento de grandes áreas e um efluente que pode conter uma alta concentração de
algas (VON SPERLING, 1996).

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 41


Como o próprio nome diz, o objetivo principal de lagoas de estabilização é estabilizar, ou
seja, transformar em produtos mineralizados o material orgânico presente na água
residuária a ser tratada. De uma maneira geral, as lagoas de estabilização podem ser
classificadas, quanto ao suprimento de oxigênio, em convencional (O2 é fornecido pelas
algas) e aeradas artificialmente (O2 é fornecido pelo uso de aeradores). Existem ainda as
lagoas anaeróbias, as quais são desprovidas de O2.

As tipologias de lagoas de estabilização e suas principais características serão detalhadas no


capítulo 09.
09

Lodos Ativados

O sistema de lodos ativados é amplamente utilizado, em nível mundial, para o tratamento de


águas residuárias domésticas e industriais, em situações em que uma elevada qualidade do
efluente é necessária e a disponibilidade de área é limitada (elevadas vazões). No entanto, o
sistema de lodos ativados inclui um índice de mecanização superior ao de outros sistemas
de tratamento, implicando em operação mais sofisticada. Outras desvantagens são o
consumo de energia elétrica para aeração e a maior produção de lodo.

Conforme Von Sperling (1997), um sistema de lodos ativados pode ser classificado de
diversas formas, como:

 Quanto a Idade do Lodo (θ): Convencional (valores de θ entre 4 e 10 dias) ou aeração


prolongada (valores de θ entre 18 e 30 dias).

 Quanto ao fluxo: Contínuo, quando é função do espaço nas diversas unidades da ETE ou
intermitente, quando é função de tempos operacionais pré-estabelecidos.

 Quanto aos objetivos do tratamento: Remoção de carbono (DBO), ou Remoção de


nutrientes e qual tipo (N, P ou ambos), ou Remoção de DBO e nutrientes, etc.

A classificação dos sistemas de lodos ativados, bem como suas aplicações, serão detalhadas
no capítulo 10.
10

Outras Tecnologias Utilizadas


Utilizadas no Brasil
Como outras tecnologias da tratamento de esgotos pode-se citar os sistemas aeróbios com
biofilmes, ou os vários sistemas de disposição controlada no solo, muitos deles com
excelentes perspectiva de implantação no Nordeste do Brasil. A descrição aprofundada de
cada sistema descrito a seguir, bem como as devidas ilustrações, podem ser encontradas em
Von Sperling (2005).

Sistemas aeróbios com biofilmes


Filtro de baixa carga: são sistemas de crescimento microbiano aderido a um meio suporte,
na presença de oxigênio proveniente de compressores de ar, em que o esgoto é aplicado na
superfície do tanque pelo uso de distribuidores rotativos e percola o leito filtrante no sentido

42 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


descendente. O termo baixa carga se refere a pouca disponibilidade de DBO para os
microrganismos, que sofrem assim uma autodigestão. Devido a esse fato, o lodo descartado
do sistema já sai estabilizado. Fazem parte do sistema um decantador primário, que remove
parte dos sólidos sedimentáveis e evita colmatação excessiva do leito filtrante, e um
decantador secundário, com a função principal de remover os sólidos biológicos (placas
microbianas) que se desprendem do leito filtrante e deterioram a qualidade do efluente.

Filtro de alta carga: são sistemas em que a carga de matéria orgânica aplicada é bem
superior ao sistema de baixa carga, o que faz com que o lodo gerado e descartado necessite
de posterior estabilização. Os demais itens são similares ao sistema de baixa carga.

Biofiltro aerado submerso (BAS): são reatores preenchidos com material poroso, com fluxo
de ar ascendente, fluxo do esgoto ascendente ou descendente, porém sempre deixando o
meio suporte submerso (afogado). Em alguns BAS, vem se utilizando um decantador lamelar
para retenção da biomassa no sistema. A remoção do lodo se dá através de descarga de
fundo.

Biodisco: O meio suporte gira através de um eixo, que submete o mesmo a fases alternadas
de imersão no esgoto e subseqüente exposição ao ar. Esses discos rotatórios são projetados
para operarem em baixas rotações, para permitirem que o biofilme formado remova
satisfatoriamente a matéria orgânica, além de diminuírem os custos de implantação e
operação do sistema.

Disposição no solo
Infiltração lenta: como o próprio nome sugere, os esgotos são aplicados em baixas taxas.
Devido a isso, a maior parte da água e nutrientes nele contidos são absorvidos pelas plantas,
sendo o restante evaporado ou percolado. Os métodos mais comuns de aplicação são
através de aspersão, alagamento e da crista e vala.

Infiltração rápida:
rápida: neste método, as taxas de aplicação dos esgotos são mais elevadas, feitas
de forma intermitente para proporcionar um período de descanso para o solo. A perda por
evaporação é menor e a água que atinge o lençol freático é maior. Os tipos mais comuns são
através de percolação para a água subterrânea, recuperação por drenagem subsuperficial e
recuperação por poços freáticos.

Infiltração subsuperficial: o esgoto é aplicado abaixo do nível do solo, com os locais de


infiltração preenchidos com um meio poroso. Para evitar a colmatação do leito filtrante, o
esgoto precisa ter baixa concentração de sólidos em suspensão, necessitando, portanto de
uma decantação prévia. Os tipos mais comuns são as valas de infiltração e os sumidouros.

Escoamento superficial: a distribuição dos esgotos é feita na parte mais elevada do terreno,
a partir de onde o mesmo escoa até ser coletado em valas construídas na parte inferior.
Como no método de infiltração rápida, a aplicação é intermitente. Os métodos mais comuns
de aplicação são através de aspersores de alta e baixa pressão, ou por tubulações ou canais
de distribuição com aberturas intervaladas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 43


Terras úmidas construídas: também denominados de banhados artificiais ou alagados
artificiais. Consistem de lagoas ou canais rasos, que abrigam plantas aquáticas que
removem os poluentes presentes no esgoto. O fluxo pode ser tanto no sentido horizontal
quanto no sentido vertical.

O Quadro 13 sumariza as concentrações médias efluentes e eficiências típicas de remoção


dos principais poluentes de interesse nos esgotos domésticos.

44 Guia do profissional em treinamento - ReCESA


Quadro 13. Concentrações médias efluentes e eficiências típicas de remoção dos principais poluentes de interesse nos esgotos domésticos
Qualidade média do efluente Eficiência média de remoção (%)
CF
Sistema Amô- N Ovos Amo- N
DBO5 DQO SS P total CF DBO5 DQO SS P total (unid.
nia-N total helm. nia-N total
log)
Tratamento primário 200- 100-
400-450 >20 >30 >4 107-108 >1 30-35 25-35 55-65 <30 <30 <35 <1
250 150
L. facultativa 50-80 120-200 60-90 >15 >20 >4 106-107 <1 75-85 65-80 70-80 <50 <60 <35 1-2
L. anaeróbia – facultativa 50-80 120-200 60-90 >15 >20 >4 106-107 <1 75-85 65-80 70-80 <50 <60 <35 1-2
L. aerada facultativa 50-80 120-200 60-90 >20 >30 >4 106-107 >1 75-85 65-80 70-80 <30 <30 <35 1-2
L. aerada mistura completa – L.
50-80 120-200 40-60 >20 >30 >4 106-107 >1 75-85 65-80 80-87 <30 <30 <35 1-2
sedimentação
L. anaeróbia + L. facult. + L. 50-
40-70 100-180 50-80 10-15 15-20 <4 102-104 <1 80-85 70-83 73-83 50-65 >50 3-5
maturação 65
Infiltração lenta <20 <80 <20 <5 <10 <1 102-104 <1 90-99 85-95 >93 >80 >75 >85 3-5
Infiltração rápida <20 <80 <20 <10 <15 <4 103-104 <1 85-98 80-93 >93 >65 >65 >50 4-5
Escoamento superficial 30-70 100-150 20-60 10-20 >15 >4 104-106 <1 80-90 75-85 80-93 35-65 <65 <35 2-3
Terras úmidas construídas
30-70 100-150 20-40 >15 >20 >4 104-105 <1 80-90 75-85 87-93 <50 <60 <35 3-4
(Wetlands)
Tanque séptico + filtro
40-80 100-200 30-60 >15 >20 >4 106-107 >1 80-85 70-80 80-90 <45 <60 <35 1-2
anaeróbio
Reator UASB 70-100 180-270 60-100 >15 >20 >4 106-107 >1 60-75 55-70 65-80 <50 <60 <35 ≈1
UASB + lodos ativados 20-50 60-150 20-40 5-15 >20 >4 106-107 >1 83-93 75-88 87-93 50-85 <60 <35 1-2
UASB + biofiltro aerado
20-50 60-150 20-40 5-15 >20 >4 106-107 >1 83-93 75-88 87-93 50-85 <60 <35 1-2
submerso
UASB + filtro biológico
20-60 70-180 20-40 >15 >20 >4 106-107 >1 80-93 73-88 87-93 <50 <60 <35 1-2
percolador de alta carga
UASB + lagoas de polimento 50-
40-70 100-180 50-80 10-15 15-20 <4 102-104 <1 77-87 70-83 73-83 50-65 >50 3-5
65
UASB + escoamento superficial 30-70 90-180 20-60 10-20 >15 >4 104-106 <1 77-90 70-85 80-93 35-65 <65 <35 2-3
Lodos ativados convencional 15-40 45-120 20-40 <5 >20 >4 106-107 >1 85-93 80-90 87-93 >80 <60 <35 1-2
Lodos ativados – aeração
10-35 30-100 20-40 <5 >20 >4 106-107 >1 90-97 83-93 87-93 >80 <60 <35 1-2
prolongada
Lodos ativados – batelada 10-35 30-100 20-40 <5 >20 >4 106-107 >1 90-97 83-93 87-93 >80 <60 <35 1-2
45
(aeração prolongada)
Filtro biológico percolador de
15-40 30-120 20-40 5-10 >20 >4 106-107 >1 85-93 80-90 87-93 65-85 <60 <35 1-2
baixa carga
Filtro biológico percolador de
30-60 80-180 20-40 >15 >20 >4 106-107 >1 80-90 70-87 87-93 <50 <60 <35 1-2
alta carga
Biodisco 15-35 30-100 20-40 5-10 >20 >4 106-107 >1 88-95 83-90 87-93 65-85 <60 <35 1-2
CF expresso em NMP/100mL; Ovos de Helmintos expresso em Ovos/L; Demais parâmetros em mg/L
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005)

46
Para refletir
 Qual desses processos de tratamento apresentados você acredita ser mais facilmente
aplicável a sua região? Por quê?
 Quais aqueles que você julga ser de mais fácil operação e manutenção?
 Você consegue perceber as diferenças existentes nos custos de instalação e
manutenção de cada uma dessas alternativas de tratamento apresentadas?

Exercícios propostos

1. Cite os principais processos de tratamento de esgotos destacando as operações


unitárias presentes em cada processo.

2. Descreva sucintamente os principais níveis de tratamento de esgotos utilizados


no Brasil, destacando os poluentes removidos em cada um deles.

3. Considerando que se deseja tratar esgoto doméstico com vista ao reuso agrícola,
quais seriam os poluentes que devem ser removidos e quais devem ser conservados?

4. Quais as vantagens do tratamento biológico de esgotos quando comparado aos


tratamentos físicos e químicos?

5. Quais os principais sistemas de tratamento biológico de esgotos em nível


secundário utilizados no seu Estado e no Brasil?

6. Quais as principais vantagens e desvantagens dos sistemas anaeróbios em


relação aos processos aeróbios?

7. Quais as principais diferenças entre os sistemas de lodos ativados convencional e


por aeração prolongada, e entre as formas contínua e em batelada?

8. Quais as principais vantagens e desvantagens da aplicação do sistema lagoas de


estabilização no tratamento de esgotos domésticos?

47
Destino e tratamento dos esgotos domésticos
através de soluções individuais

Autores: Marcos Erick R. da Silva e André Bezerra dos Santos

Introdução

Em muitas localidades, principalmente em países em desenvolvimento, nem sempre


é possível a utilização de sistema de esgotos convencionais, ou seja, através da
ligação dos esgotos gerados nas edificações em uma rede coletora de esgotos. Para
estes casos, como ocorre freqüentemente em áreas rurais ou localidades afastadas
da rede coletora de esgotos, tem-se que adotar soluções individuais de tratamento
de excretas. Essa solução para o destino das excretas pode ser por via seca, ou seja,
quando não é feito uso de água, ou por via hídrica, quando para afastar as excretas,
faz-se uso de descarga de água de modo automático ou não. Ambas as formas
serão detalhadas no presente capítulo.

Soluções por via seca

Todos os tipos de privada incluídas neste tipo de solução são variantes da privada
com fossa seca que tem encontrado vasta aplicação em países em desenvolvimento,
inclusive no Brasil, em programas de saneamento básico. Em geral, esses sistemas
são mais adequados para regiões desprovidas de sistemas de esgotamento sanitário
e águas pluviais, condição não exclusiva das comunidades de baixa renda (JORDÃO e
PESSÔA, 2005).

Fossa Seca

Constitui-se de uma escavação feita no terreno, com ou sem revestimento, a


depender da coesão do solo, de uma laje de tampa com um orifício que serve de
piso, e de uma casinha para sua proteção e abrigo do usuário (Figura 7a), sendo
recomendado também contra problemas de odores, um sistema de ventilação,
constituído por um tubo localizado na parte interna da casinha, junto à parede, com
a extremidade superior acima do telhado (Figura 7b). Esse dispositivo é destinado a
receber somente as excretas, ou seja, não há utilização alguma de água. As fezes
retidas no seu interior se decompõem ao longo do tempo pelo processo de digestão
anaeróbia (FUNASA, 2006).

Uma característica fundamental da fossa seca (e daí vem o seu nome) é que ela não
deve receber água de descargas, de banhos, de lavagem, de enxurrada ou mesmo

48
água do solo quando o nível da água subterrânea for muito alto. Os principais
problemas durante o seu uso são a geração de odor e a proliferação de insetos,
particularmente a mosca. Em ambos os casos, a não admissão de água na fossa
contribui para a diminuição, mas não para a extinção do problema.

Localização: A localização das fossas secas exige atenção especial devido ao


processo de infiltração no solo, assim, deverão ser instaladas preferencialmente em
locais planos, secos, livres de enchentes e de fácil acesso aos usuários. Distantes de
poços e fontes e em cota inferior a esses mananciais, a fim de evitar a contaminação
dos mesmos. A distância varia com o tipo de solo e deve ser determinada
localmente. Recomenda-se afastamento de pelo menos 1,5m do excreta em relação
ao lençol freático, e de 15 metros em relação a um poço, o qual deve se situar a
montante da privada higiênica (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

Dimensionamento: Deverá ser levado em consideração o tempo de vida útil da


mesma e as técnicas de construção. Algumas dimensões indicadas para a maioria
das áreas rurais são: abertura circular com 90 cm de diâmetro, ou quadrada com
80cm de lado; profundidade variando com as características do solo, o nível de água
do lençol freático, etc., recomendando-se valores em torno de 2,5m (FUNASA,
2006).

Fonte: FUNASA (2006).

(a) Fossa seca convencional (b) Fossa seca ventilada


Figura 7. Esquema em corte de uma fossa seca.

Manutenção: na fossa seca são lançados apenas os dejetos e o papel de limpeza do


usuário. Entretanto, se ocorrer mau cheiro, recomenda-se empregar pequenas
porções de sais alcalinizantes, como sais de sódio, cálcio e potássio, sendo comum o

49
uso de cal ou cinza. É conveniente que o recinto seja mantido em penumbra para
evitar a presença de moscas. Assim, a porta da casinha deverá permanecer fechada e
a ventilação deve ser feita através de pequenas aberturas no topo das paredes. Se,
eventualmente, surgir água na fossa, propiciando a proliferação de mosquitos
aconselha-se utilizar derivados de petróleo, sendo mais comum o uso de querosene
e de óleo queimado (FUNASA, 2006).

A limpeza é primordial para um programa em que se busca a eliminação de focos


favoráveis à transmissão de doenças. Pisos sujos por fezes e urina, ou o que é pior, a
cova praticamente cheia e ainda em uso, constituem pontos de atração de moscas e
roedores, prováveis focos de contaminação. Deve-se lembrar que muitas vezes essas
privadas vão ser instaladas em áreas onde antes era hábito defecar no terreno, sem
maiores cuidados de asseio e de limpeza, cabendo, portanto, um trabalho prévio de
educação sanitária em relação ao uso e manutenção da privada, e conscientização
dos moradores em relação aos benefícios sanitários e de saúde pública (JORDÃO e
PESSÔA, 2005).

Vantagens e Desvantagens: diante da aplicação da fossa seca como destino e


tratamento de esgotos domésticos podem-se citar as seguintes vantagens (FUNASA,
2006):

 Baixo custo;
 Simples operação e manutenção;
 Não consome água;
 Risco mínimo à saúde;
 Recomendada para áreas de baixa e média densidade;
 Aplicada a tipos variados de terrenos;
 Permite o uso de diversos materiais de construção.

Entre as desvantagens destacam-se:

 Imprópria para áreas de alta densidade;


 Podem poluir o solo;
 Requer solução para outras águas servidas.

Fossa Seca Estanque

Consta de um tanque destinado a receber os dejetos, diretamente, sem descarga de


água, em condições idênticas às da privada de fossa seca. Apresenta como principal
característica o fato de ser totalmente impermeabilizada, sendo, portanto uma
solução indicada para zonas de lençol freático muito superficial, evitando assim o

50
perigo de poluição de poços dos quais é retirada a água para abastecimento humano
(FUNASA, 2006).

Fonte: FUNASA (2006).


Figura 8. Representação esquemática e apresentação das dimensões de uma fossa seca
estanque

Fossa Seca de Fermentação

È composta essencialmente de duas câmaras unidas e independentes destinadas a


receber os dejetos, assim como nas privadas de fossa seca (Figura 9).

Fonte: FUNASA (2006).

Figura 9. Esquema em planta e corte da fossa seca de fermentação.

De acordo com o tipo de solo, poderão ter tanques enterrados, semi-enterrados, ou


totalmente construídos na superfície do terreno.

51
Quanto ao funcionamento, basicamente, utiliza-se apenas uma das câmaras até
esgotar sua capacidade, em geral para uma família de seis pessoas, a câmara ficará
cheia em um ano, isola-se esta câmara vedando a respectiva tampa, passando a
utilizar a segunda câmara. Nesse período o material acumulado na primeira sofrerá
fermentação natural. Quando a segunda câmara atingir sua capacidade máxima, o
material contido na primeira já estará mineralizado, podendo ser removido e
utilizado como fertilizante na agricultura, e a mesma poderá ser utilizada
novamente. Assim, sempre que uma câmara estiver sendo utilizada a outra estará
em repouso. Ressalta-se que na operação de limpeza das câmaras, é conveniente
deixar uma pequena porção do material já fermentado, a fim de auxiliar o reinício do
processo de fermentação (FUNASA, 2006).

Debate  Em quais áreas dentro de sua região você nota a


necessidade de utilização de alguma das soluções
mostradas até agora?
 Você acredita que essa é a melhor opção? Por quê?

Lembre-
Lembre-se, sua participação é muito
importante. Caso você tenha dúvidas ou
comentários
comentários a fazer sobre os assuntos
abordados, exponha-
exponha-os a todos os
participantes!!!

Soluções por via hídrica

A fossa séptica
O tanque séptico, mais conhecido como fossa séptica (Figura 10), vem sendo
utilizado há pouco mais de 100 anos. Foi a primeira unidade inventada para o
tratamento de esgotos e até hoje é a mais extensivamente empregada. Pode ser
definida como uma câmara convenientemente construída para reter os esgotos
sanitários por um período de tempo criteriosamente estabelecido, de modo a
permitir a sedimentação dos sólidos e a retenção do material graxo presente no
esgoto, transformando-os bioquimicamente em substâncias e compostos mais
simples e estáveis (CAMPOS, 1999).

52
Fonte: Chernicharo (2007).
h: profundidade útil do tanque
H: profundidade interna total do
tanque
Figura 10. Tanque séptico de câmara única preconizado pela NBR 7.229 (ABNT, 1993).

Geralmente apresenta-se como um tanque com paredes verticais de alvenaria


revestida ou em concreto, apoiadas sobre uma laje de concreto simples, provido de
cobertura de lajotas removíveis normalmente em concreto armado, e tendo uma ou
duas câmaras. Tem, normalmente, forma cilíndrica (anéis pré-moldados de concreto
ou alvenaria de tijolos) ou prismática retangular (forma de caixa de sapato).

No Brasil, é uma solução bastante disseminada entre a população, servindo tanto a


residências com poucos moradores como a prédios mais complexos como escolas e
outros. Economicamente o tanque séptico é recomendado para uma população de
até 100 habitantes (FUNASA, 2006). O tanque séptico recebe as águas residuárias
provenientes de atividades tão distintas como: descarga sanitária, despejos de
lavatórios, águas do asseio corporal, de lavagem de roupas, e provenientes da
cozinha, de modo contínuo e, portanto, a entrada dessas águas corresponderá à
saída de idêntica quantidade de esgoto tratado.

Funcionamento (Figura 11):


 Retenção: o esgoto é retido na fossa por um período estabelecido, que pode
variar de 12 a 24 horas, dependendo das contribuições afluentes;
 Decantação: simultaneamente à fase de retenção, processa-se a sedimentação de
60 a 70% dos sólidos em suspensão contidos nos esgotos e a subseqüente formação
de lodo. Parte dos sólidos não decantados como óleos, graxas, gorduras e outros
materiais misturados com gases e retidos na superfície livre do líquido, formarão
uma camada de escuma no interior do tanque;

53
 Digestão: tanto o lodo quanto a escuma sofrem a ação principalmente dos
microrganismos anaeróbios (já que a concentração de oxigênio dissolvido é muito
baixa) de forma a remover parte dos poluentes presentes no esgoto bruto;
 Redução do volume: na digestão anaeróbia, acontece a hidrólise dos sólidos
voláteis que se sedimentam, gerando como produtos gases e líquidos. Como
conseqüência, há acentuada redução de volume dos sólidos retidos e digeridos, que
adquirem características estáveis capazes de permitir que o efluente líquido do
tanque séptico possa ser lançado em melhores condições de segurança do que as do
esgoto bruto. Entretanto, os efluentes de tanques sépticos ainda não apresentam
condições propícias para descarte sem comprometer a qualidade da água
subterrânea (FUNASA, 2006).

Acumulação de Escuma (fração emersa)

Acumulação de Escuma (fração submersa)

Nível de Água Saída


Entrada

Esgoto Efluente
Bruto

Fonte: FUNASA (2006).


Partículas
pesadas

Desprendimento de
Gases

Lodo Digerido Lodo em Digestão

Figura 11. Funcionamento geral de um tanque séptico.

Os tanques sépticos podem ser constituídos em câmara única, em câmaras em série


ou em câmaras sobrepostas, conforme mostrado nas figuras 12, 13 e 14, e podem
ter forma cilíndrica ou prismática retangular.

54
Afluente

Efluente
Escuma

Fonte: CAMPOS (1999).


Lodo

Figura 12. Tanque séptico de câmara única (corte longitudinal).

Afluente

Escuma Efluente

Fonte: CAMPOS (1999).


Lodo

Figura 13. Tanque séptico de câmaras em série (corte longitudinal).


Fonte: CAMPOS (1999).

Lodo

Figura 14. Tanque séptico de câmaras sobrepostas (corte transversal).

55
Os de câmaras em série geralmente constituem um único tanque coberto, dividido
por uma parede interna vazada (fenda horizontal), formando duas câmaras em série
no fluxo horizontal. A primeira câmara é o principal reator biológico, já que recebe a
maior quantidade de lodo, ou seja, os sólidos de mais fácil decantação. Além da
remoção dos sólidos em suspensão, há também uma significativa remoção da
matéria orgânica dissolvida nos esgotos. Nessa fase, há uma considerável geração de
gases devido à decomposição anaeróbia do lodo. A segunda câmara formará pouco
lodo, mas servirá como polimento do esgoto por permitir uma sedimentação mais
tranqüila dos sólidos suspensos remanescentes, devido à menor interferência das
bolhas dos gases gerados. Este tipo de fossa séptica proporciona uma eficiência
global maior do que uma única câmara de igual volume.

Os tanques de câmaras sobrepostas possuem divisões internas de forma a constituir


duas câmaras dispostas verticalmente. Placas inclinadas são dispostas no interior do
tanque com a função de separar as fases, sólido–líquido–gás. Esse dispositivo
permite a passagem do lodo sedimentado da câmara superior para a inferior e
desvia os gases produzidos na câmara inferior, de modo que na câmara superior
ocorra a sedimentação de sólidos sem a interferência das bolhas de gases
ascendentes, resultantes da digestão do lodo que se acumula na câmara inferior,
propiciando maior eficiência de sedimentação (CAMPOS, 1999).

É importante a observação de que os tanques de câmara única, câmaras em série e


câmaras sobrepostas, são funcionalmente diferentes. Nos de câmara única, todos os
fenômenos ocorrem num único ambiente. Nos de câmaras em série, embora ocorra
decantação e digestão nas duas câmaras, a primeira favorece a digestão e a segunda
a sedimentação, seqüencialmente. Nos de câmaras sobrepostas, a câmara superior,
que é a primeira e também a última em relação ao fluxo, favorece apenas a
decantação e a câmara inferior funciona como digestor e acumulador de resíduos
(CAMPOS, 1999).

Aplicabilidade e Vantagens
As fossas sépticas são indicadas para zonas urbanas ou rurais de baixa densidade
populacional e que apresentam um solo com boa capacidade de absorção.

Embora comumente aplicados para pequenas vazões, os tanques sépticos podem ser
indicados para tratar vazões médias e elevadas, principalmente quando construídos
em módulos. Os tanques sépticos são utilizados há mais de cem anos e representam
atualmente uma das principais unidades de tratamento de esgotos, dada a sua
aplicabilidade generalizada.

É uma tecnologia simples, compacta e de baixo custo. Contudo, não apresenta alta
eficiência, principalmente na remoção de patogênicos, mas produz um efluente
razoável, que deve ser encaminhado a um pós-tratamento ou ao destino final
(CAMPOS, 1999).

56
Portanto, as grandes vantagens das fossas sépticas em comparação a todas as
outras opções de tratamento de esgotos, estão na construção e operação
extremamente simples, além dos baixos custos.

Para tanques sépticos, projetados e operados racionalmente, pode-se obter


reduções de sólidos em suspensão em torno de 50% e eficiências de remoção de
DBO em cerca de 30%, ambos decaindo com a falta de limpeza regular da fossa
(Jordão e Pessoa, 2005).

Dimensionamento
No dimensionamento das fossas sépticas deve-se atentar para os seguintes
parâmetros:
• População de projeto,
projeto que representa o número de pessoas que terão seu esgoto
tratado pelo sistema;
• Contribuição per capita de esgotos,
esgotos que representa o volume de esgoto gerado
por cada pessoa em um dia;
• Tempo de detenção a ser utilizado no tratamento, que representa o tempo que
cada partícula do efluente permanecerá no sistema, sob influência das condições de
tratamento;
• Contribuição per capita de lodo fresco,
fresco que representa o volume de lodo fresco
gerado por cada pessoa em um dia;
• Taxa de acumulação de lodo fresco,
fresco parâmetro que representa a diminuição do
volume do lodo em decorrência da /digestão e da compactação. Depende do
intervalo entre limpezas (geralmente 1 ano) e da temperatura média do mês mais
frio.

Para o dimensionamento das fossas sépticas, recomenda-se seguir a NBR 7229, que
relaciona os parâmetros de dimensionamento com o volume adequado para o
tanque através da expressão:

V 1000
V= = 1000
++NN
(C(C
. T. +
T K+ .KLf)
. Lf)

Onde:
V = volume útil em litros; N = número de contribuintes, ou população equivalente; C
= contribuição de esgotos em litros por pessoa e por dia; T = período de detenção
em dias; K = taxa de acumulação de lodo (em dias), de acordo com o intervalo de
limpeza da fossa e a temperatura do mês mais frio; esta taxa considera que o
volume de lodo diminui pela ação da compactação e da digestão, correspondendo ao
volume do lodo em digestão e do lodo já digerido; Lf = contribuição de lodo fresco
em litros por pessoa e por dia.

57
Disposição do efluente líquido das fossas sépticas

O efluente líquido das fossas sépticas é potencialmente contaminado, com odor e


aspecto desagradáveis, exigindo, por estas razões, uma disposição adequada.

Alguns fatores são usualmente considerados na seleção da técnica e do local mais


adequado para disposição do efluente das fossas sépticas, como por exemplo, taxa
de infiltração do esgoto no solo (permeabilidade do solo), disponibilidade de área,
inclinação do terreno, profundidade do lençol freático, natureza e profundidade do
leito rochoso e variação do fluxo de esgoto (NUVOLARI et al., 2003).

Entre os processos eficientes e econômicos de disposição do efluente líquido das


fossas sépticas pode-se utilizar: sumidouros (Figura 15), valas de infiltração (Figuras
16 e 17), valas de filtração (Figuras 18 e 19) e tratamento por filtros anaeróbios de
fluxo ascendente (Figura 20).

• Sumidouros: são também conhecidos como poços absorventes. Por receberem


Sumidouros:
efluentes diretamente das fossas sépticas, possuem elevada vida útil, devido à
facilidade de infiltração do líquido praticamente isento de sólidos causadores da
colmatação do solo. Esta técnica e indicada quando a taxa de absorção do solo for
igual ou superior a 40 L/m2sdia. Em geral, os solos constituídos por argilas arenosas
e/ou siltosas, possuem essa taxa de infiltração. Quanto ao fundo do sumidouro, este
deve estar no mínimo a 3,00 m acima do lençol freático (Batalha, 1986 apud Nuvolari
et al., 2003).

Segundo a NBR – 7229 (ABNT, 1993), o volume do sumidouro deve ser estimado com
base na taxa de absorção do solo, devendo-se considerar como área de infiltração,
além da área do fundo, também a área das paredes laterais.
Os sumidouros podem ser construídos em alvenaria de tijolos, blocos, ou pedra ou
ainda por anéis pré-moldados de concreto, desde que sejam feitos furos na parede
lateral e deixado o fundo livre para permitir a infiltração. A lateral externa e o fundo
do sumidouro devem ser preenchidos com pedra britada no 4 (FUNASA, 2006).
Fonte: Nuvolari et al. (2003).

Figura 15. Corte esquemático da disposição final do efluente através de um sumidouro.

58
• Vala de infiltração: consiste em um conjunto de canalizações, assentado a uma
profundidade racionalmente fixada, em um solo cujas características permitam a
absorção do esgoto efluente da fossa conectada ao sistema. A percolação do líquido
no solo permitirá a remoção de poluentes dos esgotos antes de atingirem às águas
subterrâneas e superficiais (FUNASA, 2006).

Estes sistemas podem ser empregados quando a taxa de absorção do solo estiver na
faixa de 20 L/m2sdia a 40 L/m2sdia, como as argilas de cor amarela, vermelha ou
marrom, medianamente compactas, variando para argilas pouco siltosas e/ou
arenosas. Além disso, as valas de infiltração devem estar afastadas pelo menos 7 m
de árvores de grandes raízes, no mínimo 20 m dos poços de água de abastecimento
e no mínimo 3 m acima do lençol freático (BATALHA, 1986 apud NUVOLARI et al.,
2003).

Fonte: Nuvolari et al. (2003).

Figura 16. Corte esquemático da disposição final do efluente através de valas de infiltração.
Abaixo, na figura 17 são mostrados uma vista em planta e em corte do sistema:
Fonte: Adaptado de Funasa (2006)

Figura 17. Vista em planta e em corte longitudinal, de um sistema de vala de infiltração

59
• Vala de filtração: constituída de duas canalizações de esgotos superpostas, com
uma camada de areia entre as mesmas. O sistema é empregado quando o solo é
pouco permeável (taxa de absorção do solo for inferior a 20 L/m2sdia) ou saturado
de água, o qual não permite adotar outro sistema mais econômico (valas de
infiltração ou sumidouros) (FUNASA, 2006); quando se requer uma elevada remoção
de poluentes; etc.

È bom lembrar que, ao contrário dos sumidouros e das valas de infiltração, a vala e
filtração é uma opção de tratamento indicado quando o destino final do efluente for
um corpo receptor. É considerado um sistema semelhante a um filtro biológico
(NUVOLARI et al., 2003).

Fonte: Nuvolari et al. (2003).

Figura 18. Corte esquemático da disposição final do efluente através de valas de filtração.

Abaixo, na figura 19 são mostrados uma vista em planta e em corte do sistema. Fonte: Adaptado de Funasa (2006)

Figura 19. Vista em planta e em corte longitudinal, de um sistema de vala de filtração

60
• Filtros anaeróbios de fluxo ascendente: assim como as valas de filtração, o filtro
anaeróbio de fluxo ascendente é também uma alternativa ao tratamento do efluente
das fossas sépticas, quando o destino final é um corpo d’água receptor, contudo
apresenta eficiência inferior ao primeiro. O filtro anaeróbio é um tanque em forma
cilíndrica ou retangular dotado de um fundo falso perfurado, preenchido por um
material de enchimento, que pode ser a brita no 4, bambus cortados em pequenos
pedaços, materiais plásticos, entre outros (NUVOLARI et al., 2003). A função do
material do enchimento é permitir a fixação de um filme biológico (biofilme), sendo
constituído por microrganismos predominantemente anaeróbios, responsáveis pela
degradação do material orgânico.

Fonte: Nuvolari et al. (2003).

Figura 20. Corte esquemático da disposição final do efluente através de filtro anaeróbio de
fluxo ascendente.

Dinâmica de grupo
Divida a turma em 2 grupos:

1º grupo – Moradores do semi-árido nordestino, onde há pouca disponibilidade hídrica e


ainda não há rede de abastecimento de água nem de coleta de esgoto sanitário. É uma
zona de baixa densidade populacional, sendo as residências distantes uma da outra.
Atualmente a população capta água de consumo em pequenos riachos, cacimbas e poços
e não há controle sobre os locais utilizados para destinação de excretas.
2º grupo – Moradores da periferia de sua cidade, onde há rede de abastecimento de água,
porém não há sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitário. Atualmente, algumas
residências destinam seus efluentes diretamente a fossas rudimentares, entretanto, a
maior parte, os despeja em canais de drenagem natural sem qualquer tratamento.

61
 Cada grupo terá 5 minutos para discutir entre seus membros e escolher a melhor
alternativa de tratamento de seus efluentes, dentre as opções disponíveis por via seca e
por via hídrica.

 Em seguida, haverá 10 minutos para cada grupo explicar o motivo de sua escolha,
discutindo com o professor e com o outro grupo.

Exercícios propostos

1. Em que condições são mais indicados os sistemas individuais de tratamento de


esgotos domésticos?

2. Liste os principais sistemas individuais adotados no seu Estado e no Brasil.

3. Quais as principais características das fossas secas e quais os cuidados a serem


tomados quanto à sua localização e manutenção?

4. Quais as principais vantagens e desvantagens quanto à aplicação de soluções


individuais por via seca?

5. Descreva de forma sucinta o principio de funcionamento de um tanque séptico, e


quais poluentes podem ser removidos.

6. Por que os tanques sépticos são amplamente utilizados como sistema de


tratamento de esgotos no Brasil?

7. Quais os principais sistemas de disposição do efluente liquido das fossas


sépticas e quais os fatores a serem considerados na sua seleção?

62
Concepção e arranjos de estações de tratamento de
esgotos

Autores: Renato Carrhá Leitão e André Bezerra dos Santos

Introdução

O estudo de concepção representa um dos aspectos mais importantes de qualquer


obra de engenharia. O presente capítulo foi divido em três partes: na primeira,
apresentam-se aspectos gerais sobre a concepção de sistemas de esgotamento
sanitário; na segunda parte, são abordados os elementos levantados no projeto de
Estações de Tratamento de Esgotos; por fim, na terceira parte, são listados os
principais desafios nos projetos de ETEs modernas.

Concepção de Sistema de Esgotamento Sanitário

Tradicionalmente, os sistemas de esgotamento sanitário são constituídos por uma


rede coletora, que conduz as águas residuárias das bacias de esgotamento. O esgoto
é, geralmente, encaminhado ao tratamento por gravidade. Entretanto, em alguns
casos, há necessidade de instalação de um sistema de recalque (estação elevatória e
linha de recalque) nos pontos mais baixos de cada bacia, para conduzir os efluentes
para a estação de tratamento. Posteriormente, os efluentes tratados são conduzidos
por um emissário final para o corpo receptor. Essa concepção é denominada de
sistema centralizado ou convencional de esgotamento sanitário, o qual é
freqüentemente adotado no Brasil e no mundo. Esse tipo de concepção vem sendo
contestado, tendo-se como alternativa o uso de sistemas descentralizados de
esgotamento sanitário. A principal mudança está na diminuição da distância entre o
ponto gerador de esgotos e o local de tratamento. Apresentam-se a seguir as
principais vantagens e desvantagens das diversas concepções de sistema de
esgotamento sanitário:

Sistemas centralizados:
centralizados: A principal vantagem está relacionada com a facilidade de
controle do processo de tratamento dos esgotos, diminuindo custos de automação e
pessoal. Porém, o transporte dos efluentes desde o ponto gerador até a ETE envolve
elevados custos de investimentos (construção de estações elevatórias e linhas de
recalque), manutenção e operação (pessoal para operar as elevatórias, peças de
reposição e energia). A prática de reuso da água e nutrientes se torna muitas vezes
inviável. Além disto, os impactos ambientais negativos no local de uma grande ETE
são significativos (FERNANDES, 1997).

63
Sistemas descentralizados: como abordado anteriormente, a principal vantagem está
relacionada com a diminuição dos custos de transporte dos efluentes decorrente da
diminuição da distância entre o ponto gerador e à ETE. Por outro lado, diversas ETEs
menores implicam, normalmente, em contratação de pessoal especializado para
controle das mesmas. Além disto, os efluentes tratados devem ser dispostos em
corpos receptores que nem sempre estão próximos do local de tratamento ou não
tem capacidade de autodepuração.

Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005).


Figura 21. Esquema do fluxo da água desde a sua captação até a Estação de
Tratamento de Esgotos.

Sistemas Domésticos: Com a diminuição dos recursos naturais e o aumento da


demanda por água, energia e nutrientes, diversos pesquisadores têm focado atenção
em sistemas domésticos mais sustentáveis. Nesse âmbito, destaca-se o Saneamento
Ecológico ou Ecosan, que consiste basicamente na separação das excretas (urina e
fazes) na fonte e o seu subseqüente tratamento e reuso.

64
(a) (b)

Fonte: Fotos (a) e (b) EcoSanRes (2006)

(c) (e)
(d)

Figura 22. Componentes do sistema Ecosan, constando da separação das fezes e urina (a) e
separação das águas cinzas (b), vaso de descarga com separação da urina (c), coleta da urina
(d), vista de um banheiro ecológico e do tubo de ventilação (e).

A urina é muito rica em nutrientes e contém menos metais pesados do que os


fertilizantes artificiais, podendo, assim, vir a substituir os mesmos. Após
estabilização das fezes, estas servem como um excelente condicionador do solo.
Adicionalmente, o Ecosan prevê as modalidades de vaso sanitário seco e úmido e a
separação e reuso das águas cinzas, isto é, aquelas provenientes de pias, banho,
lavagem de roupas etc. (WINBLAD e SIMPSON-HÉBERT, 2004).

 Você saberia dizer qual o sistema predominante na


cidade sua cidade... centralizado ou
Debate descentralizado?
 Você conhece algum sistema descentralizado em
sua cidade? Qual? Que tipo de tratamento é feito no
efluente?

65
Concepção de estações de tratamento de esgotos

Introdução

O tratamento dos efluentes deve incluir a redução da concentração dos seguintes


constituintes do esgoto:

Sólidos em suspensão: Trata-se de partículas macroscópicas e coloidais que


conferem turbidez ao esgoto. Estes sólidos podem se acumular no corpo receptor,
causando problemas de assoreamento e mau cheiro devido à decomposição.
Matéria orgânica biodegradável: Este material serve de alimento para os
microrganismos aeróbios presentes no corpo de água, que consomem o oxigênio
para estabilizar a matéria orgânica, e podem inviabilizar a vida de macro organismos
na água.
Nutrientes: Uma descarga excessiva de nutrientes (principalmente nitrogênio e
fósforo) pode conduzir à eutrofização das águas de superfície, fenômeno que resulta
no crescimento acelerado de organismos aquáticos, especialmente algas. Durante o
período noturno não há fotossíntese, mas as algas e as bactérias continuam a
consumir oxigênio. Isso pode acarretar na diminuição da concentração de oxigênio a
níveis que causem a morte de outros macro-organismos.
Organismos patogênicos: No esgoto doméstico ocorre presença de um grande
número de diferentes microrganismos (vírus, bactérias, protozoários) e ovos de
helmintos que podem causar doenças tais como: amebíase, giardíase, gastroenterite,
febres tifóide e paratifóide, hepatite infecciosa, cólera, dentre outras doenças de
veiculação hídrica.

Estudo de Concepção
O sistema de tratamento de esgotos sanitários deve ser concebido levando-se em
conta os aspectos:

 Físicos da região (clima, relevo, hidrologia, etc.).


 Social e urbano (interferência com infra-estrutura existente, desapropriações
e reassentamento de população, conflitos de uso do solo e de água, espaço
disponível para construção, transtornos decorrentes da geração de odores,
disponibilidade de mão-de-obra especializada).
 Legal (classificação dos corpos receptores, exigências ambientais diversas,
etc.).
 Ambiental (necessidade de desmatamento, alterações na qualidade dos
recursos hídricos, etc.).
 Econômicos (volume de recursos disponível para investimento, operação e
manutenção do sistema).
 Cultural (hábitos e costumes da população).
 Institucional (capacidade técnica, gerencial e operacional, recursos humanos,
etc).

66
De uma maneira geral os sistemas de tratamento de esgoto sanitário são concebidos
tendo como unidade central um reator biológico. Entretanto, em alguns casos, pode-
se encontrar o reator biológico associado a alguma unidade de tratamento físico-
químico. O uso de uma etapa biológica torna a ETE mais econômica, pois degrada
parte da matéria orgânica em CO2 e água (sistema aeróbio) ou CH4 e CO2 (sistema
anaeróbio), que são liberados para a atmosfera, reduzindo o volume de sólidos a ser
tratado e disposto.

A etapa biológica pode ser classificada segundo os microrganismos envolvidos em:


processos aeróbios e anaeróbios. No entanto, as estações mais modernas
aproveitam as vantagens dos sistemas anaeróbios (altas taxas de carregamento,
espaço reduzido, baixa produção de lodo, pouca necessidade de energia e
nutrientes, possibilidade de produção de energia através do biogás, etc.) e dos
sistemas aeróbios (remoção de nutrientes, possibilidade de produzir efluentes com
parâmetros compatíveis com a resolução do CONAMA, etc.).

Pode-se classificar o processo biológico segundo o tipo de reator empregado em:


meio disperso, quando os microrganismos crescem e formam flocos ou grânulos; ou
biomassa aderida, quando os microrganismos forma um biofilme na superfície de
um meio suporte inerte (areia, pedra, plásticos com as mais variadas formas).
Os estudos para concepção de sistemas de tratamento de esgotos podem seguir as
seguintes etapas (CETESB, 2007):

− Diagnóstico
Diagnóstico do sistema existente. Nesta etapa, deve-se descrever o sistema de
saneamento existente no local, abrangendo tanto a infra-estrutura de abastecimento
de água como a de esgotamento sanitário. Abastecimento de água: fonte hídrica
(incluindo possíveis problemas de qualidade e quantidade de água), características
da estação de tratamento de água, população atendida, características da rede de
distribuição. Esgotamento sanitário: características da rede coletora, população
atendida, características da(s) estação(ões) de tratamento de esgotos e corpos
receptores, levantar dados sobre o desempenho dos sistemas e citar os principais
problemas.

− Estudo de alternativas. Aqui são definidas as possíveis soluções técnicas para a


estação de tratamento de esgoto, baseando-se nas características ambientais (clima,
tipo de corpo receptor, geologia, topografia, etc.), na legislação pertinente, na
realidade econômica e financeira do município, na disponibilidade de recursos
humanos e de insumos.

67
− Definição da eficiência necessária para o tratamento. A eficiência do tratamento
deve ser compatível com a classe e a capacidade do corpo receptor, visando atender
as normas ambientais vigentes.

− Definição do número de estações. O número de estações é função


principalmente da topografia local, que estabelece o número de bacias de
esgotamento, e da avaliação econômica. Em geral, sistemas descentralizados têm
custo de investimento mais elevado. Porém, um sistema centralizado implica em
elevado custo de operação devido ao transporte de efluentes.

− Definição do(s) local(is) da(s) ETE(s). Busca e avaliação do espaço disponível para
implantação da ETE, incluindo sondagens e estudos geofísicos da área.

− Definição das operações unitárias da(s) ETE(s). Cada alternativa de ETE deverá ser
mais bem detalhada para que se possa avaliar as possíveis etapas de tratamento de
forma a cumprir a legislação ambiental. Cada etapa de tratamento tem diversas
possibilidades de operações unitárias: tratamento preliminar (sistema de
gradeamento, desarenadores, desengorduradores, tanque de equalização, etc.);
tratamento primário (decantador primário); tratamento secundário (normalmente
consiste de um ou mais reatores biológicos, seguidos ou não de um decantador
secundário); tratamento terciário (remoção de nutrientes, organismos patogênicos,
outros componentes mais específicos através de reatores biológicos e/ou físico-
químicos); tratamento do lodo (Adensamento, estabilização, disposição final).

− Definição de critérios de projeto. Os critérios de projeto devem seguir as normas


da ABNT, principalmente a NBR 12209 que define os critérios para projeto de
estações de tratamento de esgoto sanitário.

− Pré-
Pré-dimensionamento da ETE.
ETE. O pré-dimensionamento se faz necessário para
avaliar as vazões, potências de motores, custos de investimentos, operação e
manutenção da(s) ETE(s).

− Elaboração de lay out da ETE. O lay out da(s) importa para a análise dos impactos
ambientais, bem como a avaliação dos custos.

− Tratamento transporte e disposição dos lodos. Um dos maiores custos de uma


estação de tratamento de esgotos está relacionado com o tratamento, transporte e
destino final dos lodos tratados. Esta etapa deve ser bem dimensionada e avaliada
para escolha adequada da alternativa.

− Análise dos custos (investimento, operação e manutenção


manutenção).
enção). Com todos os dados
levantados, pode-se realizar uma análise adequada dos custos de forma a comparar
as diversas alternativas sob o ponto de vista econômico.

68
− Análise das condições técnicas das alternativas. Apesar da análise econômica ser
importante, muitas vezes aspectos técnicos são prioritários.

− Escolha da melhor solução. Finalmente, baseando-se nos aspectos descritos


acima, escolhe-se a melhor solução dos pontos de vista técnico, econômico, social e
ambiental.

Novas concepções de projetos de tratamento de esgoto

As novas concepções de projetos de tratamento de esgotos têm procurado


incorporar o desenvolvimento tecnológico, buscando valores de eficiência maiores,
sistemas mais adequados à realidade econômica, financeira e institucional das
prestadoras dos serviços, com plantas que demandem pouca energia, produzam
pouco lodo, que possibilitem o controle dos odores e que busquem sempre o
caminho da sustentabilidade econômica e ambiental (METCALF e EDDY, 2003;
ANDREOLI e WILLER, 2005). Tais pontos de desenvolvimento de tecnologia das ETEs
são detalhados a seguir e ilustrados na Figura 23.

Lembre-
Lembre-se, sua participação é muito
importante. Caso você tenha dúvidas ou
comentários a fazer sobre os assuntos
abordados,
abordados, exponha-
exponha-os a todos os
participantes!!!

69
Novos materiais
(resistentes à
corrosão)
Remoção de nutrientes
Impacto visual (Idades de lodo
elevadas)

Controle de odores
Práticas modernas
(Desodorização ou
de
processos
gestão
cobertos)

Novas ETEs

Baixo consumo Compacidade


energético (Anaerobi- (Processos de alta
ose + aerobiose) taxa)

Fonte: Andreoli e Willer (2005).


Baixa produção de Automação
lodo (Anaerobiose + (Sensoriamento e
Aerobiose ou Idades inteligência
de lodo elevadas) artificial)
Tratamento e disposi-
ção segura do lodo e
reúso do efluente

Figura 23.
23. Novas concepções de projetos de Estações de Tratamento de Esgotos.

Eficiência de tratamento: busca de sistemas que removam cada vez maiores


quantidades de poluentes (matéria orgânica, nutrientes, patógenos, etc.) por
unidade de reator, como conseqüência ao atendimento de padrões de lançamento e
qualidade nos corpos receptores mais restritivos. Busca de processos biológicos que
garantam elevadas idades de lodo (quanto maior a idade do lodo mais eficiente é o
processo) e efluentes clarificados através da boa capacidade de separação sólido-
líquido.

Compacidade: desafio principalmente para projetos de ETEs situadas em zonas


urbanas, sendo facilmente situáveis em subsolo de áreas públicas ou mesmo
edifícios.

Automação: redução dos processos mecanizados, visando reduzir tanto a exposição


dos operadores de ETEs quanto a possibilidade de falhas. Devido ao maior nível de
conhecimento alcançado com os processos de automação, os custos dos

70
equipamentos têm diminuído, permitindo assim uma maior utilização dos mesmos e
diminuição dos custos com a mão de obra da estação.

Economia de energia: os gastos com energia representam o segundo item das


despesas de várias companhias brasileiras de saneamento (o primeiro são as
despesas com salários). Entretanto, com o incremento das restrições sobre a
qualidade dos efluentes tratados, prevê-se um aumento substancial do consumo
energético em ETEs que utilizam processos mecanizados convencionais na etapa
biológica de tratamento, como os sistemas de lodos ativados ou qualquer outro
processo aeróbio. A integração da via anaeróbia de alta taxa como pré-tratamento
de outros processos biológicos, além de reduzir boa parte da matéria orgânica com
um baixo consumo energético, é ainda capaz de produzir energia pelo uso do
metano como combustível para geradores, e subseqüente utilização em iluminação,
motores estacionários, secagem do lodo, etc.

Produção e processamento do lodo: a alta produção diária de lodo em ETEs é objeto


de preocupação das operadoras. Logo, deverão ser privilegiados processos que não
somente minimizem a produção de lodo como também assegurem a sua
higienização e estabilização. O processamento do lodo demandará processos
compactos para reduzir o intervalo de tempo entre a sua produção e a disposição
final. O uso do lodo (biossólido) proveniente do tratamento de esgoto sanitário na
agricultura é uma prática cada vez mais difundida e aceita.

Controle de odores: importante quando a ETE é localizada em áreas urbanas.


Portanto, devem ser previstos sistemas de tratamento que permitam um controle
dos gases odorantes gerados mediante eficiente captação.

Sustentabilidade: escolha de tecnologias de baixo custo de implantação e


manutenção, minimizando o uso de energia e maximizando a recuperação de
produtos.

Novos materiais e métodos construtivos: pesquisa de novos materiais métodos


construtivos que aumentem a vida útil das instalações, sobretudo face ao problema
da corrosão. Para estações menores, a possibilidade de utilização de reatores pré-
fabricados, em aço ou concebidos estruturalmente no próprio terreno, sem
utilização de concreto, também têm se mostrado viáveis, reduzindo
substancialmente os custos de investimento e implantação.

Modernas práticas de gestão: programas de qualidade, sistemas de gestão


ambiental, manutenção produtiva etc. são cada vez mais difundidos e aceitos pelos
tomadores de decisão das companhias de saneamento. Dentro deste conceito,
citam-se as próprias normas ISO 9.000 e ISO 14.000 que impulsionaram o setor
industrial e as práticas de premiação através de critérios de excelência gerencial.

71
Observações...
Este espaço é reservado para colocar as suas observações em relação ao conteúdo
abordado até aqui...

Exercícios propostos

1. Quais as principais concepções de sistema de esgotamento sanitário que podem


ser adotados na sua cidade? Explique as principais vantagens e desvantagens de
cada tipo de sistema listado.

2. Defina o conceito de saneamento ecológico, listando as partes componentes do


mesmo.

3. Defina os seguintes componentes de um sistema de esgotamento sanitário: rede


coletora, coletor tronco, interceptor, emissário, estação elevatória, ETE, emissário
final e corpo receptor.

4. Liste os estudos mais importantes no estudo de concepção de sistemas de


tratamento de esgotos.

5. No que tange aos avanços tecnológicos na área de tratamento de esgotos, liste


os principais desafios a serem superados. Justifique sua resposta.

72
Tratamento preliminar de esgotos

Autores: André Bezerra dos Santos e André Macêdo Facó

Introdução

O tratamento preliminar de esgotos visa, basicamente, à remoção de sólidos


grosseiros, areia e gorduras, estando presente em praticamente todas as estações de
tratamento de esgotos. Consiste em uma preparação dos esgotos para o tratamento
posterior, evitando obstruções, danos em equipamentos eletromecânicos, redução
do volume útil do reator biológico ocupado com biomassa e conseqüente problema
no tratamento (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

O tratamento preliminar é normalmente constituído de gradeamento, desarenação e


medição de vazão e, em alguns casos, há a construção de caixas de óleo e gordura.
As principais partes integrantes do tratamento preliminar serão discutidas no
presente capítulo.

Gradeamento

O gradeamento objetiva a remoção de sólidos bastante grosseiros, tais como


materiais plásticos, papelões constituintes de embalagens, galhos etc. (NUVOLARI et
al, 2003). Os dispositivos de remoção destes sólidos (grades) são constituídos de
barras paralelas de ferro ou aço carbono, posicionadas no canal de chegada dos
esgotos na estação de tratamento (ETE). As grades devem permitir o escoamento dos
esgotos sem produzir grandes perdas de carga, além da necessidade de serem
robustas para resistirem aos impactos e esforços advindos dos procedimentos
operacionais (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

Classificação e Dimensões das Grades


Podem ser classificadas quanto à capacidade de retenção de sólidos (ou
espaçamento entre as barras), quanto ao modelo de instalação e quanto à forma de
limpeza. Para a primeira forma de classificação, elas podem ser divididas em
gradeamento grosseiro, médio e fino, os quais são detalhados no Quadro 14.

Quadro 14. Espaçamentos e seções transversais comuns de grades.


Tipo de Material retido e local Espaçament Seção
grade o (mm) transversal
das barras
(mm)
Grosseir Galhos de árvores, restos de mobília, pedaços de 40-100 9,5 x 50,0
a colchão, etc. Ingresso do esgoto nas ETEs ou a 9,5 x 63,5

73
montante das Estações Elevatórias de porte mais 12,7 x 38,1
avantajado 12,7 x 50,0
Média Latinhas de cerveja, refrigerante, plásticos, madeiras, 20-40 7,9 x 50,0
papel, panos, etc. Objetivam a retenção dos sólidos 9,5 x 38,1
de porte maior que ingressam no sistema de coleta 9,5 x 50,0
através dos lançamentos domiciliares de esgoto, ou
mesmo através dos poços de visita. Aplicam-se estas
grades a todo tipo de ETEs ou EEs.
Fina Fibras de tecidos, cabelo, etc. 10-20 6,4 x 38,1
7,9 x 38,1
9,5 x 38,1

Fonte: Adaptado de Nunes (2004).

É conveniente, quando se tem a necessidade de recalque dos esgotos para a estação


de tratamento, que o tratamento preliminar seja posicionado a montante da estação
elevatória, visando à proteção dos rotores das bombas contra o desgaste por
abrasão (JORDÃO e PESSÔA, 2005). No entanto, é prática mais usual apenas a
instalação de uma grade grosseira à entrada da elevatória.

Inclinações das Grades


As grades podem ser instaladas verticalmente, inclinadas (normalmente nos ângulos
de 75º e 45º) ou curvas (segmentais).

(a) (b) (c)

Fonte: Centroprojekt (2008).


Fonte: Volschan Júnior (2008).

Figura 24. Exemplos das formas de instalação das grades: ângulo reto (a), inclinado (b) e
curvas (c).

As grades verticais são usadas preferencialmente com gradeamento grosseiro ou em


canais muito profundos, sendo as inclinadas de 45º utilizadas em ETEs de pequena
capacidade, comumente em lagoas de estabilização e canais de aproximação rasos
(CRESPO, 2003). As grades inclinadas de 75º são muito utilizadas com dispositivos
mecânicos de limpeza, em que a retirada dos sólidos se efetua com o rastelo
percorrendo a parte frontal das barras ou pela parte posterior (nesse caso os dentes
do rastelo devem sobressair no mínimo 10cm além da face frontal das barras). Nas
grades curvas ou segmentais, efetua-se a limpeza por meio de rastelo basculante no
eixo horizontal, instalado na frente das barras segmentais (JORDÃO e PESSÔA,
2005). Por sua configuração, este modelo é restrito a canais de pouca profundidade.

74
Dispositivos de Limpeza das Grades

O material retido na grade deve ser removido o mais rápido possível, de forma a
evitar que os esgotos fiquem represados no canal de montante, elevando o nível e a
velocidade do líquido entre as barras e causando o arraste de material retido nas
grades para dentro do sistema de tratamento ou de recalque. As grades podem ser
de limpeza manual ou mecanizada (Figura 25), sendo a limpeza manual
normalmente feita com o uso de rastelo em ETEs de pequeno porte. Para ETEs de
médio e grande porte necessita-se de limpeza mecanizada, a qual pode ser feita
com o uso de cabos ou correntes, e grades cremalheiras (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

Segundo Crespo (2003), o acionamento poderá ser feito seguindo algumas das
estratégias descritas a seguir:

• Comando manual: utilizado em pequenos sistemas de tratamento, o qual


depende da percepção e confiabilidade do operador (efetua a limpeza quando a
obstrução da grade atinge 50% da área total);
• Comando por temporizador: o operador, de acordo com a experiência adquirida,
fixa o intervalo de tempo em que o rastelo dará partida para limpeza das grades.
Esse modelo tem a vantagem de operar independentemente do comando gerado
pelos níveis de água;
• Comando pela perda de carga na grade: a diferença dos níveis, a montante e a
jusante da grade, emite o sinal de partida quando o volume de sólidos acumulado
exige a limpeza do sistema;
• Comando pelo nível de água a montante da grade: a acumulação dos sólidos
provoca um remanso a montante das barras. A subida do nível a um determinado
ponto fecha o circuito para comandar a limpeza da grade.

75
(a) (b)

Fonte: Tecnosan (2008).


(c)

Fonte: Dregrémont (2008).


Figura 25. Grandes com dispositivos de remoção manual (a), mecanizado com rastelo
basculante (b), dispositivo tipo cremalheira (c).

Características, Condicionamento e Destino do Material Removido

Para grades com espaçamento fino a médio, estimam-se 40 a 50 litros de material


retido para cada 1000m3 de esgoto, considerando-se a vazão média de cada
unidade de gradeamento (JORDÃO e PESSÔA, 2005). Entretanto, tais números são
apenas estimativos, pois dependerão das características dos esgotos em questão. O
material removido deverá ser imediatamente afastado das unidades de gradeamento
e encaminhado ao seu destino final, a exemplo de valas sépticas, aterros sanitários,
dentre outros. Antes de ser transportado, o material gradeado poderá sofrer as
operações de lavagem, secagem ou adição de substâncias químicas, que visam evitar
a emanação de maus odores, proliferação de insetos e facilitar o manuseio do
material retido.

Lembre-
Lembre-se, sua participação é muito
importante. Caso você tenha dúvidas ou
comentários a fazer sobre os assuntos
abordados, exponha-
exponha-os a todos os
participantes!!!

76
Desarenação (Caixas de retenção de areia)

A desarenação consiste na remoção de sólidos com características de sedimentação


semelhantes às da areia, os quais se introduzem no sistema, principalmente, devido
à entrada de águas de chuva (escoamento superficial), que carreiam estes materiais
para a rede coletora por meio dos poços de visita e caixas de ligação de esgotos,
como também infiltração de águas subterrâneas. Essa remoção tem por finalidade
eliminar ou atenuar os efeitos adversos ao funcionamento das partes componentes
das instalações a jusante e aos recursos naturais, como evitar o assoreamento dos
corpos receptores do esgoto tratado (NUVOLARI et al., 2003). Entre outras
finalidades da remoção de areia,
areia destacam-se as seguintes (JORDÃO e PESSÔA,
2005):

 Evitar danos nos equipamentos, tais como bombas centrífugas de lodo,


aeradores nas unidades de digestão aeróbia, maceradores e trituradores
instalados a montante das bombas de lodo;
 Evitar danos nas tubulações devido à forte abrasão;
 Reduzir a possibilidade de danos e obstrução nas unidades da ETE, como
canalizações, caixas de distribuição ou manobra, poços de elevatórias,
tanques, sifões, orifícios, calhas, etc.;
 Facilitar o manuseio e transporte das fases líquida e sólida ao longo das
unidades componentes da ETE.

Apresenta-se na Figura 26 um exemplo de uma caixa de areia de canal duplo, no


qual o fluxo nos canais é controlado por stop-logs e a areia é retirada manualmente.
É conveniente lembrar que existem no mercado caixas de areia em formato circular,
não sendo ilustradas no presente capítulo.

Figura 26. Exemplo de unidades de desarenação. A seta indica os stop-logs instalados para
controle do fluxo.

77
Tipos
Tipos e Escolha de Desarenadores

Segundo Crespo (2003), podem ser classificados de diversas formas, como:

 Unidades de limpeza manual ou mecanizada.


 Unidades quadradas, retangulares, circulares ou outras.
 Unidades com velocidade controlada (vertedor, fenda retangular e Calha
Parshall) ou de sedimentação simples.
 Desarenadores aerados (quando o material retido apresenta alta concentração
de material putrescível) ou livres de aeração externa.

Ainda segundo Crespo (2003), dentre as variáveis que interferem na escolha de um


desarenador são destacadas:

 Vazão afluente do esgoto.


 Características físicas dos sólidos presentes.
 Tipo de equipamentos a jusante do tratamento preliminar.
 Orçamento disponível.

Dispositivos de Remoção de Areia


De acordo com a NBR-12.209, para caixas de areia de sistemas com remoção
manual, devem ser projetados dois canais paralelos, utilizando-se um deles
enquanto o outro é limpo (Figura 26). Na remoção mecanizada, utilizam-se bandejas
de aço removidas por talha e carretilha, raspadores, sistemas de injeção de ar (air
lift), bombas, etc.

A "areia" retida, dependendo das suas características, pode receber diferentes


destinos. Areias resultantes de tratamento de esgotos sanitários podem ser
dispostas em valas preparadas em locais próximos da ETE ou, encaminhadas a um
aterro sanitário, quando esta contém alta concentração de material séptico ou
proveniente de determinados processos industriais (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

Parâmetros de Projeto
Os principais parâmetros de projeto, disponíveis em Crespo (2003), são
apresentados a seguir:

Taxa de aplicação superficial (TAS):


(TAS) como mencionado anteriormente, é prática usual
projetar o sistema com dois desarenadores operando em paralelo. Cada uma destas
unidades deve ser dimensionada para uma TAS de 600 m3/m2.dia. Assim, quando
uma das unidades for retirada para manutenção ou limpeza, a unidade

78
remanescente, ainda em operação, trabalhará com uma taxa nunca superior a 1.200
m3/m2.dia, portanto, abaixo do limite fixado na NBR.

Velocidade de escoamento:
escoamento as caixas de areia são projetadas para uma velocidade
média dos esgotos de 0,30 m/s. Velocidades baixas, notadamente as inferiores a
0,15 m/s, provocam depósito de matéria orgânica na caixa, indicado pelo aumento
da relação entre Sólidos Suspensos Voláteis (SSV) e Sólidos Suspensos Totais (SST) do
material retido e que provoca exalação de maus odores devido à decomposição da
matéria orgânica sedimentada. Velocidades superiores a 0,40m/s provocam arraste
de areia e redução da quantidade retida.

Profundidade:
Profundidade as menores profundidades encontradas nos desarenadores de limpeza
manual têm ficado em torno de 0,60m, somadas de uma profundidade adicional
para acumulação de areia (freqüência de limpeza de 1 a 2 dias). Nas caixas de areia
mecanizadas, as profundidades são maiores, chegando mesmo a 2,50m.

Tempo de detenção:
detenção para média de final de plano, normalmente varia de 1 a 3
minutos.

Remoção de gorduras

Na caracterização de esgotos encontra-se uma quantidade considerável de gorduras,


óleos, graxas, além de outros materiais de densidade inferior que a da água. No caso
dos esgotos de origem doméstica, as fontes são, basicamente, óleos e gorduras
utilizados na preparação de comidas.
O acúmulo de grandes quantidades de gorduras em unidades de transporte
(coletores), recalque e tratamento, pode causar, segundo Jordão e Pessoa (2005):
• Obstrução de coletores.
• Odores desagradáveis decorrentes da degradação do material acumulado em
unidades de transporte, recalque e tratamento.
• Aspectos desagradáveis em corpos receptores.

Tipos de unidades de remoção


De acordo com Jordão e Pessôa (2005), os dispositivos de remoção são
caracterizados tanto por sua localização como pelo tipo de material flutuante a ser
removido, sendo encontrados os seguintes tipos:

• Caixas de gorduras domiciliares (Figura 27): dispositivos localizados juntamente


às caixas de passagem de instalações sanitárias intradomiciliares recebendo esgotos
de cozinha.

79
Figura 27. Corte esquemático de uma caixa de gordura (esquerda) e vista do material retido
(direita).

Fonte:http://www.desentupidoraesgototal.
Figura 28. Limpeza de uma caixa de gordura domiciliar com.br/ limpezadecaixadegordura.html

• Caixas de gorduras coletivas: diferentemente dos dispositivos anteriores, são de


grande porte, normalmente atendendo conjunto de residências, indústrias ou
fazendo parte de uma ETE.
• Dispositivo de remoção em decantadores: são unidades adaptadas aos
decantadores, projetadas para o recolhimento do material flutuante em
reservatórios, seguindo posteriormente para unidades de tratamento de lodo.
• Tanques de flotação: são dispositivos dotados de unidades insufladoras de ar
comprimido ou dissolvido, propiciando o fenômeno de flotação.
• Separadores de óleo: são unidades especialmente projetadas para aplicação
industrial em esgotos com alto teor de óleo, como, por exemplo, de refinarias.

Características dos dispositivos


O mecanismo de remoção dos materiais flutuantes baseia-se nas mesmas leis do
fenômeno de sedimentação de partículas, no entanto no sentido inverso. Assim, são
independentes do tipo de dispositivo e devem possuir as seguintes características:

• Baixo nível de turbulência para permitir a flutuação do material.


• Boa distância entre os dispositivos de entrada e saída para se garantir a retenção
da gordura no tanque.

80
• Volume suficiente para acumulação do material flutuante entre os períodos de
limpeza.
• Garantia de vedação, minimizando o contato com vetores.

Debate  Trabalhando com processos de tratamento de


esgotos domésticos, você já verificou algum
problema decorrente da inexistência ou ineficácia
dos dispositivos de tratamento preliminar? Qual
ou quais foram estes problemas?

Medição de vazão

A medição da vazão na ETE é extremamente importante para se ter uma idéia da


evolução temporal deste parâmetro, de forma a estimar se a unidade de tratamento
está trabalhando abaixo ou no seu limite de projeto. Adicionalmente, pode ser
utilizada no cálculo do tempo de detenção real dos tratamentos e da carga orgânica
afluente (produto da vazão pela concentração do parâmetro, por exemplo DBO).

A medição da vazão pode ser feita por meio de uma Calha Parshall (mais utilizada),
podendo-se também medir a vazão com rotâmetros ou vertedores (METCALF e
EDDY, 2003). Alguns exemplos de medidores de vazão são mostrados na Figura 29.

A calha Parshall (Figura 29) consiste em um dispositivo na forma de um canal aberto


com dimensões que são padronizadas, sendo composta por uma entrada afunilada,
uma seção contraída de paredes paralelas, conhecida como garganta, e um trecho
divergente. Seu funcionamento consiste na passagem do esgoto pela garganta,
causando uma variação na velocidade e nível d’água ao longo da calha que, por meio
de relação empírica, determinam a vazão instantânea. Além da medição da vazão, a
calha Parshall também auxilia no controle da velocidade na caixa de areia (JORDÃO e
PESSÔA, 2005).

Figura 29. Medição de vazão através de Calha Parshall (esquerda) e de Sensores


eletromagnéticos (direita).

81
Os vertedores, por sua vez, têm funcionamento similar ao da calha Parshall. Esses
dispositivos consistem, basicamente, de um orifício de grandes dimensões e forma
geométrica definida, no qual foi suprimida a aresta do topo. A passagem da água
por esta abertura produz uma lâmina, que por meio da sua altura, relaciona-se a
uma vazão (VERTEDORES, 2008).

No presente, tem sido crescente o uso de sensores eletromagnéticos ou


ultrassônicos, que auxiliam na obtenção de dados instantâneos de vazão. Assim, não
há necessidade do operador medir manualmente a altura da lâmina d´água. Em
alguns casos, os medidores coletam e armazenam automaticamente os dados em
intervalos de tempo pré-determinados, fornecendo todas as variações de vazão da
ETE (diária e horária).

Os medidores eletromagnéticos baseiam-se na Lei de Faraday (Princípio de indução


eletromagnética), que estabelece que um condutor movendo-se em um campo
magnético produz voltagem proporcional à sua velocidade (NUVOLARI et al., 2003).
Sendo assim, determinando-se a velocidade de escoamento do fluido no interior do
tubo de seção transversal conhecida, pode-se estimar a vazão através de um circuito
eletrônico microprocessado. Em condutos forçados, a instalação pode ser efetuada
diretamente na tubulação, através de uma luva ou por meio de acessórios como
abraçadeiras ou tês. Na figura 30 abaixo é apresentado um medidor eletromagnético
de vazão.
Fonte:http://www.hdtechsolucoes.com.br/medidores.ht
ml#Medidores_Eletromagn%E9ticos:

Figura 30. Medidor eletromagnético de vazão

Os medidores ultrassônicos também podem ser utilizados na medição de vazão em


tubulações fechadas e canais abertos, tais como: como calhas do tipo Parshall ou
vertedouros. Nesse último caso, não possui qualquer parte mecânica em contato
com o processo, uma vez que seu funcionamento é totalmente baseado na emissão
de pulsos de ultra-som por um sensor instalado acima do canal e que são refletidos

82
pelo líquido que está sendo monitorando. A vazão é calculada com base na altura do
nível do líquido em um ponto específico do canal; esta altura medida pelo
instrumento será utilizada para o cálculo da vazão instantânea, como também a
totalização desta (METCALF e EDDY, 2003).

Problemas operacionais

Os principais problemas operacionais relacionados às unidades de tratamento


preliminar serão descritos a seguir, juntamente com possíveis soluções.

Gradeamento

Os principais problemas operacionais nas unidades de remoção de sólidos


grosseiros são decorrentes de velocidades do esgoto afluente fora da faixa de
dimensionamento dos dispositivos, conforme apresentado no Quadro 15.

Quadro 15. Principais problemas operacionais em unidades de gradeamento.


Fato Causa Solução
Maus odores nas Acúmulo de material a montante Reduzir, se possível, a seção
proximidades da da grade, decorrente de baixa transversal do canal de
grade velocidade entrada com enchimentos
Arraste de material Alta velocidade do afluente 1. Remoção do material
através grade retido com maior freqüência
2. Aumentar, se possível, a
seção do canal da grade

Fonte: Jordão e Pessoa (2005).

Caixas de areia

Similarmente ao gradeamento, os problemas encontrados têm como principal causa


velocidades afluentes inadequadas, conforme apresentado no Quadro 16.

Quadro 16. Principais problemas operacionais em caixas de areia.


Fato Causa Solução
Maus odores na caixa 1. Excesso de material acumulado 1. Remoção do material
de areia nos canais da caixa de areia; sedimentado com maior
2. Excesso de material orgânico freqüência;
no material removido decorrente da 2. Reduzir, se possível, a
baixa velocidade ou tempo de seção transversal da câmara
detenção longo com enchimentos
Arraste de areia no Alta velocidade do afluente ou 1. Remoção do material
efluente tempo de detenção curto retido com maior freqüência;
2. Aumentar, se possível, a
seção do canal da grade;

83
3. Implantar outra unidade
de caixa de areia.
Fonte: Jordão e Pessoa (2005).

Debate  Para você, qual a importância de se fazer o


controle de vazão nas ETEs?
 Você já trabalhou em alguma unidade de
tratamento onde não era feito esse controle?
Quais as dificuldades encontradas em
decorrência disso?

Compartilhe suas experiências com os demais


participantes da oficina e com o instrutor!!!

Exercícios propostos

a. Defina o tratamento preliminar, destacando os principais poluentes removidos


e a importância do mesmo no tratamento de esgotos.

b. Explique o funcionamento de um decantador primário, listando as partes


componentes do mesmo.

c. Quais as principais características do lodo formado no tratamento preliminar.

d. Qual o destino que normalmente se dá aos resíduos sólidos gerados no


tratamento preliminar da sua cidade?

e. Quais os principais problemas operacionais no tratamento preliminar


encontrados normalmente? Esse panorama é o mesmo na sua cidade?

84
Tratamento primário de esgotos

Autores: Elisângela Maria R. Rocha e André Bezerra dos Santos

Introdução

Como abordado no terceiro capítulo, o tratamento primário de esgotos objetiva a


retirada dos sólidos sedimentáveis. A remoção das partículas depende das suas
características e das condições favoráveis (forças e velocidade) para a sua deposição.
Geralmente, esses decantadores são responsáveis pela remoção de
aproximadamente 40 a 60% dos sólidos em suspensão (SS), o que corresponde a 30
a 40% da DBO (METCALF e EDDY, 2003).

Mais recentemente, tem-se estudado o emprego da flotação em substituição aos


decantadores primários, visando à melhoria da qualidade do efluente.

O lodo gerado no tratamento primário não é estabilizado e necessita de posterior


estabilização antes de ser encaminhado a um destino final ou reuso da agricultura
na forma de biossólidos (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

Decantadores primários

Tipos de Decantadores

Os decantadores primários são unidades que recebem o esgoto proveniente do


tratamento preliminar. Existem, basicamente, dois tipos de decantadores: os de
secção retangular em planta e escoamento longitudinal (Figura 31, corte A) e os de
secção circular (Figura 33, corte A), que, comumente, são alimentados pelo centro e
a coleta do esgoto decantado é feita nas bordas dos decantadores, ao longo da linha
da circunferência (VON SPERLING, 2005).

Conforme Jordão e Pessoa (2005) os decantadores primários de seção retangular são


mais indicados no caso de elevadas variações da vazão dos esgotos, além de serem
mais eficientes na remoção de DBO, quando comparados aos de seção circular. Para
decantação secundária, os dispositivos construídos em secção circular são mais
indicados, pois possuem menores custos de implantação.

Os decantadores retangulares (Figuras 31 e 32) possuem o fundo ligeiramente


inclinado, para que o lodo raspado seja direcionado ao poço de lodo, posicionado no
início do decantador, de onde é removido através de bombeamento ou pressão

85
hidrostática. No trecho final do decantador estão posicionados um defletor, o qual
visa evitar que a escuma formada saia com o efluente, vertedores e canaletas de
coleta do sobrenadante (VON SPERLING, 2005).

Fonte: Adaptado de von Sperling (2005).


Figura 31. Corte (A) e planta baixa de um decantador retangular (B).
Fonte: USP (2001).

Figura 32. Imagem de um decantador retangular

Os decantadores circulares (Figuras 33 e 34) são, em sua maioria, alimentados por


um poço central, de fluxo central, cujo seu diâmetro deverá ser entre 15 a 20% do

86
diâmetro total do decantador. Este fluxo central permite uma distribuição uniforme
do esgoto e a dissipação da energia do fluxo de entrada é obtida pelos defletores
que circundam todo o decantador. Esses decantadores possuem a forma de um cone
invertido, onde o lodo é raspado lentamente por equipamentos mecanizados para
ser acumulado na parte inferior e central (VON SPERLING, 2005).

Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005).

Figura 33. Corte (A) e planta baixa de um decantador circular (B).

87
Figura 34. Imagem de um decantador circular

As escumas formadas na superfície do decantador devem ser removidas


periodicamente para que não ocorra o seu arraste e haja deterioração da qualidade
do efluente. Isso é normalmente conseguido com a instalação de placas retentoras
de escuma a montante dos vertedores, visando também manter as soleiras dos
vertedores isentas de entulhos que possam causar distribuição irregular do esgoto
ao longo do dispositivo de saída. Algumas vezes torna-se necessária a aplicação de
jatos de água na camada de escuma formada (METCALF e EDDY, 2003).

Os removedores mecanizados de lodo e a estrutura em concreto armado são os


principais componentes de custo. Os raspadores mecanizados são equipamentos de
custo elevado, tanto os rotativos dos decantadores circulares quanto, especialmente,
os que são movidos por pontes rolantes que transladam ao longo do comprimento
do decantador (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

Atenção...

Você se lembra da fossa séptica,


séptica vista
no quarto capítulo? Ela também
constitui uma modalidade de
decantador, uma vez que trata os
efluentes basicamente através da
retirada dos sólidos sedimentáveis.

Aspectos de Projeto e Construção


O presente item apresenta detalhes de projeto e aspectos construtivos relacionados
ao decantador primário, os quais são baseados na NBR-12.209. O dimensionamento
do decantador deve considerar alguns fatores como: forma do tanque (circular ou

88
retangular); variação da vazão; balanço de massa; dispositivos de entrada e saída;
taxa de escoamento superficial, tempo de detenção; dimensões (profundidade,
altura, diâmetro, largura), etc. De acordo com a norma, dois parâmetros são
essenciais para o bom dimensionamento:

1) Vazão: deve ser a máxima afluente à ETE, onde o emprego de um único


decantador é limitado para vazões inferiores a 250 L/s.
2) Taxa de escoamento superficial – os valores de projeto são:
• 60 m3/m2.dia, quando não precede nenhum processo biológico;
• 80 m3/m2.dia, quando precede processo de filtração biológica;
• 120 m3/m2.dia, quando precede processo de lodos ativados.

Alguns critérios de projeto são definidos de acordo com o sistema de remoção do


lodo (manual ou mecanizado) e com a forma do decantador escolhido (circular ou
retangular), conforme descrição abaixo, adaptada de Von Sperling (1997):

Decantador primário com


com remoção manual de lodo
• O TDH deve ser inferior a 6h e 1h para as vazões média e máxima, respectivamente;
• A taxa de escoamento através do vertedor de saída deve ser ≤ 720 m3/dia/m de vertedor
(taxa de escoamento laminar);
• A tubulação de remoção de lodo deve ter diâmetro mínimo de 150mm e declividade
mínima de 3%;
• A retirada do lodo do decantador primário deve ser feita, na medida do possível, por
bombeamento;
• Quando o lodo é retirado por pressão hidrostática, as exigências normativas têm plena
validade. Cabe alertar, entretanto, que a perda de carga do lodo primário deve ser considerada
4 a 5 vezes maior do que a perda de carga correspondente à água.

Decantador primário com remoção mecanizada de lodo:


lodo
• O dispositivo de remoção deve ter velocidade ≤ 20 mm/s (decantador retangular), e
velocidade periférica ≤ 40 mm/s (decantador circular);
• A altura mínima de água (parede lateral) deve ser igual ou superior a 2,0m;
• Para decantador final retangular, a velocidade de escoamento horizontal deve ser ≤ 20
mm/s.

Decantador retangular (com remoção mecanizada de lodo)


• A distribuição da vazão afluente deve ser homogênea, de forma a evitar velocidades
horizontais excessivas e curtos-circuitos hidráulicos.
• A profundidade útil do tanque deve situar-se entre 3,0 e 4,5m.
• A relação comprimento/largura deve ser ≥ 3,0.
• A relação comprimento/profundidade deve ser ≤ 10 a 15.
• O mecanismo coletor de lodo deve possuir uma elevada capacidade, de forma a evitar
caminhos preferenciais do líquido pelo lodo, devendo ser também robusto, de maneira a
transportar e remover lodos mais densos acumulados durante interrupções da operação.

Decantador circular
• A faixa mais usual de diâmetros varia de 10m a 40m.

89
• A profundidade útil do tanque (parede lateral) deve situar-se entre 3,0 e 4,5m.
• A remoção do lodo pode ser por raspadores rotatórios, que dirigem o lodo para um poço
no centro do tanque, ou por mecanismos de sucção apoiados em pontes rotatórias.
• O fundo do tanque deve possuir uma declividade em torno de 1:12, no caso de remoção
do lodo por raspadores, ou ser aproximadamente plano, no caso de remoção por sucção.

Problemas e soluções em decantadores


Durante a operação é importante a manutenção dos decantadores, vistoria dos
equipamentos e monitoramento de situações adversas que podem afetar a eficiência
dessa unidade nas ETE´s, conforme algumas situações descritas no Quadro 17.

Quadro 17. Inconvenientes durante a operação

Problema Possíveis Causas Possíveis soluções

• Dosagem inadequada de • Ensaios laboratoriais de


coagulantes antes dos coagulação/floculação (novas
decantadores; dosagens);
Presença de
• Baixa freqüência de limpeza dos • Aumento do descarte do
flocos na
decantadores ou Sobrecarga lodo visando reduzir a concentração
superfície
hidráulica (decantadores de sólidos no decantador.
secundários);

• Longo tempo de • Verificação da freqüência de


armazenamento do lodo  descarte do lodo e modificação dos
Odor
ocasionando fermentação do intervalos de limpeza;
desagradável
mesmo.

• Pré-oxidação do efluente

Sedimentação • Baixa velocidade do fluxo devido • Aplicar jato d água para evitar o
excessiva no ao acúmulo de sólidos acúmulo dos sólidos;
canal de entrada

Freqüentes • Carga excessiva para o • Melhorar a eficiência de remoção


acidentes com dispositivo do lodo e aumentar o período de
raspadores operação dos raspadores;

Má • Crescimento excessivo das • Aumento da vazão de


decantabilidade bactérias filamentosas recirculação do lodo;
dos lodos (intumescimento do lodo)
• Verificação da idade do lodo e da
biológicos
relação alimento /microrganismos;
(decantadores
secundários)

Fonte: Metcalf e Eddy (2003).

90
 Em sua experiência profissional você já se
deparou com algum dos problemas operacionais
apresentados no quadro anterior? Qual foi a
Debate solução adotada?

Compartilhe suas experiências com os demais


participantes da oficina e com o instrutor!!!

Exercícios propostos

1. Defina o tratamento primário, destacando os principais poluentes removidos.

2. Explique o funcionamento de um decantador primário, listando as partes


componentes do mesmo.

3. Quais as principais características do lodo formado no tratamento preliminar.

4. Como se dá a remoção dos sólidos em suspensão nos sistemas de decantação,


flotação e coagulação/floculação/decantação?

5. Liste os principais problemas operacionais encontrados em decantadores


primários, listando as possíveis soluções.

91
Tratamento anaeróbio de esgotos

Autores: André Bezerra dos Santos e Paula Loureiro Paulo

Introdução

A digestão anaeróbia é um processo biológico no qual um consórcio balanceado de


diferentes tipos de microrganismos, na ausência de oxigênio molecular, promove a
transformação de compostos orgânicos complexos (carboidratos, proteínas e
lipídios) em produtos mais simples como metano e gás carbônico (CAMPOS, 1999).
Uma característica única do tratamento anaeróbio é que não existe a necessidade de
um aceptor de elétron como oxigênio e nitrato, por exemplo, pois a própria matéria
orgânica ou o gás carbônico resultante do processo suprem essa necessidade
(McCARTY, 2001).

O tratamento anaeróbio de esgoto vem sendo utilizado há mais de 100 anos, sendo
o tanque séptico, tanque Imhoff, digestores de alta carga com 1 ou 2 estágios, filtro
anaeróbio e lagoa, os mais utilizados até o desenvolvimento dos sistemas chamados
de “alta taxa”. Todos os supracitados reatores eram desprovidos de mecanismo de
retenção de biomassa, o que significa que eram necessários grandes volumes para
se obter boa eficiência. De acordo com Chernicharo (2007), os sistemas de alta taxa
se caracterizam, basicamente, pela capacidade em reter grandes quantidades de
biomassa, de elevada atividade, mesmo com a aplicação de baixos tempos de
detenção hidráulica (TDH), possiblitando assim a retenção de sólidos por um tempo
elevado, mesmo com a aplicação de elevadas cargas hidráulicas no sistema.

O reator de alta taxa mais utilizado no Brasil é o reator anaeróbio de fluxo


ascendente e manta de lodo (Upflow Anaerobic Sludge Blanket - UASB), que foi
desenvolvido pela equipe do Professor Gatze Lettinga na década de 80. Essa
configuração previa um dispositivo de retenção de biomassa sem a existência de um
meio suporte, e um dispositivo de coleta do biogás formado (LETTINGA et al., 1998).
Devido ao mecanismo de retenção, se permitia não somente a manutenção de uma
alta concentração de lodo no reator, como também que se desmembrasse a
dependência do tempo de retenção celular (idade do lodo) do TDH (LETTINGA et al.,
1998). Essa relação de dependência é encontrada nos sistemas de lodos ativados,
por exemplo. Com isso, consegue-se ter uma alta idade de lodo com o reator
operando com um reduzido TDH, demandando áreas menores para o tratamento.

Atualmente, sabe-se que o reator UASB é capaz de promover redução de DQO de


cerca de 65%, com TDH da ordem de 6 horas para esgotos sanitários, calculado em
função da vazão máxima diária, nas condições do Nordeste do Brasil (VAN HAANDEL
e LETTINGA, 1994). O reator UASB, devido à sua alta capacidade de remoção de

92
matéria de orgânica, é uma opção bastante atraente para ser usada como núcleo em
uma estação de tratamento de esgotos (ETE) (LETTINGA et al, 2001).

As principais vantagens e desvantagens dos sistemas anaeróbios são apresentadas


no Quadro 18.

Quadro 18. Principais vantagens e desvantagens dos sistemas anaeróbios quando comparados
aos sistemas aeróbios de tratamento de esgotos.
Vantagens Desvantagens
- Baixa produção de sólidos, cerca de 5 a - Os microrganismos anaeróbios, pelo seu baixo
10 vezes inferior à que ocorre nos crescimento, são mais susceptíveis a problemas
processos aeróbios, além de que o lodo de toxicidade
já se encontra estabilizado
- Baixo consumo de energia e impacto - A partida do processo pode ser lenta, na
positivo nos custos operacionais da ausência de lodo de semeadura adaptado
estação
- Baixa demanda de área - Alguma forma de pós-tratamento é
usualmente requerida
- Baixos custos de implantação, da - A bioquímica e a microbiologia da digestão
ordem de US$ 20 a 30 per capita anaeróbia são complexas e ainda precisam ser
mais estudadas
- Produção de metano, um gás - Possibilidade de geração de maus odores
combustível de elevado poder calorífico quando mal projetados e operados
- Tolerância a elevadas cargas orgânicas - Possibilidade de geração de efluente com
aspecto desagradável
- Aplicabilidade em pequena e grande - Remoção de nitrogênio, fósforo e patógenos
escala insatisfatória
- Baixo consumo de nutrientes
Fonte: Chernicharo (2007); Lettinga et al. (1998).

O Quadro 19 detalha os diversos tipos de processos anaeróbios, além de apresentar


as maiores aplicações do tratamento anaeróbio.

Quadro 19. Principais processos anaeróbios de tratamento de esgotos e principais aplicações.

Digestores de lodo
Sistemas de
Tanques sépticos
baixa taxa
Lagoas anaeróbias
Reatores de leito fixo
Com crescimento aderido Reatores de leito rotatório
Reatores de leito expandido/fluidificado
Sistemas de alta Reatores de dois estágios
taxa Reatores de chicanas
Com crescimento
Reatores de manta de lodo
disperso
Reatores de leito granular expandido
Reatores com circulação interna
Tipos de esgotos tratados por processos anaeróbios
anaeróbios
Destilaria de álcool Chorume
Cervejarias Indústria farmacêutica

93
Indústrias químicas Indústria de papel
Indústrias de laticínios Frigoríficos
Esgoto doméstico Bebidas
Processamento de pescados e comidas Processamento de açúcar
marinhas
Fonte: Adaptado de Chernicharo (2007).

Uma visualização mais clara de algumas das vantagens da digestão anaeróbia em


relação ao tratamento aeróbio, notadamente no que se refere à produção de gás
metano e à baixíssima produção de sólidos, pode ser visualizada na Figura 35.

Fonte: Adaptado de Chernicharo (2007).

Figura 35. Balanço de massa do carbono em processos aeróbios e anaeróbios.

Conforme Chernicharo (2007), nos sistemas aeróbios, ocorre somente cerca de 40 a


50% de degradação biológica, com a conseqüente conversão em CO2. Verifica-se
uma enorme incorporação de matéria orgânica, como biomassa microbiana (cerca de
50 a 60%), que vem a se constituir no lodo excedente do sistema, o qual ainda
necessita de estabilização. O material orgânico não convertido em gás carbônico, ou
em biomassa, deixa o reator como material não-degradado (5 a 10%).

Ainda segundo Chernicaro (2007), nos sistemas anaeróbios, verifica-se que a maior
parte do material orgânico biodegradável presente no despejo é convertida em
biogás (cerca de 70 a 90%), que é removido da fase líquida e deixa o reator na forma
gasosa. Apenas uma pequena parcela do material orgânico é convertida em
biomassa microbiana (cerca de 5 a 15%), vindo a se constituir no lodo excedente do
sistema, o qual se encontra estabilizado. Além da pequena quantidade produzida, o
lodo excedente apresenta-se, por via de regra, mais concentrado e com melhores
características de desidratação. O material não convertido em biogás, ou em
biomassa, deixa o reator como material não degradado (10 a 30%).

94
O reator UASB é composto de várias partes, conforme listado adiante (Chernicharo,
2007; van Haandel e Lettinga, 1994):

 sistema de distribuição do afluente: visa evitar curtos-circuitos hidráulicos, ou


seja, que toda a manta de lodo esteja participando do tratamento;
 separador de fases (sólida, líquida e gasosa): manter o lodo anaeróbio dentro do
reator, em elevadas concentrações, conseguida pela existência de uma zona de
sedimentação.
 defletores: dispositivos construídos para evitar que o biogás formado não saia
com o efluente e seja encaminhado para os coletores de gás.
 Tubulação de coleta de gás: tubulação que retira o biogás produzido e
encaminha para posterior tratamento.
 coletores do efluente: normalmente canaletas com vertedores triangulares e
tubos perfurados submersos.

A Figura 36 ilustra as principais partes componentes de um reator UASB, e a Figura


37 mostra uma ETE anaeróbia composta de reatores UASB.

Saída do Biogás Coleta do Efluente

Compartimento de
Decantação

Separador Trifásico
Partícula de lodo ou

Fonte: Adaptado de Campos (1999).


Defletor de Gases de sólidos suspensos

Bolha de Gás
Manta de
Lodo Partículas de
Lodo

Leito de Compartimento de
Lodo Digestão

Figura 36. Partes integrantes de um reator UASB.

95
Figura 37. Vista de dois reatores UASB em formato circular.

Diferenças básicas entre o tratamento aeróbio e anaeróbio de esgotos

Os reatores anaeróbios para o tratamento de esgotos possuem boa possibilidade de


uso no Brasil, que apresenta temperatura elevada ou moderada em grande parte de
seu território, durante quase todos os meses do ano. Mesmo na região Sul, mais fria,
são encontradas várias estações com processos anaeróbios. Na região Nordeste, que
apresenta temperaturas elevadas, os reatores anaeróbios apresentam-se como uma
alternativa bastante adequada para o tratamento de esgotos.

Para refletir...
Como você associa o aumento da
eficiência dos sistemas de tratamento
biológico com o aumento da
temperatura?
Uma dica: tente imaginar isso em
termos das reações químicas e
atividades dos microorganismos...

Os custos de implantação dos reatores anaeróbios podem ser considerados baixos,


mas é nos custos de operação que reside a principal vantagem devido à não
necessidade de aeração. A produção de lodo é mais baixa do que a das que
decorrem de processos aeróbios, como lodos ativados ou filtros biológicos. A

96
produção de gás pode ser considerada um benefício, pela possibilidade de
purificação e emprego do metano como fonte de energia, mas isto não se viabiliza
facilmente. Ao contrário, o gás resultante do processo anaeróbio constitui uma das
principais limitações operacionais, devido à produção de gás sulfídrico (H2S) que,
mesmo em pequenas concentrações, pode produzir grandes incômodos pela
proliferação de mau odor. Além disso, o gás sulfídrico provoca corrosão das
instalações (CHERNICHARO, 2007). Já em relação ao metano, mesmo com a queima,
prática mais utilizada no Brasil, ainda existe a liberação de CO2 (subproduto da
queima do gás CH4) para o ambiente, que contribui para o aquecimento global.

A eficiência na remoção da DBO dos esgotos é mais baixa do que a dos processos
aeróbios, demandando tratamento complementar. Além disso, a nitrificação é
praticamente nula e a remoção de patogênicos é insuficiente (da ordem de 80%). As
associações com processos aeróbios como pós-tratamento são vantajosas,
podendo-se empregar lagoas de estabilização, lodos ativados, filtros biológicos etc.
(VON SPERLING, 2005). No contexto do Nordeste do Brasil, quando o requisito área
não é o limitante, muitas ETEs vêm sendo construídas empregando reator UASB
seguido de lagoas de polimento. Para situações de baixa disponibilidade de área,
vêm se empregando com sucesso reatores UASB seguido de biofiltro aerado
submerso.

Microbiologia e bioquímica básica do tratamento anaeróbio

Conforme van Haandel e Lettinga (1994), a matéria orgânica é inicialmente


hidrolisada (Figura 38), ou seja, as enzimas produzidas pelas bactérias fermentativas
hidrolisam moléculas complexas como as proteínas, carboidratos e gorduras para os
seus correspondentes monômeros, os quais são os aminoácidos, açúcares e ácidos
graxos voláteis de cadeia longa, respectivamente.

Em seguida esses monômeros são fermentados em compostos orgânicos reduzidos,


como ácidos graxos voláteis de cadeia curta, álcool e lactato em uma etapa chamada
de acidogênese.

Subseqüentemente, esses ácidos podem ser convertidos tanto em H2/CO2, pelos


microrganismos formadores de hidrogênio, quanto em acetato (acetogênese) pelos
microrganismos formadores de acetato. O acetato também pode ser formado pelo
rota do H2/CO2 em uma etapa chamada de homoacetogênese.

Finalmente, o produto final metano/CO2 pode ser formado na etapa da


metanogênese. As archaea metanogênicas são somente capazes de utilizar
substratos como H2/CO2, acetato, formiato e compostos metilados para produzir
metano. Tem-se que cerca de 70% do metano é formado pela rota do acetato e 30%
pela rota do H2/CO2.

97
Orgânicos Complexos
(Carboidratos, Proteínas, Lipídios)

Bactérias Fermentativas
(Hidrólise)

Orgânicos Simples
(Açúcares, Aminoácidos, Peptídeos)

Fonte: Adaptado de van Haandel e Lettinga (1994).


Bactérias Fermentativas
(Acidogênese)

Ácidos Orgânicos
(Propionato, butirato, lactato, álcoois)

Bactérias Acetogênicas
(Acetogênese)

H2 + CO2 Bactérias homoacetogênicas Acetato


(Homoacetogênese)
Archaea Metanogênicas
(Metanogênese)

Archaea CH4 + CO2 Archaea


Metanogênicas Metanogênicas
Hidrogenotróficas Acetoclásticas

Figura 38. Conversão da matéria orgânica em reatores anaeróbios metanogênicos.

98
Condições ambientais e controle dos reatores

Uma condição ambiental de grande importância no tratamento anaeróbio de esgotos


é a temperatura, sendo a faixa mesófila (temperatura ótima em torno de 35ºC), a
mais comumente utilizada. No Brasil, nos reatores em escala real, a temperatura
média de operação fica entre 27-30°C.

O pH no interior do reator é uma condição ambiental de extrema relevância. A faixa


ótima de pH para o processo anaeróbio situa-se entre 6,6 e 7,6; idealmente entre
7,0 e 7,2. O pH e alcalinidade de bicarbonato são fatores relacionados. Uma
quantidade adequada de alcalinidade de bicarbonato deveria sempre estar disponível
para prevenir uma queda de pH abaixo de 6.0.

Além do pH, os principais indicadores de distúrbios nos processos anaeróbios são os


aumentos na concentração de ácidos voláteis e da porcentagem de CO2, e as
diminuições na produção total de gás e na eficiência do processo. A importância da
alcalinidade é manter o sistema sempre em equilíbrio, para que o pH não varie,
mesmo com a produção de H+.

A presença dos principais macronutrientes (nitrogênio, fósforo, enxofre, potássio


etc.) nos despejos deve ser garantida para o equilíbrio do processo anaeróbio.
Costuma-se indicar a relação mínima DQO/N/P de 350/7/1, embora esse valor
possa ser alterado em função das características dos despejos que influenciam na
configuração do sistema biológico (LETTINGA et al., 1998).

Além dos macronutrientes, são necessários micronutrientes (elementos traço) para a


eficiência do processo, já que eles são essenciais a várias enzimas. São exemplos de
elementos traço: níquel, cobalto, molibdênio, ferro, selênio etc. Entretanto,
concentrações elevadas desses compostos podem inibir o processo. A priori, os
esgotos sanitários de uma maneira geral, têm sua composição balanceada e ideal
para a aplicação da digestão anaeróbia (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994).

Uma maneira bastante simples de se avaliar o comportamento da biomassa presente


no reator é através da realização do teste de atividade metanogênica específica
(AME). Este teste mede a capacidade dos microrganismos metanogênicos em
converter substrato orgânico em metano e gás carbônico, e é executado sob
condições específicas (pH, temperatura, agitação). É um teste que pode ser realizado
como análise de rotina para se quantificar a atividade metanogênica dos lodos
anaeróbios, sendo relativamente simples e que tem uma gama muito ampla de
aplicações (LETTINGA et al., 1998). No caso das ETEs, por exemplo, o teste é
bastante interessante para monitorar as mudanças de atividade do lodo, devido a i)
uma possível acumulação de materiais inertes após longos períodos de operação de
reatores, ii) mudanças bruscas de pH ou iii) presença de algum componente tóxico
ou inibidor no esgoto; determinar a carga orgânica máxima que pode ser aplicada a

99
um determinado tipo de lodo e avaliar a quantidade máxima de descarte de lodo,
entre outros (CHERNICHARO, 2007). Uma maneira bastante simples de executar o
teste é através do deslocamento de líquido, que pode ser adaptado às condições
locais do laboratório da ETE.

Critérios e parâmetros de dimensionamento

No tratamento de esgotos sanitários, os reatores UASB são normalmente


empregados a jusante apenas do tratamento preliminar, o que os torna
desprotegidos das variações de vazão de esgotos, uma vez que os TDHs utilizados
são relativamente pequenos (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994). Dessa forma,
recomenda-se que o reator apresente condições de atender a uma situação um
pouco mais desfavorável, isto é, a vazão máxima diária de esgotos. Quando
precedido de um tanque de equalização, o que acontece em algumas das aplicações
industriais, o reator pode ser dimensionado para a vazão média. Para que o reator
tenha eficiência, deve-se manter um ótimo contato entre a biomassa com os esgotos
afluentes e o esgoto em tratamento. De acordo com Campos (1999), esse contato só
será obtido se houver cuidado redobrado no projeto para evitar:

- Formação de curtos-circuitos (caminhos preferenciais que diminuem o


contato).
- Formação de zonas mortas.
- Colmatação ou entupimento de sistemas de distribuição mal projetados ou
mantidos.

Para que estes fatores não ocorram, algumas considerações sobre o projeto e
operação desse tipo de reator são citadas a seguir:

Tempo
Tempo de detenção hidráulica (TDH) no reator:
reator: Representa o tempo médio que o
esgoto permanece no reator, numericamente igual ao quociente entre o volume do
reator e a vazão afluente. De acordo com os estudos recentes, TDHs da ordem de
apenas 6 horas, com base na vazão máxima diária de esgotos, são suficientes para
garantir uma eficiência média na remoção de DBO dos esgotos em torno de 65%
(VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994). Tipicamente o TDH se situa entre 6 e 9 horas.
Uma vez adotado um valor, procede-se o cálculo do volume do reator pela fórmula:
Volume = Vazão x TDH.

Cargas aplicadas:
aplicadas: A carga orgânica volumétrica (COV, kgDQO/m3.dia), dada pela
carga orgânica aplicada diariamente, por unidade de volume do reator, pode
também ser o critério de projeto, possuindo relação com o TDH. Entretanto, os
esgotos sanitários são relativamente diluídos (COV na faixa de 2,5 a 3,5
kgDQO/m3.dia), fato este que faz com que os reatores UASB sejam limitados mais
pela carga hidráulica volumétrica (CHV, m3/m3.dia), que resulta em determinada
velocidade que poderá ou não ser suficiente para provocar o arraste de parte da
manta de lodo, descontrolando o processo (CHERNICHARO, 2007).

100
Profundidade do reator: Tem-se adotado alturas úteis da ordem de 4,0-5,0m, sendo
as alturas dos compartimentos de decantação e digestão, situadas na faixa de 1,5 a
2,0m e 2,5 a 3,5m, respectivamente (CHERNICHARO, 2007).

reator: Fundamental para garantir um


Distribuição do esgoto na entrada (fundo) do reator:
funcionamento integral da zona de manto de lodo, sem escoamentos preferenciais
ou curtos-circuitos que venham a interferir no TDH e contato dos esgotos com o
lodo ativo (Figura 8.4). Recomenda-se uma área de influência de 2-3m2, ou seja,
divide-se a área do reator pela área de influência para se determinar o número de
dispositivos de distribuição do afluente (CHERNICHARO, 2007). As extremidades dos
tubos de alimentação deverão distar cerca de 10 a 20cm do fundo do reator. O
diâmetro dos tubos de distribuição do afluente deve ser de pelo menos 50mm,
preferencialmente 75 ou 100mm. Além disso, recomenda-se que na extremidade do
tubo de entrada do efluente seja feito um corte de 45°, visando dificultar sua
obstrução.

Velocidade ascensional na zona da manta de lodo: A manutenção de determinada


faixa de velocidade ascensional dos esgotos ao longo do corpo do reator é
importante para garantir grau adequado de expansão da manta de lodo, sem que
haja arraste excessivo para a zona de sedimentação. Recomenda-se a faixa de 0,5 a
1,0m/h para reatores UASB tratando esgoto sanitário, calculado pela vazão média
(CHERNICHARO, 2007). A velocidade pode ser calculada por: Vazão = velocidade x
área.

Fonte: Adaptado de Campos (1999).

Figura 39. Representação da velocidade ascencional do efluente no reator

Compartimento de decantação: o esgoto afluente atravessa a manta de lodo no


sentido ascendente, deixando o compartimento de digestão e alcançando o
compartimento de decantação, enquanto os gases são encaminhados para o coletor

101
de gás. Na zona de decantação ocorre a separação sólido-líquido, onde o líquido
verte através de calhas e sai como efluente e os sólidos vão se acumulando até que
atingem peso para retornarem ao compartimento de digestão. Recomendam-se
velocidades de passagem abaixo de 2,5m/h (baseada na vazão média) e a inclinação
das paredes do decantador deve ser superior a 50º (CHERNICHARO, 2007).

Produção de lodo nos reatores UASB: Pode ser esperada uma produção de lodo de
0,1-0,2 kgSST/kg DQOaplicada. Esse lodo já se encontra estabilizado, possui
densidade da ordem de 1030 kgSST/m3 e concentração do lodo de descarte
aproximada de 4% (CHERNICHARO, 2007). Em ETEs de pequeno porte, o lodo
anaeróbio excedente normalmente é encaminhado para um sistema de leitos de
secagem para desidratação, e deste para um aterro sanitário. O projeto deve
contemplar a colocação de tubos de amostragem no seu interior, a diferentes
profundidades. É usual que estes tubos se situem a 0,5, 1,0 e 1,5m do fundo do
reator, indicando facilmente a concentração do lodo na manta de lodo. Estes tubos
devem ser providos de registros de esfera, com diâmetro de 50mm (CHERNICHARO,
2007).

Produção e aproveitamento do biogás: A produção do biogás pode ser calculada a


partir da quantidade de matéria orgânica removida, descontando-se a parcela que é
convertida em lodo. Maiores detalhes do cálculo da produção aproximada de metano
podem ser encontrados em van Haandel e Lettinga (1994). O biogás coletado (Figura
40) possui cerca de 70 a 80% de metano, juntamente com outros gases, conforme
mostrados no Quadro 20.

Quadro 20. Composição típica do biogás produzido no reator UASB tratando esgoto sanitário.
Gás %
Metano, CH4 70-80
Dióxido de carbono, CO2 15-25
Monóxido de carbono, CO 0-0,3
Nitrogênio, N2 1-5
Hidrogênio, H2 0-3
Gás sulfídrico, H2S 0,1-0,5
Oxigênio, O2 Traços
Fonte: Campos (1999).

102
Fonte: Campos (1999).

Fonte: Campos (1999).


Figura 40. Sistemas de distribuição do afluente em reatores UASB (à esquerda) e esquema de
aproveitamento do biogás (à direita).

Não há dúvidas de que os gases gerados em reatores anaeróbios devem ser


considerados como emissão poluidora (CAMPOS, 1999). Assim, restam três
alternativas para evitar tal problema ambiental: tratamento, combustão ou reuso
controlado. Em relação ao reuso do biogás (sempre que comprovado adequado sob
os aspectos técnico, econômico e ambiental), pode-se pensar nas alternativas de:
uso em motores de combustão interna; uso direto do biogás; distribuição em rede,
após tratamentos adequados; alimentação de caldeiras; geração de energia elétrica,
sendo que geralmente a eficiência de geradores alimentados com biogás tratado
varia na faixa de 15 a 30%, envolvendo aspectos positivos que devem ser avaliados
criteriosamente caso a caso.

O poder calorífico do biogás tratado é da ordem de 60% do que é possível com gás
natural, demonstrando assim potencialidade de uso controlado (CAMPOS, 1999). Seu
poder calorífico é muito variável, mas fica em torno de 5,9 kWh/m3, quando seco e
previamente tratado. Contudo, deve-se levar em conta sua agressividade, em termos
de corrosão, o que exige especial cuidado na concepção de sistemas de
aproveitamento e na vida útil dos equipamentos utilizados (CAMPOS, 1999).

Outras considerações importantes: É imprescindível que o projetista também


considere um bom projeto das unidades a montante do reator UASB, de forma a
garantir um bom funcionamento do tratamento. São destacados, segundo
Chernicharo (2007):

• Remoção de sólidos grosseiros e flutuantes: trapos, fibras, sólidos que


sedimentam, e matéria graxa que flutua, reduzindo seu volume útil, e no caso da
escuma, interferindo na qualidade do efluente. Recomenda-se o uso de
gradeamento com espaçamento de até 6mm.
• Remoção de areia: é de fundamental importância o projeto de boas unidades
de desarenação. A areia é muito fácil de ser encontrada dentro dos reatores

103
anaeróbios, diminuindo o seu volume útil e consequentemente o TDH, afetando
assim a eficiência do sistema. Além desses aspectos, o acúmulo de areia leva ao
entupimento dos orifícios e ramais de distribuição do esgoto.

Os principais parâmetros de projeto de reatores UASB são sumarizados no quadro


21.

Quadro
Quadro 21. Principais parâmetros de projeto de reatores UASB.
Critério/parâmetro Faixa de valores, em função da vazão
Para Qmed Para Qmáx d
Carga hidráulica volumétrica (m3/m3.dia) < 4,0 < 6,0
Tempo de detenção hidráulica (h) 6-9 4-6
Velocidade superficial do fluxo (m/h) 0,5-0,7 0,9-1,1
Velocidade nas aberturas para o decantador (m/h) 2,0-2,3 < 4,0-4,2
Taxas de aplicação superficial no decantador (m/h) 0,6-0,8 < 1,2
Tempo de detenção hidráulica no decantador (h) 1,5-2,0 > 1,0
Distribuição do afluente
Diâmetro do tubo de distribuição do afluente (mm) 75-100
Diâmetro do bocal de saída do tubo de distribuição 40-50
(mm)
Área de influência de cada tubo de distribuição (m2) 2,0-3,0
Coleta de biogás
Taxa mínima de liberação de biogás (m3/m2.h) 1,0
Taxa máxima de liberação de biogás (m3/m2.h) 3,0-5,0
Concentração de metano no biogás (%) 70-80
Compartimento de decantação
Inclinação das paredes do decantador (graus) > 45
Profundidade do compartimento de decantação (m) 1,5-2,0
Coleta do efluente
efluente
Submergência do retentor de escuma ou do tubo de 0,20-0,30
coleta do efluente (m)
Número de vertedores triangulares (unidades/m2 1-2
reator)
Produção e amostragem do lodo
Coeficiente de produção de sólidos (kgSST/kgDQOapl) 0,10-0,20
Coeficiente de produção de sólidos em termos de 0,11-0,23
DQO (kgDQOlodo/kgDQOapl)
Concentrações esperadas do lodo de descarte (%) 2-5
Densidade do lodo (kgSST/m3) 1020-1040
Diâmetro das tubulações de descarte de lodo (mm) 100-150
Diâmetro das tubulações de amostragem de lodo 25-50
(mm)
Nota: Para temperatura do esgoto na faixa de 20 a 26oC
Fonte: Chernicharo (2007).

104
Critérios para a partida e operação de reatores anaeróbios

Lodo de inóculo: havendo possibilidade de obtenção de lodo de inóculo (para


compor a manta de lodo do reator), a partida do reator ocorrerá mais rapidamente. É
preferível lodo granular proveniente de outro reator UASB tratando efluente
semelhante. Quanto maior a quantidade de inóculo, mais rápida será a partida do
reator. Porém, há que se considerarem os custos com o transporte de lodo (VAN
HAANDEL e LETTINGA, 1994).

Caracterização dos efluentes: Os efluentes deverão ser caracterizados,


principalmente, em termos de vazão e concentrações de DQO, Nitrogênio Total
Kjeldhal (NTK), Fósforo Total, pH, alcalinidade e temperatura. Estas características
deverão ser corrigidas, caso seja necessário. A presença de substâncias
potencialmente inibidoras ao tratamento deverá ser previamente investigada
(CAMPOS, 1999).

Controle analítico do reator: Deverá ser empreendido um controle analítico sobre os


esgotos à entrada e à saída do reator, com a amostragem do lodo em diferentes
profundidades. A verificação do pH e temperatura deve ser feita pelo menos uma vez
por dia, enquanto as demais características devem ser analisadas pelo menos uma a
duas vezes por semana. Do lodo, é importante o controle da concentração de sólidos
em suspensão voláteis ao longo da profundidade da zona de manto, o qual será
usado na determinação da idade do lodo (CHERNICHARO, 2007).

Materiais de construção

Considerando que a degradação anaeróbia de determinados compostos pode levar à


formação de subprodutos altamente agressivos, aliados às próprias características
dos esgotos, os materiais utilizados na construção de reatores anaeróbios devem
preencher também o requisito básico de resistir à corrosão. A resistência à corrosão
pode ser intrínseca ao próprio material (ex.: PVC, fibra de vidro) ou pode ser-lhe
conferida através de aditivos e revestimentos especiais (ex.: concreto, aço)
(CHERNICHARO, 2007). Por questões construtivas e de custo, o concreto e o aço têm
sido os materiais mais empregados, todavia requerem a aplicação de alguma
proteção anticorrosiva, principalmente nas paredes e lajes situadas acima do líquido.
O separador de gás e sólidos, por ser uma estrutura de grande exposição a esses
agentes corrosivos, deve ser confeccionado em material mais resistente ou revestido
com maior rigor. O concreto tem sido o material mais utilizado, mas as experiências
nem sempre são satisfatórias, devido a problemas de vazamento de gases e
corrosão, além de se constituir em uma estrutura pesada e volumosa
(CHERNICHARO, 2007). Materiais não-corrosivos e menos volumosos, como o PVC,
lona e resina poliéster reforçada com fibra de vidro são opções cada vez mais
utilizadas.

105
Nas figuras abaixo são mostrados dois UASBs feitos com material diferente. O
primeiro, figura 41, é construído em estrutura de concreto armado. Já o segundo,
apresentado na figura 42 é produzido em plástico reforçado com fibra de vidro.

Fonte:http://www.tratamentodeagua.com.br/a1
/informativos/acervo.php?chave=3015ecp=est
Figura 41. UASBs com estrutura em concreto armado

Fonte:http://www.shoppingdaagua.com.br/product.asp?pid=17

Figura 42. UASB feito em estrutura de plástico reforçado com fibra de vidro

Custos de reatores anaeróbios

Os custos de construção de reatores UASB têm sido na faixa de 20 a 40 dólares per


capita, excluindo o valor de aquisição do terreno. Com relação aos custos de
operação e manutenção de reatores UASB, os valores reportados são na faixa de 1,0
a 1,5 dólares per capita por ano (CHERNICHARO, 2007).

106
Correção de eventuais problemas durante a operação de reatores UASB

Quadro 22. Eventuais problemas durante a operação de reatores UASB.


Problema Sintomas Comentário
Aumento da  Formação de maus odores Se possível, diminuir a
carga orgânica  Queda temporária da eficiência do carga.
volumétrica reator, principalmente pelo acúmulo de
(kgDQO/m3.dia) AGV
 Queda do pH caso a alcalinidade não
seja suficiente
Aumento da  Queda temporária da eficiência do Se possível, diminuir a
carga hidráulica reator vazão afluente à unidade
volumétrica  Aumento dos sólidos em suspensão com problemas.
(m3/m3.dia) efluente
 Diminuição do TDH com risco de
varrimento das metanogênicas
Presença de  Formação de maus odores Eliminar as fontes de
substâncias  Queda da eficiência do reator contribuição
tóxicas  Diminuição da produção de biogás
Diminuição da  Queda temporária da eficiência do Caso o reator não seja
temperatura reator, podendo inclusive comprometer a coberto, avaliar a
digestão anaeróbia possibilidade de cobri-lo

Elevadas  Formação de maus odores Localizar fonte de poluição


concentrações de
sulfato no esgoto
Baixa eficiência  Elevada concentração de areia na Implantar um dispositivo
do tratamento manta de lodo mais eficiente de remoção
preliminar de areia ou esvaziar os
desarenadores com mais
freqüência
Queda de pH no  Acúmulo de AGV e possível acidificação Dosar agente alcalinizante
reator ou azedamento do reator
Dosagem elevada  Excesso de sólidos inertes na manta de Dosar com cautela para não
de cal hidratada lodo prejudicar a qualidade do
lodo
Fonte: Adaptado de Campos (1999); van Haandel e Lettinga (1994); Chernicharo (2007).

107
Debate

 Você já teve oportunidade de operar algum reator UASB? Caso já, foi verificada
a ocorrência de algum dos problemas operacionais descritos acima? Quais?
Qual foi (foram) a(s) solução(ões) adotada(s)?

 Quais vantagens específicas para sua cidade e para a macrorregião na qual ela
está inserida você acredita que os reatores UASB possuem em relação a outras
tecnologias de tratamento? E quais desvantagens?

 Você acredita na maior viabilidade da aplicação de uma outra tecnologia para


sua região? Por quê?

Compartilhe suas experiências com os demais


participantes da oficina e com o instrutor!!!

Exercícios propostos

1. Liste as principais vantagens e desvantagens dos sistemas anaeróbios de


tratamento de esgotos.

2. Liste os principais sistemas anaeróbios de baixa e alta taxa. Pesquise sobre os


principais sistemas anaeróbios utilizados em sua cidade.

3. Quais as principais diferenças existentes entre os processos aeróbios e


anaeróbios de tratamento de esgotos?

4. Liste as principais etapas da conversão da matéria orgânica em metano.

5. Quais os principais requisitos ambientais necessários ao funcionamento dos


processos anaeróbios?

6. O que consiste um reator anaeróbio de manta de lodo (UASB) e quais as


principais partes componentes do mesmo?

7. Quais os principais problemas operacionais encontrados em reatores anaeróbios?

108
Lagoas de estabilização

Autores: Fernando José Araújo da Silva, Gilson Barbosa Athayde Júnior


e André Bezerra dos Santos

Introdução

Sistemas de lagoas de estabilização têm sido amplamente utilizados para tratamento


de esgoto sanitário em todo o Brasil, tendo-se observado resultados satisfatórios em
termos da qualidade do efluente, quando o projeto é tecnicamente adequado e
existe um mínimo de operação e manutenção (VON SPERLING, 2002).

Lagoas de estabilização são, basicamente, grandes reservatórios de pequena


profundidade, geralmente limitados por diques de terra, paredes de contenção ou,
até mesmo, escavados no próprio terreno. Nelas, as águas residuárias brutas ou pré-
tratadas são estabilizadas por processos naturais que envolvem principalmente
bactérias e algas (MARA, 1997). As lagoas de estabilização podem tratar uma grande
variedade de águas residuárias (domésticas e industriais), podendo funcionar sob
diversas condições ambientais, de tropicais até árticas.

Para estabilização do material carbonáceo em lagoas de estabilização, o processo


envolve a atividade metabólica de microrganismos, particularmente bactérias e
algas. As algas, através da fotossíntese, produzem oxigênio, utilizando o CO2
produzido pelas bactérias. Essas usam o oxigênio formado para oxidar o material
orgânico biodegradável, liberando mais CO2, dando assim continuidade ao processo.
De forma complementar, na ausência de oxigênio, microrganismos anaeróbios
podem transformar o material orgânico em biogás, por meio do processo de
digestão anaeróbia. Isto ocorre na camada inferior da coluna líquida da lagoa e no
sedimento (MARA et al., 1992; VON SPERLING, 2002). O processo de interação entre
bactérias e algas presentes em lagoas de estabilização e os demais mecanismos
atuantes no tratamento de esgotos são ilustrados na Figura 43.

109
Fonte: Adaptada de von Sperling (2002).
Figura 43. Processo de interação entre bactérias e algas presentes em lagoas de estabilização
e os demais mecanismos atuantes no tratamento de esgotos.

Para as algas alcançarem crescimento satisfatório, mesmo no Brasil, onde se têm


normalmente condições favoráveis como temperatura elevada, alta incidência de
irradiação solar, etc., longos tempos de detenção hidráulica (TDH) são requeridos.
Conseqüentemente, são sistemas que demandam grandes áreas, limitando assim a
sua utilização em áreas densamente povoadas.

O longo TDH, da ordem de 20 a 30 dias, necessário para a estabilização do material


orgânico, é extremamente benéfico tanto para a remoção dos ovos de helmintos,
que se sedimentam no fundo da lagoa, quanto para remoção de coliformes
termotolerantes (MARA et al., 1992; VON SPERLING, 2002). Assim, produz-se um
efluente com boa qualidade sanitária, que pode muitas vezes ser utilizado em
irrigação irrestrita, desde que haja um pós-tratamento por lagoa de maturação.

Tipos de lagoas de estabilização

Os principais tipos de lagoas de estabilização convencional são as anaeróbias,


facultativas e de maturação (aeróbias), as quais são detalhadas a seguir:

Lagoas Anaeróbias (LA): recebem o esgoto proveniente do tratamento preliminar,


suportam elevadas cargas de DBO5 e são construídas em grandes profundidades
(entre 2 e 5 metros) (MARA et al., 1992). A digestão anaeróbia é o mecanismo de
remoção predominante do material orgânico, através das suas diversas fases de
hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese/sulfetogênese, as quais são
abordadas em detalhe no Capítulo 8. A elevada carga orgânica aplicada (> 100 g.
DBO/m3.dia ou 3000 kg DBO/ha.dia, pra uma lagoa com profundidade de 3 m)
impede o desenvolvimento de algas, principalmente pela toxicidade de amônia e
sulfeto (MARA e PEARSON, 1986). Assim, não há praticamente ocorrência de
fotossíntese. As lagoas anaeróbias são normalmente seguidas de lagoas facultativas.

110
Lagoas Facultativas (LF): podem ser primárias, quando recebem esgoto bruto, ou
secundárias, quando recebem esgoto tratado, normalmente numa unidade
anaeróbia. Devido a uma menor carga orgânica aplicada, em relação às lagoas
anaeróbias, há um ambiente aeróbio na camada superior, decorrente da produção
fotossintetizante das algas, e anaeróbio na camada inferior. O fato de receber uma
carga orgânica relativamente baixa (100 a 400 kg DBO/ha.dia) e possuir uma
profundidade reduzida (1,5 a 2,0 m) contribui para a manutenção da camada aeróbia
(MARA, 1997). Em uma lagoa facultativa coexistem os dois processos de remoção do
material orgânico: oxidação nas camadas mais próximas da superfície e digestão
anaeróbia no fundo da lagoa. A Figura 43, anteriormente apresentada, é a
representação de funcionamento de lagoas facultativas, e a figura 44 abaixo
representa sistema composto por uma lagoa anaeróbia em série com uma lagoa
facultativa.
http://webmail.desa.ufmg.br/~marcos/index_arquivos/PowerP
oint/LagEst.pdf
Fonte:

Figura 44. Vista de dois sistemas de lagoas do tipo Australiano.


Composto por uma lagoa anaeróbia em série com uma facultativa.

Lagoas
Lagoas de Maturação (LM): construídas após lagoas facultativas, recebem uma carga
orgânica reduzida (≤ 100 kg DBO/ha.dia) e possuem profundidade entre 1 e 1,5m.
Em geral são projetadas para compor séries de lagoas (SILVA et al., 1996). As lagoas
de maturação possuem uma coluna líquida mais uniforme e quase que inteiramente
aeróbia. Na coluna líquida são estabelecidas condições ambientais com elevados
valores de pH, oxigênio e radiação solar, que associados a pouca disponibilidade de
matéria orgânica e predação favorecem à remoção de organismos patógenos,
principalmente bactérias e vírus (MARA e PEARSON, 1986).

Os tipos de lagoas acima descritos são os mais empregados e consideram


principalmente a efetividade de tratamento, simplicidade, robustez e custo. É

111
importante ressaltar a necessidade das unidades de tratamento preliminar em
qualquer estação de tratamento de esgotos, que devem constar de gradeamento e
desarenação, além de um dispositivo de medição de vazão (JORDÃO e PESSÔA,
2005). Von Sperling (2002) destaca diferentes arranjos em sistemas de lagoas de
estabilização, conforme mostrado a seguir:

(a)

Fonte: Adaptada de von Sperling (2002).


(b)

(c)

(d)

Figura 45. Esquemas freqüentes de ETEs compostas por lagoas de estabilização: (a) uma lagoa
facultativa primária, (b) uma lagoa facultativa primária seguida uma lagoa de maturação, c)
uma lagoa anaeróbia seguida de uma lagoa facultativa secundária, e (d) uma lagoa anaeróbia
seguida de uma lagoa facultativa secundária e uma lagoa de maturação.

O arranjo de lagoas de estabilização em séries é uma providência necessária, quando


se deseja um tempo de detenção hidráulica menor. A presença da lagoa anaeróbia
não é obrigatória e às vezes é evitada, para não haver problemas de odores que dela
emanam. Neste caso, a lagoa facultativa recebe uma carga orgânica muito maior e o
TDH nela será mais longo.

Áreas densamente habitadas ou de valor elevado, constituem um fator limitante para


a adoção de sistemas de lagoas de estabilização. No entanto, na maior parte do
Brasil existe disponibilidade de área a baixo custo nas proximidades das cidades.

112
Sistemas de lagoas de estabilização alcançam boa remoção de DBO, e reduções de
coliformes termotolerantes (Escherichia coli – E.coli) superiores a 99,99% (quando há
pós-tratamento com lagoas de maturação), apresentando efluentes com
concentrações inferiores a 103 coliformes termotolerantes/100 mL (MARA et al.,
2001). Também, em razão do elevado TDH, os efluentes tratados estarão
virtualmente livres de parasitos intestinais. As remoções de sólidos em suspensão e
de nitrogênio são consideradas apenas razoáveis e a remoção de fósforo é
normalmente baixa.

Debate
 Você consegue entender a relação existente entre as dimensões de projeto
da lagoa (profundidade, volume etc.) e a natureza das transformações que
ocorrem com o efluente em seu interior?

Há ainda outros tipos de lagoas que constituem casos particulares, conforme


descreve Mara et al. (1992):

a) Lagoas facultativas parcialmente aeradas – são um tipo de lagoa aerada que, por
sua vez, é uma variação dos sistemas de lodos ativados. São empregadas quando a
disponibilidade de área é insuficiente para implantação de lagoas facultativas ou
para substituir lagoas anaeróbias que apresentam problemas de sobrecarga ou mau
odor. Nesse tipo de lagoas, aeradores suprem a massa líquida com oxigênio
dissolvido.

b) Lagoas de lodo – destinadas a receberem lodo de estações de tratamento de


esgotos, como lodos ativados e fossas sépticas.

c) Lagoas de peixes
peixes – destinam-se ao cultivo piscícola, sendo bastante empregadas
na Ásia, especialmente Índia, China e Tailândia. Os principais peixes cultivados são
Tilápia e Carpa.

d) Lagoas de macrófitas – o emprego de macrófitas (e.g. jacintos) tem como objetivo


a melhoria da qualidade dos efluentes de lagoas de estabilização, principalmente na
remoção de material em suspensão e nutrientes. Infelizmente, estas plantas
colaboram na proliferação de mosquitos.

e) Reservatórios de estabilização – são tanques profundos (5 a 10m) nos quais o


esgoto bruto ou previamente tratado é armazenado durante certo período, para
reuso posterior em irrigação. Esse conceito foi desenvolvido em Israel no início dos
anos 90.

113
Para refletir...

Dentre os processos de tratamento de esgotos


apresentados até aqui, as lagoas de estabilização
talvez sejam as que mais se aproximam do
ambiente natural. Você conseguiria associar
algumas das diferentes modalidades de lagoas de
estabilização apresentadas a sistemas
encontrados livremente na natureza?

Critérios de projeto

Existem muitos métodos para o dimensionamento de lagoas de estabilização. Em


geral, os modelos empíricos são mais simples. Partem de uma carga orgânica
máxima admissível (volumétrica - Lv ou superficial - Ls) segura que pode ser
aplicada à lagoa. O dimensionamento correto exige a harmonização de critérios de
carga, tempo de detenção hidráulica mínimo (TDH mínimo) e profundidade típica da
lagoa em questão.

Remoção de matéria orgânica


Lagoas anaeróbias
São aplicadas cargas orgânicas volumétricas (Lv) elevadas. As cargas variam entre
100 e 300 g.DBO/m3.dia, sendo este último o valor máximo admissível para o bom
funcionamento da lagoa (MARA et al., 1992). O tempo de detenção hidráulica
mínimo sugerido por von Sperling (2002) é de 3 a 6 dias, mas podem ser
empregados valores de 2 e até mesmo 1 dia.

O parâmetro orientador da carga máxima admissível do dimensionamento é a


temperatura (T em oC) média do mês mais frio ao longo do ano, que também é
empregado para estimar a remoção de DBO. O cálculo de Lv (g.DBO/m3.dia) e de
remoção de DBO (%) são obtidos a partir das equações abaixo, descritas em Mara
(1997). Para temperaturas de 10 a 20º C emprega-se a Equação 1 no cálculo de Lv.
Para temperaturas maiores que 20 e de até 25º C o valor será dado pela Equação 2.
A remoção de DBO será dada pela Equação 3.

Lv = 20.T – 100 (Eq. 1)

114
Lv = 10.T + 100 (Eq. 2)
Rem. DBO (%) = 2.T + 20 (Eq. 3)

Mara (1997) sugere uma Lv de 350 g.DBO/m3.dia quando a temperatura é superior a


25º C, sendo esperada uma remoção de DBO de 70%.

Lagoas facultativas
facultativas
O cálculo é baseado na carga orgânica superficial (Ls), expressa em Kg. DBO/ha.dia.
A temperatura média do ar no mês mais frio (oC) durante o ciclo anual é a variável
independente. A Equação 4 abaixo, proposta por Mara (1997), é empregada para
este cômputo.

Ls = 350.(1,107 - 0,002.T) T-25 (Eq. 4)

O valor mínimo de TDH varia entre 5 e 10 dias (VON SPERLING, 2002). A remoção
média de DBO estimada para lagoas facultativas primárias varia entre 75 e 80%. Em
lagoas facultativas secundárias (a jusante de uma lagoa anaeróbia) pode ser
alcançada uma remoção média combinada (i.e. lagoa anaeróbia + lagoa facultativa
secundária) de 80 a 85%. A remoção de DBO pode ser referida à concentração na
amostra filtrada, comparada à amostra não filtrada do esgoto afluente. Neste caso,
séries de lagoas podem alcançar facilmente remoções da ordem de 90% (MARA,
1997).

Lagoas de maturação
Conforme declarado anteriormente, as cargas orgânicas superficiais aplicadas são
baixas (≤ 100 kg DBO/ha.dia). Recebem no máximo 75% da carga aplicada às lagoas
facultativas. O valor mínimo de TDH é de 3 dias (MARAIS, 1974; BANDA et al., 2005).
A DBO na massa líquida pode atingir valores inferiores a 30mg/L. As remoções de
DBO em lagoas de maturação são baixas (10 a 30%) e diminuem, em cada lagoa, à
medida que são incorporadas outras unidades à série. Mara (1997) declara que cerca
de 70% da DBO no efluente de lagoas de maturação é proveniente da presença de
algas. De outra forma, o conteúdo de DBO na amostra filtrada pode ser estimado
conforme sugere da Silva (2000).

DBO filtrada = 0,2284.(DBO não filtrada) 1,0925 (Eq. 5)

Remoção de patogênicos
Remoção de coliformes
coliformes termotolerantes
Os coliformes termotolerantes são os principais indicadores da eliminação de
patógenos nas águas. Já foi afirmado nesse texto que em lagoas de estabilização, os
mecanismos envolvidos na eliminação destes organismos são: pH, oxigênio
dissolvido, predação, ação de raios solares e ausência de substrato (alimento). O
modelo representado pela Equação 6, considerando séries de lagoas, é empregado
na determinação do conteúdo de coliformes termotolerantes (Ne) no efluente final
(MARA, 1997).

115
Ne = ___________________Ni_______________________ (Eq. 6)
(1 + kb.TDH1) x (1 + kb. TDH2) ... x (1 + kb. TDHn)

Onde: Ni é a concentração de coliformes termotolerantes no esgoto bruto


(células/100 mL); TDH é o tempo de detenção hidráulica de cada lagoa da série; kb é
a taxa de decaimento de coliformes (1/dia).

Os valores de TDH na equação acima são calculados com base nos critérios de carga
já descritos. A correção da constante de decaimento de coliformes termotolerantes é
função da temperatura da água (Tágua), que pode ser obtida em função da
temperatura do ar (Tar) na Equação 7, sugerida por von Sperling (2002).

Tágua = 0,54.Tar + 12,7 (Eq. 7)

A correção de kb é dada conforme a Equação 8 e recomendada por Mara et al. (2001)


para regiões com temperaturas superiores a 20º C.

kb = 2,6.(1,15)T-20 (Eq. 8)

Onde: T é a temperatura da água em °C e kb o valor da constante de decaimento de


coliformes termotolerantes (1/dia).

Remoção de ovos de helmintos

Os helmintos são parasitas intestinais referenciados como vermes (e.g. Ascaris


lumbricoides, Taenia sp., Necator americanus, Schistosoma sp., Ancylostoma
duodenale). São mais comuns em regiões de clima tropical e onde as condições de
saneamento são piores. A presença de ovos de helmintos é muito grande em
esgotos domésticos nestas regiões. A remoção desses ovos de parasitas dos esgotos
quebra o ciclo de contaminação e reinfestação nos seres humanos (FEACHEM et. al,
1983; STERRITT e LESTER, 1988).

A remoção de ovos de helmintos em lagoas de estabilização se dá por sedimentação


(reveja o item Tipos de lagoas de estabilização).
estabilização Portanto, quanto maior o TDH,
maior será a remoção. Há apenas um modelo geral, limitado a um TDH de até 30
dias Após este valor de TDH, assume-se que a remoção é completa (AYRES et al.,
1992). O cálculo é determinado com a Equação 9.

E% = 100.[1 – 0,41.e(-0,49.TDH+0,0085.TDH²)] (Eq. 9)

Onde: E é a eficiência de remoção em % e TDH o tempo de detenção hidráulica total


do sistema de lagoas (em dias).

116
Remoção
Remoção de nutrientes

Nitrogênio
Em lagoas anaeróbias o nitrogênio orgânico é hidrolisado a amônia. Portanto, os
efluentes destas lagoas podem apresentar concentrações mais elevadas de amônia
do que no esgoto bruto (STANLEY e SMITH, 1993; SILVA et al., 1996). Em lagoas
facultativas e de maturação o nitrogênio na forma amoniacal pode ser incorporado à
biomassa de algas, mas também pode ser volatilizado em razão do pH elevado
(MARA et al., 2001).
Há pouca evidência de nitrificação em lagoas de estabilização. Isso se dá em razão
da falta de suporte físico para crescimento de bactérias nitrificantes. Uma vez que
não ocorre nitrificação, não há desnitrificação por inexistência de nitrato.
A remoção de nitrogênio total e de amônia em lagoas de estabilização pode alcançar
percentuais de 80 e 95%, respectivamente,quando há lagoas de maturação. A
Equação 10 pode ser empregada para calcular a concentração de amônia total no
efluente de lagoas facultativas e de maturação (MARA et al., 2001). Para cálculo da
concentração de nitrogênio total no efluente dessas lagoas é possível utilizar a
Equação 11, apresentada por Reed (1985). Nos dois modelos, é requerido o
conhecimento do pH na massa líquida da lagoa, que pode ser estimado a partir da
alcalinidade total (em mg CaCO3/L) do esgoto afluente à lagoa, de acordo com a
Equação 12 (MARA, 1997).

Ce = ____________Ci_______________ (Eq. 10)


[1 + 8,65x10-3.(A/Q).e1,727.(pH-6,6)]

Onde: Ce e Ci são as concentrações de amônia total (mg NH3-N/L) no efluente e


afluente, respectivamente; A é a área da lagoa (m2); Q é a vazão tratada (m3/dia).

T − 20
].[ TDH + 60 ,6 .( pH − 6 ,6 )
Ce = Ci .e { − [ 0 ,0064 .( 1 ,039 ) ]}
(Eq. 11)

Onde: Ce e Ci são as concentrações de nitrogênio total (mg N/L) no efluente e


afluente, respectivamente; T é a temperatura média na massa líquida da lagoa (oC) e
TDH deve ser expresso em dias.

pH = 7,3.e (0,0005.Alcalinidade) (Eq. 12)

Fósforo
Remoção de fósforo em lagoas de estabilização pode ocorrer por assimilação pela
biomassa de algas e por precipitação química (MARA et al., 2001). Há a sugestão de
que um maior número de lagoas de maturação pode permitir remoção de fósforo,
mas que em geral não ultrapassa 30 a 40%. Cabe ressaltar que o projeto de lagoas
visa essencialmente à remoção de patógenos e de matéria orgânica.

117
Lembre-
Lembre-se, sua participação
participação é muito
importante. Caso você tenha dúvidas ou
comentários a fazer sobre os assuntos
abordados, exponha-
exponha-os a todos os
participantes!!!

Melhoria de efluente de lagoa de estabilização com filtros de pedra

Conforme já declarado, uma das desvantagens de lagoas de estabilização é a


remoção apenas razoável de sólidos suspensos totais (SST), em decorrência da
grande presença de algas no efluente. Von Sperling (2002) relata diferentes
alternativas para melhoria da qualidade de efluente de lagoas, dentre elas: a) filtros
de areia, b) micropeneiramento, c) escoamento superficial, d) banhados artificiais, e)
flotação, f) coagulação-clarificação, g) biofiltros aerados e h) filtros de pedras.

A inclusão de filtros de pedra é alternativa atraente em razão da simplicidade e baixo


custo. A profundidade do leito filtrante pode variar entre 1,5 e 2,0 m. A carga
hidráulica aplicada é 1,0 m3/m3.dia de leito filtrante submerso. Entretanto, este valor
pode ser elevado caso a temperatura seja mais alta (MARA et al., 2001). A
granulometria do leito filtrante (i.e. diâmetro médio) pode variar entre 19 e 200 m
de. Como é mais difícil estimar a concentração de SST, a remoção é mais aplicada ao
parâmetro DBO, e chega a 50 % quando recebe efluentes de lagoas de maturação.
Mesmo assim para SST as concentrações serão menores que 30 mg/L.

Construção de lagoas de estabilização

O presente item visa abordar alguns dos pontos mais relevantes da construção do
sistema de lagoas de estabilização, os quais exigem conhecimentos de várias áreas
da engenharia. Uma revisão mais extensa pode ser encontrada em Cossio (1993),
Mara (1997) e von Sperling (2002).

Seleção da área: como esse sistema de tratamento demanda muita área, geralmente
a construção fica impossibilitada em locais com grande densidade populacional.
Entretanto, deve-se situar o mais próximo possível da cidade para reduzir os custos
de transporte, especialmente caso este seja via recalque, onde se somam os custos
de operação e manutenção de estações elevatórias. Além disso, é interessante que
fique situada próxima de um corpo receptor, para a minimização da extensão do
emissário de esgoto tratado.

Serviços de topografia: na fase de projeto é necessário fazer um levantamento


planialtimétrico da área selecionada. O levantamento começa com a locação da linha
de base, com espaçamento entre piquetes de 20m, sendo seguido da abertura das

118
seções (também 20m), de forma a cobrir toda a área da lagoa. Pode-se tanto
trabalhar com uma cota verdadeira, através do transporte da referência de nível (RN),
como com cota arbitrária, adotando-se um RN em um ponto conhecido e fazendo-se
todos os cálculos das cotas em relação a ele. Durante a construção, as cotas de
fundo e coroamento das lagoas, bem como dos seus demais dispositivos, deverão
ser cuidadosamente verificadas. A partir das curvas de nível e das cotas de fundo e
coroamento, pode-se fazer um estudo de otimização do movimento de terra (corte e
aterro), minimizando o custo com transporte de material.
http://webmail.desa.ufmg.br/~marcos/index_arquivos/Powe
rPoint/LagEst.pdf
Fonte:

Figura 46. Fase de preparação do terreno para construção de um sistema de


lagoas de estabilização.

Serviços de geotecnia: este tipo de estudo visa determinar a inclinação dos taludes
de montante e jusante, posto que solos mais argilosos permitem taludes mais
inclinados e solos arenosos, taludes mais suaves. Define-se também se o material
utilizado nos diques e selos será local ou transportado. Quando o material é
proveniente de empréstimo, os serviços de geotecnia compreendem a busca por
jazidas de materiais. Nestes casos, a distância até as jazidas é um item a ser
considerado em decorrência dos custos de transporte. O selo é o material do fundo
da lagoa, que é responsável pela sua estanqueidade, normalmente possuindo uma
espessura de 30 a 40cm. Todo o movimento de terra deve ter controle de
compactação, com camadas inferiores a 20cm, e seguindo rigorosamente ao grau de
compactação estabelecido pelas análises de caracterização do solo.

119
Fonte: http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/
relatorios /revista/raee0002/parceria.htm
Figura 47. Fase de construção de um sistema de lagoas, sendo uma lagoa
anaeróbia, uma facultativa e uma de maturação (com chicanas), localizada no
município de Santa Fé do Sul, no noroeste do estado de São Paulo.

Acessórios das lagoas: normalmente, nos projetos de lagoas de estabilização, é


prevista a colocação de placas de concreto na área de contato entre a lâmina de
esgoto e o talude de montante. São previstos dois ou mais dispositivos (partidores)
de entrada e saída, de maneira a evitar o acúmulo da matéria orgânica apenas em
uma parte da lagoa e subseqüente exalação de maus odores. Normalmente, uma
folga de 0,50m é adicionada à altura útil da lagoa, chamada de borda livre. São
previstos também dispositivos de drenagem para águas pluviais e colocação de
gramas ou pedriscos no talude de jusante para evitar erosão. Fonte:http://webmail.desa.ufmg.br/~marcos/index_arquivos/
PowerPoint/LagEst.pdf

Figura
Figura 48. Vista detalhada do talude de uma lagoa de estabilização.

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