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1 1. Kalumniator fo processo romano, no qual a acusagio pablica tinha limitado, a calinia representava para a adminis- dda justiga uma ameaca to grave, que o falso acusa- ‘punido pela marcagio na sua fronte da letra K (ini- alumniator). Cabe a Davide Stimilli o mérito de ter ‘a importincia deste facto para a interpretagio do ss0 de Kafka, que 0 incipit apresenta sem rescrvas CO- ‘processo calunioso («Alguém devia ter caluniado K.,.porque, sem que ele tivesse feito coisa alguma de ‘certa manhi foi detido»). K., sugere Stimilli, embran- ‘Kafka estudara histéria do Direito Romano quando Va para exercer uma profisslo juridica, nio signi . Segundo a opinio comum que remonta a Max Brod, mas calinia. 2. Que a caltinia represente a chave do romance — ¢, tal de todo o universo kafkiano, to potentemente marcado ppoténcias miticas do direito — toma-se, contudo, ainda is esclarecedor se observarmos que, a partir do momento fem que a letra K. nio substitu simplesmente kalumnia, mas ‘se refere ao kalumniator, isto é, 30 falso acusador, tal 86 pO- er Giorgio Agamben de significar que 0 flso acusador & 0 proprio protagonista do romance, 0 qual, por assim dizer, intentou um processo cal- nioso contra si proprio. O «alguém> (jemand) que, com a sua calinia, deu inicio ao processo, € 0 proprio Josef K. Mas tal & precisamente © que uma leitura atenta do ro- ‘mance mostra para além de qualquer dtvida. Embora, com ‘feito, K. saiba desde o inicio que ndo € de facto certo que o tribunal 0 tenha acusado («No sei se voe8 foi acusado», . Um jurista moderno escreve, ‘sentido, que, no mistério do processo, 0 prinespio Hpoena sine indico se inverte nesse outro, mais tencbro- indo 0 qual no ha juizo sem pena, porque toda & pe~ io juizo. , diz 0 altura a K.., «significa té-o ja perdido. ‘evidente na autocalinia e, em geral, no processo ca- {0 processo calunioso € uma causa na qual nada ha ja em causa, em que 6 a prépria causa a ser posta em. {sto € a acusagdo como tal. E onde a culpa consiste no ‘40 processo, a sentenca nio pode ser sendo 0 pr dda calinia, 0s juristas romanos conheciam outras temeritates ou obnubilagdes da acusagio: a praevari- sto 6 a colusio entre acusador © acusado, simetr ‘oposta a calinia, e a rergiversatio, a desisténcia da (para os romanos, que viam uma analogia entre a ‘€0 processo, a desisténcia da acusagio era uma for- deseredio — tergiversare significa originalmente «vi- costas>). K. € culpado das trés: porque se calunia, porque, na fem que se autocalunia, se colude consigo proprio © no é soliddrio com a sua propria acusagio (neste sen- -stergiversa, procura escapatérias ¢ faz perder tempo). |. Compreende-se, enti, a subtileza da autocaltinia como égia que tende a desactivar e a tomar ociosa a acusagio, ‘em causa que o direito endereea ao ser. Porque se a act- alsa ¢ se, por outro lado, acusador ¢ acusado coinci- vento é a propria implicago fundamental do homem no ito que & posta em questo. O tinico modo de alguém afir- ‘asta propria inocéneia frente & lei e as Forgas que a re- stam: o pai, 0 casamento) &, neste sentido, acusar-sefal- nie, 36 Giorgio Agamben Que a caltinia pode ser uma arma de defesa na luta com as autoridades, di-lo claramente 0 outro K., 0 protagonista de Castelo: «Seria um meio de defesa relativamente ino- ccente, mas afinal insuficiente». Com efeito, Kafka esta ple ‘hamente consciente da insuficiéncia de uma tal estratégia, ‘Uma ver. que o direito responde transformando em crime 6 proprio pér em causa e fazendo da autocalinia 0 seu funda- ‘mento. Ou seja, o direito nao s6 pronuncia a condenagio no preciso momento em que reconhece o infundado da acusa ‘920, como transforma também o subterfigio do autocalu- nniador na sua prépria justificagio etema, Uma vez que os homens no param de se caluniar a si préprios € aos outros, entdo 0 direito (isto € 0 processo) é necessério para apreciar uais sdo as acusagdes fundadas e quais 0 nio sdo. Deste modo, 0 direito pode justificar-se a si pr6prio, apre- sentando-se como um baluarte contra o delitio auto-acu- sat6rio dos homens (e, em certa medida, agiu realmente co ‘mo tal, por exemplo relativamente & religifo). E ainda que ‘ homem fosse sempre inocente, se nenhum homem em ge~ tal pudesse ser declarado culpado, subsistiria sempre como Pecado original a autocaltnia, a acusagio sem fundamento ‘que ele dirige a si propr 8. £ importante distinguirmos entre autocalinia e contissa0. ‘Quando Leni procura induzi-lo a confessar, sugerindo-Ihe que ‘86 quando se confessou a culpa «se tem a possibilidade de es. capa», K. dectina rapidamente o convite. E contudo, em cer- to sentido, todo 0 processo visa produzir a confisslo, que, ja ho direito romano, vale como uma espécie de autoconde- ‘nagdo. Aquele que confessou, reza um adlggio juriico, jé est julgado (confessus pro iudicato) e a equivaléncia entre contis- io e autocondenagao & afirmada sem reservas por um dos ‘mais autorizados juristas romanos: quem confessa condena-se Por assim dizer a si proprio (quodammodo sua sententia dam hnatur). Mas aquele que se acusou falsamente, estd por isso 7 mo enquano acusadonaimposibiliade de contenu, £0 at 6 pode condentlo como acusaor so recoeer jpoccla como acinado. iA chratgia de K. pode ser definida, neste sentido, com preciso, como a tentatva falhada de tomar imposiel proceso, mas a confsso, De rest, ama um fag- Me 192, sconfesr appa culpa e ment slo a ‘ois, Mentese para se poder confesa>. Kaka p- fnscreverse asim, numa tradig qe, contra favor de la gova na cultrsdscocrita, jets deidkamene neonfscio de Cleeo, que a dein como «tepus- sc peigosn (upset perielosa), a Proust, que S00. a eandidamente: «Nunca confess» (V'avoues mals). nrenteese yp aesecn See Poon eaeamenre eee es ee pe cee cena eee arene acrieree eee ees es rere ‘de prova por exceléncia, Dai o nome de quaestio que a de- A eet _ de (quaestio veritatis) © € nesses termos que sera retomada_ ee ees eee tance ee 38 Giorgio Agamben em cima de um cavalete (eculeus, «pequeno cavalo» — o ter- mo alemio para tortura, Folter, deriva por isso de Fohlen, , escreve ele a Milena,em Novembro de 1920, «nde me ‘ccupo de outra coisa que nio seja ser torturado ¢ torturar. Por. qué? [...] para conhecer essa maldita palavra dessa maldita boca». Dois meses antes, acrescenta & sua carta uma folha 20 spoto>, em portaguts, esignava tab um instrument dette. ‘means uma extra de madi em cada qua sc dearest 2% menos indo por cord ax cords, por mci de una mainca ceaione _rsivament reese, prendoacabsr po deconunat ou eotagar eg falas, misculos esse dl torr W.7 9 6 desenho de uma méquina de tortura de sua invengio, funcionamento esclarece com as seguintes palavras Joo homem esté assim amarrado, as duas varas sto das lentamente para 0 lado de fora até 0 partitem em EE que a tortura serve para extorquir a confisd, con- poucos das antes, ao comparar a sua condigo com a ‘um homem cuja cabega € cingida por um tomo com duas juntos temporas: «A diferengaesté apenas nist: [..] tar no espero que as roscassejam apertadas a fim de ‘extorguirem a confissio, mas comego a gritar assim que deitam> narrativa Na Colénia Penal, que Kafka escreve em pot dias, durante o més de Outubro de 1914, interrompendo & o de O Proceso, prova que este seu interesse nl c io pelo «velho coman- episédico, O eaparelho» inventado pel 6, com efeito, ao mesmo tempo, uma maquina de tor um instrument de execsto da pena capital (60 oficial a sugeri-lo, quando, antecipando uma possive sho, di: ene nds a tot xis somente Ide a»)-E precisamente na medida em que une em sias duas que a pena iniligida pela méquina coincide com uma tio veritatis particular, na qual nio & 0 juiz a descobrir 'verdade, mas o acusado, que o faz decifrando a escrita que rade grava na sua came. «Até no mais imbecil a inteligén- i desarocha, Comey pels lose alas pari des. lum especticulo que poderialevar qualquer um de n6s a fazer com que Ihe aplicassem a grade. Nada se pass, salvo que 0 hhomem comeca a deciar o texto escrito, estende 05 libios amo se estvesse & escuta. Voc’ viu que ndo ¢ facil decifar ‘texto escrito com os olhos, mas o nosso homem decifra-o om as suns eis. um trabalho ie, so neces seis horas para 0 leva a cabo. Mas nesse momento os dentes grad aravessamo de ado lado cle € trad para 4 fossa onde cai em cima do algodao e da 4gua sanguinolenta.» —— Giorgio Agamben eee analogia com a ‘Da mest Ka E ‘be de que é acusado, também eee ah eee sac ‘0 €. E nao conhece sequer a eke («Ce aa ee ee oa infligit a si préprio em vez. de ao condenado Sea ng pl se os oe fc ons une ne mo o oficial quis iniins, era pura simplesmente um : ities caren star como gazes wera moe, ona muitas vezes See eee ener eee im enone ira dé lugar a um simples homicidio. * cee eee cosas: fiemmectte en ete sn tea ae Na eee nt pe Sect ietarece aaee ee A im lhe pediu (se é verdade que foi K. a auto-acusar- ae Sune ia estan in oe Serene Spooner ero SS Seeigenn nee + compriment os brags de K., sujtando the o8 Ot rie esta, bem enereitadae sitet K.cami- pa Prare cles hiro direto,¢ 0s tes formaver tal ue, se alg partise um deles [cerschlager ate. etiam partido 08 85> aac a Slmn cena, com K.estendido cm cms os > tr posigso muito ford eimprovével> mals) asia Feit do que uma exceugso capital Et taal da colénia penal nfo consegve eneontra M2 ade que ela buscava, assim igualmente 0% a Yee parece wm homicido do que 2 conclas Fe rosso vers. No final, com ef, fate 6 aca ther o que ata se su ver: EAA 9 ace Fe cin dee posta, ua HO Ar 9 $e Fare ele proprio com ol», Aqele que Seen Moro ab trturan-se a8 propio poi confess 9 propose como fom, a tortura como inqurito sobre & Yerdade, falhara o seu propésito 12K. (cada homer) autocluniase para se sutra capi aue aguclapacce inexoraveiment dineit = 6 sear cposvel ui sDeclarremaesmplesmons rat ga Ie a cert altura ocapelio da pris atpados sonar fazer»). Mas 80 ult har a pisioneio de que Kafka fla num feet: ere Tevanar uma forca n pio da cade B80 toe de oe the €destinaa, evadese da sua cola Case Fadamemt ig até debaixo da fora © enforease>. Dame © ano gads do dito, que ema sa raz na atocalni doe aie ingolares ete apresenta, favs como UM PAT hes €estranho e superior as atid que deveria ser lida a parol sobre © Por eet So saerdoe conta aK, durante a cena nna wés da qual individuo € i= 'A porta da lei € a acusagso, tra Frade no iret, Mas a acusaio primes rem pro- wi Giorgio Agamben ‘nunciada pelo préprio acusado (ainda que sob a forma de uma autocalinia). Por isso a estratégia da lei consiste em fazer a ‘cusado crer que a acusagdo (a porta) the € destinada (talvez) & cle precisamente, que 0 tribunal exige dele (talver) alguma ‘coisa, que esta (talvez) em curso um processo que the diz res, Beit. Na realidade nfo hi nem acusagéo alguma nem pro. G2ss0 algum, pelo menos até 20 momento em que aquele que Se cré acusado se acusa a si proprio, Tl € 0 sentido do «engano> (Teiuschung) que, segundo as Pealavras do sacerdote, esti em questo na pardbola («Nos es. 4Gritos de introdugio lei fala-se deste engano: esté um guar. a diante da porta da lei»).O problema ndo é tanto, como exé Kessluem engana (0 guarda) e quem é enganado (0 eampo- nes). Nem se as dus afirmagoes do guarda («Agora nio po. des entrar» © «esta entrada era-te destinada, s6 a tis) sa0ou nilo contraditérias. Significam em todo 0 caso: «tu no és Aacusado> e «a acusacdo refere-se s6 ati, s6 tu podes acuser, {ga de K. em que o sacerdote possa dar-Ihe um «conselho de. Cisivo» que 0 ajude nao a influenciar 0 processo, mas a evith, }o. viver para sempre fora dele, nlo pode deixar de ser vi ambém o sacerdote é, na realidade, um guarda da porta, também ele «pertence ao tribunal» e 6 verdadeiro engano & Drecisamente, a existéncia dos guardas, de homens (ou anjos: Suardar a porta é, na tradigdo judaica, uma das fungées dos ‘anjos) — do mais infimo funcionério aos advogados © ao ‘mais alto juiz. —, cujo prop6sito é induzir os outros homens Parte alguma, mas somente ao processo. Talvez a pardbola, Contenha um ~ east 0 dminats de cata ), deixar coder & fraqueza que, como registaré a 3 de Fevereiro, 0 re até agora afastado tanto da loucura como da ascen- — Auftieg, de novo a ideia de um movimento para cima) ‘uma teologia postica (a nova cabala oposta a0 sionismo, a iga e complexa heranga gnéstico-messinica contra a psi logia e a superficialidade da wesvldische Zeit em que vi ‘via). Mas torna-se ainda mais decisiva quando referida ao r- ‘mance que Kafka estava a escrever e a0 seu protagonista, 0 agrimensor K. (kardo, «0 que vai na direegio da junta do e6u»). A escolha da profissio (que € o proprio K. a atribuir= se, ninguém o encarregou do seu trabalho, do qual, como 0 regedor Ihe faz notar, a aldeia no tem a mais pequena neces- sidade) é, portanto, ao mesmo tempo uma deelaragio de guer= "ra e uma estratégia, Nio foi das extremas entre os quintais € as casas da aldeia (que, nas palavras do regedor, esto ja «de- ‘marcados ¢ registados como deve ser») que ele veio ocupar- se, Mas antes, a partir do momento em que a vida na aldeia 6,na realidade, inteiramente determinada pelos confins que a separam do castelo e, 20 mesmo tempo, a mantém abragada & ele, so sobretudo esses limites que 0 agrimensor pde em ‘questio. © «assalto a0 Gltimo limite» & um assalto contra os limites que separam 0 castelo (0 alto) da aldeia (0 baixo). 7. Uma vez mais ~ é esta a grande intuigao estratégica de Kafka, a nova cabala que ele prepara — a luta nfo € contra Deus ou a soberania suprema (o conde Westwest do qual nun- cea chega realmente a tratar-se no romance), mas contra os an- Giorgio Agamben jos, 0s mensageiros e 0s funcionérios que parecem repre- senté-los, Uma lista das personalidades do eastelo das quais de certo modi K. tem de se ocupar 6, neste sentido, instruti- va: além das vérias «raparigas do castelo», um auxiliar de Porteiro, um mensageiro, um secretirio, um chefe de secca0 (com o qual nunca entra em relago directa, mas eujo nome, Klamm, parece evocaros pontos extremos — KM — do kar” do). Nao se trata, por conseguinte, sem querer perturbar os in- téxpretes teol6gicos — tanto judeus como eristios, de um conflito com o divino, mas de um corpo a eorpo com as men- tiras dos homens (ou dos anjos) sobre o divino (antes do mais, 4s que correm no ambiente dos intelectuaisjudeo-ocidentais, ‘0 qual Kafka pertence). So as suas fronteiras as separagées ¢ as barreiras que aqueles estabeleceram entre os homens, ¢ entre os homens e 0 divino, que © agrimensor quer por em questo. Assim parece ainda mais ernea a interpreta segundo & {qual K. quereria ser aceite pelo caseloe estabelecerse na al deia. A aldeia tl como €, nd preocupa K. E o caste, menos ainda. O que interessa ao agrimensor € 0 limite que os divide € 05 conjuga,e que ele quer abolir ou, melhor, tornar acoso, ‘Uma vez que ninguém parece saber por onde passa material- mente esse limite, talvez ele na realidade nfo exist, mas pas- se, como uma porta invisivel, por dentro de cada homem, ‘Kardo nio € somente um termo de agrimensura, significa também a junta da porta. «A junta>, segundo reza uma et rmologia de Isidoro, «é 0 lugar em que o batente (ostium! gi- rae se move, ¢ chama-se assim do termo grego para coragio {apo tes kardias), porque tal como 0 coragio do homem go- vena todas as coisas, asim a junta regula e move a porta. Daqui o provétbio: in cardinem esse, “achar-se no ponto de- cisivo"». «A porta (ostium, continua Isidoro, com uma de- finigdo que Kafka poderia ter subscrto sem reservas,«€ aqui- Jo gracas ao qual alguém nos impede de entrar», 0: ostiari, 65 porteios, «slo os que no Antigo Testamento impedem os li. “9 Nudez ce al inns Se age Semana wr 2 aims sen i es a a eal rae semen Sea renee Tata eet

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