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Agostinho de Hipona
Escuta-me, meu Deus! Ai dos pecados dos homens! E quem isto te diz um
homem, e tu te compadeces dele porque o criaste, e no foste autor do pecado que
nele existe.
Acaso, mesmo para aquela idade, era bom pedir chorando o que no se me podia
dar sem dano, indignar-me asperamente com as pessoas livres que no se
submetiam, assim como as pessoas respeitveis, e at com meus prprios pais, e
com muitos outros que, mais sensatos, no davam ateno aos sinais de meus
caprichos, enquanto eu me esforava por agredi-los com meus golpes, quanto
podia, por no obedecerem s minhas ordens, que me teriam sido danosas?
Daqui se segue que o que inocente nas crianas a debilidade dos membros
infantis, e no a alma.
Assim, pois, meu Senhor e meu Deus, tu que me deste a vida e corpo, o qual
dotaste, como vemos, de sentidos e proveste de membros, adornando-o de beleza
e de instintos naturais, com os quais pudesse defender sua integridade e
conservao, tu me mandas que te louve por esses dons e te confesse e cante teu
nome altssimo. Serias Deus onipotente e bom ainda que s tivesses criado apenas
estas coisas, que nenhum outro pode fazer seno tu, Unidade, origem de todas as
variedades, Beleza, que ds forma a todas as coisas, e com tua lei as ordenas!
Tenho vergonha, Senhor, de ter de somar vida terrena que vivo aquela idade que
no recordo ter vivido, na qual acredito pelo testemunho de outros, por v-lo assim
em outras crianas, embora essa conjectura merea toda a f. As trevas em que
est envolto meu esquecimento a seu respeito assemelham-se vida que vivi no
ventre de minha me.