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2, 215-226, 2005
RESUMO
Este trabalho tem a intenção de analisar as sistemáticas tendências negativas detectadas nas séries históricas de
vazões e cotas do rio Paraíba do Sul desde 1920. Esta bacia abrange uma das mais desenvolvidas áreas industriais
do País em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, arrecada cerca de 10% do PIB nacional e já assume um
papel de destaque na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. As águas do rio Paraíba do Sul
abastecem aproximadamente 15 milhões de pessoas, que na sua maioria vive em regiões metropolitanas. Uma
queda sistemática nas vazões pode ter graves conseqüências sociais e econômicas, e uma das causas apontadas
pelos governos locais é uma possível queda no volume de chuvas. Uma análise estatística em séries pluviométricas
e fluviométricas apontam tendências negativas nas vazões. Entretanto, com relação à precipitação na bacia, não se
observa tendência negativa, e sim em alguns pontos a tendência tem sido ligeiramente positiva. Uma análise de
autoregressão destas séries hidrológicas mostra uma alta correlação entre as vazões em vários anos consecutivos,
sugerindo que a regularização de uso da água para abastecimento, geração de energia, e desvio de rios para usos
na agricultura podem ser os responsáveis pelas quedas sistemáticas nas vazões, e não uma mudança climática do
regime de chuva na bacia.
Palavras-chave: Vazões, mudança de clima, tendências, hidrometeorologia.
garantida pelos reservatórios de cabeceira (dos rios Paraitinga/ no uso da terra que pode afetar todo o ciclo hidrológico; (d)
Paraibuna e Jaguari). Esta situação é pouco alterada pelos mudanças gradativas no canal do rio devido à sedimentação e
afluentes do Paraíba, a jusante destes reservatórios. deposição de sedimentos que podem não ter sido considerado
O vale do rio Paraíba do Sul revela progressivo no momento de calcular vazões usando a curva chave; e,
processo de industrialização e urbanização assim como finalmente, (e) mudanças gradativas no regime e distribuição
degradação ambiental. Segundo a ANA (Agência Nacional de chuvas na bacia, decorrentes de mudanças climáticas
de Águas, 2003), o intenso uso urbano, industrial e energético regionais.
que se faz dos recursos hídricos desta bacia contribuíram Estudos prévios sobre tendências nas séries
para o aumento da demanda de água, com sérios indícios de hidrológicas do rio Paraíba do Sul (Marengo, 1995; Marengo
comprometimento da quantidade e da qualidade dos recursos et al., 1998) mostraram tendências negativas nas cotas do rio
hídricos hoje observados. Paraíba do Sul no posto fluviomêtrico de Campos-RJ. Ressalta-
As águas do rio Paraíba do Sul abastecem em torno se, contudo, que não foram feitas análises da variabilidade ou
de 15 milhões de pessoas, 87% das quais residentes em regiões tendência em outros postos fluviomêtricos no canal principal
metropolitanas. A tendência de concentração populacional nas do rio, nem tampouco uma análise da variabilidade de
áreas urbanas, como pode ser observado na Tabela 1, segue o longo prazo da chuva na bacia, ou, ainda, uma análise de
mesmo padrão de outras regiões brasileiras e é um dos fatores mudanças no uso da terra ou da água do rio que podem ser
responsáveis pelo aumento da poluição hídrica na bacia (IBGE, responsáveis pelas quedas sistemáticas nas vazões. Assim,
1996). Em toda sua extensão, há atualmente 180 municípios, neste estudo, serão analisadas séries de chuva e vazão em
onde se localizam 7.000 indústrias. Estas indústrias, por sua vários postos hidrometeorológicos na bacia do rio Paraíba do
vez, apresentam elevado potencial poluidor, cuja geração Sul, desde 1920. O principal objetivo é identificar tendências
de resíduos reverte-se em impactos negativos para cerca de hidrometeorológicas e associá-las a mudanças observadas nas
6.000 pequenas, médias e grandes fazendas que dependem vazões do Rio Paraíba do Sul.
primordialmente de suas águas.
A bacia do rio Paraíba do Sul tem sido palco para 2. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA BACIA
a implantação de uma série de aproveitamentos de usos 2.1. Fisiografia da bacia
múltiplos da água, visando à regularização de vazões, o
controle de cheias e à geração de energia elétrica. No trecho O rio Paraíba do Sul nasce na serra da Bocaina, no
paulista da bacia, destacam-se os aproveitamentos de potência Estado de São Paulo, a 1.800 m de altitude, e deságua no norte
instalada de Paraibuna/Paraitinga (86 MW), Santa Branca fluminense, no município de São João da Barra, percorrendo
(58MW) e Jaguari (27,6 MW). Os reservatórios de Paraibuna/ uma extensão aproximada de 1.180 km. Sua bacia tem forma
Paraitinga e Jaguari são os que apresentam maiores volumes alongada e comprimento cerca de três vezes maior que a sua
de regularização de vazões, sendo os principais responsáveis largura máxima. Distribui-se na direção leste-oeste, entre
em garantir o abastecimento da região metropolitana do Rio de as serras do Mar e da Mantiqueira, situando-se em uma
Janeiro, atendendo a uma população de mais de 8 milhões de das poucas regiões do País que apresentam relevo muito
habitantes (CBH-PS 2003). A importância política e econômica acidentado, de colinoso a montanhoso, chegando a mais de
da bacia do rio Paraíba do Sul, no contexto nacional, vem 2.000 m nos pontos mais elevados. Nesta região, destaca-
exigindo ações do Governo e a mobilização de diversos se o Pico das Agulhas Negras, no maciço de Itatiaia, ponto
setores da sociedade para a recuperação dessa bacia, a qual tem culminante da bacia, a 2.787 m de altitude.
registrado tendências decrescentes nas vazões do rio em vários Ao longo de seu percurso, o rio Paraíba do Sul
postos no canal principal desde Paraibuna-SP até Campos-RJ. apresenta trechos com características físicas distintas, as quais
Dentre as possíveis causas desta redução sistemática nas vazões podem ser divididas de acordo com a seguinte classificação:
e cotas do Paraíba do Sul, temos: (a) efeitos antropogênicos de
uso da água para abastecimento e geração de energia, com a • Curso superior: estende-se da nascente até a cidade
construção de barragens e açudes; (b) desvio de rios para usos de Guararema-SP, a 572 m de altitude, apresentando fortes
na agricultura e que pode aumentar a evaporação; (c) mudanças declives e regime de chuva torrencial, com declividade média
de 4,9 m/km e extensão de 317 km;
População 1970 1980 1991 1996
• Curso médio superior: começa em Guararema e segue
Total 3.341.854 4.096.138 4.944.056 5.246.066
até Cachoeira Paulista-SP, onde a altitude é de 515 m. Nesse
Urbana 2.197.643 3.164.317 4.231.244 4.560.231
trecho, o rio é bastante sinuoso e meandrado, percorrendo
Rural 1.144.211 931.821 712.812 685.835 terrenos sedimentares de grandes várzeas. A declividade média
% Urbano 66 77 86 87 cai para 0,19 m/km numa extensão de 208 km;
(Fonte: IBGE)
• Curso médio inferior: situa-se entre Cachoeira
Tabela 1: Crescimento populacional no Vale do Paraíba entre Paulista-SP e São Fidélis-RJ, onde a altitude é de 200-
1970 e 1996. 400 m, a declividade média é de 1,0 m/km, e sua extensão
Agosto 2005 Revista Brasileira de Meteorologia 217
3. DADOS E METODOLOGIA
3.1. Dados pluviométricos e fluviométricos
4. DISCUSSÕES
Figura 3: Vazão e/ou cotas na bacia do rio Paraíba do Sul durante o período 1930-98. Unidades em m3/s (vazão) e cm (cotas).
220 José A. Marengo e Lincoln Muniz Alves Volume 20(2)
No final de 2003, a situação refletia ainda um Campos-RJ, e do rio São Francisco, no posto de Juazeiro-
quadro preocupante, no qual os reservatórios localizados nas BA. Além disso, uma análise de autocorrelação nas series de
cabeceiras do Paraíba do Sul, em território paulista, estavam Campos e Juazeiro mostraram possíveis efeitos da regularização
com cerca de 14% do volume máximo decorrente dos baixos como causa desta tendência negativa sistemática, porém, não
totais acumulados de chuva nos anos anteriores. No verão de foi feita uma análise da variabilidade ou tendências da chuva
2004, choveu próximo à normalidade na bacia e as chuvas em na bacia para verificar se, de fato, chove menos ou não nestas
março e abril corresponderam a quase 75% do normal. Ainda bacias.
assim, os meios de comunicação (Jornal Vale Paraibano, 21 Existe, ao longo da bacia do Paraíba do Sul, um
março 2004) informaram que o nível do Paraíba do Sul atingiu grande número de postos fluviométricos. Entretanto, é
a sua menor média histórica, e que, controlado pelas represas, importante destacar que vários postos apresentam falhas (de
o fluxo de água do rio foi alterado com o objetivo de elevar, instrumentação ao longo do tempo) em seus registros, e alguns
até abril, a capacidade dos reservatórios de cabeceira de 39% foram desativados e outros começaram a ser operacionalizado
para 42%. Em julho de 2004, o nível dos reservatórios alcançou recentemente. Desta forma, ressalta-se a grande dificuldade
entre 30%-45% em Paraibuna e Santa Branca. em identificar tendências hidrometeorológicas baseadas
unicamente em séries de vazões ou cotas dos rios. As Figuras
4.1. Tendências das vazões 3 e 4a-4e mostra as séries mensais de vazões e cotas em
vários postos na bacia do Paraíba do Sul nos Estados de São
Diversos estudos usaram vazões de rios como Paulo e Rio de Janeiro. Observam-se períodos com falhas
indicadores da variabilidade climática (Dettinger et. al., 2000) na informação em Tremembé e Queluz, após de 1970, em
em várias regiões do mundo. Para o Brasil, uma analise de Cruzeiro, desde 1980 e em Cardoso Moreira depois de 1955.
tendências nas vazões dos rios Negro, na Amazônia, São As séries analisadas no posto de Campos (Figura 4)
Francisco, no Nordeste (Marengo et. al., 1998), e Piracicaba, mostram uma queda sistemática nas cotas, o que sugere uma
no Sudeste (Moraes et. al., 1996), mostram que as séries de tendência negativa que já foi identificada por Marengo et al.,
vazões dos rios apresentam correlação serial ou autocorrelação (1998). A falta de água nos reservatórios esta provocando uma
em alguns casos, o que muitas vezes acontece em bacias com mudança no gerenciamento dos mesmos, inclusive com uma
grande capacidade de armazenamento de água no solo ou redução na vazão das usinas. Conseqüentemente haverá um
com regularização devido às estruturas hidráulicas. Estudos menor fluxo de água para os rios e menor vazão. Ressalta-se
preliminares (Marengo et al., 1998) mostraram tendências que as medidas efetuadas em Campos são as últimas medidas
negativas nas cotas do rio Paraíba do Sul, no município de antes do rio desaguar no Oceano Atlântico.
Figura 4: Série temporal das vazões e/ou cotas do rio Paraíba do Sul em alguns postos no Estado de São Paulo e Rio de Janeiro.
Unidades em m3/s, e cm.
Agosto 2005 Revista Brasileira de Meteorologia 221
Figura 5: Variabilidade de longo termo das vazões do rio Paraíba de Sul durante o período dezembro-fevereiro (DJF) em alguns
postos fluviométricos, para o período 1930-2000. A linha continua em cada painel mostra a tendência linear das vazões no período
observado. Unidades em m3/s e cm.
Figura 6: Variabilidade de longo termo da chuva da bacia do rio Paraíba de Sul durante o período dezembro-fevereiro (DJF) em
alguns postos pluviométricos, para o período 1930-2000. A linha contínua em cada painel mostra a tendência linear das vazões no
período observado. Unidades em mm/mês.
Conforme já mencionado, o teste de Mann-Kendall especialmente na bacia sul da Amazônia, onde uma estação
tem sido aplicado para detectar tendências em séries de vazões seca, excepcionalmente intensa, pode afetar a recuperação
e chuvas. Este teste assume que a correlação serial nos registros do volume armazenado na estação seca do ano seguinte e
hidrometeorológicos é muito pequena, o que funciona para conseqüentemente afetar as vazões do rio (Hodnett et al.,
dados de precipitação. Entretanto, em algumas bacias, podem 1996; Marengo et al., 1998).
existir outros fatores que invalidam esta afirmação, limitando a É importante considerar que tendências crescentes ou
aplicabilidade deste teste. Em bacias de grande porte, como a decrescentes nas vazões e/ou cotas de rios, durante a estação
bacia Amazônica, as séries podem apresentar grande correlação chuvosa, podem ser também explicadas por influências
devido à grande capacidade de armazenamento da bacia, a humanas. Um aumento na capacidade de armazenamento
qual pode aumentar a correlação serial. Isto foi observado ou perdas, devido à irrigação, pode explicar as tendências
Agosto 2005 Revista Brasileira de Meteorologia 223
observadas e pode, também, gerar uma correlação serial grande, Posto Período Parâmetro de Tendência
de modo a afetar os resultados do teste de Mann-Kendall. Por Mann-Kendall
outro lado, os registros de chuva geralmente apresentam baixa
Cachoeira Paulista-SP 1933-2000 -0.061 NS
correlação serial e não afetam os resultados do teste de Mann-
Kendall. Desta forma, este teste pode ser aplicado nas séries de Caçapava-SP 1930-2000 +0.045 NS
chuva para confirmar os resultados obtidos através da análise Guararema-SP 1929-1995 +0.547 NS
das tendências nas vazões e/ou cotas do rio Paraíba do Sul. Ponte Alta-SP 1938-1995 +0.057 NS
Coeficientes de autocorrelação foram calculados para São Luiz Paraitinga-SP 1937-1997 +0.087 NS
as séries de vazão/cotas em alguns postos fluviométricos no
Resende-RJ 1942-1994 -0.008 NS
rio Paraíba do Sul (Figura 7). As séries de Cachoeira Paulista
Barra Mansa-RJ 1942-1996 -0.018 NS
e Paraíba do Sul mostram que o coeficiente de autocorrelação
entre dois anos consecutivos é baixo, sugerindo uma baixa Rio das Flores-RJ 1942-1994 -0.095 NS
correlação serial e garantindo que o teste de Mann-Kendall Pindamonhangaba-SP 1933-1995 +0.093 NS
é adequado para a análise nestas duas séries. As vazões em (FONTE: DAEE, ANA)
Campos, Resende, Guaratinguetá e Pindamonhangaba mostram
tendências negativas significativas aos níveis de 5% e 1%, e, Tabela 4: Postos pluviométricos usados para detectar
segundo a Figura 7, também mostra uma alta correlação entre tendências na bacia do rio Paraíba do Sul durante o período de
dois anos consecutivos, podendo sugerir importantes efeitos máximas precipitações (dezembro-fevereiro). A tabela mostra
na operação do sistema ou no armazenamento de um ano para o período de registro, o parâmetro de Mann-Kendall indicando
outro, além de gerar tendências negativas que não são naturais. a direção da tendência e o nível de significância estatística: NS
Em relação a este último, a falta de água nos reservatórios está (sem significância estatística).
Figura 7: Correlogramas da série temporal de vazão/cotas durante o período de máxima vazão em: (a) Campos-Ponte Municipal;
(b) Resende; (c) Pindamonhangaba; (d) Guaratinguetá; (e) Cachoeira Paulista; (f) Paraíba do Sul. As linhas horizontais representam
os limites de confiança a 95% para a hipótese de não ter correlação serial.
224 José A. Marengo e Lincoln Muniz Alves Volume 20(2)
provocando uma modificação no gerenciamento hídrico das armazenamento das represas, divulgado pela ELETROPAULO
usinas, com a conseqüente redução da vazão dos rios. (SANEAS, 2004) mostram que os níveis de armazenamento
O teste de Mann-Kendall aplicado a registros no período de cheias vêm caindo numa proporção de mais de
pluviométricos e fluviométricos em outros postos da bacia 10% ao ano desde 1998, passando de mais de 80% em março
(não apresentados) confirmam as tendências e os resultados de 1998 para 55,8% em março 2000. Em 2001, no mês de
apresentados nas Tabelas 3 e 4. março, que é o pico anual de armazenamento, esse índice
Deve-se considerar que a função de autocorrelação era de apenas 34%. Considerando as análises de vazões e de
aplica-se a processos estocásticos estacionários. Se a série de chuvas já mostradas nas Figuras 4-6, a conclusão mais direta
tempo mostra uma tendência significativa, pode-se afirmar que é que o baixo nível das represas e das vazões do rio Paraíba
a série não é mais estacionária. Porém, neste estudo, usamos a do Sul são conseqüências de uma demanda maior que a oferta
função de autocorrelação para confirmar as afirmações teóricas possível da água e não de uma mudança climática do regime
do teste de Mann-Kendall, e não se discute ou conclue-se nada de chuva na bacia.
sobre o comportamento do processo estocástico. O teste de Mann-Kendall não parece adequado para
regiões com uso intensivo da água e não se deve aplicar
5. CONCLUSÕES exclusivamente às séries de vazões/cotas, mas, também,
para séries de chuvas na bacia. Se a hipótese nula de Mann-
Registros hidrometeorológicos da bacia do rio Paraíba Kendall é rejeitada, tem-se duas possíveis interpretações: (1)
do Sul, desde a década de 1930, foram analisados com a Existe tendência, (2) A hipótese nula não tem validade, pois a
finalidade de detectar e explicar as tendências observadas nas afirmação de que não existe correlação serial não é observada.
vazões e/ou cotas e associá-las às causas naturais ou aos efeitos Em caso da existência de uma autocorrelação alta entre as
antropogênicos. Em escalas de tempo interanual, observam- séries, como nas vazões do Paraíba do Sul, parece incorreto
se períodos de vazões extremas em anos que podem ser assumir (1). Assim, uma análise de tendência aplicado nas
caracterizados como extremos em termos de chuva: 1955 (ano séries de chuva na bacia foi feita para confirmar ou não a
seco) e 1967-68 (anos chuvosos). presença de tendências reais nas séries de vazões/cotas. Ainda
A principal conclusão do estudo é que as vazões do rio assim, é difícil explicar tendências de chuvas e vazões devido
Paraíba do Sul, observada em postos fluviométricos de SP e RJ à mudança climática regional.
mostram uma tendência negativa durante os últimos 50 anos, Uma limitação deste estudo é que as séries de vazão
que não parece estar associada às variações de chuva na bacia. e chuva não foram suficientemente longas para detectar
Uma análise de tendências e testes de autocorrelação mostram algum sinal climático acima do ruído ou “background noise”
uma correlação serial alta entre dois anos consecutivos, em da variação interna do clima. Ainda que as séries de vazões
vários postos fluviométricos, podendo isto sugerir importantes apresentem limitações para identificar mudanças climáticas,
efeitos na operação do sistema ou no armazenamento de um como aquelas já mencionadas na Seção 4, elas são apropriadas,
ano para outro, além de gerar tendências negativas que não pois representam uma importante integração das mudanças no
são naturais. Desta forma, as tendências negativas nas vazões uso da terra e no gerenciamento dos recursos hídricos, assim
sugerem um possível impacto da influência humana (na forma como da chuva.
de gerenciamento dos recursos hídricos, geração de energia,
esgotos lançados no rio, irrigação e crescimento populacional) 6. AGRADECIMENTOS
e não a uma mudança climática do regime de chuva na bacia.
Segundo a ABES (2004), a bacia possui muitos problemas Este estudo foi financiado pelo projeto do Inter
relacionados à poluição e ao desmatamento (hoje só existem American Institute for Global Change (IAI) CRN 055
11% da mata original). PROSUR, e pelo CNPq.
Estudos realizados pelo Laboratório de Hidrologia
da COPPE/UFRJ (ABES, 2004) referem-se à “rigorosa seca 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
que já perdura por 7 anos no Vale do Paraiba” e que poderiam
gerar sérios problemas no abastecimento de água do Rio de ABES 2004: Paraíba do Sul. Uma fonte de vida a caminho da
Janeiro, em 2004. Nos últimos anos (2000-2003), a chuva morte. Revista Brasileira de Saneamento Ambiental-Caderno
foi abaixo da média histórica nas cabeceiras do Paraíba do Especial BIO, 29, 39-49.
Sul, com os menores valores durante a estação de 2001.
Entretanto, as chuvas foram próximas ao normal em 2004. Este
período relativamente menos chuvoso parece ser parte de uma
variabilidade interdecadal, com períodos de anos relativamente
secos e úmidos sucessivos, e não indica uma tendência
de redução sistemática das chuvas na região. Dados sobre Agencia Nacional de Águas, 2003: Projeto Paraíba do Sul
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Agosto 2005 Revista Brasileira de Meteorologia 225
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