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1.1 — INTRODUÇÃO
Existem três conceitos que muitas vezes são usados como sinônimos e na verdade não o
são: modernização da agricultura, industrialização da agricultura e formação dos complexos
agroindustriais. Por modernização da agricultura se entende basicamente a mudança na base
técnica da produção agrícola. É um processo que ganha dimensão nacional no pós- guerra com a
introdução de máquinas na agricultura (tratores importados), de elementos químicos (fertilizantes,
defensivos etc.), mudanças de ferramentas e mudanças de culturas ou novas variedades. É uma
mudança na base técnica da produção que transforma a produção artesanal do camponês, à base da
enxada, numa agricultura moderna, intensiva, mecanizada, enfim, numa nova maneira de produzir.
A modernização da agricultura no Brasil é, pois, um processo “antigo”. Nesta transformação da
forma de produzir houve substituição de determinadas culturas por outras e, dentro da mesma
cultura, por outras variedades modernas. A “industrialização da agricultura” envolve a idéia de que
a agricultura acaba se transformando num ramo de produção semelhante a uma indústria, como
uma “fábrica” que compra determinados insumos e produz matérias-primas para outros ramos da
produção, O camponês produzia em “interação com natureza” como se esta fosse o seu “laboratório
natural”. Trabalhava a terra com os insumos e ferramentas que tinha a seu alcance, quase sempre
produzidos em sua própria propriedade. A agricultura industrializada, ao contrário, está conectada
com outros ramos da produção; para produzir ela depende dos insumos que recebe de determinadas
indústrias; e não produz mais apenas bens de consumo final, mas basicamente bens intermediários
ou matérias primas para outras indústrias de transformação. A industrialização da agricultura
brasileira é um processo relativamente recente, pós-65. O processo de industrialização da
agricultura é qualitativamente diferente o que torna o processo de modernização irreversível. A
partir do momento em que a agricultura se industrializa, a base técnica não pode regredir mais: se
regredir a base técnica, também regride a produção agrícola. O longo processo de transformação da
base técnica — chamado de modernização — culmina na própria industrialização da agricultura.
Esse processo representa a subordinação da Natureza ao capital que, gradativamente, liberta o
processo de produção agropecuária das condições naturais dadas, passando a fabricá-las sempre
que se fizerem necessárias.
É partir dessas três transformações que ocorrem nos anos 60 que o processo de
modernização da agricultura brasileira se torna irreversível, iniciando-se assim a industrialização da
agricultura.
Na verdade, pode-se dizer que hoje não existe mais apenas uma agricultura; existem vários
complexos agroindustriais. E a dinâmica desses segmentos da agricultura é a dos complexos. Em
todos eles existe um elemento aglutinador “administrando-os”, que são as políticas do Estado. O
Estado assume o papel do capital em geral, do capital financeiro, o que coloca uma questão
importante num regime democrático, que é o controle desse Estado. Esta é a questão política de
fundo que, no entanto, não será tratada neste trabalho.
Este estudo tem a preocupação central de contribuir, na linha conceitual exposta, para a
melhor compreensão da nova agricultura brasileira. Não tratamos dos efeitos sociais dos processas
de modernização e industrialização da agricultura, na grande maioria problemáticos e de difícil
administração no atual contexto político do país.
Será feita a seguir uma rápida descrição do novo padrão agrícola brasileiro, a partir de uma
periodização que se inicia com a crise do complexo rural. Nas seções seguintes serão analisados os
elementos relevantes que viabilizaram esse novo padrão, com ênfase na internalização do D1 para a
agricultura e nas novas funções do Estado nesse padrão.
A idéia central que vamos desenvolver nesta seção é que a principal modificação na
dinâmica da agricultura brasileira consiste num processo histórico de passagem do chamado
“complexo rural” para urna dinâmica comandada peles “complexos agroindustriais” (CAIs). Esse
processo envolve a substituição da economia natural por atividades agrícolas integradas à indústria,
a intensificação da divisão do trabalho e das trocas inter-setoriais, a especialização da produção
agrícola e a substituição das exportações pelo mercado interno como elemento central da alocação
dos recursos produtivos no setor agropecuário.
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Estamos utilizando o termo cemplexo para identificar coniuntos de at vi- dados fortemente relacionadas entre si (por compras e
vendas) e fracamente relacionadas com o resto das atividades. Esses conjuntos são vistos de forma dinàm[ca, o que torna sua
delimitação menos rfgida do que seria uma tipologia ou uma análise sistômica
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à reprodução das condições materiais da unidade produtiva. No interior das fazendas produziam-se
não só as mercadorias agrícolas para exportação, mas também manufaturas, equipamentos simples
para produção, transportes e habitação. A divisão social do trabalho era incipiente, as atividades
agrícolas e manufatureiras encontravam-se indissoluvelmente ligadas, grande parte dos bens
produzidos só tinha valor de uso, não se destinando ao mercado. O mercado interno praticamente
inexistia, já que grande parte das atividades que deveriam resultar na formação do mercado interno
estavam “internalizadas” no âmbito do próprio complexo rural.
O longo período de decomposição do complexo rural inicia-se pois em 1850 com a lei de
terras e a proibição do tráfico, terminando em 1955 com a implantação do D1 em bases industriais
modernas. Ao longo do processo vão se separando, gradativamente, novas atividades que
constituíram novos setores a partir do complexo rural:
b) o período 1890/1930 constitui a fase de auge do complexo cafeeiro até a grande crise.
Ampliam-se as atividades tipicamente urbanas e outros setores começam a emergir do seio do
complexo cafeeiro: cria-se um segmento de produção artesanal de máquinas e equipamentos
agrícolas fora das fazendas de café para produção de secadores, despolpadoras, enxadas, arados
etc., aumentam as oficinas de reparo e manutenção; estabelecem-se as primeiras agroindústria
(distintas das indústrias rurais, que eram um mero prolongamento das atividades agrícolas
propriamente ditas de óleos vegetais, açúcar e álcool), consolida-se a indústria têxtil como a
primeira grande Indústria nacional; e se inicia a substituição de importações de urna ampla gama de
bens de consumo “leves”;
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Uma vez consolidada a indústria nacional, o que ocorreu com a plena formação de
mercados nacionais para produtos agrícolas e para a força de trabalho e, principalmente com a
constituição da indústria de base, a agricultura brasileira iniciou sua própria industrialização.
O termo modernização tem tido uma utilização muito ampla, referindo-se ora às
transformações capitalistas na base técnica da produção ora à passagem de uma agricultura
‘natural” para uma que utiliza insumos fabricados industrialmente.
restringida pela capacidade de importar2. Isto, por sua vez, restringe em certa medida o
desenvolvimento pleno das ligações intersetoriais ‘para a frente”, isto é, da agricultura enquanto
fornecedora de matérias-primas para a agroindústria. Embora desde o início da industrialização
brasileira algumas agroindústrias notadamente a têxtil e a alimentar — tenham tido peso relevante,
só a partir da internalização do D1 é que elas deslanchariam de forma ampla, abrangendo
praticamente todos os segmentos fundamentais da produção agropecuária.
TABELA 1.1
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Na realidade, a restrição era potencial, uma vez que a generalização da modernização certamente esbarraria
no estrangulamento externo.
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A partir de meados dos anos 60 o processo de modernização atinge uma fase mais
avançada, a de industrialização da agricultura.
A produção agrícola passou então a constituir um elo de uma cadeia, negando as antigas
condições do complexo rural fechado em si mesmo e em grande parte as do complexo agro-
comercial prevalecente até os anos 60. Esse processo desemboca na constituição dos complexos
agroindustriais, que também se efetivam a partir da implantação da ‘indústria para a agricultura” e
da estruturação da agroindústria processadora.
grande capital. Este processo, conhecido como “territorialização do capital”, pode ser ilustrado
pelos dados seguintes [ver Kageyama (1986b, pp. 63-6)]:
- seis das 10 primeiras empresas privadas nacionais em 1965 são também grandes
proprietárias de terras - tão grandes a ponto de aparecer entre o 0,1% superior no estado onde está
instalada a propriedade, ou por ter esta mais de 10.000 ha;
Também Delgado, no trabalho citado (Tabelas 18 a 23), apresenta várias informações sobre a
participação do grande capital na atividade agrícola e no mercado de terras. Por exemplo, entre os
principais grupos empresariais com atividades rurais, muitos possuem empreendimentos em outros
setores de atividades, como indica a amostra seguinte:
Além do novo caráter da propriedade fundiária quando o capital financeiro penetra no setor
agropecuário, também o Estado passa a desempenhar novos papéis nesse novo padrão de
desenvolvimento agrícola, que podem ser sintetizados na idéia de uma regulação estatal visando a
financiar, patrocinar e administrar as expectativas e a captura das margens de lucro na agricultura,
no sentido de beneficiar os capitais integrados e garantir sua valorização.
A idéia de que os CAIs são um fato recente na economia brasileira, um fenômeno dos anos
70, só pode ser entendida a partir da diferença entre modernização da agricultura e constituição dos
CAIs. È claro que antes das décadas de 60 e 70 mudanças técnicas importantes se fizeram presentes
na agricultura e é claro, também, que sempre houve um segmento importante de processamento
agroindustrial no pais. Mas enquanto a modernização dependia da importação de insumos
químicos, equipamentos e máquinas, ela tinha um limite claro, dado pela capacidade de importar.
Assim como o complexo rural dependia das exportações para se expandir, a modernização, no seu
inicio, dependia da capacidade para importar a fim de poder se generalizar. A internalização da
produção de insumos e máquinas para a agricultura rompe esse limite; a partir daí a modernização
da agricultura caminha com seus próprios pés e os limites agora são colocados por ela mesma, isto
é, pelo próprio capital inserido na atividade agrícola. Vale lembrar que, além disso, houve também
naquele momento condições internacionais excepcionais que viabilizaram a implantação dos CAIs,
incluindo ai os casos da laranja, aves e soja.
Nos itens precedentes procuramos apontar os elementos centrais que, a partir da década de
70, ensejaram a constituição dos complexos agroindustriais. Esses elementos reforçam à
internalização da indústria e máquinas e insumos agrícolas, à modernização e expansão do parque
agroindustrial e, permeando esses processos, a montagem de um aparato de política - econômica
voltada à “soldagem” dos componentes dos CAIs (agricultura e indústrias a montante e a jusante).
Uma tipologia, tendo como critério a forma de inserção da atividade no novo padrão de
desenvolvimento agrícola, ou, se preferir, a forma de inserção nos CAIs e no processo de
industrialização do campo, é a seguir proposta. Privilegiamos o grau das relações intersetoriais a
montante e a jusante, porque julgamos que esse elemento é de crucial importância na determinação
da dinâmica da produção agrícola. Assim, essa tipologia se pretende que seja não apenas descritiva
mas que sirva como ponto de partida para um novo esquema analítico da dinâmica da agricultura.
No novo padrão que emergiu em fins da década de 60 a dinâmica agrícola não pode mais
ser explicada pela segmentação “mercado interno x mercado externo”, porque esses mercados
gerais deixaram de ser o elemento-chave do próprio funcionamento da agricultura para dar lugar
aos complexos agroindustriais e com eles às garantias de mercado para as indústrias de máquinas e
insumos agrícolas, à exportação de produtos agrícolas processados industrialmente, à fusão e
incorporação de capitais sob o domínio do capital financeiro.
Estes são fenômenos novos e importantes, que não se resolvem analiticamente em termos
de destino da produção, e que têm influências específicas nas dinâmicas dos diferentes segmentos
que compõem a agricultura brasileira a partir dos anos 70.
Em termos descritivos, pode-se dizer que o setor agrícola hoje é formado pelo menos por 4
segmentos diferenciados (ver Gráfico 11.3):
A dinâmica, nesses casos, não pode ser vista unicamente isolando o produto agrícola, mas é
o conjunto Integrado de atividades que tem ritmo próprio e estratégias de crescimento combinadas,
pois há soldagens especificas da atividade agrícola “para a frente” e “para trás”, isto é, com a
indústria a montante e a agroindústria processadora.
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A diferença com o segmento anterior é que neste segundo caso a indústria a montante não
se encontra especificamente ligada num tripé, como fornecedora de um mercado delimitado e
específico, mas funciona como setor genérico de oferta de equipamentos e insumos agrícolas. A
idéia de “complexo” fica aqui restrita às inter-relações agricultura-agroindústria de processamento,
aí sim havendo uma dinâmica integrada. Pode-se dizer que aqui se encontram os CAis
“incompletos”, isto é, com soldagens específicas “para a frente”, porém sem soldagens específicas
“para trás”, embora as ligações intersetoriais (mesmo para trás) sejam mais ou menos fortes e
irreversíveis.
O café também poderia ser incluído neste grupo, pois o mais importante nesse CAI não são
propriamente as agroindústrias de torrefação e moagem e sim o segmento de exportação/
embalagem/classificação. As torrefadoras, que constituem a agroindústria neste caso, são quase
sempre pequenas e locais, sem poder de pressão sobre os produtores que, além de grandes,
possuem expressivo poder político e “lobbies” dentro do aparelho de Estado (Associação Nacional
do Café, IBC). O café, a partir do complexo cafeeiro antes referido, especializou-se e, após a
erradicação (1962/67) e o problema da ferrugem, está criando vínculos cada vez mais fortes “para
trás”, com a indústria de equipamentos e defensivos.
2 AGRIBUSINESS
explorar intensamente todos os recursos de que dispõem. A área plantada por cultura
aumentou para se adaptar à economia de escala das máquinas. E a sustentabilidade
passou a depender bem mais da capacidade da pesquisa em prever, identificar e
solucionar os problemas que vão surgindo, tais como pragas e doenças, e de baixar
custos de produção. Todos estes fatores interferem e contribuem para que se de maior
atenção ao agribisiness nacional e entra em cena o conceito de cadeia produtiva como
seu instrumento de análise.
O termo Cadeias de Produção (Análise de Filières) surgiu na escola francesa
de economia industrial. Esta cadeia de produção pode ser segmentada em três macros
segmentos: Comercialização, Industrialização e Produção de matérias-primas.
produtivas e integradas eficazmente com o sistema que vem depois da porteira. Como
exemplo, pesquisas mostram que no Brasil 75% da produção de grãos originam-se de
25% dos estabelecimentos rurais considerados modernos, revelando a rápida e forte
mudança no perfil tecnológico da produção rural.
Conforme MEGIDO & XAVIER (1998: 303), “os negócios no mundo crescem
e são concentrados. 100 multinacionais controlam 1/3 do investimento global. Apenas
40.000 empresas controlam 2/3 da economia mundial. A atividade agropecuária foi a
que maior ganho de produtividade apresentou na economia mundial do século que
findou”. Alguns aspectos do cenário mundial precisam ser considerados:
a) Novas tecnologias liberam o tempo do agricultor para que este possa dedicar-
se a gestão e fatores de marketing da atividade e o prendem menos a práticas
tradicionais agronômicas ou veterinárias.
deste novo modelo produtivo de propriedades rurais. O segredo é agregar maior valor
possível ao produto. Nos dias de hoje convivem lada a lado empreendimentos rurais
destinados à subsistência familiar e empreendimentos modernos economicamente
saudáveis e tecnificados.
Como regra geral, vemos que o grande valor para viabilizar a propriedade rural
está na qualidade gerencial. Isto significa a administração das compras de insumos e
fatores de produção, a condução do processo de produção e comercialização dos
produtos e o uso da informação no processo de inovação e aperfeiçoamento das
propriedades rurais.