Quando vou dormir no silncio normalmente no me lembro dos meus sonhos.

J
quando o fao ao som de msica tenho a ntida impresso de que a narrativa a
acompanha -com exposio, desenvolvimento e reexposio-, como uma grande
sinfonia de imagens.
Quando no durmo e a vida me obriga a testemunhar de olhos abertos as
camadas de negro com que pintam o cu e seus limites ento vejo que nossa
misso no est em sonhar e assim trazer o real ao sonho;
Pois ao fim do sonho, quando acordamos, se nos deleitvamos com fantasias,
fatalmente nos decepcionaremos com o real, que nos parecer insuficiente
frente ao delrio, e consequentemente nos frustraremos. Se, pelo contrrio, no
entardecer da histria vemos serem nossos medos e angstias as iluses que
tomvamos por certas- regendo nossas aes estaremos como aqueles que em
suores acorda de um pesadelo do qual resta apenas a angstia, agora sem
corpo, de cuja causa se ri mas cujos os efeitos persistem atormentando, o horror
est, portanto, no no pesadelo em si, mas novamente, no acordar, que nos faz
entender o que sentamos e que no seramos capazes de faz-lo enquanto
submersos na iluso.
Um pesadelo eterno, de fato, no temeramos. Seria apenas um tdio constante
e desconfortvel, com a repetio dos mesmos motivos aos quais j estaramos
acostumados; pois estando dentro da iluso no podemos enxergar alm de suas
fronteiras, e nem que iluso sabemos pois a percebemos com olhos igualmente
iludidos.
Qual seria nossa misso ento j que todo tipo de sonho, ao tentar dissimular os
males do agora, inevitavelmente resulta nos efeitos colaterais descritos?
Nossa misso senhoras e senhores, por incrvel que parea, precisamente o
oposto de sonhar. limpar nossa viso, abandonar nossas iluses, acordar desse
pesadelo que nos parece eterno e com o qual acostumamos por sermos
incapazes de ver seus limites enquanto o tomamos como real e inaltervel.
Imaginar o possvel e a mudana precisamente o oposto de sonhar, o possvel
desejvel to real quanto o que j est presente efetivamente, basta descobri-
lo no agora e p-lo em movimento, sua existncia efetiva depende apenas da
ao daqueles que j ameaam a despertar e enxergar nos "fatos" as iluses que
se disfaram.
Devemos enxergar o real possvel que se esconde sob as iluses presentes e
assim super-las, interpretar o real futuro que vive no interior do sonho presente,
a aurora j surge e em breve ser impossvel deixar de ver os contornos que ela
imprime nas formas, agora bem iluminadas.