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ramond Leds, Caiea Postal: 16230 Cope ee 230 Cop 22.222.970 V José Eli da — eiga Desenvo/vimente sustentdéve! o desafio do século XX! Revsto Prefacio ignacy Sachs Garamond | | Capitulo 1 Como pode ser entendido o desenvolvimento Existem tes tipos bésicos de resposta 8 indagagto “o que é desenvolvimento?”. As duas primeiras so mais simples, ¢ serio brevemente apresentadas antes de serem destrinchadas. A mais freqiiente ¢ tratar 0 desenvolvimento como sinénimo de crescimento econdmico. Isto simplifica a tarefa de responder & pergunta, pois dois séculos de pesquisas hist6ricas, teéricas ¢ ‘empiticas sobre 0 crescimento econdmico reduziram bastante a margem de divida sobre essa nogéo, muito embora persistam — ¢ talvez tenham até aumentado ~ as diividas sobre os seus pri pais dererminantes. Este amilgama das duas idéias também plifica bastante a necessidade de se encontrar uma mancira de medir 0 desenvolvimento, pois basta considerar a evolugéo de indicadores bem tradicionais, como, por exemplo, o Produto In- terno Bruto per capita, A segunda resposta facil éa de afitmar que o desenvolvimen- to nfo passa de reles ilusio, crenga, mito, ou manipulagio ideols- gica. Aqui, pode até surgir alguma dificu do sentido e da fungio dos mitos nas sociedades contemporiincas lade na compreensio © para o proprio avango das ciéncas, questdo que continua a desa- 7 far principalmente os antiopélogos. Sé que os analistas que real- © enigma do “desenvolvimento sustentével”, pois ele no passatia de 1. B é muito ova roupagem da quimera origi importante assinalar que essas luas cortentes ~ a do crescimento fem recusar essas duas safdas is ¢ tentar explicar que o desenvolvimento nada tem de quimético ¢ nem pode ser amesquinhado como crescimento eco ico. Esse “caminho do meio” & o mais desafiador, pois é bem mais dificil de ser trilhado, desenvolvimento como erescimento econdmico Desde que o Programa das Nagdes Unidas para o Desenvol- vimento (PNUD) lan como crtério de aferigao, tir na simples mento. A publ lidade que se arrastava desde o final da 2* Guerra Mundi- al, quando a promogéo do desenvolvimento passou a ser, ao lado da busca da paz, a propria razio de ser da Organizagio das Na- es Unidas (ONU). Aéo de distinguir desenvolvimento de crescimento econémico, pois as poucas nagies desenvolvidas eram as que se haviam tornado ricas 18 necido subdesenvolvides eram os poi industrializacdo era incipiente ou nem havi ‘em maior acesso de populagses pobres a bens materiais ¢ is, como ocorrera nos palses considerados de idos. A comegar pelo acesso 2 saiide € & educagio, Foi assim que surgitt 0 lo do vocibulo desen- intenso debate internacional sobre o sen} ‘fo terminou, mas que softeu um dbvio abalo esclarecedor desde que a ONU passont a ice de desenvolvimento que no se divulgar anualmente um resume & renda per capita ou & renda por trabalhador, Até 0 final do século XX, os manuais que servem para trans- mitir as novas geragSes o paradigma da ciéncia econdmica con- Khun jimento ¢ crescimento econdmico er de vyencional (ou “normal”, no despudoradamente desenvé ‘como simples sin6nimos. Quando 0 IDH comecou a se afiriar mundialmente como um indicador mais razodvel de desenvolvi- (ou aos fundamentos de macto ¢ micro, ‘como se diz no jargio profissional) ‘A mais significativa foi simplesmente banir 0 tcrmo desen- volvimento, como se pode constatar em simples consulta aos ex- eclentes glossirios ¢ indices dispontveis no final dos mais mente eliminadas dos curriculos dos cursos de economia, mas permanecem apenas toleradas como formag6es complementares, a exemplo da Sociologia do Direito (e as vezes até da Histéria). Em testumo, 0 que economista precisa saber é mactocconomia © microcconomia, duas disciplinas devotadas ao crescimento eco- némico, ¢ no & idéia muito mais ample de desenvolvimento, Reagio diferente, ma non sroppo, foi a dos que conseguiram rat 0 exflio da idéia de desenvolvimento a0 encontrar uma ma- ira de conservécla como uma espécie de apéndice. Isso ovorre prineipalmente em introdugdes que procuram apresentar uma vi- sio abrangente das teorias do crescimento econdmico, como 0 elo ages como expectativa de vida, licadores de qualidade de vids.” E fornece duas justifcativas para tal atitude: a) a renda per capita & tum bom indicador do desenvolvimento, porque escé alan cortelacionada com outros indicadores de qualidade de vi teorias que sero apy mortalidade infantil ou outros bas das no restante do livro foram todas for- muladas em termos de renda per eapita.. (Jones, 2000: 3).. desenvolvimento como quimera No Brasil, essa tese foi bem difandida pel agio de uma coletinea de artigos do economista e socidlogo italiano (mas que ensina nos Estados Unidos) Giovanni Arrighi: A ilusio do desenvolvimento. A questéo central para ele & saber se seria posstvel algum tipo de mobilidade ascendente na rigida hierat exonomi 2 mundial, formada por um pequeno orginica” de palses centeais; uma extensa periferia contend os 20 ". Nio dificil demonstcar as chances de transposicio dos dois “golfos” que 10s da riqueza modesta dos separam a pobreza dos perifés cos, ¢ esta da riqueza oligirquica dos Estados do ni- , embora alguma mobilidade seja possivel, ibuigio da populagio mundial pelo do 1958-1983. cexcepcional qualquer mobilidade ascendente consideradas exceg6es tanto a icleo orginico, quanto a absorcio da Coréia do Sul ¢ de Taiwan pela semiperifetia. De resto, pelo critério adotado, até 1987 a Libia teria entrado e saido do niicleo organico! Nao é robusta a metodologia adotada por Arsighi para ten- fidade de mudangas substant fcadas pelo PNB per eapita. Ele esta- tar demonstrar essa impossil na hierarquia das nagies tt cionais. O mais engragado € que 20 dustrializagdo” como equivalente de mo se trai com 0 seguinte raciocl ‘ma, mas como um meio para obter outras coisas que ele talvex a inclua nas noses de “bem-cstar”, “poder” ou “uma combinaggo disso” A esstncia da tese que ele defende, referindo-se a conttibui- Ses anteriores de Immanuel Wallerstein, é que 0 “desenvo Tenn Nee sertido & wana iusto" (Artighi, 1997: 217, grifo mew, JEV). Ou sj, mo sentido esto de acimulo de tiquica or par- ivo de paises, de modo que tal avango em algum momento, sew ingresso no nd- cleo organico. Se ese foseo principal sentido da nogae de deer, volvimento, ele estaria coberto de rato, Mas ninguém & obtiga- do a accitar téo simp! definigio do desenvolvimento, a Igica em afitmar que o desenvolvi- mento nfo passa de ilusio, porque até aqui foram muito raros os ‘alos da semipeciteria para o centeo, Mesmo que se admitine » Pag Pate de aue 9 desenvolvimento poderia ser afetido pelo PND per capita, ese eonscatato autoriatia, no miximo, 1 con. clusio de que o processo de desenvolvimento 36 pode er mui lento ¢ demorado, Esse debate seria bastante disso, nfo hé sequer m ‘Hi argumentagbes bem imals artculades ¢ persuasivas nas obras de pelo menos trés auto. *e8 dessa cétca corrente de pensamento: dois diplomatss, 0 peru ano Oswaldo de Rivero e 0 iraniano Majid Rahnema, mais o scholar sulgo Gilbert Rist, Nenhum deles comete o sim sar o PNB per eapita para medic o desenvolvimento, Nas palavras de Rivero (2002: 132), séo os gurus do mito do desenvolvimento que tém uma vséo 4) Ignoram os processos qualitativos lismo de rico-culturais, © progresso 2 dos impactos ecoldgicos, Confundem crescimento econdmico com © desenvolvimento de uma modemidade ca te nos paises pobres. Com tal perspectiva, eles s6 percebem fend- menos econdmicos secundétios, como 0 crescimento do PIB, 0 to das exportagies, ou a evolugio do mercado ‘mas néo reparam nas profundas disfungbes qu: estruturais, culturais, soci ma de tudo no surgimento de uma burguesia e de um mercado de dimensio nacional, foi a base do Estado moderno. Essa se- iiéncia se invertew nos palses ditos em desenvolvimento, A auto- 3, isto é o Escado, emengiu desde a independéncia © antes que sutgisse a Naso. Antecipou-se a0 des de uma verdadeira burguesia, ¢ de uma economia cap a grande maioria dos palses “em desenvolvimento” atende peo rome de miséria cientfico-tecnolégica. Sempre segundo River a demanda mundial de pro aumenta 15% 20 ano, énquanto a de matéras- 205 3% © a de produtos com baixo grau de t ° passa de 4% ao ano. E os presos reais das matérias-primas, que jé 23 caltam para nfveis inferiores aos da depresséo de 1932, continu- = como téx- deira, quimicos, maqui ‘equipamentos de transportes — cafram 1% a0 ano desde 1970, ‘mostrando uma tendéncia perversa semelhante & aptesentada pelas ‘matérias-primas, Quando 0 virus da miséria cientifico-tecnolégica coincide com outro virus de inviabilidade ~ o da exploséo demogréfica urbana -, ent4o o néo-desenvolvimento é “quase inevitdvel”, acres- centa Rivero (2002: 135). Isto porque as minguadas recetas que poderio ser geradas no futuro pelos precos instéveis e pouco ren- tiveis de minerais, metais, produtos agricolas, madciras, téxteis e ‘utras produtos pouco intensivas em: tecnologia nio poderéo as- Segurar recursos suficientes para a eriagio de empregos e para a satislagdo das necessidades de populagées que crescem demais nas cidades subdescnvolvidas. A populagio terd dobrado em quase todos os pafses que ex- portam produtos pouco intensivos em tecnologia por volta de 2020. Esta combinacio viral de exportagéo de bens com baixo valor agregad6 e explosio demogrifica ¢ grande produtora de Pobreza. Se as exportages nao forem modernizadas com tecnologia e se néo diminuir a Vidos, a pobreza, que hoje cerca de 3 bilhées em 20: Para Rivero, € est ‘mercado mundial para crescentes populagSes urbanas que impe- de os paises de se desenvolver Tende a tomnd-los Economias Nacionais Invites (BNIs). Todos os paises chamados “em desen- tiveram de sobreviver, por quase todo o século XX, 24 ‘com ajuda internacional, emptéstimos oficiais ¢ financiamentos privatizagées e capitais volateis do especulativo mercado financei- 10 global. : ‘A dinica saida para os pases vitimas dos efeitos datwinianos da tecnologia e do mercado global é red -mentos ¢, 20 mesmo tempo, modernizat sua produgéo para corn processo vai ser eomplexo € taxa de nasci provavelmente se estenderd por duas décadas, d serh preciso sobreviver, evitando terremotos sociop: isso, diz Rivero (200; entre 0 crescimento di Rendas estratégicas Os paises do entéo chamado Terceiro Mundo obtiveram ren- que as superpoténci- as precisavam conquistar apoio ¢ al nda estratégica a alguns palses para mano- nhamento forneceu brarem entre os dois blocos e obterem vantagens de ambos. Ou- égica naquele perfodo ta opefo para um pais obter renda foi apostar no tudo ou nada, aliando-se a uma das superpoténci- idade, a maioria dos Estados régico que ¢ investimentos. A ajuda internacional diminuiu as, Todavia, com o fim da los deixou de possuir o inceresse es subdesenvol atrala aj muito, © 08 palses pobres nfo recebem investimentos nte ~ ¢ jé no campo politico -, néo existe ficativas, 25 tratamento especial e diferen para esses palses que agor ide de condigées com os palses desenvo! ia dos “quase-Estados-nagio” estd em situacio de abandono estrarégico, 4 merc® da selegdo natural do mercado global © da revolugio tecnol Nesse contexto, sé uns poucos paises “em desenvolvimento” Conseguem rendas estratégicas por serem grandes exportadores de peudleo ou de alimentos, dois recursos cada vee mais impor- tantes diante da explosio do crescimento urbano, Também tém renda estratégica os paises localizados em estreitos e canais vitais do estreito de canais como 0 do Panam e do Egito, por onde passa boa parte do cométcio mundial de mercade Com o fim da, guerra fia a tinica fonte de renda estratégica para alguns palses ¢, ironicamente, © petigo que sua instabi representa para seus vi lade 0s ricos. Alguns paises ricos preferem ajudar vizinhos pobres pata evitar a sua desestabilizacfo e conter 4 migraclo, De resto, hi “Estados-tampio", isto é em territérios que sirvam para conter os imigeantes clandestinos, pro. pobres do Sul. ceresse em transformar esses paises em E esta realidace que recomenda ~ na visto de Rivero (20 215) ~ deixar de lado 0 “mito do desenvolvimento”, abandonar a busca do Eldorado, e substicuir 2 agenda da riqueza das nages pela agenda da sobrevivencia das nagdes. Como jf foi insiste que a prioridade atual deve ser estab urbano ¢ aumentar a di « dito, ele ara evitar que a vida nas cidades dos paises pobres seja. um ferno no futuro, Segun vero, essa meta de equilib 26 lepende de ideologias e por isso pode resultar de um celebrados por todos os socia consenso, de “Pactos pela Sobrev secores politicos em qualquer pais pobre onde a populagio urba- nna cresga demais e haja alarmantes sintomas de inseguranga hidrica, energética ¢ alimentar Embora esses “Pactas” possam vir a ser dificuleados pela falea de percepsio da classe politica, que nao repara no virus de inviabilidade nem no processo de sclegéo darwi da elobalizacio c da revolusio tecnolégica, Rivero (2002: 216) acre- {erangas acabatio por perce- ‘que, quase sem que s€ 1 ber que os palses que tentam governar estio se tornando dia apés dia, & medida que Embora nao chegue a propor nada de parec “Pactos de Sobrevivencia’, 0 des do diplomata irani ‘com esses para ministrar um cutso volvimento, cle acabou organizando uma impression: nea de 37 textos que, de variadas formas, tendem a géncia de um novo paradigma chamado provisoriamente de ‘p6s-desenvolvimenco”. Nenhum desses ensaios chega petto da consisténcia dos 13 capitulos da histéria do dese posta pelo professor sufgo Gilbert Rist. Mes possivel dizer qual desses dois liveos & mais vago em suas conclu- s6es. Ou seja, por mais convincentes que possam ser alguns des- tivo de evolugio ¢ progresso que lhes ¢ intrinseco. Serd que esses desiludidos com 0 desenvolvimento acreditavam na idéia de que o& povos pobres poderiam um dia desfrucar das con- 7 Alisdes de vida dos atuais povos rico Taver esta seja uma ilagéo que Indo faca justia & importincia de suas contrbuigdes intelectuais, mas € uma pergunta que decorre diretamente da critica que fazem a0 desenvolvimento como um processo de tanspossGes de golfos que icos ¢ semiperiféricos do restrito clube central, E futdvel que as economies periféricas nunca serio desemnlbides, no sentido de similares &s economias gue formam 0 centro ‘capitalists, alertou Celso Furtado, hi mais de 30 anos, tamente intiuslado O mito do desenvolvimento econbmico. separam pe mito segundo Furtado Celso Furtado escreveu, em 1974, que a idéia de desenvolvi- mento econimico & um simples to, Gragas a essa iz ele, de identifi- fades que abre ao homem o avango da ci las em objetivos abstratos, wentos, as exporta- » “Como negar que essa idéia tem sido de accitar enormes sactificos, para legitimar a dk de cultura arcaicas, para explicar e fazer dade de desceuir 0 meio fii para justificar formas de depen dencia que reforgam o cariter predatério do sistema produtivo?” (Furtado, 1974: 75-6), no extudo do desenvolvimento dos paises perfétcos, © mente do Bi cipal- iP Tetia sido apenas um momento infeliz, sabia mente abandonado em obras posteriorest Ou, 20 cont opeto deliberada e coerente em perseverar na andlise de win mito? 28 Esta segunda resposta € a que parece mais provivel, caso a ref 12 primei- 19 afirmagio é a de que os mitos tém exercido uma inegavel influ i Soja a abertura desse mesmo livro de 1974. éncia sobre a mente dos homens que se empenham em compte- ender a realidade social. Os cientistas sociais cém sempre busca- do apoio em algum postulado enraizado num sistema de valores que raramente chegam a explicitar, O mito congrega uma série de hipéteses que nao podem ser testadas (Furtado, 1974: 15). Contudo, essa nfo ¢ uma dificuldade maios, pois 0 trabalho analitco se tealiza em nivel muito mais préximo da tealidade. A construgio daquilo que 0 gra Schumpeter (1883-1950) sem a qual 0 trabalho a ico nao tetia qualquer sentido, Uma visio pré-analitica, Assim, os mitos operam como firdis que ‘minam o campo de percepgéo do cientsta social, petmitindo- set uma visio clara de certos problemas e nada ver de outros, a0 ‘em que the proporciona conforto intelectual, pois Sempre segundo Furtado (1974 desenvolvimento econémico nos dé um exemplo m papel direror dos miros nas cincias sociais: pelo menos noventa or cento de seu conteiido se fundam na idéia, que se dé por evidence, segundo a qual pode set universalizado o desenvolvi- ‘mento econdmico, ral qual vem sendo praticado pelos paises que Os padrées de consumo da minoria da humanidade que atualmente vive nos pales alea- icraram a cevolugio indus mente industrializados podetio ser acessiveis as grandes massas de populagio em répida expansio que formam a periferia. Essa 29 idéia Progresso, elemento essencial na ideologia diretora da revolugio burguesa, na do, 1974: 16 O mais importante é que a idéia de desenvolvimento esté no seguramente, um prolongamento do mito do I se criow a atual sociedade industrial (Furta- cere da visio de mundo que prevalece em nossa época, Nela se funda 0 processo de invengio ural que permite ver o homer Morfogénese social A humanidade uas potenci rage com o meio no empenho de efetivar ides. Por isso, na base da reflexio sobre esse tema existe implicitamertce u a teoria geral do homem, uma anttopo- logia flosstica. E ¢ a insuficéncia dessa teoria que permite enten- der o freqitente deslizamento para 0 reducionismo econdmico e sociolégico. Todavia, o tema central do estudo do desenvolvimento idade cultural ¢ a morfogénese social, assuntos que per ntocados. “Por que uma sociedade apre- senta em determinado periodo de sua hist6ria uma grande capa- cidade criadora € algo nos escapa. Menos sabemos ainda por dade se orienta nesta ou naquela diregio” (Furtado, 2000: 7), Existe evidéncia de que a invengéo cultural tende a ocotrer em torno de dois cixos: a busca da eficécia na ago ¢ a busca de propésito para a propria vida. A primeira tem sido chamada de racionalidade instrumental ou formal e a segunda de racionalidade substantina, ow dos fins, A invengao ditetamé poe a existéncia de objetivos previamente del 30 Hlenica. J4 a invengio ligada aos destgnios al ‘que podem ser mor os gera valores, icos etc, ligiosos, es © que nao se sabe ao certo & a razio pela qual, neste ou raguele momento de sua histéria, uma sociedade favorece a cria- sfo de téenicas ¢ no de valotes substantivos. Menos conhecidos substantivos para o plano puro, Contudo, insiste Furtado iovagiio, no que respeita aos meios, vale dizer, o progresso técnico, po fo de valo im poder de difusio mui ior do que a eriae subs ordindria capacidade expansiva. E é a esse quadro h {que se deve atribuir 0 fato de q tenha ficado circuns confi it com a explicagao do sistema prod que emergiu izasdo industrial. No entanto, o desenvolvimento deve ser entendido como processo de dade “nao s6 em relagZo aos meios, mas também aos fi (Furtado, 2000: 8), Em si tee, a publicagéo do livro O mito do desenvolvimento econémica foi um forte momento de inflexio no pensamen Celso Furtado, Em suas obras anteriores, ele no ia tio tua ruptura com a abordagem da Comissio Ec a América Latina e © rimento na berlinda", de 1979, Uma excelente 08 fo hi strasio da tese de que “nas eiéncias socias 0s co icamente densos. Quer dizer: eles recisam redefinit-se sempre que ocorram alteragbes de alcance 31 nvol » conforme observacio feita quinze anos de- ama conferéncia que 0 entio presidente da Repiiblica Pronunciou em Washingcon, com um pode: ser mais esclarecedor para os prop “Desenvolvimento: o mais politico dos temas econdmicos” (Car- doso, 1995). O desenvolvimento se i ificava com 0 progres. tial até meados dos anos 1970, lembra Cardoso nessa confe- xéncia, Para alguns, o progresso material levaria espontanea- Para outros, a relagéo , pois 0 jogo politico intervinha, fazen- do com que 0 crescimenta tomasse rumos diferenciados, com tos heterogéncos na estructura social, Mas todos ainda viam © desenvolvimento como sindnimo de crescimento econdmi 0. Quinze anos depois, do Desenvolvimento Humano (1990), © panorama jé era com- pletamente di do surgiu o primeizo Rel rente. O crescimento da economia passara a ser entendido por muitos analistas como elemento de um pro- cesso maior, jé que seus resultados néo se traduzem automati- camente em bi sobre an ficios, Percebera-se a importancia de refletir tureza do desenvolvimento que se almejava. patente, enfim, que as polfticas de desenvolvimento ser estrutucadas por valores que nio seriam apenas os da mica econdmica. Sca-sacional ‘Aqui eseé a mudanga fundamental no modo de se entender 0 desenvolvimento, E cla ce rente no foi exposta de forma mais 32 sistomética ¢ cristalina do que na série de conferéncias proferidas encte 1996 € 1997 pelo indiano Amartya Sen, como men presidéncia do Banco Mu: 1998, ele recebeu o Prémio Nobel de Economia, ¢ no ano seguinte, editow essa série de con- feréncias sob o tieulo Desenvolvimento como liberdade, a obra que tas & pergunta: 0 certamente mais trax respostas positvas e di que & desenvolvimento? O ttocadilho sen-sacional do comentdrio da revista The Economist sobre a premiagio do indiano em 1998, € 0 mais adequado para qualificar esse livro, ado no Brasil em 2000. E nele que devem ser buscados os fundamentos do que no inicio deste capttulo foi chamado de do meio, entre a miopia que teduz 0 desenvolvimento ie intitulow 0 curto e contraria- 40 crescimento, ¢ derrotismo que o descarta como inexeqiivel, © que essa obra procura demonstrar é a necessidade de se reco- rnhecer © papel das diferentes formas de liberdade no combate is absurdas privagoes, destituigées e opressGes existentes em um mundo marcado por um grau de opuléncia que teria sido dif até mesmo imaginar um ot dois séculos atrés. O século XX escabelecet 0 regime democritico ¢ como modelo preeminente de organizasio pol de diccitos humanos e liberdade politica hoje sfo parte da rev 2 prevalecente, As pessoas vivem cm média muito mais tempo do que no passado, E as diferentes regides do globo esto agora ‘mais estreitamente ligadas do que jamais estiveram, no somente cages, mas também de idgias ¢ em termos de comeércio e co: ideai rerativos, ‘Todavia, problemas novos convivem com outros muito an- 33 violacéo de liberdades politicas clementates ¢ de liberdades for- ‘mais bésicas; sem falar da ampla negligéncia diante da condigao de agente das mulheres. E mi 3s dessas privagées podem ser encontradas tanto em paises pobres como em palses ticos. erdade individual sea, a expan so da liberdade ¢ vista por Amartya Sen como o principal fim © principal O combate a tais problemas exige que a seja considerada um comprometimento social Cons tudo © que limita as escolhas ¢ as oportunidades das pessoas. O crescimento econdmico obviamente pode ser muito muitos outros determinantes, como os servicos de educagio satide, ou os direitos ci tecnolégico ou a mode: cialmente para a expansio da liberdade humana, mas esta depen- de também de outras influéncias. Se a liberdade € 0 que o desenvolvimento promove, entio existe um argumento fundamental em favor da concentragio dos ro abrangente, © nfo em algum ta de instrumentos esp: io requer que se removam as princi- pais fonces de privagdo de liberdade: pobreza ¢ caréncia ‘Todos so subdesenvolvidos liberdade de entrar em metcados ~ a comecar pelo merca- do de trabalho ~ pode ser, ela prdpria, uma conteibuigio impor- 34 tantfssima pata o desenvolvimento, independentemente do que ‘9 mecanismo de mercado possa fazer ou no para promover 0 crabalho auténomo e hererOnomo e de tempo gasto em ativida- E enfatiza que os aspectos qualitativos séo ivos ¢ individuais, des nfo econdrai essenciais. Maneiras vidveis de produzir meios de vida no po- dem depender de esforgos excessivos e extenuantes por parte de remunerados exercidos em seus produtores, de empregos m : condigées insalubres, da prestacao inadequada de servigos pabli- cos € de padrées subumanos den Ousra maneita de dizer concisamente 0 que é desenvolvimen- to vem sendo repetida nos quinze relatérios anuais elaborados pelo PNUD. O desenvolvimento tem a ver, primeiro e acima de tudo, om a possibilidade de as pessoas viverem 0 strumentos € das oportunidades para fazerem as suas escolhas. E, ultimamente, o Relatério do De- senvolvimento Humano tem insistido que essa é uma idéia tio de vida que esco- Jheram, e com a provisto dos ros hue a quanto econdmica. Vai desde a protegio dos manos até o aprofundamento da democracia. A menos que as pes- soas pobres marginalizadas possam influenciar asées politicas de Ambitos local e nacional, nao € provavel que obtenham acesso eqii- ‘ativo 20 emprego, escolas, hospitais, justiga, seguransa © a outros servigos bisicos, dino rador do PNUD, Mark Malloch Brown, em seu preficio ao Relatério de 2004. No entanto, de Celso Purtado a melhor férmula sin para dizer 0 que ¢ desenvolvim publicado no final de social subjacente, Dispor de recursos para investir esté Ionge de 81 ‘er condicio suficiente para preparer um melhor futuro para a ‘massa da populagio. Mas quando o projeto social prioriza a eft va melhoria das condigécs de vida dessa populasio, o ereain ‘© s© metamorfoscia em desenvolvimenta” (Furtado, 2004: 484), Leitaras mais recomendadas Quem precise ecoher apenas algumas refecdncasbiliogéficas deste

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