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O documento resume um livro que apresenta uma teoria da religião cristã primitiva, analisando aspectos como o mito, o etos, os rituais e a linguagem simbólica dos primeiros cristãos. O autor argumenta que houve uma fusão entre elementos históricos de Jesus e discurso mitológico, e que a crucificação levou à divinização de Jesus. O amor ao próximo e a renúncia do status eram valores centrais do etos cristão primitivo.
O documento resume um livro que apresenta uma teoria da religião cristã primitiva, analisando aspectos como o mito, o etos, os rituais e a linguagem simbólica dos primeiros cristãos. O autor argumenta que houve uma fusão entre elementos históricos de Jesus e discurso mitológico, e que a crucificação levou à divinização de Jesus. O amor ao próximo e a renúncia do status eram valores centrais do etos cristão primitivo.
O documento resume um livro que apresenta uma teoria da religião cristã primitiva, analisando aspectos como o mito, o etos, os rituais e a linguagem simbólica dos primeiros cristãos. O autor argumenta que houve uma fusão entre elementos históricos de Jesus e discurso mitológico, e que a crucificação levou à divinização de Jesus. O amor ao próximo e a renúncia do status eram valores centrais do etos cristão primitivo.
A religio dos primeiros cristos: uma teoria do cristianismo
primitivo. Trad.: Paulo F. Valrio. So Paulo: Paulinas, 2009. 450 pp.
Resenhado por Alessandro Arzani
http://lattes.cnpq.br/8187479779224919
Gerd Theissen professor de Teologia do Novo Testamento na Universidade
de Heidelberg. um dos pioneiros da aplicao dos princpios e mtodos da sociologia para o estudo do Novo Testamento. Seu livro empreende uma tentativa de uma descrio e anlise da religio crist primitiva sob a tica das cincias da religio (p. 7). O contedo do livro remonta s Speakers Lectures, em Oxford, em 1998 e 1999. O autor reconhece que esse um plano terico que ainda precisa ser completado. As Conferncias de Oxford aparecem inicialmente em ingls como A Theory of primitive Christian Religion, pela editora SCM de Londres, 1999. Ainda em 1999 publicado Theorie der urchristlichen religion, pela Gtersloher Verlagshaus. A edio alem foi revista e provida de notas e complementos. Agora a obra alem que adquiriu um volume considervel apresentada em portugus. O livro dividido em seis partes, sendo a primeira seco um captulo sobre o programa de uma teoria da religio crist primitiva, seguido das parte maiores que so desenvolvidas sob essa teoria nas prximas cinco partes. No primeiro captulo, o autor apresenta seu programa para uma teoria da religio crist primitiva definindo a religio como sistema cultural de sinais. Sua definio de religio influenciada pelo pensamento de Clifford Geetz. A religio analisada como possuidora de um carter semitico, sistmico, e cultural. Discorda- se de uma reduo da religio experincia do sagrado ou projeo humana. Entende-se a religio dentro da capacidade humana de construir sistemas de interpretao do mundo. Gerd telogo e admite seu posicionamento sem rodeios. Ele procura perscrutar por inteiro a vida deles e inserir suas afirmaes teolgicas em contextos semiticos, social, psquico e histrico que so imediatamente teolgicos (p. 11). Theissen considera que uma teoria da religio crist primitiva pretende descrever e analisar a f crist primitiva em seu dinamismo que pervaga toda a existncia mediante categorias gerais das cincias da religio. O sistema religioso de sinais caracterizado por mito, rito e etos. Na sua teoria da religio, considera-se fundamentalmente a religio um fenmeno cultural e no um fenmeno natural ou sobrenatural. A histria do cristianismo primitivo nesse sentido definida como a histria do surgimento de uma nova religio que de desvinculou de sua religio materna e tornou-se independente. A funo da religio analisada quanto a sua perspectiva psquica, pragmtica e social, mas principalmente considerando a produo da expectativa produzida com a promessa do proveito da vida. Na segundo parte do livro, o autor analisa a relao entre mito e histria no cristianismo primitivo. No segundo captulo, que contido nessa parte, o autor evidencia a importncia do Jesus histrico para o surgimento da religio crist primitiva. O Cristo querigmtico no considerado apenas um ser mtico. Theissen defende a ideia de que houve uma fuso entre elementos do Jesus propriamente histrico e o discurso mitolgico produzido. Esse processo caracterizador do cristianismo. O autor identifica trs particularidades do mito do senhorio vindouro do Pai, que foi aplicado a Jesus: a historicizao, a poetizao e uma desmitalizao. O mito introduzido na histria e historicamente transformado atravs do que se diz a respeito de Jesus. Embora o cristianismo tenha suas razes no judasmo, algumas alteraes fundamentais acontecem: O monotesmo permanece, mas o nomismo cede lugar aliana feita com o Salvador. Jesus representou um movimento de renovao no judasmo. O cristianismo mais um dos movimentos como aqueles que surgiram a partir do sculo II a. C. como os essnios, os fariseus, os saduceus. O prprio Jesus condenado como agitador poltico, como rei dos Judeus. Theissen considera que o que decisivo para a autocompreenso de Jesus no esse ou aquele ttulo que possa aparecer vinculado a Ele, mas a historicizao do mito escatolgico em toda a sua atividade. No terceito captulo discutido o processo pelo qual se chegou divinizao de Jesus. O processo de transformao do sistema religioso contempla experincias novas e as experincias vigentes que elaboram o sistema. A crucificao foi o malogro das expectativas que surgiram em torno de Jesus. Theissen recorre a teoria da dissonncia de Leon Festinger para expliar que a exaltao de Jesus ao status divino s podia, portanto, provocar uma reduo cognitiva da dissonncia porque ela correspondia a uma dinmica contida no monotesmo judaico. Essa extao coloca Jesus acima de qualquer outro Deus. O Etos do cristianimo primitivo o assunto da segunda parte. No captulo quarto, so analisados dois valores fundamentais do etos cristo primitivo: o amor ao prximo e a renncia do status. O autor procura analisar o conjunto de comportamentos vigentes, factual e exigido em um grupo. O etos cristo provm do judasmo, mas procura super-lo. So novos o amor ao prximo e a humildade. A humildade e apresentada por Gerd como renncia do status, da condio superior. O diferencial no cristianismo o amor aos inimigos. Esse um amor aos pecadores. O mito da humilhao do Deus encarnado revela a humildade e o amor. Em seguida, o autor faz uma anlise da relao do Cristianimo primitivo com o poder e os bens. A renuncia ao status vista como elemento estuturados da cristologia, pois a humilhao e a elevao servem como molduras. Enquanto o etos judaico restrito o etos cristo abrangente e transcente fronteiras. O cristianismo apresenta uma nova relao com os bens e o poder, bem como uma nova relao entre sabedoria e santidade. Os pobres so alvo da complacncia divina e o desapego material incentivado. O cristianismo apresenta uma crtica ao poderosos. A relao entre mito e etos identificada por Theissen se d principalmente em torno do exemplo da humildade de Cristo. No sexto captulo, a discusso se desenvolve em torno da relao do cristianismo como a sabedoria e a santida. Theissen afirma: De fato, o saber confere poder, e santidade proporciona influncia (p. 145). Com essa considerao, a anlise de Theissen nota alguns aspectos distintos do cristianismo. A sabedoria passa a ser considerada como algo pertinente s pessoas simples. Sabedoria no no sentido de uma grande formao intelectual, mas antes, no sentido de uma completa organizao coerente da vida segundo uns poucos princpios. H uma crtica aos escribas e doutores da lei. A sabedoria dos ensinamentos cristos apresentada como um ensinamentos acessvel a todos. No cristianismo o Esprito Santo torna-se o poder que confere status e substitui o status atribuido descendncia judaica. Na terceira parte do texto, Gerd Theissen analisa a linguagem simblica ritual do cristianismo primitivo. O surgimento dos sacramentos cristos primitivos a partir de aes simblicas o assunto do stimo captulo. Em nota o autor considera que Ritos a noo mais ampla, sacramento , a mis restritam que enfatiza apenas dois ritos: Batismo e Eucaristia. Embora Theissen afirme que no se trata de uma abordagem confessional sua anlise no que se refere a esse aspecto deixou a desejar. Faltou uma explicao sobre como se define histricamente sacramento, j que esse no era uma termo exclusivo do cristianismo. A seia considerado um rito de integrao. O Batismo e a Eucaristia tonam-se sinais peculiares do cristianismo por estarem relacionados morte de Cristo. A nova linguagem simblica ritual do cristianismo primitivo surgiu a partir de aes profticas simblicas com as quais Joo Batista e Jesus transmitiram sua mensagem escatolgica. A superao dos etos simblicos anteriores se d com a vinculao sacramental da morte de Cristo. No oitavo captulo, analisada a interpretao sacrificialda morte de Jesus e o fim dos sacrifcios. O autor considera que j era corrente as crticas ao culto sacrificial, principalment por causa da evidente disparidade entre sacrifcios vazios e injustias sociais permanentes. O essnios e os samaritanos j haviam se afatado da prtica de sacrifcios. O movimento do Batista empreendida uma significativa crtica ao templo e a poltica romana. Um pao adiante rumo ao fim do culto com sacrifcios foi dado pelos gentios cristos. Mas foi a destruio do templo que contribuiu determinantemente para que cessassem os sacrifcios. Jesus defendeu a autoestigmao como conduta. A ideia de expiao pelo sacrifcio de Cristo uma criao que mescla mito e histria. Mito e histria aparecem em tenso mtua, mas alcanam uma unidadena mito-histria narrativa base da religio crist primitiva. Na quanta parte, momento de analisar a ascenso do cristianismo ao universo simblico autnomo. O nono captulo analisa esse processo nos textos paulinos e nos evangelhos sinticos. O autor considera pouco significativo para a emancipao do cristianismo responsabilizar influncias no-judaicas, como se convies de f pags, introduzidas secretamente, tivessem afastado os primeiros cristos de sua religio judaica materna. No judasmo, tenta-se construir uma sociedade e toda uma cultura a partir de uma crena religiosa. No cristianismo as regras alimentares so superadas, as barreira etnicas so transpostas, o lugar de culto ressignificado. Com o Evangelho de Joo a comunidade crist demosntra que toma conscincia de sua autonomia. De uma forma geral, com os evangelhos o cristianismo passa a ter uma narrativa prpria, no entanto, do continuidade s narrativas veterotestamentrias. Cada evengelho carrega uma trao particular. O evangelho de Mateus a delimitao tica em relao ao judasmo e de certa forma ao paganismo. Marcos apresenta uma delimitao ritual do judasmo, em Mateus uma demarcao tica. Em Lucas, essa estipulao comportamental se d em meio narrativa histrico-salvfica; atravs da formulao da narrao histrico-mtica de base do cristianismo primitivo de modo que ela torna compreensvel a separao entre judeus e cristos. No dcimo captulo, o evangelho de Joo analisado como documento que testifica a tomada de cosncincia do cristianismo primitivo de sua autonomia interna. No evangelho de Joo a divinizao de Jesus terreno atinge seu ponto culminante. Jesus associado continuamente com expectativas da salvao humana, s quais ele atende, ao mesmo tempo transcende. No envangelho de Joo o Revelador revela que revelaror As crises so importantes fatores no processo de transformao cultural e Gerd Theissen destina essa quinta parte para analis-las. No captulo onze, o autor dedica-se a discutir as crise que foram fundamentais para a construo de um sistema simblico autnomo no cristianismo primitivo. To logo, a primeira crise ocorreu ainda no sculo I e foi a crise judastica. No sculo II ocorreu a crise gnstica. O autor considera que o cristianismo no soluciona definitivamente a aporia do judasmo que resulta da tenso fundamental entre teocentrismo e antropocentrismo. A doutrina da justificao formulada por Paulo uma resposta s aporias do judasmo. No captulo doze, a relao entre pluralidade e unidade no seio do cristinismo primitivo analisada. O autor apresenta uma interpretao distinta do quadro histrico de Tubinga para interpretar a pluralidade crist. Segundo o modelo desenvolvido por Ferdinand Christian Baur, os partidos religiosos se inflamaram perante a questo sobre at que ponto o cristianismo deve e pode distanciar-se do judasmo, a fim de tornar-se uma religio universal para todas as naes. Em contrapartida, Theissen defende que no haviam apenas dois partidos no cristianismo primitivo, mas uma poro de correntes. Alm disso, considera tambm que no h uma sntese do cristianismo primitivo no Evangelho de Joo, mas uma sntese a favor da coeso no cristianismo se dar em torno do cnone. Alis com a formao do cnone que, segundo o autor, se d o fim do cristianismo primitivo. O primeiro conflito havia sido entre judeus e helenistas, depois configuraram se correntes como: judeu-cristianismo; o cristianismo sintico; o cristianismo paulino e o cristianismo joanino. No catulo treze, o autor finaliza com uma anlise sobre a plausibilidade do universo simblico cristo primitivo. Sobre o processo deconstruo do cristianismo primitivo, o autor considera que o material narrativo que serve de fundamento para a narrativa base crist primitiva de Jesus reformula as esperanas messinicas do Judasmo sob a impresso do profeta judeu e carismtico Jesus de Nazar. Mito e histria uma unidade. A histria de Jesus foi narrada de forma mtica, como um acontecimento primeiro e definitivo e, ao mesmo tempo, como um evento histrico concreto. Essa mitologizao da histria e histricizao do mito comea com o anncio do Reinado de Deus por Jesus. Da ento, a histria de Jesus foi transformada sempre mais em afirmaes mticas, enquanto expectativas mticas transformaram-se em sua histria. A plauxibilidadede axiomas religiosos pode ser confirmada pelo seguinte: Plausveis so convices que correspondem realidade e so confirmadas por experincias que afluem de fora. Plausvel, ento, o que est de acordo com as condies fundamentais do pensamento, verdadeiro o que as pessaos sob condies ideais de comunicao podem aceitar. A axiomtica religiosa resultado da tentativa erro. Como o autor admitiu que essa teoria religiosa ainda parcial, tambm acrescenta que as teorias apresentadas deveriam ser analisas madiante: uma psicologia da religio crist primitiva; uma sociologia da religio crist primitiva; e por uma filosofia da religio crist primitiva.