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Projecto da Piscina Municipal Coberta de Seia

o processo de trabalho numa equipa multidisciplinar


a experiência e a prática de gabinete
Projecto da Piscina Municipal Coberta de Seia

o processo de trabalho numa equipa multidisciplinar


a experiência e a prática de gabinete

João Rui Santos Pires gavião


Prova orientada pelo Arquitecto António Bettencourt
Prova Final da Licenciatura em Arquitectura, Darq, FCTUC, Coimbra,
Fevereiro de 2008
Agradecimentos

...à minha família (vocês estão lá sempre que é preciso), à minha


namorada (obrigado garota pela compreensão), aos meus amigos,
de agora e de sempre, do curso e do trabalho, ao meu orienta-
dor...enfim, a todos os que me apoiaram e motivaram para que eu
terminasse este trabalho.
Índice

Objectivo 9

Introdução 11

Como surgiu o projecto da Piscina Municipal Coberta de Seia 15

O Processo de Trabalho 19

Ideia de Edifício, Ideia de Forma 29

Implantação 35

Esquema Funcional 41

Caracterização Construtiva 75

Conclusão 93

Bibliografia 95

Links 97
Objectivo

Com esta prova pretendo, através do estudo de um projecto


realizado num gabinete multidisciplinar de projectos, debruçar-me
sobre a minha primeira experiência prática de trabalho de uma forma
objectiva e crítica (na medida do possível, uma vez que não existe o
distanciamento físico e temporal que permita uma crítica mais profunda).
pretendo fazer uma síntese de tudo o que envolveu o processo de
trabalho. O projecto em causa é da Piscina Municipal Coberta de Seia,
tendo como dono de obra a Câmara Municipal de Seia. Neste momento
está em fase de conclusão o projecto de execução enquanto se aguarda
pelo anúncio da data do lançamento do concurso para a sua construção.
Com esta prova pretendo discutir práticas e comportamentos que nos
são dados como adquiridos e incontornáveis, sem ter, no entanto,
a mínima presunção de afirmar novos paradigmas ou novos rumos
para a arquitectura ou para a arquitectura deste tipo de programas.

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Introdução

Quando em Janeiro de 2006, enquanto frequentava o quinto


ano do curso, iniciei o meu percurso profissional, estava longe de
adivinhar a real influência deste acontecimento no desenrolar, do
que ainda restava, do meu percurso académico. No gabinete onde
ainda colaboro, iniciei um projecto que deu origem à prova que agora
apresento. Desde cedo que encarei a minha participação neste processo
como um desafio, porque se trata de um projecto de grandes dimensões
e com um programa vasto em que foram introduzidas estratégias e
conceitos que nunca tinha aplicado.
Este gabinete tem na génese da sua composição e do seu
funcionamento uma ideia fundamental: a multidisciplinaridade. A
procura da relação entre os vários elementos que executam o
projecto é constante, ambicionando deste modo, o total controlo
do projecto, nas suas diferentes fases e valências. É constante o
diálogo entre engenheiros civis, engenheiros mecânicos, engenheiros
electrotécnicos, arquitectos, arquitectos paisagistas, em cada
projecto. Esta foi, sem dúvida, uma boa surpresa. Eu não esperava,
e não estava habituado, a trabalhar com uma equipa tão vasta e tão
variada, pois durante o percurso académico todo o discurso gira em
torno do papel do arquitecto e da sua intervenção. Esta interacção
permite perceber a especificidade do trabalho de cada elemento da
equipa facilitando a integração e a discussão das suas ideias. O facto

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de haver uma equipa base relativamente pequena permite que seja
exigido mais de cada um, levando a um envolvimento muito grande por
parte de cada elemento.
Se por um lado, foram desenvolvidas no meu processo de
trabalho novas sensibilidades, devido a esse diálogo multidisciplinar,
por outro lado tornou-se necessário desenvolver uma atitude mais
pragmática nas diferentes fases do projecto. Esta atitude mais
pragmática deve-se à necessidade de responder aos problemas
inerentes a cada especialidade e à necessidade de encontrar os
caminhos para a sua eficaz integração, sempre numa perspectiva
global do projecto. O facto de a equipa de trabalho ser composta
por engenheiros, exceptuando a minha contribuição, não terá,
obrigatoriamente, de levar à primazia das componentes estruturais e
infraestruturais em relação ao desenho e à arquitectura.
Se em projecto se defende a multidisciplinaridade e
responsabilidade técnicas, por uma questão de coerência lógica, em
obra, terá de se seguir pelo mesmo caminho. Todos os processos
construtivos estudados e desenvolvidos foram no sentido da sua
aplicação em obra por equipas especializadas, minimizando a relevância
do trabalho artesanal. Assim, garante-se uma maior responsabilização
e um trabalho de maior qualidade e precisão em cada empreitada. Esta
procura de abdicar de processos artesanais insere-se na estratégia
do gabinete. De certo modo, deparo-me com uma atitude de afirmação
de um modo de construir que seja identificado como sendo do século
XXI.
Outra ideia que se tenta desenvolver em cada projecto, e em
especial neste, é a da responsabilidade ambiental. Esta noção de
responsabilidade ambiental insere-se nas práticas de construção
sustentável e está relacionada com a eficiência energética, com
o uso racional da água, a reciclagem dos materiais no fim do seu

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uso. Defende-se uma visão global do projecto, com a introdução de
conceitos e processos que são trabalhados de uma forma integrada,
evitando o somatório de técnicas coladas ao projecto.
A ideia da responsabilidade ambiental ser ou não tida em
conta não foi uma opção. Desde o início foi vista como uma premissa
fundamental devido ao carácter do programa do edifício, uma vez que
se trata de um grande consumidor de energia e de água, e devido ao
facto de ser uma pretensão do dono de obra dispor de um edifício
exemplar do que deve ser um equipamento colectivo e público no
século XXI. A introdução desta premissa no projecto e no processo
de trabalho não tem por base a procura de uma identificação com
qualquer tipo de corrente estilística ou panfletária associada à
designada “arquitectura sustentável”. A introdução desta premissa
assenta numa convicção profunda e realista dos ganhos e benefícios,
a diversos níveis, que se obterão com a adopção de uma postura
responsável e crítica perante as questões ecológicas e ambientais.

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Como surgiu o projecto da Piscina Municipal Coberta de
Seia_intenções e implicações

Será porventura questionável a oportunidade da encomenda do


projecto uma vez que estamos numa fase de cortes financeiros a todos
os níveis e os recursos municipais não abundam, mas já a necessidade
de um novo equipamento deste tipo no Município de Seia é totalmente
justificável. Actualmente, a única piscina municipal está na Escola
EB 2,3 nº 1 e é dotada com apenas um tanque de aprendizagem com
16 metros por 10 metros. A necessidade da construção de uma nova
piscina coberta prende-se com o facto da existente não conseguir dar
resposta às necessidades da população (apenas serve a população
escolar e de um modo deficitário).
A encomenda deste projecto a esta equipa surgiu depois de
o dono de obra, a Câmara Municipal de Seia, ter abandonado um
projecto anterior (executado por outra equipa projectista), em fase
de projecto de execução, por este corresponder a elevados custos
de construção e de exploração.
Perante isto, sabia-se que a resposta a este desafio teria de ser
efectuada com uma grande intensidade de trabalho e de forma célere.
O processo teve início em Novembro de 2006, ao passo que neste
momento se procede à conclusão do projecto de execução. Todo o
processo de adjudicação da empreitada para a construção deverá
estar concluído até meados do ano de 2008, permitindo, certamente

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por motivos de calendário eleitoral, que a obra comece antes do
final de 2008. Para além deste factor temporal, outros apareceram
como primordiais na abordagem do processo de trabalho, como são
a procura de definir um edifício com baixos custos de exploração e
manutenção e a definição de processos construtivos que originassem
uma construção rápida e com baixos custos. este processo de trabalho
assenta numa visão optimista do futuro e no progresso, numa procura
de relacionar a arquitectura com a sua época.
Houve a necessidade de proceder a uma resposta rápida,
para recuperar todo o tempo perdido. Para tal, foi fundamental
o envolvimento, desde o início, de todos os membros da equipa
formada, permitindo que todas as componentes do projecto fossem
contempladas e introduzidas as problemáticas inerentes desde cedo.
A equipa foi formada, para além da minha contribuição, por cinco
engenheiros civis, dois engenheiros electrotécnicos e um engenheiro
mecânico. A mim coube-me a responsabilidade pela arquitectura. Esta
responsabilidade é assumida apenas perante a equipa projectista,
como é óbvio, mas sem afectar em nada a minha contribuição e
empenho. Como tal, coube-me a tarefa da definição funcional e formal
do edifício e de gerir a integração das especialidades no projecto
de arquitectura. Todo o processo passou por momentos de tomada
de decisões importantes para o rumo do projecto. Certamente que a
presença na equipa de mais arquitectos levaria a crítica de encontro
a questões não abordadas. A discussão para a definição formal e
funcional do edifício faria com que o projecto seguisse um rumo
eventualmente diferente. A crítica, que é um factor crucial para o
desenvolvimento do projecto, foi exercida de um modo diferente da
que existe durante o percurso académico. Aqui, a crítica foi exercida
de um modo a desenvolver um espírito mais pragmático na definição
de soluções. Tem de haver um esforço muito grande para desenvolver

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o exercício de uma autocrítica que seja eficaz, e capaz de provocar
o necessário afastamento para se poder reflectir sobre o próprio
trabalho. Este facto, a par da experiência de trabalho numa equipa
multidisciplinar, talvez possa ter sido o maior ganho pessoal neste
processo, até agora.
A minha participação numa equipa constituída maioritariamente
por engenheiros originou uma relação de colaboração que se
poderá, de certa forma, inscrever no conceito de “archi-neering”.
Esta junção de duas palavras e duas actividades (architecture+eng
eneering) foi utilizada como tema de uma exposição, na cidade alemã
de Leverkusen em 1999, da obra conjunta do arquitecto alemão
radicado nos Estados Unidos da América Helmut Jahn e do engenheiro
alemão Werner Sobek. A sua obra, exibida na exposição, é fruto de um
trabalho multidisciplinar assente numa base de raciocínio pragmático.
Susanne Anna, responsável pelo conceito geral da exposição, refere
que: “...actualmente, a relação entre o arquitecto e o engenheiro
revela que a sua cooperação geralmente tende a aproximar a tarefa
criativa do arquitecto ao ponto de vista da percepção humana sem
lidar com os problemas sugeridos pelos aspectos técnicos da
arquitectura”. A pertinência desta questão reside no facto de saber
realmente qual o limite, para o arquitecto, dos seus conhecimentos
técnicos ligados às engenharias. Neste projecto, através do diálogo
interdisciplinar e da troca de ideias e conhecimentos, foi possível
chegar a respostas conjuntas no que diz respeito aos “aspectos
técnicos da arquitectura.”

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O processo de trabalho

O processo de trabalho iniciou-se, sem ser obrigatoriamente por


esta ordem, pela visita ao terreno, por reuniões com os responsáveis
da Câmara Municipal de Seia, pela recolha e análise da legislação
em vigor relativa ao projecto e ao programa, pelo estudo e definição
do programa através da análise crítica do projecto existente. Com
o decorrer do trabalho continuaram a ser realizadas reuniões de
trabalho com a Câmara Municipal, foram iniciados contactos que
deram lugar a reuniões de trabalho com o Instituto do Desporto de
Portugal (IDP), com uma empresa (GensInSerDe) que faz a gestão de
piscinas municipais tanto ao nível da manutenção como ao nível do
pessoal técnico, realizadas consultas com representantes de marcas
ligadas a materiais de construção, foram visitadas piscinas que se
aproximassem na dimensão pretendida para esta (Piscina Municipal
de Condeixa, Piscina Municipal de Tomar, Piscina Municipal Rui Abreu
-Eiras, Coimbra). apesar da importância da recolha de informações
úteis para o desenvolvimento do projecto, é através do desenho que
se consegue modelar o raciocínio. o desenho foi a principal ferramenta
de trabalho e de comunicação, juntamente com o espírito crítico e
bom senso nas tomadas de decisão.

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O terreno
Ao chegarmos ao terreno somos confrontados com a encosta da
serra que se ergue a nascente e com uma vista privilegiada sobre todo
o vale que serve de acesso à cidade de Seia a poente. O terreno para
a implantação do edifício da Piscina localiza-se dentro do perímetro
urbano de Seia, numa zona alta da cidade, já no percurso de subida
até ao alto da Serra da Estrela. Inserido no Complexo Desportivo
da Quinta da Nogueira, possui dois acessos: através do arruamento
exclusivo do complexo, a Norte, e através do sistema urbano viário
(rua Leonardo Pessoa Homem) a Sul.

vista aérea de Seia e localização do terreno


para a implantação da Piscina
a zona envolvente ao complexo é sobretudo destinada à
utilização residencial, sendo urbanisticamente descaracterizada.
Actualmente o complexo é composto pelo Estádio Municipal e pelos
“courts” de ténis, estando prevista a instalação, para além da Piscina

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Municipal Coberta, de um pavilhão gimnodesportivo e de zonas de lazer
desportivo. O complexo tem como referência a cota 600, ao passo
que a cidade desenvolve-se entre as cotas 500 e 550 e a entrada
noroeste na cidade e o restante vale à cota 400.

vistas da envolvente do terreno_predominância da utilização residencial

O terreno, com uma área aproximada de 37.770 m², é ligeiramente


acidentado, apresentando uma diferença entre a cota superior e a
inferior de 15 metros. Esta condicionante pode ser superada devido
à vasta extensão do terreno. A zona com maior pendente e com menor
possibilidade para se implantar o edifício situa-se na parte noroeste.
A pendente, de uma forma genérica, pode ser considerada de Nascente
para Poente, sendo que a Este ergue-se a Serra da Estrela e a Oeste
desenvolve-se a cidade. A localização do terreno apresenta uma muito
boa exposição solar, tendo apenas algumas obstruções à incidência
da luz durante o período da manhã devido à encosta da serra. O local
foi alvo, recentemente, de pequenos movimentos de terra, pelo que a
vegetação existente é quase nula, apenas constituída por vegetação
espontânea. O sistema arbóreo existente é composto por castanheiros
adultos, apesar de uma grande parte estar em más condições sendo
inevitável a sua remoção. É ainda de salientar a existência de alguns

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poços de água, não na zona definida para a implantação, mas ainda
dentro do Complexo Desportivo da Quinta da Nogueira.

vistas do terreno_morfologia ligeiramente acidentada e relação com a serra

O dono de obra_os seus anseios e objectivos


A posição dos responsáveis da Câmara Municipal de Seia pautou-
se pela exigência da criação de uma obra marcadamente virada para
o futuro, no que concerne ao edifício em si, nos modelos de gestão
do edifício, na responsabilidade ambiental e, sobretudo, ao papel da
Piscina Municipal na cidade, como meio de responder a uma necessidade
actual mas, também, reconhecendo a sua importância como meio de
desenvolver a vertente desportiva, educativa e lúdica. Esta posição
deixava espaço de manobra no que respeita à exploração de conceitos
inovadores, para o programa em questão, quer ao nível funcional
quer ao nível construtivo. Mas esta posição do dono de obra exigiu, e
exige, da equipa projectista também muita responsabilidade no alcance
de uma boa resposta aos seus anseios.
A premissa que se definiu como basilar para o desenvolvimento
do projecto foi a de criar um equipamento para todos, estudantes,
desportistas, população em geral e pessoas com necessidades
especiais. Assim, definiu-se um edifício cujo público-alvo representa

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toda a população da cidade e freguesias envolventes. Para além
de ser importante fomentar a prática desportiva numa vertente de
competição (para tal foram definidos uma série de espaços e valências
que permitem a realização de competições de nível regional e asseguram
a componente do treino) revela-se tão ou mais fundamental incentivar
a prática numa vertente lúdica e relacionada com a saúde. Apenas
deste modo se conseguirá rentabilizar a utilização de um edifício
desta natureza. O que interessa à Câmara Municipal de Seia, que é
quem no futuro assegurará a manutenção do equipamento, à equipa
projectista e ao público-alvo é que a sua utilização seja a máxima e
mais variada possível.

A legislação de referência_elemento castrador ou ferramenta de


trabalho?
Todo o processo normativo e legislativo tem como objectivos
assegurar a qualidade, a segurança, o melhor desempenho dos
equipamentos, dentro de cada campo de aplicação. Se a relação
com os regulamentos e com as normas for estabelecida desde cedo
poderá ser evitado, ou pelo menos minimizado, o seu impacto negativo
no processo criativo. Houve o cuidado de recolher toda a legislação
existente e aplicável a um edifício deste tipo. Ainda assim, houve
alterações a fazer, em diferentes fases do projecto, quando se
deparou com alguns incumprimentos. Quanto mais avançada a fase do
projecto, mais difícil se torna a resolução destas questões. Haverá,
de facto, elementos na legislação que são passíveis de ser criticados,
e cuja aplicação é passível de ser eliminada, mediante discussão e
negociação com as entidades licenciadoras do projecto.
A legislação em vigor de referência para o desenvolvimento
do projecto é a seguinte: a Directiva CNQ 23/93 (A qualidade das
piscinas de uso público); o Decreto-Lei nº 163/2006 de 8 de Agosto

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(Acessibilidade de espaços públicos, equipamentos colectivos e edifícios
públicos e habitacionais); o Decreto Regulamentar nº 34/95, de 16 de
Dezembro (Regulamento das condições técnicas e de segurança dos
recintos de espectáculos e divertimentos); o RGFPN (Regulamento
Geral da Federação Portuguesa de Natação) e o regulamento da
Federação Internacional de Natação Amadora (FINA). De todos os
documentos, aquele que mais implicação teve nas decisões tomadas
foi, sem dúvida, a Directiva CNQ 23/93 (A qualidade das piscinas
de uso público). Isto deve-se ao facto de ser o único documento
que incide única e exclusivamente sobre as disposições de segurança,
hígio-sanitárias, técnicas e funcionais que devem ser observadas nas
piscinas de uso público. O dimensionamento mínimo dos espaços e dos
equipamentos e a lotação máxima de banhistas por hora, por dia e
instantânea, no âmbito desta directiva, são definidos a partir da área
total de superfícies de plano de água. Ou seja, todos os espaços
e equipamentos da zona de serviços anexos estão directamente
relacionados com a área dos tanques (por exemplo: a área total dos
locais de vestiários será de 0,3m² por cada 1m² de plano de água;
o número de chuveiros nos balneários será de 1 por cada 30m² de
plano de água, com o mínimo de 4 por cada sexo). A directiva CNQ
23/93 também fixa os requisitos de qualidade e tratamento de água,
térmicos e de ventilação e de iluminação e acústica, que foram tidos
em conta nos respectivos projectos das especialidades.

O projecto existente_o mesmo programa, outra filosofia


Quando se iniciou a abordagem a este projecto partiu-se
de um programa que era o mesmo do projecto existente, uma vez
que não tinha sido posto em causa o programa, mas antes os seus
aspectos orçamentais. Estes aspectos orçamentais estão obviamente
relacionados com as definições funcionais e construtivas adoptadas.

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O programa existente consistia em sete sectores: administração e
direcção; balneários e vestiários; manutenção física; recepção e
bar; tanques (competição de 25 metros e aprendizagem) e bancadas;
zona de técnicos e pessoal; zona técnica. Por outro lado, teve de
se seguir a Directiva CNQ 23/93 (A qualidade das piscinas de uso
público), que é o documento que fixa as disposições de segurança,
hígio-sanitárias, técnicas e funcionais que devem ser observadas nas
piscinas de uso público. Na análise ao projecto existente verificou-
se um sobredimensionamento dos espaços e dos sistemas estruturais.
Para além de lacunas graves sob o ponto de vista funcional e de
sistemas construtivos, este sobredimensionamento geral sobre
o qual o edifício foi desenvolvido assumia-se como o maior factor
penalizador do projecto.
O anterior projecto, tendo por base o programa existente, estava
dotado para receber provas nacionais ou internacionais, de acordo
com o Regulamento Geral da Federação Portuguesa de Natação
(FPN) e com o regulamento da Federação Internacional de Natação
Amadora (FINA). Para tal, torna-se necessário responder a requisitos
mínimos, como são o dimensionamento do tanque e todos os serviços
anexos e de apoio. Este modelo de equipamento torna-se incompatível,
entrando mesmo em forte contradição, com a utilização defendida
e preconizada pelo dono de obra. O papel da equipa projectista
passou por tentar esclarecer os próprios responsáveis da Câmara
Municipal quanto a esta questão e por procurar encontrar novos
rumos tendo em vista a melhor utilização do edifício. Esta posição foi
compreendida e partilhada pela Câmara Municipal de Seia, uma vez
que o seu objectivo não se centra apenas na vertente competitiva/
desportiva, mas antes na prestação de um serviço à população.

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Instituto do Desporto de Portugal_a importância do seu papel
No que respeita ao IDP, o seu papel é de extrema importância em
todo o processo, porque um projecto deste tipo, construção de Piscina
Municipal, tem de receber parecer favorável na fase de licenciamento
e ser vistoriada depois de concluída, pela mesma entidade. Neste caso
concreto, já foi atribuído o parecer favorável, como já havia sido
na fase de estudo prévio. De referir que ao projecto anterior não
tinha sido atribuído o parecer favorável, facto que impossibilitaria
a sua execução sem que se procedesse às devidas correcções. O
acompanhamento deste projecto teve início na execução do estudo
prévio e durante todo o processo, com algumas reuniões e muitas
conversas telefónicas. Durante as reuniões que aconteceram foi-nos
exposta uma situação que nos era de todo desconhecida. O IDP depara-
se, hoje, com uma situação algo alarmante. Muitas piscinas municipais
estão a encerrar por todo o país, por incapacidade financeira, dos
municípios, de as manter, sendo que a grande factura está relacionada
com os consumos energéticos. Assim, tornou-se inevitável para o IDP
acentuar o seu papel na definição, execução e avaliação da política
pública do desporto, tornando mais rígidas e intransigentes os seus
princípios, tendo em vista o melhor aproveitamento dos equipamentos
e a sua gestão. Sem dúvida alguma que, num processo tão longo
e demorado, as posições do IDP tornam-no numa das maiores
condicionantes do projecto. Apesar de tudo, neste caso, existiu um
encontro entre as indicações do IDP e o que se defendia no projecto,
o que fez perceber que se caminhava no sentido certo.

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O clima_uma condicionante nas tomadas de decisão
O concelho de Seia está classificado como zona climática I3-
V2, verificando-se temperaturas muito baixas no Inverno ao passo
que no verão se observa uma tendência para um clima quente e seco,
devido à maior influência continental. A média das temperaturas
mínimas nos meses de Janeiro varia entre 0ºC e 2ºC e a média das
temperaturas máximas nos meses de Agosto varia entre 26ºC e 30ºC.
No panorama nacional a cidade de Seia é das mais frias, podendo a
temperatura atingir os -10ºC. A precipitação é elevada, que conjugada
com as baixas temperaturas leva à formação de neve. Quando as
temperaturas se encontram entre -2ºC e -5ºC a neve é húmida, não
causando problemas de maior às estruturas dos edifícios, mas
quando se registam temperaturas muito baixas ela pode acumular
facilmente. Foi frequente a expressão, por parte dos responsáveis da
Câmara Municipal em algumas reuniões, “...por vezes a neve cola...”,
para acentuar a forte possibilidade da acumulação da neve. Sob o
ponto de vista climático as maiores implicações no projecto estão
relacionadas com a grande variação de temperaturas ao longo do
ano e com a ocorrência de nevões.

vista da zona central de Seia sob nevão

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28
Ideia de edifício, ideia de forma

Em certa medida, grande parte do projecto é definida através das


respostas às condicionantes existentes e às condicionantes criadas.
Entendam-se as condicionantes criadas como as ideias e conceitos
que se querem desenvolver no projecto e que não obedecem a uma
imposição, quer seja física, ambiental, económica. O projecto pode ser
desenvolvido deste modo, numa atitude reactiva, de resposta linear
aos problemas existentes, indo de encontro ao “modus operandi” da
dupla francesa Lacaton & Vassal. A atitude da equipa projectista foi
claramente afirmativa, com uma visão optimista e confiante naquilo
que se propõe. Existiu neste processo um desejo de forma. Procurou-
se desenvolver uma arquitectura cuja forma fosse clara, dinâmica,
dialogante, não no sentido da procura de uma identidade do lugar mas
no estabelecer de novas relações com o lugar. A atitude afirmativa
prende-se precisamente com o libertar o projecto de condicionantes
locais que, foram desvalorizadas no processo de trabalho, como
a procura de uma identidade na arquitectura de Seia. Será que ela
existe? E, mesmo existindo, será que é assim tão importante para,
neste caso, justificar tais relações? Procurou-se fugir ao “vício” de
fazer a referência à arquitectura local através da simples aplicação
na fachada de materiais locais sob a forma de colagem.
Para além de todos os problemas encontrados e atrás descritos,
no desenvolvimento do projecto houve que dar resposta, também,

29
àquelas que eram as ideias e conceitos que se queria ver trabalhados
no edifício. A ideia de edifício assenta nos seguintes conceitos:
inovação formal e funcional, leveza, multivalência e sectorização e,
sobretudo, na responsabilidade ambiental.

Foto da Maqueta de trabalho concluída e apresentada na fase de estudo prévio

Inovação
A inovação está presente na escolha dos materiais de revestimento
a utilizar e está presente na medida em que procurou contrariar
certos paradigmas que regem a construção de piscinas nos dias de
hoje, que acabam por ser contraproducentes na estratégia global
definida para o edifício. A inovação não está nos materiais em si,
painel “sandwich” (painel com dupla face metálica e isolamento em
poliuretano no interior) na cobertura e chapa de policarbonato nas
paredes, mas na forma como são utilizados, uma vez que têm um uso
quase exclusivamente industrial.
A inovação está presente na forma do edifício. Genericamente,
a grande questão prende-se com a solução construtiva adoptada

30
para vencer um grande vão, neste caso trata-se de 42,5 metros. A
resposta a este problema levará, em grande parte, à definição formal
da piscina. Com um esquema simples, de duas águas na cobertura,
definiu-se um volume único mas que possui dinamismo devido às
variações das inclinações da fachada.
A inovação está presente na definição espacial. Foram tomadas
algumas decisões que vão contra a prática corrente em programas
deste tipo, como são: a introdução de um tecto falso na zona de cais;
a separação da zona de cais da zona das bancadas. Estas soluções
permitem criar condições para que haja um maior conforto por parte
do público e, sobretudo, para reduzir o volume de ar a tratar na
zona de cais, por esta acção corresponder a mais de 50% da factura
dos consumos energéticos.

cobertura plana definição da cumeeira

definição da pendente

relação com o terreno definição formal

esquema formal do edifício

31
Leveza
Apesar da forma afirmativa e da dimensão do edifício, procurou-se
alcançar uma imagem de leveza, através dos processos construtivos e
dos materiais. Esta ideia de leveza não significa que se tenha adoptado
por uma construção mais frágil ou menos robusta, procura-se, ao
invés, retirar a monumentalidade com que este tipo de programas
costuma ser tratado. Neste caso a ideia de leveza está relacionada
com a noção de que não se constrói para a eternidade. Os processos
construtivos definidos neste projecto permitem, mantendo a estrutura
e os elementos de suporte da fachada, a alteração ou substituição
de todos os elementos de revestimento da fachada de uma forma
relativamente fácil e rápida. O material definido para as fachadas
tem uma garantia do fabricante de dez anos, podendo ser reciclado
no seu final de vida. Esta ideia de leveza está também relacionada
com o programa, na medida em que se tentou trabalhar a ideia de
translucidez, numa alusão ao elemento água.

Multivalência/sectorização
A multivalência está relacionada com a definição do programa,
como foi atrás referido. A sectorização acabou por ser o resultado
do desenvolvimento desta opção programática que abarca tanto
a dimensão funcional como a dimensão construtiva. Na dimensão
funcional foram aprofundadas as relações entre os diversos
programas, estabelecendo hierarquias dos espaços e dos percursos.
Foram definidos diferentes sectores consoante o carácter do seu
utilizador: público (utilizador das instalações ou espectador),
pessoal técnico, pessoal administrativo, pessoal de serviço.
Deste modo, os sectores poderão ter funcionamentos totalmente
diferenciados, com ganhos substanciais no que respeita à eficiência

32
energética, ao tratamento da qualidade do ar, e à própria gestão do
edifício na vertente da segurança, através da delimitação e controlo
das circulações. Na dimensão construtiva foram definidos sectores
estruturais, independentes entre si e dimensionados separadamente,
facilitando o seu cálculo, produção e montagem. Os sectores estão
separados entre si por juntas de dilatação.

Responsabilidade ambiental
A ideia da responsabilidade ambiental é parte integrante
do conceito geral de construção sustentável, e relaciona-se,
sobretudo, com a condicionante económica, sob o ponto de vista
da sustentabilidade deste equipamento municipal. Esta noção foi
introduzida no processo desde o início, tendo existido uma procura de
assegurar em projecto a longevidade da construção, a durabilidade
e adaptabilidade do edifício, a conservação e o uso racional da água
e a eficiência energética, através do uso racional de energia e a
utilização de fontes de energia renovável. Foi sob estes temas que
se trabalhou, procurando soluções cuja integração no projecto e
futura aplicação no edifício se traduzissem em ganhos reais. Tem de
se partir, para o trabalho de qualquer projecto, com a noção atrás
referida, de que hoje não se constrói para a eternidade, devido ao
facto de os padrões e exigências de qualidade serem cada vez mais
elevados. No limite poder-se-á dizer que um edifício só é durável se
for transformável, de forma a se poder adaptar a novas exigências.
Um edifício dotado para receber um número tão grande de
utilizadores acaba por ter sempre grandes consumos de água e
energia. Procurou-se desenvolver alternativas de abastecimento e
circuitos para o reaproveitamento de determinados usos da água, como
lavagens, regas, autoclismos. Deste modo reduz-se substancialmente
o consumo de água. No respeitante à eficiência energética parte-se de

33
duas ideias fulcrais para a utilização do edifício: um único sistema
para fazer a gestão global no edifício e a existência da figura de
“gestor do edifício”, que controla, toma decisões relativamente
aos parâmetros que interferem nos sistemas automáticos, e gere a
segurança e a manutenção do equipamento. No desenvolvimento do
projecto foi sempre tido em conta esta ideia da eficiência energética
através do melhor aproveitamento da exposição solar e ao mesmo tempo
do seu controlo, da redução do volume de ar a tratar na zona do
cais dos tanques, que corresponde a 70% de todos os gastos com os
consumos energéticos. Relativamente a fontes de energia renovável,
foi implementada a utilização de colectores solares na cobertura
para o aquecimento de águas sanitárias. Não estão projectados
sistemas de produção de energia eléctrica visto a relação custo/
benefício ainda não ser muito vantajosa, contudo o edifício encontra-
se preparado para sua integração logo que sejam economicamente
viáveis.

34
Implantação

O terreno para a implantação da Piscina, para além de ser uma


premissa sempre importante num projecto, possui uma morfologia que
exigiu algum esforço para a boa integração do edifício sem criar um
grande movimento de terras, que levaria a custos mais acentuados.
Mais uma vez a condicionante económica obriga a encontrar outro
tipo de caminhos, que, por sua vez, levam a problemas de arquitectura
que podem gerar soluções mais interessantes. Não sendo um terreno
plano, teriam sempre de existir dois níveis de entrada no edifício,
partes do edifício que ficariam enterradas, fossos para iluminação
e ventilação. Procurou-se, também, que este equipamento fizesse a
ligação do Complexo Desportivo da Quinta da Nogueira com a restante
estrutura urbana de Seia, devido ao seu carácter eminentemente público
e colectivo, abrindo definitivamente o complexo à população.
A intenção na implantação da Piscina foi a de aproveitar os
desníveis existentes no terreno e a sua morfologia para desenvolver
as várias entradas do edifício a diferentes cotas, procurando a
minimização do impacto que a instalação de um equipamento deste tipo
acarreta. Ao nível do tratamento ambiental da envolvente, procurou-
se reduzir a impermeabilização do terreno natural permitindo
a infiltração das águas pluviais, e evitar o abate de árvores,
procedendo à sua integração com o edificado proposto. O sistema
arbóreo será completado com a introdução de novas árvores (de

35
folha caduca) de modo a melhorar a envolvente ambiental do edifício.
Outra ideia trabalhada na implantação prende-se com a optimização
da exposição solar, explorando ao máximo o aproveitamento da fonte
contínua de calor e luz, orientando o edifício segundo o eixo sul-
norte, estabelecendo uma relação franca da zona dos tanques com o
exterior, através de uma extensa superfície envidraçada a poente.

localização e relação do terreno com a encosta da serra

implantação_integração no complexo desportivo e relação com o tecido urbano

36
Foram definidos dois níveis de entrada e acesso ao edifício
(cotas 604 e 609 metros), sendo a entrada principal da piscina (para
os utilizadores quotidianos) a Sul e à cota 604. A Poente estabelece-
se a relação visual com a cidade, aproveitando o desnível natural do
terreno permitindo uma vista privilegiada. A Nascente localiza-se o
acesso à zona das bancadas, à cota 609. Também à cota 609, a Norte
estão as entradas para a cafetaria e o restaurante e a entrada de
serviço, para os atletas nos dias de provas e campeonatos. Existe
uma grande área enterrada, à cota 604, com acesso do exterior, e
servida por um fosso que permite a ventilação e entrada de luz. Esse
fosso serve também a zona técnica, pois permite o acesso de veículos
para cargas e descargas.
Pretende-se, com esta implantação, a boa integração no Complexo
Desportivo através do aproveitamento do acesso existente ao Estádio
Municipal e através do futuro desenvolvimento de um parque de
estacionamento conjunto que sirva todos os equipamentos da zona.
A piscina irá, também, cumprir o papel de elemento de abertura e
de relação do Complexo Desportivo da Quinta de Nogueira com o
tecido urbano da cidade de Seia. Esta disposição e orientação do
edifício no terreno transformam-no na porta pública de entrada no
complexo, uma vez que o acesso existente a Norte, e que servirá
também a nova construção, é, neste momento, exclusivo do Estádio
Municipal e dos campos de ténis. A entrada principal da piscina é
feita precisamente a partir da rua Leonardo Pessoa Homem, a Sul,
afirmando a intenção de aproximação à escala urbana da cidade e
terminando com o carácter estanque do complexo. A acentuar esta
posição foi definido um percurso pedonal, que percorre todo o
terreno, uma zona de esplanada junto à cafetaria e ao restaurante
e um espelho de água na frente Poente do edifício. A cafetaria e
o restaurante terão um funcionamento autónomo em relação aos

37
restantes programas, uma vez que a concessão destes espaços será
atribuída a terceiros, procurando uma utilização do complexo por
parte de diferentes públicos.

arruamento saibro espelho de água


lajeado de granito terreno natural árvore existente
calçada de granito percurso pedonal árvore proposta

Arranjos exteriores 0 10 50metros

38
A intervenção ao nível dos arranjos exteriores (projecto a
definir em fase posterior pela mesma equipa projectista), será pautada
pela ideia da criação de um verdadeiro parque desportivo ao serviço
da população, dotado de valências que proporcionem a fruição
desportiva e lúdica, nas mais diversas formas. A estratégia adoptada
tem por base a abertura do complexo à população, terminando com o
carácter hermético do mesmo. Será criado um circuito de manutenção,
com estações de exercícios físicos, que permita circular por todo o
parque e que se relacione com campos de jogos informais.

39
40
Esquema funcional

O edifício desenvolve-se em 3 pisos, estando o piso 0 à cota


604, o piso 1 à cota 609 e o piso -1 à cota 599. Para uma optimização
da utilização e funcionamento do edifício foram distinguidos os usos
e respectivas entradas. No piso 0 está definida a entrada principal e
o acesso a todos os programas relacionados com os utilizadores do
equipamento, funcionários, pessoal técnico e administrativo; a zona
de cais e dos tanques; o conjunto dos serviços anexos aos tanques
(vestiários, balneários, instalações sanitárias, arrumos, zona do
pessoal técnico); os programas de manutenção física, “healthcare” e
dois campos de squash; e uma zona técnica. No piso 1 estão definidos
os gabinetes da direcção e administração e os gabinetes do pessoal
técnico (professores, treinadores, monitores); as instalações
sanitárias; a bancada e a cabine de imprensa; e o restaurante e
cafetaria. O piso -1 diz respeito à zona de tratamento e recolha dos
diversos tipos de água. Entre o piso 1 e a cobertura situa-se uma
zona técnica para manutenção do equipamento do tratamento do ar e
verificação do bom funcionamento do edifício.

41
3

legenda: 1-tratamento da água do tanque de treino 2-tratamento da água do tanque


de aprendizagem 3-depósitos de água reutilizável 4-depósitos de água quente
N

planta do piso -1 0 5 25metros

42
11

1 10

4
5

3 2
6
2

7 7 8 9

legenda: 1-entrada 2-arrumos 3-vestiário/balneário 4-zona de cais dos tanques


5-ginásio 6-”healthcare” 7-squash 8-sala de aquecimento 9-zona técnica 10-zona do pes-
soal técnico 11-sala polivalente
N

0 5 25metros planta do piso 0

43
2

3 4

legenda: 1-zona de gabinetes 2-corredor técnico 3-instalações sanitárias 4-


bancadas 5-cafetaria 6-restaurante
N

planta do piso 1 0 5 25metros

44
2

1 3

legenda: 1-passadiço 2-corredor técnico 3-zona das máquinas


N

0 5 25metros planta do piso técnico

45
N

planta da cobertura 0 5 25metros

46
alçado nascente_o acesso às bancadas processa-se de forma autónoma da entrada
principal, permitindo um melhor controlo da utilização do edifício

alçado sul_o grande vão envidraçado permite a relação entre a zona de entrada
(piso 0) e a zona de gabinetes (piso 1) com o espaço exterior de acesso ao edifício

0 5 25metros

47
alçado poente_a malha metálica permite a entrada da luz de forma difusa pois a
incidência dos raios solares do quadrante Oeste é rasante ao chão

alçado norte_entrada para o restaurante e a cafetaria, estes programas dotam o


equipamento de mais valências na procura de ganhar mais utilizadores

0 5 25metros

48
corte transversal_definição de um tecto falso na zona de cais a e separação desta
zona das bancadas permite uma diminuição do volume de ar a tratar na nave

corte longitudinal_a zona técnica, localizada entre o piso 1 e a cobertura, permite


fazer a verificação do correcto funcionamento do edifício

0 5 25metros

49
50
Sectorização funcional
A sectorização teve um papel crucial na definição dos espaços
e das circulações, mas sobretudo ao nível da gestão do edifício.
Foram definidos dez sectores programáticos e sete sectores
construtivos. Os sectores programáticos foram estabelecidos para
distinguir e controlar as diferentes utilizações do edifício, porque
é sempre possível ter sectores em funcionamento e outros não. Os
sectores construtivos correspondem a sete estruturas totalmente
independentes separadas por juntas de dilatação. Para além de
ser uma necessidade, devido à dimensão da obra, foi um aspecto do
qual se procurou tirar partido, não do ponto de vista formal mas
do ponto de vista funcional. O esquema estrutural definido permite
uma optimização dos recursos a utilizar na construção evitando o
sobredimensionamento.

1 2 3 1 7

8 3

6 5

piso 0 piso 1

sectores programáticos

51
Sector 1 (piso 0 e piso 1)

legenda:
1-antecâmara 2-zona de espera 3-atendimento
4-inst. sanitária (deficientes) 5-inst. sanitária
(serviço) 6-arrumos 7-gabinete administrativo
8-gabinete técnico 9-inst. sanitária (público)

7 8

7 8
1 2
1
7 8

9 4
3

4 5
9

plantas do piso 0 e piso 1 0 5 25metros

52
No primeiro sector está o espaço de recepção do edifício, onde
são distribuídos os diferentes fluxos de utilização do edifício,
utilizadores (da piscina e da manutenção física), acompanhantes,
pessoal técnico, pessoal administrativo. As entradas e circulações
são controladas a partir do balcão de atendimento. Com uma estreita
relação visual e espacial com o piso 0, o piso 1 acaba por ser o
seguimento programático da zona de entrada. Neste sector está
definida toda a zona administrativa e técnica, com acesso por escada
e elevador, constituída pelos gabinetes de direcção e os gabinetes
dos treinadores. As entradas nos gabinetes são feitas através de
uma antecâmara, para se poder separar a circulação de serviço da
circulação pública. Estão definidas também neste piso as instalações
sanitárias de carácter público (masculinas, femininas e deficientes),
que servem toda a zona de apropriação pública, quer seja a partir da
bancada, quer seja a partir da zona da entrada principal.
A zona de entrada está prevista como sendo a zona de espera
por excelência, pois tem uma óptima relação visual com a zona de cais.
Em alternativa, pode-se aceder às bancadas a partir deste sector,
funcionando estas também como zona de espera. existe a hipótese do
sector das bancadas ser utilizado como passagem interior da zona
de entrada até à zona da cafetaria. Esta solução depende obviamente
do modelo de gestão encontrado e definido para o edifício.
A entrada processa-se através de uma antecâmara, para evitar
as perdas e os ganhos de energia, com as constantes entradas e
saídas de pessoas. A zona da entrada foi definida de forma a enfatizar
as relações com o exterior do edifício e também com o seu interior.
Também dos gabinetes técnicos existe uma relação visual com a zona
de cais.

53
Sector 2 (piso 0)

legenda:
1-zona de cais 2-tanque de aprendizagem
3-tanque de treino 4-bancadas amovíveis
5-antecâmara 6-lava-pés 7-inst. sanitária
8-balneários 9-vestiários 10-arrumos

2 3

6 6
8 8 8 8

7 7
9 5 9 10
7 7
9 9

planta do piso 0 0 5 25metros

54
Este sector programático diz respeito a toda a zona de cais
e respectivas zonas de apoio (vestiários, balneários, instalações
sanitárias e arrumos). Este sector contém o programa central e
fundamental do edifício, no qual estão implantados os dois tanques,
sendo um destinado ao treino e competição (25m x 21m), com a
profundidade a variar entre 1,20m e 2,00m, e o outro destinado
à aprendizagem (20m x 10m), com a profundidade entre 0,80m e
1,20m.
Os acessos ao cais são efectuados a partir dos balneários
(masculinos, femininos e para grupos) e a partir da zona dos gabinetes
de vigilância e monitores, apesar de estar prevista a utilização deste
acesso apenas em último recurso. Isto deve-se ao controlo que tem de
existir nos acessos ao cais para preservar a higienização do espaço.
Foi definido um percurso no sentido de obrigar os utilizadores a
passarem pelo lava-pés, que através de sensores acciona o chuveiro,
proporcionando uma lavagem rápida antes de aceder ao cais. Este
processo simples evita a maior parte das contaminações bacterianas
na água dos tanques, reduzindo os seus tratamentos.
A zona dos tanques está definida totalmente independente da
zona das bancadas, através de superfícies envidraçadas. A zona
do cais permite a existência de uma estrutura de bancada amovível,
que será instalada quando existirem encontros ou provas, para os
atletas ficarem sempre em contacto uns com os outros, junto dos
tanques. Existem duas saídas directas para o exterior, integradas
nas superfícies envidraçadas a poente.
A zona de vestiários/balneários está dividida em dois tipos, os
gerais, masculinos e femininos, e os de grupos, que podem ser utilizados
ocasionalmente por grupos ou por crianças com acompanhamento dos
pais. Está sempre salvaguarda a presença de pessoas com mobilidade
condicionada nos vestiários/balneários gerais.

55
Sector 3 (piso 0 e piso 1)

legenda:
1-antecâmara 2-vigilantes/monitores
3-primeiros socorros 4-juízes 5-controlo
médico 6-instalação sanitária
7-balneários/vestiários 8-entrada de serviço

2 3

4 5

6
7
7
1

8 8

6 7

6 7

plantas do piso 0 e piso 1 0 5 25metros

56
O terceiro sector destina-se à utilização competitiva e também
à segurança e protecção dos utilizadores dos tanques da piscina.
Estão definidos o gabinete dos monitores e vigilantes, o gabinete dos
primeiros socorros (estes espaços terão uma utilização contínua), o
gabinete de controlo médico e o gabinete dos juízes (estes espaços
são vocacionados para apoio às provas e competições). Para a
utilização de todo os trabalhadores e funcionários da piscina quer
sejam da limpeza, da manutenção, monitores, professores, foram
definidas neste sector as instalações sanitárias e ainda os vestiários
e balneários. De acordo com a directiva CNQ 23/93, definiu-se um
pequeno núcleo de instalações sanitárias e balneários/vestiários
para utilização exclusiva de árbitros e juízes durante a ocorrência
de provas e competições. Quer os espaços dos juízes, quer os dos
monitores e dos vigilantes têm uma total relação visual com a zona
do cais, apesar do acesso ao cais, de todos os gabinetes desta zona,
ser efectuado a partir da antecâmara existente.
Neste sector está definida também uma outra entrada no edifício,
esta destinada aos atletas e participantes em provas e encontros de
natação.

57
Sector 4 (piso 0)

legenda:
1-sala polivalente

planta do piso 0 0 5 25metros

58
O quarto sector diz respeito somente à sala polivalente.
Este espaço não tem um programa rígido e inalterável. Ele vai ao
encontro da lógica da flexibilidade programática que foi defendida
no projecto, como forma de dotar o edifício de espaços que tornem
possível uma utilização por públicos variados. Este é claramente
um espaço em aberto. Pode ser utilizado como sala de aquecimento
enquanto decorrerem provas ou competições, pode ser utilizado para
exposições e encontros variados, ligados ou não à própria piscina.
Apesar da ligação interior com o restante edifício, esta sala pode ter
uma utilização totalmente independente.
A sala polivalente, apesar da indefinição programática, é um
espaço caracterizado através da luz, que se pretende abundante e
difusa, e concomitantemente estabeleça uma relação visual com o
circuito exterior da envolvente da Piscina quer com o interior da
nave dos tanques.

59
Sector 5 (piso 0)

legenda:
1-antecâmara 2-zona técnica 3-ascensor
de cargas 4-casa da caldeira 5-abertura
na laje para passagem de equipamento

3 2
1 5
4

planta do piso 0 0 5 25metros

60
Ao quinto sector programático corresponde à zona técnica
existente no piso 0. Com relação franca com o exterior, para cargas
e descargas, a zona técnica neste piso tem como principal função ser
o ponto de relação com o piso -1 (piso técnico). Esta relação é feita
através de escada, de ascensor de cargas (2,1m x 2,0m) e através de
uma abertura na laje (5,0m x 5,0m) para a passagem de todo o tipo
de equipamento. Está definida também a casa da caldeira, com acesso
apenas pelo exterior.

61
Sector 6 (piso 0)

legenda:
1-ginásio de manutenção 2-sala de repouso
3-sala de massagem 4-zona de banhos
(secos, húmidos, imersão) 5-antecâmara
6-vestiário/balneário/inst. sanitária 7- campo
de squash 8-sala de aquecimento

2 6
5
6
3
8
6 5
4 6 7 7

planta do piso 0 0 5 25metros

62
Ao sexto sector correspondem os programas relacionados com
o bem-estar e a manutenção física, numa lógica de complementaridade
ao programa principal. Está contemplado um ginásio de manutenção,
dois campos de squash, vestiários/balneários gerais, sauna (com
cabine de banhos secos, cabine de banhos húmidos, tanque de imersão,
sala de massagem, sala de repouso e vestiários/balneários próprios)
e arrumos. Está ainda definida uma sala de treino/aquecimento que é
comum à piscina, podendo a sua utilização ser controlada segundo
as necessidades.
A intenção da Câmara Municipal de Seia é integrar este sector
na gestão global do edifício, pondo de parte, pelo menos para já, a
hipótese da concessão deste conjunto de espaços e de programas.
A concepção deste sector foi feita de forma a salvaguardar esta
hipótese. Apesar das ligações internas entre os diferentes sectores,
consegue-se proceder à autonomização de cada um deles.

63
Sector 7 (piso 1)

legenda:
1-antecâmara 2-restaurante 3--cafetaria
4-balcão 5-entrada de serviço 6-cozinha
7-inst. sanitária 8-inst. sanitária (deficientes)
9-inst. sanitária (serviço)

2
4
7 6 5
7

8
4
3
9

planta do piso 1 0 5 25metros

64
Se para o sector anterior está prevista a sua integração na
gestão global do edifício, no caso do sétimo sector a gestão será
feita por terceiros, através da concessão dos espaços a uma entidade
externa relativamente à Câmara Municipal. Esta questão, da gestão
dos espaços ser ou não concessionada, tem grande influência na
definição dos mesmos. Neste momento, é uma questão em aberto, logo
a definição espacial tem de permitir uma e outra solução. Este é o
sector que engloba o restaurante e a cafetaria. Estes espaços estão
definidos e infra-estruturados para que possam funcionar de forma
autónoma em relação à Piscina, dotando-a, desta forma, de mais uma
valência na procura de ganhar o maior número de utilizadores.
O restaurante tem capacidade máxima para 68 pessoas em
simultâneo. Os serviços são comuns ao restaurante e à cafetaria,
optimizando o seu funcionamento, que deverá ser gerido em conjunto.
Com forte relação com o exterior, tanto o restaurante como a
cafetaria procuram tirar partido da zona de esplanada assumindo,
deste modo, o seu carácter único no âmbito do complexo desportivo,
no que diz respeito aos programas existentes e futuros.

65
Sector 8 (piso 1)

legenda:
1-antecâmara 2-bancada 3-lugar para
cadeira de rodas 4-cabine de imprensa

3 3 2 4 2 3 3

1 1

planta do piso 1 0 5 25metros

66
A bancada, que define o oitavo sector, apresenta uma
configuração diferente daquilo que se tornou comum na construção
de piscinas cobertas. A bancada está separada da nave dos tanques
através de um envidraçado, diminuindo o volume de ar a tratar,
na nave, e aumentando o conforto dos espectadores, uma vez que
não estão expostos aos valores da temperatura e da humidade da
zona dos tanques. Esta solução tem óbvias implicações na relação
entre espectadores e atletas, mas avaliando a previsível utilização
competitiva deste equipamento, este factor foi desvalorizado tendo
sido dada a prioridade à poupança energética substancial que se
consegue.
Com entrada a partir da cota superior (609), este sector
tem acesso directo do exterior, através de duas antecâmaras. A
bancada está capacitada para receber 256 espectadores, estando
ainda definidos 4 lugares para cadeiras de rodas junto aos lugares
existentes. Apesar de não estarem marcados e definidos junto aos
outros lugares, existe a possibilidade da permanência de um maior
número cadeira de rodas na zona de acesso às bancadas. Isto
acontece sem que haja um prejuízo na qualidade das circulações ou
na qualidade dos outros lugares.
Está definido, na zona central da bancada, um gabinete de
imprensa, fechado e devidamente infra-estruturado, com rede de
televisão, Internet e telefone.

67
Sector 9 (piso -1)

legenda:
1-depósito de água quente 2-depósito de
água reutilizável 3-tanque de compensação
4-filtros 5-bombas 6-ascensor de cargas
7-casa das máquinas 8-abertura na laje
para passagem de equipamento

2 2 2 2 2 2
5

3
4
5 5 5

7
6 1
8 1
1

planta do piso -1 0 5 25metros

68
O sector nove diz respeito à zona técnica, um espaço aberto de
trabalho, onde funcionam os sistemas de tratamento e recolha dos
diversos tipos de água. Neste espaço encontram-se os tanques de
compensação, as bombas, os filtros e os sistemas de tratamento e
correcção da água, relativos a cada um dos tanques (aprendizagem
e treino/competição). A recirculação da água é feita através da sua
recolha (caleiras do tipo finlandesa) e armazenamento (tanques de
compensação), seguindo-se a bombagem (grupos de electrobombas com
pré-filtro), passando pelo sistema de filtragem (através de filtros
de areia) e pelos sistemas de aplicação dos produtos e métodos
para o tratamento da água (floculação - antes da passagem pelos,
desinfecção por ultravioletas, correcção com doseamento de cloro
e correcção do PH).
Neste sector estão também definidos os depósitos da água
quente, os dois depósitos das águas dos autoclismos, os dois
depósitos das águas para rega e os dois depósitos das águas para as
lavagens. Estes depósitos são abastecidos pela recolha das águas
pluviais, pela recolha das descargas do fundo dos tanques através
das segundas caleiras da zona do cais (as primeiras são as caleiras
do tipo finlandesa e canalizam para o tanque de compensação) e
pela recolha da água do espelho de água, que se situa em frente
da zona do cais, a poente. Estes processos inserem-se na estratégia
global com que se abordou o projecto, procurando soluções para a
conservação e o uso racional da água.

69
Sector 10 (entre o piso 1 e a cobertura)

legenda:
1-passadiço 2-corredor técnico 3-zona
das máquinas

planta do piso técnico 0 5 25metros

70
Neste sector está definida uma outra zona técnica, por cima dos
tectos do piso 1, onde se encontram os equipamentos das instalações
mecânicas e os depósitos de água que abastecem os autoclismos,
como da estratégia para a reutilização da água. O acesso a esta zona
técnica é feito a partir do interior das paredes exteriores, que são
visitáveis para a sua total manutenção e para a manutenção de todas
as redes infraestruturais que nelas circulam.
Em cada um dos topos do edifício está definida uma lage de
betão armado para suportar as cargas associadas à instalação de
todas as máquinas e depósitos. para permitir o acesso e a manutenção
de toda a zona, a circulação está definida através de percursos
criados com a colocação de chapas metálicas perfuradas ligadas à
estrutura principal.

71
vista geral da proposta

72
vista geral da proposta

73
74
Caracterização construtiva

Com algum distanciamento, hoje consigo perceber o conceito


construtivo adoptado para o edifício de uma forma diferente da minha
percepção inicial, daquela que eu tinha quando estava envolvido no
processo de trabalho. Para além da sectorização, que é um dado
objectivo, apesar de não ter reflexo na formalização do edifício, os
aspectos que estão mais realçados são o tratamento da fachada e a
forma geral do volume. são estes os elementos mais caracterizadores
do projecto.

os elementos caracterizadores: a sectorização, o tratamento da fachada e a forma

75
Sectorização
Como foi atrás referido, a sectorização do edifício foi
desenvolvida tanto na vertente funcional como construtiva,
tendo sido definidos sete sectores estruturais, independentes
entre si e dimensionados separadamente. O que era à partida uma
inevitabilidade devido à dimensão e extensão do edifício, a definição
de estruturas independentes e a criação de juntas de dilatação,
tornou-se em mais um dado de projecto, em que se procurou, em certa
medida, uma correspondência entre os sectores construtivos e os
sectores programáticos. Foram definidos sete sectores, sendo que
esta sectorização construtiva não é revelada na expressão formal
do edifício. Optou-se por um volume unitário e por relações com o
terreno, de modo a tirar partido dos desníveis para ter parte do
programa enterrado.

1 2 3 1 2 3

5 6 7

os sete sectores construtivos

76
Estrutura
Os elementos estruturais foram definidos em betão armado (nas
fundações e muros de suporte de terras) e, sobretudo, em perfis
de aço. O principal problema na concepção e definição do esquema
estrutural esteve relacionado com a dimensão do vão a vencer,
que neste caso é de 42,50 metros. A solução passou pela definição
de treliças compostas por tubulares de aço, de secção quadrada,
suportadas por perfis em aço, do tipo HEA. O conjunto definido pela
treliça e pelos pilares metálicos estabelece o módulo estrutural que
irá dar forma ao edifício. Nos sectores do edifício que se encontram
abaixo do nível da superfície do terreno, o sistema estrutural é
composto por muros de suporte de betão armado e também por pilares
em perfis de aço. As lajes são do tipo fungiforme e aligeirada. Os
módulos estão dispostos segundo os eixos estruturais, que têm um
afastamento entre si de 5 metros, sendo a ligação entre si feita por
vigas em perfis de aço do tipo HEA. Apesar da definição do módulo
tipo e da procura pela sistematização dos elementos a utilizar, cada
uma das 17 treliças foi definida com um desenho único, devido à
complexidade da conjugação dos diversos factores em causa: a
pendente da cobertura; as cargas suplementares nas treliças dos
sectores 1 e 3 (devidos ao pisos técnicos que contêm todas as
máquinas dos sistemas tratamento de ar da nave dos tanques e dos
sistemas de insuflação e extracção de ar).
Outro aspecto relativo à estrutura prende-se com a fachada. Os
elementos estruturais da fachada assumiram um papel fundamental
na estabilização e concretização do desenho estrutural através da
sua função de ligação dos módulos estruturais estabelecendo uma
malha unificadora, para além de servir de suporte aos elementos
da fachada. A fachada está definida com uma dupla parede de
policarbonato, criando uma caixa-de-ar no interior com múltiplas

77
funções: controlo do comportamento térmico, através da criação de
uma cortina fresca no verão e de uma cortina quente no Inverno;
parede técnica, pelo facto de nela se encontrar os circuitos das
redes eléctricas, de ITED (infra-estrutura de telecomunicações em
edifícios), das águas, dos sistemas AVAC (aquecimento, ventilação e
ar condicionado); corredor técnico no segundo sector programático
e construtivo, de acesso ao piso técnico das treliças, podendo ainda
ser visitável noutros sectores para acções de manutenção.

segundo sector construtivo_o esquema estrutural é composto por treliças


(tubulares de aço de secção quadrada) e pilares (perfis de aço do tipo HEA)

78
na cobertura está definida a
utilização de painéis “sand-
wich”. está prevista a incorpo-
ração, na cobertura, de painéis
solares térmicos, sendo que de
momento, os painéis fotovolta-
icos não estam contemplados.

para a definição da fachada


foi criada uma parede dupla de
policarbonato. na caixa-de-ar
vai circular ar tratado, aque-
cido ou arrefecido, consoante
a estação do ano.

a malha metálica, afastada da


superfície envidraçada, com-
bina uma eficaz filtração dos
raios solares (rasantes ao
chão) com a entrada da luz de
forma difusa.

foi definida uma laje de piso


sobre uma caixa de ar venti-
lada, ao invés de uma laje de
pavimento térreo, para, assim,
servir de protecção contra o
radão.

cortes de fachada

79
Policarbonato_limitações e potencialidades da sua aplicação
A utilização de chapas alveolares de policarbonato no
revestimento de fachadas é muito comum em edifícios de carácter
industrial, sobretudo pela sua relação qualidade/preço. Actualmente
a sua utilização é bem mais variada tendo sido utilizado em obras de
alguns importantes gabinetes de arquitectura como Ábalos & Herreros
(Complexo de Reciclagem de Resíduos Urbanos de Valdemingómez em
Madrid), Herzog & De Meuron (Armazém e Sede da Fábrica Ricola
Europe em França e o Centro de Dança Laban em Inglaterra) ou Office
for Metropolitan Architecture (Museu de Arte Snu na Coreia do Sul),
entre muitos outros exemplos.

Centro de Dança Laban (Herzog & De Meuron); Museu de Arte Snu (OMA)

Este material é utilizado sobretudo em substituição do


vidro, tendo como grandes trunfos o facto de ser um material
leve, com elevada resistência ao impacto, óptima translucidez,
bom comportamento térmico, sobretudo quando comparado com o
vidro, e com uma fácil e rápida aplicação. Por ser um polímero, mais
precisamente um termoplástico por ser moldável quando aquecido,

80
acarreta um elevado custo energético para a sua produção. Este
será o factor mais penalizante acerca da utilização do policarbonato,
sobretudo quando existem preocupações relacionadas com práticas
construtivas sustentáveis. Todavia, é possível a reciclagem deste
material, que, aliada à rápida e fácil aplicabilidade, minimiza os
custos inerentes à sua produção. Este é um factor que normalmente
é desprezado na arquitectura e na construção mas que tem de ser
tido em conta quando estamos numa época em que as preocupações
ambientais assumem particular importância. Só se poderá calcular,
de uma forma eficiente, o impacto ambiental de um edifício se for
contabilizado o impacto do seu desmantelamento (em fim de vida do
edifício) ou substituição (em actos de reconstrução). A reciclagem
revela-se fundamental para a minimização deste impacto. A garantia
do fabricante para este material é de dez anos, mas acredita-se que a
sua durabilidade chegue perfeitamente aos 30/40 anos.
A utilização deste material, foi de encontro às ideias de leveza,
de transparência, com que se pretendeu desenvolver o projecto,
tendo também em consideração a importância da luz. O objectivo
foi definir toda uma massa translúcida, aproveitando a vantajosa
exposição solar de uma forma total mas difusa. A estratégia passou
por aproveitar ao máximo a exposição solar do edifício que, à excepção
da cobertura e das grelhas de ventilação, faz o total aproveitamento
dos raios solares que incidem sobre as suas superfícies.
A parede exterior é composta por duas chapas alveolares de
policarbonato que definem uma caixa-de-ar. A chapa de policarbonato
do lado exterior da parede é do tipo branco opalino, com quatro
centímetros de espessura e com seis paredes internas, permitindo a
entrada da luz de forma difusa, e a chapa do lado interior é do tipo
transparente, com quatro centímetros de espessura e com seis paredes
internas, para ser um bom difusor da luz existente da caixa-de-ar.

81
Esta situação ocorre durante o dia mas durante os períodos sem
luz solar está definido um sistema de iluminação artificial existente
entre as duas chapas de policarbonato para tirar partido das suas
propriedades translúcidas. Este sistema é independente da iluminação
de funcionamento do edifício, sendo que a solução a adoptar ainda
está em fase de estudo, efectuado por equipas especializadas das
marcas fornecedoras.

exterior exterior

interior interior

legenda:
1-perfil de aço HE 400A 2-tubular de aço 100x100x6,3mm 3-tubular de aço
60x50x3mm 4-tubular de aço 100x60x3mm 5-placa de policarbonato PC2540-6
6-chapa de alumínio 7-caixilharia de alumínio ARKIAL, sistema de batente B90

pormenores horizontais_parede de policarbonato (situação comum e junta de dilatação)

Exposição solar_procura da máxima rentabilidade


Da mesma forma que se procurou tirar o máximo proveito
dessa fonte inesgotável de energia que é o sol, teve-se, igualmente,

82
atenção ao controlo dos efeitos nocivos da exposição solar, tendo
em consideração as actividades a desenvolver nos espaços. Deste
modo, foram definidos sistemas de obscurecimento e protecção
solar diversificados, de acordo com as necessidades de cada
espaço. Na zona do cais dos tanques o envidraçado está orientado
a poente, ou seja, a luz quando incide directamente fá-lo de uma
forma quase rasante ao chão tornando difícil a visualização das

protecção solar_nos gabinetes foi definifido um sistema de lâminas fixas no exterior

83
superfícies de plano de água, por causa do reflexo causado. Definiu-se
um sistema de protecção, afastado da caixilharia, que filtra os raios
de forma eficaz e contínua, sem por em causa a iluminação do espaço.
Este sistema é composto por módulos de malhas metálicas fixadas
aos perfis metálicos da estrutura da fachada.
Nos gabinetes, no primeiro sector programático, foi definido um
sistema de lâminas fixas no exterior, para evitar o sobreaquecimento
do vidro e a transmissão térmica, já que se encontram expostos a
sul. Nestes espaços, como também acontece no restaurante, no bar e
na sala polivalente, estão contemplados sistemas de blackout pelo
interior. Nos restantes espaços não se justificam quaisquer tipos de
protecção solar.

O isolamento térmico do edifício_isolamento térmico e propriedades


translúcidas
O isolamento térmico do edifício desempenha um papel fulcral
na vida do edifício, tanto ao nível do conforto (com especificações
definidas na legislação), como ao nível da eficiência energética.
Neste projecto tornou-se um desafio aliciante conjugar, na
parede exterior, um eficiente isolamento térmico com propriedades
translúcidas. O isolamento térmico é feito, por meios mecânicos,
através da circulação de ar na caixa-de-ar, ar quente no Inverno e
ar fresco no verão. No verão será injectado, na caixa-de-ar, ar que
é recolhido no exterior e que será canalizado em profundidade e
conduzido, em manilhas de betão, pelo espelho de água situado em
frente à zona dos tanques, a dois metros de profundidade (onde o
ar é substancialmente mais fresco). O ar circulará na caixa-de-ar
formando uma barreira de ar fresco em redor do edifício, minimizando
os ganhos de calor do exterior para o interior. No Inverno pretende-
se que o efeito seja precisamente o oposto, isto é, que em redor

84
do edifício o ar que circula seja aquecido e tenha uma temperatura
relativamente superior à temperatura existente no exterior. Durante
o dia existe o aproveitamento da radiação solar, criando um efeito de
estufa na caixa-de-ar, reduzindo a necessidade do seu aquecimento.
Durante a noite, como os espaços são climatizados, a existência de
uma caixa-de-ar ventilada faz com que se reduzam as perdas de calor
por transmissão.
A cobertura, devido à sua extensão, assume particular relevância
nas transmissões térmicas. Para minimizar este facto, foi definida a
aplicação de placas de painel “sandwich” com a espessura de oito
centímetros no isolamento em poliuretano. Esta solução tem custos
muito inferiores em relação a todas as outras soluções correntes e
tem uma fácil e modular aplicação.

Espelho de água_para além da função de enquadramento paisagístico


O espelho de água, para além das suas funções de embelezamento
paisagístico, integrado no complexo desportivo, e de refrigerador do
ar que passa nas condutas, tem outra função associada à qualificação
ambiental do edifício no Verão. Nos meses quentes, devido ao aumento
da temperatura, ocorre a evaporação da água que, pela acção dos
ventos (o edifício está relativamente exposto à acção do vento por
se encontrar numa zona alta e por não ter barreiras físicas que a
impeçam) cria uma cortina fresca junto à fachada poente do edifício.
Deste modo, através da exploração de processos bioclimáticos e com
uma infra-estrutura simples, consegue-se reduzir o impacto da elevada
temperatura no edifício que na cidade de Seia, frequentemente, atinge
valores muito elevados.
O espelho de água terá uma grelha metálica colocada a vinte
centímetros de profundidade, servindo de protecção à zona mais
profunda, que permite uma utilização pelas crianças, e não só, com

85
toda a segurança. O abastecimento ao espelho de água será feito
através dos poços existentes no Complexo, estando definida ainda
uma ligação aos tanques de armazenamento da água destinada à rega
de todos os espaços verdes.

espelho de água_elemento importante na qualificação ambiental do edifício

86
relação da Piscina com a rua_pretende-se fazer com que o Complexo Desportivo da
Quinta da Nogueira seja mais “permeável” aos circuitos e dinâmicas da cidade

87
acesso à zona técnica_através do fosso criado, o edifício “ganhou” mais uma fachada

88
relação com o local_pretend-se estabelecer novas relações com o meio envolvente,
através de uma forma afirmativa e de um optimismo responsável em relação ao futuro,

89
procurou-se tirar o máximo rendimento dessa fonte inesgotável de energia que é o sol,
sob o ponto de vista do conforto térmico e sob o ponto de vista da luminosidade

90
a luminosidade foi trabalhada não apenas com o objectivo de receber e tratar
a luz recebida, mas também com o objectivo de “oferecer” luz à cidade

91
neste projecto procurou-se dar resposta, através da arquitectura, às exigências pre-
sentes e futuras , sob o ponto de vista social, económico, ecológico e tecnológico

92
Conclusão

Tenho a noção que se não tivesse realizado esta prova, o


projecto da Piscina Municipal Coberta de Seia teria sido realizado e
eu teria, da mesma forma, feito parte da sua equipa projectista. todo
o período em que estive envolvido, e ainda estou, neste processo
corresponde ao período destinado à realização da prova final.
mas o valor que retiro deste trabalho é muito mais alargado que
esta coincidência de prazos. realizar a prova tendo como objecto
de trabalho um projecto que ainda decorre, e que será executado,
permitiu-me fazer uma verdadeira síntese de todo o processo até à
data. procurei estabelecer uma distância, relativamente ao projecto,
que me permitisse pensar e intervir de uma forma mais crítica. se o
consegui na totalidade, como foi o objectivo à partida, não sei. talvez
um dia consiga obter tal resposta. apenas sei que esta experiência,
por ter sido muito diferente daquilo a que estava habituado durante
o percurso académico, me permite, hoje, ver a prática arquitectónica
de maneira diferente.

93
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Bibliografia

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uma Arquitectura Sustentável; Ordem dos Arquitectos; 2001

AAVV; El Croquis 60+84 - Herzog & De Meuron 1981-2000;


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AAVV; El Croquis 109+110 - Herzog & De Meuron 1998-2002;


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AAVV; El Croquis 129+130 - Herzog & De Meuron 2002-2006;


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Kaltenbach, Frank; Materiales traslúcidos -Vidrio, plástico, metal


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Partners; Phaidon Press Limited; 2000

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- The work of Nicholas Grimshaw & Partners; Phaidon Press
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Serra, Rafael; Arquitectura y Climas; Editorial Gustavo Gili, SA;


Barcelona; 1999

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Links

Agência Portuguesa do Ambiente - www.iambiente.pt

Associção Portuguesa da Energia - www.apenergia.pt

BCSD Portugal_Conselho Empresarial para o Desenvolvimento


Sustentável - www.bcsdportugal.org

Câmara Municipal de Seia - www.cm-seia.pt

Federação Internacional de Natação - www.fina.org

Federação Portuguesa de Natação - www.fpnatacao.pt

Portal sobre Construção Sustentável - www.construcaosustentavel.pt

Programa para Eficiência Energética em Edifícios - www.p3e-portugal.com

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