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504 Da Responsabilidade Civil de Terceiro por Lesdo do Direito de Crédito 367. Conhecendo 0 crédito, 0 terceiro esta, in concreto, adstrito ao dever de abster-se de com ele interferir. O que sucede € que, juridica e praticamente, a les icito-culposa do direito de crédito, a inobservan- cia ilfcito-culposa daquele dever s6 na forma de dolo podera relevar, em termos de responsabilidace civil, ao contrario do que sucede com outros. direitos, como os direitos reais ou os direitos de personalidade, em que 0 conhecimento do direito nao determina necessariamente que a acgdo lesiva seja dolosa, podendo ser negligente. Ou, pelo menos, ¢ dificil ow raramente configurdvel uma situagao em que a acgao interferente de ter- ceiro, que canhega © crédito, nao se assuma como dolosa, configurando- -se como meramente negligente!728, [sso sera assim, em relagao aos di- 1728 Na verdade, a negligéncia, na lesio, v.g., de um direito real, pode ocorrer por © lesante desconhecer o direit?, quando © deveria conhecer (a mera cognoscibilidade, como vimos, é.de principio, condigo de oponibilidade eficiente em relago aos direitos reais); € pode resultar de o lesante, conhecendo o direito, nao ter assumido 0 Comporta~ mento diligente, necessario part nio lesar. Em relagao aos direitos de crédito, porém, a oponibilidade in actu, a oponibilidade eficiente destes depende, em prinespio (€ € a situa- de principio ou comum a que temos em vista — vide, supra, p. 480 ¢ ss), do conhe- iento, nao tendo o terceiro 9 dever de indagar da existéncia do crédito, pelo que o desconhecimento deste afasta qualquer hipstese de negligéncia decorrente da falta de diligéncia em conhecer (de resto, nessa situagdo, nem mesmo se concretiza, na esfera juridica do terceiro, © dever de abster-se de interferir). Na sequéncia, © que ocorre, como dizemos no texto ¢ pelas razdes ir referidas, € que, juridica e praticamente, o ter- ceiro que conheca © crédito € 6 lese, s6 agindo dolosamente cometera um ilicito-culposo ou, dito de outio modo, se tiver agido ilicita-culposamente, té-lo-4 feito com dolo (em «qualquer das suas formas). Mas sempre cabera ressalvar que nenhum obsticulo se levanta A nossa construgdio, se houvesse de concluir-se que, em algum czso-limite, 0 terceito que conhecesse 0 crédito, © pudesse lesar ou ter lesado por acgdo negligente (uma hipétese possivel seria, salvez, a de destmuigao de documentos por negligéncia, um caso de actuagio terial, em que, excepcionalmente, perante o terceiro, a representagdo da coisa ~ os papéis onde se atestava a existéncia do crédito ~ e do direito sobre ela cederia perante a superior represen realidade do crédito, suportada probatoriamente na coisa, entretanto, que a coisa ~o documento probatério do crédito ~ no constitui af objecto da presiagdo, sendo prepriedade do credor: nao se trata, pois, de um caso em que a acgao de terceiro sobre 0 objecto da prestagao impede o devedor de cumprir, ainda que pareca tratar-se de um caso particular, configurivel, ainda, como uma aegao lesiva de ter- ceiro sobre 0 erédito. Mesmo assim, poderia questionar-se — contra este entendimento, mas, pensau » ~ seo valor da coisa nao se mensuraria pelo valor probatoria mente ne » isto é se © seu valor nao se determinaria pelo seu valor pro- batorio, sendo este, por tiltimo, referenciado 20 valor do crédito, discutindo-se se nao estaria af em causa, afinal, 0 dano da coisa, objecto do direito de propriedade, ¢ 0 valor acrescido dess® coisa, desse escrito, relativamente a um qualquer papel ou simples escrito (nesse caso, 0 Gano da lesio do erédito, decorrente da destruigao da coisa Jos, sem raz incorporad¢ ____ A Solucdo defendida ¢ 0 seu enquadramento Dogmatico 505 reitos de crédito, nao s6 como decorréncia da exigéncia de conhecimento, em tanto que condigao de efectivagao da oponibilidade do crédito, como porque 0 conhecimento do erédito é © conhecimento dele na sua existen- cia e na sua configurabilidade essencial!729. De facto, se considerarmos a interferéncia juridica, constate se que, pela sua natureza, apenas enquanto dolosa (em qualquer das formas que © dolo assuma) € susceptivel de gerar responsabilidade ao terceiro Iner- ferente. Seja 0 caso de 0 terceiro colaborar com o devedor no incumpri- mento OU no contrato gerador da impossibilidade de cumprimento ~ pois, se 0 terceiro conhece 0 crédito, ou seja, se o conhece, na sua existéncia € configuraga colaboragiio possa ser io. minima essencial, nao se vé como t : assumida senao com dolo ~, seja o caso de o terceiro, tomando ele & Int- ciativa, induzir 0 devedor & lesiio do direito de crédito, normalmente, como meio cu em resultado de Ihe propor e com ele celebrar um contrato incompativel, que acarrete 0 incumprimento ou a impossibilidade de cumprimento da prestagao a que o devedor estava adstrito!790. Eno caso do eredor, nao teria autonomia perante o dano da coisa). Reportando-se a uma hipotese de destruigio dolosa de documentos, como manifestagaio do que qualifica como oponibili- dade média do crédito, vide, com acuidade, Mnizis CoxDtiKo, Direito das Obrigagoes vol. 1, p, 262. Para nds, com0 se expos, decisivo € que o tereeiro nunca ser FeSPOR- sdivel por hipotética acgdo negligente quando desconheca 0 crédito, ¢ € seguro que> quando © conhega € assuma uma acgio interferente com ele, essa acgao Seré, entao ~ de PrInciPIO. a0 menos ~ uma acco dolosa, dificilmente se configurando como uma acgio negligente. 129 Até em razio do principio de atipicidade que vigora em relagdo aos créditos. Se Afonso sabe que Bento € credor de Carlos, isso em nada limita a liberdade de Afonso contratar com Carlos, niio hd af um verdadeiro conhecimento, para efeito da etectivagne da oponibilidade do crédito a Afonso, enquanto terceiro. Apenas se Afonso souber que 0 direito de crédito de Bento em relagaio a Carlos consiste, p. eX, no direito de exigir a Carlos que Ihe venda a coisa x. que este Ihe prometeu vender, € que uma limitagao con- creta existira na esfera de Atonso: se se propunha adquirir a Carlos aquela coisa, deverd entio, abster-se de 0 fazer, porgue conhece o crédito de Bento — conhece-0 na Sua existén- cia e configuragio essencial —e deve, in concreto, abster-se de interferir com cle 1730" 4 indugdo ao incumprimento (our, mais katamente, a lesa do crédito) implica, por definiga, a iniciariva e a intencionalickade da interferéncia, por parte do indulor: as mais das vezes, para celebrar um contrato incompativel com aquele a que © devedor ja est Vinculado, mas ro se excluindo a pura indugao ao incumprimento, nao precedida nem seguida da celebragio de um tal contrato incompativel, movendo-se o indutor pelo unico e directo fito de prejudicar 0 eredor. Como vimos (supra, p. 297 € nota 994), 4 Propésito do Direito american, segundo 0 Restatement, torts, 2d, a indugio ao incumprimento pres- suporia ainda a existéncia de uma opgao por parte do induzido, a opgao de cumprit 0 Con trato a que estavs vinculado oF de nao 6 cumprir. Entretanto, a indugdo ao incumprimento do contrato distingue-se do aconsethamento do devedor a incumprir contrate que este 506 Da Responsabilidade Civil de Terceiro por Lesdo do Direito de Crédito de cessio do crédito, 0 cedente (terceiro em relagao ao crédito cedido) que receba 0 pagamento do devedor, nao notiticada nem conhecedor da cessao, ndo pode deixar de o fazer com dolo, visto que, havendo-o cedido, no s6 conhece 0 crédito como sabe nao ser mais 0 eredor e nao ter legi- timidade para receber 0 respectivo pagamento, 0 que consubstanciaré a inobservancia do seu dever concreto de respeitar esse direito crédito alheio. Pode dizer-se, pois, que, juridica e praticamente, a interferéncia juridica de terceiro s6 © responsabiliza se dolosa ou nao sera ilicito- -culposa, nao constituird um delito. Mas, se considerarmos a interferéncia material, 0 mesmo sucede. Pode dizer-se, com efeito, que, juridica e praticamente, a negligéneia nao opera — para efeitos de responsabilidade de terceiro perante 0 credor — na interferéncia com a pessoa do devedor ou com a coisa objecto da prestagdo. Na verdade, a representagao do crédito, no caso de uma con- duta de terceiro sobre a pessoa do devedor, 6, por assim dizer, “apagada” pela representagao superior da realidade fisica da pessoa em causa, pelo que, se 0 terceiro, negligentemente, causa um dano na pessoa do devedor, tal negligéncia determina-se pelo desrespeito dos deveres de cuidado em haja celebrado com o credor (O que nao se confunde, por sua vez, ¢ delas no tratamos aqui, nem com a questdo da responsibilidade, perante terceiro. de quem emite um con- selho, parecer ou recomendagio, por danos que aquele haja sofrido em razio de haver agido confiando nesse parecer. conselho ou recomendagio ~ Vide J. F, SINDE MONTEIRO, Responsabilidade por pareceres, recomendagdes ou informagdes, cit., p. 71 € 8s, 524 ess © 592 -, nem, obviamente, com a questio da responsabilidade de quem emite o conselho, recomendagdo ou informagao perante o destinatario dos mesmos ~ Cf. o art, 485.° do CC; vide J. F. SINDE MONTEIRO, idem, especialmente, p. 333 ss). Na indugao ao incumpri- mento, o indutor age com a intengao de interferir em contrato ou crédito alheio, seja para celebrar, com 0 devedor, um contratoincompativel com aquele, seja com 0 tnico ¢ directo {ito de prejudicar o credor, no aconselhamento, © dador do conselho age no interesse do devedor (Di MakiINo, 0b. cit., p. 1413; vide, supra, p. 363, nota 1243); ali, o indutor cria razdes para levar 0 devedor & romper 0 contrato com o credor, aqui, 0 dador do conselho aponta razes que ja existem (R. F. V. HEUSTON, Salmond on the Law of Torts,cit,, p. 538; vide também supra, p. 363, nota 1243), ali, o indutor age contra o Direito, aqui o dador do consetho, mormente quando Ihe incunba preservar 0 interesse do destinatério, por a ele estar ligado familiarmente, profissionalmente ou outro vinculo semelhante ~¢ € este cer- tamente 0 caso em que o conselho miior influéncia pode ter sobre o destinatério —, emite- -o legitimado, em face do Direito, pela qualidade ou fungao que desempenhe ao destinatario (vide supra, p. 307-308, referindo que, no Direito norte-america tipo de situagdes, nao se considera improper a snterferéncia por parte do agente, contanto que io deste se confine entre certas limites). A Solucdo defendide ¢ 0 sew enquadramento Dognuitico 507 telacdo aos direitos de personalidade dessa pessoa!73!. No fundo, s6 quando 0 conhecimento do crédito assuma um valor representativo/voli- tivo na acgao € que esta se assumird como finalista em relagao a ele, como ilicito-culposa. Tal representacao/voliga0, em relagdo ao crédito, sim- plesmente inexiste ou ndo tem relevo algum, no caso de 0 terceiro, por negligéncia, causar um dano a pessoa do devedor. Alias, em aplicagao da mesma ideia, quando @ terceiro produzir dolosamente um dano na pessoa 1731 Suponhamos que A sabia que B é devedor de uma prestagac infungivel, sendo todos residentes na mesma cidade. Ao dirigir-se para 0 seu local de trabalho, A desrespeitou um sinal vermelho e, apesar de tentar travar, no conseguiv evitar embater no peilo, que, ainda antes do embate, reconheceu ser B. B vir ecer. Parece claro que A serd responsavel por negligéneia grave. Mas a sua responsabilidade — como @ sua conduta negligente ~ afere-se pelo direito de personalidade de B, o direito a viea. A cireunstincia de A conhecer Be saber que este era devedor de C no tem qualquer relevancia na cor sideragaio do ilicito culposo enquanto causador do dano. Nem se compreeenderia, a que algo que no acidente nao pode ser sendo um mero acasc — mas sem qualquer relevo representativo em relagio a acgdo de A —, Ihe ditasse responsabilidade perante C, quando, se, por aicaso, no soubesse que B era devecor de C jé no teria que indemnizar C (Vide, também MENEzes CorvEIRO, Direito das Obrigacdes, vol. 1, 9. 281, que coloca um exe plo muito semelhante, mas sem hipotizar © conhecimento do crédito por parte do lesante, nos termos em que aqui o fazemos, concluindo que a resposta sobre a questaiy da respon- sabilidade do terceiro serd normalmente negativa, por entender que, regra geral, 0 atro- pelamento no constitui causa adequada da extingdo de obrigagdes, ndo havendo uma acgfio final — note-se que no conceito de acgio final, o ilustre professor conjuga 0 nexo de causalidade, como um elemento da conduta ~ vide, supra, p. 264 ~, «tendente a violar 0 crédito ou a Gestespeitar deveres de cuidado que tutelassem o mesmo crédito», Lembran- do-nos, de novo, do caso Superga ~ supra referenciado, a propésito do Direito italiano (p. 370-371) ~. pensemos no transporte de uma equipa de futebol por uma transportadora aérea. Em qualquer caso, & sempre a seguranga das pessoas e a pre transportadas que constitui ¢ deve constituir a representagaio determinante da conduta da transportadora, que deve assumir todos os habituais cuidados inerentes a €5s porte, para conseguir garantir essa seguranga ¢ ta dente por negligéncia constitui violsgio do eontrato de transporte e determina a obrig de a transportadora indemnizar os danos so‘ridos pelos passageiros (eou por forga da le certos danos sofridos por familiares dos passageiros). Mas, da dlea normal do contrato, nto resulta sendio o dever de diligéncia do transporte para assegurar a integridade fisiea dos transportados, nao sendo autra, exigivelmente, a representagdo da transportadora ~ vide, aeste respeito, E. BETTI, Sui limiti giuridici della responsabilita aquiliana, cit., p. 148 a 150 (e, supra, p. 355). O risco econémico que © clube possa sofrer em consequéncia de um acidente compete-lhe, se 0 quiser, cobri-lo mediante seguro (ou, eventualmente, até, acordando especificamente com a transportadora — caso em que clube niio € terceiro, mas parte nesse acordo — na assungao por esta desse cimento do prego do transporte). fs, fagiio das coisas 10 de trans: certamente com o inerente encare- 508 Da Responsabilidade Civil de Terceiro por Lesdo do Direito de Crédito do devedor, parece que ainda haverd que apurar, em face da conduta e das circunstancias dela, se tal representagao/voligao (em qualquer dos graus possiveis que pode assumir), em relacdo ao crédito, se chegou a verificar, porque pode nao ter-se verificado. Nenhumas dtividas haverd, entretanto, sobre 0 cardcter ilicito-doloso da conduta do terceiro, quando a sua acgao sobre a pessoa do devedor haja sido orientada especificamente pela intengao de lesar o crédito, impedindo, através daquela acgdo, que o deve- dor cumprisse. De principio, nao é diferente o que sucede na interferén- cia sobre a coisa objecto da prestagdo: a representagdo, no caso de ne- gligéncia, esté focada na propriedade ou nos deveres de cuidado a ela relativos ¢ nao no dever de abster-se de interferir com o crédito. E parece também que a acgao intencionalmente danosa da coisa, apenas poderd re- levar como acgao ilfcito-culposa (na forma de dolo) de interferéncia sobre 6 crédito, quando 6 conhecimento do crédito haja assumido um cardcter representativo/volitivo nessa acgio do terceiro. Praticamente e juridica- mente, pois, a interferéncia material de terceiro com o crédito, que decorra de acgao danosa sobre a pessoa do devedor ou a coisa objecto do crédito, nio 0 responsabiliza, se tal acgao for negligente; apenas se tal acgio for dolosa é que podera assumir-se como ilicito-culposa em relagao ao crédito (quando o conhecimento deste haja assumido valor representa- tivo/volitivo nessa acgao). 368. Conhecendo o terceiro o direito de crédito, tendo o dever de abster-se ¢ agindo dolosamente — porque conhece 0 crédito e age com in- tengo ou consciéneia de com ele interferir (sendo esse o seu fim directo ou um fim que aceita como consequéncia necesséria ou eventual da sua conduta) ~, a causalidade da sua acgia na produgao do dano!732, aferin- do-se nos termos gerais, apurar-se-d com a maior facilidade que resulta dessa acgio ser norteada pela predisposicéo ou pela aceilagau da dis- posigio de meios em relagao a esse fim, a interferéneia lesiva do crédito. 369. Com o que fica dito, afasta-se, de todo, 0 receio de uma pro- liferagdo de acgées de responsabilidade e 0 inerente receio de paralisa- ¢do da iniciativa econdmica. Primeiro e ja 0 tinhamos notado, a efecti- vagao da oponibilidade Gepende do conhecimento do direito de crédito. 1732 B, nos termos gerais, a acgdio de terceiro nio carece de ser, para o responsabi- lizar, causa tinica do dano, podendo ser um ausa concorrente na produgio do dano. ausa ou A Solugdo defendila ¢ 0 seu enquadramento Dogmatico 509 Qualquer interferéncia no crédito, mas no desconhecimento da sua exis- téncia, nao sera ilici ita. Depois, conhecendo o crédito, © terceiro sé sera responsavel verificados, ainda, os pressupostos da responsabilidade civil: dada a natureza das situagdes envolvidas, 0 cardcter ilicito-culposo da conduta s6 poderd verificar-se quando a actuagdo do terceiro seja dolosa Alids, mesmo a prépria verificag’o do dano sofre alguma restrigdo em casos de interferéncia material: se um terceiro mata o devedor, tal nao sig- nifica necess: conta 0 fenémeno sucessério. As mais das vezes, apenas um dano por atraso no cumprimento poderia verificar-se (e, curiosamente, apenas com responsabilidade exclusiva de terceiro, se fosse 0 caso, por acg’o dolosa com 0 fito de prejudicar 0 credor). Apenas tratando-se de prestagao infungivel é que © crédito ficard definitivamente prejudicado, por impos sibilidade de cumprimento. E, de modo paralelo, a destruigdo da coisa objecto da prestagao nao acarretard necessariamente 0 incumprimento da prestagdo, na medida em que aquela seja fungivel. jamente nem geralmente que o crédito se extinga, tido em 370. Em sintese: 0 erédito é interferivel. A realidade demonstra-o; a sua oponibilidade justifica-o, juridicamente. A efectivagao da oponibi- lidade tem como condig&o 0 conhecimento do crédito. Por isso que, de princfpio, os créditos nao beneficiam de publicidade natural nem organi- zada, movendo-se os terceitos no puro dominio da sua liberdade contra- tual. Quando o terceiro nao conhega a exis de crédito alheio, o mesmo nao lhe é oponfvel endo pode ser responsabilizado pela sua lesao. Quando 0 terceiro conhega o crédito alheio, é-lhe, in concreto, exigfvel que o respeite. A inobservincia deste dever pode originar-lhe respon- sabilidade civil perante 0 credor, nos termos das regras gerais da respon- sabilidade civil: uma responsabilidade subjectiva, delitual, que dependera assim da verificacdo dos respectivos pressupostos. Dado que 0 conheci- mento é condigao de efectivagao da oponibilidade do crédito e dada a natureza do bem a que 0 crédito se reporta, juridica e praticamente, 0 cardcter ilicito-culposo da ac¢Ao interferente — seja por via juridica seja por via material — apenas ocorrerd (ao menos, de principio) se o terceiro agir com intengao ou consciéncia de lesar 0 crédito, se agir com dolo. Agindo com dolo, a predisposi¢ao de meios para 0 fim ou o resultado - lesio do crédito — tenderé a verificagdo da causalidade da accao na pro- dugdo do dano. Com o que, numa exposigao sintética — que a andlise sequencial que se deixou feita possibilita, fundamenta e explica —, pode dizer-se que apenas a interferéncia (como ac¢do e resultado) dolosa com 510 Da Responsabilidade Civil de Terceiro por Leséo do Direito de Crédito odireito de crédito pode originar responsabilidade ao terceiro perante o credor: pot isso que © dolo pressupde 0 conhecimento do crédito — condigdo de efectivagio Ga oponibilidade deste — ¢ traduz a intencional dade da acgdo interferente, no sentido de o lesante querer a lesio do crédito (como consequéncia directa, necessaria ou eventual da acgaio), Esta conclusdo, como veremos, em nada € obstaculizada pelo facto de a norma que encerra 0 principio geral nesta matéria — no nosso Direito, o art, 483.° do CC — prever que © acto meramente negligente possa acar. retar responsabilidade civil a quem viole direitos ou interesses alheios juridicamente tutelados, E veremos que, pelo contrario, a norma geral do art, 483.°, que € uma grande cldusula de responsabilidade civil, alberga, perfeitamente, a solugio que defendemos. ©) OS ARGUMENTOS DA TEORIA CLASSICA: SUA CRITICA E CONSEQUENTE REFORGO DA TESE DEFENDIDA 371. Acabmos de expor a construgao que pensamos dever presidir a solugio do problema da responsabilidade civil de terceiro por lesao do direito de crédito, Com isso, nao s6 ficou jé manifestada a nossa oposigaio A teoria classica, como deixdmos rebasidos argumentos fundamentais em que aquela teoria se baseia para negar a tutela aquiliana dos créditos, par- ticularmente — em razdo de uma certa e, quanto a nds, incorrecta con- cepcaio da relatividade do crédito, entendida como inoponibilidade deste a terceiros —, 0 argumento da impossibilidade légico-conceitual de | do crédito por terceiro e, consequentemente, da impo: responsabilidade de terceiro por uma tal lesao. Com efeito € muito em sintese, para ndo entrarmos numa escusada repetigio do que acabimos de expor, denunciimos 0 vicio l6gico desse argumento a sua manifesta contradi¢ao com a prdpria realidade, que Direito nao pode deixar de valorar adequadamente. E vimos que, justa- mente, sob © ponto de vista dogmatico-jurfdico, uma tal interferéncia de terceiros — através de uma acgao juridica ou de uma acgao material ~ é possivel deve ser sancionada, verificadas certas condigées: possivel, porque o direito de crédito, enquanto direito subjectivo, é oponivel a ter. ceiros, havendo que distinguit-se a oponibilidade da relatividade do di- reito de crédito; deve ser sancionada, quando 0 terceiro, conhecendo 0 crédito — pois, no caso dos direitos de crédito, 0 conhecimento &, em principio, condigao de passagem da oponibilidade in potentia a oponibi- ‘do bilidade de

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