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Elogio da sere que eles se tornassem iguais. Onde Rousseau vé desigualdades artificiais e portanto condenaveis e superaveis, Nietzsche vé desigualdades naturais e portanto ndo condendveis nem supe- raveis. Ao passo que em nome da igualdade natural o igualitario condena as desigualdades sociais, em nome da desigualdade natural o nao igualitério condena a igualdade social, A diferenga entre desigualdade natural e desigualdade social é relevante para o problema do preconceito pela seguinte razao: com frequéncia 0 preconceito nasce da superposicao desigual- dade natural de uma desigualdade social que nao é reconhecida como tal, sem portanto que se reconheca que a desigualdade natural foi agravada pela superposigaéo de uma desigualdade criada pela sociedade e que, ao nao ser reconhecida como tal, considerada ineliminavel. Isso ocorreu precisamente na questo feminina. E evidente que entre homem e mulher existem dife- rencas naturai feministas refutam é uma Mas a situagao feminina que os movimentos tuagao na qual A diversidade natural se acrescentaram diferengas de carter social e hist6rico, que nao sao justificadas naturalmente e que, sendo um produto artificial da sociedade dirigida pelos homens, podem (ou devem) ser eli minadas. Também a diferenga entre uma pessoa sa e um doente mental é uma diferenca natural. Mas sobre ela foram superpostas discriminagées sociais que sao 0 produto de preconceitos. Um idade dos exemplos mais discutidos desta distorgao de uma divers natural mediante um preconceito de carater social é 0 que se refere aos homossexuais. Também neste caso se pode falar de diversidade natural entre homossexuais ¢ heterossexuais. Mas 0 juizo negativo que em nossa sociedade é dado com relagao a homossexualidade é de origem histérica. Tanto isso é verdade que, na classe culta da antiga Gréci Abio pelo jovem era considerado a, este juizo negativo nao existia. Antes disso, o amor do s de natureza superior ao amor heterosexual. i z iO que estamos discutin- do, so, ao contririe, de natureza mais social que natural as tre as formas de discriminas diferengas linguisticas e as que derivam do pertencimento a uma religiao e nao a outra, A religiao, como a lingua, é um pro- duto social. Prova disso é que, ao passo que as desigualdades naturais sao insuperaveis, nada impede que se imagine que as diferencas linguisticas e religiosas possam ser superadas. Como sempre existiu o ideal de uma religido universal, do mesmo modo sempre se apresentou a proposta de uma lingua univer- sal. A religido universal é uma religido igual para todos, assim como uma lingua universal é uma lingua igual para todos. Ao Passo que é improvavel que desaparega a diversidade de racas, porque se trata de uma diferenga que nao depende da vontade dos homens, poderiam desaparecer um dia as diferencas entre linguas ¢ religies, desde que se conseguisse estabelecer um acordo geral para unificar umas e outras Obviamente, tal diferenga entre desigualdades naturais e sociais deve ser tomada com muita cautela, por mais que seja legitima. Ela serve, porém, para que se compreenda que o preconceito é um fenémeno social, é o produto da mentalidade de grupos formados historicamente, e precisamente como tal pode ser eliminado. Preconceito e minorias Uma tltima observagio. Dissemos que o preconceito coletivo, que €0 tipo de preconceito de que me ocupei com exclusividade, 6a atitude que um grupo assume perante os individuos de um outro grupo. Pode-se acrescentar que quase sempre o grupo diante do qual se forma um preconceito hostil é uma minoria. O preconceito de grupo ¢ geralmente um preconceito da maioria em relago a uma minoria. Tipico neste sentido é 0 preconceito racial. Vitimas do preconceito de grupo séo normalmente as minorias étnicas, religiosas, linguisticas etc. Prova disso & que uma coisa é a atitude do catélico diante dos protestantes ou dos judeus em geral, outra coisa é a mesma atitude quando o protestante ~ como foi o caso dos Valdenses no Piemonte, em 14 Hagia da serenidade épocas histéricas hoje felizmente superadas — ou o judeu, como foi por séculos 0 caso da instituigao dos guetos, constituem uma minoria dentro de uma maioria. Pode-se dizer o mesmo sobre 0 preconceito dos italianos do Norte diante dos meridionais: ele se tornou tanto mais forte quanto mais, em seguida ao fendmeno da emigragao, 0s homens provenientes do Sul do pais formaram um grupo de minoria inserido numa maioria. Do mesmo modo para as minorias linguisticas: nao hd qualquer preconceito em geral contra os que falam diversamente, ao passo que © precon- ceito pode nascer quando os que falam diversamente sao uma ilha restrita num ambiente mais vasto, que tende naturalmente a fazer que 0 proprio modo de falar prevalega sobre o modo de falar da minoria Se é verdade que o preconceito de grupo golpeia geralmen- te as minorias, ha ao menos uma excegao que nos deve fazer refletir. A série de preconceitos antifemininos dos homens nao diz respeito a uma minoria; quanto ao niéimero, as mulheres so mais ou menos como os homens e nao vivem separadas em s. Ja me referi ao fato de que entre homens grupos minoritaric e mulheres existem desigualdades naturais que seria estupidez esquecer. Mas é inegavel que muitas das desigualdades entre a condigao masculina e a feminina sao de origem social, tanto que as relages entre homem e mulher mudam segundo as diversas sociedades. A emancipagao da mulher, a que assistimos ha anos, uma emancipacao que também deve avangar por meio da critica de muitos preconceitos, isto é, de verdadeiras atitudes mentais, radicadas no costume, nas ideologias, na literatura, no modo de pensar das pessoas, tao radicadas que, tendo sido perdida a nogio da sua otigem, continuam a ser defendidas por pessoas que as consideram, de boa-fé, como juizos fundados em dados de fate. Precii nente porque estes preconceitos interpostos entre 0 homem e a mulher dizem respeito A metade do género humano € ndo apenas a pequenas minorias, é de considerar que © movi- mento pela emancipagao das mulheres e pela conquista, por elas 5 No:berto Bobbio jaa maior (eu estaria da paridade dos direitos e das condigoe até mesmo tentado a dizer a nica) revolucao do nosso tempo. Consequéncias do Preconceito Parti do pressuposto de que o preconceito deve ser combatido Por suas consequéncias. Quais consequéncias? As consequéncias nocivas do preconceito podem ser distribuidas em trés niveis diversos, que distingo por grau de gravidade ou de intensidade, Comeca-se pela discriminacao juridica. Em todas as legisla- S0es modernas, existe um principio segundo 0 qual “todos so iBuais perante a lei”. Este principio quer dizer que todos devem Bozar dos mesmos direitos. Um dos efeitos de uma diseri minacao € que alguns so excluidos do goz0 de certos direitos Desde que falamos pouco atrés da questo feminina, nos valemos agora de tim exemplo muito facil ¢ esclarecedor: até 1946, na Itdlia, as mulheres eram excluidas do voto, isto 6 nao gozavam de um direito de que gozavam os homens. Tratava-se de verdadeira disctiminagao, ainda que nem sempre fosse sentida como tal. A COnsequéncia dessa discriminagao era naturalmente ums limita- $20. Quando irrompeu também na Ieélia a campanha contra os judeus durante os tltimos anos do regime fascista, a primeira Consequéncia foi a privagao, infligida aos que eram considerados de raca judia, de alguns direitos que eles haviam gozado, como ‘odos 0s outros italianos, antes da discrimina io. Também nes- te caso havia um grupo que nao era mais igual aos outros com Tespeito a certos direitos Uma segunda consequéncia, ainda mais grave, da discrimi- Halo € a marginalizacao social. O exemplo clissice €oguetoem que foram fechados os judeus, durante séculos, no mundo cri tao. Mas, ainda que nao institucionalizados, existem guetos de minorias étnicas ou sociais em todas as grandes cidades. Pense-se nos bairros negros de cidades americanas como o Harlem em, Nova York, ou nas favelas que circundam algumas metrépoles 116 Elogio de serenidade A forma extrema de marginalizagao é a que se pratica nas assim chamadas instituigdes totais, como as pris6es e 0s manicomios, Também nesse caso 0 proceso de emancipacao coincide com © reconhecimento de uma discriminagao, e 0 reconhecimento de uma discriminagao é quase sempre o efeito de uma tomada de consciéncia do preconceito. Com respeito a relacdo homem- -mulher, hoje em dia, com bastante frequéncia, ainda que de forma polémica, costuma-se comparar a casa - onde a mulher foi por séculos relegada ~ a uma espécie de gueto, que marcou fisica e espacialmente a marginalizacao social da mulher. A terceira fase do processo de discriminagao a mais g € a perseguicao politica. Aqui, entendo por perseguicao politica o uso também da forga para esmagar uma minoria de “desiguais” Oexterminio dos judeus e de outras minotias, como os ciganos, perpetrado pelo regime nazista, representa de modo dram, esta terceira fase. ico Conclusdo inconcludente Sei bem que deveria concluir respondendo a pergunta: “Mas, Se 0 preconceito traz tantos danos a humanidade, teremos como elimina-lo?”. Reconhego muito francamente que nao sei dat qualquer resposta a uma pergunta deste género. Infelizmente Quem quer que conheca um pouco de histéria, sabe que sempre existiram preconceitos nefastos e que mesmo quando alguns deles chegam a ser superados, outros tantos surgem quase que imediatamente Apenas posso dizer que os preconceitos nascem na cabeca dos homens. Por isso, preciso combaté-los na cabeca dos homens, isto é, com o desenvolvimento das consciéncias ¢, por- tanto, com a educacao, mediante a luta incessante contra toda forma de sectarismo. Existem homens que se matam por uma partida de futebol. Onde nasce esta paixio senao na cabeca deles? Nao é uma panaceia, mas creio que a democracia pode servir Norberto Bobbio também para isto: a democracia, vale dizer, uma sociedade em que as opinides sao livres e portanto sdo forgadas a se chocat e, a0 se chocarem, acabam por se depurar. Para se libertarem dos preconceitos, os homens precisam antes de tudo viver numa sociedade livre. 8

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