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A MENINA QUE L

Certamente a menina l. A corda frouxa entre a mo direita e o pescoo do boi


- ou ser um bfalo? -sugere que no h esforo e, menos ainda, perigo, embora o
animal seja imenso e ela pequena. A quietude do olhar do bicho no deixa dvidas:
apesar do longo chifre, ele manso e, mais do que apenas domesticado,
domstico. No fosse assim, quem o entregaria aos cuidados de uma menina
pequena e descala, que l enquanto trabalha e caminha? Pois, pelo menos
enquanto atravessam a trilha ao longo do canal, parece nem ser necessrio prestar
ateno ao caminho e ao trabalho e, por isso, possvel ler.

O olhar dela atento e como conhece de cor o caminho e a mansido do


bicho, pode concentrar a ateno em ler e, assim, aprender o que no sabe.
Criana e camponesa possivelmente pobre, estaria a menina apenas vendo as
figuras de uma revista em quadrinhos que tambm l no Vietn, em 1977, fazia
as delcias das crianas de um pas devastado por guerras de libertao? Parece
que no. O verso quase branco das folhas sugere um caderno ou, quem sabe?
Uma cartilha. A menina l. Diversa dos dois outros meninos, que montados num
segundo boi apenas viajam e fazem do trabalho o prazer do passeio, a menina
parece, atenta, estudar e faz do trabalho o intervalo do ensino. A tarde calma, a
guerra, parece, acabou. E crianas e bois podem conviver em paz.

Puxando por uma corda um boi, ser da natureza, mas bicho manso e cativo,
logo a meio caminho entre ela e o mundo humano da cultura, a menina l.
Mergulha a ateno em um universo misteriosamente humano que, ininteligvel a
qualquer outro ser da natureza, transforma sinais em smbolos; sinais, como o berro
que um boi d a outro, ou como a gua do canal que reflete as rvores e indica
que dia e h luz. Transforma sinais em smbolos, que o que se l; smbolos
que permitem aos homens trocarem entre si mensagens, falar de ideias e discutir
valores que tornam, ao mesmo tempo, a sua vida social e humana.

Atenta aos estudos mais do que ao trabalho, a menina mergulha, talvez sem
saber, no universo do significado. Aos poucos se apossa do instrumento do
simbolismo que lhe permite viver em um contexto superior ao dos outros seres,
realizado pelo trabalho humano e tornado significativo pelo saber.

(Texto de Carlos Rodrigues Brando adaptado por Franklin M. Viilela)

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