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O documento discute a construção histórica da cidadania individual e coletiva ao longo dos séculos no Brasil. Apresenta como a cidadania individual surgiu nos séculos XVII-XVIII com a luta por direitos civis e políticos, enquanto a cidadania coletiva teve origem na Grécia Antiga e nas lutas por direitos sociais, econômicos e culturais. Também analisa os avanços e recuos na construção da cidadania nos períodos colonial, imperial e republicano brasileiros.
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GOHN, Maria da Glória. A construção da cidadania ao longo dos séculos
O documento discute a construção histórica da cidadania individual e coletiva ao longo dos séculos no Brasil. Apresenta como a cidadania individual surgiu nos séculos XVII-XVIII com a luta por direitos civis e políticos, enquanto a cidadania coletiva teve origem na Grécia Antiga e nas lutas por direitos sociais, econômicos e culturais. Também analisa os avanços e recuos na construção da cidadania nos períodos colonial, imperial e republicano brasileiros.
O documento discute a construção histórica da cidadania individual e coletiva ao longo dos séculos no Brasil. Apresenta como a cidadania individual surgiu nos séculos XVII-XVIII com a luta por direitos civis e políticos, enquanto a cidadania coletiva teve origem na Grécia Antiga e nas lutas por direitos sociais, econômicos e culturais. Também analisa os avanços e recuos na construção da cidadania nos períodos colonial, imperial e republicano brasileiros.
GOHN, Maria da Glria. A construo da cidadania ao longo dos sculos.
O conceito da cidadania amplo, mas um dos mais importantes diz
respeito cidadania individual e a cidadania coletiva. A cidadania individual remete aos direitos e deveres civis e polticos dos indivduos. A cidadania individual pressupe a liberdade e a autonomia dos indivduos num sistema de mercado, de livre jogo da competio, onde todos sejam respeitados e tenham garantias mnimas para a livre manifestao de sus opinies basicamente atravs do voto e da auto realizao de suas potencialidade. (p.2) Assim, o que se destaca na cidadania individual a dimenso civil da luta pelos direitos polticos e civis. Sua construo histrica vem dos sculos XVII e XVIII, quando a sociedade ocidental se moderniza e consequentemente muda alguns parmetros de referncia como a primazia da razo sobre dogmas e a opinio pblica em contraposio ao direito dos reis. J a cidadania coletiva teve dois marcos em sua origem. O primeiro pontua s origens do cidado na plis grega onde os cidados exercitam virtudes cvicas e tm na comunidade onde vive a sua referncia imediata (p.2). o segundo remete contemporaneidade, que no ponto de vista econmico, por exemplo, temos as lutas por terras, j no ponto de vista cultural temos as lutas contra a excluso social de minorias. A cidadania coletiva privilegia a dimenso scio-cultural, reivindica direitos sob a forma da concesso de bens e servios, e no apenas a inscrio destes direitos em lei; reivindica espaos scio-polticos sem que para isto tenha que se homogeneizar e perder sua identidade cultural (p.3) Cumpre relembrarmos ainda que, as categorias da liberdade e da igualdade sempre foram centrais nas duas dimenses da cidadania, quer individual quer coletiva, isto porque a luta pela aquisio ou extenso e direitos: sociais, econmicos, polticos e culturais, sempre esteve associada lutas pela igualdade e pela liberdade (p.3) No perodo colnia, a cidadania buscava condies de trabalho nas terras da Metrpole, libertar a Colnia, fugir ou burlar o fisco, em suma tentavam se proteger da explorao de Portugual. A luta pela cidadania no perodo colonial teve sua expresso maior na luta pela independncia poltica da nao. Trata-se da construo da cidadania coletiva de um povo que, ao reinvindicar e lutar pela sua libertao poltica, construiu as bases para o surgimento de uma identidade nacional, ou seja: um territrio, uma lngua, uma religio, sob a gide da soberania local. (p.3-4) Na fase imperial o campo da cidadania se expandiu. Houve uma ampliao do espectro das reivindicaes e tambm uma crescente no nmero de aes desenvolvidas. O direito ao trabalho continuou a ser uma luta central, assim como ideias difusas sobre o igualitarismo (p.4) Entretanto esse igualitarismo se restringia esfera scio-econmica e no poltica, assim, no se contestava, por exemplo, o regime jurdico existente que contemplava a escravido. Apenas no final do sculo XIX que o movimento abolicionista acabou com o trabalho escravo no pas. Os abolicionistas propunham que os escravos se tornassem cidados, mas estudos provam que isso no passou de utopia e vrios escravos, aps a abolio, tornaram-se trabalhadores servis e, na cidade, permaneceram desempregados. Nesta fase, cidado significada o sujeito com posse de terras e ttulo de nobreza, j os pobres e escravos, ou seja, os no cidados, lutavam para a construo de fragmentos mnimos de cidadania. Com o advento da Repblica, a cidadania trouxe novas formas. Apesar do novo regime poltico, as mulheres, mendigos, soldados, religiosos e analfabetos no eram cidados perante as Leis. Alm da ausncia da participao popular, foi instaurado s Foras Armados o encargo de defender as instituies pblicas. A marginalizao do povo do espao pblico levou a construo de uma cultura poltica onde a sociedade vista como um ente amorfo e difuso, e o Estado como o provedor e o organizador da ordem necessria (p.6) No sculo XX a luta pela cidadania se amplia, Surge assim a luta por eleies limpas, pelo voto das mulheres e de outras categorias que no possuam propriedades e, fundamentalmente, a luta pelos direitos sociais dos trabalhadores. Nos anos 30, a cidadania conquistada por lutas de inmeros movimentos ainda que regulada e de excluir os analfabetos os cidados passaram a ser reconhecidos pelo lugar que ocupavam no processo de produo. Ainda no perodo populista a cidadania era expressa pelo voto. O exerccio do direito civil levava ao exerccio do direito social. A troca do voto pela melhoria coletiva eram necessrias para a sobrevivncia das camadas populares. Essa prtica criavam espaos para prganizaes populares e tambm levavam politizao das populaes envolvidas. O processo de construo da cidadania nunca foi linear. Ao contrrio, sempre foi cheio de avanos e recuos, de fluxos e refluxos. Houve perodos que ocorreram perdas, que houve retrocessos, e at mesmo a supresso de direitos bsicos, como nos golpes de Estado, nos estados de stio, e nos perodos de ditadura militar (p.8) Nos anos 80 direitos sociais tradicionais se mesclaram com os direitos sociais modernos, em busca, no apenas do exerccio da cidadania, mas tambm de mudana sociais no pas. A cidadania se tornou, nos anos 70 e 80, a principal bandeira reivindicatria. O referendum popular, a iniciativa popular, o plebicito, foram mecanismos de participao popular conquistados pelos cidados brasileiros, atravs dos movimentos e das presses populares. Num pas de tradio autoritria, eles significaram verdadeiros atos hericos. (p.8) Os novos direitos conquistados so frutos da articulao entre a democracia institucional e a democracia direta. Em sntese podemos dizer que as aes coletivas nos anos 70 e 80, no Brasil, foram impulsionadas pelos anseios de redemocratizao do pas, pela crena no poder quase que mgico da participao popular, pelo desejo de democratizao dos rgos, das coisas e das causas pblicas, pela vontade de se construir algo a partir de aes que envolviam os interesses imediatos dos indivduos e grupos (p.8) Essa nova forma de cidadania criou a figura do comunitrio, ou seja, uma figura hbrida, que no se situa nem no setor pblico, nem no privado (p.8) Onde as aes partem dos setores privados, mas com suporte financeiro e de infra-estrutura estatais.
Estudos Latino-Americanos - Cultura e Mediações. Texto - MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos Meios Às Mediações - Comunicação, Cultura e Hegemonia. Rio de Janeiro - UFRJ, 1997, Pp. 258-308