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"Elaborando projetos"
A experiência de atividades didáticas no Programa de Alfabetização Solidária (PAS)

Ana Cláudia Rôla Santos1


Patrícia Vargas Lopes de Araujo2

Este texto é resultado do desenvolvimento de experiências didáticas, especialmente


com relação à elaboração de projetos didáticos, durante os Cursos de Capacitação de
Alfabetizadores do Programa de Alfabetização Solidária, entre janeiro de 2002 e janeiro de
2003, das cidades de Pilar, Pedras de Fogo, Juripiranga e Itabaiana, Estado da Paraíba, e de
Minas Novas, Minas Gerais. A preocupação que norteava nossa ação era apresentar uma
discussão acerca de determinadas propostas metodológicas de ensino que envolvesse temas
da área de Letramento, de Sociedade e Cultura, de Memória e Cidadania e, desta maneira,
envolver a História. Outra perspectiva era não deixar que o debate caísse no vazio. Neste
sentido, era preciso partir da convicção da existência de integração da discussão teórica e
sua operacionalização, através da proposta de atividades didáticas. Dessa forma, o curso
não deveria fechar-se em um discurso teórico, como também não poderia ser mero
recitativo de práticas, mas deveria moldar-se na capacidade de “costurar teoria e prática”
(DEMO, s/d:247).
Não obstante o Programa de Alfatetização Solidária se estruturar em torno do
domínio da escrita e da leitura, bem como das operações matemáticas3, compreendemos
que a proposta não se esgota nestes dois pólos. Uma incursão ao livro “Viver, Aprender:
Educação de Jovens e Adultos”4, módulos 1 e 2; 3 e 4; 5 e 6, permite expandir o campo
de ação desta proposta e perceber que além da necessária habilidade com a escrita e a
matemática, torna-se fundamental possibilitar ao aluno o acesso a temas, informações,

1
Mestranda em Letras – Estudos Literários – UFMG; Professora da rede estadual de ensino.
2
Doutoranda em História pela UNICAMP; Professora de História da UEMG, Campus da Campanha.
3
Ver livro-guia para alfabetizadores elaborado pelo MEC; texto de VÓVIO, Cláudia e JOIA, Orlando.
Albabetização de Jovens e Adultos — Diagnosticando necessidades de aprendizagem. Brasília: MEC, 2000.
4
VÓVIO, Cláudia Lemos (Coord.). Viver, Aprender: Educação de Jovens e Adultos. São Paulo: Ação
Educativa; Brasília: MEC, 2000.
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questões que envolvam a reflexão sobre si, enquanto indivíduo/cidadão, sobre sua
comunidade, sobre sua época, sobre a sociedade em que vive e sua cultura.
Compreende-se assim que todo ato pedagógico deve se inserir em uma ação
determinada sobre a sociedade, permitindo também uma ação das pessoas sobre si mesmas
e destas sobre o mundo (GADOTTI, 1988). A tradição educacional tem nos mostrado que
as atividades e conteúdos escolares têm se organizado de forma a desenvolver um ensino
fragmentado e sem integração entre as disciplinas e, mais grave ainda, desconectado dos
problemas mais imediatos do contexto sócio-cultural. O empenho seja da escola, seja do
professor, em oferecer condições e possibilidades para que cada aluno possa construir e
reconstruir sua identidade sócio-cultural, sendo sujeito interativo com direito a expressar
suas experiências e conhecimentos de mundo são aspectos fundamentais no processo
educativo.
A ação pedagógica deixa então de ser encarada como a justaposição de falas isoladas,
e passa a ser concebida como um conjunto de falas em torno de eixos comuns. O trabalho
coletivo e interdisciplinar promove uma maior participação, mas em contrapartida requer
responsabilidade e envolvimento em todo processo: no planejamento, na execução, no
registro e na avaliação das atividades didáticas. O trabalho coletivo permite as pessoas se
encontrarem mais, aprenderem a se defrontar com diferentes perspectivas, a conviver e
trabalhar com o diferente, com o conflito. Este trabalho mostra o conhecimento individual
como essencial ao fortalecimento do grupo.
Partindo do princípio de que a alfabetização é uma forma de inserção do indivíduo na
sociedade letrada e, no caso específico, de jovens e adultos, é um meio de resgate da
cidadania através da recuperação da auto-estima e da aquisição de ferramentas essenciais
para o cidadão exercer o seu papel social, torna-se necessário pensar em uma prática
pedagógica que proporcione a inclusão social e que respeite a relação diferenciada do
sujeito com a escrita e a leitura, que é marcada pelo meio social em que o sujeito está
inserido.
Neste sentido, o papel do professor deve passar por uma transformação. Cabe a ele
não apenas fornecer estímulos, mas trabalhar a partir de experiências e vivências dos
alunos, procurando através de atividades reflexivas possibilitar que cada um supere suas
expectativas a cada momento. É importante ver o aluno como uma pessoa que vive na sua
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comunidade, participa de uma determinada cultura e faz parte de um determinado processo


histórico.
Que prática metodológica seguir então? A prática cotidiana de ensino deve adotar
atividades que permitam em sala de aula o estabelecimento de uma relação comunicativa,
em que não apenas um fala, mas todos possam perguntar, trocar experiências, negociar
significados, compartilhar. É extremamente relevante enfatizar o caráter interdisciplinar do
conhecimento, perspectiva esta que permite substituir uma visão fragmentada do mundo
por uma reflexão mais abrangente. São estas as convicções que fortalecem o nosso trabalho
na Capacitação de Alfabetizadores no Programa de Alfabetização Solidária.
O primeiro entrave que encontramos na elaboração do curso de capacitação foi a
questão da heterogeneidade da turma. Os alfabetizadores muitas vezes apenas concluíram o
1º grau, mas no decorrer do curso mostram-se capazes de desempenhar a função de
educador, por fazerem aflorar alguma prática que por ventura já tenham através do
conhecimento adquirido aqui, o que nos aproxima da situação real da educação em nosso
país, e faz com que percebamos que a formação universitária, embora importante, é
privilégio de poucos, especialmente no que diz respeito à alfabetização. Muitas vezes, o
conhecimento da comunidade à qual irá servir, uma boa orientação pedagógica, dentro do
possível, e uma vontade de aprender para ensinar, já faz com que uma pessoa seja capaz de
iniciar uma outra no processo educacional. E que nós com tanta bagagem teórica, nem
sempre estamos aptos a contribuir para a melhora do nível de educação no nosso país, pois
visamos trabalhar com pessoas de um nível escolar mais alto e/ou na idade ideal.
Os alfabetizadores são selecionados na própria comunidade em que irão trabalhar, o
processo de seleção consiste em uma prova escrita e uma entrevista. Este processo ajuda-
nos a fazer um diagnóstico desses alfabetizadores, para que possamos na capacitação
fornecer subsídios para o alfabetizador iniciar sua prática em sala de aula. Ressaltamos que
os selecionados não têm o mesmo nível de escolaridade e na maioria das vezes nenhuma
experiência didática anterior. Cada módulo de alfabetização tem duração de 4 meses, neste
período a equipe do PAS/UFOP faz acompanhamento in loco das atividades dos
alfabetizadores, para dirimir dúvidas, trocar experiências, examinar o projeto na prática,
conhecer a comunidade que está sendo beneficiada com o programa, adequando-o.
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Desta forma, é necessário durante a capacitação a abordagem de assuntos que


norteiam a educação como um todo, ou seja, apresentar algumas posturas que tratem do
papel do professor, possibilitando discussões que suscitem o debate, através da exposição
da concepção e expectativas do alfabetizador em relação ao papel do professor. Para um
bom aproveitamento desta etapa, que consideramos como uma “reflexão teórica”,
selecionamos textos, que através de uma linguagem acessível, informassem e propusessem
questões educacionais promovendo reflexão sobre o conteúdo exposto. Os textos
selecionados foram os seguintes: Só Aprende Quem Tem Fome, de Rubem Alves;
Educação e Cidadania e Por Que Trabalhar com Projetos?. Tais textos foram retirados
propositalmente da Revista Nova Escola, que é um periódico de fácil acesso, quase todas as
escolas possuem, e todos têm uma linguagem acessível.
Aproveitamos esta etapa de estudo teórico para trabalhar com algumas deficiências
dos alfabetizadores, quer seja na capacidade de ler em voz alta, na interpretação dos textos,
na exposição do pensamento, nas relações interpessoais, através da interação com o grupo,
principalmente o respeito à postura do outro.
Esse primeiro momento encerra-se com a apresentação de tópicos sugeridos para a
elaboração de um projeto didático:

Elaboração de projetos didáticos

1. Por que trabalhar com projetos?


• O que são projetos didáticos?

2. Como elaborar um projeto?


O projeto é uma atividade intencional e bem planejada. Alguns aspectos devem ser considerados:
• proporcionar situações que desafiem as capacidades dos alunos;
• oportunizar a vivência grupal;
• apresentar situações de aprendizagem em que a construção do conhecimento contemple, além dos
fatores cognitivos, os afetivos e sociais;
• estabelecer critérios;
• desenvolver processos que permitam a compreensão crítica do mundo em que se vive;
• oferecer aos alunos condições e possibilidades de conviver com a pluralidade e a
multiplicidade,considerando as diferenças entre as pessoas, os grupos sociais de uma sociedade e os
gêneros, desenvolvendo atitudes de respeito e consideração mútua;
• conhecer o grupo para o qual se destina o projeto.

2. Etapas na elaboração do projeto


• Título (nome do projeto): permite uma visão geral do que se quer alcançar.
• Justificativa (porque quero trabalhar com este tema): momento de expor as razões e escolhas feitas sobre
o tema.
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• Objetivos: quais são as finalidades do projeto, o que espero alcançar? Definir objetivos é ter clareza do
que deseja e das ações a serem desenvolvidas:
A) Um painel? Um álbum? Um cartaz?
B) O que espero dos meus alunos no dia-a-dia? Agilidade? Destreza? Trabalho em equipe?
Atenção? Desenvolvimento da afetividade? Desenvolvimento de atividades psico-motoras?
C) Em português? Em história? Em matemática? Com relação a outros campos de saber?
• Atividades Previstas: como será feito? Que atividades devo propor para alcançar meus objetivos. É o
processo de desenvolvimento do projeto.
• Material: o que precisarei usar?
• Duração Provável: quanto tempo utilizar? 1 dia? Uma semana? 15 dias? 1 mês ou mais?
• Avaliação: a avaliação deve levar em conta todo o processo e o envolvimento de todos no projeto. Pode
ser utilizado: auto-avaliação, relatos orais e escritos, trabalhos em grupos, “vitórias”/ “conquistas” dos
alunos no dia-a-dia, exposições de trabalhos.

A etapa seguinte consistiria na apresentação de uma proposta ao grupo de


alfabetizadores, de um projeto didático — "Histórias de Vida" — elaborado por nós,
baseada na unidade “Quem Somos” do livro Viver e Aprender (Módulo I e II), como forma
de operacionalizar nossa proposta e através do qual pudéssemos, a partir de um tema
específico, trabalhar tanto com atividades contidas no livro e quanto sugerir outras
atividades, que envolvessem noções de tempo/espaço, leitura e escrita, cidadania, memória.

"Histórias de Vida": Elaborando projetos didáticos

Este projeto sustenta-se basicamente em três tópicos:


• Quem somos? – Trabalhamos a origem dos nomes dos alfabetizadores, suas
qualidades, defeitos, relação do significado do nome com as características físicas,
personalidade, etc.;
• De onde viemos? – Trabalhamos as cidades, a região e o estado em que viviam, as
vantagens e desvantagens de se viver em determinado lugar, os aspectos físicos, financeiros
e culturais;
• Para onde vamos? – Trabalhamos as expectativas dos alfabetizadores, não só em
relação ao PAS, mas de um modo geral, propunha-mos uma reflexão sobre a região onde
moravam, as possibilidades de desenvolvimento econômico, a preservação da memória
cultural e física e as ações que cabiam a cada um, enquanto cidadão inserido naquelas
comunidades.
O nosso objetivo nesta etapa era o de apresentar na prática uma atividade a
execução de um projeto didático, para que nossas ações não ficassem apenas no âmbito
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teórico. Para tal foi necessário abordarmos um assunto conhecido por todos os
alfabetizadores, independente do grau de escolaridade, então optamos por trabalhar com o
nome, a terra e as expectativas de cada um. Esta atitude fez com que os alfabetizandos
participassem mais das atividades, arriscassem opiniões, ou seja, se sentissem mais seguros
para desenvolver um trabalho.

Alguns resultados
Com relação aos resultados, o que nos surpreendeu foi algumas divergências nas
concepções e definição do povo nordestino, que foram bem destacadas pelos municípios de
Pilar, Juripiranga, Itabaiana e Pedras de Fogo, da Paraíba. Os alfabetizadores conseguiram
dentro da igualdade superficial, marcar as diferenças, o que possibilitou a nossa inserção no
sentido de mostrar a necessidade de respeitar as diferenças na sala de aula, procurando
sempre estabelecer um fio condutor comum; e ainda observamos a construção da
consciência da preservação do patrimônio cultural destas cidades, inexistentes nas
primeiras turmas de alfabetizadores capacitadas por nossa equipe, o que consideramos fruto
do trabalho da equipe do PAS/UFOP nestas cidades.
Por outro lado, observamos também que estavam presentes alguns estereótipos ou
idéias de senso comum à respeito do nordeste e de seus habitantes, especialmente
temas/noções veiculados pela mídia, quanto a estreita relação entre povo e meio. Desta
maneira, destacavam-se em suas falas e nos painéis apresentados, imagens de praia, sol,
pessoas alegres, sol, religiosidade, pessoas trabalhadoras, fortes. Em outro pólo, as
dificuldades, sobretudo temas e imagens ligados ao universo da seca, não tão delimitados
devido ao fato de que estas cidades não serem fortemente atingidas pela seca.
Como finalização da Capacitação, pedimos aos alfabetizadores divididos em grupos
por cidades, que fizessem um esboço de um projeto didático para ser executado nas
comunidades em que fossem trabalhar. Ficamos surpresos com os resultados, primeiro
porque abordavam assuntos diversos sem perder o objetivo, a alfabetização; segundo por
conseguirem, de forma incipiente, o que nós educadores buscamos a todo tempo: a inserção
da escola na comunidade, através da execução de projetos que contribuíam para o bem estar
da população como um todo. Assim sendo, foram feitos projetos sobre prevenção da
dengue, coleta do lixo, etc.
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Durante os quatro meses de alfabetização auxiliamos os alfabetizadores na


elaboração do projeto, a partir do esboço apresentado, acompanhamos a execução,
discutimos os resultados, mostrando que o conhecimento não é estático, pelo contrário está
sempre em construção.
Gostaríamos de salientar que com esta prática metodológica os alfabetizadores
tiveram contato com vários tipos de textos e, conseqüentemente, trabalharam com esta
diversidade de textos em suas aulas. E questões sociais ou problemas referentes à
sociedade e à comunidade a qual estavam inseridos foram abordados, permitindo-se que
não apenas discussões, mas ações de cidadania fossem colocadas em prática.
Algumas palavras para terminar. Compreendemos que o conhecimento é uma
interação entre o indivíduo, o saber e o mundo que o rodeia. Se tomássemos a literatura
como exemplo, poderíamos dizer que a relação comunicativa se estabelece pautada em três
eixos — o autor, o livro, o leitor. É desta interdependência que se abre uma multiplicidade
de significações. Desta forma, o conhecimento não é algo fora das pessoas e que elas
adquirem, como também não é algo construindo de forma autônoma e independente das
circunstâncias que as rodeiam e das outras pessoas com quem mantêm algum contato. O
conhecimento é algo que ocorre na “costura” entre a reflexão formulada pelo indivíduo e a
integração/interação sobre/no o mundo. Neste sentido, o conhecimento é uma constituição
histórica e social, resultado de um movimento complexo, no qual interagem elementos
sociais, culturais, políticos, econômicos e psicológicos.
Não é mais possível a perspectiva de que o professor se comunica com os alunos
apenas pela transmissão de conhecimentos feita através de aulas expositivas. A aula
expositiva é uma, entre outras possibilidades didáticas. O diferencial na realidade está na
capacidade de mudança na postura do professor e na perspectiva de tornar a sala de aula um
espaço de comunicação, de investigação, de construção e de reconstrução do conhecimento,
para o qual é necessário fazer uso de diferentes instrumentos metodológicos. Cada vez mais
o professor precisa tornar-se hábil em oferecer práticas didáticas que estimulem a
descrição, a interpretação e a renovação das experiências e dos significados. Bem como,
estar receptivo a pluralidade de metodologias e linguagens. Nossa finalidade foi então a de
oferecer, com a metodologia de projetos didáticos, possibilitar uma ferramenta a mais ao
alfabetizar em seu cotidiano escolar.
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Bibliografia:

DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Petropólis: Vozes, s/d.

VÓVIO, Cláudia e JOIA, Orlando. Albabetização de Jovens e Adultos — Diagnosticando


necessidades de aprendizagem. Brasília: MEC, 2000.

VÓVIO, Cláudia Lemos (Coord.). Viver, Aprender: Educação de Jovens e Adultos. São
Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2000.

GADOTTI, Moacir. Educação e poder: uma introdução à pedagogia do conflito. São


Paulo: Cortez, 1988.

Revista Nova Escola . São Paulo: Abril, Outubro /2001.

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