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O documento discute as origens da tragédia grega e seu vínculo com o culto a Dioniso. Explica que a tragédia surgiu dos rituais em honra a Dioniso, nos quais os participantes se embriagavam e dançavam até desmaiar, acreditando entrar em êxtase. A tragédia representava esse êxtase, mostrando heróis que ultrapassavam os limites humanos e eram punidos pelos deuses. Também discute elementos como a hamartía, ou erro do herói, que o
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Fichamento do capítulo um do livro teatro grego de Junito Brandão
O documento discute as origens da tragédia grega e seu vínculo com o culto a Dioniso. Explica que a tragédia surgiu dos rituais em honra a Dioniso, nos quais os participantes se embriagavam e dançavam até desmaiar, acreditando entrar em êxtase. A tragédia representava esse êxtase, mostrando heróis que ultrapassavam os limites humanos e eram punidos pelos deuses. Também discute elementos como a hamartía, ou erro do herói, que o
O documento discute as origens da tragédia grega e seu vínculo com o culto a Dioniso. Explica que a tragédia surgiu dos rituais em honra a Dioniso, nos quais os participantes se embriagavam e dançavam até desmaiar, acreditando entrar em êxtase. A tragédia representava esse êxtase, mostrando heróis que ultrapassavam os limites humanos e eram punidos pelos deuses. Também discute elementos como a hamartía, ou erro do herói, que o
BRANDO, Junito de Souza. Teatro Grego: Tragdia e Comdia. 11. ed.
Petrpolis: Vozez, 2004.
1 - Tragdia Grega
1.1. Tragdia Grega: Dioniso ou Baco.
A tragdia nasceu do culto de Dioniso: isto, apesar de algumas tentativas,
ainda no se conseguiu negar. Ningum pde, at hoje, explicar a gnese do trgico, sem passar pelo elemento satrico. (p.9) Historicamente, por ocasio da vindima, celebrava-se a cada ano, em Atenas, e por toda a tica, a festa do vinho novo, em que os participantes, como outrora os companheiros de Baco, se embriagavam e comeavam cantar e danar freneticamente, luz dos archotes e ao som dos cmbalos, at cair desfalecidos. Ora, ao que parece, esses adeptos do deus do vinho disfaravam-se em stiros, que eram concebidos pela imaginao popular como homens-bodes. Teria nascido assim o vocbulo tragdia (tragoida = "trgos", bode + "oid", canto + ia, donde o latim tragoedia e o nosso tragdia). (p.10) Outros acham que tragdia assim denominada, porque se sacrificava um bode a Dioniso, bode sagrado, que era o prprio deus, no incio de suas festas, pois, consoante uma lenda muito difundida, uma das ltimas metamorfoses de Baco, para fugir dos tits, teria sido em bode, que acabou tambm devorado pelos filhos de rano e Gia. Devorado pelos Tits, o deus ressuscita na figura de trgos theios, de um bode divino: o bode paciente, o pharmaks, que imolado para purificao da plis. (p.10) Ora, os devotos de Dioniso, aps a dana vertiginosa de que se falou, caam desfalecidos. Nesse estado acreditavam sair de si pelo processo do kstasis, xtase. Esse sair de si, numa superao da condio humana, implicava num mergulho em Dioniso e este no seu adorador pelo processo do enthusiasms, entusiasmo. O homem, simples mortal, nthropos, em xtase e entusiasmo, comungando com a imortalidade, tornava-se anr, isto , um heri, um varo que ultrapassou o "mtron", a medida de cada um. Tendo ultrapassado o mtron, o anr , ipso facto, um hypocrits, quer dizer, aquele que responde em xtase e entusiasmo, isto , o ATOR, um outro. (p.11) Essa ultrapassagem do mtron pelo hypocrits uma dmesure, uma "hybris", isto , uma violncia feita a si prprio e aos deuses imortais, o que provoca a "nmesis", o cime divino: o anr, o ator, o heri, torna-se mulo dos deuses. A punio imediata: contra o heri lanada at, cegueira da razo; tudo o que o hypocrits fizer realiz-lo- contra si mesmo (dipo, por exemplo). Mais um passo e fechar-se-o sobre eles as garras da "Moira.", o destino cego. (p.11) Eis a o enquadramento trgico: a tragdia s se realiza quando o mtron ultrapassado. No fundo, a tragdia grega como encenao religiosa, o suplcio do leito de Procrusto contra todas as dmesures. E mais que isto: como obra de arte, a tragdia a desmistificao das bacchanalia. Eis a porque o Estado se apoderou da tragdia e f-la um apndice da religio poltica da polis. (p.12) A tragdia a imitao das realidades dolorosas, porquanto sua matria- prima o mito, em sua forma bruta. [...] A tragdia , no raro, a passagem da boa m fortuna. (p.13) Como a composio das mais belas tragdias no simples, mas complexa, porque este o fim prprio desta imitao, evidentemente se segue que no deve ser representados nem homens muito bons que passem da boa para a m fortuna, nem homens muito maus que passem da m para a boa fortuna (...) O mito tambm no deve representar um malvado que se precipite da felicidade para a infelicidade. (potica ~ ver referencia depois) O heri h de ser, por conseguinte, consoante Aristteles, o homem que, se caiu no infortnio, no por ser perverso e vil, mas , di hamartan tina isto , por causa de algum erro. No mito bem estruturado, pois, o heri no deve passar da infelicidade para a felicidade, mas o ao revs, da fortuna para a desdita e isto, ao por que seja mau, mas por causa de alguma falta cometida. Tal falta, hamarta, Aristteles o que claramente, no uma culpa moral e, por isso mesmo, quando fala da metbole, da reviravolta, que faz o heri passar da felicidade desgraa, insiste em que essa reviravolta no deve nascer de uma deficincia moral [...]. (p.14) [...] o trgico pode no estar no fecho, mas no corpo da tragdia. Chamamos, por isso mesmo, tragdia pea cujo contedo trgico e no necessariamente o fecho. (p.15)
TOUCHARD, Pierre-Aim. Dioniso: apologia do teatro seguido de O amador de
teatro ou A regra do jogo. Traduo de Maria Helena Ribeiro da Cunha e Maria Ceclia de Morais Pinto. So Paulo: Cultrix, 1978.