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NOVOS TEMPOS DA SAÚDE MENTAL: RUMO À CIDADANIA E

DIGNIDADE À LUZ DOS VALORES CRISTÃOS.

Geni Maria Hoss


2010

Retomando os rumos da Psiquiatria ao longo da história, não se


evidencia nenhuma sociedade que de alguma forma tenha acertado em
proporcionar uma vida digna ao garantir a plena experiência do exercício da
cidadania aos portadores de transtornos mentais.

A Reforma Psiquiátrica em todos os países, portanto, também no


Brasil, apoiada por uma visão mais humana e integral do ser humano, pretende
alcançar um nível de cidadania e dignidade experimentada por todos os seres
humanos.

1.1 SER CIDADÃO COM DIGNIDADE

Ser cidadão! O que é isso? Pierre Augstin Caron, de Beaumarchais,


usou o termo pela primeira vez, num discurso, em 1774. Um pouco mais tarde,
no início da Revolução Francesa, 1789, o termo ganhou maior peso com a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Etimologicamente denomina
a condição dos que vivem na cidade. Expressa, no entanto, também a
condição da pessoa membro de um Estado, portador de direitos e deveres.

A cidadania tem uma dimensão sociológica, segundo à qual o indivíduo


convive de forma harmonioso em interrelação com seus semelhantes:

A cidadania se estabelece na vida concreta, cotidiana, na dinâmica


das relações sociais onde é possível se observar diferentes grupos
vivendo e convivendo e estabelecendo condições para isto na forma
de "direitos".Estabelecimento este que na procura de condições
justas e dignas de convivência são conquistados, em sua maioria,
através de lutas e de conflitos sociais, como nos mostra a historia
1
universal.

A dimensão política, pela qual é sujeito à lei, que define


comportamentos, mas ao mesmo tempo confere direitos iguais. Estas leis
foram conquistadas em âmbito local, especialmente por revoluções decisivas
como a inglesa, Frances e americana e na sequencia tiveram reconhecimento
em nível mundial.

Cada país tem um histórico específico de conquista de direitos e


deveres para a Nação, asseguradas por uma Constituição própria. Hoje há
uma forte tendência para definição de direitos e deveres universais. Em 10 de
dezembro de 1948, ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, cuja obrigatoriedade depende da adesão de todos os países
membros.

Quais os elementos essenciais de todas as formas de Direitos e


Deveres? Respeito à dignidade humana e a ausência de crueldade. Quando
estes não são naturalmente experienciados na convivência social, então devem
ser garantidos por leis próprias, o que compõem o corpo jurídico de cada
Estado.

Ser cidadão é ter direitos e deveres e é, sobretudo, ter direito de ter


direitos. Cidadania então é algo a ser conquistado na vida, tendo alguns
direitos fundamentais, no entanto, garantidos como premissa pelo fato de o
cidadão existir, nomeadamente o direito de nascer.

Ser cidadão é ter o direito de ter proteção à vida em qualquer lugar e


circunstância independente dos modos de ser e estar no mundo: A Carta
Magna brasileira contempla de forma consistente este direito:

Ao garantir a inviolabilidade da vida e a dignidade da pessoa humana,


a Constituição pretende proteger toda e qualquer potencialidade de
vida natural e com este significado deve ser interpretada. A reforçar

1
http://www.webartigos.com/articles/13789/1/ENSAIO-SOBRE-O-DIREITO-DE-TER-
DIREITOS/pagina1.html#ixzz0tcDEdukd
este entendimento está a própria redação do texto constitucional, que
claramente distingue o fenômeno vida como inviolável, no caput do
art. 5° e, depois, no decorrer dos incisos e subseqüentes artigos.
dispõe sobre a vida com suas qualificações individuais, sociais,
políticas e, até mesmo, ecológicas, posto normatizar questões
referentes ao meio ambiente (art. 225). Neste sentido, o Estado
brasileiro é guardião da vida desde sua singela potencialidade,
alcançando seus níveis de complexidade mais desenvolvidos, até
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prescrever sobre a vida em sua ambiência ecossistêmica.

1.2 REINTEGRAÇÃO SOCIAL SOB À ÓTICA CRISTÃ: SER PESSOA


PLENAMENTE

O elemento fundamental da reintegração social preconizada na


Reforma Psiquiátrica é reconquista do portador de transtornos mentais de sua
cidadania e dignidade, afetados pelo preconceito, pelas estruturas e o
tratamento que vinha recebendo pela família, a instituição e a sociedade.

Sem pompas e alardes, a reintegração sob à ótica cristã começa nas


pequenas coisas da vida cotidiana.

Os depósitos humanos nas instituições psiquiátricas denunciam a


incapacidade de a sociedade tratar a questão da Saúde Mental. Depósitos
humanos estes que serviam de esconderijo de pacientes por séculos no Brasil
e no mundo. Os asilados nas instituições e o filho inexistente3 até nas melhores
famílias consituiam a total exclusão social. A inexistência destes cidadãos –
com dignidade plena dentro de qualquer conceito humanístico – nos é revelada
de forma drástica pela inexistência dos próprios documentos que identificam e
conferem a cada nascido no país o status de cidadão.

O que é preciso reconquistar? Podemos aqui mencionar apenas alguns


elementos para uma reconquista completa do bem humano perdido:

 A percepção pessoal de ser humano com dignidade, direitos e deveres;


 a identificação como cidadão (documentos);

2
JUNIOR, João Ibaixe. Por um conceito de dignidade, REVISTA JURÍDICA CONSULEX - ANO
X – Nº 226 - 15 de junho de 2006, N.º 49
3
Era muito comum encontrar vizinhos e amigos que desconheciam a existência de um membro
da família portador de transtornos mentais.
 a pertença a um grupo social onde se é aceito nas suas condições próprias,
sem reservas;
 o direito à livre opção nas situações do cotidiano;
 a livre escolha e expressão da fé;
 o direito de manifestar-se e expressar idéias;
 a autonomia e liberdade;
 a posse do próprio corpo;
 o direito de possuir coisas pessoais e personalizadas, como manifestação
de personalidade própria, única;
 a administração de coisas e valores (financeiros) pessoais;
 o convívio social sem ser ridicularizado;
 o estudo e conhecimento atualizados como fatores de reintegração;
 a realização pessoal pelo trabalho;
 a expressão artística;
 a apresentação em público;
 a frequência a lugares abertos a todos;
 a compreensão da própria patologia e a falar sobre ela;
 as informações claras sobre as possibilidades e limites de terapia;
 o tratamento adequado (que inclua medicamentos eficazes de última
geração)...

É uma lista sem fim de elementos todos constituintes do processo de


reintegração social.

O isolamento e abandono é uma experiência muito comum nas


instituições de Saúde Mental. A perda gradativa das pequenas coisas da vida
torna as internações ainda mais doloridas para a pessoa, limitando-lhe ainda
mais a autonomia e sua possibilidade de expressão pessoal única.

A reintegração social: Um caminho de libertação em Cristo

E o que a Teologia, a fé cristã tem a dizer a este respeito? Os reveses


históricos com associações da patologia com elementos religiosos, quase em
todas as situações, desfavoráveis ao portador de transtornos mentais. Como
acima referido, ora a doença mental era interpretada como poderes superiores
especiais ora relacionada à possessão demoníaca.

Os descaminhos neste campo não podem, no entanto, impedir a livre


expressão da fé do paciente. Se a livre opção e expressão da fé é um direito
constante na Carta Magna do Brasil, por que não o seria para o portador de
transtornos mentais?

O oculto, o misterioso, o não palpável na Psiquiatria, diferente das


outras patologias, onde se consegue detectar problemas através de toda a
sorte de aparelhos clínicos, é até mesmo para o profissional em psiquiatria
ainda muito obscuro.

"E enviou-os dois a dois para proclamar o Reino de Deus e a curar".


(Lc 9.2). Deus enviou os seus discípulos para proclamar o Reino e a curar
todas as pessoas. Ele quer estar presente no meio do povo necessitado. Ele
quer libertar seu povo dos grilhões da vida cotidiana. E o que é mais opressor
do que o preconceito, o abandono, a não-experiência da dignidade? O que é
mais opressor do que a contínua experiência do ser inferior, incapacitado para
a vida, segundo princípios vigentes de uma economia pautada em eficiência e
rendimento material?

A experiência do Reino de Deus aqui e agora é a experiência de ser


plenamente humana, sem restrições. Esta é a libertação em Cristo a ser vivida
com intensidade ainda maior através da cura interior. Cura esta que se dá pela
experiência de ser aceito plenamente por Deus, o que se concretiza de alguma
forma através das pessoas com as quais se convive de forma mediata. E
perceber-se parte integrante do Reino, protagonista do Reino.

Na experiência da enfermidade e do sofrimento, o ser humano percebe


suas dimensões de limitação e finitude.

O homem do Antigo Testamento vive a patologia diante Deus. E diante de


Deus que ele faz sua queixa sobre a enfermidade, e é dele, o Senhor da vida
e da morte, que implora a cura. A enfermidade se toma caminho de
conversão e o perdão de Deus de início à cura. Israel chega à conclusão de
que a patologia, de uma forma misteriosa, está ligada ao pecado e ao mal e
que a fidelidade a Deus, segundo sua Lei, dá a vida: “Porque eu sou Iahweh,
aquele que te restaura” (Ex 15.26). O profeta entrevê que o sofrimento
também pode ter um sentido redentor para os pecados dos outros (Cf Is
53.11). Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará chegar um tempo para Si o
4
em que toda falta será perdoada e toda patologia ser curada (Cf Is 33.24).

É importante integrar a patologia na vida e saber-se amado


profundamente por Deus, em qualquer circunstância, para que, de forma
construtiva, se possa identificar um sentido de vida pleno: "Eu vim para que
todos tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10.10). Com estas
palavras, Jesus fala do seu Plano de Salvação e Libertação estendido a todas
as pessoas, desconsiderando qualquer condicionante. Vida plena é possível
em todas as circunstâncias, pois não se fala ali de produção, mas sim,
simplesmente de vida e do sentido de viver.

A experiência humana de Deus torna-o mais próximo da experiência


das limitações especialmente experimentadas em situação de doença – de
falta de Saúde Mental. Experimentar-se humano é, portanto, a mais profunda
experiência compartilhada com um Deus que se fez humano. Daí a
inseparabilidade do ser cristão e do ser humano em todas as circunstâncias da
vida.

Porque Deus se tornou inteiramente ser humano, por isso não


deveríamos separar o ser humano e o ser cristão. Segundo a imagem
integral – bíblico-teológico – do ser humano, o corpo, alma e espírito
formam unidade. A vida de fé de um cristão é inseparável com as
diversas vivências espirituais e os processos psicossomáticos do
corpo. Estas interações requerem que o anúncio na Igreja, na
Pastoral e na Psicoterapia considerem mais ainda do que até agora
5 6
esta forma fundamental da existência humana” (tradução nossa).

A reintegração social provocada por Cristo é a reintegração plena dos


marginalizados da sociedade da época: o pobre, o doente, a mulher

4
CATECISMO da Igreja Católica, São Paulo: Loyola. 1999. p. 414.
5
BAUMGARTNER, Isidor (Hrsg.) Handbuch der Pastoralpsychologie. Regensburg: Friederich
Pustet, 1990, p. 492.
6
Weil Gott ganz Mensch wurde, sollten wir Menschsein und das Christsein nciht mehr
voneinander abspalten und trennen. Nach dem ganzheitlichen biblisch-teologischen
Menschenbil bilden Leib, Seele und Geist eine unlösliche Einheit. Das Glaubensleben eines
Christen ist unlöslich mit den vielfältigen seelischen Erlebnisweisen und den
psychosomatischen Prozessen des Körpers berbunden. Diese Wechselwirkungen machen es
erforderlich, dass in der Verkündigung der Kirche, in der Seelsorge und in der Psychoterapie,
diese Grundgegebeneheiten menschlicher Existenz.
samaritana, as crianças... O que está à margem deve vir ao meio: “Ele diz ao
homem da mão seca: Vem para o meio” (Mc 3,3).

Vem para o meio! Estar no meio é estar integrado no grupo social.


Jesus é apelativo, não condiciona, simplesmente convida. Vem para o meio!
Chama-se para o meio quem é aceito no grupo. Jesus convida para o meio, o
que requer uma iniciativa e um querer de quem é convidado para o meio. Se
este não protagonizar este ir para o meio, ele não acontece. Nisto reside a
grandeza e distinção da reintegração social cristã. É capacitar para que o
portador de transtornos mentais assuma seu papel de protagonista de sua vida.

Provavelmente, uma das mais graves doenças, no tempo de Jesus,


pode ter sido a apatia perante a vida. Que elemento comum encontramos nos
milagres? Qual o maior dos milagres? Repetidas vezes, Jesus apela: Levanta-
te! Só depois acontecia o milagre. Nenhuma pessoa caridosa foi chamada
para ajudar. É porque Jesus queria a contribuição efetiva, o protagonismo do
seu interlocutor. Apelo este que aparece em diversas passagens bíblicas: Mt
9.5; 9. 6; Mc 3.3, Lc 5.23 Mt 2.13; Mc 4.42; Lc 15.18.

Reintegração social sob a ótica cristã é, portanto, um processo lento e


seguro de superação e domínio da própria vida, de protagonismo e realização
pessoal. É um processo onde o maior ato de caridade é o empoderamento do
outro para que este se levante e trilhe o seu caminho passo a passo com suas
próprias forças e iniciativas.

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