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A irracionalidade e a transcendência dos

números e e π
Tomás Salles Denilson Donolato Rodrigo Pires
3 de outubro de 2007

1 Introdução
Com base no texto do professor Figueiredo [1] vamos mostrar que os números
e e π são ambos irracionais e transcendentes, usando para isso algumas téc-
nicas conhecidas do cálculo e desenvolvendo as passagens que foram deixadas
como exercícios ou que ficaram implícitas no livro referido.

2 Irracionalidade do e
A série de Taylor para a função ex é bastante conhecida e sabe-se que converge
para todo valor real de x,

x x2 x3 xn
e =1+x+ + + ... + + ...
2! 3! n!
portanto, sendo e = e1 temos:
1 1
e=1+1+ + + ... (1)
2! 3!
Outro resultado conhecido é o valor da série geométrica. Sabemos que se
|x| < 1 então

1 X
= xk
1 − x k=0
donde se obtem, multiplicando todas as parcelas por x e trocando o indexador
por k 0 = k + 1:

x X 0
= xk (2)
1 − x k0 =1
A nossa prova é então feita por contradição.

1
Teorema 2.1. O número e é irracional.
p
Demonstração. Suponha que e fosse racional, ou seja, e = q
onde p, q ∈ N e
(p, q) = 1. Pela equação (2) vemos que, como q ≥ 1:
∞  k 1 1
X 1 q+1 q+1 1
= 1 = q+1−1 = (3)
k=1
q+1 1 − q+1 q+1
q
Obviamente,
 k k
1 Y 1 1
> = Qk
q+1 i=1
q+i i=1 (q + i)
sempre que k > 1, assim,
∞  k ∞
1 X 1 X 1
= > Qk
q k=1
q+1 k=1 i=1 (q + i)
donde,
∞ ∞
1 X 1 X 1
> Qk =
q!q k=1
q! i=1 (q + i) k=1 (q + k)!
e portanto:
q
1 X 1
+ >e (4)
q!q k=0 k!
Por outro lado,
∞ q
X 1 X 1
e= >
k=0
k! k=0 k!
então obtemos,
q
X 1 1
0<e− <
k=0
k! q!q
ou ainda,
q
X q! 1
0 < p(q − 1)! − <
k=0
k! q
que é o mesmo que:
q q
!
X Y 1
0 < p(q − 1)! − i < ≤1 (5)
k=0 i=k+1
q

A equação (5) é obviamente um absurdo pois esse número que se encontraria


no intervalo (0, 1) é claramente um inteiro. Já que a nossa única hipótese foi
que e seria um número racional, fica provado que isso não pode ser verdade,
isto é, e é irracional.

2
3 Transcendência do e
Começamos definindo o polinômio P dado por,
xp−1 (1 − x)p (2 − x)p . . . (n − x)p
P (x) = (6)
(p − 1)!
onde p, n ∈ N, p > n. Para cada k ∈ {1, 2, . . . , n} defina os polinômios
p−1 p p (k+1−x)p ...(n−x)p
Qk (x) = (k − x)p e Rk (x) = x (1−x) ...(k−1−x)
(p−1)!
.
Proposição 3.1. Sejam f e g duas funções deriváveis pelo menos j vezes.
Então:
j  
j
X j
D (f g) = Di f Dj−i g
i
i=0

Demonstração. Faremos a prova por indução finita começando com j = 0.


Nesse caso é claro que
j  
j 0 j−0
X j
D (f g) = f g = D f D g= Di f Dj−i g
i
i=0

então agora supondo que a afirmação seja verdadeira para um certo j vamos
mostrar que também deve ser verdadeira para j + 1. Vamos precisar da
seguinte igualdade:
   
j j j! j!
+ = +
i−1 i (i − 1)!(j − i + 1)! i!(j − i)!
j!i j!(j − i + 1)
= +
i!(j − i + 1)! i!(j − i + 1)!
j!(i + j − i + 1)
=
i!(j − i + 1)!
(j + 1)!
=
i!(j + 1 − i)!
 
j+1
=
i
 
j+1 j+1
Lembramos também que f D g = D0 f Dj+1 g e que (Dj+1 f )g =
  0
j+1
Dj+1 f D0 g Então:
j+1

Dj+1 (f g) = D1 (Dj (f g))

3
j   !
X j
= D1 Di f Dj−i g
i
i=0
j 
X j 
= D1 (Di f Dj−i g)
i
i=0
j  
X j
= (Di+1 f Dj−i g + Di f Dj−i+1 g)
i
i=0
j   j  
X j i+1 j−i
X j
= D fD g + Di f Dj+1−i g
i i
i=0 i=0
j−1   j  
X j X j
i+1 j−i
= D fD g + Di f Dj+1−i g +
i i
i=0 i=1
+ Dj+1 f D0 g + D0 f Dj+1 g
j   j  
X j i j−i+1
X j
= D fD g+ Di f Dj+1−i g +
i−1 i
i=1 i=1
j+1 0 0 j+1
+ D fD g + D fD g
j    
X j j
= + Di f Dj+1−i g +
i−1 i
i=1
+ D f D0 g + D0 f Dj+1 g
j+1

  j  
j+1 0 j+1−0
X j+1
= D fD g+ Di f Dj+1−i g +
0 i
i=1
 
j+1
+ Dj+1 f Dj+1−(j+1) g
j+1
j+1  
X j+1
= Di f Dj+1−i g
i
i=0

o que conclui a demonstração.


Com essa proposição , tendo P = Qk Rk vamos calcular Dj P . Ora,
D0 Qk (k) = 0 e se 0 < i < p, então Di Qk (x) = (−1)i p(p − 1) . . . (p − i +
1)(k − x)p−i , logo, Di Qk (k) = 0. Então se 0 ≤ j < p temos
j  
j j
X j
D P (k) = D (Qk Rk )(k) = Di Qk (k)Dj−i Rk (k)
i
i=0

4
donde,
Dj P (k) = 0, k ∈ {1, 2, . . . , n}, j ∈ {0, 1, . . . , p − 1} (7)
É evidente que a menor potência de x em P é p−1 e a maior é p−1+np. Para
obter o coeficiente de xp−1 temos que multiplicar em cada fator do produtório
n
!p
Y
(k − x)
k=1

a parcela da esquerda, isto é, o número k e depois dividir o resultado por (p−


(n!)p
1)!, obtendo (p−1)! . Por outro lado a partir desse mesmo produtório obtemos
os numeradores de todos os outros coeficientes de P , e estes numeradores
são portanto inteiros que denotaremos por bi com certos índices i. Feito esse
comentário podemos escrever
bp−1 xp−1 + bp xp + . . . + bp−1+np xp−1+np
P (x) = (8)
(p − 1)!
bp−1 = (n!)p (9)
Com esse formato é fácil ver que para 0 ≤ j < p − 1 todas as parcelas de
Dj P (x) terão alguma potência natural de x, logo Dj P (0) = 0. Além disso em
p (p−1)!
Dp−1 P (x) a primeira parcela será (n!)(p−1)! = (n!)p e todas as outras parcelas
terão alguma potência natural de x, logo Dp−1 P (0) = (n!)p . Convém mostrar
que para i ≥ p a função Di P assume valores inteiros múltiplos de p quando
calculada num inteiro.
bp−1 xp−1
 
i
D =0
(p − 1)!
Se j ∈ {1, 2, . . . , np},
 (
p−1+j 0, se i > p − 1 + j

bp−1+j x
Di = bp−1+j (p+j−1)(p+j−2)...(p+j−i)xp−1+j−i
(p − 1)! (p−1)!
, c.c.

No segundo caso como i ≤ p − 1 + j estamos multiplicando i naturais con-


secutivos no numerador, e sabemos que esse produto é múltiplo de p!, o que
implica que a parcela em questão será um múltiplo de p sempre que x for
inteiro. Logo,
p|Di P (x) sempre que x ∈ Z, i ≥ p
Definimos agora o polinômio F por,
p−1+np
X
F = Di P
i=0

5
A partir de agora vamos acrescentar a hipótese de que p é primo. Lembrando
que p > n vemos que p não divide (n!)p . Se k ∈ {1, 2, . . . , n} então nossas
considerações mostram que p|F (k). Por outro lado, nossas considerações
também mostram que p não divide F (0) pois divide todas as parcelas menos
uma, mas F (0) é inteiro. Também é importante perceber que por ser p−1+np
o grau de P obviamente Dp+np P ≡ 0. Consideremos então a função G dada
pela igualdade,
G(x) = e−x F (x)
Temos,

G0 (x) = −e−x F (x) + e−x F 0 (x)


= e−x (F 0 (x) − F (x))
p+np p−1+np
!
X X
= e−x Di P (x) − Di P (x)
i=1 i=0
−x
= −e P (x)

Aplicando a essa função, que é derivável na reta, o teorema do valor médio


entre os pontos 0 e k ∈ N obtemos:
G(k) − G(0)
= −e−ϕk P (ϕk )
k−0
onde ϕk ∈ (0, k). Isto é, multiplicando ambos os lados por kek ,

F (k) − ek F (0) = −kek−ϕk P (ϕk ) = k

Fazemos agora as últimas observações sobre k quando 1 ≤ k ≤ n antes


de enunciar e demonstrar o teorema. Nesse caso, ek−ϕk < ek ≤ en pois
ϕk > 0. Também k(ϕp−1 k ) < k(k
p−1
) = k p ≤ np pois ϕk < k. Por fim,
p p p p
(1 − ϕk ) (2 − ϕk ) . . . (n − ϕk ) < (n!) . Assim substituindo a equação (6) na
definição de k vemos que,
en np (n!)p (n(n!))p−1
|k | < = en n(n!)
(p − 1)! (p − 1)!
e como sabemos que,
(n(n!))p−1
lim =0
p→∞,p∈N (p − 1)!

concluímos que,
lim |k | = 0
p→∞,p∈N

Faremos agora a demonstração por contradição.

6
Teorema 3.2. O número e é transcendente.
Demonstração. Suponha que e é algébrico, ou seja, que existe um polinômio
H de grau n > 0 com coeficientes racionais tal que H(e) = 0.
H(x) = c0 + c1 x + . . . + cn xn
Não há perda de generalidade em considerar que os ci ’s são inteiros pois
podemos multiplicar H por um múltiplo comum de todos os denominadores
dos ci ’s e e continuará sendo raiz. Também podemos, se necessário multi-
plicar H por −1 para obter c0 ≥ 0. Finalmente se tivéssemos c0 = 0, haveria
um i0 = min{i tais que ci 6= 0} e teríamos H(x) = ci0 xi0 + . . . + cn xn
então poderíamos dividir H por xi0 e ainda teríamos um polinômio com co-
eficientes inteiros e raiz e porém com o coeficiente independente não nulo.
Então podemos supor c0 > 0. Voltando ao nosso polinômio P podemos supor
que p > c0 .
q = c0 F (0) + c1 F (1) + . . . + cn F (n)
é um número inteiro, como já vimos. Também, 0 < c0 < p, p|F (k) para
k = 1, 2, . . . , n, p não divide F (0) e os ci ’s são inteiros logo
p não divide q
Pela definição de k vemos que,
c 1 1 + c 2 2 + . . . + c n n = c1 F (1) + . . . + cn F (n) −
− c1 e1 F (0) − . . . − cn en F (0)
= (−c1 e − . . . − cn en )F (0) +
+ c1 F (1) + . . . + cn F (n)
= c0 F (0) + . . . + cn F (n)
= q
Logo, se escolhermos p suficientemente grande teremos |k | suficientemente
pequeno para ter |q| < 1 o que implica que q = 0 uma vez que q é inteiro.
Mas isso seria um absurdo pois p não divide q. Como nossa única hipótese
foi que e seria algébrico vemos que isso não pode ser verdade, ou seja, e é
transcendente.

4 Irracionalidade do π
Consideremos ao longo desta seção um número natural n e as funções g, h e
f dadas por,
g(x)(g ◦ h)(x)
g(x) = xn , h(x) = 1 − x e f (x) =
n!
7
É claro que se i < n temos

Di g(x) = n(n − 1) . . . (n − i + 1)xn−i

logo Di g(0) = 0. Também, Dn g ≡ n! e assim se i > n Di g ≡ 0. Outras


observações convenientes são que ∀i ∈ N

Di (g ◦ h) = (−1)i (Di g) ◦ h (10)

e que f ◦ h = f pois h−1 = h. Usando a proposição 3.1 para a função f


obtemos,
k  
k 1 X k
D f= Di gDk−i (g ◦ h) (11)
n! i=0 i
Nessa soma todas as parcelas onde i > n se anulam, aquelas em que i < n se
anulam quando calculadas no 0, e portanto Dk f (0) = 0 se k < n e quando
k ≥ n temos
 
k k
D f (0) = Dk−n (g ◦ h)(0)
i
 
k
= (−1)k−n Dk−n g(1)
i

o que mostra que Dk f (0) é um inteiro sempre. Vale observar que se k > 2n
então k − n > n logo ∀i ≤ n, k − i ≥ k − n > n e portanto nesses casos
Dk−i (g ◦ h) ≡ 0 pela equação (10). Assim quando k > 2n todas as parcelas
na equação (11) se anulam, e portanto Dk f ≡ 0.

Dk (f ◦ h) = (−1)k (Dk f ) ◦ h

Essa nova equação tem maior utilidade substituindo f ◦ h por f ,

(−1)k Dk f = (Dk f ) ◦ h

e calculando ambos os lados em 0 obtemos,

(−1)k Dk f (0) = Dk f (1)

mostrando que Dk f (1) é inteiro sempre. Começamos agora a demonstração


por contradição.

Teorema 4.1. O número π é irracional.

8
Demonstração. Suponha que π = pq00 onde p0 , q0 ∈ N. Então, em particular,
podemos usar nessa prova o fato de que, sendo p = p20 e q = q02 , temos π 2 = pq .
Criamos então a função F ,
n
X
F (x) = (−1)i pn−i q i D2i f (x) (12)
i=0

Já mostramos que F(0) e F(1) são inteiros. Vamos calcular a segunda


derivada de F ,
n
X
2
D F (x) = (−1)i pn−i q i D2i+2 f (x)
i=0
n
X
= (−1)i pn−i q i D2(i+1) f (x)
i=0

Já vimos que a parcela i = n é nula pois 2(i + 1) > 2n assim,


n−1
X
2
D F (x) = (−1)i pn−i q i D2(i+1) f (x)
i=0
Xn
= (−1)i−1 pn−i+1 q i−1 D2i f (x)
i=1
n
X
= (−1)i−1 pn−i+1 q i−1 D2i f (x) + pn+1 q −1 f (x)
i=0
n
X
2
= π (−1)i−1 pn−i q i D2i f (x) + pn π 2 f (x)
i=0
n
!
X
2 i n−i i 2i n
= π − (−1) p q D f (x) + p f (x)
i=0
= π 2 (pn f (x) − F (x))

donde,
D2 F (x)
+ πF (x) = πpn f (x) (13)
π
Criamos agora a função G dada por,

D1 F (x)
G(x) = sen(πx) − F (x)cos(πx)
π

9
e verificamos imediatamente que G(0) = −F (0) e G(1) = F (1). Calculando
a primeira derivada obtemos, juntamente com a equação (13),
D2 F (x)
D1 G(x) = sen(πx) + D1 F (x)cos(πx) −
π
− D1 F (x)cos(πx) + πF (x)sen(πx)
= πpn f (x)sen(πx)
Com isso é claro que,
Z 1
πpn f (x)sen(πx) = G(1) − G(0) = F (1) + F (0)
0
Podemos calcular a integral sem f (x), isto é,
Z 1
πpn sen(πx) = pn [−cos(πx)]10 = 2pn
0

e se x ∈ (0, 1) é óbvio que f (x) ∈ (0, n!1 ), assim podemos escrever:


Z 1
0 < πpn f (x)sen(πx)
0
1 1 n
Z
< πp sen(πx)
n! 0
2pn
=
n!
O último termo pode ser tão próximo de 0 quanto se queira escolhendo n
suficientemente grande, conforme já sabemos do Cálculo, então podemos
n
escolher n tal que 2pn! < 1 mostrando assim que,
0 < F (1) + F (0) < 1
o que é um absurdo pois sabemos que F(1)+F(0) é um inteiro. Como a
nossa única hipótese foi que π seria racional, concluímos que isso não pode
ser verdade, isto é, π deve ser irracional.

5 Transcendência do π
Nessa seção serão necessários vários preparativos teóricos antes de começar
a tratar o problema da transcendência do π. Vamos demonstrar alguns re-
sultados sobre polinômios como foi feito no livro do professor Figueiredo [1]
mas não vamos demonstrar, como ele fez, a desigualdade do valor médio para
funções complexas analíticas, por ser um resultado conhecido do Cálculo e
porque a demonstração foge do propósito deste trabalho, que é um estudo
de Álgebra. A desigualdade referida será apenas enunciada.

10
5.1 Preliminares sobre polinômios simétricos
Seremos breves nesta subseção porque queremos assumir como conhecidos os
assuntos sobre os quais já estudamos em outras disciplinas e os polinômios
simétricos foram tratados no curso de Grupos e Representações. O teo-
rema 5.1, por exemplo, foi demonstrado em detalhes no livro do professor
Figueiredo[1], por isso, não fugiremos aos nossos propósitos refazendo essa
demonstração, que seria meramente uma cópia.
Trataremos nessa subseção de algumas questões sobre os polinômios de várias
variáveis x1 , x2 , . . . , xn e suas raízes.
Definição 5.1. Suponha que σ é uma permutação dos números 1,2,. . . ,n.
Então usaremos essa mesma letra σ para designar a função que leva a n-
tupla (x1 , x2 , . . . , xn ) na n-tupla (xσ(1) , xσ(2) , . . . , xσ(n) ).
Definição 5.2. Diremos que um polinômio p é simétrico se para toda per-
mutação σ valer a igualdade,
p◦σ =p
Definição 5.3. Definimos os polinômios simétricos elementares (e tentare-
mos manter a notação adotada nessa definição para os mesmos) por
X
sk (x1 , . . . , xn ) = xj1 . . . xjk
j1 <...<jk

para k = 1, 2, . . . , n.
Observamos aqui que se γ1 , . . . , γm são as raízes de um polinômio P que
é mônico e de grau m, então conhecemos esse polinômio muito bem. De fato
sabemos que
P (x) = (x − γ1 ) . . . (x − γm )
e portanto sem dificuldade vemos que seus coeficientes são os polinômios
simétricos elementares calculados em (γ1 , . . . , γm ) multiplicados por uma
potência de (-1), isto é:
P (x) = xm + (−1)1 s1 xm−1 + . . . + (−1)m−1 sm−1 x + (−1)m sm
Depois dessa observação podemos fazer afirmações como a seguinte:
Os números γ1 , . . . , γm são raízes de um polinômio de grau m com coefi-
cientes inteiros se, e somente se, seus polinômios simétricos elementares são
racionais.
Lembramos que γ1 , . . . , γm são raízes de um polinômio de grau m com coefi-
cientes inteiros se, e somente se, são raízes de um polinômio de grau m com
coeficientes racionais.

11
Definição 5.4. Se p é um polinômio de n variáveis então sabemos que tem
a forma X
p(x1 , . . . , xn ) = aj1 ,...,jn xj11 . . . xjnn
j1 ,...,jn ≥0

Sendo assim diremos que o peso de p é o máximo do conjunto


( n )
X
iji ; aj1 ,...,jn 6= 0
i=1

Teorema 5.1. Vamos representar a n-tupla (x1 , . . . , xn ) por X, e os seus


polinômios simétricos elementares por s1 , . . . , sn . Então se f é um polinômio
simétrico de n variáveis com coeficientes num anel R, existe um polinômio
g também de n variáveis, com peso menor que ou igual ao grau de f , com
coeficientes em R tal que sempre vale a igualdade

g(s1 (X), . . . , sn (X)) = f (X)

Demonstração. Feita em detalhes no livro do professor Figueiredo[1].


Corolário 5.2. Seja p ∈ Z e γ1 , . . . , γm raízes de um polinômio T0 (x) =
a0 + a1 x + . . . + am xm onde os ai ’s são inteiros. Se T é um polinômio de grau
menor que ou igual a s e todos os seus coeficientes são inteiros múltiplos de
pasm , então
Xm
T (γj )
j=1

é um inteiro múltiplo de p.
Demonstração. Sejam s1 , . . . , sm os polinômios simétricos elementares calcu-
lados em (γ1 , . . . , γm ). Então sabemos que

T0 (x) = am (xm + (−1)1 s1 xm−1 + . . . + (−1)m−1 sm−1 x + (−1)m sm )

logo ai = (−1)m−i am sm−i para 0 ≤ i ≤ m − 1, ou seja,


(−1)j am−j
sj =
am
para 1 ≤ j ≤ m. Se k1 + . . . + km ≤ s então
s−k1 −...−km
asm (sk11 . . . skmm ) = (−1)1k1 +...+mkm akm−1
1
. . . ak0m am

é um inteiro. Pelas nossas hipóteses

T (x) = pasm b0 + pasm b1 x + . . . + pasm bs xs

12
(não sabemos se, por exemplo, bs 6= 0) onde os bi ’s são inteiros. Então
definimos
T1 (x) = b0 + b1 x + . . . + bs xs
e para X = (x1 , . . . , xm )
m
X
T2 (X) = T1 (xj )
j=1

Como T2 é simétrico o teorema anterior nos garante a existência de um


polinômio T3 com peso menor que ou igual a s e coeficientes inteiros tal que:

T3 (s1 (X), . . . , sm (X)) = T2 (X)

Em particular, o grau de um polinômio é sempre menor que ou igual ao seu


peso, logo o grau de T3 é menor que ou igual a s, isto é, a soma dos expoentes
de s1 , . . . , sm é sempre da forma k1 + . . . + km ≤ s. Juntamente com a nossa
observação acima concluímos que, sendo Γ = (γ1 , . . . , γm ):
m
X
T (γj ) = pasm T2 (Γ)
j=1
= pasm T3 (s1 , . . . , sm )

é um inteiro múltiplo de p.
A partir de agora nesta subseção considere os números α1 , . . . , αn , que
são as raízes de um polinômio de grau n com coeficientes inteiros. Uma vez
fixado k tal que 2 ≤ k ≤ n, defina os números

βj1 ,...,jk = αj1 + . . . + αjk

para
  todas as possibilidades de 1 ≤ j1 < . . . < jk ≤ n. É evidente que há
n
desses números.
k
 
n
Teorema 5.3. Existe um polinômio de grau com coeficientes inteiros,
k
cujas raízes são os números βj1 ,...,jk .
 
n
Demonstração. Seja u = e sejam s1 , . . . , su os polinômios simétricos
k
elementares calculados nos βj1 ,...,jk . É evidente
 que cada αj aparece como
n−1
parcela na definição de exatamente dos números βj1 ,...,jk e como
k−1

13
os si ’s são simétricos nos βj1 ,...,jk é fácil ver que os si ’s são simétricos nos
αj ’s e seus coeficientes nessas variáveis são inteiros. Sendo assim, o teorema
5.1 permite que vejamos cada si como um polinômio de coeficientes inteiros
nos polinômios simétricos elementares dos αj ’s. Nossos comentários prévios
garantem que esses polinômios simétricos elementares dos αj ’s são racionais,
logo os si ’s são também racionais e  conseqüentemente
 os números βj1 ,...,jk são
n
as raízes de um polinômio de grau e coeficientes inteiros.
k

5.2 Desigualdade do valor médio e preparatórios


Teorema 5.4. Se z1 , z2 ∈ C, z1 6= z2 , f : C → C é analítica e M =
sup{|f 0 (z1 + λ(z2 − z1 ))|; 0 ≤ λ ≤ 1} então,
|f (z2 ) − f (z1 )|
≤ 2M
|z2 − z1 |
Essa demonstração se torna bastante simples tendo em mãos as equações
de Cauchy-Riemann.
Lema 5.5. Se n ∈ N então,
   
n n
n+ + ... + = 2n − 1
2 n
Demonstração. Esse lema é conseqüência imediata da aplicação do binômio
de Newton para (1 + 1)n . Isto é,
n  
n n
X n
2 = (1 + 1) = 1i 1n−i
i
i=0

Suponha que P seja um polinômio de grau r sobre uma variável complexa


e que γ1 , . . . , γm são números complexos não nulos. Defina F como fizemos
na seção 3 por,
Xr
F = Dj P
j=0

e defina G como fizemos nessa mesma seção por,

G(x) = e−x F (x)

porém agora F e G são funções complexas. Já mostramos (e de fato a


demonstração é idêntica no caso complexo) que G0 (x) = −e−x P (x). Podemos

14
agora aplicar a desigualdade do valor médio enunciada acima para a função
G nos pontos 0 e γj . Definimos Mj = sup{|G0 (λγj )|; 0 ≤ λ ≤ 1}, ou seja,
Mj = sup{|e−λγj P (λγj )|; 0 ≤ λ ≤ 1}, e obtemos,

|G(γj ) − G(0)|
≤ 2Mj
|γj |

Mj é o supremo de um conjunto de números reais, portanto multiplicar todos


os números desse conjunto por uma constante, digamos |eγj |, é multiplicar
Mj por esse mesmo número, ou seja, se j = 2|γj |sup{|e(1−λ)γj P (λγj )|; 0 ≤
λ ≤ 1}, então j = 2|γj ||eγj |Mj . Conseqüentemente temos, lembrando da
definição de G,
|G(γj ) − G(0)| j

|γj | |γj ||eγj |
donde,
|F (γj ) − eγj F (0)| ≤ j
Finalmente usando a desigualdade triangular e a relação acima, obtemos a
equação que conclui esta subseção:
m m
! m
X X X
| F (γj ) − eγj F (0)| ≤ j (14)
j=1 j=1 j=1

5.3 Demonstração da transcendência do π


Faremos a prova mais uma vez por contradição.

Teorema 5.6. O número π é transcendente.

Demonstração. Suponha que π é algébrico. Então sabemos da teoria de Ál-


gebra que iπ também deve ser pois i é algébrico e o produto de algébricos
é ainda um número algébrico. Vamos chamar de P1 o polinômio com coe-
ficientes racionais que tem iπ como raiz. Na verdade já vimos nas seções
anteriores que não há perda de generalidade em considerar que P1 tem co-
eficientes inteiros. Vamos chamar de α1 , α2 , . . . , αn todas as raízes de P1 e
sabemos que todas elas são complexas.
Definimos para cada k = 1, 2, . . . , n os vários números βj1 ,...,jk como fizemos
na subseção
  sobre polinômios simétricos e chamamos de  Pk o  polinômio de
n n
grau e coeficientes inteiros que é satisfeito pelos números β
k k
que têm k índices(de fato, P1 já estava definido de acordo com essa nova
definição). Assim criamos um polinômio R0 = P1 P2 . . . Pn com coeficientes

15
inteiros e grau 2n − 1,conforme já foi mostrado, que é satisfeito por todos
os β’s. Supondo que somente m desses β’s não são nulos, podemos chamar
estes de γ1 , . . . , γm .
Sabemos que R0 tem a forma,
Y
R0 (x) = a (x − β)
β

onde a é um inteiro (o coeficiente líder). Mas na verdade os coeficientes desse


polinômio são definidos apenas pelos β não nulos uma vez que
m
2n −1−m 2n −1−m
Y Y
R0 (x) = ax (x − β) = ax (x − γj )
β6=0 j=1

Portanto o polinômio R definido por,


m
Y
R(x) = a (x − γj )
j=1

tem também coeficientes inteiros, é satisfeito por cada γj , tem grau m e tem
a propriedade importante de que seu coeficiente independente não é zero, isto
é,
R(x) = am xm + . . . + a1 x + a0
onde am = a e a0 = (−1)m am γ1 . . . γm 6= 0. Observe que o polinômio aRm
é mônico e seus coeficientes, que são racionais, são os polinômios simétricos
elementares s1 , . . . , sm dos γj ’s, que foram definidos numa subseção anterior.
Vamos definir agora mais um polinômio, este chamado P . Usaremos um
primo p qualquer e representaremos s = mp − 1, sem esquecer jamais que s
depende de p (o que será importante na conclusão da prova). Seja então,

asm xp−1 (R(x))p


P (x) = (15)
(p − 1)!
O grau de P é p − 1 + mp pois R é de grau m. Usando a prévia definição de
R vemos que
p−1
s+p x (x − γ1 )p . . . (x − γm )p
P (x) = (am )
(p − 1)!
onde fica evidente a sua semelhança com o polinômio P que definimos na
equação (6). É fácil ver que o coeficiente de xp−1 em P é
mp p
ap+s
m (−1)
p
γ1 . . . γm asm ap0
=
(p − 1)! (p − 1)!

16
Como R tem coeficientes inteiros vemos que o numerador da equação (15)
é um polinômio de coeficientes inteiros, múltiplos de asm . As demonstrações
feitas na seção 3 são suficientes para mostrar que

Dj P (γk ) = 0, j = 0, 1, . . . , p − 1 k = 1, 2, . . . , m. (16)
j
D P (0) = 0, j = 0, 1, . . . , p − 2. (17)
p−1
D P (0) = asm ap0 (18)
s
pam |λ, quando λ for um coeficiente de Dj P, j ≥ p. (19)

Seja E o número dado por


n
Y
E= (1 + eαj )
j=1

onde ex representa a função exponencial complexa. Decorre do fato de que


eiπ = −1 que E = 0. Por outro lado da definição dos números βj1 j2 ...jk vemos
que !
Xn X
E =1+ eβj1 j2 ...jk
k=1 1≤j1 <...<jk ≤n

Mas sabemos que apenas m desses βj1 j2 ...jk são não nulos (os γj ) logo,
m
X
n
E =2 −m+ eγj
j=1

então definimos a constante A1 = 2n − m e temos


m
X
A1 = − eγj (20)
j=1

Agora se definimos as funções F e G e as constantes Mj e j como fizemos


na seção 5.2 a equação (14) nos dá:
m
X m
X
|A1 F (0) + F (γj )| ≤ j (21)
j=1 j=1

Desde já vamos considerar p > A1 , p > am , p > a0 . Vamos definir algumas


constantes importantes,

A2 = max{|γ1 |, . . . , |γm |}

A3 = sup{|R(x)| : x ∈ C, |x| ≤ A2 }

17
m
X
A4 = A1 F (0) + F (γj )
j=1

A2 e A3 são números reais. Quando 0 ≤ λ ≤ 1 temos |e(1−λ)γj | ≤ |eλj | ≤ eA2 .


Também temos nesse caso,
|am |s |λγj |p−1 |R(λγj )|p
|P (λγj )| =
(p − 1)!
s p−1 p
|am | A2 A3

(p − 1)!
Logo, organizando as informações coletadas vemos que,
2A2 eA2 |am |s A2p−1 Ap3
0 ≤ j ≤
(p − 1)!
(|am |m A2 A3 )p−1
= 2A2 A3 eA2 |am |m−1 (22)
(p − 1)!
e assim fica evidente que limp→∞ j = 0. Escolhemos então p primo e grande
o suficiente para que tenhamos j < m1 ∀j, resultando que,
|A4 | < 1 (23)
Observe que as afirmações (17), (18) e (19) mostram claramente que F (0) é
inteiro e não é divisível por p, logo p não divide A1 F (0).
Lema 5.7. m
X
F (γk )
k=1
é um inteiro múltiplo de p.
Demonstração. Considere a soma
m
X
Lj = Dj P (γk )
k=1

Se j ≤ p − 1 a equação (16) mostra que Lj = 0, logo p|Lj . Se por outro lado


j ≥ p então o grau de Dj P é p − 1 + mp − j ≤ mp − 1 = s, então a afirmação
(19) completa as hipóteses do corolário 5.2 e podemos afirmar que Lj é um
inteiro múltiplo de p. Agora obviamente,
p−1+mp
m m
!
X X X
j
F (γk ) = D P (γk )
k=1 j=0 k=1

o que conclui a demonstração.

18
Corolário 5.8 (do lema 5.7). A4 é um inteiro múltiplo de p.
Demonstração. O lema 5.7 mostra que A4 é inteiro. Conjuntamente com a
desigualdade (23) essa informação mostra que A4 = 0, logo p|A4 .
Corolário 5.9 (do lema 5.7). A4 é um inteiro que não é múltiplo de p.
Demonstração. O lema 5.7, juntamente com a observação feita logo acima
do seu enunciado, mostra que A4 é a soma de um múltiplo de p com um
inteiro que não é divisível por p, logo A4 não pode ser múltiplo de p.
Obviamente os dois corolários acima revelam a contradição que procurá-
vamos. Como nossa única hipótese foi que π seria algébrico vemos que isso
não pode ser verdade, isto é, π é transcendente.

Referências
[1] Djairo G. de Figueiredo. Números Irracionais e Transcendentes. SBM,
3rd. edition, 2002.

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